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Conforme o exposto, podemos verificar o crescente número de

crimes praticados através da internet, e como eles são cada vez mais diversificados.
Atendo-nos ao nosso foco, referente aos crimes contra a imagem, percebemos que a
cultura do anonimato gerou na sociedade um sentimento de impunidade, por acreditar-
se que o que se pratica via rede nunca será descoberto. Com isso temos duas situações:
primeiro os praticantes estão seguros de que podem praticar quaisquer atos sem risco de
serem descobertos ou punidos, e por outro lado, as vítimas não procuram reparação ou
amparo por esse mesmo motivo.
Há algum tempo, no início da era da informática, ou digital, no
Brasil, em meados da década de 90, sendo tudo novidade e não tão divulgado, surgiu
uma cultura onde as pessoas acreditavam que o que se fazia pelo computador não
poderia ser descoberto ou rastreado, e com isso se sentiam à vontade para praticar
qualquer ato. Com o passar do tempo, a modernização da informática, a abrangência do
uso da internet, praticamente todas as pessoas passaram a ter acesso a esses recursos de
comunicação. Porém, a crença da proteção do anonimato gerou um sentimento de
liberdade, onde muitas vezes aqueles que não tinham coragem de se expor abertamente,
utilizavam-se desse recurso para externar sentimentos e opiniões.
Com isso, surgiu um grande problema, porquanto em diversas
ocasiões essa liberdade ultrapassa o limite da liberdade de expressão, saindo do campo
do direito de manifestar-se e invadindo o direito de imagem do outro. Isso nos leva ao
tema do presente estudo: a linha tênue que separa esses dois direitos, dentro do contexto
virtual, e se o comportamento da vítima possibilita, ou até mesmo facilita ou sugere a
prática de crimes virtuais.
Vejamos uma publicação do site TecMundo, de agosto de 2015,
onde a manifestação do Deputado Claudio Cajado, no sentido de instituir medidas
protetivas no âmbito da internet, sofreu duras críticas, devido sua intenção:

O deputado Cláudio Cajado (DEM-BA), acusado desde 2013 por


corrupção eleitoral e falsidade documental, deve apresentar em breve
um projeto de lei que institui punição para internautas que ofendam
figuras políticas na web. As informações são do site Congresso em
Foco, que afirma ter entrevistado o procurador com exclusividade.

De acordo com Cajado, a ideia é facilitar a retirada de “postagens


ofensivas” contra políticos não apenas em redes sociais, mas também
em sites e pequenos blogs pessoais. Para isso, o deputado planeja
também realizar alterações no Marco Civil da Internet. Se aprovado, o
projeto de lei responsabilizará também provedores de internet e
portais de conteúdo, que serão obrigados a retirar a mensagem
ofensiva o mais rápido possível.

Dessa forma, caso um internauta crie um perfil falso (o famoso fake)


no Facebook para propagar mensagens negativas sobre algum político,
a própria rede social será notificada e deverá excluir as publicações,
por exemplo. O usuário em si também poderá responder a processos
penais e civis. Para Cajado, a medida também protegerá o internauta
“do bem”, já que esse sistema facilitará o extermínio de fakes que
promovem o ódio na web.

Para o azar do povo brasileiro, o projeto de Cláudio Cajado já tem o


apoio de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), atual presidente da Câmara dos
Deputados, mesmo que o documento ainda não esteja finalizado. Após
ser apresentada formalmente, a ideia deve ser votada em caráter de
urgência, visto que ela possui caráter institucional por representar a
Procuradoria Parlamentar (setor cuja finalidade é “defender a Câmara
dos Deputados, seus órgãos e seus integrantes no exercício do
mandato ou de suas funções institucionais, quando atingidos em sua
honra ou imagem perante a sociedade”).

Essa não é a primeira vez que Cajado cria polêmica após propor
medidas de censura na internet. Em 2013, o procurador quis fechar um
acordo com a Google para facilitar a retirada de vídeos do YouTube e
postagens no Blogger que, em sua avaliação, representassem
mensagens de calúnia, injúria ou difamação aos seus colegas
congressistas. Talvez para evitar a propagação das acusações de
corrupção, quem sabe?

Nesse caso podemos discutir o tema em pauta. Sendo o referido


deputado um investigado por corrupção eleitoral e falsidade documental, veio por via
rede divulgar seu interesse em criar Lei para punir quem critica personalidades políticas
na web. Estando na condição de investigado, já enfrentando duras críticas, inclusive em
redes sociais, se expõe dessa maneira, e por essa exposição recebeu ainda mais críticas.

