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Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício


ISSN 1981-9900 versão eletrônica
Periódico do Instituto Brasileiro de Pesquisa e Ensino em Fisiologia do Exercício
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EFEITO DOS EXERCÍCIOS RESISTIDOS EM PORTADORES DE DIABETES MELLITUS

Ramon Zabaglia1, Cláudio de Oliveira Assumpção2,


Christiano Bertoldo Urtado3, Thiago Mattos Frota de Souza4

RESUMO ABSTRACT

O diabetes mellitus caracteriza-se Effect of resistance training in people with


principalmente pela ausência ou insuficiência diabetes mellitus
do hormônio insulina sendo sua produção
endógena estimulada pelo exercício, The diabetes mellitus is characterized mainly
contribuindo para um melhor controle by the absence or inadequacy of the hormone
glicêmico. O treinamento resistido, promove insulin, and its endogenous production
um aumento da sensibilidade à insulina, da stimulated by the exercise, contributing like this
massa muscular e benefícios to a better control glycemic. The resistance
cardiovasculares, demonstrando ser um training promote increase sensibility the
instrumento eficaz no tratamento e prevenção insulin, muscular mass and cardiovascular
das complicações do diabetes tipo I e II. A benefits, demonstrating be like this important
prescrição de exercícios para esses indivíduos tools in the treatment and prevention of the
deve ser individualizada, acompanhada por complications of the diabetes type I and II. The
uma equipe multiprofissional e baseada nos prescription of exercises for those individuals
resultados de exames clínicos, físicos, should be individualized, accompanied by a
laboratoriais e nutricionais. O objetivo deste team multiprofessional and based on the
estudo foi analisar por meio de levantamento results of exams clinical, physical, laboratory
bibliográfico, os efeitos dos exercícios and nutritional. The objective of this study was
resistidos em portadores de diabetes mellitus, to analyze through literature review the effects
apontando que os exercícios resistidos são of the resistance exercises in individuals with
importantes para os portadores de Diabetes diabetes mellitus, suggesting that resistance
Mellitus, pois podem promover aumento da exercises are important for Diabetes Mellitus's
massa muscular, conseqüentemente maior bearers, they may promote increase of the
captação da glicose e melhora do metabolismo muscular mass, there fore greater uptake of
basal. glucose and improvement of the basal
metabolism.

Palavras-chave: Diabetes Mellitus, Exercícios


Resistidos, Prevenção. Key words: Diabetes Mellitus, Resistance
Exercise, Prevention.
1- Graduado em Educação Física –
Anhanguera – UNIFIAN - Docente do Centro
Universitário Anhanguera - UNIFIAN, Leme - Endereço para Correspondência:
São Paulo, Brasil. Rua: Carlos Albers Jr., 38, Jardim Alto das
2- Mestre em Educação Física – UNIMEP. Águas. Sta. Cruz da Conceição-SP.
Docente da Faculdade Integração Tietê. Tietê, CEP 13625-000
São Paulo, Brasil e do Centro Universitário e-mail: ramon@metalurgicanewtec.com.br
Anhanguera - UNIFIAN, Leme - São Paulo, coassumpcao@yahoo.com.br
Brasil. christiano.bertoldo@gmail.com
3- Mestre em Educação Física – UNIMEP. thiago_msf@hotmail.com
Docente da Faculdade Integração Tietê. Tietê,
São Paulo, Brasil.
4- Mestre em Educação Física – Docente do
Centro Universitário Anhanguera - UNIFIAN,
Leme - São Paulo, Brasil.

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INTRODUÇÃO diabetes mellitus como uma doença


