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Personagem: Kiru.

PONTO DE VISTA DE MATTHEW SAITO.

Sabe, eu sempre acreditei em vida após a morte. Mas eu não esperava me deparar com o
fenômeno enquanto eu recém tinha vinte e cinco anos, eu não lembro direito, só lembro de
uma luz vir contra mim e o som de uma buzina. Depois disso, ficou tudo escuro.

Eu fui atropelado? Acredito que sim, ah... Deveria ter olhado para os dois lados antes de
atravessar. Mas quem diria que essa tal luz no fim do túnel demoraria tanto para chegar. Acho
que já faz uns dois minutos, eu estou começando a ficar impaciente...

“Parabéns, é um garoto! E pelo que vejo, um saudável.” Ouvi uma voz arrastada,
provavelmente de uma senhora.

Repentinamente minha visão clareou e demorou até que me acostumasse com a luz do
ambiente, quando voltou ao normal, pude ver uma senhora na minha esquerda e um homem
na minha direita. A senhora tinha por volta dos sessenta anos, era um pouco corcunda e
baixinha. Vestia um avental branco e por baixo um vestido vermelho-vinho, seu rosto era
arredondado com várias rugas pelo rosto, entretanto, esses aspectos apenas davam a ela um
ar de senhora simpática. Completamente ao contrário, o homem à minha direita tinha por
volta de trinta anos e era alto, tinha pelo menos um metro e oitenta. Tinha cabelos castanho-
escuro e os olhos de cor verde-claro, tinha um olhar cintilante que exalava vida. Contrapartida,
seu corpo e rosto eram definidos, tinha o maxilar quadrado e bastante massa muscular, mas
não o tornava acima do peso e sim muito forte, com um físico impecável.

Olhei ao redor, procurando entender o que estava acontecendo. Assim que olhei para cima, vi
o rosto de uma mulher, não uma mulher qualquer, ela tinha uma beleza invejável. Seu rosto
suave entrava em contraste com seus olhos vermelho-amaranto que exalavam ainda mais vida
que do homem, ela me olhava com felicidade e carisma, transmitindo um sentimento
indescritível de amor materno. Seus cabelos desciam até a altura do ombro, tinham a cor
branco-prateado e as pontas eram verde-claro. Suavemente ela sorriu para mim.

“Olá, pequeno Matt.” Ela disse em um tom calmo, mas que transbordava felicidade.

Matt? Pera, não me diga que a luz no fim do túnel era... Meu Deus. Então esses dois são meus
pais? Caralho, mas espera, onde eu estou? Olhando ao redor, deduzi quase de imediato que
não era um hospital. Era um cômodo de madeira iluminado por duas velas nas extremidades
das paredes, provavelmente era a casa deles? Ou talvez um lugar para partos... Não sei.
Enquanto eu pensava, o homem se aproximou de mim, pigarreou e falou. “Oi Matt, eu sou sei
pai. p-a-i.” Estampou um sorriso no rosto enquanto ditava para mim a palavra “pai”.

Tch, esse cara acha que eu sou uma cr- ah, eu sou uma criança. Esse corpo não me permite
formular uma palavra simples como aquela, eu tentei, mas apenas saiu “aaahew”. Quando eu
fiz esse som estranho, ambos riram e começaram a falar “Owwn, como ele é fofo.”

Minha primeira semana passou rápido, e eu pude descobrir algumas coisas. Primeira, meu pai
se chama Henri e minha mãe Alexya. Segunda, essa é a casa dos meus pais. Terceira, eu vivo
em um país chamado “Tiyan”, sua fonte é principalmente a agricultura. Quarta, esse lugar é
incrivelmente subdesenvolvido comparado onde eu morava. E, incluído nisso, ou é um outro
mundo, ou um passado longínquo. Quinta coisa, magia! Eu vi meu pai usando e minha mãe
também, aparentemente, como no meu mundo, magia também existe aqui.

Eu ainda não pude explorar as diferenças entre elas, e como sequer sei falar, vou esperar
envelhecer um pouco.

Nada de relevante aconteceu, então, os meses passaram rapidamente até que eu começasse a
formular simples palavras. Eu imagino que por ter a mente de alguém mais velho, eu posso me
desenvolver rapidamente, mas tenho medo de como meus pais reagiriam. Quando falei a
palavra “mamãe” pela primeira vez, foi uma surpresa para todos; minha mãe chorou de
felicidade e ficou se vangloriando por eu ter chamado ela primeiro. Depois disso, meu pai ficou
me tentando a falar “papai”, eu disse algumas semanas depois.

