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ESTUDO DE CASO – FÓRUM DA AULA 3

Texto: Dilemas éticos no contexto da pandemia


Fonte: Instituto Ethos
Elaborado por Paula Oda (Coordenadora de Integridade do Instituto Ethos)

Prof. Antonio Lima

DILEMAS ÉTICOS NO CONTEXTO DA PANDEMIA

Vivemos um período complexo e regado de insegurança tanto nas relações

e nas emoções, quanto nas tarefas que costumavam passar desapercebidas e que

agora nos fazem refletir. Talvez a maior complexidade que temos enfrentado

esteja em nossos dilemas diários, em que o momento de crise coloca à prova

nossos valores, princípios, escolhas e prioridades.

Esse período é favorável para o surgimento de dúvidas que envolvem as

tomadas de decisões de todos os atores da sociedade, como: qual o equilíbrio

entre a reclusão e uma economia saudável e ativa? Quando o sistema público

atingir sua capacidade máxima, quem poderá ser escolhido para ser salvo?

Devemos priorizar a proteção e direitos dos indivíduos ou podemos infringi-los

em nome de um interesse coletivo? Os chamados dilemas éticos são moralmente

muito complexos de solucionar ou até mesmo insolúveis.

No âmbito econômico, o principal dilema ético está entre: a adoção de

políticas para o enfrentamento da pandemia e os desafios de manter a economia

ativa e reduzir os impactos econômicos sobre o mercado e evitar o

aprofundamento da pobreza, da desigualdade e, no limite, da fome. As empresas

também enfrentam seus dilemas equivalentes, entre a sobrevivência financeira e

a preservação do quadro de colaboradores e seu bem-estar. O equilíbrio entre as

contas e a responsabilidade social é uma equação delicada e se torna mais

complexa quanto menor a capacidade financeira.

É função do Estado, em última instância, garantir mecanismos que

respondam ao enfrentamento da crise econômica. Um possível alívio ao impasse


entre a quarentena e a economia, seria o Estado reduzir os impactos a partir da

emissão de moeda e da dívida pública. No entanto, essa decisão impõe um novo

desafio, de efeito de médio a longo prazo, que é a política a ser implementada

para pagar esse endividamento, em que as consequências são duras e podem ser

igualmente complexas.

No campo da saúde, os dilemas éticos são intensificados em um cenário de

pandemia e calamidade pública. A demanda por equipamentos, medicamentos e

tratamentos intensificam o consumo, no limite da disponibilidade (escassez), leva

a decisões complexas. Como decidir quais vidas valem mais para a sociedade, em

que o valor social de cada pessoa é medido e avaliado. Não é simples e nem justo

deliberar sobre a vida de indivíduos com base em valores sociais, sendo posto um

outro dilema a ser enfrentado na tomada de decisão que alivie a consciência

individual da escolha.

Sobre a ética digital está um dos dilemas mais complexos a ser

compreendido, provavelmente porque não temos dimensão da profundidade que

seus impactos possam ter em nossa sociedade. Somos diariamente tentados a

ceder às facilidades da tecnologia como resposta e aliada no enfrentamento da

crise, sem a total compreensão dos riscos ou do que estamos concedendo. No

contexto da pandemia, as soluções tecnológicas nos apoiam a lidar com a

quarentena, seja através da comunicação pessoal ou profissional, ou a prestação

de serviços à distância, como a telemedicina e os estudos. No entanto, não se

pode deixar de refletir entre o equilíbrio das relações de força entre indivíduos

e seus direitos e os benefícios da tecnologia.

É essa ferramenta que, ao mesmo tempo em que nos incluiu em uma

sociedade reclusa, nos exclui de nossa totalidade, aprofunda nossas

desigualdades e provoca desequilíbrios em nossas relações. O compartilhamento

de dados para uso do controle da pandemia e a vigilância digital nos colocam

outros tantos dilemas. O uso das informações pode ser benéfico para o combate

à pandemia, ao mesmo tempo em que pode gerar repúdio ou ferir direitos


fundamentais (como usado nos países asiáticos, por exemplo, para monitorar e

controlar infectados, além de notificar pessoas que estavam próximas aos

infectados).

Os dilemas em um contexto de situações extremas intensificam a luta pela

sobrevivência. As reflexões sobre essas questões são importantes, apesar de

dolorosas, e fazem parte do processo que enfrentamos. São elas que

possibilitarão nos conduzir a compreensão de qual é a sociedade que desejamos

ver no futuro.

Se estamos comprometidos com a construção de uma sociedade justa,

igualitária e sustentável, nossos parâmetros precisam ser outros além de capital,

produtividade, renda e trabalho. Não podemos ser determinados exclusivamente

pelas nossas relações econômicas, precisamos retomar o contexto amplo das

relações sociais e nos valermos de outras variáveis para estabelecermos novos

padrões.

Princípios e valores como a ética, transparência, integridade e respeito

devem ser mantidos em quaisquer que sejam as tomadas de decisões, de maneira

que nenhuma medida lacere os direitos humanos de cada indivíduo.

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