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ARTIGO DE REVISÃO

PRINCÍPIOS DO TREINAMENTO situação que será visualizada em alguns


DESPORTIVO E MUSCULAÇÃO. parágrafos abaixo.
1. Princípio da individualidade
Profissional de Educação Física: Luiz Carlos biológica.
Chiesa. Registro CREF 01- 000069-G/ES. 2. Princípio da adaptação.
3. Princípio da sobrecarga*
Treinamento desportivo como 4. Princípio da continuidade -
estrutura lógica é a organização para a reversibilidade.
aplicação dos métodos científicos de 5. Princípio da interdependência
treinamento, que visam por meio de volume X intensidade.
mecanismos pedagógicos, atingir o mais alto 6. Princípio da especificidade dos
rendimento humano, nos aspectos e movimentos.
características técnicas, físicas, psicológicas,
sociais e espirituais do indivíduo ou equipe. Princípios específicos da musculação.

A musculação possui particularidades


“O treinamento, já aceito há algum tempo
no momento da aplicação prática dos
como ciência, tem sua posição científica
trabalhos, que estão sempre vinculadas aos
reforçada com referências consideradas
princípios do treinamento desportivo. Os
essenciais para todos os que buscam o alto
princípios do treino neste caso são
rendimento atlético”. Tubino (1979).
singularmente aplicados de maneira mais
qualificada e, encampando basicamente a
Para ser considerado exercício físico,
individualidade biológica, a sobrecarga* e a
há necessidade de aplicação de normas
especificidade dos movimentos. A
organizacionais básicas alicerçadas nos
estruturação das sequências de exercícios,
princípios do treinamento desportivo
tornou-se um conceito paralelo e
direcionando critérios para a conduta racional
considerado, como sendo um principio do
prática. No caso do treinamento desportivo e
treinamento exclusivo dos trabalhos contra
musculação particularmente, algumas normas
resistência.
ou regras foram sendo estabelecidas,
desenvolvidas com base em princípios
Princípio da individualidade biológica.
relacionados com a constituição,
características físicas humana e com as
Cada ser humano possui estruturas
respostas orgânicas aos estímulos aplicados.
físicas e psicológicas individualizadas ou
Os princípios do treino desportivo
diferenciadas dos demais, sugerindo que
são basicamente seis, encontram-se abaixo
cada um de nós seja um ser único. O ser
escalonados. Há diferenciações pessoais de
humano é a união entre as características do
autores que lidam com o treinamento,
genótipo (carga genética recebida) com o
afirmando ainda mais a necessidade de
fenótipo (carga geral de elementos que são
aprofundamento nos meios teóricos para o
adicionados ao indivíduo após o nascimento)
controle prático dos treinos. É comum o
que criam o suporte de individualização
surgimento de subdivisões dentro de algum
humana. Abaixo no quadro 01 encontra-se
dos princípios formais do treinamento,
algumas características do genótipo e do
fenótipo.
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Quadro 01
Genótipo Fenótipo
Estatura Habilidades motoras e esportivas
Biótipo ou estrutura corporal Nível intelectual
Aptidões físicas e intelectuais Consumo máximo de oxigênio e limiar anaeróbio
Força máxima Percentual de fibras musculares
Composição corporal
Percentual dos tipos de fibras musculares

As respostas ao treinamento aplicado são “As condições neuromusculares, psico-


determinadas por características hereditárias cognitivas e anatomo-biomecânicas que são
associadas às influências do meio ambiente. herdadas caracterizam de uma forma geral a
Buscamos continuamente o aperfeiçoamento aptidão. Um desenvolvimento muito acima
das características técnico esportivas da da média dessas condições denomina-se
forma mais específica e individualizada talento”. Geese & Hillebrecht (1995).
possível. Quanto mais o treino aproximar-se
das características positivas de respostas “Pode-se dizer que os potenciais são
individuais, maiores serão as performances determinados geneticamente e as
alcançadas. capacidades ou habilidades expressas são
Cada ser humano é único e por este decorrentes do fenótipo”. Dantas; 1985.
motivo necessita de um direcionamento
personalizado para o treinamento visando o As habilidades referem-se aos
alto rendimento físico e desportivo. É elementos que são adquiridos ou aprendidos
inadmissível a padronização de qualquer ao longo do tempo de vida, somando-se e
forma de treinamento, para grupos inteiros formando um quadro de experiências. O ato
de indivíduos. de jogar ou praticar esportes, são
O genótipo caracteriza os potenciais, transmitidos aos indivíduos por meio de
a predisposição inata ou aptidão. As treinos e repetições contínuos, e são bons
habilidades são parte do fenótipo ou das exemplos do que sejam as habilidades.
características possíveis de serem
incorporadas ao indivíduo. Os profissionais Princípio da adaptação.
da Educação físicas são bem familiarizados
com os termos Aptidão e habilidade. O princípio da adaptação do
Entendemos por aptidão organismo ao treinamento, possui
didaticamente expondo, como sendo os particularidades relacionadas com o nível de
potenciais ou as qualidades inatas do estímulo a ele aplicado. Durante a aplicação
homem, que são expressas continuamente de estímulos de treinamento sobre o
por meio da predisposição e do talento. organismo deparamo-nos com o conceito de
Como exemplos citamos a aptidão de força Síndrome de Adaptação Geral (SAG)
muscular máxima, a aptidão de resistência proposto por Hans Seyle (1956) in Dantas;
cardiovascular máxima, flexibilidade e 1985, a qual possui fases correlacionadas
velocidade máxima atingíveis. com os estímulos ou stresses. Os stresses
podem ser de ordem física, bioquímica e
“Evidentemente o treinamento físico não mental.
melhora a capacidade de desempenho além A síndrome de adaptação geral
daquele limite preestabelecido pelo possui três fases distintas abaixo
genótipo”. Hollmann & Hettinger; 1983. escalonadas:

