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DETERMINAÇÃO DE GRAU DE INDETERMINAÇÃO CINEMÁTICA EM

ESTRUTURAS QUE TENHAM BARRAS INCOMPRESSÍVEIS

Quando numa estrutura temos barras incompressíveis, é possível que determinados nós da
estrutura ficam impedidos de qualquer translação, sem que tais nós tenham ligações
exteriores. Na estrutura da Figura 1a (ou Figura 1b), por exemplo, a barra AB é
incompressível e a extremidade A está ligada ao exterior por um apoio que impede as duas
translações. Porque a barra AB é incompressível e A é um ponto fixo, B fica restringido a se
mover ao longo da linha SS'. Por outro lado, o apoio simples em B restringe o movimento da
extremidade B ao longo da linha TT'. As linhas SS' e TT' encontram-se no ponto B, de onde
concluimos que B não tem deslocamentos lineares.

Outra situação está ilustrada na Figura 1c, onde temos, pelos dados do problema, que A e B
são pontos fixos e as barra AC e BC são incompressíveis. Sendo a barra AC incompressível e
o ponto A fixo, a extremidade C da barra AC só se poderá mover ao longo da linha SS'. De
modo semelhante, Sendo BC incompressível e C um ponto fixo, B está restringido a se mover
ao longo da linha TT'. Vemos que o único ponto onde as linhas SS' e TT' intersectam-se é no
ponto C e concluimos que C é um ponto sem deslocamentos lineares.

S
T
A B F (a)
T'
S'
S
T
A B F (b)
T'
S'

S
T'
C F
T S' (c)
A

Figura 1

Na sequência de passos a seguir, para a determinação de grau de indeterminação cinemática,


a designação "ponto fixo" refere-se a pontos da estrutura que não tem deslocamentos lineares:
pontos cujos movimentos estejam restringidos por apoios fixos, encastramentos ou pontos em
que se deduz não ter deslocamentos lineares. Estes últimos pontos em que se deduz não ter
deslocamentos lineares representamos por F.
PROCEDIMENTO

1. Determine os graus de indeterminação cinemática da estrutura, 𝑔𝑖 , admitindo que todas as


barras da estrutura são compressíveis. Os movimentos 𝑔𝑖 assim obtidos constituem um
conjunto de movimentos ainda livres.
2. Nos movimentos identificados no passo 1 bloqueie as rotações. Elimine da lista de
movimentos ainda livres estas rotações bloqueadas.
3. Verifique se é possível deduzir pontos fixos (F) através das restrições dos movimentos
das extremidades das barras (alguns casos estão resumidos nas Figura 1a, Figura 1b e
Figura 1c). Marque cada ponto que deduzir como fixo e retire da lista de movimentos
ainda livres as translações desse nó.
4. Aplique repetidamente o passo 3 até que:
a) a identificação dos pontos fixos já não lhe seja evidente. Neste caso passe para o
passo 5, ou
b) se revele que todos os nós da estrutura estejam fixos. Neste caso, a lista de
movimentos ainda livres torna-se vazia. Passe para o passo 8.
5. Identifique os movimentos 𝑔𝑖 que se sabe de antemão serem nulos - os deslocamentos no
sentido do eixo das barras incompressíveis em que o outro nó de extremidade esteja fixo.
Retire da lista de movimentos ainda livres qualquer deslocamento identificado neste
passo.
6. Seleccione entre os nós aquele que tem o menor número de translações ainda livres e que
incida pelo menos uma barra com o outro nó de extremidade fixo. Desligue da estrutura
todos os outros elementos que incidem nesse nó e provoque aí uma translação.
Compatibilize a deformada de modo a não alterar o comprimento dos elementos
incompressíveis. Bloqueie um deslocamento que tenha ocorrido no modo de deformação
encontrado. Elimine da lista de movimentos ainda livres o deslocamento bloqueado.
7. Volte ao passo 3 e repita o processo até fixar a estrutura.
8. O número de deslocamentos bloqueados (passos 2 e 6) representa o grau de
indeterminação cinemática da estrutura.

