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Modernismo

2ª fase
(1930 – 1945)
Poesia
Contexto Histórico .
O período que abrange toda a década de 30 e a primeira
metade dos anos 40 do século XX caracteriza-se por
mudanças profundas no cenário nacional, decorrentes de
transformações políticas internas e de fatores externos. Entre
eles, são importantes: a queda da bolsa de Nova Iorque
(1929), que fez cair assustadoramente o preço do café, nosso
principal produto de exportação, levando fazendeiros à
bancarrota –
era a ruína econômica de uma boa parte da elite; a ascensão
de Getúlio Vargas; a Revolução Constitucionalista de 1932; a
aprovação da Lei de Segurança Nacional, que garantia ao
governo a repressão de quaisquer atividades consideradas
subversivas; a implantação do Estado Novo; a censura aos
meios de comunicação imposta pelo DIP; o início da Segunda
Guerra Mundial. Devemos lembrar ainda do Fascismo de
Benito Mussolini na Itália (1922/1943) e a invasão de Hitler à
Polônia, dando início à II Guerra Mundial.
Maturidade e alargamento

Na poesia da Geração de 30, houve a consolidação das


liberdades formais, conquistadas pela geração anterior, que,
somada ao descompromisso em protagonizar uma revolução
estética permitiram tanto o cultivo dos versos brancos e livres
como o das formas tradicionais. Grandes e inesquecíveis
talentos surgiram no cenário brasileiro desse período.
Quanto aos temas, observa-se uma grande preocupação
social decorrente da tensão política que envolvia o mundo e
que eclodiu na II Grande Guerra. O medo, a incerteza, a
perplexidade, a sensação de abismo tomou conta da
produção de 30, bem como uma tendência à espiritualidade.
Se de um lado se configura uma inquietação de caráter
universalizante, de outro, surge uma poesia intimista. A
coexistência dessa com aquela só não é antitética, em virtude
de esse intimismo acabar por resvalar também no universal,
fato facilmente compreensível dado o momento histórico: a
angústia e os dilemas individuais refletem o contexto
histórico mundial. Nesse momento, a poesia religiosa é
notavelmente cultivada, em especial pelos articuladores da
revista Festa, de caráter espiritualista católico e neo-simbolista.
Aliás, nessa fase, frequentemente os recursos simbolistas são
mesclados às técnicas propostas pela Geração de 22.
Em síntese

Nas décadas de 1930 e 40, a poesia brasileira vivia um


de seus melhores momentos. Tratava-se de um período de
maturidade e alargamento das conquistas modernistas da
primeira geração.
Maturidade porque já não havia necessidade de
escandalizar os meios culturais acadêmicos. Sem radicalismos
e excessos, os poetas sentem-se à vontade tanto para escrever
um poema com versos quanto para fazer um soneto, sem que
isso significasse voltar ao Parnasianismo.
A poesia da segunda geração modernista foi,
essencialmente, uma poesia de questionamento: da
existência humana, do sentimento de “estar-no-mundo”, das
inquietações social, religiosa, filosófica, amorosa. Carlos
Drummond de Andrade é o poeta que melhor representa o
espírito dessa geração, e sua produção poética encontra-se
num dos pontos mais altos da nossa literatura.
Principais poetas
Murilo Mendes
Olhar irreverente dos primeiros modernistas;
Recuperação de textos do Quinhentismo;
Tendência religiosa como consolo para a
existência humana;
Influências surrealistas.
Texto I
Canção do exílio

Minha terra tem macieiras da Califórnia


onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!
Texto II
Pré-história

Mamãe vestida de rendas


Tocava piano no caos.
Uma noite abriu as asas
Cansada de tanto som,
Equilibrou-se no azul,
De tonta não mais olhou
Para mim, para ninguém:
Cai no álbum de retratos.
Jorge de Lima
✓ Multiplicidade de temas (o negro, a sociedade, Deus,
a infância,...), semelhante a Murilo Mendes;

✓ Tom coloquial e afetividade.


