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Cepagro Banheiroseco-4
Cepagro Banheiroseco-4
à crise de água
agroecológico e resposta
Saneamento como princípio
Banheiro Seco
1
C O L E Ç Ã O
vol. 1
Saber na
Prática
2
Banheiro Seco
S a n e a m e n t o c o m o p r i n c í p i o
a g r o e c o l ó g i c o e r e s p o s t a
à crise de água
Florianópolis, 2013
1
ISBN 978-85-67297-01-9
Coordenação Editorial
Fernando Angeoletto
Saber na Prática
V I V Ê N C I A S E M A G R O E C O L O G I A
4
Sumário
Transformando Resíduos em Recursos 7
A experiência do Cepagro 8
Do sul ao nordeste: a ideia de conviver com a seca 9
Articulando Saberes 11
Passo-a-passo de implantação de Banheiros Secos no 15
programa Cepagro/Cedapp
Referências Bibliográficas 36
5
6
Transformando
resíduos em recursos
No atual cenário de desperdício de água, contaminação do meio ambiente
e perda de fertilidade do solo, o Banheiro Seco é uma alternativa ecológica
e sustentável. Isso porque não usa água para dar descarga, mas uma mistura
de materiais secos visando a Compostagem ou Desidratação/Alcalinização,
transformando os dejetos em adubo. O Banheiro Seco reúne, então, três
vantagens: economiza água, é menos impactante ao meio ambiente e ainda
transforma o que seria um poluente em um fertilizante natural.
Os resíduos não vão para o esgoto. Podem ir para uma composteira, onde,
misturados a folhas secas, palha e restos de comida, tornam-se adubo depois
de alguns meses. Este processo chama-se compostagem e elimina bactérias e
microorganismos causadores de doenças presentes nas fezes. Já no caso de
regiões mais secas, e portanto com menos disponibilidade de material para
compostagem, a recomendação é que os dejetos passem por um processo de
desidratação/alcalinização.
A urina e as águas cinzas (que saem da pia e do chuveiro) também não
vão para o esgoto. São usadas para irrigar um círculo de bananeiras, que
absorvem os nutrientes destes líquidos.
7
Técnico do Cepagro (dir.) apresenta uma das peças do
Banheiro Seco, em oficina prática durante o Encontro do
Núcleo Litoral Catarinense da Rede Ecovida (2008)
A experiência do
Cepagro
Geralmente, os agricultores não dispõem de sanitários próximos dos cultivos
onde passam praticamente o dia todo. Como alternativa a esta realidade, e
dentro de uma proposta de ecologização completa das propriedades, foram
construídos Banheiros Secos em sítios de 3 famílias do Núcleo Litoral Cata-
rinense da Rede Ecovida de Agroecologia, entre os anos de 2006 e 2008.
Os banheiros foram feitos com madeira de demolição e outros materiais
reutilizados, com assessoria do Cepagro, que possuía técnicos e metodo-
logia para este fim. A compostagem já era uma técnica conhecida pelos
agricultores. A ideia de produzir mais adubo com os resíduos do banheiro
foi bem aceita. Por princípios dos agricultores, o adubo era usado apenas em
árvores frutíferas, descartando-se o uso nos cultivos de hortaliças (embora
defenda-se que isso seja possível, se todas as recomendações técnicas para
o tratamento dos dejetos forem regularmente aplicadas). Na mesma época,
o Cepagro também assessorou a construção de Banheiros Secos em hortas
comunitárias no município de Itajaí.
8
Do sul ao nordeste: a ideia
de conviver com a seca
Grande parte do Nordeste brasileiro, além do norte do estado de Minas
Gerais, tem um clima chamado semiárido, em que faz muito calor e chove
pouco durante o ano. Em 2013, o sertão nordestino sofria com uma seca
que já se estendia por 2 anos, sendo considerada uma das piores das últimas
5 décadas. A falta de água, além de dificultar a agricultura, também é causa
dos altos índices de mortalidade infantil da região. A maioria destas crian-
ças morre por doenças que poderiam ser evitadas se elas tivessem acesso a,
simplesmente, água limpa.
