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BRASILEIRO
RESUMO
Este artigo tem como objetivo demonstrar a influência da lei mosaica sobre o
ordenamento jurídico brasileiro, comparando as semelhanças entre artigos dos dois
códigos em questão. Mesmo sendo um assunto pouco trabalhado, e com escasso
material disponível para pesquisa, afigura-se fundamental uma busca pela
compreensão do ordenamento constitucional brasileiro. Utilizou-se o procedimento
metodológico descritivo, do tipo transversal e qualitativo, pelas análises de
bibliografias relacionadas ao tema proposto, tendo como um dos fundamentos a
obra prima de livros como Deuteronômio, Levítico. Sendo nosso estado laico, em
que medida se dá essa influência? A lei moral bíblica se tornou universal entre os
homens? Buscar-se-á como resultado esperado, constatar e justificar as influências,
semelhanças e evoluções que o legislador brasileiro, ao longo do tempo, conseguiu
para a melhor adequação e aplicação em nossa sociedade de diversos fundamentos
bíblicos, sociedade essa do século XXI cheia de inovações e necessidades
específicas de sua época.
ABSTRACT
This article aims to demonstrate the influence of the Mosaic law on the
Brazilian legal system, comparing the similarities between articles of the two codes in
question. Even though it is a subject that has been little worked on, and with scarce
material available for research, a search for understanding the Brazilian constitutional
order is essential. Using the descriptive methodological procedure, of the transversal
and qualitative type, by the analysis of referenced bibliographies of the proposed
theme, and, having as one of the foundations the masterpiece of books such as
Deuteronomy, Leviticus. As our secular state, to what extent does this influence
occur? Has biblical moral law become universal among men? The expected result
will be to look for and justify the influences, similarities and evolutions that the
Brazilian legislator over time has achieved for the best adaptation and application in
our society of diverse biblical foundations, a society of the XX1 century full of
innovations and specific needs of its time.
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Deuel Pereira Matos Carneiro discente do Curso de Direito do Centro Universitário de João Pessoa (UNIPÊ). E-
mail: pereiradeuel@hotmail.com; Orientadora: Prof(a) Dr.(a) Eunicélia de Fátima Carneiro da Silva, e-mail:
eunicelia@yahoo.com.br.
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1 INTRODUÇÃO
“Não tenha relações sexual com uma mulher e sua filha. Não tenha relações
sexuais com a filha do seu filho ou com a filha da sua filha; elas são parentes
próximas. Isso seria uma perversidade.”(Nova Bíblia Viva, 2010, Levítico 18:17),
para quem não tem conhecimento da leis, poderia pensar que o que foi citado
acima, trata-se de um dos milhares de artigos que regem nosso código civil, ou até
mesmo, algum artigo da Constituição Federal de 1988. De certa forma estaria certo,
está previsto no Novo Código Civil, artigo 1521:
Não se pode questionar a importância que a religião teve ou têm sobre a vida
do homem, qualquer comportamento, sentimento, valor e principalmente normas,
advém de regras e pensamentos religioso. O grande Plutarco no seu tempo
asseverava isso:
“Percorrei a terra, e achareis cidades sem muros, sem ciências, sem artes e
sem reis; povos sem habitações fixas, sem uso e sem conhecimentos da
moeda; sem exercícios do corpo, sem teatros e sem espetáculos; mas não
encontrareis um só povo sem Deus, sem culto e sem sacrifícios”
(PLUTARCO, Citado por REIS, p. 62).
governar um estado, não bastava apelar para os velhos costumes e leis sagradas,
mas era preciso ter persuasão para com os homens. (COULANGES,1830, p.370)
A sociedade antiga é finalizada com a chegada do Cristianismo. Esse novo
marco delimita as relações do homem com a propriedade privada, a hereditariedade,
o procedimento jurídico. (COULANGES,1830, p. 401 a 403) Além disso, Jesus
Cristo, como líder do cristianismo, em seus ensinamentos, separa religião e governo,
“(...) Então, lhes disse: Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de
Deus”,(Bíblia Sagrada, Mateus 22:21).Ele dissocia Estado e religião, iniciando a
transformação da natureza do direito. O estado passa a não ter mais uma religião
oficial, as regras governamentais mudam para sempre. (COULANGES,1830, p.409)
Mudando o prisma desse panorama, mas seguindo a mesma linha de
raciocínio, vamos analisar o Hinduísmo. Se até chegar ao cristianismo, não se tinha
denominação concreta de cada religião, apenas citando o que cada povo tinha como
crença, vamos extrair contribuições de segmentos conhecidos da fé humana e
analisar sua contribuição para com o direito mundial.