Excitação ou choque - a presente


fase poderá provocar dores e por
este motivo
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queda momentânea no rendimento das barreiras que surgem no decorrer dos


provocando um período de reação treinamentos dos atletas de alto nível. Não
de alarme no organismo. devemos utilizar treinamentos nesta faixa de
estímulo por mais de um ciclo (microciclo de
1. Resistência ou adaptação - choque) ou seja mais do que sete dias, e
esta fase tende a provocar uma muito menos utilizá-lo com atletas ou
adaptação ao estímulo aplicado com praticantes novatos. Um ciclo de treinamento
elevação no rendimento. de 3 a 4 anos consecutivos(lei dos quatro
anos), faz-se necessário antes de arriscar
2. Exaustão ou cansaço – nesta estes níveis tão elevados de cargas nos
fase o corpo não responde treinos. Não devemos esquecer que grandes
positivamente aos estímulos por já performances atléticas são alcançadas após
estar adaptado, possivelmente 8 a 12 anos de treinos intensivos e
haverá queda de rendimento nos sistemáticos.
casos de treinamento excessivo. Há Abaixo no quadro 02, apresenta-se
o risco de lesões temporárias ou proposta classificatória, com as condições
permanentes. de intensidade e carga adicional, referente
aos estímulos provenientes do treinamento
Nos casos em que o estímulo seja contra resistência.
muito fraco este não produzirá adaptação O organismo humano responde de
satisfatória, e será classificado como maneira diferenciada a cada estímulo a ele
estímulo Débil. Os estímulos de baixa aplicado. O estresse vivido quotidianamente
intensidade que apenas excitam o no meio ambiente, produz interferências que
organismo e não produzem adaptações devem ser consideradas em conjunto aos
posteriores são classificados como Médios. estímulos do treino. As respostas aos
Os estímulos Fortes são exatamente treinamentos podem ser negativas caso haja
aqueles que proporcionam as adaptações influência do meio sem um adequado
mais seguras, plenas e prolongadas. Busca- controle do treinador.
se no treinamento consciente e organizado, As respostas aos estímulos
na maior parte do tempo, exatamente a psíquicos e sociais são relevantes sobre a
manutenção desta forma de estímulo. Os performance. As atitudes psicológicas
estímulos Muito Fortes acarretam sensíveis negativas como ansiedade, angustia,
danos ao organismo e podem seguramente confiança excessiva, depressão etc, e
causar lesões, se não forem extremamente fatores sociais como o abuso de bebidas
controlados por meio de testes periódicos e alcoólicas, festas, excessos sexuais,
avaliações generalizadas prévias tabagismo e outros, necessitam estar sob
relacionadas ao estado biológico controle do treinador. A individualidade
maturacional e também psicológico do deverá possuir grande atenção aos períodos
indivíduo. Os conceitos de Hussay (1956), de adaptação, como exemplo citamos as
acima descritos foram citados por Dantas crianças e os adolescentes, que possuem
(1985), trazem consigo um alerta e a base um estado de predisposição para
para que sejamos cautelosos no momento adaptarem-se mais facilmente aos estímulos
da aplicação de sobrecargas no organismo de treino com predominância de volume alto
durante os treinamentos. com intensidade moderada a baixa. Em
A busca incessante por combinações muitos casos surgem quedas sobre o
ideais de alternância entre os estímulos rendimento biológico, sem uma explicação
Médios e Fortes, são a base para o sucesso plausível. Quando após uma minuciosa
do treinamento. Saber em qual momento pesquisa dos hábitos de vida, surge o
elevar o estímulo e ou reduzi-lo é a chave diagnóstico preciso de excesso de atividades
para as portas do alto rendimento. paralelas, que são degradantes sobre as
A utilização de estímulos Muito respostas do treinamento. A falta de repouso
Fortes é necessária para a ultrapassagem
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adequado e maus hábitos alimentares são


exemplos clássicos.