A seca, então, vem sendo combatida há muitos anos. Existe até um
Departamento Nacional de Obras Contra as Secas. Projetos de grande
escala, como a transposição do Rio São Francisco, são historicamente
prometidos às comunidades. No entanto, questões de ordem política e da
própria geografia da região tornam este horizonte cada vez mais distante.
Por isso, algumas organizações começaram a trabalhar com a ideia de
convivência com o semiárido, ao invés de
continuar tentando lutar contra as condi-
ções climáticas da região onde vivem.
Semiárido
Isso significa compreender o meio Pernambuco
ambiente (inclusive o clima) como ele é,
desenvolvendo tecnologias adaptadas a esta
condição, sempre respeitando os saberes e a
cultura das comunidades. É neste contexto
que o Banheiro Seco entra, na perspectiva Santa
do Gerenciamento de Recursos Hídricos, Catarina
como uma alternativa sanitária sustentável
para a convivência com o semiárido.
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Articulando Saberes
Belo Horizonte, março de 2008. De um bate-papo durante um encontro
de donatários da Inter-American Foundation (IAF), surgiu uma ideia que
continua dando frutos: a construção de Banheiros Secos no semiárido
nordestino. A conversa foi entre técnicos do Cepagro e do Centro Dioce-
sano de Apoio ao Pequeno Produtor (Cedapp), entidade baseada na cidade
ilmente
de Pesqueira, a 180km de Recife, nas portas do sertão. Após um período
de testes, com financiamento da IAF, assessoria técnica do Cepagro e o
a
tiva evit trabalho do Cedapp com a população local, 126 Banheiros Secos foram
o
minaçã is construídos em 17 comunidades do semiárido pernambucano entre 2009
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aconteceu em Belo Horizonte, a possibilidade de construir Banheiros Secos
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as rapidamente tornou-se uma meta providencial para o pessoal do Cedapp.
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a construção de dois modelos de Banheiro Seco, que depois foram avaliados
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com apoiesenvolvimento as proteger os
pelos usuários e pelo Cedapp, contando com adaptações que o tornaram
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desafio ais e desenvolv s, restos de ga- mais adequado às realidades locais.
mananci mposto de feze a floricultura
gia. O co utas, alimenta compostagem
Antes de começar as obras, os técnicos do Cepagro realizaram encontros
lhos e fr s frutíferas. “A co será desti-
e árvore de Pernambulmas e capin-
nos sítioss pomares, pa arcos. Segun-
nada ao animal”, diz deral de San-
Mde formação com comunidades da região de Pesqueira e profissionais do
zais para Universidade Feá do projeto,
Cedapp. Apresentaram um vídeo sobre a experiência com Banheiros Secos
do ele, a ina participar de elementos
ta Catar do a presença em.
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no litoral de Santa Catarina e fizeram uma capacitação com pedreiros
examin os na compostago consideradas
patógen s humanas sã e. “O trato di-
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deram palestras de sensibilização para a população, mostrando como é
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banheiros: a partir dessa capacitação, os profissionais poderiam repassar os
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de água, pim seco. Por de serra e pa-
conhecimentos sobre como fazer e usar o Banheiro Seco para mais pessoas.
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A construção aconteceu em mutirões
organizados pelo Cedapp com as
comunidades, com assessoria técnica
do Cepagro. Foram construídos
banheiros de dois modelos diferentes
para armazenamento das fezes: um
que utiliza uma bombona plástica,
em Serra da Cruz, e outro com uma
rampa e duas câmaras de alvenaria,
em Horizonte Alegre. As duas comu-
nidades ficam na região de Pesqueira.
Pelo baixo custo e maior facilidade na
edificação e manutenção, os mora-
dores escolheram fazer os próximos
sanitários com bombonas.
3º passo
• Em 15 comunidades rurais do semiárido pernambucano, técnicos do
Cedapp apresentam a proposta do Banheiro Seco para sensibilizar as
famílias e identificar as mais necessitadas.
