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Atualidades
L eonardo G u im a r ã e s
sa não apenas a seus sócios, mas, efetiva sor C e lso B arbi F ilh o em sua obra de
m ente, a toda a coletividade. Com a saída doutoram ento.1
do quotista, a em presa sobrevive ao atrito
entre os sócios;
3.1 D issolução parcial
(ii) Fundam entos de ordem legal. Há
inúmeros princípios legais, hoje em vigên A dissolução parcial ocorre quando o
cia, que justificam a adoção desta solução, sócio, por ato unilateral de sua vontade,
consoante será analisado adiante. afasta-se da sociedade, sem que esta se d is
Com o a dissolução integral da em pre solva e que se extinga a pessoa jurídica.
sa é m edida que não interessa a ninguém São hipóteses legais expressas para a
— face, m áxim e, aos aspectos sociais que dissolução parcial:
envolvem a q u e stão , com o asseverado
(i) discordância do sócio com altera
alhures — , resta a saída do(s) sócio(s)
ção no contrato social, nos term os do art.
com o solução cogente (caso possível, ob 15 do Decreto-lei 3.708/1919;
viam ente) a ser adotada em conflito entre
quotistas. (ii) em caso de sociedade celebrada
por prazo indeterm inado, por vontade de
um dos sócios, consoante disposto no art.
3. Soluções tendentes a acom odar » 335, n.,5, do Código Com ercial;
interesses societários, sem a dissolução, (iii) ou quando o Contrato Social per
integral, da sociedade m itir a retirada do sócio, “ fundamentando-
se tal cláusula no n. 7 do art. 302, com apoio
Tendo por escopo evitar a morte da nos arts. 335, n. 4, e 308, do Cód. Com .”.2
sociedade em decorrência de conflito entre
Conclui-se que a dissolução parcial,
os seus quotistas, construiu o legislador,
no sentido jurídico da expressão, é o pro
bem com o os sodalícios pátrios, em legis
cedimento de saída do sócio, sem a extinção
lação codificada — C ódigo Com ercial e
da sociedade, im otivada ou não, no caso
Civil — ou não, form as que viabilizam a da sociedade haver sido constituída por pra
saída do sócio, com a m anutenção do fun
zo indeterm inado.
cionam ento da sociedade.
N o sentir de M auro Rodrigues Pen
C onfundem -se, no entanto, algum as
teado,3 a dissolução parcial opera-se como
vezes, os operadcfíés do Diréítd' nà carac-'"
efetiva denúncia vazia, sem que o autor da
terização do que representa, legalmente, a “denúncia” identifique a razão pela qual
saída do quotista da sociedade, reputando- está adotando esta postura.
a, indistintam ente, com o sendo dissolução
parcial de sociedade. Poder-se-ia acrescentar a esta obser
vação, apenas, que não se trata a dissolu
V erifica-se, pois, efetiva confusão ção parcial, exatam ente, d e um pedido
entre os institutos d a (i) dissolução parcial “im otivado” ou m esmo “ausente de razão” .
de sociedade, do (ii) recesso e da (iii) reti O corre que sua sim ples existência é sufi
rada, bem com o da (iv) exclusão do sócio, ciente para que se presuma a perda da affec-
este últim o objeto de estudo mais aprofun
dado adiante.
1. C elso Barbi Filho, A D issolução Parcial da
M uito em bora possam ser encontra Sociedade po r Q uotas de R esponsabilidade Lim ita
das obras, bem com o acórdãos, em que os da (Tese de D outorado), p. 153.
quatro institutos são reputados sím iles, c 2. Fran M artins, "R etirada de sócio por per
missão contratual c apuração de haveres”. Estudos
certo que cada um apresenta suas particu
de D ireito Societário, pp. 229-230.
laridades, com o bem dem onstrou o esti 3. M auro Rodrigues Penteado. D issolução e
m ado e prem aturam ente saudoso Profes L iquidação de Sociedades, 11 ed , p. 140.
