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ESTRUTURA E COMPOSIÇÃO FLORÍSTICA DE DOIS

FRAGMENTOS NATURAIS DE FLORESTAS


INUNDÁVEIS (IMPUCAS) NO PARQUE ESTADUAL DO
ARAGUAIA-MT

DANIELLE CRISTINE DE FIGUEIREDO BARBOSA

Dissertação apresentada à Universidade do Estado


de Mato Grosso, como parte das exigências do
Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais
para obtenção do título de Mestre.

CÁCERES
MATO GROSSO, BRASIL
2009
1

DANIELLE CRISTINE DE FIGUEIREDO BARBOSA

ESTRUTURA E COMPOSIÇÃO FLORÍSTICA DE DOIS


FRAGMENTOS NATURAIS DE FLORESTAS INUNDÁVEIS
(IMPUCAS) NO PARQUE ESTADUAL DO ARAGUAIA-MT

Dissertação apresentada à Universidade do Estado


de Mato Grosso, como parte das exigências do
Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais
para obtenção do título de Mestre.

Orientadora: Profª Drª Beatriz Schwantes Marimon.

CÁCERES
MATO GROSSO, BRASIL
2009
2

Barbosa, Danielle Cristine de Figueiredo


Estrutura e composição florística de dois fragmentos
naturais de florestas inundáveis (impucas) no Parque Estadual
do Araguaia-MT/ Danielle Cristine de Figueiredo Barbosa –
Cáceres/MT: UNEMAT, 2009.
128 f.; il.

Dissertação (Mestrado) – Universidade do Estado de Mato


Grosso. Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais,
2009.
Orientadora: Beatriz Schwantes Marimon

1. Impuca 2. Fragmento natural de floresta inundável 3.


Florística e fitossociologia 4. Parque Estadual do
Araguaia/MT I. Título

CDU: 581.527(817.2)
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Regional de Cáceres
DANIELLE CRISTINE DE FIGUEIREDO BARBOSA

ESTRUTURA E COMPOSIÇÃO FLORÍSTICA DE DOIS


FRAGMENTOS NATURAIS DE FLORESTAS INUNDÁVEIS
(IMPUCAS) NO PARQUE ESTADUAL DO ARAGUAIA-MT

CÁCERES
MATO GROSSO, BRASIL
2009
3

DEDICATÓRIA

À minha família pelo amor, carinho e


compreensão e à minha orientadora
Beatriz Schwantes Marimon que tanto se
fez presente na concretização desse
estudo.
4

AGRADECIMENTOS

Foram muitos os que me ajudaram a concluir este trabalho. Meus


sinceros agradecimentos...
Primeiramente à Deus onde sempre busquei forças nos momentos difíceis
e agradeço pelos momentos bons nessa longa caminhada;
À Universidade do Estado de Mato Grosso pela oportunidade de ingressar
no Curso de Mestrado em Ciências Ambientais;
À Capes pela bolsa concedida;
À FAPEMAT pelo financiamento do Projeto maior “Florística, estrutura e
características ambientais de fragmentos naturais de florestas inundáveis
(impucas) no Parque Estadual do Araguaia” o qual o presente estudo faz parte;
À SEMA por permitir a execução desse estudo nas impucas do Parque
Estadual do Araguaia-MT e por seder alojamento;
À minha família: meu pai Donizeti Ferreira Barbosa, minha mãe Maria
José Landivar de F. Barbosa, meus irmãos Donizeti Ferreira Barbosa Jr e
Débora Evelyn de F. Barbosa, pelo amor, carinho, amparo e ajuda em todo o
percurso do mestrado, e também pelas experiências compartilhadas entre os
mestres da casa: minha mãe, meu irmão e agora eu.
Aos meus avós Esmeralda Landivar de Figueiredo e Juarez Guedes de
Figueiredo que sempre torceram e acreditaram no meu potencial e na minha
dedicação, dando carinho e apoio sempre que possível.
À minha orientadora Beatriz Schwantes Marimon pela disponibilidade e
presença na execução desse estudo, pela atenção e dedicação, por acreditar
na minha capacidade, pela amizade, pelo conhecimento e experiências
compartilhadas;
Aos amigos e colegas de mestrado, Hugmar Pains e Aline Miguel pela
amizade e por sempre ajudarem com seus conhecimentos e suas experiências;
Aos biólogos Edmar Almeida de Oliveira e Leandro dos Santos Silva pela
grandiosa contribuição nas coletas de dados no Parque Estadual do Araguaia-
MT e pela amizade;
5

Aos Professores Doutores Eddie Lenza de Oliveira e Ben Hur Marimon


Junior pela grandiosa contribuição nas coletas de dados no Parque Estadual do
Araguaia-MT, pelo conhecimento, experiências compartilhadas e pela amizade;
Ao Dr. James Alexander Ratter pela identificação de algumas espécies;
Ao Prof. Dr. Luiz Gazarini e Prof. Dr. Germano Guarim Neto pelas
sugestões e contribuições na banca de qualificação;
Aos membros da banca de defesa: Profª PhD. Jeanine Maria Felfili Fagg,
Prof. Dr. Eddie Lenza de Oliveira e Profª Drª Beatriz Schwantes Marimon pelas
valiosas sugestões e contribuições.
Aos docentes do Curso de Mestrado em Ciências Ambientais que
contribuíram com o enriquecimento do meu conhecimento e minha formação
de mestre e aos meus queridos colegas de turma pelas interlocuções e
amizade.
Aos Professores de outras instituições que contribuíram me enviando
artigos científicos, em especial: Natália Macedo Ivanaukas, Ary Teixeira de
Oliveira Filho, Ricardo Ribeiro Rodrigues e Germano Guarim Neto;
Aos estagiários do Herbário James Alexander Ratter da UNEMAT,
campus de Nova Xavantina, que de alguma forma interagiram e contribuíram
com este estudo.
Ao Rafael Silva Siqueira pela força, carinho, companheirismo e amor em
momentos bons, difíceis e finais do mestrado.
Aos meus queridos amigos Sandro de Oliveira Pains, Andréa Ikeda,
Fádua Martins Maluf e Claudinéia Lizieri que sempre torceram e me deram
muita força.
Enfim, a todos que de alguma forma contribuíram com esse trabalho e
aos moradores, professores e estudantes de Nova Xavantina-MT que conheci
e fiz amizade, os quais me receberam muito bem nessa cidade.
6

ÍNDICE
Páginas
Lista de tabelas ........................................................................................... 7
Lista de figuras ........................................................................................... 9
Resumo........................................................................................................ 12
Abstract........................................................................................................ 14
1. Introdução Geral...................................................................................... 16
2. Referências.............................................................................................. 22
Artigo I: Estrutura e composição florística de dois fragmentos 24
naturais de florestas inundáveis (impucas) no Parque Estadual do
Araguaia-MT.
Introdução........................................................................................................ 25
Material e Métodos............................................................................................ 26
Resultados e Discussão.................................................................................... 29
Conclusão......................................................................................................... 51
Agradecimentos................................................................................................ 52
Referências....................................................................................................... 55
Artigo II: Distribuição de diâmetros e alturas de espécies lenhosas de 61
dois fragmentos naturais de florestas inundáveis (impucas) no
Parque Estadual do Araguaia-MT.
Introdução........................................................................................................ 62
Material e Métodos............................................................................................ 63
Resultados e Discussão.................................................................................... 65
Conclusão......................................................................................................... 95
Agradecimentos................................................................................................ 96
Referências....................................................................................................... 97
Artigo III: Conhecendo e conservando as impucas (fragmentos 102
naturais de florestas inundáveis) do Parque Estadual do Araguaia-
MT.
Introdução........................................................................................................ 102
Material e Métodos............................................................................................ 105
Cartilha: Impucas do Parque Estadual do Araguaia, conhecer para conservar. 107
Referências....................................................................................................... 124
3. Considerações Finais.............................................................................. 126
7

LISTA DE TABELAS

Páginas
Artigo I: Estrutura e composição florística de dois fragmentos
naturais de florestas inundáveis (impucas) no Parque Estadual do
Araguaia-MT.

Tabela 1- Famílias e espécies amostradas em dois fragmentos naturais 34


de florestas inundáveis (impucas) no Parque Estadual do Araguaia,
impuca degradada (DE) e impuca não-degradada (ND), município de
Novo Santo Antônio-MT.
Tabela 2- Comparações entre as características florísticas e estruturais da 36
impuca DE (degradada) e da impuca ND (não-degradada) no Parque
Estadual do Araguaia, Novo Santo Antônio-MT. Sendo: sp.= espécies,
DR= densidade relativa, DoR= dominância relativa, H’= índice de
diversidade de espécies de Shannon-Wiener (nats ind.-1), J= equabilidade
de Pielou, ITR= indivíduos com troncos ramificados, DA= densidade
absoluta e DoA= dominância absoluta.
Tabela 3- Parâmetros fitossociológicos para as espécies com DAP≥5cm 47
amostradas na impuca ND. Densidade absoluta (DA) e relativa (DR),
freqüência absoluta (FA) e relativa (FR), dominância absoluta (DoA) e
relativa (DoR), e índice de valor de importância (IVI). Espécies em ordem
decrescente de IVI. Valores absolutos em hectare (D=N/ha, Do= m²/ha) e
valores relativos em %.
Tabela 4- Parâmetros fitossociológicos para as espécies com DAP≥5cm 48
amostradas na impuca DE. Densidade absoluta (DA) e relativa (DR),
freqüência absoluta (FA) e relativa (FR), dominância absoluta (DoA) e
relativa (DoR), e índice de valor de importância (IVI). Espécies em ordem
decrescente de IVI. Valores absolutos em hectare (D=N/ha, Do= m²/ha) e
valores relativos em %.
Tabela 5- Características ambientais e métodos de amostragem das 53
áreas comparadas neste estudo. Sendo: spp. – número total de espécies;
H’ – índice de diversidade de espécies de Shannon-Wiener; CCs –
coeficiente de similaridade de SÆrensen; Sj – coeficiente de similaridade
de Jaccard; Alt. – altitude; Temp. – temperatura média anual; PMA –
precipitação média anual; TF – tipo de floresta; FG – floresta de galeria;
FGI – floresta de galeria inundável; FRI – floresta ripária; MC – mata ciliar;
8

FI – floresta inundável; FAI – floresta aluvial inundável; I – ipuca ou


impuca (fragmento natural de floresta inundável); FV – floresta de vale;
FVA – floresta de várzea; FB – floresta de brejo ou higrófila e CA –
cambarazal.
9