proveniente da incapacidade do pâncreas em
O diabetes mellitus (DM) está secretar insulina (hormônio responsável pelo
relacionado a um grupo de doenças transporte de glicose da corrente sanguínea
metabólicas caracterizadas por hiperglicemia para as células). Essa incapacidade pode ser
crônica, atribuída a falhas na secreção de causada por degeneração ou inativação das
insulina ou em sua ação. O aumento células beta das ilhotas de Langerhans
excessivo da glicose sanguínea devido à (estrutura responsável pela produção de
insuficiência de insulina resultará em uma insulina no pâncreas), embora o mecanismo
série de efeitos no metabolismo dos básico desses efeitos ainda seja desconhecido
carboidratos, lipídeos e proteínas, podendo (Guyton, 1988).
provocar complicações e até falência de Segundo o mesmo autor, algumas
estruturas orgânicas. pessoas diabéticas, em especial aquelas que
Estudos apresentam que atualmente apresentam o diabetes quando ainda muito
no Brasil cerca de 6 milhões de pessoas tem o jovens, a doença pode ser causada pelo
diagnóstico confirmado de diabetes mellitus, aparecimento de anticorpos contra as células
sugerindo que no período de 1995 a 2025 beta do pâncreas, causando sua destruição, o
haverá um aumento de aproximadamente que representa exemplo de uma doença auto-
170% na prevalência desta patologia. Em imune. Em alguns casos podem aparecer
países desenvolvidos onde os avanços anticorpos contra a própria insulina, que as
científicos são mais elevados e o acesso aos destroem antes que possa atuar em outras
cuidados de saúde é facilitado, a prevalência partes do corpo, ou seja a quantidade de
do diabetes mellitus está aumentando e insulina secretada pode estar inteiramente
intervenções com a finalidade de prevenir tal normal, mas ela nunca irá atingir seu destino.
condição, como a prática de exercício físico e
dieta, não são utilizados com eficiência (King e Tipos de Diabetes Mellitus
colaboradores, 1998; Narayan e
colaboradores, 2000; Wild e colaboradores, Segundo Forbes e Jackson (1998),
2004; Arsa e colaboradores, 2009). podemos classificar o diabetes mellitus em 4
Estudos elaborados com diabéticos e níveis:
exercício físico têm fornecido evidências de a) A Tolerância prejudicada à glicose sem
que os exercícios aeróbios promovem vários diabetes (TPG) é muitas vezes classificada
efeitos benéficos a saúde do portador de como diabetes químico, fronteiriço (borderline)
diabetes mellitus, destacando benefícios ou latente. Ela é manifestada com a
cardiovasculares e melhores índices observação de uma concentração de glicose
glicêmicos (Sixt e colaboradores, 2004). plasmática venosa em jejum abaixo de 140
Porém existe uma outra forma de treinamento mg/dl e uma amostra após duas horas, de um
para diabéticos que ainda é pouco investigada: teste de tolerância à glicose, com
O treinamento resistido visando o aumento da concentrações entre 140 mg/dl e 200 mg/dl.
massa muscular e melhora na utilização da Anualmente, cerca de 2-4% destes pacientes
glicose (Cardoso e colaboradores, 2007). desenvolvem diabetes.
Dada a grande importância do b) O diabetes mellitus (primário), que se
exercício físico para os portadores de diabetes classifica em dois termos Diabetes mellitus
mellitus, a presente pesquisa tem como insulino-dependente (DMID ou tipo 1) e
objetivo investigar a relação entre exercício Diabetes mellitus não insulino-dependente
resistido e diabetes mellitus, buscando na (DMNID ou tipo 2), que serão explicados com
literatura evidências que comprovem seus maior clareza adiante.
reais benefícios para os portadores desta c) Diabetes mellitus relacionado com a má
patologia. nutrição (DMRMN), onde a Organização
Mundial de Saúde reconheceu o DMRMN com
DIABETES MELLITUS dois subtipos – diabetes pancreático
fibrocálcico (DPFC) e diabetes pancreático
Na literatura são citadas diferentes deficiente em proteína (DPDP). O DMRMN
definições para a patologia Diabetes Mellitus tem uma alta prevalência em países tropicais
(DM). A mais abrangente delas considera o em desenvolvimento, onde se manifesta com

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sintomas graves, porém sem cetose em Fatores de Risco da Doença


pessoas jovens. Calcificação pancreática é
comum no tipo diabetes pancreático O diabetes mellitus apresenta em seu
fibrocálcico. histórico uma série de complicações ao
d) Diabetes mellitus secundário, que pode portador, tais complicações são entendidas
estar relacionado a outras doenças como fatores de risco da doença, dentre os
endócrinas, hereditárias, pancreáticas e quais o mais comum é a hiperglicemia que
terapia medicamentosa. resulta no acúmulo excessivo de glicose na
Esta classificação usada por Forbes e corrente sanguínea (Castaneda e
Jackson (1998), traça um panorama geral colaboradores, 2002). Este acúmulo de glicose
sobre o diabetes mellitus, porém nesta na corrente sanguínea pode estar relacionado
pesquisa será abordada a forma mais comum a dois fatores básicos:
da doença, o diabetes mellitus primário. a) Incapacidade do pâncreas em secretar
O diabetes mellitus dependente de insulina, com isso a glicose fica armazenada
insulina (DMID) ou diabetes tipo 1, deve-se à na corrente sanguínea.
deficiência de insulina causada pela destruição b) O pâncreas produz insulina eficientemente,
auto-imune das células beta das ilhotas de mas os receptores de insulina das células não
Langerhans, enquanto as células alfa correspondem à ação dessa insulina.
(responsável pela produção do hormônio A hiperglicemia prolongada trará ao
glucagon no pâncreas) permanecem intactas portador de diabetes mellitus, tanto do tipo 1
(Ganong e Cosendey, 2000). Os diabéticos do quanto do tipo 2, complicações micro e
tipo 1 não produzem insulina suficiente, são macrovasculares. As microvasculares (que
dependentes de insulina exógena (injetável) atinge pequenos vasos sanguíneos)
para manutenção da glicemia dentro dos compreendem a retinopatia (perda potencial
limites da normalidade. O diabetes tipo 1 da visão), nefropatia (falência renal),
ocorre com mais freqüência na juventude e neuropatia (danos aos nervos periféricos) e
representa 10% da população diabética neuropatia autonômica (danos ao sistema
(Powers e Howley, 2004). nervoso autonômico). Já as macrovasculares
A segunda forma comum, o diabetes (que atinge os grandes vasos sanguíneos) são
mellitus não dependente de insulina (DMNID) as doenças cardiovasculares, que afetam as
ou diabetes tipo 2, caracteriza-se por estruturas do coração, arteroscleróticas
resistência a insulina e comprometimento de vascular periférica e cerebrovascular (Frontera
sua secreção. O diabetes tipo 2 ocorre mais e colaboradores, 1999).
tardiamente do que o tipo 1, geralmente após Além da hiperglicemia um outro fator
os 40 anos de idade e representa cerca de de risco que merece muita atenção é a cetose
90% da população diabética, estando diabética, que resulta na produção excessiva
relacionado sobretudo à obesidade visceral. O de corpos cetônicos que são ácidos graxos de
aumento de massa de tecido gorduroso cadeia curta solúveis em água, fáceis de
acarreta uma resistência à insulina, a qual por serem absorvidos pelo organismo. Quando a
sua vez encontra-se em quantidades velocidade de formação dos corpos cetônicos
adequadas no organismo. No entanto, alguns é maior que a velocidade de sua utilização,
diabéticos tipo 2 podem necessitar de insulina suas concentrações começam a se elevar no
injetável ou de uma medicação oral que sangue resultando em uma acidose severa
estimule o pâncreas a produzir insulina que diminuirá o pH sanguíneo podendo levar
adicional (Powers e Howley, 2004). ao coma e até a morte. Além disso, a excreção
Segundo Ganong e Cosendey (2000), de glicose e corpos cetônicos pela urina
não é possível afirmar com certeza, o que poderá resultar também em desidratação
ocorre primeiro no diabetes tipo 2, a (Champ e colaboradores, 1996).
resistência a insulina ou o comprometimento Outros fatores além da hiperglicemia e
de sua secreção. Porém o mesmo autor da cetose poderão exercer influência
sugere que pode ser resistência a insulina, significativa e estar intimamente ligados ao
produzindo elevação da glicose plasmática, diabetes mellitus, tais fatores são a obesidade,
que por sua vez estimula a produção de o sedentarismo, o tabagismo e a depressão
insulina até esgotar as reservas das células (Gustat e colaboradores, 2002; Lakka e
betas.