6º passo
Avaliação final do trabalho e recomendações finais:
• A desidratação é o modelo mais adaptado para tratar as fezes naquela
região;
• Necessidade de acompanhamento mais frequente às famílias beneficia-
das pelo Banheiro Seco;
• Importância de análises do resíduo tratado para garantir a higienicidade.
15
Cisterna (esq.) e Banheiro
Seco são complementares
no convívio com o semiárido
17
Há duas perspectivas importantes,
do ponto de vista das famílias que o
adotaram, sobre o uso dos Banhei-
ros Secos. Uma delas é a constante
adaptação dos modelos, desde o
primeiro que foi construído em
2008. A primeira melhoria obser-
vada foi a inclusão de chuveiros.
Outra mudança importante foi
quanto ao vaso que, considerada a
inclusão da bombona para armaze-
namento das fezes, alcançava uma
altura de 2 degraus. Observamos
duas soluções já adotadas para este
obstáculo: uma delas foi elevar a
fundação de alvenaria do Banheiro,
e a outra foi acondicionar a bom-
bona em um buraco escavado por
baixo do vaso. Em ambos os casos,
No modelo construído em 2008, 2 degraus eram
facilitou-se o acesso por idosos, necessários para acessar o vaso; não havia chuvei-
crianças e portadores de necessida- ro, e o mictório masculino ficava debaixo da pia
des especiais.
18
Um modelo considerado
ideal para as próximas inter-
venções: Banheiro Seco
com câmara e segregador
de urina para homens e
mulheres no próprio vaso.
As águas são conduzidas a
um círculo de bananeiras ou
outras plantas com elevada
capacidade de evapotrans-
piração, como a taioba
6
9
2 7
5
8
3 4
22
1 Tampo superior - em geral feito em madeira, é onde fixamos o assento sanitário
e o conector da chaminé e da bombona.
2 Assento com tampa - assento sanitário plástico comum, com tampa e sem
frestas.
6 Chaminé - tubo de PVC ou metal com tela nas extremidades para evitar a
entrada de insetos. Também é pintada de preto para que se esquente ao sol,
ventilando a bombona. Assim diminuem a umidade e o cheiro ruim.
7 Pia - Para ser usada sempre após o uso do Banheiro Seco ou do mictório. A água
sai da pia, passa pelo mictório e é conduzida para um círculo de bananeiras.
9 Chuveiro - fica ao lado do Banheiro Seco. Sua água também é direcionada para
o círculo de bananeiras.
VOCÊ SABIA?
Cada bananeira adulta pode absorver até
15 litros de água por dia. Plantando de 4 a 6
mudas, após 2 anos teremos uma família de
até 10 pés adultos, que poderão absorver cerca
de 150 litros de líquido diariamente.
10 23
Uso diário
Existem algumas técnicas para manejarmos um Banheiro Seco e assim
diminuirmos o risco de doenças transmitidas pelas bactérias e micro-
-organismos presentes nas nossas fezes. Seguindo estes três passos, diminu-
ímos a praticamente zero as chances de contaminação. O grande segredo
do bom funcionamento do Banheiro Seco é que, após usá-lo, damos uma
“descarga” para cobrir bem as fezes com duas ou mais canecas de mistura
de materiais secos.
1 2 3
Dar a “descarga”,
Usar o Banheiro Seco: Lavar bem as mãos após o
colocando duas ou
fezes e papel higiênico uso do banheiro.
mais canecas de
vão para a bombona, a
MISTURA 1 ou
urina vai para um sepa-
MISTURA 2
rador e direcionada para
(ver box abaixo)
o círculo de bananeiras.
IMPORTANTE!
Neste caso o papel higiênico também deve ser separado,
podendo ser queimado. Evitar ao máximo possível a
presença de urina.
25
E quando a bombona
estiver cheia?
Apesar de a bombona ter 50 ou 60 litros, se esperarmos ela encher
completamente para trocá-la, serão necessárias duas pessoas para realizar
o trabalho. Portanto, troque ou esvazie a bombona de acordo com a sua
capacidade para transportá-la.
1 2 3
27
Como montar a pilha
de compostagem?
