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“Vivemos no melhor dos mundos possíveis” é uma frase bem conhecida. Sua autoria é do filósofo, cientista,
matemático e diplomata Leibniz. A razão de tanto otimismo talvez possa ser explicada pelo fato de que ele pôde
ter uma vida tranquila e confortável, afinal Leibniz era um protegido dos aristocratas do ducado de Brunswick,
quando ainda existia o Sacro Império Romano-Germânico. Religioso, acreditava na intervenção divina, sempre
com as melhores das intenções, visando o bem de todos.
Ainda hoje essa visão do mundo baseada em sua própria bolha é comum,
principalmente entre os ricos e a classe média. Os ricos por motivos óbvios, afinal
eles que detêm todos os meios materiais e imateriais que garantem uma vida
nababesca no topo da hierarquia social; já a classe média por estar dentro da
esfera do consumo e poder sonhar que um dia também poderá estar no topo
dessa pirâmide. Assim como Leibniz, essas duas classes, graças a uma vida
privilegiada que possuem numa sociedade marcada pela desigualdade social e
marginalização, costumam possuir uma visão e filosofia “umbiguistas” do mundo,
logo, para elas, este há de ser o melhor dos mundos possíveis e praticamente
nada precisa ser mudado.
Já os que ficam prejudicados por conta dessa hierarquia na qual apenas uma
minoria se dá bem, caso questionem ou ameacem essa ordem, logo são taxados O otimista filósofo Gottfried Wilhelm
Leibniz (Leipzig, 1/07/1646 –
de vagabundos ou considerados caso de polícia. O problema nunca é a ilusão do Hanôver, 14/11/1716)
“Paraíso”, mas sim a realidade que bate à porta, que mostra ser esse Éden na
verdade uma ilha exclusiva para privilegiados.
E a realidade é extremamente preocupante: segundo o último relatório do Credit Suisse, 1% da população mundial
concentra metade de toda a riqueza do planeta. Definitivamente há algo de errado no “Paraíso”… O “melhor dos
mundos possíveis” é totalmente dependente de muros, câmeras de vigília, polícia, milícias privadas, drones e
exércitos para conseguir existir.
A seguir podemos conferir essa realidade inconveniente, que é a periferia do sistema na qual vive a maioria da
humanidade e os ecossistemas em risco.
Crianças nadando no lixo a procura de algo que possam vender, nas Filipinas.
Neste país a pobreza teve um aumento de 0,7% em 2012. Tanta pobreza provocou um êxodo, fazendo muitos
mexicanos arriscarem suas vidas imigrando ilegalmente para os EUA. Hoje os mexicanos e seus descendentes
formam mais de 11 milhões de habitantes da população desse país. Porém, mesmo no “paraíso” há problemas…
Favela de Guryong, na Coréia do Sul, país onde mais de 15% da população vive abaixo da linha da pobreza.
Crianças brincando na cidade murada de Kowloon, uma das favelas verticais de Hong Kong, na China.
6. Excluídos na Austrália
A cada ano milhões de toneladas de lixo eletrônico (e tóxico) produzidos pelo Ocidente são exportados
ilegalmente para a África, sendo Ghana um dos principais destinos.
Foi prometido para a Romênia maior geração de riqueza caso o país se submetesse a políticas de austeridade (o
que acontece no Brasil hoje). Resultado: aumento da pobreza e, consequentemente, aumento do tráfico humano.
Segundo relatório do Eurostat, a Romênia está entre os cinco países onde mais ocorre tráfico humano do mundo.
Quem mais sofre são as mulheres jovens, as maiores vítimas do tráfico sexual.
9. Marginalizados no Panamá.
07/08/2017 Vivemos o melhor dos mundos possíveis? Voltaire nos ajuda a responder.
O Panamá é a prova de que mesmo um país dando total liberdade para o capital financeiro, isso não se reverte
em melhorias para sua população. Na verdade, que sai ganhando são os bilionários do mundo todo, como mostrou
o escândalo do Panamá Papers.
Tamanduá-mirim fugindo de uma floresta em chamas. Todo queimado e cego. Sua posição na foto (de 2007) é de
defesa, demonstrando o stress do animal. Desde então as queimadas no Brasil continuam e aumentam cada vez
mais. Em 2016 elas tiveram um aumento de 65% em relação a 2015, tudo para atender os interesses do
“agronegócio”, como a pecuária extensiva e plantation de soja.