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colaboradores, 2003; Rennie e colaboradores, maior produção desta fração do colesterol,


2003). especialmente no gênero feminino. Para tanto
estes mesmos autores ainda dizem que a
Gordura Corporal e Diabetes Mellitus Tipo II redução da gordura corporal através de
(DMNID) medidas conservadoras, como dieta e
atividade física, merecem uma atenção
A obesidade acomete a maioria dos especial no tratamento do diabetes mellitus
pacientes portadores de diabetes mellitus Tipo não insulino dependente.
2 (DMNID). O acúmulo excessivo de gordura
na região abdominal, também conhecido como Gordura Corporal e Diabetes Mellitus Tipo I
obesidade visceral, resultará em várias (DMID)
alterações fisiopatológicas, dentre as quais
podemos citar, menor extração de insulina O aumento da gordura corporal é
pelo fígado, aumento da produção hepática de motivo de preocupação tanto no DMID quanto
glicose e diminuição da atração de glicose no DMNID, porém no DMNID um maior
pelo tecido muscular (Correa e colaboradores, percentual de gordura corporal,
2003). particularmente aumentado nas mulheres, está
Segundo Ciolac e Guimarães (2004), relacionado a um pior controle clínico-
os eventos citados acima podem resultar em metabólico (Andrade e colaboradores, 2004).
diferentes graus de intolerância à glicose e, O aumento da prevalência da
nos indivíduos com (DMNID), terão influência obesidade também está ocorrendo entre
significativa no controle glicêmico, refletindo crianças e adolescentes (normalmente
elevadas concentrações de hemoglobina portadores de DMID), o que tem tornado
glicosilada (HbA1c) que indica o controle de freqüente os achados de componentes da
açúcar no sangue de um paciente nos últimos Síndrome de Resistência Insulínica (RI) ou
2-3 meses. Esta é formada quando a glicose Síndrome Metabólica (SM), ou ainda Síndrome
do sangue se liga irreversivelmente a X, que é a coexistência da resistência à
hemoglobina (proteína responsável pelo insulina (os tecidos não captam a glicose
transporte de oxigênio), para formar um facilmente quando são estimulados pela
complexo estável de hemoglobina glicosilada. insulina e o músculo é o principal local de
A American Diabetes Association (ADA), 1995 resistência à insulina), dislipidemia
recomenda a hemoglobina glicosilada como (concentrações anormais de triglicerídeos),
melhor teste para saber se o açúcar no hipertensão (aumento da pressão sobre os
sangue de um paciente esta sob controle o vasos sanguíneos) e obesidade, formando
todo tempo, possibilitando uma análise do assim o também chamado quarteto mortal, no
índice glicêmico. qual a hipertensão e a dislipidemia, que
É também importante considerar outrora era fato raro nesta faixa etária aparece
outros parâmetros tais como pressão arterial, como 2 dos componentes da síndrome
concentrações séricas de lipídeos (quantidade (Powers e Howley, 2004).
de gordura no sangue), aumento do colesterol Em pacientes com DMID o aumento
total, triglicerídeos e redução do colesterol da obesidade, decorrente do acúmulo de
HDL. Após esta avaliação criteriosa seria gordura abdominal visceral, tem se tornado
possível traçar estratégias para diminuir o cada vez mais freqüente no início da
risco de surgimento das complicações adolescência, o que pode tornar a resistência
macrovasculares do diabetes, que insulínica um fator independente para a
representam 65% das causas de mortalidade determinação de achados clínicos e
nesta população (Correa e colaboradores, laboratoriais da Síndrome Metabólica. O
2003). aumento de gordura abdominal visceral e a
Corroborando com Correa e Resistência a Insulina poderiam ter relação
colaboradores (2003), e Ciolac e Guimarães direta com o uso de altas doses de insulina
(2004), Arsa e colaboradores (2009), sugerem exógena e pior controle metabólico. Nesses
que na população diabética existe uma pacientes, observa-se que o aumento do IMC
alteração qualitativa no metabolismo lipídico, (índice de massa corporal) se dá de forma
com predomínio de LDL pequeno e denso, e diferente em meninos e meninas, sendo que
que o mau controle glicemico está associado à nos meninos o aumento seria em relação à