Na determinação dos graus de indeterminação cinemática nos exemplos seguintes, usaremos


como elementos-base os que estão ilustrados na Figura 2.

(a) (b)

Figura 2

Exemplo 1. Determine os grau(s) de indeterminação cinemática da estrutura representada na


Figura 3a. Admita que as barras são incompressíveis.
D E

A
(a)

B
C

𝑔2 𝑔3 𝑔5 𝑔6
𝑔1
𝑔4

(b)

𝑔2 𝑔5
𝑔1 𝑔4

(c)

𝑔5
F
𝑔4

(d)
F F

(e)

Figura 3

Passo 1. Determinamos os graus de indeterminação cinemática admitindo que todas as barras


são compressíveis. Os graus estão indicados na Figura 3b. Se bloquearmos todos estes
deslocamentos, cada elementos transforma-se num dos elementos-base representados na
Figura 2c. Isto assegura-nos que os graus de indeterminação cinemática estão bem
determinados. A lista de movimentos ainda livres é {𝑔1 , 𝑔2 , 𝑔3 , 𝑔4 , 𝑔5 , 𝑔6 }.

Passo 2. Bloqueamos as rotações e as retiramos da lista de movimentos ainda livres (Figura


3c). A lista de movimentos ainda livres é agora {𝑔1 , 𝑔2 , 𝑔4 , 𝑔5 }.

Passo 3. Podemos deduzir que o ponto D é fixo (Figura 3d). Veja as perpendiculares traçadas
na figura. Também veja a Figura 1c. Retiramos da lista de movimentos ainda livres os
deslocamentos 𝑔1 e 𝑔2 (uma vez que D é fixo). A lista é agora {𝑔4 , 𝑔5 }.

Passo 4. De acordo com o procedimento, temos que repetir o passo 3. Deduzimos que o
ponto E é fixo (Figura 3e). Veja as perpendiculares traçadas na figura. Veja também a Figura
1c. Retiramos da lista de movimentos ainda livres os deslocamentos 𝑔4 e 𝑔5 , e a lista torna-se
vazia {}.

Passo 8. Os graus de indeterminação cinemática são todos os deslocamentos bloqueados, isto


é, 𝑔3 (rotação do nó D) e 𝑔6 (rotação do nó E).

Deformadas. As deformadas devidas a cada um dos graus de indeterminação estão indicadas


nas Figura 4b e Figura 4c.

F F

(a)
𝑀𝐷

(b)

𝑀𝐸

(c)

Figura 4

Exemplo 2. Determine os grau(s) de indeterminação cinemática da estrutura representada na


Figura 5a. Admita que as barras são incompressíveis.

𝑔4 𝑔4

𝑔2
𝑔3 𝑔2
B 𝑔1
𝑔1

(a) (b) (c)

A
𝑔4 𝑔4 𝑔4

1 1

𝑔1 𝑔1 B' g1

(d) (e) (f)

C'

𝑔4 𝑔4
C'' C''
C
C
B'' 𝑔4
B''
𝑔1 𝑔1
B B' B'
B

(g) (h) (i)

g_4
F

F F

(j) (k)

Figura 5

Passo 1. Determinamos os graus de indeterminação cinemática da estrutura admitindo que


todas as barras são compressíveis. Os graus estão ilustrados na Figura 5b. Ao bloquearmos
todos os deslocamentos, a barra AB torna-se no elemento-base da Figura 2a e a barra BC
torna-se no elemento-base da Figura 2b. Isto confirma-nos que a determinação dos graus de
indeterminação cinemática foi bem feita. Os movimentos livres disponíveis são
{𝑔1 , 𝑔2 , 𝑔3 , 𝑔4 }.