LISTA DE FIGURAS

Páginas
Figura 1- Composição colorida a partir da imagem de satélite (Terra 20
Metrics, Digital Globe, 2009) apresentando as áreas de estudo (DE=
impuca degradada, 12º09’04,2”S e 50º49’37”W e ND= impuca não-
degradada, 12º19’11,2”S e 50º44’15,6”W) e os limites do Parque Estadual
do Araguaia (PEA) (a oeste – Rio das Mortes (M), a leste – Rio Araguaia
(A) e ao sul – linha vermelha). Fonte: Google Earth (2009).
Figura 2- Vista externa e interna da impuca não-degradada (ND) 21
amostrada no Parque Estadual do Araguaia, Novo Santo Antônio-MT.
Figura 3- Vista externa e interna da impuca degradada (DE) amostrada no 21
Parque Estadual do Araguaia, Novo Santo Antônio-MT.
Artigo I: Estrutura e composição florística de dois fragmentos
naturais de florestas inundáveis (impucas) no Parque Estadual do
Araguaia-MT.
Figura 1- Índice de valor de importância das 10 famílias mais importantes 49
da impuca não-degradada e da impuca degradada do Parque Estadual do
Araguaia, Novo Santo Antônio-MT. Sendo: DoR= dominância relativa, FR=
freqüência relativa e DR= densidade relativa.
Artigo II: Distribuição de diâmetros e alturas de espécies lenhosas de
dois fragmentos naturais de florestas inundáveis (impucas) no
Parque Estadual do Araguaia-MT.
Figura 1- Distribuição de diâmetros dos indivíduos amostrados em uma 68
impuca não-degradada (ND)= e uma degradada (DE)= do Parque
Estadual do Araguaia, Novo Santo Antônio-MT e respectivos quocientes q.
Intervalo de classes= 5 cm.
Figura 2- Distribuição de diâmetros das principais espécies comuns em 74
uma impuca não-degradada (ND)= e uma degradada (DE)= do
Parque Estadual do Araguaia, Novo Santo Antônio-MT e respectivos
quocientes q. Intervalos de Classe: L. apetala= 5 cm, S. froesii= 4 cm e O.
multiflorus= 2 cm.
Figura 3- Distribuição de diâmetros das principais espécies comuns em 75
uma impuca não-degradada (ND)= e uma degradada (DE)= do
Parque Estadual do Araguaia, Novo Santo Antônio-MT e respectivos
quocientes q. Intervalos de Classe: A. nitens= 5 cm, Xylopia sp.= 4 cm e
10

M. paniculata= 2 cm.
Figura 4- Distribuição de diâmetros das principais espécies comuns em 76
uma impuca não-degradada (ND)= e uma degradada (DE)= do
Parque Estadual do Araguaia, Novo Santo Antônio-MT e respectivos
quocientes q. Intervalos de Classe: C. brasiliense= 8 cm e C. laxum= 1
cm.
Figura 5- Distribuição de diâmetros das principais espécies em uma 77
impuca não-degradada (ND)= do Parque Estadual do Araguaia, Novo
Santo Antônio-MT e respectivos quocientes q. Intervalos de Classe: M.
gardneriana = 3 cm, L. kunthiana= 4 cm e D. guianensis= 5 cm.
Figura 6- Distribuição de diâmetros das principais espécies em uma 78
impuca não-degradada (ND)= do Parque Estadual do Araguaia, Novo
Santo Antônio-MT e respectivos quocientes q. Intervalos de Classe: R.
montana e E. ovata= 4 cm; T. candolleana= 3 cm.
Figura 7- Distribuição de diâmetros das principais espécies em uma 79
impuca degradada (DE)= do Parque Estadual do Araguaia, Novo Santo
Antônio-MT e respectivos quocientes q. Intervalos de Classe: O. excelsa=
2 cm, D. prancei= 3 cm e M. armata= 1 cm.
Figura 8- Distribuição das alturas dos indivíduos amostrados em uma 82
impuca não-degradada (ND)= e uma degradada (DE)= do Parque
Estadual do Araguaia, Novo Santo Antônio-MT. Intervalo de classes= 2 m.
Figura 9- Alturas Máximas, Médias e Mínimas das espécies com DAP≥ 5 83
cm amostradas em uma impuca não-degradada (ND), Parque Estadual do
Araguaia, Novo Santo Antônio-MT. Espécies em ordem decrescente de
IVI. Sendo: 1- Micropholis gardneriana, 2- Licania kunthiana, 3- Calophyllum brasiliense, 4- Licania apetala, 5-
Ochthocosmus multiflorus, 6- Combretum laxum, 7- Diospyros guianensis, 8- Roupala montana, 9-

Ternstroemia candolleana, 10- Eschweilera ovata, 11- Diospyros xavantina, 12- Sloanea garckeana, 13-

Symmeria paniculata, 14- Sclerolobium froesii, 15- Mabea paniculata, 16- Xylopia sp., 17- Acosmium nitens, 18-

Dulacia egleri, 19- Pouteria trilocularis, 20- Mouriri acutiflora, 21- Pagamea guianensis, 22- Salacia

impressifolia, 23- Hirtella gracilipes, 24- Cathedra acuminata, 25- Passiflora cf. haematostigma, 26- Strychnos

guianensis, 27- Eugenia florida, 28- Neea ovalifolia, 29- Simaba orinocensis, 30- Pera schomburgkiana, 31-

Duroia prancei, 32- Malouetia flavescens, 33- Davilla kunthii, 34- Panopsis rubescens, 35- Machaerium

inundatum, 36- Genipa americana, 37- Myrcia fallax, 38- Alchornea schomburgkii, 39- Coccoloba sp., 40-

Croton cuneatus, 41- Myrtaceae NI-1, 42- Casearia sp., 43- Erythroxylum anguifugum, 44- Hydrochorea

corymbosa, 45- Ocotea cernua.

Figura 10- Alturas Máximas, Médias e Mínimas das espécies com DAP≥ 5 84
11

cm amostradas em uma impuca degradada (DE), Parque Estadual do


Araguaia, Novo Santo Antônio-MT. Espécies em ordem decrescente de
IVI. Sendo: 1- Licania apetala, 2- Sclerolobium froesii, 3- Ochthocosmus multiflorus, 4- Acosmium nitens, 5-
Xylopia sp., 6- Mabea paniculata, 7- Ormosia excelsa, 8- Duroia prancei, 9- Calophyllum brasiliense, 10-

Mauritiella armata, 11- Maytenus sp., 12- Mouriri acutiflora, 13- Hydrochorea corymbosa, 14- Pera

schomburgkiana, 15- Combretum laxum, 16- Diospyros guianensis, 17- Diospyros xavantina, 18- Pouteria

trilocularis, 19- Vochysia divergens, 20- Ocotea cernua, 21- Ternstroemia candolleana, 22- Dulacia egleri, 23-

Panopsis rubescens, 24- Garcinia madruno, 25- Hirtella gracilipes, 26- Malouetia flavescens, 27- Passiflora cf.

haematostigma, 28- Croton cuneatus, 29- Licania kunthiana, 30- Genipa americana, 31- Byrsonima riparia, 32-

Eugenia sp., 33- Salacia impressifolia.

Figura 11- Distribuição de alturas das principais espécies comuns em 89


uma impuca não-degradada (ND)= e uma degradada (DE)= do
Parque Estadual do Araguaia, Novo Santo Antônio-MT. Intervalos de
Classe: L. apetala= 2 m, S. froesii e O. multiflorus= 1 m.
Figura 12- Distribuição de alturas das principais espécies comuns em 90
uma impuca não-degradada (ND)= e uma degradada (DE)= do
Parque Estadual do Araguaia, Novo Santo Antônio-MT. Intervalos de
Classe: A. nitens e Xylopia sp.= 2 m e M. paniculata= 1 m.
Figura 13- Distribuição de alturas das principais espécies comuns em 91
uma impuca não-degradada (ND)= e uma degradada (DE)= do
Parque Estadual do Araguaia, Novo Santo Antônio-MT. Intervalos de
Classe= 2 m.
Figura 14- Distribuição de alturas das principais espécies em uma impuca 92
não-degradada (ND)= do Parque Estadual do Araguaia, Novo Santo
Antônio-MT. Intervalos de Classe= 1 m.
Figura 15- Distribuição de alturas das principais espécies em uma impuca 93
não-degradada (ND)= do Parque Estadual do Araguaia, Novo Santo
Antônio-MT. Intervalos de Classe: R. montana e T. candolleana= 1 m e E.
ovata= 2 m.
Figura 16- Distribuição de alturas das principais espécies da impuca 94
degradada (DE)= do Parque Estadual do Araguaia, Novo Santo Antônio-
MT. Intervalos de Classe: Ormosia excelsa e M. armata= 2 m e D.
prancei= 1 m.
12

RESUMO

BARBOSA, Danielle Cristine de Figueiredo. Estrutura e composição


florística de dois fragmentos naturais de florestas inundáveis (impucas)
no Parque Estadual do Araguaia-MT. Cáceres: UNEMAT, 2009. 128 p.
(Dissertação-Mestrado em Ciências Ambientais)1.

As impucas do Parque Estadual do Araguaia-MT (PEA) são vegetações


ecotonais, raras e pouco conhecidas, localizadas na transição Cerrado-Floresta
amazônica na Planície do Araguaia. Ocorrem em depressões no terreno e
sofrem inundação no período de chuvas. O presente estudo objetivou avaliar e
comparar a composição florística e a estrutura da vegetação, caracterizar a
distribuição de diâmetros e alturas da comunidade e principais espécies, e
elaborar uma cartilha com informações importantes sobre as impucas do PEA.
Foram selecionadas duas impucas com diferentes estados de conservação,
uma não-degradada (ND) (12º19’11,2”S e 50º44’15,6”W) e uma degradada
(DE) (12º09’04,2”S e 50º49’37”W), localizadas no PEA, Novo Santo Antônio-
MT. Em cada impuca foram demarcados cinco transectos, subdivididos em 50
parcelas permanentes de 10x20m, totalizando um hectare. Todos os indivíduos
lenhosos com diâmetro a altura do peito ≥5cm foram amostrados. Verificou-se
a similaridade florística dessas impucas com as de Tocantins e outras florestas
brasileiras. Foi elaborada uma cartilha e para esta foram coletadas informações
com os moradores e efetuados registros fotográficos. A impuca ND apresentou
28 famílias, 43 gêneros e 45 espécies e a DE apresentou 22, 31 e 33,
respectivamente. A densidade total e a área basal foram, respectivamente, na
impuca ND de 2.177 ind.ha-1 e 35,23 m².ha-1 e na impuca DE de 1.501 ind.ha-1
e 25,16 m².ha-1. As impucas estudadas apresentaram uma florística composta
de espécies de Cerrado, Pantanal e Floresta Amazônica. As espécies que se
destacaram foram Micropholis gardneriana, Licania apetala, Calophyllum
brasiliense, Ochthocosmus multiflorus, Licania kunthiana e Sclerolobium froesii.
Os valores do índice de diversidade de espécies de Shannon-Wiener e a
equabilidade de Pielou nas impucas ND (H’= 2,87 nats.ind-1 e J’= 0,745) e DE
(H’= 2,64 e J’= 0,754) foram reduzidos .O histórico de perturbações da impuca
DE alterou a composição florística e estrutura da comunidade. A similaridade
florística das impucas do PEA com as de Tocantins e outras florestas
brasileiras foi bastante reduzida, sugerindo que as impucas de Mato Grosso
apresentam uma identidade florística própria. A impuca ND apresentou
distribuição diamétrica da comunidade em J-reverso, sendo auto-regenerante e
a DE encontra-se em estágio sucessional intermediário. Licania apetala,
Sclerolobium froesii e Acosmium nitens, parecem adaptar-se muito bem em
áreas alteradas e, neste caso, podem ser recomendadas para plantios em
impucas degradadas e que exijam iniciativas de recuperação. A cartilha é
composta de imagens e informações ecológicas das comunidades e principais
espécies lenhosas das impucas estudadas no PEA, sendo apresentada em
linguagem acessível ao público leigo. As impucas do PEA, para cumprir
efetivamente o seu papel de preservação das populações de espécies nativas

1
Orientadora: Dra. Beatriz Schwantes Marimon, UNEMAT.
13

devem ser protegidas contra incêndios e contar com um plano de manejo que
evite a expansão de espécies invasoras, bem como as interferências
antrópicas.