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massa magra (músculo) e nas meninas hábito de praticar exercícios, sendo


aumentaria o percentual de tecido adiposo considerada inativa, ou ainda se exercitam
(Andrade e colaboradores, 2004). muito pouco, em níveis insuficientes para obter
resultados satisfatórios para a saúde. Estima-
DIABETES MELLITUS E EXERCÍCIOS se também que 50% dos indivíduos que
começam a participar de um programa de
Adesão dos Portadores de diabetes exercícios podem interrompê-lo nos primeiros
mellitus a um Programa de Exercícios seis meses. O que a literatura tem apontado é
que a maioria das desistências ocorre durante
São inúmeros os estudos que os três meses iniciais com resultados
abordam os benefícios conseguidos através semelhantes em todas as faixas etárias,
da prática de atividade física regular para a independentemente do gênero.
saúde. Há várias evidências de que os Para Fechio e Malerbi (2004), esse
resultados obtidos no início de um programa baixo índice de adesão aos programas de
de atividade física só serão mantidos se os exercícios constitui-se num dos maiores
indivíduos continuarem praticando exercício problemas enfrentados pelos profissionais de
adequado em longo prazo (Fechio e Malerbi, saúde no combate ao diabetes mellitus, pois o
2004). exercício físico é uma prática de natureza
A prática de exercício melhora as preventiva, que requer alterações no estilo de
medidas fisiológicas (que decorrem de um vida e que resulta em benefícios a longo
estilo de vida fisicamente ativo), tais como prazo, motivos estes que podem não ser de
redução de triglicérides e do colesterol LDL, grande aceitação por parte da população.
aumento do colesterol HDL, diminuição da Estudo realizado Fechio e Malerbi
freqüência cardíaca de repouso e em (2004), apontaram que apenas 19 a 30% dos
atividade, redução da pressão arterial, entre pacientes portadores de DM aderem a
outras. Estas adaptações são ainda mais prescrições de exercícios. Segundo eles, essa
importantes nos portadores de diabetes baixa adesão pode estar relacionada a
mellitus, uma vez que o risco de mortalidade algumas dificuldades enfrentadas no início de
por doenças coronarianas é 4 a 5 vezes maior um programa de exercícios, tais como mal-
nesses indivíduos quando comparados com estar decorrente de cansaço, dores
outros indivíduos que não apresentam musculares, episódios de hipoglicemia, entre
diabetes (Cardoso e colaboradores, 2007). outras.
A atividade física irá contribuir para a Sugerem ainda que a adesão de
prevenção do diabetes mellitus não insulino portadores de diabetes mellitus a um
dependente (DMNID), e também para a programa de exercícios pode apresentar
manutenção da glicemia em portadores de melhores resultados quando há o
diabetes mellitus insulino dependente (DMID). envolvimento familiar ao programa pré-
Para os portadores de diabetes mellitus, a estabelecido. Para que esse envolvimento seja
atividade física funciona como um elemento eficaz seria importante promover reuniões
essencial do tratamento, assim como também para explicar os benefícios do exercício físico
os medicamentos e a dieta alimentar (Fechio e para a saúde, especialmente para o controle
Malerbi, 2004). glicêmico em portadores de diabetes mellitus,
Além disso, exercícios regulares apresentando dados referentes às melhoras
ajudam a diminuir o peso corporal ou ainda obtidas com o programa.
ajudam a manter um peso ideal, do mesmo Os resultados apresentados quanto ao
modo que agem reduzindo a necessidade do envolvimento dos familiares no programa de
uso freqüente de antidiabéticos orais, exercícios, são consistentes com dados de
diminuindo a resistência à insulina e diversas pesquisas (Castaneda e
contribuindo para uma melhora do controle colaboradores, 2002; Cardoso e
glicêmico, o que, por sua vez, pode reduzir o colaboradores, 2007; Arsa e colaboradores,
risco de complicações (Arsa e colaboradores, 2009) que mostram que a família tem uma
2009). forte influência sobre o estilo de vida e os
Apesar das vantagens da atividade comportamentos de saúde dos portadores de
física, Fechio e Malerbi (2004), relatam que diabetes mellitus.
grande parte da população não possui o

