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1ª Edição
Criado no Brasil
Sumário
Dedicatória
Playlist
Sinopse
Prólogo
Dylan
Capítulo 1
Dylan
Capítulo 2
Dylan
Capítulo 3
Dylan
Capitulo 4
Ayla
Capítulo 5
Dylan
Capítulo 6
Ayla
Capítulo 7
Dylan
Capítulo 8
Ayla
Capítulo 9
Dylan
Capítulo 10
Ayla
Capítulo 11
Dylan
Capítulo 12
Ayla
Capítulo 13
Dylan
Capítulo 14
Ayla
Capítulo 15
Dylan
Capítulo 16
Ayla
Capítulo 17
Dylan
Capítulo 18
Ayla
Capítulo 19
Dylan
Capítulo 20
Ayla
Capítulo 21
Dylan
Capítulo 22
Ayla
Capítulo 23
Dylan
Capítulo 24
Ayla
Capítulo 25
Dylan
Capítulo 26
Ayla
Capítulo 27
Dylan
Capítulo 28
Ayla
Capítulo 29
Dylan
Capítulo 30
Dylan
Capítulo 31
Ayla
Capítulo 32
Dylan
Capítulo 33
Ayla
Capítulo 34
Dylan
Capítulo 35
Ayla
Capítulo 36
Dylan
Capítulo 37
Dylan
Capítulo 38
Ayla
Capítulo 39
Ayla
Capítulo 40
Dylan
Capítulo 41
Ayla
Capítulo 42
Dylan
Capítulo 43
Ayla
Capítulo 44
Dylan
Capítulo 45
Ayla
Capítulo 46
Ayla
Dylan
Epílogo
Dylan
Bônus
Dylan
Agradecimento
Confira os outros livros da autora
Sobre a Autora
Você ainda pode ser
O que você quer
O que você disse que era
Tradução - Medicine – Daughter
Dedicatória
Medicine – Daughter
Perfect – Ed Sheeran
If i ain't got you - Alicia Keys
The Scientist – Coldplay
Kiss me – Ed Sheeran
Naked – James Arthur
Menina – Gusttavo Lima
Eu já te amava – Paula Matos feat Thaeme e Thiago
Take me home – Jess Glynne
Sinopse
Entre medos e recomeços, uma forte ligação surge entre eles, e a paixão
é inevitável.
Prólogo
Dylan
Com minha arma pronta para qualquer imbecil que aparecer, cubro o
Bryan, que acerta em cheio alguns soldados rivais. Não sei de que buraco eles
estão saindo, parece que tem mais homem a cada minuto e, infelizmente,
Ao meu lado vejo o Greg, um dos soldados que entrou junto comigo
nessa missão e se tornou um irmão.
— Não fala nada, Greg. Você vai precisar de toda força para sair
dessa, amigo. — Seguro firme a mão dele, tentando confortá-lo em um
momento como esse.
O barulho dos tiros se torna mais alto, e sei que eles se aproximam a
cada minuto. Eu queria poder dizer que o tirarei dessa, mas tenho dúvidas se
conseguirei me salvar.
Dói. Queima.
Meu corpo é projetado para alguns metros à frente e caio por cima de
Dylan
Quase dois malditos anos se passaram e ainda não consegui que minha
vida voltasse ao normal. Naquele dia pensei que morreria, assim como todos
os meus companheiros de base. Já estávamos há um ano no Afeganistão e
nunca tínhamos sido atacados. Nós fazíamos diversos trabalhos de prevenção,
Não fiquei com marcas físicas, mas o meu peito ainda sangra com tudo
isso que aconteceu. Não consigo tirar da cabeça a imagem dos meus amigos
destroçados, muitos deles só conseguiram ser identificados através do exame
de DNA. Estou tentando seguir a minha vida, mas por mais que eu tente, sinto
como se algo estivesse me prendendo. Hoje trabalho com a minha mãe no
restaurante da família. Essa foi a única opção que encontrei, já que a
ansiedade e o medo me impedem de trabalhar em outros lugares.
mãe diz, entrando no único lugar que me sinto seguro por completo.
muita atenção.
— Sério isso, mãe? A senhora quer que eu conte meus problemas para
um monte de estranhos? — pergunto, incrédulo.
— Essa foi a única opção que encontrei para te ajudar, já que se recusa
a procurar um psicólogo, Dylan. Você vive enfiado nesse porão, saindo
apenas quatro vezes na semana para me ajudar no restaurante. Eu já estou
cansada de ver o meu filho nesse estado. Quase dois anos se passaram e você
continua igual ou pior. Sei que a situação foi traumatizante, mas tá na hora de
seguir sua vida... e eu preciso viver!
— Não dessa forma que está pensando. Você é meu único filho, se
sente dor eu também sinto. Se você sorrir eu também irei sorrir, mas se
chorar eu secarei suas lágrimas, e as minhas ao mesmo tempo. — Se
aproxima e me puxa para um abraço forte. Eu não sabia que ela sofria tanto.
Minha mãe sempre se mostrou forte ao meu lado. — Eu sei que não deve ter
sido fácil, por isso que seria uma boa ideia procurar por ajuda profissional. O
fórum pode ser o início da sua cura, filho. Suas feridas estão expostas e
precisam de cuidado.
enterrando em minhas dores, mas pelo visto sempre estive errado. Pensar na
hipótese de minha mãe estar sofrendo por minha causa me deixa com mais
raiva de toda essa fodida situação que estou preso.
— Vou fazer um esforço pela senhora. Prometo que darei uma olhada
em como funciona.
Tem tanta coisa ainda sem explicação. Ainda me custa acreditar que
fomos atacados de surpresa. Nosso campo tinha mais de dois mil homens,
não é possível que ninguém percebeu a chegada dos inimigos. Ou pior,
Naquela noite perdi três dos meus melhores amigos, restando apenas o
Bryan, que era meu sargento na época. Ele não aceitou a dispensa, por esse
motivo não conversamos há um bom tempo. Bryan está em uma missão
secreta e contatos fora da base estão estritamente proibidos.
Assim como prometido ao meu amigo Greg, fui até sua casa e dei a
triste notícia a sua mãe e mulher. Elas tinham esperança de encontrá-lo com
vida, até minha chegada.
Quando saí do hospital, fui até o que restou da nossa base e em meio
aos escombros encontrei as cartas.
Foi doloroso.
Torturante.
Lembro da nossa última conversa e de como ele estava ansioso para ir para
casa. Infelizmente, meu amigo morreu sem saber que seria pai.
— Ele amava muito vocês, estava ansioso para voltar para casa. Era
admirável o amor que ele sentia, não tinha como não se emocionar ao vê-lo
carregar uma foto de vocês no bolso — falo, segurando a mão de Maya,
— Ele tinha pedido dispensa, mas por causa de toda burocracia, teria
que terminar a missão e só assim estaria livre. Infelizmente, as pessoas não
sabem como os soldados e seus familiares sofrem — Maya diz, limpando o
rosto molhado de lágrimas.
— Sim, será Greg como o pai. Ele crescerá sabendo que o pai era um
herói, farei questão de manter o Greg presente em sua memória — diz,
emocionada.
— Vocês vão morrer, seus miseráveis! Quero que aprendam que nossas
terras não são para vocês, americanos idiotas — um dos sequestradores diz,
acertando minha cabeça em cheio com sua arma.
— Não venha com esse discurso porque não teremos piedade de você.
A ordem foi clara, então é isso que faremos — cospe as palavras em meu
rosto, em seguida me acerta em cheio com um tapa. — Prepare-se para
morrer.
Que inferno!
Visto um shorts e desço para o porão, o único lugar nesse mundo que
realmente me sinto seguro. As paredes são de madeira, no próprio estilo
rústico. Uma cama velha, meu computador, duas cadeiras e alguns livros, isso
é tudo que tenho aqui. Sento-me e ligo o computador, rapidamente meu olhar
é direcionado para o folheto que minha mãe me entregou há uma semana.
Todos os dias ela me pergunta sobre, e desconverso em todas elas.
Faz mais de um ano que isso aconteceu, mas todos os dias sou
assombrado por malditas lembranças. Não sei o que é ter uma vida normal,
já que o medo de fazer uma simples caminhada me paralisa.
A pessoa que mais amo pediu para que eu entrasse nesse site, então
serei sincero ao dizer que estou aqui pela minha mãe.
Alguns dos relatos mexeram, realmente, comigo. Como ler que uma
jovem teve o corpo queimado pelo próprio pai, pelo simples fato de ela não
aceitar mais os abusos sexuais. Também me embrulhou o estômago ao ver
um rapaz que foi torturado pelo tráfico de drogas. Pensei que eu estava na
É o meu dia de tomar conta do restaurante e não posso deixar que essas
merdas estraguem mais ainda o meu dia. Em menos de uma hora terei que
abrir as portas. Aos fins de semana, por conta dos caminhoneiros que chegam
na cidade, o movimento fica altíssimo.
alegres, já outros nem tanto. Não sei explicar bem, mas depois que passamos
a enxergar a vida de um outro ângulo, julgar as pessoas se torna detestável.
Ninguém é obrigado a ficar vinte e quatro horas sorrindo. Chorar às vezes faz
parte da criação do nosso interior.
— Dylan, meu filho! — Tônia, uma das clientes mais antigas, diz. —
Fiquei sabendo que você aceitou dar uma olhada no site. Fico muito feliz por
isso.
tempo.
O relógio marca pouco mais de seis da tarde e respiro aliviado por ter
vencido mais um dia. Fecho as portas do restaurante logo depois de me
despedir dos funcionários.
mais perto do restaurante, e aqui estamos nós, nesse bairro de classe média-
alta.
A casa ainda está silenciosa, sinal de que minha mãe ainda não chegou.
Retiro minhas roupas com cheiro de fritura e entro debaixo do chuveiro,
deixando que a água gelada tire todo estresse e complicações que me
Não seria mais fácil ter morrido, assim como o Greg, naquela
explosão?
Sinto como se minha essência tivesse ido embora naquele dia. Nunca
mais fui o mesmo, não posso nem ser um homem digno. Minhas noites se
resumem a malditos pesadelos, não posso sair de casa que o medo toma conta
de mim.
Estou tão seco por dentro, que não tenho lágrimas para molhar o meu
rosto em um momento de desespero e dor. Meu peito se contrai, minha
respiração me abandona em alguns momentos.
Dylan
Todos os dias é a mesma rotina. Acho que minha vida entrou em modo
automático e estou apenas fazendo um pouco de hora extra. Os remédios
passados pelo médico do exército não estão fazendo mais efeito. Eu posso até
dormir por duas horas, no entanto, todos os dias, quatro da manhã, sou
acordado com esse maldito pesadelo.
desejaria para o meu pior inimigo. Daria tudo para ter uma única noite de
Ligo o computador e aguardo por uns minutos, até que ele inicie por
completo. Ultimamente venho pensando na hipótese de procurar um
psicólogo, sinto como se minha vida estivesse passando entre meus dedos.
- Angel1009
Leio e releio essa simples mensagem algumas vezes, assim como as
outras dez que eu recebi. Confesso que não estava esperando essa
Oi, Dylan. Tudo bem com você? Apesar das circunstâncias, espero
que esteja bem. Meu nome é Ayla, e diferente de todos aqui presentes, não
tenho nenhum trauma. Minha presença é para ajudar pessoas que querem
conversar.
- Ayla2016
pensamentos?
Sempre pensei que ele tivesse desistido de mim, já que não tenho sido
uma pessoa muito agradável, muito menos sociável. Ainda não tenho certeza
do que quero, mas pensarei na ideia de mandar mensagem para eles. Talvez
desabafar com pessoas tão, ou mais ferradas que eu, me ajude. Até porque,
não adianta conversar com minha mãe. Ela tenta, porém, não entende o
inferno que passei naquele lugar.
Sim, por mais que estivéssemos em uma situação caótica, era possível
sentir o amor quando eles pediam para entregar cartas as suas famílias, ou
simplesmente dizer um “eu te amo”. Depois de tudo que vivi, não passo um
dia sem dizer o quanto amo a minha mãe, a única pessoa que me impede de
desabar por completo.
acolhedor.
— Que maravilha, meu filho! Como você se sentiu? Eu sei que é tudo
muito recente, mas pode ser sua chance de recomeçar, Dylan — admite,
— Eu agradeço muito por isso. Sei que não gosta quando eu falo, mas a
senhora é o único motivo pelo qual ainda me mantenho de pé. Se as dores
fossem físicas, acredito que eu já teria seguido o rumo da minha vida.
— Dói, mãe, dói tudo aqui dentro, sabe? — Bato no peito, sentindo
raiva de tudo. — Por que eu não morri junto com meus companheiros? Qual
a lógica de me manter vivo, se parte de mim foi junto com aquela explosão?
— Meu filho, eu imagino o quanto deve ser doloroso para você. E por
mais que eu diga, nunca saberei ao certo o que você está sentindo e até
mesmo passando. — Seu rosto está banhado em lágrimas, e as minhas, que
eu tentei controlar, descem desenfreadas por minha face. — Se eu pudesse,
trocava de lugar com você, só para não vê-lo sofrendo, meu filho.
— Desculpa, mãe...
mim.
Dylan
Estava enganado.
Estou há quase uma hora olhando para essa tela de computador, acessei
o tal fórum “SOS ajuda” almejando ter alguma luz, qualquer tipo de resposta
que pudesse me ajudar. Termino de ler um dos milhares de relatos, e é
incrível como sempre tem alguém com problemas piores que os nossos.
“Sei bem como se sente, passei cinco anos da minha vida dessa mesma
forma. Eu queria te dizer que tomar remédios vai resolver, mas estarei
mentindo. Vai chegar um momento que seu organismo se acostumará com
ele e não fará mais efeito. – Marcelo1975”
uma xicara de café. Fiquei tão concentrado no fórum, que não comi
absolutamente nada.
Ele sempre vem aqui, acho que é tão assíduo como a Tônia.
— Sabe a minha neta? Você acredita que essa menina fugiu de casa?
Uma mulher chama minha atenção, ela está a três mesas de distância.
— Já volto, Cris.
— Bom dia, bonitão — fala, passando a língua pelos lábios. Isso não
vai funcionar comigo. — Eu quero uma panqueca, ovos mexidos e café preto.
Por instinto, puxo rapidamente meu braço, mas, infelizmente, uso força
demais, o que faz com que ela quase caia da cadeira.
Volto para o caixa e passo o pedido para a cozinha. Meu coração está
acelerado, as batidas frenéticas me fazem suar frio. Sei que foi uma besteira,
mas não consigo fazer minha mente e corpo entenderem isso.
— Obrigado.
aproveitar bem a vida. Diferente de mim, ela não tem motivos para ficar
Ayla2016.
chegar aqui e falar para você tomar algum tipo de remédio, infelizmente o
que funciona com uma pessoa, não necessariamente vai funcionar com outra.
vai para o final da lista, vou começar com o Box Jumps, que consiste em
pular em um objeto resistente na posição de agachamento. Isso vai ajudar a
manter os batimentos do meu coração bem acelerados.
O porão.
e estou vendo minha vida passar diante dos meus olhos. Mas o que posso
fazer?
Não sei se viu meu comentário, mas não custa nada perguntar. Decidiu
fazer algum exercício físico?
Estou igual a todos os dias, com exceção do frio absurdo que está
fazendo aqui.
Pensei bastante e vi que a ideia dos exercícios seria uma boa, optei por
Box Jumps e boxe, só estou aguardando os equipamentos que comprei
chegarem.”
estou deitado na minha cama, olhando o teto preto e sem vida. Sei que me
restam apenas duas horas de sono antes que o maldito pesadelo me acorde, no
entanto, não consigo pregar o olho. Acho que é efeito da cafeína. Preciso me
lembrar de amanhã não tomar tanto café.
Fui ao orfanato pela última vez há três anos, quando aproveitei que
recebi folga de uma semana. Minha mãe sempre gostou desse lugar, ela me
falava que as crianças precisavam de amor, mesmo que as condições
financeiras não fossem tão favoráveis.
onde as crianças vão? — Ela parece esgotada, imagino que não deve ser uma
situação fácil. — Hoje temos mais de cinquenta crianças com idades entre
três meses e quatorze anos. Estabelecemos um vínculo familiar, não sei como
elas reagiriam se fossem separadas.
centro comercial da cidade. Sei que não tenho o poder de fazê-la mudar de
ideia, então apenas dou meu apoio.
Vejo em sua expressão o quanto ela está cansada, por esse motivo me
ofereço para ficar em seu lugar no restaurante. Minha mãe precisa descansar,
não seria justo eu ficar aqui enquanto ela trabalha duro.
— Sim, mãe. Pode ficar tranquila que dou conta, a senhora precisa
descansar. Nos falamos mais tarde. — Beijo sua bochecha e sigo para o
restaurante.
Ayla
Você fica perdendo tempo com esse povo. Boa parte desses supostos traumas
são apenas frescuras.
— Vou fingir que não escutei isso, Susan. Não é frescura. Essas
pessoas sofrem por conta de eventos traumáticos em suas vidas. É por
pensamentos mesquinhos como os seus, que muita gente tem receio de
procurar ajuda médica e medo do que as pessoas vão pensar.
Toda vez que falamos sobre isso nós discutimos. Apesar de ser uma
pessoa estudada, minha amiga tem esse pensamento idiota. Faz tempo que
acompanho esse fórum de ajuda on-line, e posso dizer que já ajudei muita
gente. Não é frescura, nem brincadeira, são vidas que estão em jogo.
ela se retire. — Acho melhor você ir almoçar sozinha. Não estou muito afim
de olhar para sua cara nesse momento.
Susan não diz uma palavra, pega sua bolsa e sai da minha sala batendo
a porta. Às vezes me pergunto como posso ser amiga de uma pessoa
completamente diferente de mim.
profissional.
Muitos colegas não gostam quando falo sobre o site, mas estou pouco
me lixando. Às vezes a pessoa precisa apenas de uma mensagem de consolo e
uma saída, nem tudo envolve dinheiro.
— Ótimo! Eu pensei que ele nem viria, mande-o entrar, por favor.
dinheiro com nossas sessões, minha irmã disse que psicólogos são para
loucos. Eu estou louco, doutora, é isso?
Não entendo como as pessoas podem julgar dessa forma. Por acaso
uma pessoa só vai ao médico se estiver doente? Que mania de associar
psicólogo com loucura! Nossa mente precisa de cuidados, assim como nosso
corpo.
Hoje não tenho mais nenhum paciente, então posso ir para casa e
descansar um pouco a mente. Por trabalhar com a mente das pessoas, preciso
deixar a minha intacta. No caminho para casa, passo em um restaurante e
peço uma comida para viagem. É um lugar bem agradável e a comida é
deliciosa.
furar, só que já furei com ela outras vezes, é capaz de vir me buscar
amarrada. Já avisei a todos que não tenho a menor pretensão de sair no fim de
semana. Vou hibernar até a segunda.
— Vi no jornal que houve uma batida na quinta avenida. Foi algo feio,
por isso o trânsito tão grande.
— Pensei que seria uma boa ideia a gente almoçar. Se bem te conheço,
não deve ter comido nada até agora.
Steve e eu namoramos por cinco anos, até que descobri que ele tinha
— Não podemos ser bons amigos? Sei que cometi alguns pequenos
erros...
Estou morta de cansaço, não serei uma boa companhia hoje para
ninguém. Pensando nisso, pego meu celular e envio uma mensagem para a
Susan, dizendo que não poderei encontrá-la, mas se não tiver nenhum
compromisso, passo amanhã na casa dela e nós saímos. Minha amiga não
gostou muito de levar um bolo, no entanto, entendeu os meus motivos.
Passo por Keila, que me informa que meu próximo paciente já está me
aguardando. Peço cinco minutos antes que ela possa liberar sua entrada.
— Oi, doutora. Tenho tanta coisa para te contar. A senhora não vai
acreditar no que consegui fazer — diz, empolgada, me deixando mais feliz.
— Quando quiser falar, pode ficar à vontade, sou toda ouvidos, Lisa.
feliz. Lisa é jovem, tem muito que aproveitar dessa vida ainda. Como se não
fosse suficiente, ela aceitou ir em uma festa com seus novos amigos.
— Sei que é uma nova descoberta para você, mas acredito que seria
bom ir com calma. Se você está fazendo isso para provar alguma coisa, saiba
que não recomendo.