Quadro 02
Condições de intensidade Carga adicional Estímulo
Máxima 100% Muito forte
Submáxima 99% a 90%
Grande 1a subzona 89% a 80% Forte
Grande 2a subzona 79% a 70%
Moderada 1a subzona 69% a 60%
Moderada 2a subzona 59% a 50% Médio
Pequena 1a subzona 49% a 40%
Pequena 2a subzona 39% a 30% Fraco
Chiesa; 1999.

O estresse no treinamento é com um superavit ou estoque extra de


necessário. As situações de estresse no energia, para ser utilizada prontamente no
cotidiano são pouco prováveis de serem próximo treinamento. Sabendo-se da
eliminadas. Resta ao treinador para que haja possibilidade da supercompensação,
uma adaptação plena do organismo de seu procura-se ampliar a intensidade das cargas
educando, concentrar esforços e atenção, de treinamento sempre que possível,
aos fatores que podem estar conduzindo o visando provocar maiores volumes nos
organismo a um estado de treinamento estoques energéticos, por meio de
excessivo quer sejam eles durante as treinamentos periódicos com características
sessões de treino ou durante as horas fora específicas, contínuas, crescentes,
do âmbito de controle técnico. variadas, assim como exatas.
O tempo que levará para o
Princípio da sobrecarga*. organismo repor energia e estocá-la em
suas reservas, esta intimamente relacionado
Relaciona-se à aplicação das cargas com a sobrecarga imposta, abaixo no quadro
de trabalho. O presente princípio esta 03 a encontra-se o período para a
intimamente ligado ao treinamento diário do recuperação das fontes energéticas
indivíduo em sala de aula, assim como utilizadas durante um treinamento máximo.
possui estreita relação com o princípio da No quadro 03 b encontra-se uma
adaptação e com o princípio da classificação relacionada às carga de
continuidade. Após a aplicação de uma treinamento em uma sessão.
sobrecarga de treinamento o organismo Nos trabalhos contra resistência é
necessita repor novamente a energia fundamental a escolha das cargas
utilizada e reconstituir as estruturas exatamente dentro dos objetivos
desgastadas, para que no ato da aplicação predeterminados, ou seja os percentuais de
das sobrecargas futuras o organismo esteja carga devem estar dentro dos padrões
em condições favoráveis para receber um relacionados ao desenvolvimento da
novo estímulo, com intensidade igual ou qualidade física alvo.
superior ao anterior aplicado.
O fenômeno da supercompensação
aplicado aos mecanismos energéticos
orgânicos, caracteriza-se por promover o
armazenamento a níveis ligeiramente acima
daquele encontrado durante o início do
treinamento. As reservas energéticas
estarão, após uma relação equilibrada entre
repouso e reposição alimentar adequada,
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Quadro 03 a
Sobrecarga de característica máxima
Fonte energética Anaeróbia láctica Anaeróbia láctica Aeróbia alática
(ATP-CP) (Glicogênio) (glicogênio e gorduras)
Recuperação 3 a 5 minutos 15 minutos a 2 horas 2 a 3 dias
Barbanti (1986).
Quadro 03 b
Carga de treinamento por sessão Tempo para restauração
Extrema Maior que 72 horas
Grande De 48h a 72h
Substancial De 24h a 48h
Média De 12h a 24h
Pequena Menor que 12horas
Zatsiorsky (1999, 2008).

Cada carga imposta ao organismo neutra e impossibilita a manutenção ou


produz respostas metabólicas, físicas e elevação de um estado de treinamento,
psicológicas específicas e em comum desta forma identifica-se um decréscimo no
acordo com a intensidade imposta. rendimento. Verifica-se uma queda na
Sobrecargas contra resistência (musculação) condição física mais acentuada nos
produzem modificações principalmente primeiros dias de sobrecargas de
sobre a estrutura proteica e metabolismo destreinamento, quando estas situam-se em
glicolítico ou anaeróbio da fibra muscular limiares próximos aos de repouso.
principalmente as do tipo IIb (IIX)1 e IIa, em *O conceito de sobrecarga proposto
contrapartida treinos cíclicos e contínuos de por Howley & Powers (2000), considera
baixa e média intensidade, estimulam apenas as cargas de trabalho, que impõem
melhorias sobre os aspectos metabólicos aos sistemas orgânicos e tecidos corporais,
aeróbios, sobre as fibras musculares do tipo um estímulo acima daquele limite, ao qual o
I, e sobre o sistema cardiopulmonar e organismo já esteja acostumado. Neste
circulatório. Verifica-se desta forma uma caso, seguindo-se o conceito proposto no
característica básica para o surgimento do presente parágrafo, os estímulos que
princípio da carga específica. provocam destreinamento não seriam
As sobrecargas de treinamento classificados como sobrecargas e sim como
segundo Zatsiorski (1999), podem ser estímulos débeis. Forçosamente, devemos
classificadas como sobrecarga estimulante, empregar a estas condições que propiciam
sobrecarga de manutenção ou sobrecarga ao estado de destreinamento, o conceito de
de destreinamento. A sobrecarga estimulante princípio da reversibilidade. Este princípio
é sempre mais elevada que o nível neutro e será abordado juntamente com o princípio
produz adaptações sobre o organismo. A da continuidade.
sobrecarga de manutenção é aquela onde o Abaixo no quadro 04 encontram-se
nível esta dentro da zona os percentuais de cargas relacionados para
neutra(compreende-se como zona neutra a o treinamento das valências físicas.
sobrecarga que não produz modificações
significativas nem positivas, nem negativas
sobre o organismo do atleta) e por este
motivo não estimula melhorias sobre o
organismo, havendo apenas a manutenção
do estado de treinamento. A sobrecarga de
destreinamento* localiza-se abaixo da zona