Casos relacionados á orientação política são sempre muito polêmicos,


e aproveitando-se da liberdade política, muitas pessoas se sentem à vontade para
criticar, sem se importar com o limite dessa liberdade. Em outras áreas também se
verifica essa dificuldade de compreensão do que extrapola os limites do direito de
opinião, como em casos de família, ou até mesmo grupos em redes sociais.

Ilustrando os diversos campos em que se verifica o uso da liberdade de


expressão como “arma” para a prática de crimes relacionados ao direito de imagem,
vejamos o artigo seguinte:

As brincadeiras com montagens de fotos na internet ou comentários


raivosos em um site de relacionamentos são tão difamatórios quanto
as ofensas feitas pessoalmente. É o que entenderam os juízes do
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) em três
casos julgados, nesta semana, na capital do país. Em todos eles, os
réus acabaram condenados a pagar indenizações em dinheiro às
vítimas. A prática está em ascensão no DF. Dados da Polícia Civil
apontam para aumento de 12% nas denúncias recebidas pelas
delegacias candangas na comparação entre 2008 e 2009.

A tendência dos magistrados hoje é encaixar os crimes de má conduta


na internet na legislação existente — isso porque se trata de um novo
tipo de agressão sem previsão específica no Código Penal Brasileiro.
Foi o que aconteceu em um caso julgado pelo Juizado Especial Cível
de Planaltina. Uma sobrinha foi condenada a pagar R$ 700 em
indenização ao tio. Por desavenças na família, a jovem postou uma
foto da vítima no site de relacionamentos Orkut, em que ele aparece
com um cifrão estampado no rosto. A intenção da menina era chamá-
lo de mercenário por conta de um inventário. Ofendido, ele processou
a sobrinha e entrou com uma ação por danos morais, mesmo ela
retirando a imagem em seguida.

Outro caso ocorreu na Universidade de Brasília (UnB). A professora


de tecnologia farmacêutica foi alvo de críticas de um grupo de
discussão virtual. Pediu, assim, R$ 13 mil de indenização. O processo
aberto contra 17 alunos se arrasta desde 2005 e ainda cabe recurso. A
educadora venceu em primeira instância. A decisão judicial
determinou que os estudantes pagassem R$ 8,5 mil à vítima.

História parecida de agressão virtual se repetiu no Condomínio Ville


de Montaigne, no Lago Sul, onde um morador acabou condenado a
pagar R$ 8 mil. A diretoria do conjunto habitacional se sentiu
ofendida por conta de comentários publicados em um site, nos quais
ele lançou dúvidas quanto à administração da associação. O réu
questionou contratos, aquisição de contêineres e emissão de notas
fiscais. A sentença deixou claro que a punição não seguiu contra a
livre manifestação de pensamento, mas que “essa não deve ser
exercida de maneira absoluta, devendo sempre se pautar pela
observância da inviolabilidade da honra e da imagem das pessoas”.
Fenômeno brasileiro É um site de relacionamentos criado em 2004
pelo engenheiro turco da Google Orkut Büyükkokten. É o maior site
de relacionamentos no Brasil, com 52 milhões de usuários, sendo
53,48% com idades entre 18 e 25 anos.
O que diz a lei O crime contra a honra figura no Código Penal e
prevê condenação em caso de calúnia, difamação e injúria. Essa
última é a ofensa a uma pessoa. A difamação ocorre sem que seja
dirigida a uma pessoa, além de mudar a imagem da vítima em relação
àqueles que a cercam. A calúnia ocorre quando se imputa a uma
pessoa algo falso tipificado como crime. Quem é vítima de crime
contra a honra pode pedir indenização por danos morais previsto no
Código Civil.
Liberdade de expressão Segundo especialistas em crimes
cibernéticos, as indenizações servem para chamar a atenção de que má
conduta é punida independentemente do meio em que é cometida. O
advogado Alexandre Atheniense lembra que, diferentemente de outros
delitos virtuais ainda sem legislação (veja ilustração), difamação,
injúria e calúnia na rede virtual se encaixam em leis dos códigos Penal
e Civil. “A internet gera a falsa impressão de que é um ambiente
qualquer. Na rede, a ofensa continua”, explicou.
Quando uma pessoa é difamada ou caluniada, ela sofre o que a
legislação brasileira tipifica como crime contra a honra. Esse tipo de
delito na internet cresceu 12% no Distrito Federal, segundo mostra
levantamento da Divisão de Repressão aos Crimes de Alta Tecnologia
(Dicat) da Polícia Civil do Distrito Federal. A unidade especializada
registrou 152 denúncias em 2008. O número subiu para 170 no ano
seguinte. “O maior acesso à rede, e a internet vista como um ambiente
de crime aumentam as denúncias”, explicou o diretor da Dicat, Silvio
Cerqueira.
O mito de que a internet é um mundo sem lei contribui para os casos
de ofensas na rede. “Como estão em um meio eletrônico, as pessoas se
inflamam mais e passam dos limites”, avaliou o advogado Atheniense.
O anonimato, assim, também pode ser visto como um aliado dos
agressores. Porém, o delegado Cerqueira lembrou que, apesar dos
falsos nomes usados na internet, é possível localizar os autores dos
crimes com a ajuda dos provedores. Se a Justiça determinar, os
domínios virtuais liberam a identidade do usuário, o registro do IP, o
dia e a hora de acesso, telefone e endereço da pessoa.
Apesar das sentenças favorecerem os ofendidos na rede, os
especialistas defendem que a liberdade de expressão não está
ameaçada. A dica é tomar cuidado com o conteúdo postado. “Não
precisa ser radical. Não é proibido colocar piada, brincar, se
manifestar. É só medir as palavras com terceiros na internet”, lembrou
o advogado Rodrigo Arraes. Para os que se sentirem agredidos, o
conselho da Dicat é procurar a delegacia mais próxima e levar a
página da internet impressa com a ofensa.
Identificação
O Internet Protocol é o endereço que identifica o computador usado
em uma rede privada ou pública. Cada máquina, por exemplo, tem o
próprio IP.