— Não é isso. Pela primeira vez quero realmente fazer algo. Estou
empolgada, já até comprei o meu vestido para a festa. — Seus olhos brilham
quando fala, e não tenho nenhuma recordação de tê-los visto dessa forma. —
A festa vai ser na segunda e eu já agendei uma nova sessão para terça-feira.
Quero que você seja a primeira pessoa a saber de tudo.
Conversamos por mais alguns minutos, até que a sessão acaba. Pela
manhã o último paciente parecia tão distante, que fico feliz ao cumprimentá-
lo. A primeira coisa que farei quando chegar em casa é tomar um banho e
dormir. Nunca vi um dia tão longo como hoje.
Capítulo 5
Dylan
A manhã está bem fria, os termômetros marcam seis graus, por isso
opto por um conjunto de moletom. Acho que ainda assim não me parece o
suficiente. Mais uma vez minha mãe chega cansada, as coisas no orfanato
estão ficando pior a cada dia, por esse motivo decido ficar no restaurante.
— Oi, Cris, como vai? — Tento ser simpático, já que ele se esforça
para conversar comigo.
— Melhor agora, vendo que você está aqui. Estava conversando ontem
com a sua mãe, você faz falta nesse restaurante, meu filho.
Ele, assim como a Tônia, sabe pelo que passei. Como são pessoas
assíduas, praticamente fazem parte da família e por isso se preocupam tanto
comigo.
prática o meu plano. Se a internet estiver certa, irei liberar adrenalina e talvez
isso me ajude a dormir mais que duas horas por noite.
“Todos os dias penso que estou pronto, mas a ideia de sair de casa me
deixa apavorado e me sinto impotente por permitir essa situação. Durmo
apenas duas horas por dia, e os malditos pesadelos sempre me assombram e
não consigo levar muito tempo dormindo. A verdade é que só continuo
lutando para voltar ao normal por conta da minha mãe.
Me pergunto como deve ser difícil, depois de mais de vinte anos, ela
voltar a cuidar de um marmanjo.”
Aperto enviar.
Respiro fundo, fazendo meu cérebro entender que são apenas clientes e
não oferecem perigo algum.
seguro.
Sinto-me sufocado, quero gritar e dizer que estou aqui. Deixo o caixa e
corro para o banheiro. Me olho no espelho e vejo apenas um vazio. Minha
barba está grande, as olheiras marcam bem o meu olhar e, principalmente,
não vejo nenhum brilho nos meus olhos.
Será que não posso ter uma vida normal como todos?
DROGA!
Da mesma forma que o espelho não pode ser consertado, será que
— Filho, abre a porta, por favor. — Escuto a doce voz da minha mãe.
— Os funcionários escutaram barulho de vidro se partindo, não faça
nenhuma besteira, eu te imploro.
— Mãe...
Dona Lucy é a pessoa que mais amo nesse mundo, aquela por quem eu
seria capaz de dar a minha vida. Como posso ser egoísta, a ponto de não
pensar em seu sofrimento? Tenho certeza de que não deve ser fácil para ela, e
por mais que eu me esforce, temo nunca conseguir voltar a ser como era
antes.
— Mãe...
— Você não sabe a dor que senti ao imaginar o que poderia ter
acontecido dentro desse banheiro. Todos ficaram extremamente preocupados,
Dylan. Imaginar que você estava prestes a... — Não consegue terminar a
frase, pois seu corpo é tomado por uma onda de soluços.
— Mãe, eu não ia tirar a minha vida. — Puxo-a para os meus braços,
abraçando seu minúsculo corpo. — Por mais que essa situação seja
torturante, eu não seria capaz de tirar a minha vida. Não quando a pessoa que
mais sofreria, consequentemente, é a que mais amo nesse mundo.
Essa noite foi diferente. Não houve pesadelos. Não porque eles
cessaram, e sim porque não consegui pregar o olho. Minha mente está a mil
por hora, meu corpo parece uma bomba de adrenalina que está prestes a
capuz e corro pelas ruas desertas. A adrenalina no meu corpo está a mil,
quanto mais eu percorro por esse chão molhado, mais agitado me sinto.
O medo ainda é meu companheiro, e pela primeira vez tento deixar isso
em segundo plano. Um quilômetro ou dois percorridos, não tenho muita
certeza.
Não deixei de pensar no rosto aflito da minha mãe. Ela pensou que eu
iria tirar minha própria vida. Por mais que eu tenha pensado nisso em outro
momento, desisti da ideia por ela. Minha mãe é a pessoa que mais amo nesse
mundo, não gostaria de saber que uma decisão minha causou tanto
sofrimento.
Entro no banheiro e deixo a água cair sobre meu corpo por alguns
minutos. Meu reflexo no box não é um dos melhores, minha barba está
enorme, meus cabelos só não seguem o mesmo ritmo porque ainda tenho a
decência de cortá-los.
porque, fazer parte do exército exigia uma boa forma. Não era nada fácil ir
para combate, então não podíamos vacilar.
Às vezes sinto falta dos meus companheiros, alguns ainda estão vivos,
mas algo me diz que se eu mantiver contato, estarei revivendo o trágico
momento que tanto tento esquecer. Nesses momentos não sei se agradeço ou
não, o fato de o meu melhor amigo estar em uma missão. Acho que faz mais
de um ano e meio que não o vejo, a última notícia foi de que estava no
Iraque.
de dez da manhã. O dia está apenas começando e tenho muita coisa para
fazer.
— Alô?
— Jordan, que surpresa essa sua ligação. Você não estava em missão?
amizade entre nós. Sempre saíamos para beber e se divertir. Por sorte, ele
recebeu dispensa em nossa última missão para poder acompanhar o
nascimento da filha. Alguns falaram em sorte, outros em livramento de Deus.
Nunca iremos saber a real.
que seria uma boa ideia a gente sair para relembrar os velhos tempos.
— Parabéns por suas filhas. Só não sei se é uma boa ideia sair...
— Você ainda tem aquele receio de sair de casa? Pensei que com o
passar do tempo você voltaria sua vida ao normal.
Penso por um tempo. Poderia dizer que não, mas se quero procurar
ajuda médica, tenho que começar a me socializar com outras pessoas. E ele é
— Não tem problema, meu amigo. Me manda seu endereço que sexta-
feira estarei aí.
Ayla
da noite. Sei que é uma rotina puxada, porém, não tenho outra escolha.
— Até que enfim você saiu daquele consultório, Ayla. — Susan diz
assim que o garçom traz nossas bebidas.
— Eu acho que você poderia muito bem trabalhar menos, mas quem
sou eu para dizer o que você deve ou não fazer, não é mesmo?! — Toma um
gole generoso de sua cerveja.
Desde nossa última conversa, onde ela falou que eu perdia tempo
— Como você pode ser amiga do cara que te meteu um belo par de
chifre?
Sair com alguém? Depois que terminei com o Steve, minha vida tem
sido tão corrida que não tenho tempo para essas coisas.
— Vamos mudar isso logo. Tenho uns amigos que você vai gostar.
Antes que fale que não quer, já te aviso que não tem escolha. Semana que
vem vamos sair, aposto que lá embaixo deve estar cheio de teias de aranha.
Começa a rir, como se fosse a coisa mais normal do mundo falar algo
como isso.
pessoa. Por isso não faço questão de gravar nomes. Ela nunca fica mais de
um mês em um relacionamento.
minha saída.
Vendo esse apartamento vazio, bate uma saudade dos meus pais...
Meu irmão perdeu a esposa logo após dar à luz à minha sobrinha
Angelique. Como ele precisava de toda ajuda, meus pais se mudaram para o
Canadá. Tem quase dois anos que não os vejo, nosso contato é apenas por
telefone.
cruéis, bem como ver os companheiros morrerem. Não é fácil conviver com
tudo isso, e se nossa mente não está saudável, nada funciona.
raiva. Raiva porque não consigo fazer o possível para salvá-las. Em pleno
século vinte e um, ainda temos que lidar com homens que acham que são
nossos donos. Diferente de todos os outros membros, elas não revelam a
identidade, e nesses casos tudo que posso fazer é mandar uma mensagem de
consolo.
incentivou a fazer exercícios, achei que o mais certo seria te dizer que está
funcionando.
Ainda é muito cedo, mas posso dizer que liberar a adrenalina do meu
corpo me fez dormir duas horas a mais.
Termino de ler com um sorriso enorme. Confesso que não imaginei que
ele fosse seguir o meu conselho. Não sei explicar, mas algo no seu relato me
faz entender que ele precisava urgentemente de ajuda. Consigo sentir o
tamanho da sua dor.
Ayla: Que bom saber disso, Dylan. Fico feliz de você ter seguido o meu
conselho, e principalmente de já perceber os resultados.
Aperto enviar.
Ayla: Isso é muito bom. Muita gente não sabe, mas adrenalina demais,
pode sim, fazer mal. E isso pode ser responsável por noites mal dormidas e
também por estresse. Sempre que puder faça exercícios, verá que a mudança
será muito maior.
Ele não responde mais, então aproveito para dormir. Dylan me parece
Dylan
— Cheguei, filho.
dobrada até o cotovelo. Olho-me no espelho e vejo que minha barba está
maior. Tenho que lembrar de cortar um pouco, fará bem para a minha
aparência.
— Claro.
Pego a faca das mãos dela e faço o que me pediu. Não vou dizer que
sou um chef de cozinha, porém, me arrisco um pouco. De fome eu não
morro. Minha mãe conta como foi seu dia no orfanato e rapidamente
terminamos o jantar.
Cada dia fico mais convencido de que preciso fazer uma visita ao
orfanato. As crianças sentem que as coisas ao redor não estão boas. Afinal, o
prefeito não tirou da cabeça a ideia idiota de fechar o local.
— Eu abro.
Abro a porta, dando de cara com o meu amigo. Ele está mudado, a
imagem que eu tinha dele era completamente diferente. O rosto antes coberto
por uma barba, deu lugar a uma pele lisa, marcada por uma cicatriz grossa no
queixo. Com os cabelos amarrados em um rabo de cavalo, Jordan me dirige
um sorriso sincero.
— Quase cinco anos em missões faz isso com a gente. O tempo tende a
ser mais desgastante. O importante é estar vivo, não é mesmo? — desabafa,
indo cumprimentar a minha mãe.
Para que a comida não esfrie, vamos direto para a mesa. Minha mãe
preparou nachos de carne seca. É só uma das minhas comidas prediletas do
mundo. Para acompanhar, Jordan trouxe um vinho, mas apenas eles beberam.
Minha mente já é uma loucura, se eu acrescentar bebida alcoólica, ficarei
muito pior.
Meu amigo fala um pouco das suas filhas, e de como está lidando com
o fato de ser pai de duas meninas.
— Eu nunca fui para uma missão, mas sei como cuidar de um bebê
pode ser bem puxado. ─minha mãe diz.
— Não nos falamos desde minha última missão, mas soube que ele
estava no Iraque, só não tenho certeza.
— Tem coisas que nem Deus, com toda sua misericórdia, pode
impedir. Você já imaginou como sua esposa cuidaria das suas filhas sem
você? Como ela lidaria com a dor do luto? — Já me questionei várias vezes
sobre as decisões de Deus, não cheguei a nenhuma conclusão. — Eu imagino
como as mães e esposas devem ter sofrido. Dylan não é o mesmo de antes,
mas agradeço todos os dias por ter o meu único filho ao meu lado.
— Para mim, o mais importante é que você consiga seguir sua vida sem
medos. Quero vê-lo saindo com seus amigos, namorando e futuramente me
dando netos lindos. Sei que não é fácil, mas eu sempre estarei aqui do seu
lado.
— Agora que estou de volta à cidade, pode ter certeza de que ajudarei o
seu filho, dona Lucy. Mesmo que ele não queira ajuda.
Sigo para o meu quarto e tomo um banho rápido. Visto uma calça de
moletom e desço para o porão. A primeira coisa que faço é acessar o fórum.
Esses dias conversei com algumas pessoas, até conheci um ex-militar, que,
por coincidência, passa por uma situação semelhante à minha.
insônia tomou conta de mim hoje. Me diz, os exercícios estão fazendo efeito?
Dylan: Sim, meu corpo até sente falta quando não faço. Ainda não
consigo dormir por oito horas seguidas, mas já é um grande avanço. Você
disse que está aqui apenas para ajudar, por quê?
Lembro de ela ter dito que estava aqui apenas para ajudar, e como
psicóloga gostava disso. É estranho. Hoje as pessoas pouco se importam com
as outras.
Ayla
está on-line.
Não pensei que ele fosse responder minha mensagem, fiquei feliz pelo
avanço. Tem quase cinco minutos que mandei a última mensagem, porém,
ainda não obtive resposta.
Dylan: E se eu nunca voltar ao normal?
Ayla: Isso pode acontecer, mas o que vai fazer a diferença é você
aprender a conviver com isso. O medo sempre vai existir, mas se você souber
lidar com essas situações, poderá voltar a sua rotina. Sair de casa, ir a um
barzinho com os amigos.
Dylan: Sinto falta desses momentos, acontece que o receio ainda é meu
Ayla: Você não vai mudar da noite para o dia, é até impossível. Se
você tiver força de vontade e uma boa ajuda médica, com certeza terá bons
resultados.
— Não posso mais sentir vontade de sair com minha amiga e tomar uns
drinks?
A escolha da boate fica por conta dela. Digamos que eu não seja muito
conhecedora desses lugares. Assim que mandei mensagem convidando-a,
minha amiga só faltou surtar. Segundo ela, eu seria a última pessoa a fazer
um convite.
Por ser sábado, o lugar está bem cheio. As pessoas bebem e dançam de
forma animada, me contagiando com a alegria que esboçam. Caminhamos até
o balcão e pedimos um drink à base de fruta, para começar.
— Se o Steve te visse gata desse jeito, o idiota ficaria com mais raiva
— Fica quieta, amiga. Daqui a pouco esse traste aparece por aqui. Não
quero ter que terminar minha noite mais cedo por conta dele.
até eles. Não vejo nenhum problema nisso, mas no momento quero apenas
Nos afastamos e vejo o desejo gritar em seus olhos. Por mais que eu
queira aproveitar, sexo com um estranho é um nível mais elevado.
— Eu adoraria ficar mais tempo com você, mas meu plantão começa
em cinco horas. Vou tentar descansar um pouco e tirar o álcool da minha
corrente sanguínea.
Dylan
Quase dois anos se passaram desde a missão e não fiz nada da minha
vida. Apenas fiquei enfiado dentro de casa, com medo de algo que sei que
não pode me atingir.
Ela é psicóloga, por que não aproveito logo esse passo a mais que já demos?
Olho ao redor e percebo que chegou o momento de voltar para casa. As ruas
estão mais movimentadas e as batidas do meu coração estão frenéticas, mas não pelo
exercício em si. Em tempo recorde chego em casa, passo no quarto da minha mãe e ela
ainda dorme. Tomo um banho gelado, deixo o café dela pronto e sigo para o restaurante.
Prometi que faria uma visita amanhã ao orfanato. Como ela já falou para as
crianças, e elas estão animadas com a minha presença, não poderei furar dessa vez.
Hoje seria o dia dela, mas como amanhã estaremos no orfanato, resolvi
adiantar o meu turno e deixei que ela descansasse mais um pouco.
Infelizmente, com toda essa perseguição da prefeitura, minha mãe tem
trabalhado mais do que o normal e o cansaço é perceptível em sua face.
Estava tão agoniado, não percebi que ela ainda estava por aqui.
— Oi, Tônia. Como vai?
também.
— Já tem uns anos que fui até lá, mas tenho uma leve recordação de
como eles eram felizes. Na verdade, na fase em que eles estão, tudo é mais
fácil. Não tem tanta preocupação, dor de cabeça e muito menos sofrimento.
e até em caçambas de lixo. Por mais que sejam novos, admito que passaram
por coisas que deixariam qualquer um abatido.
bloquinho e sigo para uma mesa, na qual três garotas olham o cardápio.
Passo o pedido para a cozinha e vou até o caixa dar uma ajuda.
Precisamos ampliar essa parte com urgência. Tem horas que a fila fica
grande, já que o cliente precisa vir até aqui quando o pagamento é cartão.
— Uma das moças da mesa vinte deixou esse papel para você. Disse
que foi uma pena não ter tido a oportunidade de se despedir.
Não sei se você tem namorada, mas caso seja solteiro, será um prazer
receber uma ligação ou mensagem sua.
Beijos, Briana.
— São apenas crianças, filho. Não tem nenhum perigo por aqui, fique
tranquilo — minha mãe diz assim que descemos do carro.
ao que pode vir. Minha mãe começa a fazer as devidas apresentações, e claro
que não tenho condições de gravar todos os nomes, mas capto alguns. O
número de meninas é bem maior, elas devem ter no máximo dez anos de
idade.
— Não sou muito experiente em lidar com crianças, mas acho que
consigo me virar com a ajuda de vocês. Alguém poderia me ajudar?
— Heitor.
— Tia Lucy disse que você foi do exército, tenho muitas perguntas e
meus amigos também — sugere, sentando-se ao meu lado no banco de
madeira.
Tinha em mente que eles fariam perguntas, só não pensei que fosse tão
rápido. Quem está na chuva é para se molhar, agora não tenho como correr.
— Henry.
— Por que você não é mais soldado? — uma menina de aparência mais
velha questiona.
Olho para minha mãe mais uma vez, em uma espécie de pedido de
socorro, ela apenas maneia a cabeça, mandando eu continuar.
Eu acabei me machucando e achei melhor voltar para casa, por isso estou
aqui.
ele tinha três anos, a mãe o deixou na porta do orfanato e sumiu no mundo,
cinco anos se passaram e nenhum sinal dela.
— Não posso te dizer uma data exata, mas me esforçarei para vir
visitá-los. — Sorrio, vendo os olhinhos dele brilhando.
Não me lembro a última vez que passei um dia tão bem. A alegria e
pureza dessas crianças é realmente contagiante. Em diversos momentos me
peguei sorrindo, e era um sorriso sincero, diria até que puro. Ver como eles
passaram por cima de tantos problemas, e ainda assim não perdem a
inocência, me faz enxergar o quanto estou deixando a vida passar pelos meus
olhos.
Permito-me observar a cena por um tempo, até que minha mãe aparece.
— Ayla?
Ayla. Esse não é um nome que encontramos em cada esquina. Será que
é a mesma Ayla do fórum de ajuda? Ela comentou que gostava de ajudar as
pessoas, então não fugiria muito de seu perfil.
Ela parece tão nova. Como pode dar conselhos tão relevantes?
Capítulo 10
Ayla
Tem uns dias que recebi uma ligação do orfanato. As crianças queriam
falar comigo, disseram o quanto estavam com saudades. Pedi que minha
secretária remarcasse todos os meus compromissos da parte da tarde, pois eu
precisava passar um tempinho com elas.
Preparo toda minha agenda do próximo mês e encontro uns dias livres
para visitar os meus pais. A saudade esses dias está esmagando o meu peito,
sinto que preciso de um pouco de colo de mãe.
Chego a casa, tomo um banho quente e peço uma pizza. Acho que
assistirei alguma coisa na televisão, faz um tempo que não tiro um dia para
isso.
Não me lembro de ter visto ninguém diferente hoje. Espera, acho que
ouvi algo sobre um visitante que as crianças amaram.
Ayla: Sinto desapontá-lo, mas era eu, sim. Você estava lá?
Dylan: Seu nome não é tão comum. Por mais que pudesse ser apenas
uma coincidência, achei melhor ter certeza.
Ayla: Por que não foi falar comigo? Eu adoraria ter te conhecido
pessoalmente.
Dylan: Claro, porque eu iria chegar e falar: oi, eu sou o maluco que
você vem dando conselhos na internet. Sem chances, Ayla hahahaha.
Ayla: Deixe de ser bobo. Você não é maluco, e se fosse, não vejo
problemas em ter ido falar comigo.
Dylan: Só não sei quem ficou mais encantado, elas ou eu. Estava bem
resistente com essa visita, acabou que saí revigorado. É incrível como elas
Ayla: Não tenho dúvidas. Todas as vezes que vou vê-las, saio com um
sentimento de esperança. Pois apesar de tudo que elas passaram, não tiram
o lindo sorriso do rosto.