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tio societatis que uniu os sócios até então, tal circunstância, receberão sócio que exer
caracterizando, pois, uma justificativa (ain ce seti direito de recesso o reem bolso dc
da que subentendida), apta a autorizar a dis seus haveres na proporção do últim o ba
solução em si. lanço aprovado, nos term os expressos do
Há, ainda, aqueles que objurgam este art. 15 do Decreto-lei 3.708/1919.5
direito absoluto do sócio de requerer, a seu Ventilada tal definição, torna-se mais
bel talante, a dissolução parcial da socie fácil distinguir a dissolução de sociedade
dade. Unie Caminha observa que “o juiz do recesso do sócio, porquanto, “se con
que examina o pedido de dissolução (total gêneres no resultado (solução do liame obri-
ou parcial), deve exercer um juízo mais gacional perante um sócio), tem (os insti
complexo, analisando vários aspectos do tutos) gênese, estrutura, procedim ento e
caso: se a anim osidade entre os sócios pre conseqüências distintas” .6
judica a empresa, se com a saída daquele E mais, enquanto o direito de recesso
acionista a empresa poderia continuar pros- objetiva a tutelado sócio m inoritário, exer
perante, se vale a pena m anter vivo aquele citarei face ao abuso da m aioria,7 a disso
organismo societário. Esse tipo de análise, lução parcial, decorrente da m oderna inter
na opinião da jurista, deveria ser feito sem pretação dos arts. 335, n. 5, e 336, do Có
pre, inclusive em relação às sociedades por digo Comercia], têm por escopo a proteção
quotas, para evitar a tendência de se trans da sociedade em si, “conjugando os princí
formar a dissolução parcial numa verdadei pios constitucionais de liberdade de traba
ra denúncia vazia".* lho, associação, desassociação e função
Im pende ressaltar, rem atando, que, social da propriedade, bem com o o da pre
não obstante a am plitude e coerência des servação da em presa e da rejeição aos vín
tas observações, som ente ante característi culos contratuais eternos”.*
cas m uito especiais poderia o Judiciário
desacolher um pedido de dissolução parcial,
3.3 Direito contratual de retirada
ainda que imotivado (ressalvadas as obser
vações supra sobre esta pretensa imotiva- Há distinguir-se, outrossim , dentre as
ção), de sociedade por quotas de responsa demais hipóteses operacionais para a saída
bilidade limitada, sem prazo de funciona dos sócios de sociedade, a possibilidade
m ento determinado, porquanto estar-se-ia, contratual de retirada. Ou seja, pode pre
em tal situação, forçando o quotista a per ver o contrato social, expressam ente, como
m anecer vinculado a pessoas em uma socie operar-se-á a saída de sócio da em presa.
dade, o que, a princípio, constituiria afron Previsto nos arts. 291 e 302 do Códi
ta até mesmo a direito constitucionalm ente go Comercial, e, hoje, plenam ente aceito,’
garantido de livre associação. o direito contratual de retirada não se en-
contra, todavia, insculpido na lei de socie bilidade Lim itada, Decreto 3.708/1919, em
dades por quotas dc responsabilidade lim i seu art. 7Ç, tornando-a cogcnte.
tada. Poder-se-ia indigitar, ainda, como re
De outro norte, diverge o direito con gra originalm ente autorizadora da exclusão
tratual de retirada da dissolução parcial, do sócio, aquela contida no art. 339 do
inicialm ente, na base legal na qual o sócio Código C om ercial, que durante longo tem
se ampara para executar sua saída. Enquan po autorizou aos q u o tistas m ajoritários,
to na retirada o quotista se arrima no con desde que justificadam ente, determ inar a
trato social, na dissolução ampara-se, como saída do m inoritário da em presa.
ressaltado anteriorm ente, em dispositivos Em face destas disposições legais, que
expressos no Código Comercial, tem pera autorizavam a exclusão do sócio somente
dos pela orientação jurisprudencial acerca ante um m otivo ju sto — m áxim e ante a
da necessidade de preservação da empresa. ausência de integralização do capital social
A diferença m arcante entre o direito subscrito — , prevaleceu, durante bastante
de retirada e o direito de recesso consiste tem po, o entendim ento jurisprudencial de
no fato de que, enquanto na retirada, o só que, regra geral, a exclusão do sócio so
cio se ampara no cumprimento de uma cláu m ente operar-se-ia m ediante:
sula, pré-ajustada do contrato social, para (i) ju sta causa;
requerer sua saída da sociedade, no reces (ii) existência de cláusula contratual
so , o sócio se retira por discordar de altera expressa a autorizá-la.
ção perpetrada no contrato social, im ple
O entendim ento dos sodalícios pátrios
m entada pela m aioria social.
acerca do tem a, entrem entes, evoluiu, ad
m itindo-se, hoje, por deliberação da m aio
3.4 Exclusão de sócio ria, a exclusão unilateral do quotista deten
tor de participação m inoritária. Esta é a ite-
Finalm ente, tem -se a figura da exclu rativa orientação, m áxim e, do Superior Tri
são do sócio com o últim o modelo para a bunal de Justiça acerca do tem a."
solução de conflitos entre quotistas, sem a A legislação pátria m ais recente veio
extinção, absoluta, da sociedade. corroborar, integralm ente, tal posiciona
Consiste o direito à exclusão do sócio m ento, segundo se infere do atual texto do
na possibilidade do quotista m ajoritário .art. 54 da Lei 8.934, de 1994 (disciplina-
excluir, sob a égide do princípio da fo rç a dora do registro público das em presas mer
da maioria votante, o quotista m inoritário cantis), ao prever que a deliberação majo
da sociedade por quotas de responsabili ritária, não havendo c lá u su la restritiva,
dade limitada. abrange a hipótese, dentre outras, de ex
Acerca da matéria, aponta Luiz Gastão clusão de sócio.
