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INTRODUÇÃO MÉTODOS
A menopausa é caracterizada pela redução da produção do estró- Desenho do Estudo
geno e a interrupção do ciclo menstrual, resultando no final da função Este estudo duplo cego controlado foi realizado entre janeiro de 2012
ovariana, e sendo reconhecida retrospectivamente, após um ano de e agosto de 2014 no Departamento de Educação Física, da Faculdade
amenorréia1. Em adição, além do impacto no sistema reprodutivo, a de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista Campus
menopausa pode ser responsável também por mudanças significativas Presidente Prudente. Avaliações foram realizadas antes do início e após
na composição corporal, uma vez que, após esse fenômeno, muitas oito semanas de treinamento e envolveram: triagem para inclusão no
mulheres apresentam aumento de peso e adiposidade corporal, prin- estudo; avaliação antropométrica, da composição corporal e perfil
cipalmente a central2, e, portanto, ficam mais propensas a desenvolver lipídico; e três dias não consecutivos de recordatório alimentar de 24h
perfil lipídico aterogênico e doenças cardíacas3. os quais foram conduzidos em dois momentos: uma semana antes do
O treinamento concorrente (TC), que é a combinação do treinamento início da intervenção e na primeira semana após o final da intervenção.
aeróbio com o resistido em uma mesma sessão, pode atenuar os efeitos
da idade na composição corporal e no metabolismo. Isso decorre do Amostra
aumento da massa magra e da redução da gordura corporal4, em adição o Para o cálculo do tamanho amostral a média da variável triglicérides
TC aumenta a sensibilidade a insulina e gasto energético, ambos durante obtida do estudo de Balducci, Zanuso10 foi considerada, juntamente com o
e após o exercício5, melhorando o metabolismo da glicose e de lipídios6. desvio padrão (23.9mg/dL). Adotando um poder de 80% para um teste bicau-
Alguns suplementos como os amino ácidos (AA), têm sido usados dal e um erro máximo desejado de 5%, a equação indicou a necessidade de
como estratégias adicionais para melhora de resultados em programas de pelo menos seis indivíduos por grupo. Esperando possíveis perdas amostrais,
exercícios para promoção de saúde e qualidade de vida. Entre esses AAs, cada grupo deveria iniciar o protocolo com pelo menos 12 participantes.
destaca-se a taurina (ácido 2-aminoetanossulfónico) que em humanos O convite para participação no estudo foi realizado por meio de
é sintetizada no fígado e considerada como um AA semi-essencial. A divulgação em rádio, televisão e jornais locais. Para participar do estudo
quantidade produzida pelo organismo é baixa e por isso recomenda-se foram adotados os seguintes critérios de inclusão: 1) ser mulher pós
que seja consumida por meio da dieta, como carnes e frutos do mar7. menopausa (sem ciclo menstrual por pelo menos um ano e apresentar
Estudos têm sugerido que a taurina apresenta papel importante no valores iguais ou superiores a 30 UI/l do hormônio folículo estimulante
metabolismo8 e pode influenciar positivamente a composição corporal, [FSH])11; 2) ter idade entre 50 e 79 anos na data da avaliação; 3) não
uma vez que se acredita que em concentrações apropriadas esse AA pode apresentar limitações físicas ou algum problema de saúde que impedisse
diminuir o esforço percebido e, assim, retardar o início da fadiga9, presu- a realização das avaliações; 4) possuir atestado médico para participar
mivelmente causando a um indivíduo uma maior tolerância a intensidade do programa de treinamento; 5) realizar todas as avaliações; 6) assinar
e volume de exercício, resultando em maiores ganhos. No entanto, não o termo de consentimento e esclarecimento formal para a participação
foram encontrados na literatura estudos que investigaram os efeitos da no estudo. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da
combinação da suplementação com taurina com o treinamento concor- Universidade Estadual Paulista, Campus de Presidente Prudente (Protocolo
rente na composição corporal e perfil lipídico de mulheres pós menopausa. 64/2011). Foram adotados como critérios de exclusão: acumular três
A hipótese do presente estudo foi que a suplementação com taurina, faltas consecutivas ou quatro faltas não consecutivas durante um mês.