Para os Hindus a maneira como você vai reencarnar depende exclusivamente
da maneira como você viveu na vida presente, sua conduta vai determinar em qual
casta você reencarnará. O Vedismo apoia-se na crença da reencarnação e, através
desta, os Hindus puderam basear e firmar sua estrutura social e sua legislação
(CASTRO, 2007,p.46)
Este modo de crer permeia por completo o sistema da Índia antiga, da
economia à sociedade, em suas divisões de castas. É terminantemente proibida a
mistura ou mudança entre as castas, que só pode ser alterado com a morte e
reencarnação. O próprio Código de Manu tinha como base essa crença.
direito muçulmano é o mais religioso de todos, em toda direção que se olhe neste
seguimento vemos a religião como base de ordenamentos.
Podemos continuar nessa explanação, listando religião por religião, e vamos
continuar vendo a contribuição para a formação do direito. No direito egípcio, o faraó
era tido como filho diretamente do deus Osíris e isso influenciava toda a base da
sociedade. Acacio Vaz de Lima Filho Bacharel, especialista em Direito Agrário,
Mestre e Doutor em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo,
de forma brilhante trata sobre isso com maestria:
Os impostos arrecadados ficavam retidos nas mãos do faraó, que fazia uso
conforme lhe convinha, e isso jamais poderia ser contestado, a suposta divindade do
faraó dava-lhe prerrogativa para ter o tratamento que achasse melhor sobre
impostos, políticas e etc. Além da atribuição de “cofre público”, o faraó tinha
atribuições como monarca soberano, de cuidar das construções, do poder bélico,
algumas atribuições religiosas e afins.
Em linhas gerais ficou clara a contribuição da religião para a construção do
direito na sociedade seja qual for, e o quadro evolutivo da religião, crença e fé lado a
lado com o direito e as demais ciências. Adaptações para cada cultura, levando em
conta quadro social, econômico foram necessárias para chegarmos até o século
XXI. Aqui vale ressaltar que não está se colocando julgamento sobre cada tipo de
ordenamento, não é este o nosso propósito.
Entrementes, se levantou novo rei sobre o Egito, que não conhecera a José.
Ele disse ao seu povo: Eis que o povo dos filhos de Israel é mais numeroso
e mais forte do que nós. Eia, usemos de astúcia para com ele, para que não
se multiplique, e seja o caso que, vindo guerra, ele se ajunte com os nossos
inimigos, peleje contra nós e saia da terra. (Bíblia Sagrada, 2016, Êxodo 1:
8-10)
Vocês deverão nomear juízes e oficiais para cada tribo em todas as cidades
recebidas do Senhor, o seu Deus, para que julguem o povo com justiça e
honestidade. Não pervertam a justiça, nem sejam parciais, fazendo acepção
de pessoas. Não aceitem suborno, porque o suborno cega até os sábios e
perverte a causa dos justos. (Nova Bíblia Viva, 2010, Deuteronômio 16:17)
Para o hebreu ter o sangue inocente em suas mãos é uma falta gravíssima,
por isso as leis são tão enfáticas na questão de ser sempre justo. Na cultura hebreia
a vida pertence somente a Deus, Ele é o único Dono da vida, sendo assim, o sangue
derramado de forma errônea se torna pecado gravíssimo. Esse tipo de conduta
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torna os Hebreus diferente dos outros povos, o julgamento de qualquer causa deve
passar por uma investigação justa e minuciosa.
Se alguma vez vocês ouvirem dizer que numa das cidades recebidas pelo
Senhor, o seu Deus, para sua moradia, homens malignos fizeram sugestões
pecaminosas e desviaram os seus habitantes, dizendo: ‘vamos e sirvamos a
outros deuses’, deuses que vocês não conhecem, vocês deverão verificar e
fazer uma investigação cuidadosa para ver se isso é verdade. (Nova Bíblia
Viva, 2010, Deuteronômio 16:17)
O homicídio era tratado de forma severa pela Pena de Talião porém, como
fruto da preocupação com maior equidade e justiça em sua legislação, no direito
Hebreu eram designadas cidades refúgio ou asilos, em que pessoas com problemas
jurídicos poderiam se refugiar para que que fosse evitada tomadas de decisões no
calor do momento. Nessas cidades, apenas pessoas que tivessem cometido
homicídio culposo poderiam entrar, portanto, sendo provado a falta de intenção, o
réu era isento. (CASTRO, 2007, p.34)
Quando o Senhor, o seu Deus, tiver destruído as nações cuja terra ele está
dando a vocês, e quando as expulsarem e habitarem nas suas cidades e
nas suas casa, separem três cidades de refúgio no meio da terra de vocês
que o Senhor, o seu Deus, está dando a vocês, para dela tomarem posse.
Dividam a terra em três partes que o Senhor, o seu Deus, está dando a vês
como herança, e escolham uma cidade que seja de fácil acesso, para que o
homicida possa chegar lá com segurança. Estes são os casos em que o
homicida, ao correr para as cidades refúgio, terá a vida salva. Isso vale para
aquele que sem intenção e sem ódio premeditado matar o seu próximo.