Palavras-chave: impuca, Cerrado, florística, Planície do Araguaia.


14

ABSTRACT

BARBOSA, Danielle Cristine de Figueiredo. Structure and floristic


composition of two natural fragment of wetland forest (impucas) in the
Araguaia State Park-MT. Cáceres: UNEMAT, 2009. 128 p. (Dissertation -
Master in Environment Science) 1.

The impucas in the Araguaia State Park-MT (ASP) are rare, little-known
transitional vegetation situated in the area of Cerrado-Amazonian Forest
transition in the Araguaia River Floodplain. They occur in depressed terrains
that become flooded in the rainy season. The current study aimed to evaluate
and compare the floristic composition and vegetation structure, to characterize
the diameter and height distributions, as well as to elaborate a booklet with
important information on the impucas of ASP. Two impuca areas with distinct
conservation status were selected, one non-altered (NA) (12º19’11.2”S and
50º44’15.6”W) and another altered (AL) (12º09’04.2”S and 50º49’37”W), located
in ASP, Novo Santo Antônio-MT. In each impuca area five transects were
established and subdivided into 50 permanent plots of 10x20 m in size,
totalizing one hectare. All woody individuals with diameter at breast height ≥5cm
were sampled. Floristic similarity between these impucas and those from
Tocantins and other Brazilian forests was verified. The booklet was elaborated
and for this, informations were collected from people residents in the park and
photographic records. The NA impuca presented 28 families, 43 genera and 45
species and AL impuca had 22, 31 and 33, respectively. Total density and basal
area were, respectively, in NA impuca 2.177 ind.ha-1 and 35.23 m².ha-1, and in
AL impuca 1.501 ind.ha-1 and 25.16 m².ha-1. The impucas studied presented a
floristic composed of Cerrado, Pantanal and Amazonian forest species. The
most important species were Micropholis gardneriana, Licania apetala,
Calophyllum brasiliense, Ochthocosmus multiflorus, Licania kunthiana and
Sclerolobium froesii. Shannon-Wiener’s diversity index and Pielou’s evenness
values were low for both NA impuca (H’= 2.87 nats.ind-1 and J’= 0.745) and AL
impuca (H’= 2.63 and J’= 0.754). The historic disturbance in AL impuca affected
the floristic composition and community structure. Floristic similarity between
ASP impucas and those from Tocantins and other Brazilian forests was very
low, suggesting that impucas from Mato Grosso State present their own floristic
identity. NA impuca showed a reverse-J diameter distribution and it is self-
regenerating, while AL impuca is in an intermediate successional stage. Licania
apetala, Sclerolobium froesii and Acosmium nitens seem to adapt very well to
altered areas, and in this case, they can be recommended for planting in altered
impucas that need recuperation initiatives. The booklet is composed of images
and ecological information on the communities and main woody species of the
impucas studied in ASP, presented in an accessible language to the
nonprofessional public. In order to fulfill effectively its role in the conservation of
native species population, the impucas in ASP must be protected against fires,
and a management plan is needed to avoid the expansion of invasive species,
as well as anthropic interferences.

1
Major Professor: Dr. Beatriz Schwantes Marimon, UNEMAT.
15

Key Words: impuca, Cerrado, floristic, Araguaia River Floodplain.


16

1- INTRODUÇÃO GERAL

Os fragmentos naturais de florestas inundáveis regionalmente


denominadas impucas (EITEN, 1985; BRITO, 2005) apresentam características
peculiares, sofrem inundações sazonais e ocorrem em áreas depressivas,
permanecendo muitas vezes encharcadas ou inundadas por longos períodos
durante o ano (BRITO, 2005; MARTINS et al., 2006). As impucas do Parque
Estadual do Araguaia-MT (PEA) localizam-se na Planície do Araguaia, também
conhecida como Pantanal do Araguaia ou Pantanal dos rios Mortes-Araguaia
(MARIMON e LIMA, 2001; BRITO, 2005). Essa planície compreende um
expressivo ecótono apresentando vegetação e flora de Cerrado, Amazônia e
Pantanal, fato que explica o mosaico vegetacional presente, destacando-se
como uma das regiões mais ricas em biodiversidade do país (BRITO, 2005).
Essa região compreende uma área de tensão ecológica na transição entre o
Bioma Cerrado e a Floresta Amazônica (IBGE, 1993 apud MARIMON et al.,
2006). Conforme Marimon et al. (2006) a linha de cotato entre a Floresta
Amazônica e o Bioma Cerrado é imensa, se extendendo por cerca de 4500 km.
A condição alagavel a qual se encontram as impucas do PEA torna-se um
fator limitante no desenvolvimento dessas florestas. Segundo Arieira e Nunes
da Cunha (2006) a inundação pode ser um fator determinante no
estabelecimento das espécies, diminuindo a riqueza de espécies. O alto
estresse da inundação parece exercer um papel limitante sobre a vegetaçao
arbórea, selecionando poucas espécies adaptadas a estas condições
(LÜTTGE, 1997 apud ARIEIRA e NUNES DA CUNHA, 2006). Conforme Arieira
e Nunes da Cunha (2006) a menor riqueza de espécies apresentadas por uma
floresta inundável pode ser explicada pelo pequeno número de espécies
lenhosas adaptadas a longos hidroperíodos.
São poucos os estudos referentes às impucas no Brasil, e
especificamente no estado de Mato Grosso existem até o momento apenas
descrições gerais sobre impucas dos municípios de Cocalinho e Santa
Terezinha, na região leste mato-grossense (EITEN, 1985; MARIMON e LIMA,
2001). Os estudos mais detalhados foram realizados em duas impucas no
17

estado de Tocantins, uma localizada em área preservada e outra em área de


orizicultura no município de Lagoa da Confusão (MARTINS et al., 2002, 2006,
2008; BRITO, 2005; BRITO et al., 2006, 2008). Sendo assim, a falta de
informações sobre as impucas da Planície do Araguaia traz a necessidade de
se desenvolver estudos que visem fornecer informações ecológicas sobre
estas florestas e que contribuam para sua conservação.
Primack e Rodrigues (2001, p. 33) compartilham deste ponto de vista ao
afirmar que “qualquer estratégia para conservar a diversidade biológica exige
uma quantificação das espécies existentes e como elas estão distribuídas”.
Tais estudos podem auxiliar no conhecimento de como a complexidade de
interações entre as espécies e o ambiente alagável controla e mantêm a
diversidade florística e a estabilidade ecológica das impucas. Proteger a
diversidade das áreas onde ocorrem esses fragmentos naturais de florestas
inundáveis pode ser considerado um fator de grande importância na região,
uma vez que atividades como a expansão agropecuária vem avançando em
desconsonância com o conhecimento científico dessas florestas (BRITO et al.,
2006).
Segundo Marimon e Lima (2001) a região onde está localizado o Parque
Estadual do Araguaia vem sofrendo fortes pressões da agropecuária extensiva
e do turismo indiscriminado (baseado principalmente na pesca predatória), que
poderão desencadear drásticas alterações na paisagem regional. Assim, uma
maior compreensão dessas florestas e a consolidação de informações para
embasar políticas estratégicas para a conservação e manejo da Planície do
Araguaia, tornam-se necessárias em caráter emergencial.
O Parque Estadual do Araguaia (PEA) é uma unidade de conservação
enquadrada na categoria de “Unidade de Proteção Integral” (SNUC - Sistema
Nacional de Unidades de Conservação, Lei nº 9.985) onde é permitida a
manutenção dos ecossistemas livres de alterações causadas por interferência
humana, admitindo apenas o uso indireto dos seus atributos naturais (BRASIL,
2000). O PEA ocupa 223.619,54 hectares e localiza-se entre o Rio das Mortes
e o Rio Araguaia, no município de Novo Santo Antônio (MARIMON et al.,
2008). Passados cerca de sete anos desde a criação do PEA, o plano de
18

manejo ainda não foi concluído e tampouco a situação fundiária resolvida. As


impucas do PEA deveriam estar sendo rigorosamente protegidas, pois estão
localizadas em uma Unidade de Conservação, porém a existência de cerca de
30 famílias residentes dentro dos limites do Parque, onde utilizam direta e
indiretamente seus recursos naturais, pode estar agravando a degradação
dessas impucas.
Os distúrbios na vegetação provocados pelo fogo têm ocorrido em vastas
áreas, tendo em vista que este é usado para renovar pastagens e promover a
limpeza de áreas e geralmente é ateado sem a mínima preocupação com a
segurança, tanto na área a ser queimada quanto no entorno (FIEDLER et al.,
2004). O fogo ateado pelos moradores do PEA pode trazer graves
conseqüências a essas impucas. As respostas das plantas aos impactos do
fogo pode variar conforme a intensidade, a freqüência e a duração dos
incêndios e também com a vulnerabilidade da vegetação atingida (SILVA et al.,
2005).
A criação indevida de gado no Parque Estadual do Araguaia pode
também agravar a degradação das formações vegetais, principalmente das
impucas que possuem um solo instável por conta do alagamento. Segundo
Machado et al. (2008) a presença do gado normalmente resulta em mortes de
plântulas devido ao pisoteio e prejuízos aos processos sucessionais e de
regeneração da floresta, como também favorece a disseminação de sementes
de espécies invasoras.
Nesse contexto, o presente trabalho é uma ferramenta importante de
gestão ambiental do Parque Estadual do Araguaia, pois contempla informações
sobre características florísticas e estruturais dos fragmentos naturais de
florestas inundáveis (impucas) que poderão subsidiar a elaboração e
implantação do plano de manejo do Parque. Além disso, as informações
geradas são importantes para contribuir com iniciativas futuras de recuperação
de impucas degradadas ou em processo de degradação no PEA.
Tendo isto em conta, foram levantadas informações com o objetivo de
elaborar o conhecimento acerca da composição florística e estrutura da
vegetação de duas impucas do PEA; oferecer subsídios para futuras ações de
19

recuperação dessas raras florestas que vêm sendo pressionadas pela ação
humana, e elaborar uma cartilha a ser utilizada como ferramenta de educação
ambiental. O conhecimento sobre as impucas do PEA ainda é escasso e
encontra-se em fase de construção, todavia consideramos importante e
necessário que as informações levantadas através desta pesquisa sejam
disseminadas às pessoas que moram próximas a essas florestas e aos
visitantes do Parque, no sentido de perceberem e compreenderem a
necessidade de proteger as impucas do PEA.
A área de estudo do presente trabalho localiza-se no Parque Estadual do
Araguaia (PEA), região nordeste de Mato Grosso, município de Novo Santo
Antônio, entre o Rio das Mortes e o Rio Araguaia (Fig. 1). Foram selecionadas
duas impucas no PEA, uma não-degradada, ou ND (12º19’11,2”S e
50º44’15,6”W) (Fig. 2) e outra degradada, ou DE (12º09’04,2”S e 50º49’37”W)
(Fig. 3), distantes cerca de 20 km entre si.
A presente dissertação constitui-se de dois artigos e uma cartilha: [1]
Estrutura e composição florística de dois fragmentos naturais de florestas
inundáveis (impucas) no Parque Estadual do Araguaia-MT; [2] Distribuição de
diâmetros e alturas de espécies lenhosas de dois fragmentos naturais de
florestas inundáveis (impucas) no Parque Estadual do Araguaia-MT; [3]
Conhecendo e conservando as impucas (fragmentos naturais de florestas
inundáveis) do Parque Estadual do Araguaia - Cartilha de Educação Ambiental.
O presente trabalho se integra ao projeto “Florística, estrutura e
características ambientais de fragmentos naturais de florestas inundáveis
(impucas) no Parque Estadual do Araguaia” coordenado pela Profª Drª Beatriz
Schwantes Marimon (UNEMAT-Nova Xavantina) e conta com o apoio
financeiro da FAPEMAT.
20

PEA
MATO GROSSO

Cuiabá

Figura 1 - Composição colorida a partir da imagem de satélite (Terra Metrics,


Digital Globe, 2009) apresentando as áreas de estudo (DE= impuca
degradada, 12º09’04,2”S e 50º49’37”W e ND= impuca não-degradada,
12º19’11,2”S e 50º44’15,6”W) e os limites do Parque Estadual do Araguaia
(PEA) (a oeste – Rio das Mortes (M), a leste – Rio Araguaia (A) e ao sul – linha
vermelha). Fonte: Google Earth (2009).
21

Figura 2 - Vista externa e interna da impuca não-degradada (ND) amostrada


no Parque Estadual do Araguaia, Novo Santo Antônio-MT.