associada ao treinamento concorrente, poderia promover ganho de Após a divulgação, 141 mulheres pós menopausa se inscreveram para
massa corporal magra, redução da gordura corporal total e gordura de participação no estudo, das quais 64 atenderam os critérios de inclusão/
tronco, e melhora do perfil lipídico de mulheres pós menopausa. Nesse exclusão e aceitaram participar da intervenção. As participantes foram
sentido, o objetivo do presente estudo foi analisar os efeitos do treina- divididas randomicamente nos seguintes grupos: Controle (C [N=16]);
mento concorrente e da suplementação com taurina na composição Taurina (T [N=16]); Taurina + Exercício (TE [N=16]); Placebo + Exercício
corporal e perfil lipídico de mulheres pós menopausa. (E [N=16]). A amostra final foi composta por 43 mulheres, as razões de
122 Rev Bras Med Esporte – Vol. 25, No 2 – Mar/Abr, 2019
desistência foram: falta de tempo, dificuldades relacionadas à locomoção Procedimentos do Treinamento Aeróbio
até o local da intervenção, e problemas pessoais. O fluxo e a amostra A determinação da intensidade do treinamento aeróbio foi realizada
final do estudo estão apresentados na Figura 1. utilizando o protocolo de velocidade crítica proposto por Wakayoshi,
Procedimentos Yoshida13. O grupo estudado percorreu três distâncias (400, 800 e 1200 m)
em uma pista de corrida em dias separados e não consecutivos.
Antropometria e Composição Corporal
As participantes foram instruídas a cobrir a distância no menor tempo
A massa corporal foi mensurada usando uma balança eletrônica da
possível, o qual foi registrado usando um cronômetro digital (Polar).
marca Filizola. A estatura foi mensurada usando um estadiômetro fixo
A relação entre a distância (m) e o tempo de exercício (s) foi linear-
da marca Sanny. Os valores de massa corporal e estatura foram usados
mente ajustada e a velocidade crítica foi assumida como a inclinação
para calcular o índice de massa corporal (IMC [peso (kg) / estatura(m)2]).
desse modelo, que foi a intensidade do treinamento aeróbio. Após quatro
Todas as medidas antropométricas foram realizadas de acordo com os
semanas os procedimentos foram repetidos para ajustar as intensidades.
procedimentos descritos por Freitas Jr, Bueno.
Para a análise da composição corporal foi utilizado o aparelho de Procedimentos do Treinamento Resistido
Absortiometria de Raios-X de Dupla Energia (DXA [General Electric Me- Os exercícios utilizados no programa foram: leg press 45º, extensão
dical Systems, Lunar DPX MD, Madison, WI, USA]), com software versão de pernas, flexão de pernas, supino horizontal na barra, remada baixa,
4.7. As seguintes variáveis da composição corporal foram estimadas: extensão de tríceps, elevação lateral com halteres, rosca direta na barra
massa total, massa corporal magra, gordura corporal total e gordura e exercícios abdominais. O programa de treinamento resistido está
de tronco, as quais foram expressas em valores absolutos e relativos. apresentado na Tabela 1. A carga de treinamento foi ajustada a cada
Para o cálculo do erro técnico de medida do DXA foram realizadas duas quatro semanas para manter o número prescrito de repetições.
avaliações de corpo inteiro, pelo mesmo avaliador, em dois dias consecuti- A intensidade do treinamento resistido foi controlada pela zona de
vos em 12 sujeitos do sexo feminino. A partir dos resultados obtidos o erro repetição máxima. As séries foram executadas até exaustão momen-
foi estimado em: 1,48% para a gordura corporal total; 1,38% para gordura tânea, se as participantes executassem mais que o máximo previsto, a
no tronco; e 2,06% para a massa magra corporal total. O teste-reteste do carga foi aumentada para respeitar a zona de treinamento13. O teste de
coeficiente de correlação intra-classe desses procedimentos mostrou-se uma repetição máxima (1RM) foi realizado para os exercícios leg press
confiável (CCI entre 0,91 a 0,99 para as variáveis utilizadas neste estudo). e supino horizontal na barra, e consistiu de aquecimento seguido de
uma série de 10 repetições de cada exercício sem sobrecarga. A carga foi
Amostra de Sangue
gradualmente aumentada durante o teste até que as participantes não
Após jejum durante a noite (12h), amostras de sangue venoso foram pudessem realizar todo o movimento, e três tentativas foram permitidas
coletadas para dosagem de FSH, colesterol total (CT), fração de colesterol para atender a carga de 1RM correspondente. Para a recuperação, foi dado
de lipoproteína de densidade baixa (LDL-c) e fração de colesterol de lipopro- um intervalo de três a cinco minutos entre as tentativas. Após quatro
teína de densidade alta (HDL-c), por técnica colorimétrica em química seca, semanas, os procedimentos foram repetidos para ajustar as intensidades.
