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DR.

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AO DER – DEPARTAMENTO DE ESTRADAS DE RODAGEM DE MINAS GERAIS

VERA LÚCIA MARTINS GOMES, já qualificado na notificação supra de nº L 028331299 (em


anexo), que lhe foi dirigida, vem, dentro do prazo legal, apresentar defesa, mediante os
termos que passa a aduzir:

Há várias incorreções no registro de autuação, senão vejamos;

1) O DER contrariou o artigo 280, parágrafo 4º, da Lei 9.503/97 (Código Brasileiro de Trânsito).
Também devem ser declaradas nulas as multas expedidas sem a presença e identificação do
agente autuador, quando efetuada por equipamento eletrônico.

2) Requer-se uma cópia do comprovante de aferimento, realizada pelo INMETRO ou órgão


por ele credenciado, que e obrigatório e deve atestar o bom funcionamento do radar.

3) Estive no local da suposta infração e verifiquei a sinalização de velocidade máxima que


antecede o equipamento, sendo certo que ele não marca a leitura de velocidade ( não está
funcionando direito).

4) A Resolução 079/98 do CONTRAN vale também para o radar, sua sinalização deve ser
contínua e permanente, mantendo o condutor sempre informado. As placas devem ser
instaladas respeitando espaços mínimos de 300 metros antes de cada equipamento, devem
também ficar do lado direito do sentido de trânsito da via, a sinalização não obedece estes
preceitos legais.
5) Sendo certo que estes equipamentos apresentam constantes defeitos, encontrando-se
praticamente sem manutenção periódica, sendo que a oscilação de tempo chuva/sol o deixa
irregular é evidente, pois sequer a luz intermitente amarela estava funcionando, e
equipamentos totalmente apagados podem representar deficiência de manutenção.

Solicito a averiguação de calibragem e aferimento deste foto-sensor, junto ao órgão


responsável pelo equipamento, através de documentação formal, com a devida cópia de seu
termo anual de aferimento obrigatório, emitido pelo INMETRO, atestando sua total precisão.
Deve também se levar em conta o cumprimento das exigências legais e técnicas para a
instalação do equipamento, no que diz respeito a homologação, certificação, calibragem e
aferimento.

defesa esclarecedora

Busca-se multar sem obedecer aos requisitos legais mínimos reguladores da ação fiscalizadora
e punitiva no trânsito.

Como restará comprovado, é radar instalado à direita da pista ou em canteiros centrais de


rodovias com o intuito de “fotografar” veículos de ambos os lados; aparelhos apostos de forma
escondida, encobertos por moitas ou sem prévia e correta sinalização indicativa de suas
presenças.

São limitações de velocidade determinadas sem o menor estudo técnico e quaisquer critérios
quanto ao local ou quanto ao número de acidentes ali já ocorridos. É multa emitida em datas
anteriores à data da suposta infração, sem que considerem a margem de erro de 7Km/h (sete
quilômetros por hora) determinada pelo INMETRO.

Isso significa que os agentes do DER estão sujeitos, em todo seu atuar, aos mandamentos da
lei, não podendo deles se afastar ou se desviar sob pena de praticar ato inválido. Noutras
palavras, não tem os administradores públicos poder de decidir o modus operandi do seu
atuar, mas ao contrário, a sua atuação deve ser

estritamente idêntica ao comando legal que a autoriza.

Nesta esteira, conclui-se que ao DER competia obedecer estritamente às disposições


normativas previstas não somente na legislação de trânsito, mas em toda a legislação
reguladora da Administração Pública Brasileira.

Das ilegalidades no procedimento de fiscalização


1. A sinalização

Todo ato administrativo, aí se incluindo o fiscalizatório e o punitivo, deve revestir-se da devida


publicidade ao administrado sob pena de ser reputado inválido, dado ser a publicidade dos
atos administrativos condição de sua existência e eficácia. Atrelado ao princípio da publicidade
dos atos administrativos, o Código de Trânsito Brasileiro previu que:

“Art. 80 (...)