Figura 3 - Vista externa e interna da impuca degradada (DE) amostrada no


Parque Estadual do Araguaia, Novo Santo Antônio-MT.
22

2- REFERÊNCIAS

ARIEIRA, J.; NUNES DA CUNHA, C. Fitossociologia de uma floresta inundável


monodominante de Vochysia divergens Pohl (Vochysiaceae), no Pantanal
Norte, MT, Brasil. Acta Botanica Brasilica, v. 20, n. 3, p. 569-580, 2006.
BRASIL. Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000. Institui o Sistema Nacional de
Unidades de Conservação da Natureza – SNUC. Brasília, DF, 2000.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/L9985.htm>. Acesso em:
5/10/2000.
BRITO, E. R. Florística e estrutura de fragmentos naturais de florestas
inundáveis – Ipucas – e identificação de áreas degradadas da Fazenda
Lago Verde, Lagoa da Confusão-TO. 2005. 80 p. Tese (Doutorado em
Ciência Florestal) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG, 2005.
BRITO, E. R. et al. Estrutura fitossociológica de um fragmento natural de
floresta inundável em área de campo sujo, Lagoa da Confusão, Tocantins.
Acta Amazonica, v. 38, n. 3, p. 379-386, 2008.
BRITO, E. R. et al. Estrutura fitossociológica de um fragmento natural de
floresta inundável em área de orizicultura irrigada, município de Lagoa da
Confusão, Tocantins. Revista Árvore, Viçosa, MG, v. 30, n. 5, p. 829-836,
2006.
EITEN, G. Vegetation near Santa Teresinha, NE Mato Grosso. Acta
Amazonica, v. 15, n. 3-4, p. 275-301, 1985.
FIEDLER, N. C. et al. Efeito de incêndios florestais na estrutura e composição
florística de uma área de cerrado sensu stricto na Fazenda Água Lima-DF.
Revista Árvore, Viçosa, MG, v. 28, p. 129-138, 2004.
MACHADO, E. L. M. et al. Efeitos do substrato, bordas e proximidade espacial
na estrutura da comunidade arbórea de um fragmento florestal em Lavras, MG.
Revista Brasileira de Botânica, v. 31, n. 2, p. 287-302, 2008.
MARIMON, B. S. et al. Observations on the vegetation of northeastern Mato
Grosso, Brazil. IV.* An analysis of the Cerrado-Amazonian Forest ecotone.
Edinburgh Journal of Botany, v. 63, n. 2&3, p. 323-341, 2006.
MARIMON, B. S. et al. Pantanal do Araguaia - ambiente e povo: guia de
ecoturismo. Cáceres: Editora Unemat, 2008. 95 p.
MARIMON, B. S.; LIMA, E. S. Caracterização fitofisionômica e levantamento
florístico preliminar no Pantanal dos Rios Mortes-Araguaia, Cocalinho, Mato
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MARTINS, A. K. E. et al. Relações Solo-Geoambiente em áreas de ocorrência
de ipucas na planície do Médio Araguaia-Estado de Tocantins. Revista Árvore,
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MARTINS, I. C. de M. et al. Diagnóstico ambiental no contexto da paisagem de
fragmentos florestais naturais “ipucas” no município de lagoa da confusão,
Tocantins. Revista Árvore, Viçosa, MG, v. 26, n. 3, 2002.
23

MARTINS, S. V. et al. Floristic composition of two wetland forests in Araguaian


Plain, State of Tocantins, Brazil, and comparison with other areas. Revista
Árvore, Viçosa, MG, v. 32, n. 1, p. 129-141, 2008.
PRIMACK, R. B.; RODRIGUES, E. Biologia da Conservação. Londrina:
Planta, 2001. 328 p.
SILVA, V. F. da et al. Impacto do fogo no componente arbóreo de uma floresta
estacional semidecídua no município de Ibituruna, MG, Brasil. Acta Botanica
Brasilica, v. 19, n. 4, p. 701-716, 2005.
24

ARTIGO I
ESTRUTURA E COMPOSIÇÃO FLORÍSTICA DE DOIS
FRAGMENTOS NATURAIS DE FLORESTAS INUNDÁVEIS
(IMPUCAS) NO PARQUE ESTADUAL DO ARAGUAIA-MT
Danielle Cristine de Figueiredo Barbosa1, Beatriz Schwantes Marimon2,
Eddie Lenza de Oliveira3 e Ben Hur Marimon Junior4

[Preparado de acordo com as normas da Revista Árvore]

RESUMO- As impucas são fragmentos florestais em ambiente ecotonal, raras e pouco


conhecidas que sofrem inundação sazonal e localizam-se em uma área de transição entre
os biomas Cerrado e Floresta Amazônica. Este estudo objetivou avaliar e comparar a
composição florística e a estrutura da vegetação de duas impucas com diferentes estados
de conservação no Parque Estadual do Araguaia-MT (PEA). Foram selecionadas uma
impuca não-degradada (ND) (12º19’11,2”S e 50º44’15,6”W) e uma degradada (DE)
(12º09’04,2”S e 50º49’37”W), onde foram demarcados cinco transectos subdivididos
em 50 parcelas permanentes de 10x20m. Todos os indivíduos lenhosos com diâmetro a
altura do peito ≥5cm foram amostrados. Avaliou-se a similaridade florística dessas
impucas com outras de Tocantins e algumas florestas brasileiras. A impuca ND
apresentou 28 famílias, 43 gêneros e 45 espécies e a impuca DE apresentou 22, 31 e 33,
respectivamente. Na impuca ND a densidade total foi de 2.177 ind.ha-1, a área basal de
35,23 m².ha-1 e a diversidade de espécies de Shannon-Wiener de 2,87 nats.ind-1 e na DE
foi 1.501, 25,16 e 2,64, respectivamente. As impucas estudadas apresentaram uma flora
composta de espécies de Cerrado, Pantanal e Floresta Amazônica. As espécies que mais
se destacaram foram Micropholis gardneriana, Licania apetala, Calophyllum
brasiliense, Ochthocosmus multiflorus, Licania kunthiana e Sclerolobium froesii. A
impuca DE apresentou menor riqueza, diversidade de espécies, densidade e dominância
relativa do que a impuca ND, provavelmente devido ao histórico de perturbações e à
inundação anual. A similaridade florística (Sørensen) entre ambas foi alta, mas com as
impucas de Tocantins e outras florestas brasileiras foi baixa, sugerindo que as impucas
de Mato Grosso apresentam uma identidade florística própria. O presente estudo
contribuirá com o conhecimento dos ecótonos brasileiros, com a elaboração do plano de
manejo do PEA e com iniciativas de recuperação de impucas degradadas.

Palavras-chave: transição Cerrado-Floresta Amazônica, Pantanal, florística,


fitossociologia.

1
Discente do Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais – UNEMAT, Cáceres-MT. E-mail:
danicris_04@hotmail.com.
2
Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais – UNEMAT, Cáceres-MT e do Programa de Pós-
graduação em Ecologia e Conservação – UNEMAT, Nova Xavantina-MT. E-mail: biamarimon@hotmail.com.
3
Docente do Programa de Pós-graduação em Ecologia e Conservação – UNEMAT, Nova Xavantina-MT.
4
Docente do curso de graduação em Ciências Biológicas – UNEMAT, Nova Xavantina-MT.
25

1. INTRODUÇÃO

Os fragmentos naturais de florestas inundáveis (impucas) da Planície do Araguaia


ocorrem em depressões naturais do terreno que favorecem seu alagamento e, dessa
forma, maior tempo de retenção da água em épocas de maior precipitação (BRITO et
al., 2008). Somada a essa condição, ocorrem naturalmente em forma de fragmentos
isolados, apresentando especificidades florísticas, estruturais e fisionômicas dos demais
tipos vegetacionais do entorno, além de proporcionar abrigo, refúgio e alimento para a
fauna (BRITO et al., 2006, 2008). O termo “impuca” é regional de Mato Grosso
(EITEN, 1985) e a expressão “ipuca” é usada no estado de Tocantins (BRITO, 2005).
Segundo Ferreira (2004), significa furo no igapó e vem do tupi, significando água
arrebentada. Esses fragmentos de florestas possuem seu entorno caracterizado por
campo limpo ou campo de murundus, podem ser encontrados isolados, próximos a
outras impucas ou até mesmo a outros caapões (MARIMON et al., 2008).

De acordo com Martins et al. (2002), estes fragmentos de floresta, no período de


cheias, fazem a ligação entre rios, lagos e córregos, são verdadeiros ninhais,
principalmente para a avifauna, e a sua degradação poderá trazer como conseqüência a
intensificação do processo migratório de predadores naturais, desencadeando profundas
alterações no equilíbrio do ambiente.

Ressalta-se que as impucas diferem das florestas de galeria, pois segundo Ribeiro
e Walter (2008) estas acompanham rios de pequeno porte e córregos dos planaltos do
Brasil Central, formando corredores fechados (galerias) sobre os cursos d’ água. Por
outro lado, as impucas não acompanham rios ou córregos, mas podem reter água por
longos períodos, pois ocorrem em depressões do terreno que propiciam o alagamento no
período das chuvas. Além disso, por acompanhar sempre um curso d’água as florestas
de galeria apresentam formatos alongados e as impucas podem apresentar formatos
alongados, elípticos, circulares e irregulares, dependendo das depressões do terreno.

Martins et al. (2008) salientam que na Planície do Araguaia, essas florestas são
importantes para a fauna silvestre, visto que, mesmo ocorrendo em fragmentos elas
desempenham importante papel conectando florestas ripárias e outras fitofisionomias da
região.
26

As impucas do presente estudo estão localizadas no Parque Estadual do Araguaia-


MT que se encontra em uma área caracterizada por uma extensa planície formada por
sedimentos quaternários fluviais, sazonalmente inundados pelos rios Mortes e Araguaia
(BRASIL, 1994). O local onde essas impucas estão localizadas está inserido em uma
área de tensão ecológica na transição entre o Cerrado e a Floresta Amazônica (IBGE,
1993 apud MARIMON et al., 2006) e foi classificada com importância biológica
extremamente alta, porém vêm sofrendo fortes pressões de atividades antrópicas
(MARIMON e LIMA, 2001).