Texto III
Mulher proletária
Mulher proletária - única fábrica
que o operário tem, (fabrica filhos)
tu
na tua superprodução de máquina humana
forneces anjos para o Senhor Jesus,
forneces braços para o senhor burguês.
Mulher proletária,
0 operário, teu proprietário
há de ver, há de ver:
a tua produção, a tua superprodução,
ao contrário das máquinas burguesas
salvar o teu proprietário.
Vinícius de Moraes
Poeta social, sensual, transcendente;

Tematizou o amor e a mulher;

Influências simbolistas;

Uso do soneto, da rima e da metrificação;

Religiosidade e angústia associada à oscilação entre matéria e


espírito;

Poesia do cotidiano e dos relacionamentos amorosos;


Texto IV
Soneto de separação
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento


Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente

Fez-se do amigo próximo o distante


Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Vinícius de Moraes
UFRJ 2008 - Texto V
Como se comportar no cinema
(A arte de namorar)

Poucas atividades humanas são mais agradáveis que o ato


de namorar, e é sobre a arte de praticá-lo dentro dos cinemas
que queremos fazer esta crônica. Porque constitui uma arte
fazê-lo bem no interior de recintos cobertos, mormente
quando se dispõe da vantagem de ambiente escuro propício. A
tendência geral do homem é abusar das facilidades que lhe são
dadas, e nada mais errado; pois a verdade é que namorando
em público, além dos limites, perturba ele aos seus
circunstantes, podendo atrair sobre si a curiosidade, a inveja e
mesmo a ira daqueles que vão ao cinema sozinhos e pagam
pelo direito de assistir ao filme em paz de espírito.
Ora, o namoro é sabidamente uma atividade que se
executa melhor a coberto da curiosidade alheia. Se todos os
frequentadores dos cinemas fossem casais de namorados, o
problema não existiria, nem esta crônica, pois a discrição de
todos com relação a todos estaria na proporção direta da
entrega de cada um ao seu namoro específico. [...] De modo
que, uma das coisas que os namorados não deveriam fazer é
se enlaçar por sobre o ombro e juntar as cabeças. Isso
atrapalha demais o campo visual dos que estão à retaguarda.
[...]
Cochichar, então, é uma grande falta de educação entre
namorados no cinema. Nada perturba mais que o cochicho
constante e, embora eu saiba que isso é pedir muito dos
namorados, é necessário que se contenham nesse ponto,
porque afinal de contas aquilo não é casa deles.
Um homem pode fazer milhões de coisas – massagem no
braço da namorada, cosquinha no seu joelho, festinha no
rostinho delazinha; enfim, a grande maioria do trabalho de
“mudanças” em automóveis não hidramáticos – sem se fazer
notar e, consequentemente, perturbar aos outros a fruição do
filme na tela. Porque uma coisa é certa: entre o namoro na tela
– e pode ser até Clark Gable versus Ava Gardner – e o namoro
no cinema, este é que é o real e positivo, o perturbador, o
autêntico.
Escritora intuitiva;
Inclinação neo-simbolista;
Espiritualidade e musicalidade;
Poesia reflexiva e filosófica, tematizando a transitoriedade da vida
e a fugacidade do tempo e das coisas;
Reflexões sobre questões de natureza política e social;
Imagens da natureza e do infinito;
Revisitação da Inconfidência Mineira.
Texto X
Motivo
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida esta completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,


não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.


Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

Cecília Meireles
Texto XI
Romance XXIV ou da Bandeira da Inconfidência

(...)
Atrás de portas fechadas,
à luz de velas acesas,
brilham fardas e casacas,
junto com batinas pretas.
E há finas mãos pensativas,
entre galões, sedas, rendas,
e há grossas mãos vigorosas,
de unhas fortes, duras veias,
e há mãos de púlpito e altares,
de Evangelhos, cruzes, bênçãos.
(...)
Atrás de portas fechadas,
à luz de velas acesas,
uns sugerem, uns recusam,
uns ouvem, uns aconselham.
Se a derrama for lançada,
há levante, com certeza.
(...)
Coisas da Maçonaria,
do Paganismo ou da Igreja?
A Santíssima Trindade?
Um gênio a quebrar algemas?
Atrás de portas fechadas,
à luz de velas acesas,
entre sigilo e espionagem,
acontece a Inconfidência.
(...)
LIBERDADE, AINDA QUE TARDE,
ouve-se em redor da mesa.
E a bandeira já está viva,
e sobe, na noite imensa.
E os seus tristes inventores
já são réus — pois se atreveram
a falar em Liberdade
(que ninguém sabe o que seja).

Liberdade, essa palavra


Que o sonho humano alimenta
Que não há ninguém que explique
E ninguém que não entenda.
Texto XII
Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,


tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?"
de Andrade

“Vai, Carlos! Ser gauche na vida”.


“A poesia é incomunicável.
Fique torto no seu canto”.
Interiorano de Minas Gerais;
Linguagem carregada de lucidez e ironia;
Poeta do “estar-no-mundo” e do “gauchismo”;
Cultivou poesia social, metalinguística, memorialista,
filosófica,...;

Sua poesia pode ser assim dividida:

1ª fase: Poemas mais apegados às influências da Geração de


22: versos brancos e livres, prosaísmo, coloquialismo, humor,
predomínio do “eu”.Família e cidade natal com saudosismo;
Questionamento do sentido da vocação literária e da função
social do poeta;
Desencontro entre o ser e o mundo (gauchismo);
2ª fase: Poemas com predomínio de temas sociais, como o
Estado Novo e a Segunda Guerra Mundial; linguagem um
pouco mais clássica.

3ª fase: Poemas com temas sociais e individuais; reúne versos


rimados e metrificados, com outros em versos brancos e livres;
questionamento do sentido da vida e das coisas, antíteses,
paradoxos e contradições.

4ª fase: Poemas cujos temas sintetizam as fases anteriores;


ocorra a retomada do humorismo da primeira fase;
experimentos formais que incluem o Concretismo.
Existe ainda uma quinta, desenvolvida a partir da década
de 1970. Nas últimas obras, Drummond cultivou a memória, os
amigos, o amor a Lígia Fernandes, e seguiu com o
questionamento da vida, dos homens e de si mesmo, mas
também apresentou uma novidade: um livro de poemas
eróticos: O Amor Natural.
Texto XIII
Poema de Sete Faces
Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens


que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus,
pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode


é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo


se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

Carlos Drummond de Andrade


Texto XIV
José
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.

José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse....
Mas você não morre,

você é duro, José!


Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, José!
José, para onde?
Piadas Nerd

E agora, José? O teclado quebrou, o anti-vírus


expirou, a internet caiu, o windows travou. E agora,
José? #DIAdaPOESIA

(Via @RGuilardi)
Texto XV
Quadrilha
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.

João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,


Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
Texto XVI
Os Ombros Suportam o Mundo
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teu ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
Texto XVII
Cota zero

Stop.
A vida parou
Ou foi o automóvel?
Texto XVIII
Hipótese

E se Deus é canhoto
e criou com a mão esquerda?
Isso explica, talvez, as coisas deste mundo.
Texto XIX
Mãos dadas
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da
janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens
presentes, a vida presente.
Texto XX
Lembranças do mundo antigo
Clara passeava no jardim com as crianças.
O céu era verde sobre o gramado,
a água era dourada sob as pontes,
outros elementos eram azuis, róseos, alaranjados,
o guarda-civil sorria, passavam bicicletas,
a menina pisou a relva para pegar um pássaro,
o mundo inteiro, a Alemanha, a China, tudo era tranquilo em redor de Clara.

As crianças olhavam para o céu: não era proibido.


