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UFMG ARQUITETURA - ACR 023 PATRIMÔNIO CULTURAL

SAMANTHA CAMPOS

Considerações sobre o Decreto de Lei n° 25 (1937) e o Artigo 216 da Constituição Federal (1988)

A partir da leitura do Decreto-Lei n°25, de 30 de novembro de 1937, comparada ao Artigo 216


da Constituição Federal, promulgado em 05 de outubro de 1988, pode-se dizer que as legislações se
aproximam ao determinarem diretrizes para a proteção do patrimônio brasileiro, mas diferenciam-se
no que se refere à própria definição de patrimônio, uma vez que em 1937 baseia-se numa perspectiva
do bem material, histórico e estético, enquanto em 1988 passa a incluir os bens imateriais e os valores
culturais. Segundo o Decreto-Lei n°25, define-se por “patrimônio histórico e artístico nacional o
conjunto de bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público,
quer por sua vinculação a fatos memoráveis do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou
etnológico, bibliográfico ou artístico”, enquanto para o Artigo 216, entende-se por “patrimônio
cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto,
portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da
sociedade brasileira”.

Como mencionado, além das punições para assegurar a proteção dos bens no âmbito das leis,
outro ponto de aproximação entre os textos, refere-se a preservação do conjunto e da paisagem, seja
natural ou antrópica, como verificado no seguinte trecho do Decreto-Lei n°25 “são também sujeitos a
tombamento os monumentos naturais, bem como os sítios e paisagens que importe conservar e
proteger pela feição notável com que tenham sido dotados pela natureza ou agenciados pela indústria
humana”. Não obstante, a ideia de proteção vinculada à sustentabilidade e não necessariamente
atrelada aos valores estéticos, fica evidente no Artigo 216, ao proteger, conforme o item “V. os
conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico,
ecológico e científico”.

Paralelamente, assim como o item V, dentre os bens protegidos pelo Artigo 216, cita-se: “ I.
as formas de expressão; II. os modos de criar, fazer e viver; III. as criações científicas, artísticas e
tecnológicas; IV. as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às
manifestações artístico-culturais”, enfatizando-se os bens imateriais, ligados ao modo de viver,
produzir e transmitir conhecimentos entre distintos grupos brasileiros. Dessa forma, revela-se também
a maior integração entre o poder público e as comunidades, enquanto no Decreto-Lei n°25 observa-se
a delegação das responsabilidades concentrada no poder público e nos proprietários dos bens
tombados. Similarmente, são ampliados os instrumentos para a documentação do patrimônio. Se antes
registrados em um dos quatro Livros do Tombo, no Artigo 216 ressalta-se os “inventários, registros,
vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação”.

A partir do exposto, acredita-se que devido ao foco nos bens materiais, assim como na
aproximação com as teorias clássicas, o Decreto-Lei n°25 apresenta limitações quanto aos conceitos
de patrimônio discutidos na atualidade. Além disso, há no texto brechas para a valorização
histórica-artística-estética de determinados grupos de poder em detrimento dos demais. Portanto,
houveram avanços mediante a ampliação do conceito de patrimônio proposto pelo Artigo 216, uma
vez que este busca a construção e a valorização de uma memória coletiva que respeita e enaltece a
diversidade brasileira, como expresso pelos § 3º e § 5º, ao incentivar a produção e o conhecimento de
bens e valores culturais, bem como o destaque a questão quilombola, respectivamente.

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