É bom saber que ele deu esse passo. Esse Dylan que está falando
comigo não parece o mesmo do primeiro relato. Lembro de ele ter dito que
sentia pânico ao ficar em lugares cheios, mesmo sendo crianças, não sabemos
Dylan: Eu estava tão ansioso que não consegui dormir à noite. Mas
quando cheguei e começamos a conversar, fui ficando mais à vontade e logo
já estava animado no meio das crianças.
diferença, mas a conversa flui perfeitamente bem. Não falamos apenas sobre
os problemas, mas da vida em si. Nos despedimos e aproveito para dormir, já
que amanhã tenho que trabalhar.
Hoje foi sua primeira consulta. Confesso que estou ansiosa para chegar
em casa e saber como foi. Não posso afirmar com cem porcento de certeza
que seja TEPT, mas todos os seus sintomas indicam esse transtorno.
É por isso que discuto com todos que acham que TEPT é frescura. Um
Não existe uma cura, mas com terapias e medicação, essas pessoas
podem tentar ter uma vida normal.
Termino de atender o último paciente, despeço-me da minha secretária
e sigo para minha casa. Prometi que amanhã faria outra visita ao orfanato.
Dylan
Com a respiração pesada e ofegante, abro os olhos e vejo que tudo não
passou de um maldito pesadelo. Eu estou no meu quarto, o único som que
pode ser ouvido é o da minha respiração. Levanto-me da cama, sigo para o
banheiro, retiro toda minha roupa e deixo a água cair sobre o meu corpo,
lavando um pouco da dor que sinto no peito nesse momento.
Tem uns dias que fui a minha primeira consulta com o psicólogo. Eu
queria ter escolhido a Ayla, porém, por questão de ética profissional, ela
achou melhor que eu fosse a um colega seu. Não foi fácil chegar e me abrir, o
medo me calou e apenas disse o básico. Nome, profissão e por que eu estava
naquele divã. O Doutor Andrew não me pressionou, e com isso marcamos
uma outra sessão para daqui uns dias.
Não sei explicar o que aconteceu, mas desde esse dia os pesadelos
voltaram com força, e sinto como se estivesse revivendo aquele momento dia
após dia. Vejo o chão molhado de sangue, meus colegas machucados e os
gritos de dor. Tudo parece tão vivo...
Fiquei tão afetado com tudo, que não consegui acessar o fórum,
consequentemente não conversei com a Ayla. Eu prometi que contaria como
foi minha sessão, só não tinha o que falar, já que não foi como imaginei.
computador, sento-me na cadeira e faço login. Não leio nenhum novo relato,
sigo direto para o perfil da Ayla.
Eu tinha noção de que não seria fácil, tive a prova quando apenas
disse o básico, boa parte da sessão ficamos em silêncio.
Minha mãe estava tão ansiosa... Cheguei a casa e ela já me esperava no
sofá, esperançosa de que eu falasse que correu tudo bem. Se não fosse por
ela, não voltaria naquele lugar. É difícil me abrir para um estranho, sendo que
já abri uma exceção para a Ayla e centenas de pessoas no fórum.
Ayla: Não, viajo para o Canadá em duas horas, acordei cedo para não
me atrasar... Digamos que tenho um péssimo histórico em relação a isso.
Confesso que minha vontade é de não voltar, no entanto, não farei isso.
Ayla: Fico feliz que não desistiu. Não será fácil, Dylan, entretanto, com
esforço, você se sentirá à vontade para falar, como se estivesse conversando
com um amigo.
— Tenho tantas lembranças boas desse lugar — minha mãe diz assim
que nos sentamos em um banco no parque.
— Também tenho, mãe. Lembro de vir aqui e correr por essa grama.
Não tinha preocupação, muito menos tinha noção do que me aguardava no
futuro — falo, pensativo.
Só tenho memórias boas desse lugar. Pelo menos uma vez por mês,
minha mãe trazia uma cesta com frutas, bolo, pães. Estendia uma toalha sobre
precisa se preocupar com isso. — Puxo-a para um abraço. — Eu sei que essa
não é a vida que a senhora imaginou para mim, mas enquanto eu puder,
estarei todos os dias ao seu lado. Mesmo que eu venha a me casar, nunca
deixarei de te dar atenção.
— Que demora para abrir essa porta, Dylan — Jordan diz, entrando.
— Quem te disse que quero sair, Jordan? Eu estava muito bem até você
bater que nem um louco na minha porta.
Que inferno! Sei que ele não vai me deixar em paz até conseguir o que
quer.
Sem ter para onde correr, dou-lhe as costas, entrando no meu quarto.
Tomo um banho rápido, visto uma calça jeans e camisa social dobrada até o
cotovelo. Passo a mão rapidamente pelos cabelos e estou pronto.
— Amo as minhas filhas, mas tem horas que eu gostaria que elas
ficassem em silêncio por um bom tempo — Jordan diz, passando as mãos
pelos cabelos. — Meu amigo, tenha apenas um filho, vai fazer bem para sua
sanidade.
— Eu realmente não vivo sem elas, só queria ficar umas horinhas livre.
Nada demais.
— Sabe quanto tempo tem que eu não danço? Muito tempo, meu
amigo. Acho que a última festa que fui estava no ensino médio, me
embriagando de cachaça — Jordan diz, sorrindo.
— Não me lembro de quando saí para dançar, mas a última vez que
enchi a cara foi logo depois de ser dispensado do exército. Tomei todas as
bebidas que tinham na geladeira, no dia seguinte não lembrava nem o meu
próprio nome.
Acho que por isso achei melhor não beber mais. A situação na qual
acordei no dia seguinte era digna de pena. Não tenho muitas recordações,
mas minha mãe fez questão de jogar na minha cara, além de dizer que não
permitiria que eu me afundasse na bebida.
restaurante. Apesar de não falar abertamente, tenho certeza de que ela está
com alguém. Só não vejo motivos para esconder. Acho que não tem outra
pessoa no mundo que queira mais a felicidade dela do que eu.
Volto para minha mesa e continuamos nossa conversa, até que a Maria
manda uma mensagem, praticamente exigindo que Jordan volte para casa.
Sem ter como correr, meu amigo obedece. Nos despedimos e eu pego um
táxi. Ele queria me levar, mas não achei necessário.
filme passa na sua cabeça? É assim que estou me sentindo nesse momento.
Ayla
Pensei que conversaria mais com o Dylan, fiquei surpresa com o fato
de ele ter sumido do fórum. Cheguei a pensar que alguma coisa de ruim teria
acontecido. Se esse fosse o caso, como eu saberia? Não tenho nenhum
contato fora do site.
Como não poderia ser diferente, minha mãe me cobrou mais uma vez
um neto. É obrigatório uma mulher ter filho só porque já tem trinta anos?
Minha vida é muito corrida, eu terei filhos no momento certo, de preferência
quando eu não tiver tanto trabalho. Além do mais, meu sonho sempre foi
adotar uma criança, e não tenho exigência por um bebê, ele só precisa tocar o
meu coração.
— Mãe, eu tenho uma vida em San Diego, não posso jogar tudo para o
alto e ficar aqui no Canadá. Prometo que assim que tiver um tempo eu venho
correndo visitar vocês. — Respiro fundo, abraçando-a em seguida. — Minha
casa está de portas abertas, sempre que a saudade apertar, a senhora sabe que
pode muito bem ir me ver.
— Vim me despedir.
anos, então elas ficavam deslumbradas pelo meu irmão mais velho. Seus
olhos castanhos e os cabelos alinhados faziam muito sucesso.
— Que pergunta?
mais que fosse bem tentador, não deixei que ele fizesse isso.
— Não deixaria que você sujasse suas mãos, ele não valia o esforço. —
Me deito com a cabeça em seu colo enquanto ele brinca com os meus
cabelos. — E você, meu irmão, já está pronto para um novo amor?
Angelique tem três anos, e não lembro de ele ter mencionando uma
paquera ou coisas do tipo. Ele e a Melissa estavam juntos desde a época da
faculdade, o amor deles era perceptível de longe. Por isso meu irmão sofreu
tanto com sua morte. Todos sabiam que esses dois eram almas gêmeas.
— Seguir sua vida não significa esquecer a Mel. Ela sempre estará com
você, até porque, a Angelique é prova do amor de vocês. Aposto que ela
gostaria que você seguisse adiante, um novo amor te fará bem, meu irmão.
Foi impossível não rir da cara dele. Nunca pensei que, logo eu, estaria
Olho o relógio e vejo que se eu não sair agora, irei perder o meu voo.
— Na próxima vez que nos encontrarmos, quero conhecer a sortuda
que conquistou seu coração. — O abraço pela cintura. — Eu te amo e nunca
se esqueça disso.
Tem tempo que não vejo a Lucy, nem mesmo quando fui até o
orfanato. Com essa história de desapropriação, ela deve estar ficando louca,
com medo de as crianças serem despejadas. Mas, quem não ficaria?!
— Ayla, quanto tempo... — Parecendo ler meus pensamentos, Lucy
aparece.
— Nossa, não imagina como fico feliz de saber disso! Seria muito
desumano fechar o orfanato, ainda bem que alguém tocou o coração dele.
Lucy não fala muito sobre o filho, parece que ele sofre com algum
problema, e com isso prefere ficar afastado das pessoas. Como não queria ser
indiscreta, nunca perguntei mais nada a respeito dele.
vejo que é o rapaz que me atendeu outro dia, o mesmo que a Susan deu o
número de telefone.
— Dylan? — questiono.
Fico olhando para ele que nem uma boba, sem acreditar na grande
coincidência. Quantas vezes eu já vim a esse restaurante? Como pode a gente
nunca ter se cruzado por aqui antes?
— Vocês se conhecem? — Lucy questiona, olhando do Dylan para
mim.
— Uma longa história, mãe — ele responde sem que a gente desvie o
olhar.
no orfanato. Minha mãe comentava comigo sobre uma moça muito simpática,
só nunca imaginaria que pudesse ser você — confessa, sério, brincando com
a toalha de mesa.
para ele um pouco de confiança. — Sabemos que não será fácil, é preciso de
muita persistência e eu estarei aqui, caso precise de ajuda.
— Tão boa que eu queria estender mais um pouco, não fiz por conta do
meu trabalho. A pior parte foi a despedida, não tenho dúvidas.
— Só sendo muito burro para trair uma mulher como você — fala
baixinho, mas consigo escutar.
— E o que seria “uma mulher como eu”, Dylan? — Fixo meus olhos
nos dele, aguardando ansiosamente por sua resposta.
— Linda e encantadora.
Eu ia responder, quando um garçom se aproxima e traz meu pedido,
cortando completamente o clima entre nós. Como chegamos nesse ponto
mesmo? Dylan até pouco tempo não tinha rosto para mim, agora consigo ver
em sua face todas as dores que me descreveu.
Dylan
não faço ideia do que pensar. É estranho dar um rosto para ela e não preciso
mais imaginá-la de mil e uma maneiras, agora eu sei o quanto Ayla é linda e
tem uma aparência angelical. Dessa vez seus cabelos estão soltos e os óculos
não a acompanham.
— Só sendo muito burro para trair uma mulher como você — digo
baixinho, na expectativa de ela não ter escutado.
É difícil acreditar como um homem consegue trair uma mulher como a
Ayla. Ela é linda e me parece tão encantadora... Não costumo ser tão
sociável, mas com Ayla é diferente. Por mais que tenhamos nos falado
através da internet, sinto como se nos conhecêssemos há anos e isso é muito
estranho.
— Linda e encantadora.
— Sabe o fórum de ajuda? — Acena que sim. — Então, foi lá que nos
conhecemos. Depois que deixei o meu primeiro depoimento, ela me chamou
e passamos a conversar.
— Não sei o que me levou a perguntar, mas à noite confirmei que era
realmente ela.
— Mãe, minha vida é uma verdadeira confusão, não seria certo trazer
ninguém para essa loucura. — Levo um pouco de comida à boca. —
Concordo que ela é encantadora, por esse motivo merece um homem melhor
que eu.
Não estou acreditando que minha mãe quer dar uma de cupido. Ayla
está apenas me ajudando, e tenho muito respeito em relação a isso.
Sabem o que me impediu? Minha filha de três anos. Ela bateu na porta
do banheiro pedindo colo, quando a vi tão indefesa, eu sabia que não teria
coragem de seguir adiante.”
vida digna.
Não entendo. As pessoas que mais deveriam dar amor, são aquelas que
machucam e causam muitos sofrimentos. Respondo esse e mais alguns
relatos, quando meu corpo começa a dar indícios de cansaço.
Como não poderia ser diferente, antes de o dia amanhecer eu já estou
de pé. Por esse motivo, chego com quase uma hora de antecedência para a
— Então, Dylan, que tal me falar como tem sido seus dias? — Doutor
Andrew sugere.
No caminho até aqui, senti como se meu coração fosse sair pela boca.
— Não mudou muita coisa desde a última vez que nos falamos. Todos
os dias acordo antes do sol nascer, acho que meu corpo se acostumou com
essa rotina, tem alguns dias que não tenho pesadelos.
— São sempre iguais. Sonho com o dia que fomos atacados e parece
que os eventos ficam cada vez mais reais, sinto as dores, ouço com exatidão
todos os gritos e vejo a imagem dos meus amigos feridos.
situações traumáticas e pode ajudar a manter uma vida mais equilibrada sem
tantos abalos emocionais.
Nunca pensei que tivesse que recorrer à terapias. Sempre pensei que
isso fosse coisa de gente doida. Pelo visto, terei que passar o resto da minha
vida de forma limitada. É difícil de entender certas situações. Eu já estava
fazendo uso de medicamentos, o que me garante que essas terapias terão
algum sucesso?
comuns que sofrem com esse problema. Eu sabia que alguns colegas
enfrentavam problemas semelhantes ao meu, só não pensei que esse fosse um
transtorno cientificamente comprovado.
Se a mente está ruim, todo o corpo fica também. Essa bendita frase não
sai da minha cabeça. É difícil não pensar em como ela se encaixa
perfeitamente em minha vida. Talvez, se meu problema fosse físico, tudo
poderia ter se resolvido rapidamente.
Acho que perder uma perna teria sido melhor do que minha saúde
mental.
Seria muita coisa para falar por mensagem, uma ligação faria bem
nesse momento. Disco o número e ela atende no primeiro toque.
— Como assim, Dylan? Sei que é tudo muito novo para você, mas
tenha certeza de que vai te ajudar bastante. Vou desligar antes que a minha
secretária venha me arrastar pelos cabelos. Tenho uma sessão em cinco
minutos. — Sorrio com seu jeito espontâneo. — Pense bem nas opções
oferecidas pelo Andrew, ele quer apenas o seu melhor, assim como eu.
Tchau, Dylan.
Ayla
rápida no shopping.
Olho no relógio e ainda tenho meia hora. Tempo suficiente para comer
alguma coisa, então opto por um hamburguer e fritas. Não é sempre que
como essas coisas, mas uma vez na vida não pode fazer mal.
— Nossa, não sabia que você me achava uma patricinha fútil — falo,
ofendida, pois não é essa imagem que eu passo.
tenho de você.
Por mais que minha agenda estivesse cheia, eu poderia muito bem ter
mandado uma mensagem para ele, mas não senti vontade de seguir com o
que tivemos na boate.
— Será um prazer.
envergonhada.
— Oi, Carlos. Como vai? — Tem algo diferente nele, só não consigo
identificar ainda o que é.
— Oi, Doutora. Pela primeira vez em meses, posso dizer que estou
bem. — Esboça um sorriso tímido.
das nossas últimas sessões, decidi voltar para casa de ônibus. Nesse dia
conheci uma mulher, conversamos durante todo o caminho e trocamos nossos
números de telefone — admite, pensativo, olhando para o nada. — No
começo fiquei receoso em mandar mensagem, até que ela mandou.
Começamos a nos falar com regularidade, depois de um mês decidimos nos
encontrarmos.
— E como foi esse encontro?
— Rimos bastante, coisa que há muito tempo eu não fazia. Ela é uma
mulher encantadora, divertida, linda, e tem me conquistado um pouco mais a
cada dia.
devido tempo. — Sorrio, mostrando o quanto fiquei feliz. — Como você está
se sentindo em relação a isso? Seus pesadelos cessaram?
Ficamos conversando por quase uma hora, até que Carlos recebe uma
ligação e precisamos encerrar mais cedo. Como ele estava apresentando
ótimos resultados, mudamos as sessões para apenas uma vez por mês, desde
que ele me ligue se precisar de qualquer coisa.
Por volta das dezoito horas dou por encerrado meu dia de trabalho.
Dispenso minha secretária e fico mais alguns minutos no consultório.
Recebo uma mensagem do meu irmão, nela tem uma foto da Angelique
em sua apresentação na escola. É tão bom ver a minha sobrinha feliz,
principalmente saber que o James está tentando seguir adiante. Não foi fácil o
que ele passou, mas já estava na hora de ser feliz novamente, ele merece.
Sorrio ao lembrar da dona Lucy.
Liguei para ela e pedi o número do Dylan. Ela não soube disfarçar e
ficou me jogando para cima do filho. Não entendo essa mania de mãe, não
podem ver os filhos solteiros que já querem uma nora. Dylan e eu somos
apenas amigos, mesmo que eu o ache muito bonito.
Ainda não contei para a Susan sobre ele, já que minha amiga anda tão
ocupada com o novo boy, que nem se dá mais ao trabalho de me torrar a
paciência.
Acho que passarei no restaurante para comprar o meu jantar, mas isso
não tem a menor relação com o Dylan trabalhar lá. Pelo menos eu acho que
não.
(...)
Não tem nada mais gratificante do que ver o sorriso no rosto de uma
criança.
— Não é bem fumaça, só umas ideias que não param de rodar na minha
mente. Só não tenho certeza se elas vão funcionar de fato.
— E o que seriam? Talvez eu possa te ajudar.
— Você deve saber da festa que terá no orfanato. Eu queria muito levar
presentes para as crianças, mas não conseguirei arcar com todos. — Ele
meneia a cabeça, prestando atenção no que falo. — Pensei em juntar com
algumas pessoas e conseguir comprar presente para todas as crianças, a
— Minha mãe comentou comigo, mas ainda não tenho certeza se irei.
Pra ser sincero, é mais provável que eu não apareça.
consegui ficar, mas não sou adepto a lugares com muita gente, você sabe
disso.
— Qual?
— Que você prometa que vai fazer uma visita às crianças. Passar um
tempinho com elas vai te fazer bem, não tenho dúvidas.
clima.
Clima? Que diabos eu tenho na cabeça? Não posso esquecer que meu
intuito é ajudar o Dylan. Não vai acontecer nada além disso.
amiga? Fico feliz de você ser a primeira. Uma moça tão linda e simpática...
— Calma, filho, não vou falar nada que coloque a moça para correr —
ela se defende, então se aproxima e diz, próximo ao meu ouvido: — Ele tem
essa aparência de menino mau, mas é apenas uma fachada, caso você queira
saber.
Olho para ela sem entender, mesmo que eu tenha gostado de certa
— Sim, por se tratar de uma amiga, ela sabe de tudo que eu passei e
Ele tem uma expressão séria, bem diferente do Dylan que brincou
comigo há alguns minutos. Seus olhos estão fixos nos meus e a intensidade
do seu olhar me deixa desconcertada.
e antes que possa falar qualquer coisa, pego minha bolsa e saio do
restaurante.
Dylan
Já sei!
Saio do banheiro com uma toalha enrolada na cintura, pego meu celular
e disco o número do meu amigo.
— Preciso que você vá às compras para mim, Jordan. É por uma boa
causa, pode apostar.
— Vai ter uma festa no orfanato nos próximos dias, a Ayla pediu
minha ajuda para levar alguns presentes, porém, não tenho como ir até o
shopping comprar. Totalmente fora de cogitação.
— Quem é Ayla?
— Ouvi tudo e você sabe que pode contar comigo. Agora me diga
Meu Deus! Às vezes acho que o Jordan deveria ter nascido mulher,
nunca vi gostar tanto de uma fofoca.
— Por enquanto pode ficar despreocupada, mãe. Não tem por que
gastar dinheiro, sendo que eu posso ajudar.
cima sem fazer nada. Se quero voltar a ter uma vida normal, preciso dar os
primeiros passos.
— Tem certeza, filho? Não quero que você se sinta mal, não estou
preparada para reviver aquele episódio.
