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Universidade de Brası́lia

Faculdade de Tecnologia
Departamento de Engenharia Mecânica
Tecnologia Mecânica 2

PROCESSOS DE FORJAMENTO

Felipe Aguiar Hansen - 16/0119529


Fernanda Couto Costa - 16/0119961
Brası́lia - DF
10 de fevereiro de 2021
1 Introdução

1.1 Objetivos

O experimento tem por finalidade demonstrar os processos de forjamento por prensagem a frio em
matriz aberta e por martelamento a quente e a frio. Será possı́vel visualizar a diferença entre esses processos
quanto à força necessária e a deformação resultante. Também, será possı́vel avaliar o efeito de lubrificação
no forjamento em matriz aberta.

1.2 Introdução Teórica

Processos de conformação mecânica são aqueles que alteram a geometria do material através de
uma força resultante. Esses processos podem ser classificados entres trabalho a quente e trabalho a frio e pelo
tipo de esforço que provoca a deformação da peça. Um dos mais antigos métodos de conformação mecânica
que existe é o forjamento. O forjamento é um processo que consiste em peças fabricadas a partir de esforços
compressivos que deformam plasticamente o material. O forjamento pode ser classificado de acordo com sua
temperatura de trabalho, a geometria da matriz e pelo equipamento de forja.

A temperatura de trabalho pode ser dividida entre quente ou fria. Com o forjamento a quente é
possı́vel conseguir grandes nı́veis de deformação com uma menor força, já que a energia necessária para a
deformação é geralmente muito menor que a fria. Já para o forjamento a frio é requerido uma maior força e
materiais com nı́veis suficientes de ductilidade para sofrer a deformação e não trincar. O forjamento a frio
proporciona uma peça final mais resistente por conta do encruamento.

O forjamento em matriz aberta ou forjamento livre é caracterizado pelo uso de duas matrizes
planas que comprimem a peça e é usada normalmente para peças grandes e com geometria simples. Nesse
processo o material sofre esforços compressivos e por consequência escoa perpendicularmente à direção de
aplicação da força.

Já o forjamento em matriz fechada a peça fica com o formato da cavidade da matriz e normalmente
é usado com temperaturas mais elevadas. A pressão de forjamento é muito alta e se faz necessário um alto
controle para ver se o material irá ocupar todas as partes vazias da cavidade da matriz. Qualquer falha na
matriz ou no processo de forjamento gera um menor tempo de vida para a peça fabricada.

A prensagem e o martelamento são tipos de forjamento, o primeiro faz o uso de uma prensa de
forjamento e o segundo de um martelo de forja. Durante a prensagem o material é submetido a uma força de
compressão e baixa velocidade e tem como resultado final uma deformação mais uniforme, já que é capaz de
atingir camadas mais profundas e abranger uma maior área. Já o martelamento consiste em golpes sucessivos
e é usado quando é necessário uma pressão mais elevada e um efeito instantâneo de impacto, no entanto é
caracterizado por deformações mais superficiais. Uma desvantagem do martelamento é a energia de impacto
que é transferida para o chão do prédio ou instalação que ocorre esse processo.

A deformação resultante das peças após o forjamento pode ser calculado pela equação abaixo:

ho
 = ln( ) (1)
hf

E o trabalho necessário para deformar a peça :

T = V r (2)

O volume teórico das peças permanece constante, uma vez que é desconsiderado o atrito entre a

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superfı́cie e o material. Dessa forma, a perda de altura é inversamente proporcional ao aumento do diâmetro.

V = Af hf = Ai hi (3)

2 Metodologia e Procedimento Experimental

2.1 Forjamento por martelamento

Foi usado um martelo de forja para realizar golpes contra a peça e por consequência deformá-la.
O material usado foi uma barra de circular de aço 1020 e foi possı́vel comparar o martelamento a quente e
o martelamento a frio.

No forjamento por martelamento a frio o técnico martelou a ponta da barra, que estava em tem-
peratura ambiente, algumas vezes. O próximo procedimento foi aquecer a ponta de outra barra de mesmo
material usando um maçarico com chama oxiacetilênica e realizar o martelamento a quente. A barra foi
aquecida a uma temperatura acima da sua temperatura de recristalização, cerca 800◦ C a 1000◦ C

2.2 Forjamento matriz aberta

O experimento feito para analisar o forjamento em matriz aberta consiste no uso de um corpo de
prova cilı́ndrico de alumı́nio que é colocado entre duas prensas. O experimento é dividido em duas etapas e
tem por finalidade analisar a diferença da geometria final da peça prensada fazendo e não fazendo o uso de
lubrificante entre o material e a matriz.

A primeira etapa é medir a altura e o diâmetro do corpo de prova antes da prensagem, após a
compressão da peça o corpo de prova é medido novamente para obter suas dimensões finais, tanto sem
lubrificante quanto sua dimensões com o uso de lubrificante.