Paes de Barros Leães, com o gênese do ins Reunindo tais entendim entos, soma
tituto da exclusão, a norma consubstanciada dos ao disposto no parágrafo único do mes
no art. 289 do C ódigo Comercial, adm itin mo art. 54 da Lei 8.934, que im põe que:
do a exclusão do sócio na inocorrência de “os instrum entos de exclusão de sócio de
integralização do capital social pelo m es verão indicar, obrigatoriam ente, o motivo
mo subscrito."’ Convém salientar que tal da exclusão e a destinação da respectiva
regra foi, outrossim, insculpida no texto da participação no capital social”, Celso Barbi
Lei de Sociedade por Quotas de Responsa Filho conclui: “Evidencia-se, pois, que a
exclusão do sócio da sociedade por quotas
10. G astão Paes de Barros Leão, “Exclusão
ex traju d icial de sócio em sociedade por quotas", II . D entre outros, convém destacar: STJ, R T
RDM 100/89, OHt.-dcz. 1995. 7 3 0 /1 % .
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derão ser excluídos caso coloquem em ris T do Decreto 3.708, de 10.1.1919, com bi
co a continuidade da empresa, em virtude nado com o art. 289 do C ódigo Comercial,
dc alos de inegável gravidade. ao facultar, a Lei atual, ao sócio rcinisso,
Obviamente, cada uma destas hipóte através da notificação que se lhe é dirigida,
ses possui procedim entos próprios para a possibilidade de purgar sua m ora no pra
operar-se, os quais serão, detidamente, ana zo de trinta dias.
lisados a seguir. Este, aliás, era o anseio externado pelo
saudoso Professor Nelson A brão, no senti
do de facultar ao sócio rem isso a possibili
4.2.1 Ausência da contribuição
dade de, após notificação obrigatória, pur
estabelecida no contrato social
gar a sua mora: “Perm itindo nosso sistema
Preconiza o art. 1.004 do novo Códi legal a integralização da quota social em
go Civil, ipsis litteris: prestações, poderão os sócios em dia optar
“Art. 1.004. Os sócios são obrigados, pela cobrança ou pela exclusão do inadim
na forma e prazo previstos, às contribui plente, a teor do art. 1° do D ecreto 3.708.
ções estabelecidas no contrato social, e Havendo, como é usual, prazo m arcado no
aquele que deixar de fazê-lo, nos trinta dias contrato para o pagam ento da prestação, a
seguintes ao da notificação pela socieda- mora se caracteriza pelo sim ples inadim-
. de, responderá perante esta pelo dano emer plemento, segundo decorre do art. 960 do
gente da mora. Código Civil. Não obstante, ocorre na prá
tica uma m anifesta tendência de nossos
“Parágrafo único. Verificada a mora, Tribunais no sentido de, m esm o existindo
poderá a m aioria dos demais sócios prefe termo avençado, impor-se a notificação ou
rir, à indenização, a exclusão do sócio re- interpelação, que pode ser extrajudicial,
misso, ou reduzir-lhe a quota ao montante uma vez que a lei não impõe a judicial. (...)
já realizado, aplicando-se, em ambos os ca Levando em conta que o sócio teve a sua
sos, o disposto no § 1? do art. 1.031.” mora configurada e não revelou o m enor
A “contribuição estabelecida no con interesse em cum prir com a sua obrigação
trato social”, convém salientar ab inilio, respeitante à integralização, tudo aconse
quer dizer o capital social subscrito e a lha que a sociedade se com porte com curial
integralizar pelo quotista, quer seja esta agilidade no propósito de regularizar esta
contribuição representada por bens móveis situação”. 17
inclúiridò-'se dentre estes, mas a tanto Frente à nova Lei, o sócio rem isso de
não se limitando, o próprio dinheiro — ou, ve, obrigatoriam ente, ser notificado para
ainda, bens im óveis, dentro das regras e que, contra este, possam ser adotadas as
normas estabelecidas em lei.
providências legais inerentes à espécie, das
Com efeito, quis o legislador que, caso quais, destaca-se, a exclusão.