§1º A sinalização será colocada em posição e condições que a

tornem perfeitamente visível e legível durante o dia e a noite,

em distância compatível com a segurança do trânsito, conforme

normas e especificações do CONTRAN.”

E foi ainda mais rigoroso ao tratar da aplicação das sanções previstas na legislação de trânsito:

“Art. 90 Não serão aplicadas as sanções previstas neste Código

por inobservância à sinalização quando esta for insuficiente

ou incorreta.”

Depreende-se, pois, que não se exige a ausência de sinalização para que a punição de
condutores seja impossibilitada, basta que aquela seja insuficiente ou instalada
incorretamente para que a autoridade de trânsito se abstenha de aplicar as sanções previstas
no CTB. Nessa esteira, placas com dizeres como “Rodovia controlada por Radar” ou
“Fiscalização Eletrônica de Velocidade”, sem que isso signifique a efetiva presença de aparelho
aferidor de velocidade há trezentos metros da sinalização, são exemplos de sinalizações
incorretas e/ou insuficientes, não aptas, pois, a atenderem o princípio da publicidade.

Por outro lado, a sinalização deve seguir padrões rígidos (forma, cor, dizeres, tamanho, etc),
imunes a qualquer variação, de forma a permitir a informação instantânea, pois ao avistar uma
placa, o condutor deve reagir automaticamente, subordinando-se ao seu comando.
Ademais, há que se obedecer ao disposto na Resolução nº 79/98 (art.1º, §1º) do CONTRAN,
qual seja, o de que a sinalização deverá estar à direita do leito viário, com o espaçamento
mínimo de 300 (trezentos) metros do equipamento de fiscalização, de modo a manter o
usuário permanentemente informado e a permitir a serena adequação da velocidade ao limite
permitido.

Não obstante, o que se viu é equipamentos eletrônicos medidores de velocidade instalados


em canteiros centrais das pistas fotografando os veículos que trafegam nas duas direções;
aparelhos escondidos atrás de moitas, instalados em locais desnivelados e até camuflados por
capas pretas encobrindo-os; ausência de sinalização indicativa da existência de radares ou
sinalização única ao longo de um extenso trecho, não respeitando o espaçamento mínimo de
trezentos metros, ou, ainda, uma demasiada indicação de fiscalização que não corresponde
efetivamente à presença dos aparelhos medidores, contribuindo assim para a ludibriar e
confundir os condutores.

Além de infringir as disposições normativas atinentes à sinalização e à publicidade dos atos


administrativos, as condutas praticadas pelos agentes do DNER/MG e por seus prepostos,
elencadas supra, causam insegurança aos condutores, que passam a se preocupar mais com os
radares do que com a própria direção do veículo.

Destarte, nulas são todas as autuações e punições decorrentes de procedimento de


fiscalização que infrinja o princípio constitucional da publicidade dos atos administrativos ou
que não obedeça aos requisitos legais previstos no Código de Trânsito Brasileiro.

2. A inadequação dos equipamentos medidores de velocidade utilizados Determinam os arts.


4º e 6º da Resolução nº 820/96, ainda em vigor1, que os radares portáteis, para serem
utilizados na fiscalização do trânsito, deverão estar registrados no Instituto Nacional da
Propriedade Industrial ( INPI), ser aferidos anualmente pelo Instituto Nacional de Metrologia,
Normalização e

1 Apesar da Resolução nº 820 ter sido expedida em 08.10.96, anterior, pois, ao CTB, ela
continua em vigor, dado ter-se previsto no art. 314, § único do próprio CTB que “as resoluções
do CONTRAN, existentes até a data da publicação deste Código, continuam em vigor naquilo
que não conflitem com ele”.

