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Para os cristãos da Idade Medieval, peregrinar para cidades sagradas era algo

muito importante. Eles iam para Roma, Jerusalém e Santiago de Compostela


para pagar promessas, pedir uma graça ou como forma de penitência. Além
disso, essas viagens eram as únicas oportunidades para muitos fiéis conhecerem
outra parte do mundo. E foram elas que deram início às Cruzadas.

A cidade de Jerusalém era a que mais recebia visitantes, pois também era
sagrada para judeus e muçulmanos. Desde o século VII, a Palestina, região onde
está localizada Jerusalém, estava dominada por muçulmanos que autorizavam a
entrada de fiéis de outras religiões.

No entanto, em 1078, a cidade foi tomada por outro povo muçulmano, os


turcos seljúcidas. Eles eram hostis aos cristãos e, por isso, proibiram suas
peregrinações e tomaram territórios bizantinos.

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Motivações das Cruzadas


Em 1095, o papa Urbano II começou a convocar cristãos para lutarem contra os
seljúcidas. Mas recuperar Jerusalém não era o único objetivo da Igreja. As
expedições em direção à Palestina, que ficaram conhecidas como Cruzadas,
também tinham motivações políticas.

Elas serviriam ao propósito de unir os cristãos no combate de um inimigo


comum e, com isso, acabar com a crise enfrentada pela Igreja nos séculos X e
XI. Além disso, como os bizantinos se uniriam a eles nas batalhas, o papa tinha
esperança de unificar novamente as Igrejas do Ocidente e Oriente, que estavam
separadas desde o Cisma do Oriente, em 1054.

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É possível perceber essas intenções num trecho do discurso de convocação de
Urbano II:

“Cessem, pois, os ódios intestinos, apaguem-se os contenciosos, aplaquem-se as


guerras e sossegue toda a discórdia e inimizade. Empreendei o caminho do Santo
Sepulcro, arrancai aquela terra àquele povo celerado e submetei-la a vós”.

Com essas justificativas, a Igreja começava a promover o que considerou uma


“guerra santa” contra os muçulmanos e em busca da expansão do catolicismo.

Para motivar as pessoas a irem combater numa terra distante e desconhecida, a


Igreja prometeu a salvação da alma de quem morresse em combate. Apesar
disso, os cristãos tinham outros interesses nas Cruzadas. Os nobres queriam
conquistar novas terras e riquezas, os mercadores desejavam que as expedições
reabrissem o comércio no Mediterrâneo, e os camponeses almejavam alcançar
sua liberdade.

Mapa das Cruzadas.


A Primeira Cruzada

As Cruzadas eram compostas por várias expedições que saíam da Europa


Ocidental em direção à “Terra Santa” de Jerusalém. Os primeiros grupos
partiram em 1096 e eram formados, basicamente, de pessoas pobres sem
nenhum treinamento militar. Conhecida como “Cruzada Popular” ou “Cruzada
dos Mendigos”, a expedição de cerca de 40 mil pessoas fracassou antes mesmo
de chegar ao seu destino.

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Os soldados entraram em conflito com populações locais de camponeses pelo
caminho, muitos morreram de fome e aqueles que alcançaram a Palestina foram
rapidamente derrotados. Apenas 3 mil cruzados retornaram para suas casas.

O segundo grupo de peregrinos era formado por cerca de 53 mil cavaleiros. Por
isso, ficou conhecido como “Cruzada dos Nobres”. Apesar de passar por
dificuldades semelhantes ao grupo anterior, obteve êxito na conquista de
Jerusalém.
Em 1099, a cidade sagrada foi transformada no Reino Latino de Jerusalém.
Também foram conquistados os condados de Edessa e Trípoli. Quando
voltaram para suas casas, os cavaleiros que participaram da cruzada foram
recompensados com terras.

luminura de 1350
retratando a tomada de Jerusalém pelos cruzados.
Outras Cruzadas

Os reinos fundados pelos cristãos, entretanto, não duraram muito tempo. Os


muçulmanos voltaram a conquistar o território de Edessa em 1145, o que
motivou a Segunda Cruzada. A nova expedição foi liderada pelo rei da França e
pelo imperador do Sacro Império Romano-Germânico, e acabou sendo
derrotada. A Terceira Cruzada também foi comandada por reis e, novamente, os
cristãos não obtiveram sucesso em recuperar o domínio de Jerusalém.

