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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
ESCOLA DE ARQUITETURA E URBANISMO
HISTÓRIA DA ARTE ANTIGA E MEDIEVAL
de arquitetura, percorrendo Atenas, os Balcãs e Istambul, na companhia de seu amigo
Auguste Klipstein.
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Nesse contexto, Le Corbusier pôde estudar a arte clássica e medieval do antigo
continente no palco de seus acontecimentos. As longas caminhadas, na companhia
de nativos e o tempo reservados para usufruir dos cenários, sentindo-os em seus
traços, foram essenciais para o seu crescimento enquanto ser humano e como
arquiteto em constante aprendizado, refletindo anos mais tarde na originalidade de
seus projetos, tão incompreendidos pelos críticos da primeira metade do século XX,
quanto o Oriente.
Assim, muitas casas possuem túmulos em seus jardins, e como não há mais
espaço no cemitério de Istambul, estendem-se pelas ruas. Tal fato, demostra a
permanência de elementos de origem bizantina nas atuais cidades, erguidas às
sombras de Constantinopla, como descrito na seguinte passagem:
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partes, lanternas velando os mortos familiares, bem junto à soleira das portas.
(LE CORBUSIER, 2007; p.104).
Segundo Faure (1949), a arte bizantina valoriza o espírito em detrimento do
corpo, empregando um estilo de imagem mais rígido, portanto, mais figurativo,
contrapondo-se aos ideais gregos de racionalidade e de valorização do homem. Em
contrapartida, os olhares serenos das figuras, os quais nos incitam à oração,
conduzem-nos a sensação de transcendência, ou seja, simbolicamente garantem o
que Faure denominou de “sobrevivência das almas”.
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funcionavam como uma ponte que os levava de encontro a sua espiritualidade,
alcançada ao se interligarem à natureza. Logo, os jardins amenizavam a solidão dos
monges, decorrente do seu estado de isolamento.
Tal vínculo com a natureza, o qual Le Corbusier acreditava já não existir mais
nas cidades modernas da Europa Ocidental, reaparece ao longo de toda a viagem
pelo Oriente. O arquiteto pôde observar a forma que as construções se integravam às
paisagens, não como um elemento agressivo, mas como parte constituinte delas.
Suas tonalidades pareciam sempre estabelecer diálogo com o azul do céu ou o verde
das plantações. A descrição “Assim cada casa tem seu pátio e ali a intimidade é tão
perfeita quanto nos jardins dos padres do convento de Ema (...). A beleza, a alegria e
a serenidade concentram-se aqui”, refere-se às humildes residências encontradas por
Le Corbusier na Hungria, nitidamente espirituosas, uma vez que as famílias prezam o
bem-estar, mantendo suas casas decoradas com flores e com objetos nas cores verde
e vermelha, contrapondo-se às paredes caiadas.
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descrever a ansiedade que o dominava horas antes de subir a Acrópole. Não
compreendia o fascínio que aquela construção de ordem dórica exercia sobre si.
Talvez fosse pela simplicidade de sua estrutura trílitica, comparada por Conti (1987)
aos túmulos pré-históricos, talvez fosse pelo uso das proporções perfeitas:
Por que essa arquitetura e não outra? Admito que a lógica explique que tudo
se resolveu aqui segundo a mais insuperável fórmula; mas o gosto, mas o
coração sobretudo, que conduz os povos e dita seu credo, por que, apesar
do desejo de às vezes subtrair a ele, nos traz de volta, por que o trazemos de
volta aqui, na Acrópole, ao pé dos templos? Para mim é um problema
inexplicável. (LE CORBUSIER, 2007; p. 193).
De fato, além das questões simbólicas acerca do Partenon, Conti pontua
particularidades de sua estrutura que o distinguem de outros templos, a começar por
suas colunas, as quais não são idênticas entre si. As colunas centrais, dispostas no
plano dos frontões, são um pouco mais altas do que as colunas dispostas nas
extremidades, fazendo com que visualizamos uma pequena distorção em suas linhas
horizontais. Em um futuro próximo, segundo Gardiner, Le Corbusier exploraria
questões semelhantes, ao trabalhar com o contraste entre planos verticais e
horizontais.
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superioridade, em ambas as partes, resultando em um dos elementos arquitetônico
mais antigos da humanidade: os muros.
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REFERÊNCIAS
CONTI, F. Arquitectura. In: ________. (Org.). Como reconhecer a arte: Grega. São
Paulo: Martins Fontes, 1987; p.6-31.
FAURE, É. Bizâncio. In: ________. (Org.). História da arte: A arte medieval. Lisboa:
Estúdios COR, 1949. p. 103-114.
GARDINER, S. Primeiros temas. In: ________. (Org.). Le Corbusier. São Paulo: Ed.
da Universidade de São Paulo, 1977; p.36-63.
SIQUEIRA, M. Le Corbusier e as casas dos monges brancos. III Enanpar. São Paulo,
2014.