Tendo em vista a falta de informação em área de transição (MARIMON et al.,


2006), principalmente sobre impucas no Brasil, e o avanço de atividades antrópicas que
colocam em risco a permanência desses raros fragmentos florestais, o presente estudo
teve por objetivo avaliar e comparar a composição florística e a estrutura da vegetação
de duas impucas com diferentes estados de conservação no Parque Estadual do
Araguaia (PEA), visando contribuir com o plano de manejo do Parque e com iniciativas
de recuperação de impucas degradadas.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1. Área de estudo

Os dois fragmentos naturais de florestas inundáveis (impucas) enfocados no


presente estudo se localizam no Parque Estadual de Araguaia (PEA), estado de Mato
Grosso, que apresenta 223.619,54 hectares de área (MARIMON et al., 2008). O PEA
localiza-se na área conhecida como Planície do Araguaia (BRITO, 2005), Pantanal do
Araguaia ou Pantanal dos rios Mortes-Araguaia (MARIMON e LIMA, 2001) e está
inserido em uma área de transição entre o Cerrado e a Floresta Amazônica (MARIMON
et al., 2006, 2008).

A Planície do Araguaia apresenta topografia plana e baixa altitude, nível do


lençol freático superficial elevado, predominância de Plintossolos e Gleissolos, ambos
com impedimento de drenagem e periodicidade de inundação (BRASIL, 1994). O clima
da região é tropical continental sempre quente, com uma estação seca entre abril e
setembro e uma chuvosa entre outubro e março, sendo do tipo Awi, segundo a
classificação de Köppen (CAMARGO, 1963; COCHRANE et al., 1985).
27

Segundo Vasconcelos (2005), por conta da dinâmica fluvial e dos aspectos


geográficos apresentados pela Planície do Araguaia, definiram-se duas feições
geomorfológicas diferentes: uma relacionada com os depósitos aluviais ao longo dos
rios, caracterizada pela ocorrência de lagoas temporárias, ilhas e meandros lifados ou
não pela deposição atual; e outra referente aos depósitos de sedimentos em posições
marginais ao rio, em níveis topográficos mais elevados, composta por lagoas
temporárias e/ou periodicamente inundáveis.
As impucas amostradas no presente estudo foram selecionadas de acordo com
observações preliminares, visando estabelecer dois padrões distintos. Uma impuca com
elevada ocorrência de indivíduos de Scleria sp. (capim-navalha ou tiririca-de-vampira),
marcas de fogo na maioria dos troncos das árvores, presença de clareiras, proximidade
de áreas habitadas (sedes de fazendas), proximidade de estradas com maior fluxo de
veículos e maior presença de gado. Essa floresta, por ter apresentado características de
uma impuca degradada, será chamada no decorrer do trabalho de impuca DE
(12º09’04,2”S e 50º49’37”W). Vale ressaltar ainda que um dia após a conclusão da
amostragem nesta impuca, em setembro de 2007, foi registrada uma queimada na
mesma, que pode ter sido provocada por moradores do Parque que nesta época do ano
(período da seca) costumam atear fogo para a renovação das pastagens. A outra impuca
será denominada de não-degradada (ND) (12º19’11,2”S e 50º44’15,6”W), pois
apresentou uma situação diferente da primeira, em todos os aspectos anteriormente
mencionados, como por exemplo, pouca ou nenhuma ocorrência de Scleria sp., sem
marcas de fogo nos troncos, baixa presença de gado, maior isolamento, etc.

2.2. Inventário
Em cada impuca foi demarcado um hectare em transeções paralelas distantes 50
m entre si e com 20 m de largura, que cortam a impuca transversalmente de uma borda a
outra, subdivididas em 50 parcelas permanentes de 10 x 20 m. Em cada parcela foram
medidos o diâmetro com fita métrica e a altura com vara telescópica graduada de todos
os indivíduos com DAP (diâmetro ao nível do peito) ³ 5 cm.
Foi coletado material vegetativo e reprodutivo de todas as espécies encontradas
com flor e/ou fruto no maior número possível de meses, abrangendo o início da seca até
o início das chuvas (maio a novembro), tendo em vista que o Parque permanece
28

inacessível para veículos no período chuvoso. O material coletado foi herborizado,


identificado por meio de comparação com o material do Herbário NX (UNEMAT-
Campus de Nova Xavantina) e do Herbário UB (Universidade de Brasília) e com a
contribuição do especialista Dr. James Alexander Ratter. Os nomes das espécies foram
confirmados e atualizados por bibliografias específicas seguindo o sistema APG II
(2003) e foram feitas também, quando necessário, consultas ao MOBOT (2008). Todo
material coletado foi incorporado na coleção do Herbário NX e duplicatas enviadas a
outros herbários brasileiros.

Para cada hectare foram calculados os parâmetros fitossociológicos: densidade,


freqüência e dominância absolutas e relativas e o índice de valor de importância
(MÜLLER-DOMBOIS e ELLENBERG, 1974), com o uso do programa Fitopac 2
(SHEPHERD, 1994). Também foram calculados o índice de diversidade de espécies de
Shannon-Wiener (H’; nats ind.-1) e a equabilidade de Pielou (J) (MAGURRAN, 1988).
Os resultados do índice de Shannon-Wiener definidos para cada impuca foram
comparados utilizando-se o teste t de Hutcheson (ZAR, 1999).

2.3. Similaridade florística

Tendo em vista que na literatura científica só existem estudos detalhados com


duas impucas em Tocantins (BRITO, 2005; BRITO et al., 2006; MARTINS et al.,
2008), verificou-se a similaridade florística das impucas do presente estudo com essas
de Tocantins e outras florestas associadas a corpos d’água (inundáveis ou não) dos
estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Amazonas, Pará, Tocantins, São Paulo e
Distrito Federal, e que assim como as impucas, também apresentam espécies do
Cerrado, Pantanal e da Floresta Amazônica (RATTER, 1987; OLIVEIRA-FILHO,
1989; KLINGE et al., 1995; GUARIM-NETO et al., 1996; TONIATO et al., 1998;
PINTO e OLIVEIRA-FILHO, 1999; POTT et al., 2000; MARIMON e LIMA, 2001;
BENTES-GAMA et al., 2002; MARQUES et al., 2003; ALMEIDA et al., 2004;
DAMASCENO-JUNIOR et al., 2005; GUARINO e WALTER, 2005; FERREIRA e
ALMEIDA, 2005; ARIEIRA e NUNES DA CUNHA, 2006; MARTINS et al., 2008).
Para avaliar a similaridade florística foram utilizados os índices de SÆrensen e Jaccard
(KENT e COKER, 1992).
29

O índice de SÆrensen baseia-se na presença ou ausência de espécies sendo,


portanto, um índice qualitativo, dando um peso maior para as espécies comuns do que
para as exclusivas (FELFILI e RESENDE, 2003).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1. Florística e diversidade de espécies


A impuca não-degradada (ND) apresentou 28 famílias, 43 gêneros e 45 espécies e
a impuca degradada (DE) apresentou 22 famílias, 31 gêneros e 33 espécies (Tabela 1 e
2). Todos os indivíduos amostrados nas duas impucas foram identificados pelo menos
até família, sendo na impuca ND cerca de 91% identificadas até espécie, 7% até gênero
e 2% até família (Tabela 1). Na impuca DE, cerca de 91% foram identificadas em nível
de espécie e 9% até o nível de gênero (Tabela 1). A falta de identificação até o nível de
espécie no presente estudo (9% na ND e 9% na DE) concorda com Ivanauskas et al.
(2004a), que observaram que a maioria das listagens da flora amazônica ficam
incompletas, pois muitas famílias são taxonomicamente complexas e faltam
especialistas na flora regional.
Martins et al. (2008) ao amostrar duas impucas em Tocantins, registraram 33
famílias, 44 gêneros e 49 espécies em uma impuca preservada e 35 famílias, 57 gêneros
e 70 espécies em outra impuca, em uma área sob influência antrópica (orizicultura).
Dessa forma, observa-se que as impucas de Tocantins apresentaram maior riqueza de
famílias, gêneros e espécies em relação às impucas do presente estudo, com uma maior
diferença entre as degradadas (TO e PEA). Essa diferença pode ser justificada pelo fato
de se encontrarem em diferentes estágios de sucessão, apresentarem diferentes
históricos de perturbação e estados de conservação.
Considerando-se as duas impucas amostradas no presente estudo, foram
registradas no total 52 espécies (Tabela 1). Analisando-se as listagens da flora
fanerogâmica compiladas por Ribeiro et al. (1999) para uma reserva da Amazônia, e por
Felfili et al. (2001) e Mendonça et al. (2008) para o Bioma Cerrado, observa-se que
60% das espécies amostradas nas impucas do PEA foram registradas em diferentes
fitofisionomias do Cerrado e 27% também foram registrados na Floresta Amazônica,
confirmando a influência desses dois biomas nas impucas do PEA, localizadas em área
30

de transição. Comparando as espécies que ocorreram nas duas impucas amostradas,


27% também ocorreram em um estudo efetuado por Pott e Pott (1994) no Pantanal
mato-grossense.
Conforme as listagens de espécies para o Bioma Cerrado de Felfili et al. (2001) e
Mendonça et al. (2008), muitas das espécies registradas nas impucas do PEA são
encontradas em florestas de galeria. De acordo com Oliveira-Filho e Ratter (1995),
diversas espécies de floresta de galeria dependem de elevada umidade no solo e muitas
parecem distribuir-se desde as florestas pluviais da Amazônia até as Atlânticas,
cruzando o Bioma Cerrado numa rota noroeste-sudeste através de uma rede dendrítica
de florestas de galeria. Assim, as impucas da Planície do Araguaia podem ser
consideradas formações florestais que compõem esta complexa rede dendrítica,
funcionando também como corredores ecológicos. No entanto, as impucas possuem
espécies arbóreas tipicamente amazônicas e não registradas em matas de galeria,
conferindo a elas uma certa peculiaridade florística.
Dentre as famílias que ocorreram nas duas impucas amostradas no PEA, as que
apresentaram maior número de espécies foram: Fabaceae (5), Euphorbiaceae (4),
Myrtaceae (4), Chrysobalanaceae (3) e Rubiaceae (3) que correspondem a 37% do total
de espécies amostradas (Tabela 1). Na impuca DE a família com maior número de
espécies foi Chrysobalanaceae (3) e na impuca ND a família mais representativa foi
Fabaceae (4) e na impuca ND as famílias mais representativas foram Euphorbiaceae (4)
e Fabaceae (4). Kunz et al. (2008) ao amostrar um trecho de floresta estacional
perenifólia na transição Cerrado-Floresta Amazônica, constataram que a família
Fabaceae foi a mais representativa em riqueza de espécies e Euphorbiaceae ocupou a
segunda posição. Amaral et al. (2000) também registraram Fabaceae e Myrtaceae com
alta concentração de espécies em uma floresta densa de terra firme na Amazônia. Silva-
Júnior et al. (2001), efetuando estudos em 21 florestas de galeria no Distrito Federal,
observaram que as famílias Rubiaceae, Myrtaceae e Annonaceae estiveram presentes
em todos os levantamentos e Fabaceae em 95,2% das áreas estudadas. Este aspecto
reforça que as famílias mais representativas das impucas estudadas no PEA também
apresentam grande distribuição e riqueza nas florestas do Brasil Central.
Em uma impuca amostrada em área preservada no estado de Tocantins, Martins et
al. (2008) registraram Fabaceae (8 espécies), Arecaceae, Chrysobalanaceae e
31