Eu acho que surpreendi todos quando primeiro comecei a falar, depois a engatinhar. Era
realmente estranho não ter controle total sobre o próprio corpo, mas eu lentamente fui me
acostumando ao básico.

O tempo passou em um piscar de olhos, eu não tinha muitas coisas para fazer, então me
deleitava com as histórias que eram contadas para mim. Foi em uma noite que finalmente algo
aconteceu, minha mãe estava se preparando para contar uma história do livro dela, eu estava
deitado entre as pernas dela apoiado com as costas na sua barriga. O livro um pouco mais na
frente para que eu pudesse ler e me entreter com as figuras.

“Sabe, Matt. Dizem que muito tempo atrás, pessoas malvadas invadiram o país...” Ela me
contava calmamente, mas dando ênfase as palavras, tornando a narrativa mais atrativa.

“Invadiram, mamãe?” Perguntei inocentemente, ainda não me acostumei com essa voz fofa
que não combina nada com a minha anterior.
“Sim, sim. Várias pessoas tiveram que lutar, mas, em um determinado ponto... Eles recuaram.”
Ela olhou para mim, sorrindo.

Eu fiquei realmente curioso, essas pessoas simplesmente recuaram? Pelo que mostrava no
livro, eram realmente poderosas. Essas gangues tinham bastante influência nesse país, era
preocupante, mas de algum modo funcionava.

“Apesar de fazer muito tempo, as pessoas dizem que eles estão se preparando para voltar.”
Ela continuou colocando um tom sério na voz.

“É por isso, Matt. Que a mamãe e o papai se esforçam para te dar uma vida boa, para te
proteger e quando tu crescer, souber se proteger. Você é muito espertinho e tenho certeza
que será bem forte!” Ela disse, misturando um ar sério com animação, que me deixou confuso.
Mas eu esbocei uma expressão feliz e acenei com a cabeça.

“Vou ser forte pra proteger a mamãe e o papai!”, exclamei, e nesse momento meu pai entrou
no quarto.

“Isso aí, filhão! Tem que ser forte. Agora, vamos dormir?” ele me pegou no colo, eu cresci um
pouco, estava com pouco mais de um ano, mas nunca deixei de me surpreender com o quão
forte e alto ele era.

Meu pai me levou até o meu berço, onde me colocou confortavelmente e me deu um beijo na
testa. “Boa noite.”, disse ele se distanciando até a cama.

Eu me espreguicei e rapidamente dormi, quando acordei, estava nos braços da minha mãe no
quintal da casa. Nós morávamos num monte um pouco mais distanciado do vilarejo, isso dava
uma belíssima visão para as casas distantes e para todo o campo à nossa frente. Esse país era
belíssimo, grande parte dele era um campo e havia vários lagos, a vegetação vivida entrava em
contraste com a iluminação que vinha do sol, fazendo quase tudo brilhar.

“Hoje nós vamos até a cidade, não o vilarejo, mas uma cidade maior. Vamos fazer algumas
compras.” Minha mãe olhou para mim ao perceber que eu tinha acordado, ao terminar de
falar, sorriu e acariciou minha cabeça enquanto se levantava. Ela caminhou até a lateral da
casa, onde tinha um pequeno celeiro.

Ao fazer um pouco de força, abriu a grande porta dupla revelando o interior. Não era grande
coisa, o interior era escuro, todo o celeiro era feito de madeira, tal madeira que estava um
tanto quanto envelhecida, nos arredores desse celeiro estava espalhado feno e ferramentas
para agricultura, no centro, uma carroça e dois cavalos.

“Vamos lá?” Minha mãe olhou para mim, sorrindo, enquanto subia na carroça.

Nós fomos até a capital Endovier, a maior cidade do país. Sendo uma cidade de comerciantes,
eu pude encontrar de tudo um pouco. Desde vendedores anunciando elixires de qualidade
duvidosa, até espadas ornamentadas que eu com toda certeza não compraria. Além disso, vi
diferentes tipos de pessoas, o que me levou a lembrar do que minha mãe me disse. Eu era um
meio-elfo, resultado de um humano (meu pai) e uma elfa (minha mãe). Essas eram duas das
raças, mas existiam centenas de outras, algumas mais comuns que outras, como os humanos.
Devo dizer, meu pai é um sortudo por ter encontrado alguém como minha mãe, não há pessoa
melhor.