em equipamento marca Johnson e Johnson, modelo Vitros 250. A fórmula
de Friedewald, Levy14 foi usada para calcular as concentrações de LDL-c. Protocolo de Treinamento Concorrente
As mulheres que foram submetidas ao treinamento concorrente
Mulheres avaliadas para realizaram o protocolo três vezes por semana em dias não consecutivos
elegibilidade por oito semanas. Inicialmente, as participantes tiveram um período de
N = 141 duas semanas de familiarização. Somente após a familiarização, foram
realizados os testes para determinação da carga de treinamento. O pro-
grama de treinamento concorrente durou 80 minutos por sessão, com 50
Excluídas N = 77 minutos de treinamento resistido e 30 minutos de treinamento aeróbio.
Não atenderam os critérios de inclusão N = 52 Para garantir que as intensidades e a rotina de treinamento fossem
Não atenderam as ligações para avaliação adequadas, todas as atividades foram acompanhadas por monitores pre-
inicial N = 25 viamente treinados e pelos pesquisadores responsáveis pelo projeto. No
início de cada sessão de treinamento, a pressão arterial era monitorada e,
ao final, eram realizados 10 minutos de alongamento para volta à calma.
Mulheres randomizadas N = 64
Protocolo de Suplementação
Foram conduzidos recordatórios alimentares de 24h em três dias
Excluídas N = 21 não consecutivos (um dia no final de semana e dois dias da semana)14.
Faltas acima do permitido N = 9 As participantes foram orientadas por nutricionista. Os dados foram ana-
Desistência por razões pessoais ou não lisados pela mesma nutricionista utilizando o software NutWin, versão 1.5
especificadas N = 12 (Programa de Apoio à Nutrição, Universidade Federal de São Paulo, 2002).
Os grupos T e TE consumiram oralmente 1.5 g de taurina/dia, os
grupos E e C receberam cápsulas contendo amido de batata. As par-
Avaliadas após a intervenção N = 43 ticipantes receberam três doses diárias de taurina, 500 mg ao acordar,
Grupo Controle N = 13 500 mg no almoço e 500 mg à noite. Essa dose de taurina não causa
Grupo Taurina N = 8 efeitos colaterais, mesmo em longo prazo.
Grupo Taurina + Treino N = 13
Grupo Placebo + Treino N = 9 Análise Estatística
Inicialmente, o teste de Levene identificou que havia homogeneida-
Figura 1. Fluxo de participantes durante o estudo. de de variância para todas as variáveis numéricas, exceto as alterações
apresentados na Tabela 1 e Tabela 2 referem-se as comparações dos 1718,5 231,7 72,3 68,2
Pré
(1341,3–2315,2) (185,6–293,5) (45,3–115,6) (45,3–185,6)
valores iniciais de composição corporal e perfil bioquímico dos grupos
Exercício 1568,5 241,6 75,7 54,5
analisados no presente do estudo. Quando comparados os valores Pós
(1412,3–2227,1) (193,6–289,3) (49,1–117,2) (39,5–85,8)
obtidos nos recordatório alimentar, não foram encontradas diferenças p 0,285 0,721 0,959 0,139
significativas nos grupos estudados (Tabela 3). Teste estatístico = Wilcoxon; p <0,05.
A Figura 2 refere-se às alterações percentuais na composição corporal que
mostraram diferenças significativas entre os períodos pré e pós-intervenção.