1 Nomenclatura atualizada segundo o publicado de


Howley & Franks (2008).
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Quadro 04
Valência física Repetições Grupos % de cargas
Força pura 1a3 4a6 90 a 100
Força dinâmica 4 a 10 3a6 70 a 89
Força explosiva 11 a 15 3a6 60 a 69
Resistência de força muscular localizada 16 a 20 2a4 50 a 59
Chiesa; 1999.

Busca-se na aplicação das cargas As cargas de trabalho devem ser


o momento mais propício e exato em que o contínuas e variadas na medida do possível.
organismo esteja em seu mais alto nível de A manutenção desta forma de dosagem de
recuperação física e psicológica. Esta forma cargas é o princípio da aplicação contínua
de aplicação das cargas é uma das das cargas. Cargas contínuas(estímulo de
variáveis que buscamos frequentemente treino permanente) criam a condição de
para elevar continuamente o nível de treinamento crônico ou prolongado e estão
rendimento. Esta forma de manipulação das diretamente relacionadas ao acumulo de
cargas é também aceita como um principio experiências motoras, que após serem
relacionado ao treinamento desportivo e assimiladas ao longo dos anos, serão
conceituado como princípio da sucessão perdidas na mesma proporção em que foram
exata das cargas. adquiridas em caso de interrupção do treino,
Há uma grande dificuldade em assim como, a recuperação será mais rápida
predeterminar o exato estado de após a retomada dos trabalhos, mesmo que
recuperação orgânico individual, por este em condições de intensidade inferiores.
fato devemos estar continuamente Durante o período programado de
indagando com os nossos alunos sobre transição do treinamento, não deve ser
sensações subjetivas relacionadas ao permitido ao atleta excluir-se dos treinos por
estado de ânimo, sono, cansaço ou dores, longos períodos, é preferível a redução dos
que podem ser de grande ajuda na trabalhos em termos de volume, para que
determinação de uma recuperação plena do não seja atingido o destreinamento, o qual
organismo. Períodos muito curtos ou ocorre com longos períodos de inatividade.
prolongados de inatividade, podem produzir Pelo motivo exposto acima, deve-se
as reações citadas. programar os treinamentos com
A recuperação plena do organismo antecedência suficiente, para que sejam
poderá ocorrer em momentos diferenciados, inclusos períodos mínimos de inatividade
e em relação direta aos fatores exógenos e durante todo o ciclo de treinamento. A
intensidade do treinamento, vide quadro mesma regra é válida não só para o período
03b, como sono adequado, alimentação de treinamento competitivo, mas também
balanceada e suficiente volume calórico, para todo o ciclo da vida humana. Não
estímulo ou sobrecarga muito forte e devemos manter os percentuais de
periódica etc. treinamento em níveis permanentes e muito
Para um controle mais racional menos as cargas serem fixas. A aplicação do
deve-se fazer uso constante dos testes para princípio das cargas variáveis ou variadas, é
a determinação do estado atual de para que não haja uma estabilização e
desempenho, e avaliar a evolução/involução acomodação (queda) e seja um estímulo
do mesmo em relação ao estado de permanente ao desenvolvimento do estado
desempenho no início de cada mesociclo de de treinamento.
treino. A comparação dos resultados pode Para que seja o estímulo de cargas
ser a luz para o acerto das sobrecargas que torne-se permanente e crescente há
visam a elevação máxima da qualidade variação entre estímulos fortes, médios, e
física alvo, e principalmente dentro do muito fortes, este ultimo, no caso de atletas
tempo previsto para o desempenho máximo. de elite. Saber manipular com exatidão as
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cargas de trabalho intenso e recuperativo fase competitiva, as respostas orgânicas