Vamos por várias tendas comprando diversos mantimentos e voltamos depois de algumas
horas, pedi para minha mãe com palavras simples livros de história e também, magia.

Depois disso, não houveram novidades, então, os anos se passaram rapidamente. Quando eu
comecei a caminhar e falar com mais facilidade, meus pais começaram a comemorar meu
aniversário fazendo uma festa um pouco maior, mas nada de uau, eu mesmo pedia que não.

Por volta dos quatro anos, comecei a ler os livros sozinho no quintal, buscando entender sobre
o país e sobre a magia desse mundo. Eu não sei se posso chamar de magia o que havia no meu
mundo comparado ao que há aqui, nesse mundo a magia é o seguinte: existe uma energia
mágica que está em todo o mundo, que preenche o mundo em algo específico. Quando
alguém nesse mundo conjura algo, ela pega cuidadosamente vertentes invisíveis da magia
bruta que preenche o mundo, moldando isso em um padrão particular. Magias são
determinadas por níveis, que vão de 0 ao 9.

Entretanto, no meu mundo, magia era algo mais programado e sistematizado. Nós não
conseguíamos conjurar ela livremente como aqui, somente através de uma tecnologia
existente. Era como se a magia estivesse programada naquele item, e nós só escolhíamos qual
sairia ou trocávamos algum efeito em particular. Por causa disso, não conseguíamos afetar de
fato o espaço, como parar o tempo, sim, há como parar o tempo nesse mundo. É claro que
existiam efeitos com capacidades destrutivas significativas, mas algo como um laser disparo
por uma pistola, só que com suas capacidades quintuplicadas.

Talvez exista um meio de eu interligar as duas, mas, seria trabalhoso. Meu primeiro passo foi
tentar sentir essa tal energia mágica citada no livro, sentei em posição de meditação. Pensei
que pudesse existir um fluxo de energia que permeasse nosso corpo, foquei nas instruções de
como realizar um simples truque mágico, e, depois de alguns minutos na mesma posição, senti
uma chama esquentar a minha mão.

Quando abri os olhos, vi uma pequena brasa pairar alguns centímetros acima da minha palma
aberta, entretanto, foi só eu perder a concentração que ela se desfez. Eu caí de costas no chão,
quem diria que uma brasinha dessas me deixaria tão cansado. Quando encostei minha cabeça
no chão, vi uma silhueta feminina logo atrás de mim, era minha mãe.

Minha mãe estava com os olhos arregalados direcionados para mim. “Matt? Isso foi... Magia?”
ela indagou, demonstrando um tom de incredulidade na voz.

“É-É... M-Magia, mamãe. S-Surpresa...” Puta merda, eu não sabia que tinha alguém vendo,
será que vão achar estranho? Enquanto esperava minha mãe falar algo, senti uma gota de suor
escorrer pela minha bochecha, era por nervosismo e cansaço. Um silêncio constrangedor
pairou por alguns breves minutos, levei meu dedo até minha bochecha e comecei a coçar ali,
um hábito quando ficava nervoso.

“Eu vou chamar seu pai, espere um pouquinho.” Ela foi para dentro de casa. Será que eu fui
rápido de mais? Eu tenho só quatro anos, afinal, mas eu não sei os parâmetros desse mundo!
Será que é tão incomum assim alguém usar magia com a minha idade? Foi apenas uma
manifestação de uma brasa, não pode ser nada de mais. Eu suspirei fundo e sentei no
gramado, esperando-os voltar.

Depois de alguns minutos, minha mãe voltou com o meu pai. Ambos se aproximaram de mim e
ficaram acocados, me encarando. Então, minha mãe falou. “Filho, você pode mostrar aquilo
de novo?” Ela disse calmamente, esboçando um sorriso. Meu pai olhava para mim ansioso e
confuso.

“C-Claro, eu posso tentar.” Com a voz tremula, me afastei um pouco dos dois e estendi a mão
com a palma virada para cima, enquanto isso, pude ouvir meu pai murmurando algo para a
minha mãe. “Querida, você não está falando sério, né?” ele questionou, o que apenas me
mostrou que usar magia precocemente não era algo comum. Ela apenas respondeu com um
“Shiu, fica olhando.”