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Metabolismo e Tipos de Exercício Ainda segundo esse mesmo autor, os


exercícios anaeróbios podem ser classificados
Quando os seres humanos praticam em dois tipos: exercícios de velocidade, com
atividade física necessitam de energia para ou sem determinada carga como é o caso da
realizá-la. O organismo humano tem a corrida, do ciclismo e da natação, ou também
capacidade de variar os tipos e a quantidade exercícios mais lentos com carga, tendo como
de substratos oxidados para satisfazer suas exemplo os exercícios resistidos, tais como a
necessidades energéticas em resposta a uma musculação com pesos e aparelhos
variedade de situações fisiológicas, incluindo específicos, ou ainda exercícios sem carga
diferentes condições nutricionais e de onde a resistência é imposta pelo próprio
atividade física (Foss e colaboradores, 1993). corpo.
O exercício físico é um estado Nos exercícios anaeróbios a fadiga
fisiológico caracterizado por um aumento na muscular decorrente das sessões de um
oxidação de substratos no organismo, com treinamento surge com maior rapidez, para
intuito de satisfazer as necessidades isso seria interessante que os exercícios
energéticas aumentadas, principalmente pela fossem realizados a partir do método
musculatura envolvida no processo contrátil intervalado, intercalando períodos de
(Foss e colaboradores, 1993). descanso com períodos de atividade. Os
Nós possuímos a capacidade de exercícios anaeróbios de velocidade não
utilizar duas vias para o metabolismo podem ser suaves, pois exige uma sobrecarga
energético, que são as vias de metabolismo considerável para o organismo, sendo assim a
anaeróbio e a de metabolismo aeróbio. A via atividade é classificada como moderada ou
de metabolismo anaeróbio envolve uma série exaustiva, variando de acordo com a
de dez reações químicas que não necessitam intensidade.
de oxigênio para serem realizadas e ocorrem Nesta mesma linha de exercícios
rapidamente dentro do nosso organismo, com também se encontram os exercícios
o objetivo de fornecer energia rápida a partir anaeróbios lentos que podem variar de
dos alimentos digeridos em nossa exaustivos a menos exaustivos, neste último
alimentação. Já a via de metabolismo aeróbio caso impondo menores sobrecargas ao
ocorre mais lentamente, necessitando de organismo do que os exercícios aeróbios
oxigênio em suas reações e sendo desta contínuos que vão até a exaustão.
forma, uma via de fornecimento de energia Estudos epidemiológicos recentes têm
que ocorre mais lentamente. Porém deve-se proporcionado evidências de que o nível de
considerar que a capacidade de cada forma de atividade física está associado com a maior
transferência de energia varia incidência de casos de diabetes mellitus não
consideravelmente entre os indivíduos. Essa insulino-dependente (DMNID), demonstrando
variabilidade interpessoal serve de base para assim que um programa de exercício regular
o conceito das diferenças individuais em pode reduzir o risco de desenvolvimento deste
termos de capacidade metabólica para o tipo de diabetes (Oliveira e colaboradores,
exercício. Além disso, a capacidade de cada 2002).
pessoa no que se refere à transferência de De acordo com Powers e Howley
energia (e para muitas funções fisiológicas) (2000), a prescrição de exercícios para DMNID
não é apenas um fator geral; pelo contrário, deve ser constante, seguindo uma ordem de
depende essencialmente da modalidade e do cinco a sete vezes por semana e com
exercício durante o qual é treinada e avaliada intensidade correspondente a 50% do VO2máx
(McArdle, Katch e Katch,1998). (quantidade máxima de oxigênio consumida
Exercícios do tipo aeróbio são por quilograma de peso corporal), com intuito
geralmente contínuos e prolongados, sendo de assegurar um aumento da sensibilidade à
realizados com movimentos não muito rápidos insulina e a perda ou manutenção do peso
como (corrida, ciclismo, natação). Nestes corporal.
exercícios é dado maior ênfase à duração, não Estudos experimentais realizado com
se preocupando muito com a velocidade dos animais têm demonstrado que ocorrem
movimentos, no entanto a velocidade pode ser melhorias no estado geral do diabetes com a
manipulada para caracterizar a atividade como realização crônica de exercício físico,
suave, moderada ou exaustiva. principalmente quanto aos aspectos

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relacionados com o metabolismo de substratos idade justamente devido à redução da taxa