faz a diferença no produto final do positivas para o sucesso no
treinamento. desenvolvimento das mais altas
Os ciclos de treinamentos divididos performances não serão atingidas.
e organizados em microciclos de choque,
ordinário e recuperativo, criam as condições Princípio da continuidade/reversibilidade.
para um maior controle e menor erro sobre
a aplicação de cargas elevadas e As modificações induzidas pelo
intermediárias. A utilização de um ciclo de treinamento são transitórias ou passageiras.
treino ordinário com intensidade de estímulo Todas as características secundárias
forte é bem tolerado durante 04 a 06 adquiridas por meio do treino, perdem-se e
semanas consecutivas. Sucessivamente a retornam aos limites iniciais pré treinamento,
este período, aplicamos um trabalho com após determinado período de inatividade.
cargas de estímulo médio durante 04 Pelo motivo exposto há sempre a
semanas seguida de 2 a 4 semanas com necessidade de manutenção do treinamento
estímulo muito forte (neste caso as séries em níveis contínuos para a manutenção de
dos exercícios na musculação são repetidas um estado de treinamento mais elevado.
no máximo duas vezes na semana). A perda nos níveis de adaptação
Outra maneira de variação nas adquiridos no treino estão intimamente
cargas de treinamento para iniciantes é o relacionados ao período de tempo em que
treinamento em 4 semanas com estímulos foram adquiridos. Como regra como
médios, 4 semanas com estímulo forte e publicado em Zatsiorsk (1999): “Quanto mais
assim continuamente, até que identifique-se longo o período de treinamento mais longo
o inicio da estabilização no rendimento, com será o período de destreino”. De acordo com
as cargas de estímulo forte. A partir deste Barbanti (1986):”Toda aquisição que se
momento começamos a mesclar estímulos ganha lentamente e em um tempo
muito forte, durante ciclos de treinamentos prolongado mantém-se com mais facilidade
curtos de 1 semana, com estímulos fracos e perde-se com mais lentidão do que as
ou recuperativos de 1 a 2 semanas. aquisições conseguidas rapidamente e em
Como observado no parágrafo um tempo curto”.
anterior as cargas possuem características Alguns aspectos morfológicos e
diferenciadas, não sendo iguais mesmo funcionais como no caso das adaptações
durante o treino contínuo, pelo fato de os anaeróbias que perdem-se mais
atletas submeterem-se a competições com rapidamente do que as adaptações aeróbias
fases distintas de polimento e destreino e de força máxima. A hipertrofia muscular é
programado. Por estes motivos expostos tanto quanto vagarosa em sua evolução
surgiu o princípio da carga periódica. durante o treino quanto no destreinamento.
As sobrecargas devem ser Segundo Fleck & Kraemer (1999), a redução
programadas com antecedência no plano da força durante o destreino dá-se em uma
geral de treinamento em ordem direta com velocidade inferior quando comparada com o
as competições alvo, feito isto saberemos tempo para aquisição no treino. Vale
com exatidão os momentos oportunos para lembrar, que os níveis de força muscular em
a aplicação das sobrecargas específicas, períodos curtos de destreino, permanecem
visando o desenvolvimento da qualidade um pouco acima daqueles encontrados no
física mais importante para o presente pré treinamento.
momento. O estado de treinamento ideal Para evitar uma drástica perda nos
deverá ser atingido em comum acordo com níveis de força alcançados, e criando
práticas de sobrecargas adequadas de condições para preservar um declínio mais
treinamento e no período exato para a sua vagaroso da mesma, deve-se programar
utilização. Caso as cargas de treinamento períodos curtos de trabalhos contra
sejam de intensidade muito forte nos resistência. A atitude de criar microciclos
períodos iniciais ou mesmo débil durante a breves de treinamento de força, visando uma
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manutenção satisfatória da força com menor sobrecarga de trabalho(percentual de