Sei que ela se refere ao dia que quebrei o espelho do banheiro, e não
vou prometer que isso nunca mais vai acontecer, no entanto, estou tentando,
não só por mim, como por ela também.
feliz de saber que está se esforçando. Você é jovem e ainda tem toda uma
vida pela frente. Quem sabe com essa mudança, não aproveita para conhecer
alguém...
Não deixo que ela fale, aproveito que uma mesa me chamou e encerro
o assunto. O melhor que eu faço é focar no trabalho e tentar tirar um pouco
minha atenção dos problemas, que não são poucos.
O dia da festa chega e com ele minha ansiedade aumenta. Assim como
Falei pouco com a Ayla esses dias. Além do trabalho, ela ainda corria
atrás dos brinquedos que estavam faltando. Confesso que esse seu jeito me
deixa encantado. Como se já não ajudasse muita gente, ainda se compromete
a levar mais sorrisos para as crianças.
Tenho acessado com mais frequência o SOS, e pode ser até cômico,
mas acabei fazendo uma certa amizade com alguns frequentadores. Todos
nós temos problemas, e ainda assim, tiramos um tempinho para dar consolo
aos outros.
Ontem decidi que seguirei o tratamento indicado pelo Dr. Andrew. Não
sei como vai ser essa tal de psicoterapia, mas se ela vai me ajudar, chegou a
hora de tentar.
apenas dois centímetros, jogo água no rosto e vejo a diferença. Pode ser
pouco, no entanto, enxergo como muito.
Saio do banheiro e vejo uma mensagem do meu amigo. Ele está a dez
minutos daqui, acabei perdendo tempo demais, agora preciso correr. Visto
uma calça jeans preta, camisa social da mesma cor dobrada até o cotovelo, e
um tênis esporte fino. Um pouco de perfume e pronto.
— Oi, tio. Eu estou bem. Meu pai disse que estamos indo em um lugar
que tem muitas crianças para eu brincar. É verdade?
Respiro fundo, sentindo meu coração acelerar. O lugar está cheio. Além
das crianças, acredito ter uma média de cem pessoas. Enquanto caminho
entre os convidados, cumprimento algumas funcionárias que me reconhecem.
Com a Ava segurando em minhas mãos, tento me convencer o tempo todo de
que essas pessoas são inofensivas, todas estão aqui com um objetivo.
— Tio, não estou vendo tantas crianças — Ava diz, chamando minha
atenção.
Coloco Ava no chão, ela olha a nossa volta com curiosidade, consigo
ver seus olhinhos brilhando.
— Essa aqui é a Ava, ela é minha sobrinha e está ansiosa para brincar
com vocês. Pode apresentá-la para o resto das crianças?
Fico um tempo olhando eles brincarem. Sei que aqui a Ava está segura,
então decido rodar um pouco pela festa. Jordan se perdeu assim que
entramos, depois ele vai se dar conta de que trouxe a filha.
Ela tem um sorriso estampado, tão linda e angelical. Seus cabelos estão
soltos, trazendo um ar de leveza para o seu rosto.
É claro que uma mulher como ela não ficaria sozinha por muito tempo.
Era o mais óbvio de se imaginar, Dylan.
Capítulo 16
Ayla
em uma pilastra.
Sua expressão é séria, a intensidade do seu olhar é tanta que sinto como
se enxergasse a minha alma. Sorrio, e em troca recebo um meneio de cabeça.
Sem sorrisos ou qualquer simpatia.
lutou.
plantão daqui a pouco. Foi divertido passar esse tempinho com ele, as
crianças curtiram também.
O espero entrar em seu carro e volto para o orfanato. Grande parte das
pessoas já foi embora, e sorrio ao lembrar do sucesso que foi a festa. Lucy
É o Dylan.
— Se eu soubesse que a vista daqui era tão bonita, já teria vindo antes.
— Sento-me ao seu lado no banquinho de madeira. — Perdi a noção de
quanto tempo estou aqui.
— Agora entendo por que não te encontrei. Pensei que você tivesse ido
embora.
embora o mais rápido possível. Me esforcei para ficar, nem que fosse um
pouco mais. O salão foi enchendo cada vez mais, com isso minha respiração
foi ficando acelerada e...
como deve ter se sentido. É egoísmo da minha parte, mas fiquei feliz de saber
que enfrentou esse medo. É um grande passo, Dylan, e você está indo muito
bem.
— Ele parece gostar de você — diz ele, pensativo, olhando para a lua.
— Talvez. Gosto dele também, mas não no sentido que você está
imaginando. — Por que estou me explicando tanto? — Estou feliz que você
tenha vindo, aposto que a Lucy ficou radiante.
Pego-me presa ao olhar dele, sem saber o que falar nesse momento. Sua
expressão continua séria, ainda assim tem algo de diferente, e não faço a
Não sei dizer em que momento ele se moveu, mas está tão perto que
seu perfume marcante invade minhas narinas. Seu hálito quente vem de
encontro ao meu rosto e, mesmo sem saber o que vai acontecer, não quero
quebrar seja lá o que esteja acontecendo aqui.
Suas mãos quentes e ásperas seguram meu rosto. Ele parece travar uma
batalha interna, até que cola seus lábios nos meus. O contato inicial me deixa
paralisada e Dylan morde meu lábio inferior, deixando todo o meu corpo em
alerta. Se inicia um beijo demorado, intenso e delicado ao mesmo tempo. Me
entregando ao momento, coloco minhas mãos entre seus cabelos, puxando
seu corpo para mais perto, mesmo quando a razão diz para eu me afastar.
Olho em sua direção e não a reconheço. Ela não é uma das crianças do
orfanato, tenho certeza.
Apenas que foi tão intenso, como o olhar que ele me dirige nesse momento.
novamente. Eu deveria ter escutado a minha razão. Mas como fazer isso
quando ele me beijava tão intensamente?
Capítulo 17
Dylan
Com a água caindo sobre minha pele, fecho os olhos e logo o beijo vem
em minha mente. Macios, deliciosos, arriscaria até dizer que viciantes. É
assim que consigo definir os lábios da Ayla. Ela estava tão perto, os minutos
iam passando e eu só conseguia pensar em beijá-la. Deveria ter parado
amizade.
sentimento novo em meu peito. Pela primeira vez em meses, sinto-me vivo,
mesmo que eu não saiba, há tempos, o que seja isso.
Beijá-la foi uma atitude impensada, tenho que admitir. Só espero que
ela não se afaste, não quero ter estragado a amizade que estamos construindo.
nesse momento eu estaria em casa, mas o meu amigo sabe ser bem
convincente quando quer.
Pensei que Ava não comentaria nada, mas o que esperar de uma criança
cujo pai é um fofoqueiro de carteirinha?
— Era isso que você tinha de urgente? — Acordei com sua mensagem
dizendo que precisava falar comigo. — Se eu soubesse que era isso, não teria
— Não é sobre isso, mas não muda o fato de que ainda estou curioso
para saber sobre a mulher misteriosa. — O garçom traz nosso pedido, nachos
e alguns tacos. — Ava disse que ela era muito bonita, parecia até um anjo.
Certamente, ela deve estar chateada comigo, com certeza não deveria
ter misturado as coisas.
Nego com a cabeça e sinto uma pontada em meu peito. Não está
acontecendo nada entre nós, e tenho medo de ter estragado a amizade que
estava começando. Eu queria dizer que me arrependo de tê-la beijado, porém,
estaria mentindo.
— Não, também nem sei se ele ainda tem o meu número. Bryan vivia
perdendo o celular.
— Que missão? — Tem tanto tempo que não nos falamos, que não faço
a menor ideia de que missão ele esteja participando.
— Claro que ele não comentaria contigo, vocês são melhores amigos, o
Bryan sabia que você se oporia. Então, para evitar possíveis
desentendimentos, ele ficou em silêncio — admite Jordan, pensativo,
tomando um pouco de sua cerveja. — A volta dele para San Diego me faz ter
a certeza de que a missão foi concluída com sucesso.
Será possível que Bryan tenha sido tão tolo a ponto de colocar sua vida
em risco? Todo mundo sabe que esses terroristas não brincam em serviço.
Eles não tiveram pena de nos atacarem, tenho até medo do que poderiam ter
feito com ele.
diversos. Jordan não desistiu de me fazer dar aula em sua academia. Eu sei
que disse que iria pensar, mas confesso que esqueci completamente desse
assunto.
sozinha, sempre tive consciência de que não seria uma boa ideia dar mais
trabalho para ela.
Sendo atraído por uma voz feminina, olho para trás no exato momento
em que Ayla entra no restaurante, ela está acompanhada da mesma mulher do
outro dia.
Elas trocam algumas palavras com a recepcionista e acredito que
estejam aguardando uma mesa, visto que estão todas ocupadas nesse
momento.
direção?
Viro-me e nossos olhares se cruzam. Ela não sorri. Apenas mantém sua
expressão séria. Será que realmente estraguei tudo com aquele beijo?
Ayla
Minha agenda estava livre, por isso não achei nenhum problema
aceitar o convite da minha amiga. Dei o resto do dia de folga para a minha
secretária, porque ela também merece um pouco de descanso.
Dylan.
Não tivemos tempo de conversar, então ela não sabe da minha história
com o Dylan, muito menos que nos beijamos na festa do orfanato.
— Vamos lá falar com ele — diz, animada, me deixando sem ter o que
fazer.
— Vimos o rapaz apenas uma vez, não vejo motivos para isso, Susan.
É melhor a gente ficar aqui, esperando nossa mesa.
também é militar.
Eu sabia, queria apenas que ele falasse em voz alta. Espero do fundo do
coração que ele não se afaste. É perceptível sua melhora e queria poder
acompanhar seu desenvolvimento.
Eu quero que se repita. Era isso que eu tinha vontade de dizer, bem
diferente do que saiu dos meus lábios.
Sou salva pelo garçom, que aparece para pegar nossos pedidos. Eu
tenho que ser sincera com ela, mas não falarei do beijo, muito menos que
gostei e daria tudo para repetir a dose.
Capítulo 19
Dylan
— Oi, Ayla. Você sabe que não, já estava acordado faz tempo.
— Sim. Tem um tempo que estou planejando, hoje tomei coragem, mas
preciso de um amigo para me dar apoio.
Se uma outra pessoa fizesse o mesmo pedido, negaria sem pensar duas
vezes. Mas não a Ayla. Não consigo explicar que diabos está acontecendo,
essa mulher de aparência angelical está mexendo comigo e isso não deveria
acontecer em tão pouco tempo.
Minha vida ainda continua uma merda. Todos os dias durmo e acordo
no mesmo horário, aquela sensação ruim permanece em meu peito, mas agora
tenho um incentivo para me sentir bem.
Conversei com o Dr. Andrew e aceitei fazer a tal terapia, semana que
vem será a primeira sessão. Estou ansioso e nervoso. Optei por não fazer uso
além de o meu corpo ter se familiarizado com ele, não quero encher meu
organismo com essas substâncias.
Mando meu endereço para Ayla. Tenho pouco tempo para tomar banho
e vestir uma roupa decente.
Deixo um recado para a minha mãe e saio de casa. Ela está curiosa para
saber com quem estou saindo, e por mais que eu fale que somos apenas
amigos, ela não acredita.
muito tempo eu tinha o desejo de fazer essa tatuagem. Estou tão ansiosa...
Sorrio com sua animação. Ela parece uma criança prestes a entrar em
uma loja de brinquedos.
— Vai ser surpresa. você só vai ver quando estiver pronta. — Me olha
sorrindo, antes de voltar sua atenção para a estrada.
Com uma música de Bruno Mars tocando na rádio, seguimos por mais
meia hora, até que chegamos ao estúdio. A fachada de imediato já chama
Quando era mais jovem, tinha o desejo de fazer uma tatuagem, mas eu
tinha certeza de que minha mãe não aprovaria, então acabei deixando isso de
lado. Agora nada me impede, então por que não fazer uma?
Cumprimento o tatuador, explico a ele que quero uma fênix, e por alto
falo o motivo da minha escolha.
Não poderia ser uma definição melhor para minha realidade. No meio
de toda aquela pólvora e areia do deserto, eu renasci, mesmo que não tenha a
vida dos sonhos.
Ela parece bem preocupada, espero que nada de ruim tenha acontecido
Ayla
Hoje acordei decidida a ser o dia de fazer uma tatuagem. Tem muito
tempo que eu resolvi, só não tinha coragem. Achei que chamar o Dylan seria
uma ótima ideia, ele precisava sair de casa e eu de um companheiro.
Confesso que me surpreendi quando ele disse que também faria uma. No fim
É tão bom vê-lo mais solto, sorrindo mais. O TEPT não tem cura, isso é
um fato, mas ele vai aprender a viver com ele e saberá controlar suas
emoções.
— Não te darei os parabéns porque sei que, pelo seu desespero, não era
isso que tinha em mente.
sempre disse que uma criança arruinaria sua vida, motivo de termos brigado
tantas vezes, e por mais que seja uma gravidez indesejada, não é para tanto.
— Claro que não era isso, Ayla. Eu sempre tomei todos os cuidados
necessários, transar sem camisinha estava fora de cogitação.
— Há dois meses eu fui até a minha ginecologista por conta dos fortes
efeitos colaterais que o anticoncepcional estava me causando. Entramos em
que ela diz, já imaginando o que aconteceu. — Ela me alertou que essa
mudança poderia ser perigosa, e o uso da camisinha seria indispensável.
— Mas você não usou — afirmo, sem acreditar que ela deixou isso
acontecer. — O que você vai fazer em relação a isso?
— Eu não quero ter um bebê! Você sabe muito bem disso, Ayla... —
Começa a soluçar e eu a abraço, única coisa que está ao meu alcance. — Não
nasci para ser mãe, amiga. Uma criança agora só atrapalharia meus planos.
Susan sempre disse que, caso isso viesse acontecer, ela não pensaria
duas vezes antes de fazer um aborto. Eu não concordo com essa decisão, mas
ela é maior de idade, capaz de fazer suas próprias escolhas, e eu preciso
apenas respeitar.
— Não importa qual decisão você vá tomar, saiba que estarei aqui do
o jeito que você olhou para ele no restaurante... Deveria investir no bonitão.
É isso que falo todos os dias para mim mesma. Apesar de querer muito
ajudá-lo, a vontade de o beijar não me abandona. Essa semana sonhei duas
vezes com ele, e para o bem da minha sanidade, é melhor não lembrar como
foram esses sonhos.
— Já que vocês são apenas amigos, não será nenhum problema que me
passe o número dele. Eu adoraria desfrutar daqueles lábios por trás da barba
— sugere, me encarando.
A quem estou querendo enganar? É claro que não quero a minha amiga
com o Dylan. Sei que ela se interessou primeiro por ele, mas é diferente.
Se surgir outra oportunidade, será que serei forte para afastá-lo? Tenho
certeza que não.
Capítulo 21
Dylan
Meus dias estão passando mais rápido que eu esperava. Tenho focado
minha atenção no boxe, tentando colocar para fora todos esses sentimentos
confusos que habitam o meu peito.
desistir, até que uma conversa da minha mãe chamou minha atenção. Ela
falava ao telefone com alguém, escutei claramente quando disse que ficava
feliz com minha melhora, e que agora sentia que seria possível ter o filho de
volta.
Fiquei com isso na cabeça e essa foi minha motivação para estar nesse
momento sentado de frente para o Dr. Andrew.
— Quero que feche os olhos para um exercício de foco — diz depois
de um tempo em silêncio.
— Sim, foque no dia em que foi atacado e perdeu seus amigos. — Sua
expressão é séria e o encaro em choque.
Eu quero esquecer esse momento, por que diabos ele está mandando eu
focar no pior dia da minha vida?
— Tenho certeza de que não estou pronto para reviver esse dia, uma
prova disso são as noites que acordo com pesadelos. Onde meu corpo
responde de imediato às dores.
— Quero que você feche os olhos e conte cada respiração até 10, isso
vai te ajudar a princípio. — Tem os olhos presos em mim, me deixando
desconfortável. — E não esqueça, deixe sua mente focada no atentado. Tente
lembrar dos detalhes.
Olho para o Dr. Andrew e vejo que não terei escolha. Sento-me no sofá
e faço o que ele pede. Fecho os olhos e começo a contar, minha mente que
antes era uma completa escuridão, me envia flashes daquele maldito dia.
— Dois.
— Três.
Meu corpo é projetado para longe e a dor que sinto é quase que
insuportável.
Pensei que minha vida estivesse se ajeitando, tem alguns dias que
finalmente terminei a minha tatuagem, ela me representa. Ou pelo menos eu
achei que estava renascendo das cinzas.
Mitchell.
— Eu não consigo, Ayla. Essa merda é mais forte que qualquer desejo
de melhora. — Sento-me no sofá, enterrando meu rosto entre minhas mãos.
preocupada.
— Hoje foi a minha primeira sessão de terapia, ele pediu para que eu
focasse na droga do atentado. Tem noção da merda que minha mente está
agora?
— Entendo que pode ser difícil para você, mas também sei que é
necessário que enfrente o seu inimigo.
— E se esse inimigo for eu mesmo?
— Sabemos que não é fácil. — Segura meu rosto com suas mãos
minúsculas — Eu estarei aqui com você, não se esqueça disso.
— Não consigo.
Ayla não diz nada, então entendo como um incentivo. Seguro seu rosto
com as duas mãos, olhando fixamente em seus olhos castanhos. Me
Suas mãos seguram meu cabelo e sei que estou no caminho certo.
Deixo um beijo casto em sua bochecha e saio da sala dela. Tudo que
preciso agora é de um banho gelado.
Ayla marcou o jantar para às oito da noite. Tenho que sair de casa
agora, caso contrário chegarei atrasado.
sua testa. — Não precisa me esperar acordada porque devo chegar tarde.
— Divirta-se, filho. Não imagina como fico feliz. É bom saber que está
retomando a sua vida. — Me abraça forte. — Tenho que lembrar de
em seguida.
— Confesso que pensei que você fosse me dar um bolo, fico feliz de
saber que eu estava errada.
rosadas.
— Não precisa tomar suco apenas por minha causa. Não me importo
Ayla abre um sorriso e vejo que ela está realmente sendo sincera.
Decido parar de ser um idiota e aprecio esse delicioso jantar.
— Fico lisonjeada. Pelos meus cálculos, ainda restam uns dez adjetivos
nessa sua lista. Eu sou uma pessoa maravilhosa, não tenho dúvidas.
atenção ao seu pescoço. Leves mordidas e beijos são deixados, quando vejo
seu corpo se contrair debaixo do meu.
— Fica! — pede, firme, sem desviar o olhar. — É isso mesmo que você
ouviu, Dylan. Não tem motivos para negar. Vejo desejo estampado em seu
olhar, e acredito ser possível enxergar o mesmo nos meus.
Ayla
Não costumo agir dessa forma, mas com o Dylan é diferente. Tudo é
muito confuso na minha mente, a única certeza é de que preciso senti-lo e
esse desejo que me consome, fala mais alto a cada momento. Eu não poderia
deixar que ele fosse embora, não agora, não antes de sentir suas mãos em
meu corpo.
Meu corpo grita pelo seu toque. Parecendo ler meus pensamentos, seus
lábios tocam meu queixo, subindo até minha boca, onde morde meu lábio,
iniciando um beijo calmo. Suas mãos rodeiam minha cintura, colando nossos
corpos e o beijo que até agora era calmo, se transforma em uma atmosfera de
desejo.
Sendo dominada pelo desejo, seguro em seus cabelos, entregando-me
completamente ao momento e esse sentimento que me consome.
Ele me coloca no chão, passando a ponta dos dedos por meu rosto.
— Você acha que para mim é fácil? — Passo a mão por sua barba
áspera, beijando-o. — Eu só consigo pensar em beijá-lo, quando deveria te
ajudar com seu problema.
Não precisa mais nada ser dito. Se restava alguma dúvida, nesse
momento todas foram dissipadas. Com maestria, Dylan retira meu vestido e à
medida que suas mãos grandes e ásperas passam por minha pele, vou
sentindo uma queimação. Com posse, ele reivindica meus lábios, beijando-
me intensamente.
Beijo seu peito enquanto minhas mãos desafivelam seu cinto. Ele me
ajuda a tirar a própria calça, ficando rapidamente de cueca preta. Eu sempre
disse que ele não era tão musculoso, agora vejo como aqueles moletons me
enganaram.