energéticos e as secreções hormonais metabólica basal, aliada também a uma perda
(Oliveira e colaboradores, 2002). progressiva de massa muscular. Estudos
Entretanto, pouco se conhece sobre apontam para uma maior eficiência na redução
os efeitos dos exercícios de alta intensidade do tecido adiposo estimulada pelos exercícios
(anaeróbios) em diabéticos. Portanto a partir com pesos, comparada com os exercícios
de agora daremos ênfase a este tipo de aeróbios. Outros trabalhos ainda indicam uma
exercício, um dos temas principais desta superioridade em longo prazo dos exercícios
pesquisa. com pesos visando à redução da gordura
corporal, atribuindo esta causa ao aumento no
Particularidades dos Exercícios Resistidos volume de massa magra (Cardoso e
Anaeróbio colaboradores, 2007; Assumpção e
colaboradores, 2008; Arsa e colaboradores,
Os exercícios resistidos são 2009).
considerados eficientes e adotados atualmente Indubitavelmente pode-se considerar
para promover uma mudança favorável na que a prática de atividade física promoverá
composição corporal. Tal efeito tem inúmeros benefícios aos praticantes, pois
contribuído consideravelmente para o aumento contribui de forma significativa contra os
da massa muscular, o aumento da massa processos de degeneração do organismo,
óssea calcificada e a redução da gordura causados por um estilo de vida sedentário.
corporal (Assumpção e colaboradores, 2008). Os estímulos para o crescimento do
Corroborando com os autores acima, músculo esquelético em organismos jovens e
Arsa e colaboradores (2009), relata que, fator a sustentação da massa muscular em adultos
determinante para o processo de mobilização exigem um bom fornecimento de insulina e
da gordura corporal é o balanço calórico quantidades adequadas de atividade contrátil.
negativo, gastar com eficiência o que se A perda de massa muscular é uma das
consome de calorias em uma alimentação características dos diabéticos, fato este que
diária. Tendo em vista que o principal também ocorre em estados de jejum ou ainda
reservatório de energia do organismo se como conseqüência de inatividade física
concentra no tecido adiposo (células de prolongada. O desenvolvimento ou atrofia do
gordura), acredita-se que quando faltam músculo esquelético é um processo que
calorias na alimentação para completar a depende do balanço entre a taxa de síntese e
quantidade de energia necessária para se a taxa de degradação das proteínas
manter um estado de equilíbrio corporal, intracelulares (Luciano e Mello, 1998).
ocorre a mobilização da gordura do tecido O anabolismo, processo metabólico
adiposo. pelo qual o organismo transforma e incorpora
A contribuição dos exercícios físicos a si os substratos energéticos, do metabolismo
em geral estimula o processo de e dos aminoácidos é orientado através das
emagrecimento promovendo um aumento no ações da insulina. A insulina após interação
gasto calórico diário, estimulando assim o com o receptor de membrana, estimulará os
metabolismo das gorduras, cujo nível de transportadores de glicose (GLUT-4),
atividade tende à redução durante dietas facilitando a entrada do carboidrato para a
hipocalóricas (cortar calorias da alimentação). célula, exercendo assim uma ação anabólica.
No caso dos exercícios resistidos, além de Além dos efeitos anabólicos da insulina é
promoverem a melhora na estimulação do importante reforçar também suas ações
metabolismo das gorduras, promove ainda o anticatabólicas, visto que a insulina inibe a
aumento da taxa metabólica basal (gasto proteólise, elimina a liberação e impede a
calórico em repouso após o exercício), pois oxidação dos aminoácidos essenciais. Estes
proporcionam o aumento da massa muscular, efeitos sugerem ainda que indivíduos privados
que por sua vez aumentará o consumo de de insulina apresentaram redução da massa
glicose contribuindo desta forma para um corporal, retardo da estrutura e do processo de
melhor controle glicêmico (Andrade e maturação (Luciano e Mello, 1998).
colaboradores, 2005). Por outro lado, é importante ressaltar
Existe uma tendência apontando para que a atividade contrátil parece ser
o fato de que as pessoas engordam com a determinante fundamental da massa muscular,

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podendo também anteceder os sinais glicose e aumento da sensibilidade à insulina


endócrinos que estimularão a depleção de em portadores de diabetes mellitus e
proteínas no músculo. Além disso, os indivíduos normais, fornecem evidências
músculos mantidos inativos estarão mais diretas que o treinamento de resistência com
expostos aos sinais catabólicos dos hormônios intensidade moderada e alto volume
contra-regulatórios. O aumento do trabalho desenvolvido por um período de 4 a 6
muscular é capaz de desencadear varias semanas melhora em 48% à sensibilidade à
reações bioquímicas, essenciais para o insulina nos indivíduos com DMNID
aumento da massa muscular. A captação de destreinados e não obesos.
aminoácidos pelo músculo esquelético é um Por outro lado há evidências de que o
evento que ocorre antes dos aumentos de exercício agudo de resistência têm sido
massa muscular. Estudos realizados por associado com elevação extrema das
Carson (1997), e Goldberg (1979) citados por pressões sistólicas (fase de contração do
Luciano e Mello, 1998), a partir de músculos coração) e diastólicas (fase de relaxamento do
isolados apontaram que a taxa de transporte coração), com aumento da pressão arterial e
de aminoácidos está inteiramente ligada a freqüência cardíaca. Portanto deve-se ter
atividade contrátil. cautela com indivíduos que apresentam
Midaoui e colaboradores (1996), complicações avançadas de retina e
sugerem que o treinamento físico tem a cardiovasculares (American Diabetes
capacidade de reverter às alterações nas Association, 1995).
proteínas mitocondriais musculares O treinamento de resistência inclui
provocadas pelos estados de deficiência de também atividades calistênicas que usam o
insulina. Estes feitos apontam para peso do corpo como resistência e utilizam
importância da prática de atividade física, vários recursos como molas, tiras de elástico
principalmente daquelas que exigem ou tubos elásticos, assim como os pesos livres
contração muscular intensa como os com halteres e aparelhos de musculação que
exercícios resistidos. promovem resistência por polias, correntes,
cilindros hidráulicos ou eletromagnéticos
Tipos de Treinamento Anaeróbio para (American Diabetes Association, 1995).
Portadores de Diabetes Mellitus Os dados obtidos pela ADA (1995),
sobre os efeitos do exercício de resistência
Os tipos de treinamento anaeróbios para indivíduos portadores de DMNID são
adotados para o trabalho com portadores de limitados, apesar de resultados recentes em
DMNID e DMID, discutidos nesta pesquisa são indivíduos normais e indivíduos portadores de
baseados em duas propostas, são elas: o DMID sugerirem efeitos benéficos.
treinamento de resistência e o treinamento de Segundo o ACSM (2000), os
força. exercícios de curta duração e alta intensidade
devem ser executados com precauções, pois
Treinamento Resistido induzem ao aumento da glicose sanguínea em
obesos e indivíduos com DMNID que
A força muscular empregada para apresentam hiperinsulinemia.
mover um peso ou para desenvolver um No entanto pode-se dizer que os
trabalho contra cargas que oferecem exercícios de resistência parecem prevenir a
resistência recebe o nome de treinamento de perda de massa muscular, além de aumentá-la
resistência. O treinamento de resistência gera favorecendo assim uma melhor utilização da
reais benefícios em indivíduos portadores de glicose (Neto, 2000; Assumpção e
diabetes mellitus, como melhora da força colaboradores, 2008).
muscular, ganho de flexibilidade, melhora da
sensibilidade à insulina e tolerância à glicose. Treinamento de Força
Desta forma atua no melhoramento da
composição corporal e diminui os fatores de O treinamento de força trará inúmeros
risco cardiovasculares (ACSM, 2000). benefícios para os portadores de diabetes
Segundo Balsamo (2005), os mellitus desde que seus riscos sejam
benefícios adquiridos com o treinamento de minimizados através de prescrição adequada
resistência, como melhora da tolerância à acompanhada por uma equipe

