Você está na página 1de 5

Tecnologia Assistiva

Quando pensamos em práticas pedagógicas inclusivas, precisamos pensar


também na Tecnologia Assistiva (TA), que pode ser compreendida como uma
área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba recursos,
estratégias, produtos, serviços e metodologias que têm como objetivo
promover e favorecer a participação dos estudantes com necessidades nas
diversas atividades escolares, visando a atender os objetivos educacionais
comuns e desenvolver nesses estudantes suas potencialidades, autonomia e
independência.

Apesar de sua importância social, considerando a crescente e efetiva inserção


e participação de pessoas com deficiência em nossa sociedade, a Tecnologia
Assistiva (TA) ainda é um tema pouco conhecido e debatido, principalmente no
campo educacional. As tecnologias trazem um potencial humano e social (de
inclusão, tecnologia social e reconhecimento). Temos que aproveitar o
momento que as tecnologias já fazem parte da vida da maioria dos estudantes
para introduzir essas novas ferramentas com o objetivo de que todos os
estudantes atinjam o seu potencial.

Para crianças com deficiência, que até pouco tempo não tinham muitos meios
para aprender em sala de aula, essa diversidade proporcionada pelas novas
tecnologias facilita o seu acesso ao conteúdo educativo.

Desenho universal
Tornar a vida das pessoas mais simples. Esse foi o objetivo que inspirou um
grupo de arquitetos dos anos 1970 a criar um conceito chamado desenho
universal. Essa abordagem se baseia na visão de que o design dos ambientes
e dos produtos pode ser previamente pensado de forma a permitir o uso por
parte do maior número possível de pessoas, sem que haja a necessidade de
adaptações posteriores.
É interessante frisar que a origem de tal concepção não decorre somente da
busca de respostas para demandas sociais de setores que reivindicavam a
plena participação de todos. Havia também uma percepção de que adaptações
não planejadas, voltadas à acessibilidade de prédios ou residências, às vezes
chamadas de “puxadinhos”, eram caras, esteticamente feias e reforçaram o
rótulo de “incapacidade” das pessoas com deficiência. Por outro lado, ficava
evidente que tais ajustes acabavam beneficiando uma ampla gama de
pessoas, dos mais variados perfis e idades.

Anos mais tarde, esse movimento influenciou professores provocados pelo


desafio de lecionar para turmas cada vez mais heterogêneas e num ambiente
pautado por altas expectativas de aprendizagem. Como garantir acesso aos
conteúdos curriculares para estudantes que se diferenciavam em termos de
habilidades motoras, intelectuais e sensoriais? Como as novas tecnologias
poderiam contribuir para o endereçamento desse desafio? Surgia, então, o
Desenho Universal para Aprendizagem (DUA), creditado a um grupo de
professores da Universidade de Harvard, liderado por David Rose.

O Desenho Universal para a Aprendizagem

Resumindo, o DUA se trata de um modelo prático que visa ampliar as


oportunidades de desenvolvimento de cada estudante por meio de
planejamento pedagógico contínuo, somado ao uso de mídias digitais. Seus
autores apoiaram-se em extensivas pesquisas sobre o cérebro humano para
estruturar o modelo.

Tais investigações revelaram duas importantes constatações. Em primeiro


lugar, a noção de que é fantasiosa a ideia do “estudante regular”. Nossas
categorizações são, na verdade, uma grossa simplificação que não reflete a
realidade e nos cega diante de uma gigantesca variedade de particularidades
observadas em cada aluno.

Em segundo lugar, o fato de que a aprendizagem do ser humano ocorre por


meio de um complexo processo, sistematizado por esses estudos a partir de
três redes cerebrais: uma rede de reconhecimento, especializada em receber e
analisar informações, ideias e conceitos; outra rede, chamada de estratégica,
responsável por planejar, executar e monitorar ações e uma terceira rede,
denominada afetiva, que desempenha o papel de avaliar padrões, designar
significância emocional a eles e estabelecer prioridades.

Influência de Vygotsky e eliminação de barreiras

Curioso notar que as atividades dessas redes estão em consonância com os


três pré-requisitos para a aprendizagem descritos pelo psicólogo russo Lev
Vygotsky, grande influenciador da educação contemporânea. Esses
pressupostos são: o reconhecimento da informação a ser aprendida, a
aplicação de estratégias para processar essa informação e o engajamento com
a tarefa de aprendizagem.