Fico na ponta dos pés, beijando lentamente seu pescoço, vendo seus
olhos se fecharem enquanto as mãos firmes apertam minha cintura. Estou tão
exposta em sua frente... Em segundos o meu sutiã é aberto e jogado no chão,
o mesmo fim tem a minha calcinha. Mordo meu lábio, sentindo o desejo me
consumir. Dylan me pega nos braços e me coloca sobre os lençóis pretos.
Dylan não perde tempo e logo me preenche. Seus toques são intensos à
medida que ele vai se movendo, uma sensação gostosa vai surgindo.
deixando-me por cima. Segurando minha cintura com uma mão, ele aumenta
— Ahhh, Dylan.
— Você não pediu desculpas, então tenho certeza de que será fácil lidar
com isso. — Sorrio, admirando seus lindos olhos enigmáticos.
completamente.
Seu corpo está encharcado de suor, imagino como essa sensação deve
— Dylan, acorda, por favor. — Tento mais uma vez, quando ele abre
os olhos e me olha com uma expressão confusa.
— Chá não faz nenhum efeito em mim, Ayla. — Seu tom de voz é
baixo e sinto um aperto ao vê-lo dessa forma.
Pego sua camisa no chão e a visto. Sigo para a cozinha e preparo o chá,
vai ajudá-lo a dormir pelo menos por mais duas horas.
Eu sabia que os pesadelos eram difíceis para ele, mas presenciar foi
totalmente diferente. Era perceptível em seu olhar o quanto ele sofria com
isso, reviver todos os dias a pior experiência de sua vida não é fácil. Por isso
sempre digo que precisamos cuidar da mente. Se não tiver pulso firme as
pessoas se entregam à dor.
Dylan se deita, me puxa para seus braços e fico ali, com a cabeça no
peito dele, sentindo as batidas aceleradas de seu coração. Sua mão sobe e
desce em minha perna e ficamos assim por um tempo, até que ele pega no
sono. O relógio marca cinco da manhã, graças a Deus hoje é sábado e não
Dylan
merece. Talvez seja esse o motivo que me fez sair de seu apartamento sem ao
menos me despedir.
No caminho para casa até pensei em mandar uma mensagem, mas achei
melhor deixar assim. Sei que é bem escroto sair sem avisar depois de termos
dormido juntos. Mas eu não saberia lidar, e o medo de ver arrependimento
— Mas eu nem falei nada, Dylan. Pela sua cara, a noite não foi como o
esperado.
— Até parece que não sei o que vocês fizeram na noite passada.
Quando quiser conversar e me falar o motivo dessa cara emburrada, grita que
venho correndo. — Beija meu rosto antes de se retirar. — E outra, um pouco
de sexo vai te fazer bem, olha como estou bem humorada.
Ela grita da cozinha, deixando-me em choque com sua afirmação.
Começo a rir, sem acreditar que minha mãe realmente me falou isso.
Eu suspeitava que ela estava saindo com alguém, mas escutá-la falando sobre
sexo é tão estranho...
Ayla e como me entreguei por completo naquele momento, mesmo não tendo
noção do quanto eu estava necessitado. Sua aparência angelical foi um
complemento na cama, deixando tudo mais intenso e delicado.
Por que tudo não foi diferente? Por que minha vida teve que dar uma
merda, para que eu conhecesse a Ayla?
Maldita hora que entrei naquele fórum. Tudo que eu menos preciso é
trazer Ayla para essa confusão que eu vivo.
Era isso que eu queria, então por que isso me incomoda tanto?
— Pensei que não fosse chegar nunca. — Dou de cara com o Jordan
encostado na porta.
Rindo, deixo meu amigo na sala e sigo para o meu quarto. Antes de
entrar no banheiro, pego meu celular para conferir as mensagens e nem sinal
da Ayla.
Droga!
— Não sei do que você está falando, Jordan. Eu sempre fui desse jeito,
esqueceu?
mente para fora. — Tomo um pouco do meu café. — Não me lembro de ter
te falado, mas nos conhecemos no fórum de ajuda. A gente trocava algumas
palavras e ela me dava dicas para melhorar. Resumindo, passamos a
conversar e descobri que ela ajuda lá no orfanato. Eu me desculpei por tê-la
beijado, pois não queria estragar a amizade que estávamos construindo.
fora, nos beijamos mais uma vez. — Lembrar de seus lábios é perigoso, pois
me faz enxergar como eu faria tudo para beijá-la novamente. — Fui jantar em
seu apartamento ontem...
— Se você brochou, amigo, fique tranquilo, todo homem passa por isso
pelo menos uma vez na vida — zomba, rindo que nem um idiota.
— Pela lógica, acredito que ela esteja esperando uma mensagem sua. Já
pensou em se desculpar por ter sido um idiota?
— Não posso fazer isso pelo celular, mas também é perigoso eu fazer
pessoalmente.
— Qual foi a atitude da Ayla? Não acredito que ela tenha te tratado
como uma aberração.
conheceu em um fórum de ajuda para pessoas com traumas, é claro que ela
tem ciência de onde está se metendo. Acho que você foi um completo idiota.
Ter ido embora do apartamento foi bem escroto. Se fosse eu no lugar dela,
não ia querer te ver nem pintado de ouro.
Ayla
minha mente não pare de pensar nesse homem dos olhos enigmáticos.
Esse fim de semana dedicarei minha atenção ao fórum, pois tem dias
que não o acesso. Com um pote de sorvete em mãos, sento-me no sofá e
começo a ler os depoimentos. É inacreditável como tanta gente passa por
problemas, e muitas vezes passa despercebido por outras pessoas. A mente é
nossa principal aliada, logo, se ela não está boa, todo resto fica ruim.
que às vezes seja bem corrida a minha agenda, é isso que amo fazer.
dia), mas tem um porém, não quero trazer a dona dos meus pensamentos
para essa confusão que é a minha vida.
Leio o depoimento dele e, por mais egoísta que seja, me pego sorrindo.
Ele sabe que tenho acesso ao SOS, mesmo assim colocou essa mensagem. Eu
imagino a confusão que deve estar em sua mente. Não nego, nesse momento
eu gostaria que ele estivesse aqui, daria tudo para beijá-lo.
Penso por uns minutos, por fim decido responder.
“Todos nós passamos por isso, uns sabem como agir, outros preferem
fugir. Acredito que você deva colocar na balança, só assim saberá o que é
melhor e mais viável para você.
Seus olhos enigmáticos, a barba cobrindo boa parte do seu rosto, ou seu
sorriso tímido. Antes eu queria apenas ajudá-lo, agora quero desfrutar de seus
lábios. Se eu fecho os olhos, consigo sentir suas mãos percorrendo meu
corpo.
gravidez, que ela anda sumida e como disse que não queria a criança, tenho
certeza que fez o aborto. Eu não concordo, pois o feto é um ser inocente, mas
não posso obrigá-la a seguir os meus princípios. Meu papel de amiga é lhe
dar conforto, mas todo esse sumiço me preocupa.
— Que surpresa, Ayla. Por que não me avisou que viria? — diz, me
cumprimentando com um beijo no rosto.
— O Dylan está impossível. Seu mau humor está maior que todos os
meses. Algo me diz que tem relação com você.
Não entendo. Eu que deveria estar frustrada, afinal, ele saiu como um
fugitivo do meu apartamento, fora que não mandou uma única mensagem.
— Sim, ele ficou assim depois que chegou do jantar que tiveram. Dylan
não quis me falar nada, mas tenho certeza de que foi isso.
gargalhada.
— De onde tirou isso, pequeno? É claro que isso não é verdade. Tenho
certeza que vai aparecer uma família linda para te adotar.
Senhor, não tenho emocional suficiente para vê-lo falando dessa forma.
Heitor é uma criança meiga, prestativa e um encanto, o sonho qualquer pai e
mãe.
Tem os olhos fixos em mim, ansioso por uma resposta. Sei que é bem
arriscado, mas não posso fazer outra coisa que não seja prometer.
Dylan
Ayla.
Mas ela não está sozinha. O mesmo cara do orfanato a acompanha. Eles
se sentam em uma mesa reservada e rapidamente nossos olhares se cruzam.
Tento não transparecer o ciúme que estou sentindo, mesmo que seja
impossível a cada segundo. Quero olhar para ela de perto, então pego o
bloquinho e vou até eles.
— Tenho certeza de que Ayla tem um bom gosto, vou querer o mesmo.
— Arqueio uma sobrancelha, sem acreditar que esse idiota está dando em
cima dela.
Eu não deveria sentir ciúmes, ela não é minha e talvez nunca seja.
— Disfarça essa cara, patrão. Não sei como eles ainda estão vivos —
Cael diz, chamando minha atenção.
— Essa é a única cara que tenho, Cael. Ficou maluco? — Olho para ele
com cara de poucos amigos.
Por que esse ciúme louco dentro do meu peito? Vê-la com outro é
como um soco no meu estômago. Ela se entregou quando estávamos juntos,
imaginar que outro homem vai tocar seu corpo me deixa furioso.
— Preciso falar com você — digo, próximo ao seu ouvido, fazendo sua
pele arrepiar.
Abro a porta, dando passagem para que ela entre. Esperando que eu
— Ele não quer ser seu amigo. Estava claro no jeito que ele te olhava e
não perdia a chance de passar a mão em você.
— Por mais que eu tenha muitas habilidades, ainda não posso interferir
— Você não imagina como está sendo difícil. Não consigo tirá-la da
— Eu acho que sou adulta o suficiente para saber o que quero da minha
vida. Quando decidi me envolver com você, eu já sabia de toda a carga que
vinha junto.
— E você ainda complica tudo, Dylan. Por que não viver sem pensar
no amanhã?
— Por que você precisa ser tão especial? — pergunto, segurando seu
rosto com as duas mãos. — Não consigo tirá-la da cabeça. Seu lindo sorriso,
seus olhos cheios de vida... Olha nos meus olhos, como posso te arrastar para
essa confusão que sou?
deixar entrar, caso contrário, não pode ficar tendo esses ataques de ciúmes.
— Ainda não te perdoei por ter ido embora do meu apartamento — ela
fala assim que nos afastamos.
— Você já não atrapalhava, agora que está com o meu filho, não
atrapalha mesmo. — Sorri, deixando Ayla cada vez mais vermelha. — Vou
tomar um banho rápido, espero te encontrar quando eu retornar.
Olho para ela, rindo, vendo como a doutora ficou vermelha igual um
tomate.
— Vem aqui, anjo. — Puxo-a para meus braços, envolvendo seu corpo
minúsculo.
Meus planos eram outros, deixar Ayla livre sem trazê-la para essa
confusão. Eu planejava seguir, só não contava que ela aparecesse no
restaurante e um ciúme louco tomasse conta de mim. Eu não sei o que vai
acontecer de agora em diante, mas não posso negar o poder que essa mulher
tem sobre minha mente.
Capítulo 26
Ayla
Santo Deus! Estava tão cega que esqueci completamente que o Dylan é
filho da Lucy. Se eu tivesse lembrado desse detalhe importante, falaria para
conversarmos em outro lugar. Como posso olhar na cara dela? Antes
tínhamos contato no restaurante e também no orfanato. Não queria que ela
Dylan não disfarça o riso. Por mais que eu esteja amando vê-lo sorrir,
quero matá-lo por fazer hora da minha cara. Nesse momento não cai uma
ligação urgente.
— Se ela perguntar o que nós temos, o que vou dizer? “Ah, Lucy, seu
filho e eu apenas dormimos juntos uma vez e ele foi embora do meu
apartamento, e esse era o motivo de ele ter ficado emburrado esses dias”. —
falo, irônica, revirando os olhos.
— Respira. Por mais que seja a vontade dela, dona Lucy não vai te
encher de perguntas, pelo menos não por agora. — Segura meu rosto,
forçando um contato visual. — Se ela perguntar se estamos juntos, basta falar
que estamos nos conhecendo. E não se preocupe, estarei aqui do seu lado.
— Quero ver quando chegar sua vez, senhor Dylan. — Sorrio e ele me
Kalel me chamou para almoçar e sei que foi errado, mas sugeri irmos
para o restaurante da Lucy, queria ver o Dylan e quem sabe fazê-lo tomar
alguma iniciativa. Sinto muito por usar o Kalel dessa forma, da próxima vez
vou deixar bem claro que não vai rolar nada entre nós. Pelo menos não
enquanto o Dylan tomar conta de meus pensamentos diários.
Por que esse homem mexe tanto comigo? A cada encontro fico mais
sedenta de seus lábios, imaginando como seria sentir suas mãos passeando
— Respira, menina. Você sabe que não sou um bicho de sete cabeças.
— Lucy ri enquanto tira umas coisas da geladeira. — Não vou te colocar em
uma salinha e fazer um interrogatório.
— Justamente por me conhecer. Você sabe que não serei uma sogra
ruim.
ajudá-lo...
— Eu imagino, e não posso julgá-la por isso. Só te peço que não desista
do Dylan. Ele já sofreu muito e é difícil voltar a se abrir com uma pessoa. —
Dá um fraco sorriso. — Ele gosta de você, não tenho dúvidas.
Dylan não pareceu muito convencido, mas assentiu e voltou para a sala,
anotações sobre a Lisa. Lembro que ela estava feliz, pois pela primeira vez
estava fazendo amigos na faculdade.
— Oi, doutora, pela primeira vez me sinto bem por completo, sabe? —
Sorri, me deixando feliz por sua mudança.
para sair. Fomos para o cinema, barzinho, e até fizemos uma reunião na casa
da Cameron. Pela primeira vez estou me sentindo inclusa. Eles não me olham
torto e conversam comigo igual a todas as outras pessoas.
— Sorrio e vejo que ela esconde algo. — Tem mais alguma coisa
acontecendo?
mais e mais — ela conta, pensativa. — Eu me sinto tão bem quando estou ao
lado dele. Nunca me apaixonei, mas acho que seja assim.
— Pela experiência que tenho, sim. Talvez você esteja apaixonada por
esse garoto. Só resta saber se é recíproco.
— Ele disse que estava apaixonado por mim, no entanto, eu surtei e saí
correndo — diz, envergonhada.
— Não esperava outra reação. Mas se ele gosta mesmo de você, vai
entender e em breve estarão juntos. Você é uma menina linda, Lisa, nunca se
esqueça disso.
Eu estou apaixonada por ele, não tenho dúvidas a respeito disso. Esse
Dylan
Será que devo contar que me apaixonei por seus lindos olhos?
— Quem é o seu pai? — questiono, visto que são três médicos nesse
andar.
— Andrew. Ele disse que atende pessoas que precisam de ajuda. Você
também precisa? — O menino parece interessado, me olhando por trás dos
óculos de grau.
Dou uma piscada para ele, que me retribui com um sorriso. — Seu filho é
uma criança encantadora. Parabéns!
— Olá, Dylan, como você está? — Ele me parece tão calmo que às
vezes me irrita.
problemas.
— Dor.
— Suportável.
Olho confuso para ele. Diferente de todas as vezes, a dor está presente,
no entanto, completamente suportável. Uma parte da minha mente lembra
com detalhes do atentado, tiros, gritos e muito sangue. A outra parte tem um
lindo e doce sorriso, estamos deitados em sua cama e Ayla tem a cabeça
encostada em meu peito.
nossa missão, Bryan conseguiu algumas entradas para uma badalada boate.
Não íamos ter tempo de voltar para casa, então deixamos nossas malas no
carro e fomos fardados. Nunca vi tanta mulher em um lugar só. — Sorrio,
com flashes desse dia em minha mente. — Bebemos tanto que apagamos e no
dia seguinte chegamos atrasados. Bryan, Greg, Luca, Jordan e eu ficamos
uma semana pagando punição por isso.
— Não, só gostaria que ele tivesse durado mais tempo — falo com a
Sinto um aperto no peito, lembrando dos meus amigos. Ser militar foi
algo que sempre sonhamos, é doloroso saber que eles não estão mais aqui. As
lembranças das nossas saídas, do jeito brincalhão do Greg... dói que a última
imagem que eu tenha deles seja cruel. Acho que essa ferida nunca vai se
curar, estará sempre aberta em meu peito.
— Na última vez que nos encontramos foi difícil para você, porém, era
necessário fazer aquele exercício de foco. TEPT é uma doença que não tem
cura, acontece que você aprende a viver com ele. Não será um caminho fácil,
mas você tem um aliado nessa caminhada, a mulher que você intitula como
anjo. O amor em algumas situações serve como remédio e até terapia — ele
completo. Essa foi apenas a primeira etapa, tenho muitas outras pela frente
para vencer.
Ela não responde mais, acredito que o paciente tenha chegado. Pego um
táxi e sigo para seu consultório. Eu preciso vê-la, sentir como seu corpo se
encaixa em meus braços, como as batidas do meu coração aceleram quando a
vejo. Tudo que eu preciso nesse momento é sentir seus lábios macios colados
ao meu.
estão presos, seus olhos, que tanto amo, estão por trás dos óculos. Tão bela e
delicada.
Revira os olhos. Percebi que ela faz isso quando está chateada, ou é
contrariada.
Acho que chegou o momento de tirar meu carro da garagem. Por conta
de toda situação, achei que era melhor evitar dirigir. Mas agora as coisas
estão mudando, ficar andando de táxi não tem mais sentido.
a nossa frente. Com ela em meus braços, esquecer dos problemas parece o
mais certo. Como eu poderia imaginar que essa menina iria mexer tanto
comigo?
— Ai, senhor...
você, Ayla.
Ela não diz nada, apenas cola nossos lábios, beijando-me de forma
delicada, como se quisesse me dizer algo. Seguro seu rosto com as duas
mãos, aprofundando mais o beijo, sentindo meu corpo reagir de imediato,
desejando que estivéssemos apenas nós dois.
— Como você pode pensar que não é recíproco? — Ayla diz assim que
nos afastamos. — Dylan, não é segredo que meu intuito no fórum é ajudar as
pessoas e com você não era diferente. Mesmo sem nos conhecermos, eu já
sentia algo diferente, porém, não sabia explicar. Quando nos conhecemos
pessoalmente, seus olhos enigmáticos logo me chamaram atenção. Tentei a
todo instante me convencer de que você era meu paciente, talvez assim
conseguisse frear o sentimento que tentava habitar meu peito.
— Não, pelo contrário. Estar com você tem me ajudado. Quando estou
ao seu lado esqueço tudo e me concentro apenas no lindo anjo a minha frente.
Ayla, você é minha terapia, o melhor remédio que existe é sentir a maciez de
seus lábios.
Colo nossos lábios mais uma vez, me entregando por completo a essa
mulher.
— Você disse que me queria, mesmo que isso ferrasse de vez sua
mente. Como isso pode ser bom?
morrendo de fome.
Meus dias se resumem a recomeços, saber que Ayla estará ao meu lado
me dá ânimo para enfrentar os dias de tempestades que podem surgir.
Capítulo 28
Ayla
jeito carinhoso que ele me trata. Dylan me surpreende sempre, talvez o amar
já seja a coisa mais certa que eu poderia fazer.
Contei aos meus pais sobre ele e todos ficaram felizes por me verem
em um relacionamento, exceto o James. Meu irmão sempre foi protetor
Dylan: Sim, pretendo jantar com a mulher mais linda desse mundo.
Ayla: Bobo! Meu intervalo está acabando. Nos vemos mais tarde.
Beijos, amor.
— Ayla, tem um rapaz querendo falar com você — Keila diz, entrando
na minha sala.
— Marca para outro dia, não vou atender mais ninguém hoje. Além de
estar cansada, tenho um compromisso.
— Não é um paciente, ele disse que é seu amigo. O nome dele é Kalel.
amigos, eu não queria nenhum tipo de contato, só que parece que ele não
aceitou muito bem.
Pego meu celular e envio uma mensagem para o Dylan, pedindo que
passe no mercado e compre os ingredientes que faltam.
— Não, você que já deveria ter parado de me procurar. Ficou bem claro
que não quer a minha amizade, e infelizmente é apenas isso que terá — digo,
sincera, sustentando o olhar dele.
— Por favor, Kalel. Você uma pessoa tão inteligente, não posso
acreditar que se iludiu a esse ponto. Nós ficamos apenas aquele dia na boate,
depois disso apenas nos encontramos. Não percebeu que não rolou mais
nada?
mim.