perda momentânea, faz-se lógica, cargas), intervalos de repouso, velocidade
necessária e econômica, assim como de execução dos gestos etc.
aproveita de maneira otimizada os efeitos O volume de treinamento na
residuais do treinamento. atualidade encontra um lugar de destaque
Para a manutenção ou preservação tão alto quanto a intensidade. Em alguns
da força durante um breve período de esportes é elemento determinante do
destreino ou manutenção, deve-se trabalhar sucesso esportivo, e relacionado
contra resistência duas vezes por semana, diretamente com a quantidade de
salientamos que estas cargas de trabalhos treinamento alcançado no decorrer da
possuem baixo volume mas com preparação do atleta. Como exemplo os
intensidade elevada nos casos de atletas de esportes de resistência (maratona, esqui de
elite e praticantes assíduos. A escolha dos fundo, triatlon etc.) fazem parte desse seleto
exercícios torna-se valiosa, e é grupo.
imprescindível a presença dos exercícios
principais no caso de atletas de elite. Dá-se “Elevar o volume de treinamento é uma
preferência aos exercícios multiarticulares e necessidade para qualquer desporto ou
de grandes massas musculares, exceto nos evento aeróbio”, Bompa (2000).
casos específicos esportivos.
“Uma característica adicional de
Princípio da interdependência volume X treinamento, importante sob o ponto de vista
intensidade. prático, é o alto volume de treinamento ou a
quantidade total de peso levantado durante
O presente princípio baseia–se na
uma sessão de treinamento.” Zatsiorsky
relação ótima de aplicação do volume e da
(1999, 2008).
intensidade no treinamento, comumente,
sempre que o volume de treino eleva-se
reduz-se a intensidade. Como regra geral A intensidade do treinamento é
de segurança dá-se prioridade ao volume prioritária e inerente aos esportes de força e
nas primeiras modificações do treino, em velocidade, por este motivo há uma grande
seguida eleva-se a intensidade. preocupação com o controle das
Entendemos como volume a sobrecargas empregadas no cotidiano. Para
quantidade de treinamento, caracterizada que haja um acompanhamento periódico
por toda mudança ou modificação sobre a intensidade aplicada no treinamento
relacionada ao número de repetições por de força, devemos utilizar o calculo do
série de exercícios, número de exercícios coeficiente de intensidade por meio da
em cada série ou sequência, número de equação exposta no quadro 05a. No quadro
grupos, número de treinos diários, semanais 05b pode ser visualizada a resolução da
e mensais do macrociclo. equação por meio de uma situação
A intensidade é reconhecida como a hipotética.
qualidade do treinamento, possui estreita
relação com as manipulações sobre a

Quadro 05a

Coeficiente de intensidade em % =________ média de peso levantado Kg x 100 ______


Soma (cargas máximas) do desempenho atlético Kg
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Quadro 05b
Exercícios Cargas máximas em cada tentativa Carga máxima
a
1 2a 3a 4a
Arranque 100 120 126 130 130
Arremesso 130 140 145 150 150
Soma das cargas 1041 280
Média 10418 130,125

Coeficiente de intensidade em % : 130 x 100 = 46%


280

Busca-se excepcionalmente no “A elevação contínua do volume de


treinamento atual, a manutenção dos treinos treinamento é provavelmente uma das
de atletas de elite, um alto volume associado mais altas prioridades do treinamento
a uma intensidade também elevada. A contemporâneo”. Bompa (2000).
presente forma de estímulo só deve ser
utilizada durante períodos breves de treinos, No quadro 06 encontra-se um
e visam principalmente ultrapassar os limites modelo imaginário de mesociclo, com os
de estagnação ou estabilização da microciclos de intensidade e volume
performance física. elevados de treinamento.

Quadro 06
Mesociclo específico Percentual de cargas
Semanas Microciclos Volume Intensidade
1a Choque Alto Alta
a
2 Recuperativo Moderado Moderada
a
3 Choque Alto Alta
4a Recuperativo Moderado Moderada

Número de repetições por exercícios/ Fase aguda do treinamento


(atletas altamente experientes).

% de carga Repetições Repetições máximas


95 a 100 15 a 25 1a2
90 a 95 20 a 40 2a3
80 a 90 35 a 85 3a6
75 a 80 70 a 110 6 a 10
Hartmann & Tunnemann; 1988 in Bompa, 2001.

Princípio da especificidade dos específicos das fibras musculares que foram


movimentos. solicitadas nos treinos. Contrariamente, os
exercícios de resistência provocam
A aplicação de um estímulo de adaptações musculares sobre as
treinamento provoca sobre o organismo uma mitocôndrias e capilares para elevar a
resposta especifica e relacionada capacidade de gerar energia aeróbia.
diretamente à forma de exercício utilizado. A própria flexibilidade possui
Treinamento de força provoca adaptações elementos relacionados com as respostas
sobre os mecanismos neuromusculares, esperadas do treinamento. O treinamento de
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flexibilidade deve ser o mais próximo Como exemplo clássico da