Vochysiaceae, com três espécies cada. O destaque da família Chrysobalanaceae, tanto


nas impucas amostradas no estado de Mato Grosso (presente estudo) quanto em
Tocantins (MARTINS et al., 2008) caracteriza a área de transição Cerrado-Floresta
Amazônica onde as impucas estudadas estão localizadas, visto que esta família costuma
ser bem representada nas formações florestais amazônicas (OLIVEIRA-FILHO e
RATTER, 1995). Prance et al. (1976) apud Klinge et al. (1995) observaram que em
florestas de terra firme da Amazônia as famílias Chrysobalanaceae, Leguminosae
(Fabaceae) e Sapotaceae, que também foram bem representadas no presente estudo,
estão entre as de maior riqueza específica.
Leguminosae (ou Fabaceae) foi considerada por Goodland (1979) uma das
famílias mais importantes nas formações florestais do Bioma Cerrado. O autor justifica
seu predomínio à capacidade de fixação de nitrogênio, apresentada por várias de suas
espécies, fato este que nos solos pobres do Brasil Central pode representar uma
vantagem competitiva. Além disso, Polhill et al. (1981) também observaram que o
predomínio desta família pode estar relacionado ao fato da região central do Brasil ser
considerada o seu principal centro de diversificação.
Na impuca ND, 57% das famílias estavam representadas por uma espécie e na
impuca DE 50%. Parece ser comum nas florestas tropicais brasileiras o elevado
percentual de famílias representadas por uma única espécie (FELFILI, 1994;
MARIMON et al., 2002; KUNZ et al., 2008).
Os gêneros com maior número de espécies em ambas as impucas (ND e DE)
foram Licania e Diospyros, com duas espécies cada. Esses dois gêneros também foram
comuns em florestas de galeria do Brasil Central, onde Silva-Júnior et al. (2001)
constataram que Licania e Diospyros estiveram presentes em 67% das áreas por eles
estudadas, sendo representativos nessas florestas de galeria, sugerindo assim, uma
semelhança florística entre as impucas do presente estudo e matas de galeria do Brasil
Central.
O índice de diversidade de espécies de Shannon-Wiener (H’) calculado para a
impuca ND foi de 2,87 nats.ind-1 e para a impuca DE foi de 2,64, valores estes que
diferiram estatisticamente entre si (teste t de Hutcheson, t= 5,6, p< 0,001). Estes valores
foram inferiores aos registrados por Pinto e Oliveira-Filho (1999) em uma floresta de
vale na Chapada dos Guimarães-MT (H’= 4,34 nats.ind-1; 148 espécies), Marimon et al.
32

(2002) em uma floresta de galeria em Nova Xavantina-MT (H’= 4,21; 129), Ivanauskas
et al. (2004a) em uma floresta ribeirinha inundável na Bacia do Rio Xingu (H’= 3,07;
57), Felfili (1994) em uma floresta de galeria no Distrito Federal (H’= 3,84; 93) e Kunz
et al. (2008) em uma floresta estacional perenifólia na transição Cerrado-Floresta
Amazônica em Querência-MT (H’= 3,17; 49). Os valores de H’ registrados nas impucas
ND e DE somente foram superiores àqueles registrados em uma floresta
monodominante de Brosimum rubescens estudada por Marimon et al. (2001a) na região
leste mato-grossense (H’= 2,37; 45).
Os valores inferiores de diversidade e riqueza de espécies das impucas do PEA
em relação às florestas supracitadas podem ser atribuídos principalmente pela
característica de maior alagamento dessas impucas. Campbell et al. (1986) e Guarino e
Walter (2005) compartilham dessa idéia, afirmando que as florestas localizadas em
áreas periodicamente inundáveis apresentam menor diversidade de espécies quando
comparadas com florestas sobre solos bem drenados.
Comparando-se as impucas do Parque Estadual do Araguaia (ND e DE) com as
impucas estudadas em Tocantins (MARTINS et al., 2008), observa-se que os valores de
riqueza e diversidade de espécies do presente estudo também foram inferiores aos
registrados pelos referidos autores (Tabela 5). Nesse caso, observa-se que as impucas
ND e DE do Parque Estadual do Araguaia apresentaram valores reduzidos de
diversidade de espécies, confirmando o que Ivanauskas et al. (2004a) observaram para
uma floresta ribeirinha na transição Cerrado-Floresta Amazônica, onde a inundação foi
considerada fator restritivo para a riqueza e a diversidade de espécies.
As impucas do presente estudo localizam-se em depressões do terreno e
permanecem inundadas durante todo o período das chuvas (entre seis e sete meses
anuais). No período seco, o nível do lençol freático permanece poucos metros abaixo da
superfície do solo (baseando-se em observações efetuadas por B. S. Marimon em poços
localizados em outras impucas do PEA), sendo que em alguns pontos de maior
depressão do terreno ou em anos com períodos de estiagem mais curtos a água pode
permanecer acima da superfície do solo mesmo no auge da estação seca (B. S.
Marimon, dados não publicados).
Conforme já discutido anteriormente, é possível que a menor diversidade de
espécies registrada nas impucas do PEA em relação às impucas de Tocantins,
33

reforçando a diferença entre elas, se justifica pela condição de maior inundação nas
impucas do presente estudo e por se apresentarem em diferentes estágios sucessionais.
Não há atividades de cultivo nas proximidades das impucas estudadas no Parque
Estadual do Araguaia. Os impactos sofridos na impuca DE estão diretamente
relacionados ao acesso do gado bovino que impacta a comunidade de plântulas através
do pisoteio e usa a floresta como área de refúgio, descanso e para beber água durante o
período de vazante e seca, ou enquanto houver poços de água no interior da impuca. As
atividades pastoris desenvolvidas nas proximidades e interior das impucas do PEA as
colocam sob risco direto de outro importante fator de impacto, o fogo, utilizado para o
manejo das pastagens nativas adjacentes.
Neste caso, o fogo adentra nas impucas no período seco e causa danos,
principalmente, à regeneração natural e à malha de raízes das árvores de grande porte.
Durante a execução do presente estudo, também foi observado que em poucos minutos
o fogo é capaz de tomar toda uma impuca, pois a grande quantidade de matéria orgânica
presente no solo (serapilheira) facilita a rápida expansão do fogo. Na impuca DE foram
observadas árvores tombadas e com marcas de queimada na base do tronco. O sistema
radicular de espécies de áreas inundáveis é superficial, tendo em vista a dificuldade de
fixação em um solo instável, e pode ser totalmente destruído pelo fogo, impossibilitando
a regeneração dos indivíduos atingidos. Sendo assim, sugere-se que a menor diversidade
de espécies registrada na impuca DE pode estar relacionada à eventos de ocorrência de
queimadas e pisoteio de gado em plântulas.
A impuca ND também apresentou diversidade de espécies reduzida, quando
comparada com outras florestas do Bioma Cerrado ou da Floresta Amazônica (Tabela
5). Entretanto, neste caso, o fator determinante pode ser a inundação sazonal que limita
o estabelecimento de muitas espécies. Semelhante às impucas do presente estudo, matas
de brejo no estado de São Paulo (TORRES et al., 1994; IVANAUSKAS et al., 1997;
TONIATO et al., 1998) apresentaram baixos valores de diversidade devido,
provavelmente, ao alagamento como fator restritivo.
Joly e Crawford (1982) observaram que espécies tolerantes à inundação
apresentam adaptações fisiológicas e morfológicas específicas que representam uma
importante vantagem competitiva nestes ambientes. Sendo assim, a exclusão de espécies
menos tolerantes a restrições ambientais, em condições desfavoráveis, pode conferir
34

uma vantagem seletiva para aquelas que são mais tolerantes (RICHARDS, 1996) e
justificar o fato das impucas do presente estudo ter apresentado diversidade de espécies
inferiores às encontradas em áreas não inundáveis de Floresta Amazônica e Cerrado.
A equabilidade de Pielou (J) foi similar entre as duas impucas (Tabela 2), ambas
apresentando valores inferiores a 0,76, sugerindo elevada dominância numérica de
algumas espécies. Analisando-se a equabilidade de outras florestas do Bioma Cerrado
ou da Amazônia (FELFILI, 1994; PINTO e OLIVEIRA-FILHO, 1999; MARIMON et
al., 2002; KUNZ et al., 2008), que variou de 0,81 a 0,87, observa-se que os menores
valores registrados no presente estudo podem estar relacionados ao elevado número de
indivíduos concentrados em poucas espécies, como foi o caso da impuca ND, onde uma
única espécie (Micropholis gardneriana) concentrou quase 30% de todos os indivíduos
(Tabela 3).

Tabela 1 - Famílias e espécies amostradas em dois fragmentos naturais de florestas


inundáveis (impucas) no Parque Estadual do Araguaia, impuca degradada (DE) e
impuca não-degradada (ND), município de Novo Santo Antônio-MT.
Impuca Impuca
Família/Espécies
DE ND
ANNONACEAE
Xylopia sp. X X
APOCYNACEAE
Malouetia flavescens (Willd. ex Roem. & Schult.) Müll. Arg. X X
ARECACEAE
Mauritiella armata (Mart.) Burret X
CELASTRACEAE
Maytenus sp. X
Salacia impressifolia (Miers) A. C. Sm. X X
CHRYSOBALANACEAE
Hirtella gracilipes (Hook. f.) Prance X X
Licania apetala (E. Mey.) Fritsch X X
Licania kunthiana Hook. F. X X
CLUSIACEAE
Calophyllum brasiliense Cambess. X X
Garcinia madruno (Kunth) Hammel X
COMBRETACEAE
Combretum laxum Jacq. X X
DILLENIACEAE
Davilla kunthii A. St.-Hil. X
EBENACEAE
Diospyros guianensis (Aubl.) Gürke X X
Diospyros xavantina Sothers X X
ELAEOCARPACEAE
Sloanea garckeana K. Schum. X
ERYTHROXYLACEAE
Erythroxylum anguifugum Mart. X
EUPHORBIACEAE
Alchornea schomburgkii Klotzsch X
35

