Você está na página 1de 2

Nina F. Dronkers é diretora do Centro de Afasia e Desordens relacionadas.

Na reportagem
do Boletim informativo News of the Wild, Dra. Dronkers discute os achados de Broca e
propõe uma nova perspectiva sobre a anatomia de algumas afasias.

A análise de dois cérebros danificados, preservados num museu desde o século XIX, pode
forçar os neurocientistas a repensar a zona onde se localiza a linguagem no cérebro.

Em 1861, o cirurgião e anatomista francês Paul Broca descreveu dois pacientes que tinham
perdido a capacidade de falar. Um paciente, Lelong, apenas conseguia produzir cinco
palavras e o segundo, Leborgne, apenas pronunciava um som "tan". Após as suas mortes,
Broca examinou os seus cérebros e notou que ambos tinham danos numa região da área
frontal do lado esquerdo. A área de Broca, como ficou conhecida, é actualmente considerada
o centro de processamento da fala no cérebro.
Broca manteve os cérebros dos pacientes para a posteridade, preservando-os em álcool e
colocando-os num museu parisiense. E foi aí, que Nina Dronkers, do VA Northern California
Health Care System em Martinez, os recolheram, para reinspeccionar os danos usando
imagens de ressonância magnética.
O cérebro de Leborgne já tinha sido passado pelo scanner duas vezes mas não o de Lelong, e
nenhum tinha sido comparado com as interpretações modernas da área de Broca. Após a
equipa ter colocado os dois cérebros no scanner, fizeram uma descoberta surpreendente: em
ambos os pacientes, os danos eram muito superiores à área agora considerada de Broca.
"Estamos a notar que o que as pessoas chamavam a área de Broca abrange vastas áreas do
lobo frontal", diz Dronkers. As imagens mostram que nenhum dos cérebros antigos tinham
danos que afetassem toda a região agora conhecida por área de Broca, mas os danos
estendiam-se bem para o interior de outras regiões para além dela.
Broca apercebeu-se disso em certa altura, diz Dronkers, e salientou que as áreas de danos
eram diferentes nos dois pacientes mas o seu conceito da área envolvida no processamento da
fala tornou-se simplificado por outros ao longo do tempo, referem os autores.
Este foco deslocado pode levar a problemas quando se diagnostica pessoas com problemas de
linguagem, diz Dronkers. Ao assumir que apenas uma pequena área do cérebro está
envolvida na linguagem, os clínicos podem estar a esquecer outras regiões relacionadas com
a produção da linguagem. Por outras palavras, o foco excessivo na área de Broca pode levar a
que nos escape totalmente a questão, diz Dronkers.
Outros investigadores concordam. "Há uma tendência para os investigadores observarem a
activação da área de Broca e dizerem 'esta é a zona da linguagem'", diz Joseph Devlin,
neurocientista da Universidade de Oxford, que obtém imagens da rede associada à fala no
cérebro.
Novas técnicas de imagem também podem ajudar os investigadores a descobrir o que Broca
foi incapaz de ver. Dronkers e Devlin estão a trabalhar na utilização de técnicas alternativas
para investigar se outras regiões do cérebro podem ser importantes no processamento da fala
mas não são detectadas por ressonância magnética, como as zonas de matéria branca que
unem as zonas de matéria cinzenta.

Você também pode gostar