— Era isso que tinha para falar? Se é só, acho melhor se retirar, tenho
um compromisso daqui a pouco.
restaurante?
— Sabia que tinha alguma coisa. Aquele babaca não tirava os olhos da
gente. Muito me admira, você, uma mulher tão linda, namorar um simples
garçom de restaurante.
Kalel tentou, mas não tirou o meu bom humor. Estou ansiosa para
encontrar o meu amor, isso é tudo que importa.
— Você me deixa louco, anjo. Não imagina como foi torturante não
poder tocá-la, sentir seus beijos e não poder aprofundar. — Seus lábios
trilham um caminho de beijo por meu pescoço, chegando no queixo.
— Você está com fome? — pergunta, olhando para as sacolas que pedi
para ele trazer.
seus olhos.
Seus olhos percorrem meu corpo e essa exposição está me deixando mais
necessitada. Dylan retira sua roupa, ficando apenas de cueca box vermelha,
uma visão de tirar o fôlego.
banheiro
Dylan
— Não se sinta. Não tem nada no seu corpo que eu ainda não tenha
visto. — Sorrio, fazendo uma trilha com a ponta dos dedos por seu corpo. —
Sei que você merece ser tratada com todo amor e carinho, mas preciso entrar
em você agora.
— Talvez tenha sido coisa da minha cabeça, mas repete o que falou há
Agora vejo por que foi fácil me apaixonar por essa mulher. Ela,
definitivamente, é o meu encaixe perfeito.
— Oi, anjo. — Sorrio, encantado com ela vestida apenas com minha
camisa.
— Sim, meu amor. — Ayla me abraça por trás. — São nove da manhã
e você não teve nenhum pesadelo. Passei a noite inteirinha em seus braços,
levantei e você estava tão sereno, não tive coragem de te acordar.
parte dela. Você acabou de subir mais um degrau rumo ao novo Dylan.
— Uma pena que eu tenha que trabalhar. Daria tudo para passar o dia
contigo. — Ela sorri, tomando um pouco de seu café.
— O fim de semana está logo ali, poderemos ficar juntos sem ninguém
para atrapalhar.
— Olha, amei essa ideia — diz, olhando no celular. — Droga! Vou ter
que ir, amor. Se eu não sair agora, me atrasarei para meu primeiro paciente.
— Dou até dois. — Beija meus lábios de forma delicada e eu amo essa
mistura de Ayla e café. — Tchau, amor.
Dylan: Quem é?
passasse de um engano.
Dylan: Bryan, faz tempo que estou esperando seu contato. Por onde
anda?
Bryan: Cheguei hoje em San Diego. Você ainda mora no mesmo lugar?
Bryan: Claro. Não poderia esquecer onde mora o meu melhor amigo.
Posso passar na sua casa à noite?
Ele não responde, mas só de saber que meu amigo está bem, já fico
feliz. Cheguei a duvidar de sua dispensa, visto que não houve nenhum
contato de sua parte. Temos muitas coisas para conversar, agora não posso
esperar para que a noite chegue, Bryan tem muito que me esclarecer.
Capítulo 30
Dylan
— Oi, filho. Pensei que não fosse aparecer. Você não avisou que não
dormiria em casa.
— Pelo sorriso de bobo, aposto que sua noite foi melhor que a minha.
— Por mais que eu quisesse, não falei nada demais. — Sorri, segurando
meu braço. — Vem, as crianças estão ansiosas para te encontrar. Eu disse que
você ensinaria alguns golpes de defesa pessoal.
Explico como vai funcionar e deixo bem claro que irei dividi-los em
dois grupos. Não acho justo separar meninas de meninos, então farei um
grupo misto.
— Vai ser menina contra menino, né? — um garotinho diz, com um
sorriso travesso.
— Nada disso. Irei separar dois grupos mistos, tanto de meninas, como
de meninos também.
Eles são novos, logo, não posso seguir a mesma abordagem que uso
com minhas alunas, que são mulheres entre vinte e trinta anos. Opto por me
basear na prevenção para que eles saibam como se defender caso estejam
sozinhos e se deparem com uma situação de risco.
— Heitor.
— Hoje não tantos, mas um tempo atrás meu sobrenome era problema
— falo e ele ri. — O que está te incomodando?
— Eu tenho dez anos, sabe?! Tem uns dias que um casal veio aqui,
todas as crianças foram apresentadas a eles. Estava claro que procuravam um
bebê, escutei quando falaram que eu era muito velho. — Sua voz sai
— Isso não é verdade. Não é porque esse casal pensa desse jeito, que
todos os outros pensam da mesma forma. Você é uma criança encantadora,
quem não gostaria de tê-lo como filho?
— Não sei se você vai arrumar uma mulher tão linda quanto ela, mas
aposto que encontrará alguém que te faça feliz. — Dou um fraco sorriso,
bagunçando seu cabelo. — Me promete uma coisa?
— Sim, o quê?
— Que você vai parar de pensar essas coisas. Criança é para brincar, se
divertir, e não pensar nos problemas da vida. No momento certo você
encontrará uma família que vai te amar, não fique tão ansioso.
momento, mas algo dentro de mim desperta e o desejo de adotá-lo está bem
presente.
Essas crianças dariam tudo para ter uma família, e eu passei meses
fazendo a minha mãe sofrer com minhas dores. A melhor coisa que aconteceu
em minha vida foi o fórum, ocupei minha mente com coisas edificantes e
conheci minha Ayla.
Meu maior medo era de não ser homem suficiente para ela. Ayla é uma
mulher linda, encantadora, profissional exemplar e dona do meu coração.
Hoje vejo que meus medos estavam sobrepondo meus passos, evitando que
eu seguisse com minha vida.
jantar com o namorado. Sim, ela me confessou que está namorando e que em
breve me apresentará o sortudo. Não sei se estou preparado para isso, sei que
ela é uma mulher linda e merece ser feliz, mas tenho que ver se esse cara é
digno da dona Lucy.
— O tempo não fez muito bem para você, amigo — Bryan diz e vejo
que seu bom humor não mudou.
— Nunca pensei que fosse falar isso, mas senti sua falta, Collins.
— Eu também senti sua falta. Faz quanto tempo que não nos falamos?
Uns quatorze meses?
Bryan é como um replay daquele maldito dia. Ele estava lá, então sabe
de tudo que eu passei.
— Você está vivo, Dylan. Por mais que seja difícil e doloroso, você
tem a chance de viver a sua vida, bem diferente dos nossos companheiros.
— Fiquei sabendo de tudo que você passou, imagino que não foi nada
fácil. Para mim foi complicado, também, a diferença é que resolvi me
consolar de outra forma — fala pensativo, olhando-me fixamente. —
Matando todos aqueles que nos feriram.
— Sei que esse conselho está chegando tarde demais, mas por
experiência própria, não deixe a vida passar diante dos seus olhos, amigo. Eu
fiz isso e posso afirmar que não me fez muito bem. Infelizmente, estava cego
em busca de vingança e acabei machucando a pessoa que mais amei nessa
vida.
Os pais dele morreram quando ele ainda era uma criança, então só pode
estar se referindo a uma mulher.
— Quem é ela?
— Lembra da López? — Aceno que sim. Ela era uma das poucas
mulheres em nossa equipe. — Depois daquele maldito ataque, acabamos nos
aproximando e, por mais que fosse errado, já que eu era sargento dela, nos
Imagino que não deva ter sido uma situação nada fácil e eu não saberia
o que fazer.
— Sim, além da terapia que estou fazendo, o amor que sinto pela Ayla
tem me ajudado bastante. — Sorrio também, lembrando do meu anjo.
— Sabe que quero conhecer essa mulher, né? Ela deve ser realmente
um anjo, só de aguentar seu mau humor diário.
Por mais que minha curiosidade de saber sobre sua missão seja grande,
não tenho tanta certeza se quero saber do que aconteceu. Reviver momentos
de guerra, mesmo os que eu não estava presente, é como dar murro em ponta
de faca, e infelizmente não estou pronto para me machucar.
de descobrir que Megan está namorando. Bryan parece que não vai desistir.
Pedimos pizza e ele fica até quase duas da manhã. Nos despedimos
com a promessa de nos encontrarmos no sábado, porque digamos que meu
amigo está louco para conhecer Ayla.
Capítulo 31
Ayla
namorado.
Não sei explicar como, mas a cada dia amo mais esse homem e isso é
tão estranho, porque sinto como se nos conhecêssemos há anos.
Se tem uma coisa que amo, é quando ele me chama de anjo. Essa
pequena palavra soa tão bem saindo de seus lábios, com certeza o meu som
predileto.
Algo me diz que terei que me controlar muito essa noite. Uma mulher tão
linda e gostosa, é impossível passar despercebido.
— Sabe que pensei o mesmo quando te vi? Acho bom ninguém ficar
cobiçando o meu namorado. — Sorrio, antes de ele tomar meus lábios em um
— Acho melhor entrarmos logo nesse carro — diz assim que nos
afastamos. — Estou me controlando para não te jogar nos meus ombros e
subir para o seu apartamento.
Essa música me lembra muito o Dylan. Toda vez que escuto, lembro de
sua dor e de como ele foi forte por não ter se entregado completamente.
esse “poucos amigos” não foi bem verdade. Caminhamos até a recepcionista,
passo nossos nomes e ela rapidamente libera nossa entrada. O lugar está
cheio, acabando assim com todas as minhas dúvidas. Dylan aperta minhas
mãos, deixando-me preocupada.
— Não vou dizer para você que estou tranquilo, mas prometi que iria
enfrentar mais esse desafio. Você está ao meu lado, não tenho motivos para
temer — garante e me dá um selinho.
Deus por ela ser em um canto mais discreto. Uma música eletrônica começa a
tocar e as pessoas que estavam quietas em suas mesas levantam-se para
dançar. Ficamos um tempo apenas observando, quando uma batida romântica
invade o salão.
O abraço e ficamos assim por uns minutos, até que escuto alguém
— Que surpresa desagradável. Não sabia que você também tinha sido
convidado.
— Escuta aqui, seu idiota. — Dylan fica com o rosto rente ao dele. —
Pode falar quantas bobeiras quiser de mim, mas te aviso uma coisa: se você
tiver a cara de pau de chegar perto da minha namorada, não pensarei duas
vezes antes de quebrar sua cara.
Dylan fala de uma forma que até eu fico com medo. Nunca o tinha
visto desse jeito. Seu rosto está vermelho e não é de vergonha, mas sim raiva.
— Amor. — Seguro em seu braço. — Ele não merece que você suje
suas mãos, vamos embora.
— Não que faça diferença, mas esse garçom aqui serviu no Afeganistão
e também no Iraque. E caso você não saiba, sei muito bem como manusear
uma arma — cospe as palavras, fazendo Kalel arregalar os olhos. — Então,
pela última vez, se afaste da minha namorada — ele diz a última frase
pausadamente.
— Não diz nada, Ayla. — Sua voz rouca faz o meu corpo inteiro se
arrepiar.
Dylan prensa meu corpo na porta do carro, segura meu rosto com as
duas mãos e beija-me de forma feroz. Sua língua pede passagem, explorando
cada pedacinho da minha boca. Ele suga minha língua, em seguida morde
meu lábio inferior, fazendo-me ansiar por um momento a sós com ele.
intensamente.
— Então não vamos perder tempo. Não vejo a hora de ver o que tem
por baixo desse terno. — Dou um sorriso malicioso, provocando-o.
— Ayla...
Dylan
sei se isso é possível, mas sinto como se me apaixonasse todos os dias e esse
sentimento vai aumentando.
O fim de semana era para ser apenas nosso, mas tinha esquecido que
combinei o barzinho com o Jordan e o Bryan, e por sinal já estamos
atrasados.
— Você é meu namorado, claro que vai dizer que estou linda. — Me
presenteia com o sorriso pelo qual me apaixonei.
carro e respondo que já estamos a caminho. O bar não fica muito longe, nos
fazendo chegar rapidamente.
— Bryan fez merda, a mulher que ele ama não quer vê-lo nem pintado
de chocolate. — Jordan faz um resumo perfeito, nos fazendo rir.
— Precisa de ajuda?
Ayla: Não seja por isso. Eu sou completamente apaixonada por você,
senhor Dylan.
Dylan: Eu sou louco por você, anjo. Não vejo a hora de te ver, estou
com saudades dos seus doces lábios.
Guardo meu celular e volto a dar atenção às alunas. Uma hora depois
encerramos a aula, me despeço das meninas e sigo para o vestiário. Tiro a
roupa molhada de suor e entro debaixo do chuveiro, deixando que a água
gelada tire todo cansaço do dia. Fecho os olhos e imagino a minha Ayla. Sou
— Não me importo com isso, quero apenas transar com você. Não o
estou pedindo em casamento.
Começa a tirar a roupa, ficando somente de calça e sutiã.
— Não quero ser grosso com você, então é melhor sair logo daqui,
Mariah. Tenho certeza das minhas atitudes, em momento nenhum dei a
entender que queria alguma coisa contigo — falo de forma dura. — Um
pouco de dignidade te faria bem. Eu tenho namorada, não trocaria minha
Ayla por ninguém, ainda mais por uma mulher que não se dá ao respeito.
Ela arregala os olhos com minhas palavras. Detesto agir dessa forma,
mas é necessário.
Existe maluca para tudo, por isso vim para a área dos armários, o único
lugar onde tem câmeras. Caso ela invente alguma coisa, ficou gravado que
Eu sou louco pela Ayla, por que colocaria tudo a perder por causa de
um rabo de saia? Ela não gostará nada de saber disso, no entanto, o melhor é
contar o que aconteceu.
Ayla
— Posso saber por que diabos você está fugindo de mim? — falo assim
que uma Susan descabelada abre a porta.
— É por causa do bebê? Amiga, eu estou aqui para te apoiar, não vou
te odiar se você optou por abortar...
Respiro aliviada por ouvir isso. Se minha amiga precisar de ajuda com
o filho dela, ajudarei sem nenhum problema.
— Se for um dos caras que você ficou, confesso que não lembro de
nenhum deles, desculpa.
Olho para ela em choque. Eu devo ter ouvido errado, só pode ser isso.
— Não, Ayla, é isso mesmo que você ouviu. Há uns quatro meses nos
encontramos em uma boate, a gente bebeu além da conta e acordei na manhã
seguinte no apartamento dele — fala sem me encarar, fitando o chão. — Eu
tentei não repetir a dose, mas nos encontramos novamente e você já sabe o
que aconteceu.
Apesar de não sentir nada pelo Steve, sua confissão foi uma verdadeira
apunhalada em minhas costas. Ela viu tudo que passei com ele, ouviu todo
meu sofrimento quando descobri sua traição. Não posso acreditar que ela fez
isso, e ainda está grávida daquele filho da mãe.
— E achou que esconder de sua melhor amiga seria o mais correto? Por
Deus, Susan! Você dizia ter asco dele. Agora tenho minhas dúvidas. Será que
você já não estava interessada nele antes?
— Não o amo, muito menos sinto qualquer coisa por ele. A questão é
que somos melhores amigas, você mais do que ninguém sabe de tudo que
passei com o Steve. Então não venha querer que eu entenda isso, Susan. — A
decepção com aqueles que amamos é inexplicável. — Se você tivesse sido
sincera comigo desde o começo, talvez a decepção pudesse ser menor.
pessoas que mais me decepcionaram na vida. Seja muito feliz com o Steve.
Você ganhou um filho e um marido, pena que acabou de perder uma amiga.
meu carro.
tinha vindo aqui antes e fiquei encantada com toda decoração. Jordan acertou
na escolha.
confusa.
— Isso mesmo que você ouviu. Não sei o que ele viu em uma magrela
como você, mas tem gosto para tudo — fala com desgosto.
Hoje não é um bom dia para mim, não é possível. Primeiro a Susan,
agora essa louca para me encher a paciência.
Ele olha de mim para a ruiva falsificada. Talvez, se eu não estivesse tão
estressada, nem daria bola para esse tipo de provocação. Só que,
infelizmente, ela me encontrou em um péssimo dia.
situação.
Dylan
pelo contrário, lembrei de todas as situações que passei com os meus amigos.
— Faz tempo que não te vejo. Sua mãe disse que você está namorando
— ela fala com um enorme sorriso. — Não imagina como fiquei feliz quando
soube. Eu sabia que aquele fórum iria te ajudar, meu filho.
É tão estranho falar para as pessoas que estou apaixonado. Não é por
vergonha ou qualquer coisa do tipo, e sim pelo simples fato de que essas
pessoas viram como eu estava há alguns meses, então é uma mudança que até
esposa. Apesar de todos os meus medos, sei que ela também me ama e isso é
o mais importante. Não tem nada que eu mais ame do que acordar e velar o
sono dela. Seu rosto sereno se transformou em uma das minhas paisagens
mais bonitas.
Talvez seja egoísmo pensar desta forma, mas agora entendo por que
passei tanto tempo recluso na minha bolha. Ninguém seria como a Ayla, eu
não teria o seu sorriso, seus beijos, muito menos me sentiria tão normal
quando estou com ela em meus braços.
— Pode deixar. Quando esse momento chegar, você será uma das
primeiras a saber — digo, deixando um pouco de lado os meus pensamentos.
— É, meu filho, não tenho a menor dúvida. Você parece doidinho por
essa menina. — Sorri, tomando um pouco do seu café. — A cada minuto que
você fala sobre ela, tenho mais vontade de conhecê-la melhor.
— Vamos fazer assim, marcarei um dia para que ela venha até aqui.
Ficamos conversando por mais alguns minutos, até que preciso levantar
para atender algumas mesas. Tônia é uma pessoa muito especial. Por mais
que em alguns momentos no passado eu tenha achado ruim ela ter entregue o
folheto do fórum, agora serei grato eternamente.
Termino de ler e um sorriso bobo brota em meus lábios. Tem uns dias
que não nos vemos, consigo entender perfeitamente esse sentimento, pois é o
mesmo que sinto todos os dias.
meu peito.
— Tchau, amor.
WhatsApp, não demora um minuto e ela responde que está tudo bem, só
muito ocupada mesmo.
Tento tirar isso da cabeça porque deve ser apenas uma má impressão.
(...)
— Dylan...
eletricidade passar por meu corpo. Passo a bater com mais força e sinto uma
leve ardência em minhas mãos. Essa dor não se compara em nada com o
maldito aperto que sinto no peito.
Com suor escorrendo por meu corpo, soco tanto o maldito aparelho,
que se ele pudesse falar, pediria clemência.
Ayla
Para minha surpresa a porta está aberta, entro e sigo para o porão. O
único lugar que ele se sente seguro.
sobre uma escrivaninha, uma cama pequena demais para o Dylan, e a pouca
iluminação completa tudo.
— Eu estou bem. No fim das contas ele não levou nada, o importante é
que estou aqui. — Asseguro, para que tenha certeza de que nada de ruim me
aconteceu.
Sinto dor na voz dele e isso me deixa com raiva. Não queria ter lhe
Seguro seu rosto com as duas mãos, olhando fixamente em seus olhos.
cheio de medos, receios e cicatrizes que não sei quando serão curadas.
Ele não diz nada e ficamos em silêncio por uns minutos, até que Dylan
cola nossos lábios, beijando-me com desespero. Sua língua está em uma
batalha com a minha, deixando o beijo mais intenso. Com nossas respirações
aceleradas, nos afastamos e, de surpresa, Dylan me pega nos braços. Enrolo
minhas pernas em sua cintura e caminhamos até a minúscula cama, onde ele
me coloca deitada, beijando meu pescoço logo em seguida.
Seus toques são intensos, quando dou por mim Dylan já está me
preenchendo. À medida que ele vai se movendo, uma sensação gostosa vai
surgindo.
— Eu a amo tanto, Ayla. Te amo tanto que chega a doer em meu peito
— fala enquanto acaricia meu rosto. — Quando te vi saindo do prédio com
uma expressão de desespero, meu mundo veio abaixo. Eu tive medo de ver
decepção em seus olhos.
— Me perdoa por ser tão fraco. Pensei que os pesadelos fossem meus
únicos problemas, mas hoje tive a certeza que não. — Dá um beijo rápido em
meus lábios. — Eu te amo, anjo. Não tenho dúvidas de que quero passar o
resto dos meus dias ao seu lado.