possível da realidade do esporte praticado, especificidade do movimento temos
ou seja, a posição do movimento no treino naturalmente uma diferença no
poderá trazer respostas diferenciadas caso desenvolvimento da força, relacionada com
não esteja adequada à posição normalmente cada angulo do arco do jogo articular. Por
utilizada durante a prática esportiva. este fato, um treinamento voltado apenas
Segundo Weineck (1986), os fusos para o desenvolvimento das qualidades
musculares reagem de maneira semelhante físicas específicas do esporte, torna-se
àquela já habituada (treinada) e a cada novo pouco produtivo ou potencialmente inferior,
processo de utilização diferenciado, este caso não seja associado aos movimentos e
deve ser ajustado ou regulado mediante a gestos específicos esportivos. A biomecânica
nova exigência motora. esportiva possui elementos determinantes
Mesmo nas atividades com a mesma no momento da escolha dos exercícios, para
característica de movimento e energética, serem introduzidos e treinados a cada
obtêm-se respostas diferentes, e em comum período do programa geral de treinamento .
acordo com a exigência motora aplicada. Nadadores devem destinar a maior
Howley & Powers (2000), citam as parte do tempo do treinamento, realizando e
modificações induzidas por treinamento de aperfeiçoando o nado propriamente dito,
corrida e ciclismo, sobre o limiar de lactato corredores devem correr e assim
sanguíneo. Foram comparadas amostras logicamente os outros esportes devem fazer
por meio de testes realizados no início e no o mesmo, na aplicação dos gestos e das
final do tempo de treinamento. Os testes técnicas inerentes ao esporte.
foram realizados em tapete rolante e Na escolha dos exercícios para o
bicicleta. Respectivamente os resultados desenvolvimento dos jovens atletas, quase
foram: o treinamento de corrida aumentou todos os exercícios são benéficos, e
58%, e elevou em 20% os resultados dos proporcionam melhorias da performance,
testes na esteira e na bicicleta. O devendo ser usados na formação física de
treinamento de ciclismo elevou em 39% os base ou geral durante os primeiros anos de
resultados na bicicleta sem nenhuma desenvolvimento esportivo. À medida que o
melhoria no limiar na esteira. atleta aproxima-se de seu limite máximo
geneticamente determinado, e passa a
“A transferência dos ganhos de treinamento competir rotineiramente buscando a
pode diferir significativamente, mesmo em superação de recordes, surge a necessidade
exercícios muito similares”. Zatsiorsky (1999, de otimizar a escolha dos exercícios, para
2008). que os mesmos sejam produtivos na
elevação do estado de treinamento.
Há possibilidade de incrementarmos A complexidade do exercício torna-o
melhorias, sobre resultados de treinamento cada vez mais estressante no decorrer do
de endurance aeróbia geral, quando esta for treinamento. À medida que os exercícios
treinada paralelamente e principalmente em complexos são introduzidos no treinamento,
dias alternados, com a força muscular, neste de forma lenta e gradual, passam a ser
caso, detectamos uma transferência positiva melhor compreendidos e assimilados por
da forma de treinamento e não da parte do organismo do atleta, tornando-se
especificidade do treino, justificando a mais plástico e até certo ponto, realizado de
utilização momentânea do Crosstraining modo intuitivo.
(treinamento cruzado), neste caso em As exigências para o treino de alta
particular. Necessitamos ainda de mais complexidade técnica são inerentes aos
pesquisas relacionadas à possível síndrome esportes competitivos. Os treinamentos
de transferência positiva para varias técnicos devem ser precedidos por período
atividades de treinamento cruzado ou de repouso pleno, para que a assimilação
combinado. pelo sistema nervoso central dos engramas
motores dos gestos, seja facilitada e não
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possua interferências geradas especificamente exercícios biarticulares. A