Agora, passamos a analisar um caso de grande repercussão


nacional, que culminou na aprovação da chamada Lei Carolina Dieckmann, por ter
como vítima e personagem principal, a referida atriz:

A polícia encontrou quatro suspeitos de terem roubado fotos íntimas do


computador de Carolina Dieckmann em março e depois as terem
divulgado na internet, em 7 de maio, após tentativa de extorsão. De acordo
com a investigação, acompanhada de perto com exclusividade pelo
Fantástico neste domingo (13), hackers do interior de Minas Gerais e São
Paulo invadiram o e-mail da atriz e pegaram as imagens. Isso descarta a
suspeita inicial sobre funcionários de uma loja de assistência técnica
no Rio de Janeiro onde Dieckmann havia deixado o laptop para consertar,
há dois meses.
Um grupo especializado da Delegacia de Repressão aos Crimes de
Informática (DRCI) da Polícia Civil do Rio usou programas de contra-
espionagem para chegar aos suspeitos. De acordo com a investigação, o
roubo teria começado com um e-mail usado como isca (spam), que ao ser
aberto liberou uma porta para a instalação de um programa que permitiu
aos hackers entrarem no computador da atriz.
“A vítima fatalmente clicou nesse spam”, explicou o delegado Rodrigo de
Souza Valle. “Provavelmente ela deixou esse arquivo ser reenviado para o
autor.” Uma varredura feita no computador da atriz detectou que o invasor
furtou, ao todo, 60 arquivos. O primeiro suspeito encontrado foi Diego
Fernando Cruz, de 25 anos, que teria sido o primeiro a divulgar as fotos na
internet. Com um mandado de busca e apreensão, os policias entraram no
quarto dele, em Macatuba, no interior de São Paulo. No local, foram
encontrados CDs, softwares e cinco computadores. Um laptop estava
aberto em uma página só com fotos da atriz. Uma das pastas de arquivo
estava nomeada como "Carola", mas a maioria dos arquivos tinha sido
completamente apagada. “Formatei ontem”, disse Diego.
Outros três rapazes estão entre os suspeitos. Um deles é menor de idade e
teria sido o autor das ligações para chantagear a atriz, com o pedido de R$
10 mil para que as fotos não fossem publicadas.
O principal suspeito de ter invadido o computador e furtado as fotos da
atriz é Leonan Santos, de 20 anos. O jovem, que vive numa casa simples
em Córrego Dantas, em Minas Gerais, contou que já é investigado em
outra ação de hackers, que teriam desviado dinheiro de um banco pela
internet, mas se disse inocente.
Pedro Henrique Mathias seria o dono do site que publicou as fotos. O
quarto integrante não teve a identidade revelada pela polícia.
Os investigadores interceptaram uma troca de mensagens pela internet
entre o grupo, em que Diego admite a divulgação das fotos: “Eu passei
‘pro’ cara na quinta (3) à noite. Ele pôs no site dele na sexta (4) de tarde.
Na mesma hora estava em todos os jornais”.
Em outro bate-papo, Diego diz a Pedro Henrique como teriam conseguido
as fotos. “Foi apenas invasão de e-mail, não de PC (computador). Ela tinha
que ter cuidado de apagar, né? Acho que ele pegou nos (itens) enviados
dela.”
Foi nas informações deixadas pelos próprios hackers nos acessos aos e-
mails de Dieckmann que os investigadores encontraram uma espécie de
impressão digital eletrônica (IP) dos suspeitos.
Nas conversas, Diego demonstra preocupação com a extorsão que Pedro
Henrique demonstra não saber que havia acontecido. “A pena grave aí é