Croton cuneatus Klotzsch X X


Mabea paniculata Spruce ex Benth. X X
Pera schomburgkiana (Klotzsch) Müll. Arg. X X
FABACEAE
Caesalpinioideae
Sclerolobium froesii Pires X X
Faboideae
Acosmium nitens (Vogel) Yakovlev X X
Ormosia excelsa Benth. X
Machaerium inundatum (Mart. ex Benth.) Ducke X
Mimosoideae
Hydrochorea corymbosa (Rich.) Barneby & J.W. Grimes X X
IXONANTHACEAE
Ochthocosmus multiflorus Ducke X X
LAURACEAE
Ocotea cernua (Nees) Mez X X
LECYTHIDACEAE
Eschweilera ovata (Cambess.) Miers X
LOGANIACEAE
Strychnos guianensis (Aubl.) Mart. X
MALPIGHIACEAE
Byrsonima riparia W. R. Anderson X
MELASTOMATACEAE
Mouriri acutiflora Naudin X X
MYRTACEAE
Eugenia florida DC. X
Myrcia fallax (Rich.) DC. X
Eugenia sp. X
Myrtaceae NI-1 X
NYCTAGINACEAE
Neea ovalifolia Spruce ex J.A. Schmidt X
OLACACEAE
Cathedra acuminata (Benth.) Miers X
Dulacia egleri (Rangel) Sleumer X X
PASSIFLORACEAE
Passiflora cf. haematostigma Mart. ex Mast. X X
PENTAPHYLLACACEAE
Ternstroemia candolleana Wawra X X
POLYGONACEAE
Coccoloba sp. X
Symmeria paniculata Benth. X
PROTEACEAE
Panopsis rubescens (Pohl) Rusby X X
Roupala montana Aubl. X
RUBIACEAE
Duroia prancei Steyerm. X X
Genipa americana L. X X
Pagamea guianensis Aubl. X
SALICACEAE
Casearia sp. X
SAPOTACEAE
Micropholis gardneriana (A. DC.) Pierre X
Pouteria trilocularis Cronquist X X
SIMAROUBACEAE
Simaba orinocensis Kunth X
VOCHYSIACEAE
Vochysia divergens Pohl X
36

Tabela 2 - Comparações entre as características florísticas e estruturais da impuca DE


(degradada) e da impuca ND (não-degradada) no Parque Estadual do Araguaia, Novo
Santo Antônio-MT. Sendo: sp.= espécies, DR= densidade relativa, DoR= dominância
relativa, H’= índice de diversidade de espécies de Shannon-Wiener (nats ind.-1), J=
equabilidade de Pielou, ITR= indivíduos com troncos ramificados, DA= densidade
absoluta e DoA= dominância absoluta.
Lianas
Espécies ITR DA DoA
Impuca Espécies Gêneros Famílias DR DoR raras
H’ J (%) (Nha -1) (m2 ha)
Nº sp. (%) (%)
ND 45 42 28 5 8,49 2,63 8 2,87 0,74 19 2.003 35,23
DE 33 31 22 2 2,02 0,43 7 2,64 0,75 35 1.336 25,16

3.2. Estrutura da vegetação


A densidade total de indivíduos (vivos e mortos) amostrados na impuca ND foi de
2.177 ind.ha-1 e na impuca DE foi 1.501 ind.ha-1. A área basal foi de 35,23 m2.ha-1 na
impuca ND e 25,16 m2.ha-1 na impuca DE (Tabelas 2, 3 e 4). Na impuca ND, os
indivíduos mortos em pé perfizeram cerca de 8% do total de indivíduos levantados e na
impuca DE, cerca de 11%.
A menor densidade encontrada na impuca DE em relação à impuca ND pode ser
explicada, tal como já foi mencionado anteriormente, pelos impactos causados pelo
fogo e o pisoteio do gado. Felfili et al. (2000) e Henriques e Hay (2002) afirmam que o
fogo pode ser responsável pela exclusão de algumas espécies sensíveis e pela redução
no número de indivíduos.
Os resultados referentes à densidade total de indivíduos amostrados nas impucas
do PEA (ND e DE) podem ser considerados elevados, visto que foram superiores
àqueles encontrados em uma floresta de várzea no Amazonas, uma floresta ripária no
Pantanal de Mato Grosso do Sul e uma floresta de brejo em São Paulo (KLINGE et al.,
1995; IVANAUSKAS et al., 1997; DAMASCENO-JUNIOR et al., 2005). Entretanto,
as densidades registradas nas impucas do presente estudo foram inferiores a encontrada
em um fragmento de floresta paludosa em Minas Gerais (LOURES et al., 2007).
Analisando as impucas ND e DE do Parque Estadual do Araguaia, ambas
apresentaram densidades superiores às impucas de Tocantins (BRITO, 2005). Neste
caso, sugere-se que as impucas do presente estudo apresentam menor perturbação
quando comparadas às impucas de Tocantins. Apesar das impucas do PEA estarem
sujeitas ao impacto de queimadas e do gado, sua localização em uma unidade de
conservação pode estar sendo fator determinante para o maior número de indivíduos ali
37

registrado. Outro fator que precisa ser melhor investigado e comparado é o formato das
impucas de Tocantins (arredondado ou alongado) (BRITO, 2005) e das impucas do
PEA (estreito e longo), sendo que fatores ambientais associados ao tamanho e formato
podem estar determinando a maior ou menor densidade de indivíduos nas mesmas.
Ao contrário do que foi registrado no presente estudo, a impuca antropizada de
Tocantins apresentou densidade (707,9 ind.ha-1) superior à impuca preservada (665
ind.ha-1). Este resultado pode ser atribuído à entrada de espécies invasoras e diferentes
estágios sucessionais.
A área basal observada na impuca ND (35,23 m2.ha-1) foi similar aos resultados
registrados por Pitman et al. (2001), para 24 áreas de floresta de terra firme na
Amazônia (≈ 30 m2.ha-1) e esteve entre os limites de 30-40 m2.ha-1 observados por
Lamprecht (1972) em florestas da América do Sul. Com esse valor de área basal, a
impuca ND, atende aos valores propostos por Brown e Iverson (1992) para florestas
tropicais maduras e pode ser enquadrada na categoria de floresta densa sugerida por
Pires e Prance (1985). Os valores também foram similares aos registrados por Brito
(2005) na impuca preservada de Tocantins (31,16 m2.ha-1). A área basal registrada na
impuca ND ainda foi similar ao valor registrado em uma floresta sazonal de várzea na
Amazônia (KLINGE et al. 1995).
A impuca DE apresentou menor densidade, menor diversidade de espécies, menor
área basal e maior percentual de indivíduos com troncos ramificados, refletindo um
padrão diferente da impuca ND (Tabela 2). Com base na área basal, a impuca DE (25,16
m2.ha-1) pode ser enquadrada na categoria de floresta aberta, proposta por Pires e Prance
(1985). Neste caso, o maior número de indivíduos com troncos ramificados pode refletir
uma condição de floresta aberta sujeita a distúrbios mais freqüentes. Entretanto, ao
contrário do esperado em uma floresta degradada, essa impuca apresentou baixa
densidade e riqueza de espécies de lianas. Neste caso, é possível que as lianas estejam
sofrendo fortes pressões por conta das queimadas ocasionadas nesta impuca, podendo
representar um grupo mais sensível à esse impacto (PUTZ, 1984).
A área basal da impuca DE foi similar aos valores registrados em um trecho de
floresta de brejo em Itatinga-SP (IVANAUSKAS et al., 1997). As comparações
relacionadas à área basal devem ser analisadas com cuidado, pois os valores
encontrados são diretamente influenciados pelo diâmetro mínimo escolhido para a
38

amostragem, o tipo florestal e o estado de conservação da área estudada (KUNZ et al.,


2008). Sendo assim, o fato da impuca antropizada de Tocantins (BRITO, 2005) ter
apresentado uma área basal (12,92 m2.ha-1) inferior aos valores das impucas ND e DE
estudadas no PEA pode estar relacionado ao histórico e nível de antropização
(orizicultura) que esta floresta vem sofrendo.
O elevado valor de área basal registrado nas impucas do PEA pode representar um
risco, visto que podem ser alvo de exploração madeireira. Garantir a manutenção destas
florestas em unidades de conservação, livres do impacto do fogo e do gado, bem como
controlar rigorosamente a retirada de madeira daquelas impucas que não estão
localizadas em unidades de conservação são medidas imprescindíveis para garantir a
preservação destas florestas. No caso das impucas ND e DE, amostradas no Parque
Estadual do Araguaia, percebe-se que o fogo, o pisoteio do gado e outros fatores, como
inundação, podem estar influenciando fortemente nas características estruturais dessas
florestas. O modo e a freqüência com que estes fatores vêm acontecendo nessas impucas
definem as características de cada uma, podendo apresentar diferenças entre elas (menor
diversidade de espécies, densidade e área basal na DE), como foi constatado neste
estudo, onde uma sofre mais impactos antrópicos (DE) do que a outra (ND).
A porcentagem de indivíduos mortos em pé amostrados na impuca ND (8%) foi
similar à registrada por Ivanauskas et al. (2004a), em uma floresta amazônica inundável
na Bacia do Rio Xingu (6%). A impuca DE apresentou elevado percentual de indivíduos
mortos (11%), valor próximo ao encontrado por Kunz et al. (2008) em um trecho de
floresta estacional perenifólia na transição Cerrado-Floresta Amazônica (11,37%), que
também consideraram este valor elevado. Estes resultados estão próximos aos
encontrados por Felfili e Silva-Júnior (1992) e Felfili (1993) em florestas de galeria do
Distrito Federal, onde registraram 5% de indivíduos mortos em uma floresta de galeria
não degradada e 16% em uma floresta degradada. Com base nesse e outros estudos
realizados com florestas de galeria, Felfili (2000) considera que o percentual de mortos
em pé em áreas não-degradadas encontra-se em torno de 5%. Sendo assim, o valor
registrado na impuca ND pode ser considerado baixo, visto se tratar de uma floresta
sazonalmente inundável.
Também foi observado nas impucas ND e DE, além dos indivíduos mortos em pé,
muitos mortos caídos (árvores de grande porte e com raízes afloradas). Isso leva a
39

sugerir que a condição de encharcamento sazonal do solo dificulta a fixação de árvores


de alturas elevadas, o que pode ser agravado pelo pisoteio do gado e queimadas.
Comparando-se o percentual de indivíduos mortos em pé das impucas do presente
estudo com as impucas de Tocantins (BRITO, 2005), a impuca ND (8%) apresentou
resultado semelhante à impuca preservada de Tocantins (8,87%). Entretanto,
comparando-se as impucas perturbadas (TO e MT), foram observados resultados muito
diferentes, pois a impuca DE (11%) apresentou maior número de indivíduos mortos do
que a impuca antropizada de Tocantins (3,22%). Essa condição talvez seja explicada
pelas diferenças de inundação que podem ocorrer nas impucas de Mato Grosso e
Tocantins, pelos diferentes estágios sucessionais que cada impuca se encontra e à maior
pressão por parte da orizicultura, favorecendo a entrada de espécies invasoras na impuca
antropizada de Tocantins.
As famílias que apresentaram maiores densidades na impuca ND foram
Sapotaceae e Chrysobalanaceae, somando cerca de 41% do total de indivíduos
amostrados (Figura 1). O destaque da família Sapotaceae se deu a uma única espécie
(Micropholis gardneriana) que apresentou 581 ind.ha-1, que correspondem a 29% do
total de indivíduos amostrados (Tabela 3). A família Chrysobalanaceae destacou-se pela
alta densidade de Licania kunthiana (133 ind.ha-1) (Tabela 3). As famílias que
apresentaram menores densidades (1 ou 2 ind.ha-1) nesta impuca foram Salicaceae,
Erythroxylaceae, Fabaceae-Mimosoideae e Lauraceae. A família Lauraceae também foi
registrada por Ivanauskas et al. (1997) com baixa densidade em um trecho de floresta de
brejo em Itatinga-SP.
Na impuca DE as famílias que apresentaram maiores densidades foram
Chrysobalanaceae e Ixonanthaceae, perfazendo cerca de 40% do total de indivíduos
(Figura 1). O destaque desta primeira se deve a Licania apetala, que apresentou 317
ind.ha-1, e o destaque da família Ixonanthaceae ocorreu por conta da única espécie dessa
família (Ochthocosmus multiflorus) ter apresentado 201 ind.ha-1 (Tabela 4). Esse
resultado evidencia que nem sempre a família com maior densidade é a que possui
maior riqueza de espécies (AMARAL et al., 2000). A família Chrysobalanaceae (90
ind.ha-1) também apresentou alta densidade na impuca antropizada de Tocantins
(BRITO, 2005). As famílias que apresentaram menores densidades (1 ou 2 ind.ha-1) na
impuca DE foram Passifloraceae, Malpighiaceae e Myrtaceae.
40