Eu sabia que o melhor a se fazer era vir ao encontro dele. Por mais que
ele se ache um fraco, todos os seus medos, receios, só me fazem amá-lo mais
e mais. Dylan erra como qualquer pessoa, e sabe reconhecer seus erros, isso é
o mais importante.
— Claro, você que manda, anjo. — Sorri e fico feliz que ele já esteja
voltando ao normal, se assim posso dizer.
Não consigo descrever o tamanho do amor que sinto por esse homem, e
isso realmente me assusta muito.
Capítulo 36
Dylan
Não consegui dormir essa noite, não tive pesadelos ou coisa do tipo. Eu
tinha a sensação de que, ao dormir, poderia deixar Ayla em risco e não é isso
que eu quero. Por volta de três da manhã, com ela nos braços, vou para o meu
quarto. A cama do porão é pequena demais para nós dois.
Ontem foi a primeira vez que falamos sobre filhos. Eu não tenho a
menor dúvida de que Ayla é a mulher que quero passar todos os dias da
minha vida. Uma casa com quintal grande e nossos filhos correndo e se
sujando de lama. Esse nunca foi um sonho, até conhecê-la.
— Com certeza não tem sorte maior do que acordar nos braços do
homem que amo.
proposta?
— É com esse sorriso no rosto que gosto de vê-lo — minha mãe diz
assim que entro na cozinha.
Ontem quando cheguei ela não estava em casa, ainda não tinha
retornado do restaurante.
— Promete que nunca mais vai deixar a dor tomar conta de você, filho?
— questiona, segurando em minhas mãos.
tem cura, mas tudo que eu puder fazer para não voltar ao antigo Dylan, eu
farei. — Sou sincero, pois é isso que eu realmente quero. — Vou precisar de
ajuda, mãe. Seu apoio é fundamental.
— Eu nunca soltarei sua mão e sei que Ayla estará ao seu lado também.
—
— Que maravilha, filho! Isso me deixa muito feliz. Ayla é uma mulher
incrível, a nora que eu pedi a Deus.
de que as coisas seriam diferentes. Eu amo tanto essa mulher, mãe. E ela me
aceita com todos os meus defeitos.
— Difícil seria não se apaixonar por você, filho. Por trás dessa barba de
homem mau, existe um menino em busca de um recomeço. Você merece ser
escapatória.
Dylan
— Acho melhor disfarçar essa cara, amor — Ayla diz assim que
chegamos ao restaurante.
— Por que essa situação é tão estranha? O certo seria minha mãe
conhecer minhas namoradas, não o contrário.
— Vou fingir que não ouvi esse pensamento machista, Dylan. Sua mãe
merece ser feliz, seria egoísta da sua parte pensar desse jeito.
Não quero ter nenhum problema com eles, pelo contrário, quero que
vejam que a filha está com uma boa pessoa e será muito feliz ao meu lado.
— Muito prazer.
— Sim, você tinha razão. — Pouso minha mão em sua coxa nua.
— Olha para eles que você vai perceber. Minha mãe está feliz, isso é a
única coisa com que deveria me preocupar.
— Fico feliz que tenha enxergado isso. Não precisou que eu usasse o
meu plano B.
— Ia fazer greve até que você parasse de agir como um idiota — diz
ela baixinho, apenas para que eu escute.
— Tenta para você ver. — Toma um pouco de sua bebida com a cara
mais lavada.
— Duvido que seu corpo resistiria ao meu toque. — Faço uma trilha
em sua coxa com a ponta dos dedos, indo para dentro de seu vestido.
— Dylan...
Segura minha mão, impedindo que ela chegue ao seu destino final. Eu
não iria adiante, pelo menos não aqui, de maneira tão exposta. É satisfatório a
forma como seu corpo reage ao meu toque. Beijo seu pescoço e sua pele
arrepia. Sorrio, satisfeito, enquanto suas bochechas assumem um tom rosado.
— Não sei se todas são assim, mas uma em especial estava pedindo
para levar uns tapas. Além de dar em cima dele, teve a audácia de falar na
minha cara que não entendia como ele poderia ter escolhido uma magrela ao
invés dela. Vê se eu posso com uma coisa dessas?! — Ayla solta um longo
suspiro.
alguma coisa com a Mariah. Traição é uma questão de escolha, nunca faria
(...)
Terminamos de jantar por volta das onze da noite. Amanhã Ayla tem
paciente nas primeiras horas da manhã, e como minha casa é mais perto do
Nos despedimos de minha mãe e do Carlos, eles vão para a casa dele.
Foi muita informação para minha mente, mas fiz de conta que era a coisa
mais normal desse mundo. No estacionamento, abraço Ayla por trás, inalando
o delicioso cheiro dos seus cabelos.
— Você tirou a noite para me provocar, não foi? — Sua voz sai em um
sussurro, enquanto suas mãos entram por baixo da minha camisa.
— Talvez um pouquinho.
contra o meu.
Quase sem fôlegos, nos afastamos, bem a tempo de ouvir alguém bater
palmas. Viro-me, tendo o desprazer de encontrar o Kalel.
grande. — Você deveria aprender a levar um não. Tem várias mulheres, vai
procurar alguém que esteja realmente interessada.
— Você se acha muito, né? Não duvido nada que esteja com você por
pena. Também, o que esperar de um homem que frequenta psicólogos —
cospe as palavras, pensando ele que vai me atingir.
— Quando você não quiser mais ela, estarei ansioso esperando minha
vez.
Isso é a gota que faltava. Aceito que falem de mim à vontade, só não
Com raiva correndo em minhas veias, acerto em cheio o rosto dele, não
dando chance para que esse babaca continue falando merda. Sei que ele quer
apenas me provocar, mas não tenho sangue de barata.
Sem conseguir me conter, lhe acerto outro soco, que o derruba no chão.
Ayla está trêmula e me amaldiçoo por isso. Não queria deixá-la desse
jeito. Esse idiota precisava tirar o maldito sorriso do rosto e não encontrei
outra forma a não ser usar violência.
— Não cai no jogo dele, Dylan. Kalel quer justamente isso, que você
suje suas mãos — fala, puxando-me para o carro.
Ayla
Meu irmão finge estar chorando. Um ótimo ator, tenho que admitir.
— Ele disse que vai me trocar de escola, então não quero mais morar
com o papai. — Cruza os braços, emburrada. — Eu gosto dos meus
Olho para ele, intrigada. Será que o motivo é a professora? Não posso
acreditar que meu irmão seja idiota a esse ponto.
— Se seu pai não resolver isso, prometo que vou buscá-la para morar
aqui. Pode ser?
— Pode sim, tia.
Meu pai apenas observa tudo calado. Por essa de Angelique ninguém
esperava. Sei que meu irmão estava tendo um rolo com a professora, só
espero que ele não esteja punindo a filha por uma besteira dele.
Tento puxar na mente, mas não lembro de ter comido nada de diferente.
Tenho que lembrar de marcar um médico. Faz tempo que não faço um exame
de rotina, talvez seja isso.
Puxo na mente e lembro que teve uma vez que não nos prevenimos. O
desejo era tanto que acabamos esquecendo desse detalhe tão importante. Só
agora percebo que minha menstruação está atrasada. Esses vômitos e o
maldito enjoo...
— Por favor, James! Não temos mais idade para esse tipo de sermão. O
que eu vou fazer, meu Deus?!
Droga! Como será que o Dylan reagirá a isso? Falamos sobre ter filhos,
mas não em uma realidade tão próxima.
diante. Por mais que seja tudo muito novo, carregar uma mini cópia minha e
do Dylan seria uma experiência incrível. Eu tenho meu próprio negócio, uma
casa, a única mudança seria diminuir minhas sessões, e o fato de o meu corpo
se modificar inteiro para receber um bebê.
Respiro fundo antes de voltar para a cozinha. Hoje Dylan vem jantar
aqui em casa, é nisso que preciso concentrar minha atenção. Depois eu penso
na grande possibilidade de ser mãe.
James me trouxe dois testes para não correr o risco de um dar errado.
Tenho dez minutos encarando as duas linhas vermelhas, me dando a
confirmação de que estou grávida. Tentei não surtar quando meu irmão mais
velho — trágico, para não dizer cômico — levantou essa hipótese. Agora que
não restam dúvidas, só consigo pensar se serei uma mãe tão boa como a que
eu tive. Com a mão em meu ventre, deixo que lágrimas molhem meu rosto,
em uma mistura de emoção e medo do que me espera.
praticamente descabelado.
— Droga, Ayla, isso aqui está molhado ainda. — Faz cara de nojo,
como se nunca tivesse encostado em xixi. — Como você está se sentindo?
— É, não é muito diferente do que você costuma ser. — Olho para ele
de cara feia. — Como está se sentindo ao saber que será mãe?
— Será?
não tenho a menor dúvida de que ele ficará radiante de ter um filho com a
mulher que ama.
Meu único receio é de Dylan surtar por não se achar capaz. Sei que ele
ainda tem muitos medos e receios, espero que minha gravidez não piore tudo,
pelo contrário, quero que ela traga coisas boas. Assim como esse sentimento
louco que está tentando se apossar do meu peito. Eu acabei de descobrir que
tem um ser crescendo em meu ventre. É possível amá-lo de forma
instantânea?
Capítulo 39
Ayla
Quando eu penso que esse homem não pode ficar mais bonito, ele me
aparece com essa calça preta e camisa social vermelha dobrada até o
cotovelo.
É tão bom ver esse brilho em seus olhos. Dylan é tão intenso e ao
mesmo tempo apaixonante... Tenho certeza de que ele será um ótimo pai e
espero que pense dessa forma.
a minha gravidez é imensa, estou com medo de sua reação e ao mesmo tempo
ansiosa.
Santo Deus! Eu já era uma pessoa confusa, agora parece que só piorou.
Será que serei uma boa mãe? Essa pergunta não parou de rodar em minha
— Espero que ele fique bem e se resolva com a Megan. — Dylan acena
positivamente e voltamos a caminhar.
— Vai dar tudo certo. Eles vão amar você, amor — digo apenas para
que ele escute.
Tento conter a vontade de rir vendo Dylan tenso nos braços da minha
mãe. Acho que ele não esperava por um abraço e eu esqueci de falar que ela é
Sorri de canto.
— Essa é minha princesinha, Angelique.
Pego-a no colo.
Ele se transforma quando vai falar com as crianças e acho isso tão
encantador...
— Oh, tia, você tem outra sobrinha além de mim que eu não sei? —
questiona, emburrada.
James observa tudo calado e olho para ele sem entender, mas meu
irmão apenas dá de ombros.
Eles se encaram e fico sem entender essa atitude do James. Nós não
somos mais adolescentes para ele dar uma de irmão superprotetor.
Depois dessa pequena apresentação, nos dirigimos à mesa e
desfrutamos de um delicioso jantar preparado pela minha mãe. O clima dá
— Isso mesmo.
Sério isso? James sabe de tudo que aconteceu ao Dylan, fui bem clara
ao falar sobre todos os problemas que ele passou e como esse assunto mexe
bastante com ele.
— Não precisa falar, amor — falo apenas para que ele escute.
— Não tem problema, anjo. — Leva minha mão aos lábios, beijando-a.
Levanto o olhar e dou de cara com lágrimas descendo pelo rosto dele.
De todas as possíveis reações que passam em minha mente, por essa eu não
estava esperando.
Amor. Emoção.
— Tudo é tão recente entre nós, pensei que não estivesse preparado
para uma gravidez. É certo que eu também não estou, mas.... — Limpo suas
lágrimas, mesmo sem conseguir conter as minhas.
— Nada me faria mais feliz do que ter um filho com o amor da minha
vida. — Ele beija rapidamente meus lábios, antes de se ajoelhar a minha
frente, no meio do parque, beijando minha barriga. — Oi, sei que ainda é
cedo para você me ouvir, mas eu só quero que saiba o quanto é sortudo. Sua
mamãe é a mulher mais linda e especial do mundo, não poderia ter escolhido
uma barriga melhor. Seu papai é complicado, mas vai te amar
incondicionalmente.
— Imaginei que você fosse surtar e começar a dizer que não é capaz de
ser pai e outras coisas mais.
Levanta e segura meu rosto entre as mãos. — Merda, é claro que estou com
medo. Não tive uma figura paterna para me espelhar, não faço a menor ideia
se serei um bom pai. Eu fui para o Afeganistão enfrentar terroristas e estou
com medo de um serzinho que ainda nem nasceu. Tem noção disso?
— E como descobriu?
sorriso, seu olhar encantador, a forma como acha um lado positivo em tudo...
Eu sei que ainda vou errar, e você vai sentir vontade de me matar, mas saiba
que eu te amo loucamente, e farei de tudo para estar sempre ao seu lado.
— Oh, Deus, agora eu sou uma mulher grávida, precisa ter cuidado
com minhas emoções — sussurro, soluçando. — Eu amo tanto você.
— E os seus pais?
— Vamos para o meu apartamento, ele não fica muito longe daqui. —
Segura em minhas mãos, caminhando até seu carro. — Filho, em alguns
instantes o seu papai vai desfrutar do corpo da sua mamãe, amando cada
pedacinho dela. Prometo não balançar muito.
— Eu quero tanto você, anjo — ele declara, com uma mão em minha
perna.
Sorrio, encantada.
feliz com a gravidez, mostra sua evolução e, em um futuro não tão distante,
Dylan
Dois meses se passaram e eu não poderia estar mais feliz. Ela está
grávida de três meses e não vejo a hora de descobrirmos o sexo do nosso
pequeno grão de feijão.
Não pensei que fosse possível sentir tanta emoção. As lágrimas que eu
tentava segurar, molham meu rosto de forma desenfreada. Eu só consigo
pensar em como um homem tão quebrado, que por um momento desacreditou
da vida, foi capaz de gerar um pequeno ser. Não sei explicar, mas desde o
Sei que não sou um homem perfeito. Pelo contrário, sou imperfeito e
vou errar pra caramba. Porém, a ideia de ser pai acendeu em mim um forte
desejo desconhecido.
Não vou dizer que voltei a ser cem por cento normal. De vez em
quando os pesadelos ainda me atormentam, assim como evito qualquer lugar
que tenha muita gente. Mas eu sinto em meu peito que algo mudou, talvez o
amor que sinto pela Ayla e o meu filho estejam me curando, mesmo não
sendo por completo.
Paro debaixo de uma proteção e pego meu celular, sorrio ao ver uma
mensagem da Ayla.
Ayla: Posso saber por que acordei sem o calor de seu corpo?
prestes a explodir.
É possível nosso coração bater fora do peito por outra pessoa? O amor
pelo exército me trouxe a dor mais cruel da minha vida, em contrapartida me
deu um recomeço. Eu estava perdido, e posso afirmar com todas as letras que
Não vejo a hora de pegá-la em meus braços. Acho que será um dos dias
mais felizes da minha vida, só vai perder para o casamento.
— Como pode ter tanta certeza de que é uma menina? — pergunta com
a voz sonolenta.
— Sim, mas só depois das dez da manhã. Deita aqui comigo, preciso
sentir seu corpo, só assim consigo ter um bom dia.
— Você sabe que não resisto quando faz essa cara. — Retiro toda a
roupa, ficando apenas de cueca.
— Sim, mas não foi como das outras vezes. Sonhei com o Greg, o
momento exato em que ele pediu para que eu entregasse suas cartas.
— Você dormia de forma tão tranquila, não era preciso. — Coloco uma
mecha de seu cabelo atrás da orelha, beijando sua testa. — Por isso fui correr,
precisava colocar essa sensação ruim que eu estava sentindo para fora.
— Talvez você tenha razão. Vou pensar nisso, certo? — Inverto nossas
posições, ficando por cima, mas sem colocar peso. — Quanto tempo temos
até você sentir fome?
— Fome eu estou desde que acordei. — Dou uma gargalhada com sua
confissão. — Mas para ficar com o dono dos meus pensamentos, acho que
aguento uma hora.
Será que um dia deixarei de ser viciado nessa mulher? Acho pouco
provável.
(...)
Hoje estou mais decidido do que nunca, não tenho a menor duvida de
que quero pedir Ayla em casamento. Por conta da gravidez, acabei adiando
esse momento.
— Olha só, quem é vivo sempre aparece — Jordan diz assim que
atende o telefone.
— Faz tanto tempo, nem lembro mais. — Escuto sua risada do outro
lado da linha. — O que o novo papai do ano quer?
— Claro que sim. Passa aqui para me pegar, minha moto está na
oficina e a Maria vai sair com meu carro.
Mando mensagem para a minha mãe, porém, ela não responde. Tenho
consulta com o Doutor Andrew às dezesseis horas. Assim que sair, irei direto
para o orfanato. Preciso ter uma conversinha com a dona Lucy e ver o
pequeno Heitor. Espero que ele já tenha tirado aquela história da cabeça.
Sei que criar um filho não é fácil, mas também sei que eles alegram
Sorrio, assentindo.
Vamos brigar, ela vai sentir raiva de mim em alguns momentos, mas
não a deixarei escapar de maneira alguma.
Quase uma hora depois, com a ajuda do meu amigo, escolho um anel que é a
cara da minha mulher. Ainda não me decidi como farei o pedido, mas de uma
coisa eu tenho certeza: dessa semana não passa.
Capítulo 41
Ayla
de dúvidas, a melhor parte do meu dia. Sentir o calor do seu corpo, suas mãos
passeando por minha pele... com certeza eu não trocaria isso por nada nesse
mundo.
uma outra unidade do hospital, e para o azar dele, fica em outra cidade. A
gente poderia ser amigos, bastava ele aceitar esse fato.
o sexo do nosso bebê. Dylan a todo instante diz que seremos pais de uma
menina. Eu não tenho uma preferência, quero apenas que venha com saúde.
Mas isso não quer dizer que reclamaria se estivesse esperando uma
menininha.
Meus pais quase surtaram quando contei sobre a gravidez. Todos estão
ansiosos para saber o sexo. Mamãe queria vir me fazer companhia, mas
depois de mostrar que não estou sozinha, e além do Dylan, tenho a minha
sogra, ela mudou de ideia. Pelo menos por enquanto.
Agora que estou grávida, não consigo parar de pensar na Susan. Esse
seria um momento para vivermos juntas se ela não tivesse engravidado do
Steve. Com tantos homens no mundo, precisava ser logo ele?
— Tenho uma notícia não muito boa. O Steve está aí fora, disse que
não vai embora até falar com você.
demora e o Steve entra, sua forma imponente de andar não o abandona. Seu
terno impecável virou uma marca registrada.
— Decidi que viria me explicar. Não quero que Susan seja a única
culpada dessa história.
— Em que momento eu disse que ela era a única culpada? Os dois
estavam envolvidos, a diferença é que ela era minha amiga, já você...
— Ela sente sua falta, mas é orgulhosa demais para procurá-la. Você,
mais do que ninguém, sabe disso.
Sei que isso é verdade, mas não vejo um motivo válido para ir atrás
dela. Susan errou, e se fosse eu, claro que faria de tudo para minha amiga me
— Sinto desapontá-lo, Steve, mas apenas perdeu seu tempo vindo até
aqui. — Resolvo abrir o jogo de uma vez. — Fiquei muito chateada, ou
melhor, decepcionada com essa história de vocês dois. Ela, como minha
amiga, não poderia esperar uma gravidez para me contar que estava dormindo
com o meu ex-namorado. Desejo do fundo do meu coração que vocês sejam
felizes, no entanto, não posso fazer mais que isso.
erro não foi cometido por mim. A única coisa que me compete é desejar toda
felicidade do mundo para eles.
Isso é verdade, e também era um dos motivos que nos fazia brigar. Ele
não queria filhos.
— Ter um filho com o homem que amo é a realização de um grande
sonho. Esse bebê veio em um ótimo momento. — Aliso minha barriga,
Benditos hormônios.
— Sei que já falei isso algumas vezes, porém, agora é de todo o meu
coração. — Caminha em minha direção, parando a poucos centímetros. —
Me perdoa por tê-la feito sofrer, infelizmente eu era imaturo, apesar da minha
idade.
Por que vou ficar remoendo essa traição o tempo todo? O que tivemos
já passou, agora estou com o homem da minha vida e esperamos um bebê. O
melhor a se fazer é dar o perdão que ele tanto pede, e esquecer por completo
essa história.
Meu menino, tão machucado e ainda assim deu a volta por cima.