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Os conflitos entre cristãos e muçulmanos eram incessantes. Ao todo, foram
empreendidas oito Cruzadas entre 1096 e 1270, e foi apenas na primeira que a
Igreja Católica saiu vitoriosa. Além disso, o saldo de mortes foi enorme.
Somente na Primeira Cruzada, unindo os dois lados do combate, 40 mil pessoas
perderam suas vidas.

A intenção de unir as Igrejas do Ocidente e do Oriente também não foi


concretizada. O imperador bizantino considerava-se o soberano dos cristãos em
terras orientais, mas os cruzados nunca aceitaram sua autoridade. Inclusive, a
Quarta Cruzada ficou conhecida como “Cruzada Bandida” porque os soldados
atacaram o Império Bizantino em vez dos muçulmanos. Por causa disso, os
cristãos orientais recusaram qualquer tentativa de aproximação de Roma.

Contudo, a Europa Ocidental não teve apenas perdas, pois conquistou


importantes postos mercantis no Mediterrâneo. A Igreja também teve seus
benefícios. O papa viu sua autoridade aumentar e a instituição enriquecer ainda
mais. E, no final das contas, apesar de Jerusalém estar nas mãos dos
muçulmanos, a peregrinação de cristãos foi autorizada.

O ideal de cavalaria

Quando alguém fala em Cruzadas, é provável que você lembre de cavaleiros


com cruzes vermelhas pintadas nos uniformes. Realmente, muitos os homens
que foram às Cruzadas eram cavaleiros da nobreza feudal e cavaleiros errantes,
que vagavam pelas cidades com a esperança de obter riquezas vencendo
torneios.

Antes das Cruzadas, os cavaleiros causavam problemas que a Igreja tentava


solucionar. Eram frequentes os conflitos entre nobres pela posse de terra. Havia
muita violência nas ações dos cavaleiros, que invadiam terras, saqueavam bens,
atacavam a população desarmada e estupravam mulheres.

No século X, a Igreja criou uma campanha chamada “Paz de Deus” para


cristianizar os cavaleiros. Eles passaram a ter que fazer um juramento
prometendo manter a paz e proteger a sociedade. Além disso, um calendário de
guerras foi instituído para que não houvesse conflitos em dias santos.

Cavaleiros nas Cruzadas

Mas o que realmente funcionou para disciplinar a cavalaria foi enviá-los para as
Cruzadas, pois as guerras saíram do território da Europa Ocidental e os
cavaleiros uniram-se em uma missão comum.

A partir de então, a cavalaria se tornou uma atividade sagrada e os cavaleiros


deveriam, em teoria, seguir uma série de normas éticas. Eles juravam proteger a
Igreja, os órfãos, as viúvas, não poderiam mentir e nem atacar adversários
indefesos.

Para cumprir esses compromissos, passaram a se organizar em ordens. As mais


famosas foram a Ordem dos Templários e a Ordem dos Cavaleiros Teutônicos.
Para participar delas, era preciso passar por um treinamento que durava anos.

Gravura de
1875 representando os cavaleiros templários.
Os valores seguidos pelos cavaleiros, como lealdade, fidelidade e dedicação,
acabaram dando origem às novelas de cavalaria e aos poemas de gesta. Uma
das obras mais famosas que trata do assunto é “Dom Quixote de La Mancha”,
que satiriza a novela de cavalaria e os próprios cavaleiros medievais.

Apesar de todo o idealismo da teoria, os muçulmanos viram uma prática bem


diferente. Durante as Cruzadas, milhares de crianças, mulheres e idosos foram
mortos pelos cavaleiros em cidades como Antioquia e Jerusalém.
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Ainda que ambos os lados tenham cometido atrocidades, como a escravização
da população e o saque das cidades, os cristãos eram mais violentos. A
brutalidade foi tamanha que os ocidentais passaram a ser vistos pelos islâmicos
como bárbaros sanguinários.

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