Eu fechei os olhos e me concentrei naquelas instruções de antes e, depois de alguns minutos,


uma pequena brasa surgiu logo acima da minha palma aberta, uma brasa tremula e fraca. Eu
abri os olhos, apenas para ver a mistura de surpresa e orgulho na cara do meu pai e de orgulho
da minha mãe.
“Eu não consigo manter por muito tempo...” Murmurei para eles e logo em seguida ela se
desfez. Suspirei fundo, exausto com tudo isso.

Minha mãe veio até mim, me abraçando, passou a mão por trás da minha cabeça afagando
minha nuca. Enquanto isso, ela disse “Parabéns, meu pequeno.”. Meu pai bagunçou meu
cabelo, fazendo um sinal de joinha enquanto esboçava um sorriso de aprovação.

Logo após, eu acabei dormindo encostado no ombro da minha mãe.

PONTO DE VISTA DE ALEXYA SAITO.

Matthew é uma graça, ele herdou os olhos verde-claro do seu pai, enquanto tem as cores do
meu cabelo. Provavelmente é por que estou vivenciando ser mãe pela primeira vez, mas o
pequeno parece ser muito esperto. Os anos passaram em um piscar de olhos com a
companhia dele, me assustou quando rapidamente ele falou “mamãe” pela primeira vez e
uma semana depois, “papai”. Depois disso, ele começou a engatinhar... Nossa, eles aprendem
tão rápido assim?

Eu saio com frequência para a capital, ele é todo curioso sobre as coisas lá. Uma vez quando li
um livro, ele disse que ia proteger o papai e a mamãe. Como eu amo esse garoto.

Eu ando escrevendo pouco sobre ele, sobre o aprendizado dele, mas ele vem lendo bastante.
Não demorou muito para aprender o básico e sair pela casa derrubando as coisas.

Senhor, eu vi ele fazendo magia. Meu filho de quatro aninhos fazendo magia, uma brasinha,
mas era magia. Eu corri imediatamente para dentro e chamei o pai dele, quando voltamos lá,
ele fez outra.

Eu nunca senti tanto orgulho, só não fiquei tão feliz quanto fiquei quando vi ele pela primeira
vez.

Eu mal consegui reunir palavras, só peguei ele e o coloquei para descansar na cama. Quando
voltei, sentei com Henri na sala para discutirmos sobre o Matt.

PONTO DE VISTA DE HENRI SAITO.


Meu filho, minha criança; esse pequenino é tão esperto quanto a mãe dele. Acompanhar ele
crescer fez meus dias melhores, eu nunca estive tão feliz. Desfrutar disso ao lado da Alexya é
indescritível, eu mal posso esperar ele crescer para ensinar algumas coisas.

Alexya me surpreendeu quando chegou na sala me chamando, ofegante. Ela não disse nada
quando agarrou meu braço e me puxou para o quintal.

Matt estava sentado no gramado próximo de um livro, eu achei normal até então, ele se
desenvolveu assustadoramente rápido e já conseguia ler sozinho, mas Alexya se acocou perto
dele e falou para ele fazer algo novamente. Eu fiquei perto dela, acocado para ficar na mesma
altura do meu filho. Eu não consegui acreditar, tentei falar alguma coisa, mas as palavras não
saíram.

Meu filho estava conjurando magia.

PONTO DE VISTA DE MATTHEW SAITO.

“Ugh.” Gemi enquanto levava minha mão até minha testa sentindo uma leve dor de cabeça.
‘Por quanto tempo eu apaguei?’ Lentamente abri os olhos e me pus sentado na cama, não
havia ninguém ao meu redor.

Enquanto me espreguiçava, desci da cama e comecei a ouvir murmúrios vindo da sala, logo
reconheci como minha mãe e meu pai e lembrei de que havia dormido por conta da exaustão.

Caminhei até a entrada da sala, e antes de vê-los, anunciei minha chegada para não parecer
que eu estava bisbilhotando “Mãe? Pai? Por quanto tempo eu dormi...?” falei com um tom de
voz baixo, bastante sonolento.

“Ah, filho. Por algumas horas, vem cá.” Minha mãe sinalizou com a mão para eu me aproximar.
Quando me aproximei, ela me pegou no colo e colocou encostado em sua barriga. “Eu e seu
pai estávamos conversando sobre você conseguir usar magia.” Disse ela em um tom de voz
suave enquanto acariciava meu cabelo.

