Alienação fiduciária em garantia • I – Histórico: • Tendo em vista melhor amparar o crédito em vendas de bens móveis, foi introduzida no direito brasileiro, através da Lei 4.728/65, a alienação fiduciária em garantia. • Entretanto, a maneira imprecisa com que foi lançado o instituto, previsto no artigo 66 da citada lei, impediu, em princípio, a sua utilização em larga escala. Alienação fiduciária em garantia Por tal razão, procurando sanar as várias imperfeições observadas, notadamente na parte processual, houve por bem o Governo modificar essa regulamentação, ampliando- a e estabelecendo normas processuais, o que foi feito através do Decreto-lei 911/69. Na verdade, esta espécie de contrato constituiu-se numa fórmula engendrada para reforçar as garantias dos financiamentos realizados através de sociedades financeiras, para as quais não eram suficientes as tradicionais garantias asseguradas pelo penhor e pela venda com reserva de domínio. Alienação fiduciária em garantia • Por meio da Lei 9.514/97, instituída foi a alienação fiduciária de bem imóvel, como uma das espécies de garantia que podem ser contratadas em operações de financiamento imobiliário. • A lei 10.931/04 instituiu a alienação fiduciária no âmbito do mercado financeiro e de capitais, bem como em garantia de créditos fiscais e previdenciários. Admite que seja objeto desse contrato coisa fungível. Prevê ainda a cessão fiduciária de direitos sobre coisas móveis, bem como de títulos de crédito. Alienação fiduciária em garantia • O Código Civil, ao tratar dos direitos reais, regulou a propriedade fiduciária, em seus artigos 1.361 a 1.368- B, que é aquela que resulta da desse tipo de contrato, em favor do credor. Fê-lo, entretanto, a princípio, apenas em relação aos bens móveis infungíveis. • A aplicação desses dispositivos, em relação aos bens imóveis e aos fungíveis, dá-se de modo subsidiário, à exceção do artigo 1.368-B, em face de previsão expressa. Alienação fiduciária em garantia • II – Conceito e objeto: • Consiste a alienação fiduciária em garantia na operação em que, recebendo alguém financiamento para aquisição de bem móvel ou imóvel, aliena esse bem ao financiador, em garantia do pagamento da dívida contraída. Admite-se também que seja essa operação realizada em decorrência de um débito previamente existente. • A pessoa que recebe o financiamento e aliena o bem em garantia é denominada de alienante ou fiduciante; enquanto o credor que recebe o bem em garantia é chamado de fiduciário. Alienação fiduciária em garantia • A característica marcante deste contrato é o fato de ao fiduciário ser transferida a propriedade resolúvel e a posse indireta da coisa alienada. Há assim o desdobramento da posse, tornando-se o devedor seu possuidor direto, podendo usá-la segundo a sua destinação, às suas expensas e risco. • A alienação fiduciária pode ter por objeto bem móvel (infungível ou fungível) ou imóvel, quase sempre, mas não necessariamente adquirido pelo fiduciante com o financiamento recebido. Alienação fiduciária em garantia • III – Forma e direitos das partes: • O contrato de alienação fiduciária em garantia é formal, devendo ser celebrado por escrito, através de instrumento público ou particular. Se tiver objeto móvel, deve ser arquivado no Cartório de Títulos e Documentos do domicílio do devedor, ou, se tratando de veículo, no órgão competente para o seu licenciamento. • Se seu objeto for imóvel, deve haver o seu registro no Cartório de Imóveis em que houver a sua matrícula. Alienação fiduciária em garantia • Deve esse instrumento conter: • A) o total da dívida, ou sua estimativa; • B) o prazo, ou época do pagamento; • C) a taxa de juros, se houver; • D) as comissões cuja cobrança for permitida e, eventualmente, a cláusula penal e a estipulação de correção monetária, com a definição dos índices aplicáveis; • E) a descrição do bem objeto da alienação fiduciária, com os elementos indispensáveis à sua identificação. Alienação fiduciária em garantia • Poderá o instrumento do contrato ser lavrado mesmo antes de ser o devedor proprietário do bem. Nessas condições, o domínio se transferirá ao credor no momento em que o devedor adquirir a sua propriedade, automaticamente, não havendo necessidade de qualquer formalidade posterior. Alienação fiduciária em garantia • IV – Sujeitos do contrato: • Tratando-se o objeto do contrato bem móvel, há divergências quanto à possibilidade de esta espécie contratual ser utilizada por outras pessoas que não as instituições financeiras. Alguns autores entendem que isso não é possível, pois esse instituto foi introduzido no nosso direito através da Lei de Mercado de Capitais. Entretanto, a jurisprudência tem admitido a alienação fiduciária no caso de venda por consórcios. Alienação fiduciária em garantia • A Lei 9.514/97, referindo-se à alienação fiduciária em garantia de bens imóveis, prevê que ela poderá ser contratada por pessoa física ou jurídica, não sendo privativa das entidades do Sistema Financeiro. • E esse uso se tornou disseminado, quanto aos bens imóveis, seja a venda feita através de financiamento bancário, ou diretamente, através de pagamento parcelado. Alienação fiduciária em garantia • V – Efeitos da inadimplência: • Havendo inadimplemento por parte do devedor da obrigação garantida, pode o credor, na qualidade de proprietário fiduciário, vender a coisa a terceiro e aplicar o preço no pagamento de seu crédito e das despesas decorrentes da cobrança, entregando ao devedor o saldo que houver. • É nula a cláusula que porventura autorize o proprietário fiduciário a ficar com a coisa alienada em garantia, se a dívida não for paga no vencimento. Alienação fiduciária em garantia • O credor tem o direito de requerer, contra o devedor ou terceiro que detenha a coisa alienada, a sua busca e apreensão, se móvel, ou a sua reintegração de posse, se imóvel, que serão concedidas liminarmente pelo juiz, desde que comprovada a mora ou o inadimplemento do devedor. • Os procedimentos de consolidação da propriedade do bem em favor do credor fiduciário, a possibilidade de purgação da mora pelo devedor fiduciante, a venda Alienação fiduciária em garantia do bem a terceiro e demais atos respectivos estão regulados de modo analítico nos diplomas normativos já mencionados, de acordo com a sua espécie - Decreto-lei 911/69, para os móveis, e Lei 9.514/97, para os imóveis. Em ambos os casos, os procedimentos são bastante céleres, privilegiando a retomada do bem pelo credor, e a facilitação da satisfação do seu crédito.