Considerando que as três redes cerebrais estão simultaneamente envolvidas


na aprendizagem, seria uma ilusão querer tratá-las isoladamente. No entanto,
elas podem nos ajudar a organizar o planejamento das aulas e sistematizar a
prática docente, tendo como premissa a busca pela eliminação das barreiras.

E onde estão essas barreiras? Podem estar em todas as atividades


relacionadas ao ensino. Na escolha do material didático, na definição das
estratégias pedagógicas, na eventual falta de conexão entre os conteúdos
curriculares e o cotidiano dos estudantes, na construção dos instrumentos de
avaliação etc. Os meios tradicionais explorados pelos educadores, por
exemplo, estão tão cristalizados no modelo educacional tradicional que
raramente paramos para avaliá-los. Será que a fala, a lousa e o livro impresso
são acessíveis para todos os estudantes? Nem sempre. Isso fica mais óbvio
para pessoas com impedimentos visuais, auditivos e intelectuais. No entanto,
vários outros perfis de alunos sentem dificuldade em se relacionar com essas
mídias. Mas então, qual seria o caminho para uma pedagogia mais flexível?

Flexibilidade e mídias digitais

Com a intenção de contemplar as redes cerebrais citadas anteriormente e


propiciar aos estudantes uma ampla variedade de opções, os autores do
Desenho Universal para a Aprendizagem sugerem que os educadores
trabalhem com múltiplos métodos de apresentação dos conteúdos curriculares,
mediação da aprendizagem e envolvimento dos alunos. Traduzindo em
miúdos, eles propõem que os professores diversifiquem: os formatos dos
materiais didáticos, as estratégias pedagógicas e as inter-relações entre o
conteúdo e a vida real do aluno. Essas recomendações traduzem,
respectivamente, os três princípios do DUA.

As mídias digitais desempenham um papel muito significativo para quem


pretende trabalhar a partir do Desenho Universal para a Aprendizagem. Sua
flexibilidade abre portas para diversos percursos de aprendizagem, na medida
em que viabilizam inúmeras combinações entre texto, fala, imagem e uma
ressignificação do erro, que pode passar a ser tratado como parte natural do
processo de aprendizagem.

Isso gera uma paleta mais diversificada para a comunicação, capaz de


acomodar as especificidades de cada estudante. Os smartphones, os tablets,
os notebooks e os livros digitais ilustram esse tipo de tecnologia, capaz de
ampliar substancialmente os horizontes de desenvolvimento de cada
estudante.

Cabe citar que o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF),
juntamente com um grupo de organizações de vários países, como o Brasil,
está investindo esforços para a criação de um protocolo internacional sobre
como se produzir livros didáticos acessíveis. Essa iniciativa orientará os editais
de compra de livros de muitos ministérios de educação e irá gerar um enorme
impacto nas regras que ditam a indústria das editoras desse segmento.

Modelo imperfeito e inclusivo

Resumindo, o Desenho Universal para Aprendizagem é um exemplo de uma


abordagem educacional mais condizente com nossa convicção de que toda
pessoa tem o direito de estudar e buscar o seu melhor como ser humano.

Ao mesmo tempo, dialoga com a proposta de ressignificação do papel do


professor, enxergando-o como um mediador do processo de aprendizagem. Ou
seja, favorece a ruptura do formato tradicional de sala de aula, caracterizado
por fileiras de estudantes sentados diante de um professor a quem é delegada
a missão de transmitir o conteúdo e, posteriormente, verificar se o mesmo foi
absorvido por meio de provas.

Como todo modelo, o Desenho Universal para a Aprendizagem é imperfeito por


definição. No entanto, representa uma interessante ferramenta para que as
equipes pedagógicas planejem suas aulas de forma mais criteriosa, almejando
o acesso de todos ao conhecimento, e deem conta da crescente diversidade
presente nas escolas.

Acredito que esse modelo pode colaborar muito para uma educação mais
plural, mais atraente e que torne factível nosso compromisso de não deixar
ninguém para trás.

Bibliografia
https://diversa.org.br/artigos/o-que-e-desenho-universal-para-aprendizagem/

http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?cont
eudo=1525

https://educacao.estadao.com.br/blogs/educacao-e-etc/

https://porvir.org/o-que-as-novas-tecnologias-podem-fazer-pela-educacao-
inclusiva/#:~:text=Us%C3%A1%2Dlas%20em%20sala%20de,a%20constru%C
3%A7%C3%A3o%20de%20m%C3%BAltiplos%20est%C3%ADmulos.

https://www.unicef.org/brazil/convencao-sobre-os-direitos-das-pessoas-com-
deficiencia

Você também pode gostar