“Sim, sim. Achamos que com sua idade, seria um pouco cedo... Mas também seria melhor
aproveitarmos para você aprender o quanto antes, então estamos num empasse.” Meu pai
suspirou logo após falar, seu olhar estava direcionado para mim, mas sabia que ele estava
perdido em pensamentos. “Eu- Nós podemos te ensinar o básico, mas ainda seria pouco.
Pensamos em um professor...” Ele coçou atrás da nuca, relutante em continuar.
“Mas, como seu pai ia dizendo, nós não sabemos como você iria lidar com uma pessoa
diferente.”, minha mãe deu continuidade enquanto se inclinava um pouco para me olhar nos
olhos por cima.

“Humm...” Esperei um pouco para continuar, pensando bem no que eu iria dizer “Se a mamãe
e o papai estiverem comigo até eu me acostumar com essa pessoa diferente, então acho que
eu consigo!” coloquei um sorriso genuíno no rosto e complementei “Eu tenho que ficar forte
para proteger vocês, né?”

Ambos assentiram com um sorriso, meu pai se aproximou e acariciou meu cabelo junto da
minha mãe. “Então se prepara que daqui uns dias seu professor deve chegar, beleza?” Meu pai
fez um sinal de joinha para mim, eu apenas assenti com a cabeça.

Acredito que por causa da minha ansiedade, mas os dias passaram muito devagar. Eu
caminhava freneticamente de um lado para o outro esperando alguém bater na porta
enquanto minha mãe tentava me acalmar, foi quando, durante a tarde pude escutar batidas
suaves na porta.

Em disparada eu fui até a porta para abri-la, mas foi quando me aproximei que senti um olhar
penetrante pelas minhas costas, ao me virar vi minha mãe assustadoramente me encarando,
com a presença de uma entidade. Eu apenas murmurei, “D-Desculpe” e fiquei ao lado da porta
esperando.

Minha mãe passou por mim e bagunçou meu cabelo, “Bom menino, tem que ter calma.”, ela
me repreendeu de um jeito calmo enquanto abri a porta.

“Boa tarde, você é a Sra. Saito?” Ouvi uma voz masculina firme, entretanto, harmoniosa.
Minha mãe assentiu com a cabeça e indicou com a mão para a pessoa entrar. “Matt, esse será
seu professor. Ele é um mago amigo do seu pai, então seja educado.” Minha mãe disse para
mim enquanto a pessoa entrava.

Eu não sabia o que esperar, mas não era exatamente isso. Acho que eu tinha em mente um
senhor com uma longa barba de cor prateada, vestindo uma túnica roxa e óculos meia-lua,
mas, o que vi foi um homem de estatura mediana, cabelos negros e olhos castanhos, vestia
uma Jearkin de couro preta e por baixo uma camisa clara. Junto disso, usava uma calça de
couro e uma botina.
Assim que ele entrou, me fitou de cima abaixo e sorriu. “Então você é o pirralho que o Henri
me falou?” Seu jeito de falar não era arrogante e muito menos insultante, era carismático. Ele
estendeu a mão para mim esperando que eu o cumprimentasse.

“Meu nome é Matthew, Matthew Sato. Prazer... Senhor?” apertei a mão dele com ambas as
minhas mãos, que não davam nem metade de uma comparadas a de um adulto.

“Jay, Jay Erya.” Ele soltou o aperto de mãos, então olhou ao redor analisando a casa. “Henri
me disse que não estaria, tch, nem para dar um olá para um velho amigo de equipe.” Ele
balançou a cabeça de maneira sarcástica, como se estivesse desapontado.

“Bom, vou deixar meu filho aos seus cuidados, então, trate de deixa-lo inteiro.” Minha mãe
disse com rispidez, mas mantendo um sorriso gentil enquanto saia de perto.

“Ah, agora eu entendi como ele entrou na linha.” Jay suspirou fundo, olhando minha mãe se
afastar, então voltou sua atenção para mim “Bom, vamos ali para fora, é de tardezinha, mas
podemos dar uma olhada ao menos no básico.”

Eu apenas acenei com a cabeça, seguindo-o para fora da casa.