subscrito e não integralizado o capital so Surge, no entanto, um a dúvida decor
cial de sociedade lim itada, fosse o quotista rente da exegese do art. 1.004 em tela: o
remisso (expressão que caracteriza o sócio que se entende com “ responderá pelo dano
em atraso com suas contribuições, previs emergente da m ora”? O dano emergente da
tas no contrato social, necessárias à consti m ora é relativo ao valor subscrito e não
tuição do capital social), depois de cienti integralizado, aos prejuízos enfrentados
ficado, pela sociedade, de sua mora, atra pela sociedade, decorrentes da rem issão do
vés de competente notificação, respondes sócio, ou a ambos, som ados? Tal dúvida é
se pelos danos em ergentes de sua atitude. aguçada pela redação do parágrafo único
Desde já , pode-se notar uma diferen
ça entre esta disposição e aquela que regia 17. Nélson A brão, Sociedade p o r Q uotas de
a matéria anteriormente, concentrada no art. Responsabilidade L im itada, 7® ed., p. 77.
ATUALIDADES 115
do mesmo artigo, que prevê a possibilida versa omissão, na m edida em que não dis
de dos sócios preferirem , "à indenização, põe, expressam ente, se a exclusão, operada
a exclusão do sócio rem isso”. Em resumo, com fincas no art. 1.004, será extrajudicial
a dúvida é a seguinte: o sócio remisso, com —• e, por conseguinte, através de simples
fincas no art. 1.004, e seu parágrafo único, alteração do contrato social — ou judicial,
do novo C ódigo Civil, será excluído caso: m ediante o ajuizam ento de ação própria.
(i) não indenize os demais sócios ape Felizm ente, tal questão, aparentem en
nas pelos danos emergentes da sua m ora? te, encontra resposta m ais sim ples que a
(entendendo-se, desta forma, que, para o anterior, podendo-se presum ir, com ampa
quotista remisso não poder ser excluído, ele ro em doutrina análoga acerca do tem a,1*
deverá responder, tão-somente, pelos pre que, para que se opere a exclusão, nos m ol
juízos causados — relativos a danos m o des elencados alhures, seja necessária sim
rais, m ateriais etc. — , e não pelo capital ples alteração contratual, levada a registro
social subscrito e não integralizado); na com petente ju n ta com ercial do Estado
(ii) deixe de integralizar o capital so em que se situe a sede da empresa.
cial subscrito, ainda que parcialmente? (não
guardando, este dispositivo legal, qualquer 4.2.2 Falta grave
relação com a necessidade de indenização no cum prim ento das obrigações
— pecuniária, por exem plo — devida aos
demais quotistas da sociedade); ou D eterm ina o art. 1.030 do novo Códi
(iii) não integralize o capital social go Civil: “Art. 1.030. Ressalvado o disposto
subscrito e nem indenize os seus demais no art. 1.004 e seu parágrafo único, pode o
sócio ser excluído judicialm ente, mediante
sócios pelos prejuízos causados, sim ulta
neamente. iniciativa da m aioria dos demais sócios, por
falta grave no cum prim ento de suas obri
C om pulsando o art. 1.004 do novo gações, ou, ainda, por incapacidade su
Código Civil em testilha com os demais ar perveniente”.
tigos desta Lei, não se pode olvidar que a
O rientação integralm ente nova no or
redação deste dispositivo legal — repetindo
denam ento pátrio, a norm a insculpida no
aquela contida no art. 289 do Código Co
art. 1.030, facultando aos dem ais quotistas
mercial — conduz, forçosamente, ao enten
a possibilidade de excluir um, ou m ais, só
dimento de que, para ser excluído, nos ter
cios, é passível de implementação desde que
mos ora examinados, o sócio remisso deve
presentes três condições:
rá não ter indenizado seus demais sócios
pelos prejuízos decorrentes da sua mora, (i) seja a m edida adotada por sócio,
deixando, outrossim, de integralizar a parti ou sócios, que representem a m aioria sim
cipação societária que havia subscrito. Deve- ples do capital social;
se caracterizar a ocorrência de ambas as hi (ii) tenha ocorrido falta grave no cum
póteses para que se proceda à exclusão arri- prim ento das obrigações do sócio a ser ex
mada neste específico dispositivo legal. cluído; e/ou
Curial destacar, de outro norte, que, (iii) venha a ser caracterizada a inca
na hipótese vertente, a lei exige que ^m aio pacidade superveniente daquele a ser ex
ria sim ples do capital social delibere so cluído.
bre a exclusão do sócio que gerou dano à Presente o requisito previsto no item
sociedade em decorrência de sua mora, haja (i) e, alternativam ente, algum daquelespre-
vista que o texto legal determina que “maio
ria dos demais sócios” assim decida.