A boca, o nariz, os olhos estavam abertos. Não havia perigo.
Os perigos que Clara temia eram a gripe, o calor, os insetos.
Clara tinha medo de perder o bonde das 11 horas,
esperava cartas que custavam a chegar,
nem sempre podia usar vestido novo. Mas passeava no jardim, pela manhã!!!
Havia jardins, havia manhãs naquele tempo!!!
Manoel de Barros

“Não gosto de palavra acostumada”


Manoel de Barros (1917) nasceu em Cuiabá e
publicou sua primeira obra, “Pecado”, em 1937.
Fazendeiro, homem culto, o poeta vive isolado no
Pantanal, mas perfeitamente informado da grande poesia
feita no Brasil e no exterior. Embora ligado
cronologicamente à geração de 30, o autor trilha um
percurso pessoal.
Como toda grande poesia, a de Barros trata do
destino d homem, do medo da morte, da sombra da
infância se projetando no adulto, da busca da felicidade e
consequente contencioso de frustrações e da face oculta
de um Deus (creia-se ou não nele) que nos perseguem
vida afora.
Texto XXI
VI
Descobri aos 13 anos que o que me dava prazer nas
leituras não era a beleza das frases, mas a doença
delas.
Comuniquei ao Padre Ezequiel, um meu Preceptor,
esse gosto esquisito.
Eu pensava que fosse um sujeito escaleno.
- Gostar de fazer defeitos na frase é muito saudável,
o Padre me disse.
Ele fez um limpamento em meus receios.
O Padre falou ainda: Manoel, isso não é doença,
pode muito que você carregue para o resto da vida
um certo gosto por nadas...
E se riu.
Você não é de bugre? - ele continuou.
Que sim, eu respondi.
Veja que bugre só pega por desvios, não anda em
estradas -
Pois é nos desvios que encontra as melhores surpresas
e os ariticuns maduros.
Há que apenas saber errar bem o seu idioma.
Esse Padre Ezequiel foi o meu primeiro professor de
agramática.
Mário Quintana
Mario Quintana foi um importante escritor, jornalista e
poeta gaúcho. Nasceu na cidade de Alegrete (Rio Grande do
Sul) no dia 30 de julho de 1906. Trabalhou também como
tradutor de importantes obras literárias. Com um tom irônico,
escreveu sobre as coisas simples da vida, porém buscando
sempre a perfeição técnica.
Sua infância foi marcada pela dor e solidão, pois perdeu
a mãe com apenas três anos de idade e o pai não chegou a
conhecer (morreu antes de seu Viveu na cidade natal até os 13
anos de idade. Em 1919, mudou-se para a cidade de Porto
Alegre, onde foi estudar no Colégio Militar. Foi nesta instituição
de ensino que começou a escrever seus primeiros textos
literários.
Já na fase adulta, Mario Quintana foi trabalhar na Editora
Globo. Começou a atuar na tradução de obras literárias.
Durante sua vida traduziu mais de cem obras da literatura
mundial.
Entre as mais importantes, traduziu “Em busca do tempo
perdido” de Marcel Proust e “Mrs. Dalloway” de Virgínia
Woolf. .
Com 34 anos de idade lançou-se no mundo da poesia. Em
1940, publicou seu primeiro livro com temática infantil: “A rua
dos cataventos”. Volta a publicar um novo livro somente em
1946 com a obra “Canções”. Dois anos mais tarde lança
“Sapato Florido”. Porém, somente em 1966 sua obra ganha
reconhecimento nacional. Neste ano, Mario Quintana ganha o
Prêmio Fernando Chinaglia da União Brasileira dos Escritores,
pela obra “Antologia Poética”. Neste mesmo ano foi
homenageado pela Academia Brasileira de Letras.
Ainda em vida recebeu outra homenagem em Porto Alegre. No
centro velho da capital gaúcha é montado, no prédio do antigo
Hotel Majestic, um centro cultural com o nome de Casa de
Cultura Mário Quintana.
Faleceu na capital gaúcha no dia 5 de maio de 1994, deixando
um herança de grande valor em obras literárias.

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