Apaixonante, intenso e dono de todo o meu amor. Ainda fico chocada com as
surpresas da vida. Se alguém me falasse há alguns meses que essa seria
minha realidade, claro que acharia que essa pessoa tinha enlouquecido. O
fórum sempre foi uma forma de ajudar as pessoas, só não imaginei encontrar
nele o amor.
— Vou deixá-la sozinha. Obrigado mais uma vez por ter me recebido,
Ayla. — Beija minha bochecha e começa a andar.
— Menino ou menina?
Assinto e ele se retira. Susan nunca quis ser mãe, aposto que surtou
quando descobriu que teria gêmeos. Eu queria estar ao seu lado, mas
infelizmente a vida sempre muda, seja ela positivamente ou não.
Capítulo 42
Dylan
— Feliz.
Limito-me a dizer.
Tive uma sessão poucos dias depois de descobrir que Ayla estava
grávida, eu estava radiante, não me controlei e quase gritei para os quatro
cantos que seria pai. Essa é uma realidade que há alguns meses eu não
imaginava. Na minha cabeça, minha vida se resumiria ao restaurante e o
porão, perspectiva de melhora não fazia parte dos meus pensamentos.
— Fico feliz por isso. Tenho certeza que vocês serão muito felizes. —
Sorri, anotando algumas coisas. — Seus pesadelos cessaram?
— Vamos fazer assim, você vai me dizer qual sua última lembrança
com o Greg.
Conto até dez, respirando fundo.
a esposa dele?
— Seja sincero comigo e também com você, pode ser? — ele pede e
assinto. — Acha que poderia fazer uma visita à viúva do seu amigo?
— Essa é a próxima tarefa que tenho para você. Nossa sessão será em
um mês, quando retornar quero que me conte como foi encontrar com a
esposa do seu amigo. Temos um acordo, Dylan?
sala da minha mãe. Bato na porta, entrando assim que escuto sua liberação.
— Sim, mãe, vim aqui porque estava preocupado com a senhora. Tem
três dias que não nos vemos.
— É a única coisa que tenho para falar, filho. Estava com o Carlos, por
isso não nos encontramos. Isso vai acontecer mais vezes, então vá se
acostumando.
— Ok, mãe. Pelo visto a senhora está ótima. Vou falar com o Heitor,
nos vemos depois, tá?
— Eu apenas sei, mãe. Nos vemos depois. Beijos. — Saio da sala, indo
em direção ao pátio.
— Estou bem! Hoje brinquei muito com os meus amigos — fala com
um sorrisão.
breve possível. A cada visita, sinto meu coração bater mais forte. Acho que
por isso quero tanto uma menininha. Meu coração já escolheu o nosso
garotão.
— Quando você prometeu que eu seria adotado, logo pensei que você e
o Dylan pudessem ser os meus novos pais. Mas agora vejo que não vai
acontecer.
— Você já tem um bebê, tia. Por que ia querer uma criança velha?
Engulo em seco, sem acreditar que ele pense dessa forma. Eu não sabia
dessa promessa da Ayla, se eu fizesse ideia, talvez já teríamos entrado com o
processo de adoção.
— Ei, garotão, sente-se aqui — peço e chego para o lado, para que ele
fique entre Ayla e eu. — Já conversamos uma vez, lembro de ter falado que
você não estava velho para ser adotado. Existem casais loucos atrás de uma
criança encantadora como você.
— O fato de a gente ter um bebê não muda em nada o que sentimos por
você. — A voz dela é doce, e pela forma com que Ayla o trata, sei que
embarcará comigo nessa.
Ayla segura minhas mãos, olhando fixamente em meus olhos. Não faço
a menor ideia de como, mas sei o que ela está prestes a fazer, então aceno,
concordando.
— Fala pra gente, Heitor. Você gostaria que o Dylan e eu fôssemos
seus pais?
— Não sei bem como funciona, mas acho que posso tentar — ele fala,
pensativo, encarando a barriga dela.
Nos abraça e sai correndo em seguida. Não esperava que isso fosse
acontecer hoje.
— Acho que ganhamos um garotão — Ayla diz, encostando a cabeça
em meu ombro.
— Que tal levar sua namorada para jantar? Estou morrendo de fome —
diz, se levantando.
Mando uma mensagem para minha mãe, avisando que estamos indo
embora por motivo de força maior: a fome da minha namorada, futura noiva.
Eu não sei o que o futuro me reserva, mas com Ayla ao meu lado, tudo
ficará mais fácil.
Capítulo 43
Ayla
— Sim, anjo.
— Não sei, é mais provável que não. Eu sei que vou perdoá-la, a
questão é que não teremos como voltar à mesma amizade. — Levanto a
cabeça e o encaro. — A confiança nunca mais será a mesma, sabe?
— Eu te amo, sabia?
— Não pensei que eu fosse ficar tão ansiosa. Estou quase roendo as
unhas que não tenho.
Dylan está certo, preciso me acalmar. Estresse não faz bem para o bebê,
e minha maior preocupação nesse momento é ele.
blusa e coloca o gel. Sinto o líquido gelado sobre minha barriga. Ela coloca o
aparelho e em questão de segundos o som de batimentos cardíacos invade a
sala. Imediatamente meus olhos enchem de lágrimas, sentindo a emoção de
ouvir meu bebê.
Olho para o Dylan e vejo que ele também está emocionado. Com
lágrimas descendo de forma desenfreada por meu rosto, escuto cada vez mais
alto os batimentos do nosso bebê.
— Não tem nada de errado com o bebê. Ele está crescendo saudável.
Você está de 12 semanas e 5 dias. Tá vendo aqui no meio? — Mostra uma
sorridente.
— Eu estava certo, anjo. Algo me dizia que era uma menina. — Dylan
beija meus lábios e sinto o salgado de nossas lágrimas.
— Tenho certeza que será uma menina linda e muito amada. Está na
cara que os papais estão bem ansiosos para a chegada dela. — Sorri, se
— Você estava certo, amor. Não vejo a hora de ter nossa menina nos
meus braços. Será que ela terá o meu ou os seus olhos?
Tentar segurar as lágrimas para quê? Meu rosto está encharcado e tento
a todo instante conter os soluços. Vê-lo tão entregue diante de mim, com
certeza é uma lembrança que levarei para sempre comigo.
esse lugar com ela, seguido da nossa filha. Eu não tenho palavras para
explicar o tamanho do meu amor. Você me amou em uma fase que nem eu
conseguia enxergar algo de bom em meus olhos... você acreditou em mim e
me mostrou que, sim, eu estava vivo e pronto para amá-la.
— Ayla, sei que vou errar bastante, te deixarei com raiva, chateada e
com vontade de me matar. — Sorri, limpando uma lágrima que molha seu
rosto. — Você deu um novo sentido a minha vida, e é com você que quero
passar cada segundo, até que a morte nos separe. Então, Doutora Ayla
Mitchel, aceita casar-se com esse homem falho, mas que te ama mais que
tudo?
— Depois de uma declaração como essa, não tenho nem palavras para
expressar meus pensamentos. — Me jogo em seus braços com cuidado. —
Eu te amo, senhor Dylan. Não tem nada que eu mais queira, do que me casar
com você.
Beijo seus lábios, deixando que ele transmita um pouco do nosso amor.
senhora Collins.
Sinto minha bochecha esquentar, e por mais que ele tenha falado
apenas para que eu escutasse, certeza que a doutora entendeu.
sorriso bobo que não sai do meu rosto seja uma prova viva disso. Ter uma
filha com o Dylan já estava sendo uma alegria inexplicável, mas saber que
em pouco tempo eu serei oficialmente sua esposa me faz entender que
finalmente encontrei o meu lugar no mundo.
Dylan
homem mais feliz desse mundo, mesmo com todos os meus problemas.
Minha mãe só faltou soltar fogos quando contei sobre o casamento. Ela
me acompanhou desde o começo, sabe de tudo que passei.
Não fazer minha mãe sofrer foi um dos meus maiores incentivos.
— Eu sou sua mãe, choro com suas dores e me alegro com suas
conquistas. — Sorri, segurando minhas mãos. — Você vai se casar com uma
mulher maravilhosa, e será pai em poucos meses, saberá como eu me senti.
Pois tudo que vai importar é a felicidade e bem estar da sua menina.
— Acho que já sei como é. Desde o momento que soube que Ayla
estava grávida, um amor inexplicável surgiu em meu peito. Sou capaz de
fazer tudo pela minha menina. Não vejo a hora de tê-la em meus braços.
Depois de falar com minha mãe, decidi que estava na hora de virar
mais uma página da minha vida. Talvez por isso, me encontro em frente à
casa da Maya, tomando coragem para sair do carro e tocar a campainha. Em
quatro meses será o meu casamento, quero que ela esteja presente, será como
se meu amigo estivesse lá.
Sei que você deve estar sentado no carro, pensando em dar meia volta.
Mas saiba que estamos com você. Nós te amamos, papai.
É possível amar mais e mais essa mulher? A cada dia ao lado da Ayla
vejo o quanto sou um filho da mãe sortudo. Saber que em pouco tempo ela
será oficialmente minha me faz sorrir como um idiota.
Olho em choque para ela. Confesso que não estava esperando por isso.
— Por essa eu não esperava, mas fico contente de saber que você está
feliz. Pode ter certeza, meu amigo ficaria muito feliz de saber que seria pai.
— Não posso tê-lo ao meu lado, mas tenho um pedacinho dele — diz
com a voz embargada. — E você, a que devo a honra de sua visita?
— Não foi fácil me recuperar daquele dia. Depois de muito ficar preso
na minha bolha, fui diagnosticado com tept. No meio dessa triste e longa
caminhada, encontrei um anjo e com sua ajuda eu pude me sentir vivo de
novo, sabe?
— Eu decidi virar mais uma página do meu passado, então vim aqui
por dois motivos. Ver se você estava bem...
Se adianta em responder.
casamento.
Com sua barriga entre nós, lhe dou um abraço, sentindo um peso
enorme sair dos meus ombros.
— Não vai ser necessário. Não perderia esse momento por nada. Quero
muito conhecer a mulher que roubou o seu coração.
— Ai, estou tão feliz por você, Dylan. Qual o nome dela?
meu amor pela Ayla e Mia me deu um recomeço, assim como o amor que ela
sente pelo Greg Jr.
Capítulo 45
Ayla
marido.
livre. Vou realizar o meu sonho de princesa, casar-me com um lindo vestido
branco.
— Todos os dias. Meu passado tem duas faces. Antes do SOS, onde era
cinza e carregado de dor. E depois de você, quando minha vida ganhou um
significado. Os dias nublados foram substituídos por férias de verão. — Vira-
se, ficando de frente para mim. — Sem você, talvez eu não conseguiria...
— Eu nunca pensei que pudesse amar tanto uma pessoa como amo
você. — Segura minha mão entre as suas. — Eu sempre disse que queria
voltar a ser normal... Normal para quê? O que eu vivi foi doloroso, mas
precisou acontecer e agradeço por nossos destinos terem se cruzado.
— O que, anjo?
— Você é o único homem da minha vida. Não tem nada que eu anseie
Com a barriga entre nós, enrolo meus braços em seu pescoço, beijando-
o de forma lenta, sentindo a deliciosa mistura de Dylan e suco de laranja.
Minha combinação predileta.
Como estou com essa barriga enorme, pensei que ele não fosse se sentir
atraído por mim. Passei um tempo com isso na cabeça, até que me entreguei
em seus braços e tudo mudou.
— Era para ser uma surpresa, mas a senhorita acabou de estragar tudo.
— Sorri, colocando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. — São as
duas datas mais importantes e marcantes da minha vida. Essa aqui foi o dia
do atentado. — Mostra-me o braço esquerdo. — A outra, quando nos
conhecemos. O doce recomeço da minha vida.
ficar mais linda e gostosa, isso até vê-la com esse barrigão. Só de estar ao seu
lado, meu corpo grita para que te toque.
À medida que vai falando, ele retira minha roupa, deixando-me apenas
de calcinha.
— Sabe o que mais admiro em nós? — Aceno que não, desejosa por
seu toque. — A forma como nos conectamos tanto na cama, como fora dela.
Esse desejo que vejo estampado em seus olhos, que é o mesmo que é
transmitido nos meus agora.
desejada. Não tem outro lugar que eu gostaria de estar, sem ser nos braços do
— Te amo tanto que você não faz ideia, anjo. — Seus movimentos são
cautelosos por causa da barriga.
senhor Dylan.
Ayla
Finalmente o grande dia chegou. Quase não consegui dormir essa noite,
estava nervosa e bastante ansiosa. Desde que meus pais chegaram, não tive a
chance de encontrar com o Dylan. Minha mãe disse que seria bom para
aumentar a saudade. Eu não concordo, pois tudo que eu mais quero nesse
— Você está a noiva mais linda desse mundo — meu pai diz, entrando
no quarto.
— Estou muito feliz por você. Dylan é um rapaz de ouro, você não
poderia ter feito escolha melhor, filha.
— Estou tão feliz que essa felicidade não cabe no peito. Obrigada por
fazer parte desse momento, pai — falo, emocionada. Essa gravidez me
deixou igual uma manteiga derretida.
— Será que eu poderia falar com a noiva por cinco minutos? — James
— Claro, ela é toda sua. — Papai beija minha bochecha. — Nos vemos
daqui a pouco, filha.
— Sei que você sonha com esse momento, mas não vai acontecer. Eu
amo aquele homem, e assim como diz nos votos, só a morte será capaz de nos
separar.
— Eu fiz minha parte de irmão mais velho, agora não tem mais volta.
Rimos de seu jeito bobo. Uma batida na porta chama nossa atenção e
cerimonialista avisa que chegou o momento.
— Chegou a hora.
desenfreada.
— Cuide bem da minha menina, Dylan. — Meu pai aperta a mão dele
assim que paramos em sua frente.
Foram meses lutando por sua guarda, até que dois dias atrás finalmente
conseguimos. Agora ele é nosso filho. Heitor Mitchel Collins.
— Eu tinha o SOS como uma segunda casa. Ninguém entendia por que
mundo. — Sorrio, vendo que não sou a única chorando. — Ele é imperfeito,
tem medos, receios e seus monstros, mas nada disso me impede de amá-lo
mais e mais a cada dia. A gente se completa, e nossas imperfeições nos
tornam únicos e especiais. Nosso relacionamento não começou de forma
convencional, aliás, nada entre a gente foi assim.
maioria, sabem de tudo que passei. Teve uma fase da minha vida que me
entreguei, estava apenas vivendo, sem nenhuma perspectiva de futuro.
O Dylan que ele se refere ficou no passado, e por mais que eu também
o ame, não gostaria de vê-lo novamente. O vazio de seus olhos foi substituído
por um brilho que espero nunca perder.
volta.
— Eu vou te proteger de tudo, nem que para isso precise dar a minha
vida. Serei seu amigo, confidente, companheiro e também amante. Anjo, eu
quero você até o final de nossos dias. Obrigado por ser o meu recomeço, o
doce anjo que me tirou do fundo do poço. Eu amo você, Ayla Mitchel.
de forma doce.
Minha médica me explicou sobre isso, tenho quase cem por cento de
certeza que são as malditas contrações.
— Dylan, aceita Ayla como sua legítima esposa, para amá-la e respeitá-
la, até que a morte os separe?
Dylan
Meus sogros e minha mãe correm em nossa direção. Não tem nada que
eles possam fazer. Só preciso levar Ayla para a maternidade o mais rápido
possível.
— Não precisa, andar vai me fazer bem — fala com a voz baixa, dando
pequeno passos.
Uns cinco minutos depois, entramos no carro e corro para a
maternidade onde ela fez todo acompanhamento na gestação. Estou nervoso,
mas minha maior preocupação é com ela, sua carinha de dor parte o meu
coração.
— Dói muito, anjo? — Sei que é o tipo de pergunta que não deve ser
feita, porém, não resisti.
— Juro por Deus, essa foi a primeira e última vez que você me
engravidou, Dylan. Por mais que eu ame a minha pequena, essa dor
insuportável está me deixando louca.
Graças a Deus todo quarto da Mia já está pronto, lembro até que Ayla
deixou uma bolsa preparada. Pego o celular e envio uma mensagem para o
meu cunhado, informando onde ele pode pegar a bolsa.
— Ela é tão linda, anjo. — Beijo sua testa, olhando admirado para as
duas mulheres da minha vida.
— Ela tem seus olhos enigmáticos, amor. Nossa pequena estrela — fala
com a voz embargada, carregada de emoção. — Obrigada por me
— Obrigado por não ter desistido de mim, anjo. Obrigado por essa
familia linda. Tenho certeza de que você, Mia, Heitor e eu seremos muito
felizes.
filhos lindos, uma mãe perfeita e amigos que posso contar. Recomeçar foi
difícil, meus medos e ansiedades por pouco não me dominaram por completo.
FIM.
Epílogo
Dylan
Mia. Posso dizer que foram os melhores dias da minha vida. A gente briga e
se desentende como qualquer casal, a diferença é que não deixamos o dia
amanhecer para fazer as pazes.
Não sei se tem uma explicação para isso, mas hoje amo Ayla mais do
que ontem, e do que um ano atrás. Todos os dias ela me lembra o motivo de
amá-la tanto. Não importa o quão cansada esteja, sempre tira um tempo para
Desde que viramos pais, digamos que privacidade não é algo tão fácil.
Tudo que eu queria era tocar seu corpo, desfrutando de cada pedacinho.
Nem parece que já é mãe, vive ficando envergonhada com essas coisas.
— Pode ir esquecendo, daqui não vai sair nada pelos próximos anos,
senhor Dylan — fala de um jeito engraçado.
Sei que a dor do parto é grande, não quero que ela passe por isso, pelo
menos não por agora.
— Até que sentir suas mãos passeando por meu corpo não seria um
problema, posso me sacrificar tranquilamente por isso.
gravidez.
A primeira vez que ele nos chamou assim de pai e mãe, foi uma
emoção que não cabia no peito. Ayla sempre foi tia e eu apenas Dylan. Por
mais que ele não seja do nosso sangue, é filho do coração e o amor é o
mesmo.
A puxo pela cintura, colando seu corpo ao meu. Seus olhos brilhantes
me encaram com desejo, e não vejo a hora da noite chegar para tê-la em meus
braços.
Dylan
— Respira fundo, anjo. Posso saber por que você está desse jeito? —
pergunto assim que adentramos o orfanato.
— Você acha que isso pode acontecer, anjo? Nós estamos aqui toda
— Você tem razão. Eu tenho que parar de surtar por qualquer coisa.
Mia não para de mexer com os hormônios da mamãe. — Acaricia sua enorme
barriga de nove meses.
sempre busquei uma vida normal. Mas o que seria esse normal? Ainda tenho
medo de lugares cheios, assim como qualquer situação que me transporte
para o atentado. No entanto, consigo fazer coisas do dia a dia, ir à padaria,
frequentar um cinema com minha noiva...
Não sei explicar, mas posso dizer que me sinto vivo novamente. Com
Ayla ao meu lado, tudo fica mais fácil, sua aparência angelical, o doce som
de sua voz, ou até mesmo como nossos corpos se encaixam perfeitamente em
busca do prazer. Amo-a com todo meu ser, e posso dizer que essa sempre
— Claro que sim, Dylan. — Beija a barriga da Ayla. Não sei quando
ele passou a fazer isso, mas ficamos igual dois bobos admirando a cena. —
Tudo bem, tia Ayla?
— Temos uma coisa muito importante para falar com você, pequeno —
Ayla diz, segurando nas mãos dele.
— É algum problema?
— Lembra que te falamos que sua adoção poderia demorar? E que tudo
iria depender do juiz achar que poderíamos ser bons pais para você? —
pergunto, sentindo as batidas do meu coração acelerarem.
Mitchel Collins.
lágrimas.
— Pode sim.
— Essa felicidade é tanta que quase não cabe no meu peito — Ayla diz
e eu a abraço por trás, pousando minhas mãos em sua barriga.
— Já temos a Mia e o Heitor. Por que não ter mais dois? — Inverto
nossas posições, ficando por cima, tomando todo cuidado com sua barriga.
— Nenhum.
Puta merda! Ayla ficou ainda mais gostosa com essa gravidez.
Tão perfeita.
Todos aqueles que são meus leitores assíduos ou que estão me lendo
pela primeira vez, gratidão. Nos vemos em uma próxima aventura...
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SINOPSE:
capaz de atrapalhar.
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