3 Resultados

Após a realização dos processos descritos, obteve-se a tabela 1, com as medidas dos diâmetros
inicias (do ) e finais (df ) na parte superior, central e inferior registradas. Também foram medidas as alturas
iniciais (ho ) e finais (hf ), variando o ângulo de rotação da peça. A partir da média desses dados, foi possı́vel
calcular a energia de deformação, o diâmetro final teórico e a força máxima necessária na prensa e com isso
discutir os efeitos da ovalização do corpo de prova.

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Tabela 1: Resultados do forjamento por matriz aberta, com e sem lubrificante
Ensaio de forjamento a frio em matriz aberta
cp1 (com lubrificante)
Carga 700 kgf (marcador do vı́deo)
medidas h0 d0 hf df ângulo
superior 14,8 12,6 7,25 17,5 0°
superior 14,75 12,6 7,4 17,2 90°
meio 14,75 12,6 7,4 18,3 0°
meio 14,75 12,6 7,2 18,35 90°
inferior 12,6 17,1 0°
inferior 12,6 17,2 90°
médias 14,76 12,6 7,31 17,61
cp2 (sem lubrificante)
Carga 550 kgf (marcador do vı́deo)
medidas h0 d0 hf df ângulo
superior 15,15 12,7 7,2 17,55 0°
superior 15,1 12,65 7,4 18,8 90°
meio 15,1 12,7 7,4 18,3 0°
meio 15,1 12,7 7,25 19,2 90°
inferior 12,75 17 0°
inferior 12,75 17,75 90°
médias 15,11 12,71 7,31 18,10

3.1 Energia de deformação Homogênea

O processo de forjamento de matriz aberta, utiliza um recalque, que necessita de uma energia de
deformação homogênea capaz de deformar o corpo de prova da altura inicial para a final. Essa energia (U )
é calculada a em função do volume do corpo de prova, da tensão da carga exercida pela máquina e pela
deformação ocorrida, como mostram as equações 5, 6 7, respectivamente.

π.d2f
Af = (4)
4

Vc = Af .hf (5)

K.n
Ȳ = (6)
1+n

ho
 = ln( ) (7)
hf

U = Vc .Ȳ . (8)

Onde,
Af é a área final do corpo de prova;
Ȳ é a tensão média da máquina sobre o corgo;
n e K são o expoente de encruamento e o coeficiente de resistência, respectivamente, retirados do relatório

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1 para o alumı́nio;
ho e hf são as alturas dos corpos de prova antes e depois do forjamento, respectivamente;

3.1.1 Com lubrificação

Para o caso de um forjamento de matriz aberto, foi utilizado o óleo lubrificante ”P-74 Paste”, como
forma de reduzir as forças de atrito resultantes do processo. Com isso foi possı́vel calcular sua energia de
deformação.
Af = 2, 57.10−4 m2
Vc = 1, 880.10−6 m3
Ȳ = 423, 347M P a
U = 577, 94kJ

3.1.2 Sem lubrificação

Para o caso de um forjamento de matriz aberto sem lubrificante, foi calculado sua energia de de-
formação.
Af = 2, 43.10−4 m2
Vc = 1, 779.10−6 m3
Ȳ = 422, 255M P a
U = 527, 95kJ

Observou-se uma energia de deformação maior para o caso com lubrificante, pela análise numérica.

3.2 Diâmetro Final Teórico

O cálculo do diâmetro final teórico, para caso não ocorresse a deformação redundante no cilindro,
usa como princı́pio o volume constante para antes e depois do processo de forjamento com matriz aberto.
A partir dessa teoria, expressa pela equação 9, obteve-se os diâmetros finais teóricos dos casos com e sem
lubrificação, com óleo ”P-74 Paste”.

V c = A0 .h0 = Af .hf (9)

3.2.1 Com lubrificação

Pelos dados da Tabela 1, foi obtido o diâmetro final teórico com lubrificação, dado por: df =
18, 27mm

3.2.2 Sem lubrificação

Pelos dados da Tabela 1, também obteve-se o diâmetro final teórico sem lubrificação, dado por:
df = 17, 90mm

Em comparação com os valores de diâmetros medidos para ambos os casos (sem lubrificação e com
lubrificação), os diâmetros finais teóricos deram maiores que os medidos, devido ao processo de ovalização
da peça no processo de forjamento.

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3.3 Força Máxima na Prensa

Com base na tensão máxima correspondente ao nı́vel de deformação verdadeira atingida, dado pela
equação 10, a força máxima necessária na prensa para reduzir a altura dos cilindros, caso não houvesse a
presença de atrito nas faces, foi calculada pelo produto da tensão pela área final de atuação da prensa no
corpo de prova, equação 11. Com isso, também foi possı́vel comparar com o valor aproximado indicado pelo
medidor de força da prensa, visualizado no vı́deo.

Yf = K.n (10)

Fmax = Yf .Af (11)

A Força máxima (Fmax ) deu igual a 110, 86kN para o processo sem lubrificação, e igual a 117, 44kN
para o processo com lubrificação. Em comparação com as forças obtidas pelo medidor de força da prensa
dados por: QSL igual a 7000 kgf, para o processo sem lubrificação e QL igual a 5500 kgf, para o processo
com lubrificação. Considerando que 1 kgf equivale a 0,0098 kN, os valores apresentaram uma discrepância
significativa e diferente da teoria, que prevê uma força máxima menor para o forjamento com lubrificação.

