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A família deste recebeu uma carta psicografada em que havia um pequeno recado a ele:

"Seu caderno está na 2a. gaveta da direita do meu armário." A família, que não sabia de
empréstimo de caderno, foi conferir e este estava lá, tendo sido devolvido. É certo que,
para quem não acredita, de nada servem exemplos como esse.

Você sabe porque esses exemplos não servem? Porque eu não posso reconstituir o que
ocorreu. Não tenho controle sobre o ocorrido. Vamos supor que eu diga que talvez alguém da
família do falecido tenha contado para o médium da existência de tal caderno....Você
possivelmente vai dizer algo como : "Não, eu juro... ninguém sabia". O problema é que talvez
você não se lembre ou ainda talvez a mensagem psicografada não fosse tão específica como
você se lembra. Sem ter uma verificação factual fica impossível para mim ou qualquer outra
pessoa verificar INDEPENDENTEMENTE o ocorrido. A memória humana é muito maleável e
moldável. E quando se acredita em algo tentamos buscar evidências que confirmem aquilo que
acreditamos e descartamos as evidências que contradizem a nossa crença. Com o tempo
essas memórias se fundem e mudam para que lembremos de algo que conta uma história que
coincide com o que acreditamos. Nossas lembranças não são como um vídeo. E o pior é que
cada vez que lembramos de algo o nosso cérebro altera a informação. Há estudos que
demonstram isso. Uma das cartas psicografadas por Chico ele escreve "Beijos N de sua
Rosemari". A destinatária demora a decifrar este código e só com algum esforço se lembra de
um hábito das duas quando Rosemari era menina: a mãe tinha mania de se despedir da filha
com beijos na ponta do nariz. Como é possível que Chico tenha adivinhado? Bom, na verdade
ele não adivinhou nada! Ele escreveu vários "N" na carta. A mãe de Rosemari, queria
desesperadamente encontrar uma associação. Ela poderia ter uma amiga, Nair, Nanci, Norma,
Naná,... um tio Nelson, uma sobrinha Natália, quantos nomes com "N" poderiam ser encontrar
em uma árvore de família? Quantos relacionamentos que ela poderia ter que começavam com
a letra "N"? A mãe, não conseguiu encontrar nada. Mas então ela "lembrou" que dava beijos no
nariz (minha filha também fazia muito isso), e voilá a MÃE fez a associação. Entretanto, no seu
caso específico, sem saber quem era o médium, o quanto ele sabia (não o quanto você acha
que ele sabia) e um registro preciso de como a carta foi psicografada e como a associação com
o caderno foi feita, fica impossível determinar se isso foi mesmo um feito extraordinário. Outro
"causo" interessante é o do "ex-médium" americano Lamar Kene. Ele relata em seu livro
Psychic Mafia, em que ele afirma que era um charlatão e como eles havia muitos outros. Uma
vez uma mulher disse para ele que precisava saber aonde estava o testamento. Ela estava
desesperada! Então ele disse a ela que ela deveria procurar sob um fundo falso no cofre da
casa. Ela procurou e... achou!!! Na verdade, ele afirma que chutou, e ele fez isso muitas vezes.
Mas quando as pessoas não encontram aquilo que buscam, elas tendem a esquecer ou
desconsiderar, ou ainda atribuir a falha de entendimento deles ou do médium ou ainda uma
imprecisão na comunicação entre os vivos e o mundo dos mortos, que pudesse causar o mal-
entendido. Mas das dezenas de tentativas, por mero acaso, se uma é suficientemente próxima
para chamar a atenção e esse caso se torna famoso e é contado de boca em boca por todos,
sendo alterado, refinado, e embelezado para dar mais credibilidade a história. Mas quando se
só quando se analisa o que realmente ocorreu é que se pode entender como aquilo pode ter
sido possível. Ninguém fala que recebeu uma carta psicografada que não tinha nada a ver, ou
que não entendeu nada. A pessoa que recebe a carta quer desesperadamente que ela tenha
algum sentido e ela faz um enorme esforço para que ela se encaixe em algo. Se ela encontra
algo a história se espalha. Se ela encaixa muita coisa, a história se espalha mais ainda e é
embelezada e alterada com o tempo. Mas se nada for encontrado, a pessoa acha que precisa
pensar mais, perguntar para alguns parentes, buscar histórias em toda família, até que
inevitavelmente alguma coisa se encaixa. Mas se não se encaixar... a pessoa não conta para
ninguém e não considera isso uma "falha" do médium. É assim que funciona nosso viés
cognitivo.

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