Pessoas sem-teto em Kamagasaki, no Japão. Uma em cada seis pessoas vivem abaixo da linha da pobreza na
terra do sol nascente.
Refugiado sírio com seu filho. Segundo a ONU, existem mais de 65 milhões de refugiados no mundo (quase a
população da França), fugindo da miséria e das guerras existentes na imensa periferia do sistema para seu
próspero e pequeno centro.
Crianças trabalhando ilegalmente numa numa obra em Delhi, na Índia. Já estamos entrando na quarta Revolução
Industrial e a promessa de que no capitalismo o trabalho infantil seria extinto em todo mundo graças ao avanço
das tecnologias ainda não se cumpriu (e onde as crianças não trabalham é mérito das lutas trabalhistas). Hoje em
torno de 215 milhões são obrigadas a trabalhar, e a maior parte delas em tempo integral.
Uma ursa polar raquítica na região ártica da Svalbad na Noruega (foto de Kerstin Langenberger).
Devido ao degelo causado pelo aquecimento global, muitos ursos polares ficam isolados, tendo menos acesso a
comida. As mais prejudicadas são as fêmeas e os filhotes, que acabam em sua maioria morrendo. Abaixo, uma
análise da temperatura global desde 1850, mostrando que o aquecimento global é uma realidade.
07/08/2017 Vivemos o melhor dos mundos possíveis? Voltaire nos ajuda a responder.
Mãe enterra seu filho morto pela fome no Quênia. Com a atual produção de alimentos hoje já seria possível a
erradicação da fome em todo o mundo, no entanto em torno de 795 milhões de pessoas sofrem de subnutrição e
21 mil crianças morrem de fome diariamente no planeta.
Homem prestes a ser decapitado por um integrante do ISIS, no Qatar. A principal causa do surgimento do ISIS é a
intervenção do Ocidente no Oriente Médio, em especial os EUA.
07/08/2017 Vivemos o melhor dos mundos possíveis? Voltaire nos ajuda a responder.
Filhote de foca com um pedaço de plástico envolta do pescoço. Conforme o filhote cresce, mais fica estrangulado.
Cerca de 8 milhões de toneladas de plástico são jogados nos oceanos a cada ano, e a previsão para 2050 é de
que tenha mais plástico nos oceanos do que peixes.
O rio Ranchería, na região de La Guajira, na Colômbia, era a principal fonte de subsistência da tribo indígena
Wayúu. Sua privatização para o agronegócio local e para a maior mineradora de carbono do mundo, provocou a
morte por inanição de 14 mil crianças indígenas.
07/08/2017 Vivemos o melhor dos mundos possíveis? Voltaire nos ajuda a responder.
Fila numa agência de emprego na Espanha. Em 2013 o desemprego entre os jovens espanhóis chegou a 56.1%.
E enganam-se aqueles que acreditam ser apenas um problema espanhol. Com a Quarta Revolução Industrial, é
iminente uma crise de desemprego em todo o mundo.
Por fim, o risco do derretimento do Permafrost (localizado em sua maior parte no território da Rússia) devido ao
efeito estufa, o que traria consequências trágicas. Seu derretimento liberaria grandes quantidades de dióxido de
carbono e de metano na atmosfera, acelerando o processo de aquecimento global. Ainda há o risco da liberação de
07/08/2017 Vivemos o melhor dos mundos possíveis? Voltaire nos ajuda a responder.
microrganismos congelados há milhares de anos, o que poderia causar epidemias fatais para a espécie humana.
Ou seja, o derretimento do Permafrost pode colocar em risco a existência da própria humanidade.
Em 1755 ocorreu um terremoto em Lisboa que matou aproximadamente 10 mil pessoas. Na época, todos os
acontecimentos, bons ou maus, eram atribuídos à vontade divina. O iluminista Voltaire fez uma reflexão sobre o
papel da religiosidade nas tragédias humanas em sua obra Poema Sobre o Desastre de Lisboa, na qual cita
Epicuro:
“Deus deseja prevenir o mal, mas não é capaz? Então não é onipotente. É capaz, mas não deseja? Então é
malevolente. É capaz e deseja? Então por que o mal existe? Não é capaz e nem deseja? Então por que lhe
chamamos Deus? “
Como concluí Cândido, temos que cuidar do nosso jardim, e isso implica em questionar o atual sistema e começar
a pensar nas alternativas.
• Cândido, de Voltaire
• Planeta Favela, de Mike Davis