Escolher o local adequado e colocar uma
28
A pilha de composto
fica assim
A palhada ajuda a evitar a perda de calor e
umidade da pilha de Compostagem.
A atividade decompositora dos micro-
-organismos produz calor de até 50°C, des-
truindo seres nocivos e seus esporos e ovos.
Macro-organismos como as minhocas estão
presentes na pilha, ajudando a decompor os
materiais orgânicos e arejá-la.
29
Quanto tempo dura
a compostagem?
Quando estendemos o tempo de repouso da pilha de compostagem
para 1 ano, garantimos a completa limpeza deste composto. Isto ocorre
naturalmente, pela competição entre os micro e macro-organismos e a
estabilização da matéria orgânica.
1 2 3
Nova Pilha sendo Pilha com 6 meses, Pilha com 1 ano.
iniciada. em processo de A diminuição do
Adicionamos compostagem. volume é resultado
todos os resíduos A partir daí, esta da compostagem,
orgânicos, inclu- Pilha entra em mas o composto
sive do Banheiro repouso de 1 ano, deverá ficar parado
Seco, durante 6 e iniciamos uma por mais 6 meses,
meses. nova. totalizando 1 ano
de repouso
30
Cuidando da
composteira
• Em períodos muitos chuvo-
sos, recomenda-se usar uma
cobertura extra de palha
sobre a pilha para evitar o
encharcamento e paralisação
do processo.
31
Como manter adequadamente
a pilha de compostagem?
Problema Causa provável Solução
Adicionar material verde,
Muita matéria seca adicionar água e revirar a
pilha
Processo
lento Materiais muito Cortar os materiais em
pedaços pequenos e revirar
grandes a pilha
Aumentar o tamanho
Pilha muito
adicionando mais verdes e
pequena matéria seca
Baixa Umidade
Adicionar água
temperatura insuficiente
(não chega
a aquecer) Arejamento
Revirar a pilha
insuficiente
33
Como fazer a
desidratação?
Como local de armazenamento cavamos
1 um buraco de 1 metro de profundidade
e com uma área de 70cm x 70cm, ou com
um diâmetro de 80cm. O buraco é raso
justamente para evitar a contaminação
de lençóis freáticos.
2
A terra retirada do buraco deve ser reser-
vada ao lado. Quando descarregamos
nele uma bombona, devemos tapar bem
o material com esta terra.
ATENÇÃO!
O local para cavar o buraco em que serão
depositados os resíduos não deve ser baixo ou sofrer
alagamento. Deve estar a pelo menos 30 metros de
córregos, barreiros ou outras fontes de água. Quanto
mais próximo do banheiro, facilitando o transporte da
bombona, melhor.
34
Fechando o
ciclo natural
A possibilidade de retornar nossas fezes ao
solo sem contaminar a água é um dos prin-
cipais fatores que tornam o Banheiro Seco
sustentável. Mas os dejetos nunca devem
ficar sem tratamento ao ar livre nem desco-
bertos sobre o solo, senão podem contaminar
pessoas ou animais. Para reduzir o risco de
transmissão de doenças recomenda-se utilizar
o material tratado para adubação de árvores
frutíferas ou das plantas para ração dos ani-
mais, mas não para legumes e verduras que
serão consumidos crus.
LEMBRE-SE!
O Banheiro Seco só funciona apropriadamente
e sem riscos para a nossa saúde se for utilizado
e cuidado corretamente. É fundamental evitar ao
máximo que caiam líquidos dentro da bombona,
usar sempre a descarga de materiais secos e fazer
a compostagem dos resíduos adequadamente.
CONSULTE SEMPRE AS INFORMAÇÕES TÉC-
NICAS DISPONÍVEIS NESTA CARTILHA.
35
Referências bibliográficas
SITIOS DE INTERNET
CEPAGRO - www.cepagro.org.br
Blog do Banheiro Seco - banheirosecoecologico.blogspot.com.br
Banco de Tecnologias Sociais da Fundação Banco do Brasil
- www.fbb.org.br
Saber na Prática
V I V Ê N C I A S E M A G R O E C O L O G I A
4ISBN 978-85-67297-01-9