essa extorsão. Isso aí eu nunca fiz”, escreveu Diego. “Prevejo problemas.
Viu o noticiário? Ela (Dieckmann) alega ter sido chantageada. Aí a coisa
muda de figura”, disse Pedro Henrique.
O grupo de hackers descobriu que era investigado e também falou sobre o
assunto no bate-papo. “O trem ficou sério, hein? Em uns dias ‘tá’ a PF
(Polícia Federal) interrogando a gente. Hehehe”, riu o rapaz não
identificado, que parecida duvidar que seria pego. “Vai dar nada, não.”
Poucos dias depois, no entanto, a polícia chegou até os suspeitos. “Eles não
esperavam que fossem ser pegos. Acreditavam que a polícia não teria
recurso de detectar a ação”, explicou o inspetor. “Deixaram rastro. Todo
crime sempre tem um vestígio. Na internet não é diferente.”
O Brasil não tem lei específica para crimes de informática. A Justiça se
baseia no código penal e, no caso da atriz, os envolvidos serão indiciados
por furto, extorsão qualificada e difamação, de acordo com a Polícia Civil.
O caso Carolina Dieckmann procurou a polícia no dia 7 de maio, data do
início das investigações comandadas pelo delegado Gilson Perdigão.
Trinta e seis fotos pessoais da atriz foram publicadas na internet três dias
antes, inclusive imagens ao lado do filho de quatro anos, o que, segundo o
advogado dela, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, “agrava de
forma substancial o crime”
A atriz recebeu ameaças de extorsão desde o fim de março, mas disse que
não havia registrado queixa antes para evitar mais exposição.
Na delegacia, contou que estava tendo problemas nas suas contas em sites
de relacionamentos desde o ano passado. Contou também que a
empregada atendeu o telefonema de um homem que dizia ter fotos dela.
Em seguida, o hacker teria enviado duas imagens por e-mail para o
empresário de Carolina, por meio da conta
vempropapai200101@hotmail.com. Para não divulgá-las, pediu R$ 10 mil.
A primeira suspeita foi de que as fotos pudessem ter sido copiadas há dois
meses, quando o computador portátil foi levado para conserto. “A gente
tem informação de que o computador foi arrumado. Essa é uma das
questões que estão sendo levantadas, mas a investigação da polícia é muito
mais ampla”, explicou, na época, o advogado. Técnicos e responsáveis
pela loja chegaram a ser ouvidos.
Os dois sites que publicaram as fotos inicialmente foram contatados por
Kakay e logo retiraram as fotos. Os advogados agora negociam com o
Google para que as buscas não levem os internautas até sites que ainda
divulgam as fotos.

Nesse artigo podemos observar dois dos pontos já abordados


anteriormente, quais sejam, o desejo íntimo das pessoas de se exporem, mesmo que seja
sem intuito de divulgação, e a crença da imunidade devido ao anonimato.
Sendo a atriz Carolina Dieckmann uma pessoa famosa e conhecida
nacionalmente, seria de se esperar que mantivesse uma conduta mais restrita, de forma a
assegurar sua imagem. Por outro lado, sendo uma cidadã, goza de todos os direitos e
garantias que dispõe a Constituição Federal, não sento o fato de se ruma figura publica,
um aval para que sua imagem seja divulgada, muito menos referente à sua intimidade.
Usando esse fato como referência, passamos agora a discutir de forma
mais direta o tema central deste estudo: Concorreu a “vítima” para a configuração do
delito?

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