Nós caminhos até o meio do quintal, enquanto ele se virou para mim e começou um breve
alongamento. “Seu pai disse que você consegue fazer algo básico como uma chama, é simples,
mas surpreendente para um pirralho.” Dessa vez, seu tom de voz era uma zombaria
carismática. Ele terminou de se alongar e sinalizou com a mão, me provocando. “Você não
deve ter experiencias com lutas, obviamente, tem quatro anos. Mas desenvolver essa noção é
mais útil para você agora do que sair lançando magias que seu corpo mal consegue aguentar.
Então, vamos treinar ele.” Ele sorriu para mim, repetindo o sinal.

Então ele quer lutar com uma criança, acho que nesse mundo os padrões são realmente
diferentes. Assenti com a cabeça, então, me preparei.

Arrastei meu pé direito para frente, enquanto colocava meu peso na perna de trás, os pés em
linha, sensivelmente formando um ângulo de 90º, com o joelho de trás apontando para fora e
o joelho da frente acompanhando o sentido dos 90º (em frente). As costas direitas numa
posição semifrontal, com o corpo inclinado.
Suspirei fundo, concentrando-me completamente, esperei o primeiro movimento. Pude ver o
olhar surpreso de Jay, que provavelmente esperava uma investida inconsequente, depois de
recobrar a postura, ele sorriu.

Foi quase um borrão, repentinamente ele estava a apenas um metro de mim com o punho
fechado na minha direção. ‘ele sabe que um soco desses pode matar uma criança, né?’ Por
apenas instinto eu consegui reagir.

Quando o punho estava alguns centímetros de atingir meu rosto, inclinei-me para o lado e em
seguida efetuei um giro completo. Acompanhado do giro, ergui minha perna direita visando
acertar logo atrás do pé de apoio daquele rapaz, para desequilibrar ele.

Entretanto, esse corpo de uma criança de quatro anos não colaborou nada. Um chute que
estava sendo efetuado rapidamente para uma criança, era quase em câmera-lenta para um
adulto versado em lutas. Jay apenas segurou meu tornozelo, me colocando de cabeça para
baixo enquanto me erguia.

“Hahaha! Você tem reflexos rápidos, treinar você será interessante.” Ele sorriu para mim, me
colocando no chão.

Jay me disse para esquecer sobre a magia por enquanto, e apenas focar no meu físico. Não
havia muito para fazer, querendo ou não eu somente tinha quatro anos. Mas seguimos uma
rotina de treinamento árdua – para um corpo pequeno.

Os dias com a companhia do Jay foram bem animados, descobri que meu pai fizera parte de
um grupo de aventureiros que se desfez alguns anos atrás. Ele e o meu professor são melhores
amigos, e em termos de combate corpo-a-corpo, meu pai ganha. Durante todo o tempo que
treinamos, haviam pequenas lutas práticas corpo-a-corpo e correções dos meus movimentos.

Nós finalmente chegamos no tópico de magia seis anos depois, é incrível como as coisas
passaram tão rapidamente. Jay tornou-se praticamente da família, vivendo sob mesmo teto
que nós. E, meus pais falaram que minha mãe estava grávida – e antes que qualquer um pense
besteira, não, ninguém pulou a cerca. Minha mãe e meu pai deixaram isso bem claro durante
as noites, ou melhor, bem alto.

Eu estava terminando meu alongamento quando Jay passou pela minha frente e sentou no
cercado de madeira, me fitando. “Cara, seis anos, você cresceu rápido.”, ele sorriu para mim,
podia dizer que ele estava orgulhoso.
“Eeeh, e você não mudou nada. Vou te deixar para trás, viu. Posso até dizer que já sou mais
bonito.” Coloquei um sorriso malicioso no rosto, brincando com ele. Retribuindo, ele me
lançou um livro que tive de me abaixar para não ser acertado. “Foi só brincadeirinha.” Eu ri.

“Acho que vou ter que cortar essa língua afiada, hein.” Ele se levantou, suspirando fundo.
“Vamos finalmente entrar na magia, seu corpo, depois de todo esse treino já é forte o
bastante para mais do que uma brasa.” Quase como se a mão dele fosse um imã, Jay apontou
para o livro que voltou voando até ela.

“Finalmente.” Eu esbocei um sorriso ansioso. “Por onde começamos?” Me aproximei um


pouco.