Passo 2. Dos movimentos disponíveis bloqueamos as rotações; isto é bloqueamos 𝑔3 (Figura


5c). A lista de movimentos ainda livres reduz-se para {𝑔1 , 𝑔2 , 𝑔4 }.

Passo 3. Na situação actual, vemos se é possível deduzir pontos fixos (para nos ajudar,
podemos recorrer os casos indicados na Figura 1a, Figura 1b e Figura 1c). Neste caso, não foi
identificado nenhum ponto fixo, e passamos para o passo 4.

Passo 4. Passamos para o passo seguinte porque não conseguimos identificar nenhum ponto
fixo.

Passo 5. Identificamos que 𝑔2 é nulo (Figura 5d), pois corresponde ao deslocamento axial da
extremidade B da barra AB, sendo que a outra extremidade da barra está fixa. Retiramos 𝑔2
da lista de movimentos ainda livres. A lista passa para {𝑔1 , 𝑔4 }.

Passo 6. Tanto no nó B como no nó C temos deslocamentos ainda disponíveis. Temos que


escolher um dos dois e impor um deslocamento unitário. Escolhemos o ponto B, por
pertencer a uma barra com a outra extremidade fixa. Agora desligamos da estrutura as barras
AB e BC e provocamos uma translação no nó, mas antes marcamos a posição horizontal da
nova posição do ponto B (Figura 5e). A seguir passamos a extremidade B da barra AB para a
posição marcada (Figura 5f), definindo o ponto B'. A extremidade B da barra BC tem que
passar para B', para recuperar a condição de compatibilidade interior. Decompomos o
movimento da extremidade num movimento axial e noutro transverso. No movimento axial, a
barra passa da posição BC para a posição B"C" (Figura 5g). No movimento transverso a
extremidade da barra move-se da posição B" para B' (Figura 5h). A seguir é necessário
recuperar a condição de compatibilidade exterior no nó C (Figura 5h). Vemos que os
deslocamentos 𝑔1 e 𝑔4 ocorrem no modo de deformação encontrado. Bloqueamos, por
exemplo, 𝑔1 (Figura 4i). Retiramos 𝑔1 da lista de movimentos ainda livres. A nova lista
reduz-se a {𝑔4 }. O nó B torna-se num ponto fixo (Figura 5j).

Passo 7. Voltamos ao passo 3 e repetimos o processo. Deduzimos que C está fixo (Figura
5k). Retiramos 𝑔4 da lista e ficamos sem movimentos livres ({}).

Passo 8. O grau de indeterminação cinemática é 2: 𝑔3 (rotação de B) e 𝑔1 (deslocamento


horizontal de B).

Deformadas.

As deformadas devidas aos graus 𝑔1 e 𝑔3 estão ilustrados nas Figura 6b e Figura 6c.
C'

C''

B''
𝐹𝐵
B' 𝑀𝐷
B

(a) (b) (c)

Figura 6

Exemplo 3. Determine os graus de indeterminação cinemática da estrutura da Figura 7.


Assuma que as barras são incompressíveis.

Passos. Veja a sequência das figuras e os passos do problema anterior.

𝑔3 𝑔6
𝑔2 𝑔5

C D 𝑔1
𝑔4

A B
(a) (b)

1
𝑔2 𝑔5
𝑔1
𝑔4

(c) (d)
1

𝑔2 𝑔5 𝑔2 𝑔5
𝑔1 𝑔1 C'' D'' 𝑔4
𝑔4
C D C D
C' C'

A
(e) (f)

𝑔2 𝑔5 𝑔5
D'
F
𝑔1 𝑔4
g_4
C D
C'

(g) (h)

F F

(i)

Figura 7

Deformadas. As deformadas devidos aos graus 𝑔1 , 𝑔3 e 𝑔6 estão ilustradas na Figura 8.

𝐹𝐵

(a) (b)
𝑀𝐷 𝑀𝐷

(c) (d)

Figura 8

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