principalmente por cansaço extremo e baixa inclusão dos exercícios que envolvam os
adaptação. músculos de característica de sustentação
corporal como coxas, glúteos, lombares,
“A transferência do ganho de treinamento é abdominais, dorsais superiores e
baixa em bons atletas; para iniciantes quase ombros, devem sempre estar presentes
todos exercícios são úteis”. Zatsiorsky (1999, nesta série, caso não haja impedimentos de
2008). ordem anatomopatológica, para a inclusão
dos mesmos.
Os exercícios para desenvolvimento
da velocidade de deslocamento, da força 5. Sequência Prioritária- a escolha dos
explosiva e coordenação motora, devem ser exercícios dá-se frente a uma exigência
introduzidos no início da sessão de específica sobre um grupamento ou região
treinamento, exceto nos casos em que visa- muscular previamente selecionado. Neste
se a capacidade de resistência ou exemplo os exercícios são aglomerados
manutenção da eficiência dos gestos sobre em função da característica de atuação do
estresse ou fadiga competitiva. mesmo grupo muscular sobre os
O presente princípio é responsável movimentos.
pela orientação na criação/montagem de
séries/sequências de exercícios, na forma de 6. Sequência Parcelada- os exercícios
aplicação prática, durante os treinos contra são dispostos em series distintas e
resistência. Em função direta com os divididos ou distribuídos ao longo do dia
períodos ou fases de treinamento, deve-se (manhã, tarde , noite) ou durante a semana
selecionar e utilizar sequências específicas e de treino. Treinos ao longo do dia são
ou indicadas à realidade momentânea do basicamente utilizados por halterofilistas. A
condicionamento físico ou estado de forma parcelada semanalmente é alvo
treinamento do aluno/atleta. Abaixo foram principal dos culturistas, por proporcionar
enumeradas algumas das possíveis maior período de repouso entre as
divisões, que podem ser, utilizadas no ato da solicitações dos grupos musculares
confecção das séries ou sequências de selecionados em cada série. A presente
exercícios. série também poderá ser utilizada nos
trabalhos da musculação atual, nos casos de
3. Sequência Simples ou alternada por indivíduos que treinam a partir de três (03)
articulação- realiza-se um exercício numa dias semanais. Deve-se dividir a série com
região articular, o próximo será executado muita atenção e cuidado, garantindo que os
noutra região distinta, após repouso músculos sejam solicitados em um mínimo
predeterminado antecipadamente. Alterna-se ideal de duas vezes, durante a semana.
progressivamente os exercícios durante a
realização de toda a sequência. Utiliza-se 7. Sequência Seletiva- faz-se a seleção de
esta forma de treinamento, principalmente, exercícios de característica biarticular ou
para alunos iniciantes, objetivando, por meio multiarticular, com esse treinamento visa-
da alternância de grupos musculares, não se atingir estados de fadiga extremos sobre
elevar demasiadamente o nível de fadiga os músculos selecionados. Ao final da
local. Os treinamentos visando força realização do número de repetições
máxima, força explosiva e força dinâmica predeterminados para cada grupo, aplica-
são beneficiados quando há baixo nível de se duas contrações de caráter estático ou
fadiga no momento da realização da isométrico em torno de 08 a 10 segundos.
exigência motora. Esta maneira de montagem e execução dos
exercícios deve ser encorajada apenas aos
4. Sequência Básica- dá-se ênfase aos alunos experientes ou em fase de
exercícios que envolvam os grandes treinamento específico.
grupos ou cadeias musculares,
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mesma forma, que a série do parágrafo


8. Sequência Associada à articulação anterior.
adjacente- o segundo exercício é composto Observamos no decorrer do
pela articulação que foi utilizada durante o presente texto que os princípios do
primeiro exercício, e adicionada a uma treinamento desportivo e musculação são
articulação próxima ou adjacente, visando a inter-relacionados, e não há a possibilidade
manutenção máxima do fluxo sanguíneo na de exclusão de algum. Sempre um princípio
região articular promovendo maior estará em conformidade com os outros, e
vascularização, por intermédio de elevação caso não sejam respeitados e dentro de uma
na hiperemia local. lógica ou controle racional, cria-se com esta
atitude de negligência, as condições exatas
Exemplo 1: para a instalação de lesões e ou mesmo,
1º Rosca direta. não atingir o maior rendimento individual
2º barra livre. predeterminado geneticamente.
Conhecer e dominar os princípios
Exemplo 2: básicos do treinamento desportivo e
1º Extensora musculação, assim como, aplicá-los
2º Leg press baixo. coerentemente, é parte integrante de um
conjunto de situações reais que devem
Exemplo 3: sempre nortear os caminhos de um
1º Glúteos Apolete. treinador.
2º Agachamento (Smith machine), posição O profissional de Educação Física
em split. deve estar preparado e fundamentado nos
princípios teóricos acima expostos, para
trilhar seguro e cientificamente alicerçado,
9. Sequência Alternada por origem e visando obter sucesso, por meio do controle
inserção muscular- esta forma de sobre os mecanismos fisiológicos,
ordenação é aplicada utilizando-se os psicológicos e sociais, que incidem sobre as
exercícios que envolvem cadeias respostas orgânicas. O controle, sobre as
musculares de característica biarticular. reações do organismo aos treinos aplicados,
Comumente haverá alternância entre o é decisivo para elevar de forma segura o
trabalho inicial ser sobre a origem ou a estado de treinamento dos educandos.
inserção, não havendo uma regra especifica Sempre que for alcançado um degrau a mais
determinante. na escada que conduz ao equilíbrio entre a
condição física, psíquica, social e espiritual,
Exemplo 1: obteremos por meio deste degrau a certeza
1º Abdominal supra. do cumprimento da tarefa
2º Abdominal infra. técnico/profissional de Educação Física.

10. Sequência Continuada, bombeada ou


localizada por articulação- há uma
exploração “máxima” dos movimentos
permitidos por uma articulação. A forma
de montagem da série geralmente utiliza
movimentos ou músculos opostos sobre a
mesma articulação ou seja
agonista/antagonista, podendo-se aplicar
ou excluir os intervalos de recuperação,
entre os exercícios opostos. A característica
de manutenção de hiperemia muscular no
grupamento muscular utilizado é o alvo, da
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SISTEMA PROFISSIONAL DE ORIENTAÇÃO, PERIODIZAÇÃO, PRESCRIÇÃO E CONTROLE DO


TREINAMENTO DE MUSCULAÇÃO EM ACADEMIAS.

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