3.4 Ovalização com Lubrificação

Como observado na análise de dados acima, comparando os resultados do processo de forjamento


com e sem lubrificante, não houve uma diferença significativa entre os dois tipos de processo, tanto em
relação a energia necessária para deformação, quanto no processo de ovalização. Com isso percebemos que
o lubrificante não foi suficiente para evitar diminuir as forças de atrito gerada entre o punção e o material
e, consequentemente, o processo de ovalização do corpo de prova. Apesar do que nos relata a teoria a
lubrificação não obteve o resultado esperado, e os fatores que podem ter sido responsável são: a medição
manual das dimensões do corpo de prova ou até o desprezo na análise da própria forja, sem nenhuma medição
e comparação antes e depois do forjamento.

Após esse estudo, também foram feitas análises metalográficas nos corpos de prova de alumı́nio.
As Figuras 1, 2, 3 e 4 mostram as micrografias do alumı́nio depois do forjamento por matriz aberta.

Figura 1: Corpo de Prova do alumı́nio pós forjamento

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Figura 2: Micrografia do escorregamento lateral

Figura 3: Micrografia do escorregamento lateral próximo ao canto

Figura 4: Micrografia do escorregamento lateral próximo ao canto livre

Por meio dessas micrografias e da foto do corpo de prova, foi possı́vel analisar o efeito do forjamento
sobre as discordâncias das peças. Percebe-se que próximo às bordas, as curvas se acentuam sem acompanhar
a deformação da peça, esse fato demonstra que o corpo de prova não obteve o arrastamento suficiente para
evitar o abaulamento. Essa análise mostra que mesmo com lubrificante a peça ainda gera uma força de atrito
muito alta, impedindo o seu arrastamento.

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3.5 Forjamento por martelamento

Após o processo de forjamento por martelamento, a quente e a frio, como descrito anteriormente
obteve-se as seguintes configurações das barras de aço 1020. Figura 6 martelamento à quente e figura 5
martelamento à frio.

Figura 5: Resultado final do martelamento à frio

Figura 6: Resultado final do martelamento à quente

Pelo experimento observou-se que o aço forjado à frio deformou bem menos em comparação com
o forjamento à quente, mesmo com a grande quantidade de esforço aplicado pelo operador no aço frio.
Esse processo pode ser explicado pelas propriedades dos materiais que são alteradas com a temperatura,
apresentando maior ductilidade e menor resistência mecânica quando quente.

Observou-se também que os efeitos desse processo de forjamento não são só observados macrosco-
picamente, mas também microscopicamente, por meio de suas microestruturas, representadas nas figuras 8
7.

7
Figura 7: Micrografias do martelamento à quente

Figura 8: Micrografias do martelamento à frio

Pelas imagens foi possı́vel analisar o comportamento dos grãos do aço 1020 em diferentes tempe-
raturas. Na Figura 8, observou-se um grão menor e em maior quantidade em relação 7, esse fato caracteriza
uma maior resistência mecânica e menor ductibilidade. Ao contrário do procedimento a frio, o procedimento
à quente possui menor número de discordâncias e maior regularidade na estrutura dos grãos, resultantes
de uma recristalização e uma recuperação em altas temperaturas. Devido a isso, comprovamos que o aço
quente possuı́ maior ductibilidade, menor resistência e menor dureza, como havı́amos previsto anetes.

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4 Conclusão

A partir dos dados obtidos, pode-se constatar uma boa elaboração do experimento, seguindo a
teoria dadas em sala de aula para ensaios reais, resultando em dados próximos aos esperados.

Os resultados ainda mostraram que a teoria para forjamento em matriz aberta com e sem lubrifi-
cante não foram confirmados nos dados do experimento. O lubrificante não foi capaz de reduzir considera-
velmente o atrito, reduzir o efeito de abaulamento e ainda diminuir a energia de deformação.

Quando analisado o experimento do aço 1020, pudemos perceber um efeito claro no aumento
dureza do material no processo de forjamento à frio, em comparação com o processo à quente. Esse efeito é
comprovado observando que sua micrografia gerou uma geometria favorecendo a aproximação dos contornos
dos grãos e o aumento das discordâncias provocadas pela deformação.

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Referências
[1] W. D. J. Callister, Ciência e Enhenharia de Materias: Uma Introdução, 5 ed. LTC - Livros Técnicos e
Cientı́ficos Editora, 2002.

[2] V. Chiaverini, Tecnologia Mecânica Estrutura e Propriedades das Ligas Metálicas, 2 ed. Editora
McGraw-Hill, 1986.

[3] S. Kalpakjian and S. R. Schmid, Manufacturing Engineering and Technology, 6 ed. Pearson, 2009.

[4] Dustre, Forjaria Industrial: Forjamento Matriz Aberta. Dustre. Fonte:


https://dustre.com.br/servicos/forjamento-matriz-aberta/, Acesso em: 29/10/2020.

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