(Nova Bíblia Viva, 2010, Deuteronômio 19:1-5)
Mesmo que de forma mais amena por haver outros princípios (com a
individualidade das penas), que limitavam sua aplicação, é possível observar a pena
de Talião no pentateuco. A Bíblia que primeiro descreve, não de forma direta, mas
de forma indireta, o princípio da Pena de Talião:
Não tenham pena de uma testemunha falsa! A regra é esta: vida por vida,
olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé” (Nova Bíblia Viva,
2010, Deuteronômio 16:17)
Os pais não serão mortos por causa do pecado dos filhos, nem os filhos por
causa dos pecados dos pais. Cada um morrerá pelo seu próprio pecado.
(Nova Bíblia Viva, 2010, Deuteronômio 24:16)
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Em seu estudo “The Ancient Hebrew Criminal Law”, (...) Ele faz, então, a
pergunta: “Qual a contribuição dos judeus?” Sua reposta é que, se por um
lado eles não construíram pirâmides, estátuas, ídolos, ou representações de
Deus em pedra ou madeira, por outro lado, legaram ao mundo o conceito de
um Deus invisível, intangível, e que se relaciona com a humanidade
mediante um sistema de leis. Sua crença monoteísta em um Deus difundiu-
se para outras grandes religiões monoteísticas e é esse conceito de
monoteísmo que parece transcender em importância as contribuições de
outras civilizações. (WOLKMER, 2008, p.67)
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado
o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção
aos locais de culto e a suas liturgias; (BRASIL. Constituição 1988, dos
direitos e garantias fundamentais)
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Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: (BRASIL. Constituição 1988, dos
direitos e garantias fundamentais)
Se um homem casar com uma jovem e, depois de ter tido reações com ela,
rejeitá-la e difamá-la, dizendo: ‘Casei-me com esta moça, mas descobri que
ela não era virgem’, o pai e a mãe da moça apresentarão aos juízes na
entrada da cidade a prova da virgindade da filha. O pai da moça dirá aos
oficiais: ‘Dei minha filha em casamento a este homem, mas agora ele a está
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rejeitando. Ele também a difamou e disse: Descobri que a sua filha não era
virgem. Entretanto, aqui está a prova da virgindade da minha filha. Então os
pais estenderão a roupa dela diante dos oficiais da cidade e eles castigarão
aquele homem. Imporão uma pesada multa de cem peças de prata. O
dinheiro da multa será dado ao pai da moça, pois aquele homem acusou
falsamente uma virgem de Israel. Ele não poderá obter divórcio enquanto
viver. (Nova Bíblia Viva, 2010, Deuteronômio 22:13-39)
Se você emprestar alguma coisa ao seu próximo, não entre na casa dele
para pegar o que ele ofereceu como garantia pela dívida. Fique do lado de
fora. O homem que recebeu o empréstimo é que sairá de casa e entregará
a você o que prometeu como garantia pela dívida. (Nova Bíblia Viva, 2010,
Deuteronômio 24:10-11)
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem,
fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o
dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou
quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar,
por sua natureza, risco para os direitos de outrem. (BRASIL. Código Civil
2014, Da Responsabilidade Civil)
Para o hebreu, a vida humana consistia em algo muito sagrado, por ser um
bem pertencente a Deus, Ezequiel 17:4 “Pois todos me pertencem. Tanto o pai
como o filho me pertencem” (Nova Bíblia Viva, 2010), no âmbito penal, e de forma
bastante conhecida, temos o 6º Mandamento, Êxodo 20: 13 “Não Mate (Nova Bíblia
Viva, 2010º) Não é diferente com a legislação brasileira, na nossa Constituição
Federal, artigo 5º, caput, que prevê a inviolabilidade do direito à vida:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: (BRASIL. Constituição 1988, dos
direitos e garantias fundamentais)
Se houver algum israelita pobre na terra que o Senhor, o seu Deus, está
dando a vocês, não endureçam o seu coração nem fechem as mãos para o
seu irmão pobre. Ao contrário, abram as mãos e emprestem ao pobre
liberalmente tudo o que falta a ele. (Nova Bíblia Viva, 2010, Deuteronômio
15:7-8)
O ponto chave que ampara esta similaridade das leis expostas, consiste no
dia proposto. No código hebraico, ficava obrigado o descanso no sétimo dia da
semana: o Sabbath, em referência a ressureição de Cristo. No código brasileiro, fica
facultado ao empregador conceder qualquer dia para descanso, mas
“preferencialmente”, que seja aos domingos. São artigos de fácil compreensão e que
enriquecem ainda mais o estudo comparativo destes códigos jurídicos.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
COULANGES, Fustel de. A Cidade Antiga. São Paulo: Martin Claret, 2008.
Nova Bíblia Viva. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. São
Paulo: Mundo Cristão, 2010. Velho testamento e Novo Testamento.
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REIFLER, Hans Ulrich. (2009), A Ètica dos Dez Mandamentos. 3. Ed., São
Paulo, Vida Nova.