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multiprofissional. Entre estes benefícios Algumas medidas podem e devem ser


podemos destacar o ganho de massa tomadas durante o programa de exercícios,
muscular, melhora na absorção de glicose, como a monitoração da glicose sanguínea
aumento de massa magra e conseqüente antes, durante e após o exercício, para evitar
controle de peso (Ghorayeb, 1999; Fleck e riscos de hipoglicemia e hiperglicemia, evitar o
Kraemer, 1999; Neto, 2000). exercício se as concentrações de glicose em
Alguns estudos demonstraram jejum estiver acima de 250mg/dl, o que
aumento da reserva de glicogênio caracteriza a hiperglicemia, ingerir carboidrato
intramuscular com treinamento de força, adicional se a concentração de glicose for
porém outros estudos não comprovaram esse menor que 100mg/dl, além de consumir
possível aumento. Foi demonstrado também carboidrato de fácil absorção durante e depois
que o treinamento de força não apresenta da atividade, evitando assim o risco de
alterações significativas nas concentrações de hipoglicemia. Além disso, deve-se evitar
glicose sanguínea o que indica independência exercitar os músculos que receberam a
desta para o desempenho (Fleck e Kraemer, aplicação da insulina por aproximadamente
1999). uma hora, também não deve ser realizado o
No entanto, estudos recentes sugerem exercício no pico de ação da insulina (ACSM,
que o treino de força diminui o risco de doença 1998).
arterial coronariana em indivíduos com Segundo Colberg (2000), a prescrição
DMNID. Os exercícios de força com do treinamento de força inclui uma série de 8 a
intensidade moderada a levemente intensa 10 tipos de exercício, com 8 a 12 repetições,
podem ser praticados por portadores de envolvendo grandes grupamentos musculares,
diabetes mellitus jovens com a doença bem realizados 2 a 3 vezes por semana. O
controlada. Contudo é recomendado para aumento de carga deve ser feito quando o
idosos e indivíduos com longo histórico da indivíduo completar 12 ou mais repetições.
doença que o treinamento de força seja Para portadores de diabetes mellitus com mais
realizado com pesos leves desenvolvendo de 50 anos é recomendado exercícios com 12
várias repetições (American Diabetes a 15 repetições com pesos leves variando
Association, 2002). subjetivamente. É aconselhável trabalhar
De uma forma geral, o treinamento de também com exercícios 2 ou 3 vezes por
força parece ser benéfico para os portadores semana, para desenvolver ou manter a
de diabetes mellitus, porém com cargas amplitude de movimento articular e diminuir as
moderadas devido à fragilidade vascular que perdas de flexibilidade resultante da
esses indivíduos apresentam (Ghorayeb, glicolisação de várias estruturas articulares.
1999). O método para treinamento de força
seguro em portadores de diabetes mellitus
Prescrição de Exercício para Portadores de segundo a ADA (1995), diz que o programa de
Diabetes Mellitus exercícios deve ser iniciado com cargas leves
entre 40-60% de 1 RM (repetição máxima)
Ao elaborar um programa que visa com 6 a 10 repetições, considerando o limite
prescrever exercícios físicos para portadores individual de freqüência cardíaca e pressão
de diabetes mellitus é necessário saber que tal arterial, não excedendo o nível 13 da escala
programa deve ser individualizado e requer de BORG, que indica a percepção de esforço
alguns cuidados especiais. Sendo assim o levemente intenso. Assim que o indivíduo
profissional de educação física responsável apresentar boa coordenação de movimento, a
pela prescrição dos exercícios deverá basear- quantidade de séries pode ser aumentada
se em resultados obtidos através de exames para 2 ou 3 e a carga pode evoluir para 60-
clínicos, físicos, laboratoriais e nutricionais. 80% de 1 RM.
Desta forma, deverá haver boa interação entre Os portadores de diabetes mellitus
a equipe multiprofissional envolvida no devem ser orientados a executar os
programa para melhor avaliação e levantamentos de peso devagar, para que
determinação de riscos e benefícios da possam controlar totalmente o movimento até
atividade física proposta (Martins e Duarte, a extensão, evitando com isso a manobra de
1998). Valsava realizada quando o indivíduo prende a
respiração para obter maior estabilidade no