Qualidade Industrial (INMETRO) e, após isso, ser homologados pela autoridade de trânsito com
circunscrição sobre a via. Ou seja, para ser lícita e válida a fiscalização com o radar portátil,
deverá o aparelho estar registrado no INPI, aferido pelo INMETRO por um período não
superior a um ano e, uma vez preenchido tais requisitos, ter seu uso homologado pela
autoridade de trânsito competente, bem como ser publicado o termo desta homologação.

O que vem ocorrendo é que nenhum dos aparelhos aferidores de velocidade, de propriedade
do DER/MG, possui registro no INPI e a grande maioria desses aparelhos (de marcas Sodi
Autovelox 104 C, Radar Eit e Radar Gatso 24) não consta na relação dos equipamentos aferidos
pelo Instituto de Pesos e Medidas do Estado de Minas Gerais – IPEM/MG, órgão vinculado ao
INMETRO. Não obstante, a autoridade de trânsito dessa autarquia tem permitido que tais
radares sejam utilizados na fiscalização das rodovias federais.

Diante de mais essa ilegalidade, não há outra alternativa que não a anulação de autuações por
excesso de velocidade, e as conseqüências delas decorrentes, cuja fiscalização tenha sido
realizada por meio de aparelhos irregulares, devendo ser suspenso o uso desses até que
atendam as exigências normativas.

3. A clandestinidade da fiscalização

Como se não bastasse as inúmeras irregularidades praticadas na fiscalização do trânsito nas


rodovias federais do Estado de Minas Gerais atinentes à sinalização insuficiente ou incorreta,
vem ocorrendo também usurpação de função por parte de funcionários das empresas do
Consórcio vencedor de licitação realizada pelo DNER para instalação e manutenção dos
equipamentos medidores de velocidade.

Tal fato poderá ser comprovado, pois percorrendo trecho da BR 040, pode constatar que os
radares são operados por funcionários das empresas do Consórcio, não identificados e, em
alguns casos, pasme-se, foram encontrados vestindo colete do DER, como se fossem seus
funcionários.

Ora, o CTB dispõe em seu art. 90, parágrafo 1º que:

“O Órgão ou entidade de trânsito com circunscrição sobre a via é responsável pela


implantação da sinalização, respondendo pela sua falta, insuficiência ou incorreta colocação.”

Acrescente-se que, em total desrespeito às disposições legais, são também esses funcionários
que colocam, conforme seus alvedrios, as placas de sinalização indicativa da velocidade
máxima permitida. Nenhum estudo técnico é realizado, não são utilizados quaisquer critérios
para se definir o limite de velocidade em determinado trecho. Aqueles funcionários,
discricionariamente, instalam placas de
40 Km/h (quarenta quilômetros por hora) em trechos retilíneos não considerados áreas
críticas, com a intenção clara de multar um maior número de veículos que trafegam nessas
retas numa velocidade de segurança de até 80 Km/h, como permitido pelo próprio CTB para as
rodovias federais (art. 60, § 1º, II, a).

Ressalte-se que a Resolução nº 079/98 do CONTRAN estabeleceu que “a velocidade máxima


permitida da via somente será alterada quando da existência de áreas críticas que justifiquem
plenamente a medida”.

Por todo o exposto, vê-se quão irregular tem-se apresentado a fiscalização do trânsito nas
rodovias federais mineiras, ensejando a intervenção deste Parquet na defesa dos direitos e da
segurança de seus usuários, que não podem ficar à mercê de empregados de empresas
privadas que têm um único e só objetivo, o lucro.

PARA ENCERRAR:

Diante do exposto, protesto pela apresentação, por todos os meios, de provas admissíveis em
direito, como pericial e/ou testemunhal, requerendo desde já, o cancelamento da penalidade
imposta e a conseqüente revogação dos pontos de meu prontuário, sem prejuízo do efeito
suspensivo á infração até efetivo julgamento do mérito.

Nestes termos

P. deferimento

Divinópolis, 11 de agosto de 2011

VERA LÚCIA MARTINS GOMES

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