Jay me explicou brevemente o fundamento da magia naquele mundo, que era razoavelmente
fácil de entender. Então ele seguiu para as magias básicas, os chamados “Truques”, que são
magias simples, podendo conjura-las a qualquer momento. Ele brevemente demonstrou
produzindo uma chama. “Esse é o truque que você conjurou para os seus pais, o nome dele é
bem intuitivo, Criar Chamas.”, ele olhou para mim, com um olhar como se dissesse: “você
verá, conjuradores não são muito criativos”. Ele seguiu sua explicação, dizendo que, após
entender o básico, seria diretamente treino e repetição pois só assim se entendia uma magia,
e, deveríamos saber que tipo de conjurador eu era.

Pelo que eu entendi, existiam diversos tipos: Feiticeiros, Magos, Bruxos, Druidas... Vários.
Normalmente, eu só usaria magia quando mais velho e teria noção do que eu sou, mas eu
aprendi através de um livro um truque e isso dificultava as coisas.

“Por sorte...” Ele disse enquanto tirava alguma coisa da bolsa “Eu tenho o meu próprio jeito
para descobrir isso.” Ele sorriu para mim e mostrou um caderno de couro enquanto se
aproximava. “Você vai colocar sua mana nesse livro e vamos ver o resultado, dependendo,
podemos descobrir qual sua classe.” Ele me entregou o livro e sentou logo na minha frente.

Eu me concentrei e flui minha energia mágica até aquele livro de couro, que eventualmente se
cobriu por inteiro. Depois de alguns segundos, algo começou a acontecer.

A capa de couro lentamente mudou para uma capa dura de cor verde-escura, e, pelas bordas
do livro se formaram entalhes que lembravam ramificações de galhos, assim que as
ramificações se encontraram decorando o livro, no centro se formou uma única palavra em
élfico. “Kaleid.”, eu murmurei, falando em comum. Meu instrutor respondeu com um, “Hã?
Falou baixinho de mais.”
Eu olhei para ele, pigarreei e repeti. “Kaleid.” Virei o livro de capa dura para ele, esperando
uma resposta, mas obtive uma cara de surpresa.

“Então, pirralho...” Eu podia perceber o tom de surpresa que tornava ainda mais claro com a
sua expressão, será que era algo raro? Desconhecido? “Eu não faço ideia do que é isso.” Ele
terminou a frase, me olhou sinceramente.

Um silêncio permaneceu por algum tempo quando eu, sem perceber falei alto de mais,
“COMO É QUE É?!”

PONTO DE VISTA DE JAY ERYA.

Henri me mandou cartas para treinar o filho dele, que pelo que constava nelas, tinha usado
magia aos quatro anos de idade. Eu fiquei de cara com isso, mas se vinha do meu melhor
amigo, eu não tinha por que duvidar – muito menos negar.

A viagem foi longa até a casa deles, mas, todo o esforço fez valer a pena por até agora. Eu logo
de cara percebi que o pequeno Matt era mais esperto para a idade dele, e, tinha aptidão para
a luta além do que eu esperava, foi por isso que foquei todos esses anos em desenvolver o
pequeno corpo dele. Agora, vamos focar nas magias.

Mas eu não esperava que o garoto seria de uma classe que eu nunca sequer ouvi falar, e seu
livro de feitiços, mudou completamente quando o entreguei. Ele tem potencial, eu quero ver
até onde ele vai.

PONTO DE VISTA DE ALEXYA SATO.

Eu quase me arrependi de colocar alguém para treinar o Matt sendo ele tão novo, o Jay, amigo
do Henri optou por melhorar o físico dele, já que com um corpo tão fraco não conseguiria
aguentar muito.

Eu juro, eu nunca fiquei tão angustiada quanto fiquei nesses anos. Cada momento que eles
lutavam, cada machucado novo me deixava tensa, mas, no final do dia eles sempre me
reconfortavam, principalmente ao ver meu filho feliz.

Hoje eu ouvi o Matt berrar, quando corri para vê-los, vi que ele estava segurando um livro
mágico, pude reconhecer pela aura, era quase como um grimório, mas era de alguma forma
diferente. Eu sorri ao perceber o que aquilo significava e me aproximei para me atualizar,
quando fui bruscamente levada adiante pelo meu marido desastrado. “HENRI!” eu exclamei
enquanto ele me levantava facilmente, pedindo desculpas e limpando a sujeira das minhas
vestes.

