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APRESENTAÇÃO

O esquema corporal é uma característica humana relacionada ao uso funcional do corpo no


ambiente. Seu desenvolvimento ocorre desde o nascimento e permite transformar os movimentos
desordenados da infância em consciência corporal e utilização ordenada do corpo para a
intervenção no meio com a finalidade de satisfação das necessidades.

O desenvolvimento do esquema corporal ocorre a partir da relação entre o bebê e seus


cuidadores que, ao interagirem corporalmente, estimulam sensorialmente seu corpo. A partir das
sensações proprioceptivas e exteroceptivas, o cérebro processa estas informações, realizando
uma “leitura” total do organismo viabilizando uma representação completa do organismo humano.
Esta representação, ou consciência corporal, permite que aos poucos o bebê se aproprie do seu
corpo, transformando movimentos caóticos em intencionais.

O esquema corporal não é uma construção puramente de ordem biológica, mas está vinculado à
afetividade e as emoções. É através dele que as pessoas adquirem a consciência de seu corpo e,
posteriormente, a consciência de si mesmo. Neste sentido, a construção do esquema corporal,
que passa pelo domínio do ato motor será fundamental para a construção da própria consciência.

O domínio do ato motor ou do próprio corpo na relação com o ambiente implica na percepção do
próprio corpo (que surge através da estimulação sensorial exteroceptiva, interoceptiva e
proprioceptiva), do equilíbrio, da lateralidade, da independência dos membros superiores e
inferiores do tronco e entre si, do controle muscular e do controle da respiração. Cabe esclarecer
que as sensações exteroceptivas são aquelas suscitadas pela entrada de um estímulo através
dos órgãos dos sentidos, ou seja, a via de ligação do ambiente para dentro do corpo, como
audição, olfato, paladar, tato e visão. As sensações interoceptiva são aquelas relacionadas às
sensações viscerais, de dentro do corpo, como movimentos peristálticos, aceleração do
batimento cardíaco, dor de barriga, etc. E as sensações proprioceptivas estão relacionadas à
sensação do corpo no ambiente, como o movimento dos membros, músculos, articulações etc.

Todos estes sistemas sensoriais são fundamentais para a construção do esquema corporal, pois
a partir da estimulação das terminações nervosas, a pessoa “entende”, percebe que há uma
diferença entre o seu corpo e o mundo, que há um mundo interno e outro externo, o que “abre a
porta” para a noção de si mesmo.

A partir do desenvolvimento do esquema corporal, a criança consegue se apropriar cada vez mais
do ambiente, simbolizando-o a partir da elaboração dos dados sensoriais em representações
mentais que faz do mundo, de si e de si no mundo.

As etapas de construção do esquema corporal podem ser divididas em:


1) O corpo vivido (até 3 anos) – relaciona-se com o período sensório-motor de Jean Piaget, onde
são construídos esquemas cognitivos relacionados às sensações e do ato motor. A criança
explora o ambiente com o corpo e na relação com o corpo dos outros. A partir desta relação o
“EU” ou SELF inicia a sua diferenciação;
2) O corpo percebido ou descoberto (3 a 7 anos) – é a etapa de transformar os esquemas
sensoriais e motores em representação mental. Relaciona-se com a organização do esquema
corporal a partir do deslocamento da atenção da criança do ambiente externo para o próprio
corpo, que se torna referência para se situar e situar os objetos no espaço e no tempo. Neste
período, a criança descobre a sua dominância lateral e ganha maior coordenação motora e
refinamento motor e o seu eixo corporal;
3) O corpo representado (de 7 a 12 anos) – relaciona-se com a estruturação do esquema
corporal, pois a criança já possui a noção do todo e das partes do corpo, conhece as posições e
possui maior controle e domínio corporal. Inicialmente a imagem que ela tem do corpo é estática
e reprodutora dos movimentos, entretanto, por volta dos 10/ 12 anos a criança já tem a noção
mental do seu corpo em movimento.

O esquema corporal é fundamental para o desenvolvimento da criança. É a partir do momento em


que ela consegue (...) realizar por si mesma as suas ações, exercitando seus músculos,
aperfeiçoando seus movimentos, tomando suas decisões, treinando a coordenação e a
concentração, exercendo, assim, todas as atividades psicomotoras que necessitem de repetição
e de conscientização para se aperfeiçoarem (ALVES, 2008, p. 52), que conseguirá se
desenvolver adequadamente.

A falta de conhecimento e consciência corporal acarreta na percepção inadequada, dificuldades


de controle e equilíbrio do corpo. Esse quadro causa confusão na identificação das partes do
corpo e na posição dos membros, dificuldade de coordenação e de execução de movimentos,
além de prejuízos na orientação espacial. Problemas com o esquema corporal têm como
consequência danos no desenvolvimento da linguagem escrita e leitura, devido a possíveis
problemas de ordem viso motora, e podem chegar a desencadear problemas relacionais e baixo
desenvolvimento da linguagem.

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