Controle Taurina Taurina + Exercício Exercício
Observou-se que o grupo TE apresentou reduções do percentual
de gordura corporal total (p = 0.005, p = 0.004) e gordura de tronco
10 p = 0,001 p = 0,003
(p = 0.024, p = 0.023), e maiores ganhos de massa magra (p <0.000, a a
b
p = 0,002), quando comparado aos grupos C e T, respectivamente. O grupo p = 0,010 p = 0,001
b
Alterações relativas %
5
E apresentou aumento da massa magra (p = 0,001, p = 0,004) e redução de a
porcentagem de gordura no tronco (p = 0,042, p = 0,035), quando com-
parado aos grupos C e T, respectivamente. O grupo E também apresentou 0
do LDL-c. a
b a
-10 a b
Tabela 1. Características gerais de composição corporal e comparação entre os grupos b
no início da intervenção, valores expressos em média e desvio padrão. Massa corporal (kg) Gordura corporal (%) Massa magra (kg) Gordura tronco (%)
Taurina +
Controle Taurina Exercício Teste estatístico = Anova One-way; Post Hoc de Tukey; p<0,05; a = diferença significativa do grupo Controle;
Grupos Exercício p b = diferença significativa do grupo Taurina.
N = 13 N=8 N=9
N = 13
Figura 2. Alterações percentuais médias na composição corporal total após oito
Idade (anos) 63,3 ±6,6 58,6 ±8,1 59,1 ±5,3 59,7 ±6,0 0,220
semanas de intervenção, expressas em média e desvio padrão.
Massa corporal (kg) 62,8 ±13,9 64,7 ±8,9 63,3 ±7,8 59,2 ±10,1 0,739
IMC (kg/m²) 26,4 ±5,0 26,0 ±3,3 24,4 ±2,5 24,5 ±3,2 0,436
Massa magra (kg) 34,1 ±7,0 34,5 ±3,1 34,3 ±4,7 32,1 ±3,8 0,718 Controle Taurina Taurina + Exercício Exercício
Gordura corporal (%) 41,7 ±5,3 43,0 ±4,8 41,8 ±5,5 41,7 ±4,5 0,942
Gordura corporal (kg) 26,5 ±7,8 28,1 ±6,6 26,6 ±5,5 25,1 ±6,5 0,821 70 p = 0,529
60
Gordura no tronco (%) 44,6 ±5,4 46,7 ±4,9 44,8 ±5,8 45,4 ±5,4 0,844 50 p = 0,027 p = 0,006
40
Gordura no tronco (kg) 14,0 ±3,9 15,0 ±3,6 13,6 ±3,1 13,3 ±3,4 0,779
Alterações relativas %
30
IMC= índice de massa corporal. Teste Estatísitco = Anova One-way; Post Hoc de Tukey; p<0.05. 20 p = 0,462
10
0
Tabela 2. Perfil bioquímico e comparação entre os grupos no início da intervenção, -10
valores expressos em média e desvio padrão. -20 b
-30 a
Taurina + -40 b
Controle Taurina Exercício
Exercício p -50
N = 13 N=8 N=9
N = 13 -60
-70
TG (mg/dL) 145,9 ±56,0 98,3 ±57,8 117,6 ±58,4 120,1 ±75,2 0,375
CT (mg/dL) 200,5 ±34,1 179,8 ±26,2 207,4 ±36,3 194,8 ±38,0 0,354 Triclicérides(mg/dL) CT(mg/dL) HDL-c(mg/dL)Log LDL-c(mg/dL)
HDL-c (mg/dL) 50,3 ±8,2 56,4 ±10,5 55,2 ±10,9 58,4 ±19,4 0,468
LDL-c (mg/dL) 121 ±26,1 104,8 ±20,3 128,6 ±32,8 112,8 ±20,3 0,212 CT = colesterol total; HDL-c = fração de colesterol de lipoproteína de alta densidade; LDL-c = fração de co-
lesterol de lipoproteína de baixa densidade. Teste estatístico = Anova One-way; Post Hoc de Tukey; p <0,05;
FSH (mUI/ml) 70,7 ±17,8 65,7 ±23,5 67,9 ±22,1 72,7 ±37,6 0,957 a = diferença significativa do grupo controle; b = diferença significativa do grupo Taurina.
TG = Triglicérides; CT = colesterol total; HDL-c = fração de colesterol de lipoproteína de alta densidade; LDL-c =
fração de colesterol de lipoproteína de baixa densidade; FSH = hormônio folículo estimulante. Teste estatístico = Figura 3. Mudanças percentuais no perfil lipídico, expressas em média e desvio
Anova One-way; Post Hoc de Tukey; p <0,05. padrão.
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