PONTO DE VISTA DE HENRI SAITO.

Cara, os anos passaram tão de pressa. Eu pude acompanhar o Matt treinando e ajudei com a
parte de combate corpo-a-corpo, corrigindo seus movimentos junto do Jay e participei dos
exercícios físicos. Mas agora era a parte que eu não me dava tão bem assim, com a magia. Eu
não sou um completo leigo, e sei magias uteis para os combates, mas nada muito
extravagante.

Já a minha esposa, ela vai poder ajudar o Matt tranquilamente. Alexya é muito boa com essas
coisas.

Eu ouvi o Matt gritar do quintal, e corri imediatamente pensando no que poderia ter
acontecido, sem conseguir parar direito, assim que atravessei a porta da frente para o quintal
eu levei a Alexya comigo e cai por cima dela. Eu senti que aquele era meu fim quando ela
gritou meu nome, ela brava é imparável.

Eu fiquei pedindo desculpas como um bobo e ajudei ela a levantar, o que nos distraiu foi a
risada do Jay e do Matt. Quando olhei atentamente, pude ver o meu filho segurando um livro
diferente.

Nós dois fomos até ele, com semblantes intrigados do que poderia ser.

PONTO DE VISTA DE MATTHEW SAITO.

Eu voltei minha atenção para a minha mãe antes de me surpreender com a figura alta do meu
pai levando-a por diante, minha mãe, apenas exclamou o nome dele para que percebesse a
burrada que tinha acontecido. Meu pai ajudou minha mãe a se levantar, pedindo inúmeras
desculpas enquanto limpava as vestes dela.

Eu e o Jay se entreolhamos e caímos na gargalhada com a cena, meu pai e minha mãe
inicialmente nos olharam com curiosidade, mas depois soltaram risadas também. Jay foi o
primeiro a dizer algo.
“Alexya, Henri, eu devo dizer que esse garoto sempre consegue me surpreender.” Ele gesticula
com a mão indicando o livro que eu tinha comigo.

“O que é isso filho?” Meu pai e mãe perguntaram em sincronia, se aproximando com
curiosidade.

“Eu não sei direito...” No meu tom de voz expressava tanta curiosidade quanto meus pais
demonstravam, logo eles vieram ao meu lado para olhar melhor e Jay se colocou perto
também.

Eu abri o livro com curiosidade, e na primeira página havia escrito uma pequena frase, como
uma introdução:

Um Kaleido é um conjurador de feitiços, mas não limitado pela sua escolha. Eles ganharam a
magia para pegar pequenos pedaços das outras classes.

Eu folhei a pequena página e encontrei um sumário, listando um único capitulo. Folhei


novamente para o capitulo Introdução.

Como um Kaleido, você é capaz de colocar uma classe em você, se transformando nela por um
tempo limitado. Você troca temporariamente seu armamento e armadura para a nova classe.
No começo, você tem acesso à escolher duas classes, uma outra fora definida quando
aprendido o truque “Criar Chamas”.

Eu li e reli para entender, e ainda sim fiquei confuso. Os adultos também pareceram, então eu
folhei de volta para o sumário e para minha surpresa, novas coisas haviam sido adicionadas.
Agora havia um novo capitulo com apenas “Druida” e logo abaixo truques e níveis de magias,
indo até a página, vi que parecia muito como um álbum de figurinhas do meu mundo. Para
reforçar isso, como se fosse uma figurinha, havia colado a imagem de um mago conjurando
uma chama e, logo abaixo, o nome do feitiço juntamente da descrição.

Se uma havia sido definida, então essa era a classe Druida e eu podia escolher outras duas. Eu
sentei no chão, pensando no que eu deveria escolher. Voltando a introdução, quase como um
guia, logo abaixo havia o nome de doze classes que eu poderia escolher e uma breve descrição
sobre cada, eu li atentamente.
“Huumm... Qual eu devo escolher?” eu murmurei enquanto pensava em voz alta, aqueles ao
meu redor apenas permaneceram em silêncio. “Lutador e feiticeiro, é isso que eu escolho.”
Segundos após isso, os nomes das três classes que haviam sido escolhidas ficaram mais fracas
e no sumário havia outros dois capítulos, entretanto, para a classe lutadora havia menos
páginas indicando somente as coisas que eu desenvolveria conforme o passar do tempo.

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