18. Fábio K onder C om parato, “Exclusão de
Rematando, verifica-se, ainda, que o sócio nas sociedades por cocas de responsabilidade
legislador incorreu, concessa venia, em di limitada”, R D M 25/39.
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tistas que representam a maioria sim ples do suas atividades. E xcluir-se-á, tão-somente,
capital social, nos term os do art. 1.030 do o sócio falido.
novel Código Civil. A nova Lei, ao dispor desta form a,
Finalm ente, convém destacar, conces- solucionou, form alm ente, um problem a
sa venia, a pouca precisão do legislador ao que, há muito, era discutido em sede dou
utilizar-se, neste artigo, da expressão “ fal trinária e jurisprudencial. Isto, pois a nor
ta grave no cum prim ento de suas obriga ma contida no art. 335. n. 2, do Código
ções”, m orm ente quando analisam os tal Com ercial, agora revogada, integralm ente,
previsão sob a luz do art. í . 085 do m esm o pelo novo C ódigo C ivil, determ inando, ex
Diploma Legal, que autoriza a resolução da pressam ente, a dissolução da sociedade no
sociedade, extrajudicialm ente, em relação caso da sua quebra ou de seus sócios, tra
aos sócios que “estão pondo em risco a con zia grande instabilidade nas relações com er
tinuidade da em presa, em virtude de atos ciais, m áxime enquanto ainda estava vigen
de inegável gravidade”. te a antiga Lei de Falências, Lei 2.024/1908.
A dúvida é: com o divisar a dicotom ia A cerca deste problem a. Celso B arbi
entre fa lta grave e risco à sociedade? E esta Filho esclareceu, com propriedade; “D is
é um a dúvida de extrem a relevância, haja pondo que a falência de um sócio acarreta
vista que, se os sócios cometeram fa lta gra va a dissolução da sociedade, as norm as do
ve, som ente poderão ser excluídos da so C ódigo C om ercial e da L ei 2.044/1908
ciedade judicialm ente; cometendo ato aten trouxeram diversos desconfortos ao em pre
tatório à existência d a sociedade, estão sariado da época, tendo sido alvo de crítica
sujeitos à exclusãaextrajudicial, consoan doutrinária e atenuação pretoriana. De fato,
te será, detidam ente, analisado no tópico revelava-se autêntico contra-senso a neces
4.2.6. sária dissolução de, por vezes, próspera
N ão há, a princípio, resposta a esta sociedade, em virtude da falência de ape
questão, razão pela qual afigura-se mais nas um de seus sócios. Os preceitos que pre-
prudente — e a prudência deve pautar to viam a dissolução d a sociedade pela falên
dos os atos jurídicos — a qualificação de cia do sócio eram m arcados pelo já referi
um ato indevido praticado pelo sócio como do princípio individualista que norteou a
sendo, genericam ente,fa lta grave. Som en normatização societária do Código de 1850,
te em casos, efetivam ente, incontestes, herdado do C ódigo Francês de 1807” .22
deve-se’adm itir a equiparação de um ato
A prom ulgação da então nova Lei dè
do sócio com o sendo de risco à sociedade,
Falências, Decreto-lei 7.661, em 21.6.1945,
protegendo-se, assim, o quotista minoritário
atenuou esta situação, ao dispor, em seu art.
de atitudes abusivas possivelm ente perpe
48, que: “Se o falido fizer parte de algum a
tradas pelo m ajoritário.
sociedade, com o sócio solidário, com andi-
tário ou cotista, para a m assa falida entra
4.2.3 Falência do sócio rão som ente os haveres que na sociedade
ele possuir e forem apurados na form a es
Estatui a prim eira parte, do parágrafo tabelecida no contrato. Se este nada dispu
único, do art. 1.030, do Código Civil, in ser a respeito, a apuração far-se-á jud icial
verbis: “Art. 1.030. (...). Parágrafo único. m ente, salvo se, por lei ou pelo contrato, a
Será de pleno direito excluído da socieda sociedade tiver de liquidar-se, caso em que
de o sócio declarado falido, (...).” os haveres do falido, som ente após o paga
Frente a esta disposição, a sociedade m ento de todo o passivo da sociedade, en
cujo sócio vier a ter aberto seu concurso trarão para a m assa”.
de credores não será afetada por esta situa
ção, perm anecendo no exercício normal de 22. C elso Barbi Filho, ob. cit., p. 192.
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J osé A l c id e s M on tes F il h o