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Ana Cleo Matias Vieira da Motta

Isabelle Natalia Rodrigues

O racismo e a violência policial

Nos últimos dias, um vídeo de um cidadão negro sendo asfixiado e suplicando


por ajuda circulou por toda a internet. George Floyd foi assassinado por um policial,
em plena luz do dia no meio da rua, em Mineápolis, em 25 de maio. Isso foi o estopim
para as manifestações simultâneas e globais, tanto nas ruas quanto nas redes
sociais, denominadas de “Black Lives Matter” (BLM) (1). O BLM é uma organização
que nasceu em 2013 por três ativistas norte-americanas: Alicia Garza, da aliança
nacional de trabalhadoras domésticas; Patrisse Cullors, da coalizão contra a violência
policial em Los Angeles; e Opal Tometi, da aliança negra pela imigração justa. Sua
missão é "erradicar a supremacia branca e construir poder local para intervir na
violência infligida às comunidades negras" pelo Estado e pela polícia, sendo hoje de
nível global (2).

Recentemente, o mundo todo tem dado uma atenção maior para questão da
violência policial contra minorias, ou pelo menos em teoria isso acontece, inclusive no
Brasil. Um caso que aconteceu no país foi a morte da Ágatha Félix, de oito anos, em
setembro de 2019, que foi assassinada por um policial com um tiro nas costas,
quando estava dentro de uma kombi no Complexo do Alemão, zona norte do Rio de
Janeiro (3). Ágatha foi uma das seis crianças mortas pela violência policial no ano de
2019 (4).

Quando visto de uma forma mais ampla, os homicídios registrados no Brasil


são majoritariamente de negros, conforme mostra o gráfico 1.
Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (IPEA), em 2013 (5), a perda de expectativa de vida ao nascer é maior para
homens negros do que não negros, onde esta diferença é explicada pela vitimização
por homicídios. Além disso, a pesquisa mostra que a situação socioeconômica dos
negros é mais precária do Brasil, sendo assim duplamente discriminados. Tais
discriminações seguem não apenas como um legado da escravidão, mas por
consequência dos efeitos culturais da ideologia do racismo no mercado de trabalho
para negros.

Nesses casos, as polícias, tecnicamente, deveriam resguardar os direitos civis,


tratar igualmente os cidadãos e garantir sua segurança física. No entanto, as
abordagens policiais e o uso excessivo da força são totalmente diferenciados quando
as relações se dão com cidadãos negros. A percepção desse tratamento diferenciado
é bastante clara, sobretudo para os que mais sofrem (5). Isso é mostrado pela
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) de 2009, do IBGE, onde 1,8%
da população negra sofreram agressões físicas e 61,8% deles não procuraram a
polícia. Dos que não procuraram a polícia porque não acreditavam ou porque tinham
medo da polícia, cerca de 60% eram negros.

Numa tentativa de uma maior transparências nas ações policiais, a Policia


Militar do estado de São Paulo começou a utilizar câmeras de segurança acopladas
ao uniforme, desde agosto de 2020 (6), visto que a violência por essa classe é uma
realidade no país. No total, 2500 policiais utilizam deste recurso.

Referências

1 Reuters. Protestos espalhados pelo mundo apoiam movimento 'Black Lives


Matter'. G1 (Globo), junho de 2020. Disponível em:
<https://g1.globo.com/mundo/noticia/2020/06/06/protestos-espalhados-pelo-mundo-
apoiam-movimento-black-lives-matter.ghtml> Acesso em: 04/08/2020.

2 Arruda, J. Black Lives Matter: entenda movimento por trás da hashtag que
mobiliza atos. Universa, junho de 2020. Disponível em:
<https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2020/06/03/black-lives-matter-
conheca-o-movimento-fundado-por-tres-mulheres.htm> Acesso em: 04/08/2020.

3 Ágatha Félix, 8, a mais nova vítima da violência armada que já atingiu 16


crianças no Rio neste ano. El País, setembro de 2019. Disponível em:
<https://brasil.elpais.com/brasil/2019/09/21/politica/1569099826_106579.html>
Acesso em: 04/08/2020.

4 Barbon, J. Saiba quem são as seis crianças mortas pela violência no Rio de
Janeiro em 2019. Folha UOL, setembro de 2019. Disponível em:
<https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/12/saiba-quem-sao-as-seis-criancas-
mortas-pela-violencia-no-rio-de-janeiro-em-2019.shtml> Acesso em: 05/08/2020

5 Cerqueira, D. R. C. e de Moura, R. L. Vidas Perdidas e Racismo no Brasil. Instituto


de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), novembro de 2013. Disponível em:
<https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/nota_tecnica/131119_notatecni
cadiest10.pdf> Acesso em: 05/08/2020.

6 Perez, F. e Ribeiro, J. PM de SP receberá 3 mil câmeras para monitorar ações


policiais. R7, julho de 2020. Disponível em: <https://noticias.r7.com/sao-paulo/pm-
de-sp-recebera-3-mil-cameras-para-monitorar-acoes-policiais-22072020> Acesso
em: 05/08/2020.

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