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movimento, ficando susceptível a problemas line for Exercise Testing and Prescription. 6ª
cardiovasculares. Evitar também movimentos ed. Baltimore: Lippincott Willians e Wilkins,
bruscos de cabeça e pescoço em indivíduos 1998.
com retinopatias não tratadas ou recém
tratadas (Neto, 2000). 2- American College of Sport Medicine.
A prática dos exercícios físicos deve Exercise end Type 2 Diabetes. ACMS Position
fornecer à pessoa diabética a oportunidade de Stand. Vol. 32. Num. 7. 2000. p. 1345-1360.
levar uma vida dentro dos padrões da
normalidade, com características mais ativas, 3- American Diabetes Association. Diabetes
não consistindo somente como terapia efetiva Mellitus and Exercise the Risk-Benefit Profile.
(Martins e Duarte, 1998; Arsa e colaboradores, In the Health Professional’s Guide to Diabetes
2009). and Exercise. Devlin, J.T.; Ruder Nan, N.;
Alexandria, V.A. American Diabetes
CONCLUSÃO Association, 1995.

Ao analisar os efeitos dos exercícios 4- American Diabetes Association. Diabetes


anaeróbios em portadores de Diabetes Mellitus and Exercise. Diabetes Care. 2002,
Mellitus tipo I (DMID) e tipo II (DMNID), a partir Vol. 25. Supl. 1. 2002. p. S64-S68.
dos exercícios resistidos realizados na
musculação baseados no treinamento de 5- Andrade Jr.; Clemente, C.R.M.; Gomes,
resistência e no treinamento de força, conclui- E.L.; Brito, M. Influência da gordura corporal
se que ambos poderão trazer riscos e em parâmetros de controle clínico e
benefícios aos diabéticos. Dentre os metabólico de pacientes com diabetes mellitus
benefícios pode-se destacar, o aumento da tipo 1. Arq Bras Endocrinol Metab. Vol. 48.
massa muscular e a melhor utilização da Num. 6. 2004. p. 885-889.
glicose na melhora do quadro geral do
diabetes, assim como a melhora do 6- Arsa, G.; Lima, L.; Almeida, S.S.; Moreira,
metabolismo basal desses indivíduos. No S.R.; Campbell, C.S.G.; Simões, H.G.
entanto, os riscos que podem ser Diabetes Mellitus tipo 2: Aspectos fisiológicos,
considerados iminentes durante a realização genéticos e formas de exercício físico para seu
dos exercícios resistidos são: a manobra de controle. Rev Bras Cineantropometria
Valsava, o aumento da pressão arterial e da Desempenho Hum. Vol. 11. Num. 1. 2009. p.
freqüência cardíaca, merecendo assim maior 103-111.
atenção dos profissionais envolvidos na
elaboração do programa de exercícios. 7- Assumpção, C.O.; Preste, J.; Leite, R.D.;
Em linhas gerais pode-se dizer que a Urtado, C.B.; Bartholomeu Neto, J.;
prescrição de exercícios para portadores de Pellegrinote, I.L. Efeito Do Treinamento De
Diabetes Mellitus é bastante complexa e como Força Periodizado Sobre A Composição
em todas as praticas de atividade física, Corporal E Aptidão Física Em Mulheres
envolve riscos e benefícios que deverão ser Idosas. Revista da Educação Física da
controlados pelos profissionais que as Universidade Estadual de Maringá, Maringá.
prescrevem. Desta forma os riscos podem se Vol. 19. Num. 4. 2008. p. 581-590.
tornar mínimos se os programas forem
individualizados e bem acompanhado por toda 8- Balsamo, S. Treinamento da força: para
a equipe envolvida no programa. osteoporose, fibromialgia, diabetes tipo 2,
Os estudos que envolvem os efeitos artrite reumatóide e envelhecimento, 1ª ed;
fisiológicos dos exercícios anaeróbios nos São Paulo: Phorte, 2005.
portadores de Diabetes Mellitus são ainda,
muito escassos, necessitando assim de um 9- Cardoso, L.M.; Ovando, R.G.M.; Silva, S.F.;
maior numero de pesquisas para se chegar a Ovando, L.A. Aspectos importantes na
resultados cada vez mais fidedignos. prescrição do exercício físico para o diabetes
mellitus tipo 2. Revista Brasileira de Prescrição
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Recebido para publicação em 20/03/2009


Aceito em 27/05/2009

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