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— Luis Roberto Barroso consta da Lista de remessas ilegais elaborada em 1999 pelo
Procurador Federal Celso Antonio Tres, que investigava o caso. Tal lista foi enviada à
CPI do Banestado em 2003 — lista essa vazada pelo Duplo Expresso em junho deste
ano. Dela, consta remessa em nome do Ministro Barroso no valor de US$ 1.6 milhão,
em valores da época. Em valores reajustados apenas pela inflação do período, sem
juros, o equivalente a US$ 2.5 milhões (dois milhões e meio de dólares) hoje.
Bis: Barroso na Lista de Celso Tres (1999), no Volume 2, página 390
Correção, apenas pela inflação do dólar de 1999 a 2020:
Pelo câmbio de hoje — de novo, sem aplicar juros nestes últimos 20 anos! — o
equivalente a R$ 13.5 milhões (treze milhões e meio de Reais). E não R$ 2.5 milhões,
como escreveu o jornalista Rafael Bruza em aparente confusão cambial.
A título de ilustração, se fôssemos aplicar juros nessas mais de duas décadas, mesmo
que com a “modesta” taxa CDI do mercado brasileiro, o valor em Reais corrigido
quase chegaria a R$ 50 milhões, como calculamos em julho último:
– A Lista do MPF contém apenas remessas feitas acima de US$ 150 mil. Esse foi o
ponto de corte, conforme informado pelo Procurador Tres. Ou seja, caso o Ministro
tivesse feito outras remessas, até esse valor, mesmo que várias, fracionadas, essas
voariam abaixo da detecção do radar das investigações.
— Desde 1985 até a sua indicação para o STF em 2013, Barroso foi Procurador do
Estado do Rio de Janeiro — além de advogado e professor de uma universidade
pública.
— Não se encaixando nas hipóteses legais de então para o uso das contas CC5 para
remessas de capitais ao exterior, sujeitas a menos controles, a remessa do Ministro
foi, necessariamente, ilegal.
— Isso não significa, em princípio, que a origem do dinheiro remetido seja — ela
também — ilegal. São coisas diferentes. A remessa ilegal pode constituir o crime de
evasão de divisas. Já o dinheiro remetido ilegalmente pode ter três origens: (i) legal,
como, p.e., o salário que Barroso recebia como Procurador do Estado; (ii) ilegal
“light”, como, p.e., honorários hipoteticamente recebidos como advogado não
declarados à Receita Federal, ou seja, fruto de sonegação fiscal; ou (iii) ilegal “barra
pesada”, como, p.e., propina hipoteticamente recebida como Procurador do Estado
para fazer vista grossa para alguma ilegalidade. O próprio Celso Antonio Tres
confirmou, genericamente, tais hipóteses em — minuciosa — entrevista ao Duplo
Expresso, ao lado do ex-Senador Roberto Requião e do Delegado Federal aposentado
José Castilho Neto, em 5 de julho deste ano.
Ora, em se tratando de alguém que “está refundando o Brasil” com base no “combate
à corrupção”, tal dúvida não pode subsistir. Mais do que isso, na qualidade de
Presidente do TSE, Barroso dirigirá as eleições deste ano. Necessidade maior de
“reputação ilibada”, portanto, não há.
Não sei qual foi a pergunta que o jornalista formulou a Luis Roberto Barroso, para
que recebesse a resposta do Ministro reproduzida acima. Bem distante – como vimos
– de esclarecer a que se destinava a remessa ilegal de Barroso nos anos 90,
equivalente a US$ 2.5 milhões. Muito menos a origem do dinheiro remetido, então,
ilegalmente. Bem, na verdade, ainda sequer podemos descartar, de plano, a hipótese
de a própria origem do dinheiro ser – ela também – ilegal, fruto de sonegação fiscal
ou de – Deus queira que não! – atividade criminosa.
Certo?
Em tempo (1):
Como pessoa de formação jurídica, ex-aluno do Ministro Barroso inclusive, sei
perfeitamente que ele pode se furtar de responder algumas das perguntas acima para
que não tenha de se declarar impedido caso venha, no futuro, a julgar tais questões na
qualidade de Ministro do STF. Mas aí surge outra questão, chave: sendo Dario
Messer, o “doleiro dos doleiros”, figura central nos escândalos da Lava Jato e do
Banestado, e alegadamente o cambista a quem os irmãos Marinho recorreriam para
fazer transações cambiais ilegais, e sendo Luis Roberto Barroso o advogado —
histórico — da “proba” Rede Globo, que remeteu mais de R$ 33 bilhões (em valores
atualizados) usando o esquema das CC5, o Ministro estaria impedido de votar em
ações relativas a esses escândalos? Seria suspeito?
Quantas vezes os votos e gestões de Barroso não foram determinantes para o avanço
da Lava Jato?
Inclusive passando por cima da literalidade da Constituição?
Em tempo (2):
A Primeira Turma do STF, da qual o Ministro Barroso faz parte, decidiu na Ação
Penal (AP) 863 (em 2017), na sua guinada punitivista já na era Lava Jato – cujo
campeão era justamente o próprio Barroso –, que o crime de lavagem de dinheiro é
permanente. Sendo assim, não haveria que se falar em prescrição do mesmo enquanto
os capitais lavados permanecerem ocultos. Barroso, o “campeão da moralidade”,
naturalmente votou a favor de tal entendimento.
Ironia: o condenado então foi o ex-Prefeito de São Paulo Paulo Maluf, por propina
recebida durante o seu mandato à frente da capital paulista. Pois adivinhe, leitor,
como tal propina foi evadida do Brasil? Isso mesmo: via CC5, no “Escândalo do
Banestado”!
Com a palavra, Luis Roberto Barroso, Ministro do STF, Presidente do TSE, paladino
da moralidade pública e (auto-proclamado) “refundador do Brasil”.
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