A frequência absoluta registrada nas impucas do presente estudo apresentou altos


valores para as famílias Sapotaceae, Chrysobalanaceae e Fabaceae-Faboideae.
Sapotaceae ocorreu em 100% das parcelas amostradas na impuca ND,
Chrysobalanaceae em 90% nas impucas ND e DE e Fabaceae-Faboideae em 78% na
impuca DE (Figura 1). Além de ter apresentado uma alta freqüência nas duas impucas
estudadas, a família Chrysobalanaceae é considerada por Silva-Júnior et al. (2001)
como freqüente em florestas de galeria do Brasil Central. Esses resultados podem
sugerir uma condição de vantagem adaptativa por parte das espécies pertencentes às
famílias mais freqüentes, tendo em vista a ocorrência das mesmas em quase toda a área
amostrada de cada impuca. As famílias que apresentaram menor freqüência absoluta
(2%) na impuca ND foram Salicaceae, Erythroxylaceae, Fabaceae-Mimosoideae e
Lauraceae, e na impuca DE foram Malpighiaceae e Myrtaceae. Silva-Júnior et al.
(2001) considerou Erythroxylaceae como uma família rara em florestas de galeria do
Brasil Central.

As famílias de maior dominância nas impucas ND e DE foram as mesmas que


apresentaram altos valores de densidade e freqüência, anteriormente citadas, bem como
a família Fabaceae-Caesalpinioideae na impuca DE (Figura 1). Na impuca ND
Sapotaceae e Chrysobalanaceae somaram pouco mais de 41% da dominância relativa.
Na impuca DE, Chrysobalanaceae, Fabaceae-Faboideae e Fabaceae-Caesalpinioideae
detiveram, no conjunto, cerca de 55% do total (Figura 1).

Segundo Ivanauskas et al. (2004b), a flora amazônica é rica em famílias


taxonomicamente complexas, como é o caso de Chrysobalanaceae. De acordo com
Prance (1992), as espécies de Cerrado da família Chrysobalanaceae teriam derivado de
espécies florestais. Além disso, esta família é considerada uma das principais em
florestas de terra firme da Amazônia (PRANCE et al., 1976 apud KLINGE et al., 1995)
e a sua abundância nos neotrópicos seria devido à habilidade de se adaptar a diferentes
habitats (PRANCE, 1992). Além disso, é representada por espécies essencialmente
amazônicas, que se adentrariam no Cerrado através das florestas de galeria (PRADO e
GIBBS, 1993). Neste caso, os elevados valores de dominância que esta família alcançou
nas impucas do presente estudo podem estar relacionados à localização geográfica do
Parque Estadual do Araguaia, que se encontra em uma área de transição Cerrado-
Floresta Amazônica.
41

Na impuca ND, Clusiaceae apresentou reduzido número de indivíduos, mas


apresentou o terceiro maior valor de dominância relativa na comunidade. Neste caso, os
indivíduos de grande porte representados por Calophyllum brasiliense (landi), que é
uma espécie de importância madeireira na confecção de canoas, chalanas, mastros de
navios, vigas, construção civil, obras internas, assoalhos, marcenaria e carpintaria
(POTT e POTT, 1994; LORENZI, 2002), determinaram a posição hierárquica desta
espécie. Na impuca DE, a família Fabaceae-Caesalpinioideae apresentou menor
densidade do que Ixonanthaceae, mas foi mais dominante do que esta, pois apresentou
indivíduos com elevados valores de área basal (Figura 1). Fabaceae também foi
registrada com alta dominância em uma floresta estacional semidecidual em São Paulo
(RODRIGUES et al., 1989). De acordo com Müller-Dombois e Ellenberg (1974) a
dominância pode fornecer uma medida mais eficaz da biomassa do que simplesmente o
número de indivíduos.

As famílias que apresentaram maior IVI (índice de valor de importância) na


impuca ND foram Sapotaceae (62,69), Chrysobalanaceae (36,37), Ebenaceae (23,38),
Clusiaceae (16,97) e Ixonanthaceae (15,79), que corresponderam a cerca de 52% do IVI
total (Figura 1). Na impuca DE, Chrysobalanaceae (60,09), Fabaceae-Faboideae
(34,49), Fabaceae-Caesalpinioideae (33,86), Ixonanthaceae (33,59) e Euphorbiaceae
(23,09) foram as mais importantes, correspondendo a 62% do IVI total (Figura 1). As
10 famílias de maior importância na impuca ND corresponderam a 73% e na DE a
83,5% do IVI total. De acordo com Pinto e Oliveira-Filho (1999), a família Sapotaceae
apresentaria um vínculo florístico fortemente associado à Floresta Amazônica e Klinge
et al. (1995) observaram que a família Chrysobalanaceae apresenta maior importância
em florestas estacionais de várzea na Amazônia. Além disso, Silva-Júnior et al. (2001)
registraram a família Euphorbiaceae como uma família comum em florestas de galeria
do Brasil Central.

O destaque dessas famílias pode reforçar a influência de matas de galeria e


florestas amazônicas nas impucas do PEA, devido a localização dessas impucas em uma
área de Transição Cerrado-Floresta Amazônica, embora Gentry e Emmons (1987)
afirmarem que apesar de cada região de floresta tropical apresentar um conjunto
particular de espécies, o padrão florístico das mesmas, em nível de família, é bem
menos diferenciado.
42

Comparando-se as impucas do PEA com as impucas de Tocantins, observou-se


que a família Sapotaceae, que foi a mais importante na impuca ND do presente estudo
sequer aparece nas impucas estudadas em Tocantins (BRITO, 2005; MARTINS et al.,
2008). Ixonanthaceae, que foi importante nas duas impucas de Mato Grosso também
não foi mencionada nos estudos de Tocantins (BRITO, 2005). Este aspecto sugere que a
composição florística das impucas pode variar dependendo da localização geográfica
das mesmas reforçando ainda mais a necessidade de ampliar os estudos em diferentes
regiões de modo a garantir uma ampla caracterização desta fitofisionomia e
consequentemente estabelecimento de estratégias de conservação.
Os gêneros que apresentaram maiores densidades na impuca ND foram
Micropholis, Licania, Ochthocosmus, Combretum e Diospyros, somando pouco mais
que 60% do total de indivíduos amostrados. O destaque de Micropholis se deu a uma
única espécie, que apresentou 581 ind.ha-1 (29%). Na impuca DE os gêneros que
apresentaram maiores densidades foram Licania, Ochthocosmus, Sclerolobium e
Xylopia que apresentaram um alto número de indivíduos, somando cerca de 56% da
densidade total. Marimon et al. (2001b) observaram que o gênero Licania foi um dos
mais representativos em uma floresta de Brosimum rubescens na Reserva Indígena
Areões em Nova Xavantina-MT. Dubs (1998) registrou para Mato Grosso 19 espécies
de Licania, sendo esta importante para a flora mato-grossense.
As espécies que apresentaram maiores densidades na impuca ND foram
Micropholis gardneriana, Ochthocosmus multiflorus, Combretum laxum e Licania
kunthiana somando cerca de 50% do total de indivíduos amostrados (Tabela 3). As
espécies que apresentaram menores densidades (1 ind.ha-1) nesta impuca foram
Erythroxylum anguifugum, Hydrochorea corymbosa e Ocotea cernua (Tabela 3).
Erythroxylum anguifugum também foi registrada com baixa densidade em uma impuca
antropizada de Tocantins (BRITO et al., 2006) e em uma floresta de vale no Parque
Nacional da Chapada dos Guimarães-MT (PINTO e OLIVEIRA-FILHO, 1999).
As maiores densidades da impuca DE foram registradas para as espécies Licania
apetala, Ochthocosmus multiflorus, Sclerolobium froesii e Xylopia sp., que
representaram cerca de 56% do total (Tabela 4). Nesta impuca, as espécies que
apresentaram baixas densidades foram Genipa americana, Byrsonima riparia, Eugenia
sp. e Salacia impressifolia. Na impuca preservada de Tocantins, Licania apetala foi
43

registrada entre as dez espécies de maior densidade (BRITO, 2005), sendo que Genipa
americana também foi registrada com baixa densidade em uma floresta ripária no
Pantanal de Mato Grosso do Sul (DAMASCENO-JUNIOR et al., 2005).
No presente estudo Sclerolobium froesii foi considerada uma espécie comum em
ambas as impucas do PEA (Tabela 3 e 4), corroborando com Ratter (1987) que registrou
S. froesii em uma floresta inundável no Parque Nacional do Araguaia como sendo uma
espécie extremamente comum, chegando a ser abundante em alguns locais. Eiten
(1985), que realizou o primeiro trabalho a mencionar as impucas na literatura científica,
no município de Santa Terezinha-MT, destacou o carvoeiro (S. froesii) como uma das
espécies comuns de impuca.
Foi observado que a densidade de Licania kunthiana se apresentou diferente nas
duas impucas, com valor elevado na ND (133 indivíduos) e baixo na DE (2) (Tabelas 3
e 4). Com base neste resultado pode-se sugerir que esta espécie não seria capaz de
tolerar perturbações (fogo, pisoteio de gado, etc.) e por esse motivo pode se adaptar
melhor em ambientes não degradados. De acordo com Ratter et al. (1973), L. kunthiana
é uma espécie característica de florestas sempre-verdes que ocasionalmente estão
sujeitas à inundações.
As espécies mais freqüentes, ou seja, que ocorreram em mais de 50% da área
amostrada na impuca ND foram Micropholis gardneriana, Licania kunthiana,
Combretum laxum, Eschweilera ovata, Ternstroemia candolleana, Licania apetala,
Ochthocosmus multiflorus, Roupala montana, Mabea paniculata e Diospyros xavantina
(Tabela 3). Na impuca DE, as espécies mais freqüentes foram Licania apetala,
Sclerolobium froesii, Ochthocosmus multiflorus, Acosmium nitens, Mabea paniculata e
Xylopia sp. (Tabela 4). Apenas L. apetala, O. multiflorus e M. paniculata foram
freqüentes em ambas as impucas, reforçando as diferenças estruturais entre as mesmas.
Micropholis gardneriana foi citado por Mendonça et al. (2008) como de ocorrência em
florestas ciliares e de galeria do Bioma Cerrado e Licania apetala foi considerada por
Silva-Júnior et al. (2001) como comum em florestas de galeria do Brasil Central,
segundo Ribeiro et al. (1999) esta espécie apresenta árvores de dossel, muito freqüentes
e com ampla distribuição na Amazônia.
Na impuca DE Xylopia sp., que foi registrada com alta densidade apresentou uma
freqüência inferior à Acosmium nitens que por sua vez, apresentou menor número de
44

indivíduos que Xylopia sp. Esse fato ocorre porque segundo Müller-Dombois e
Ellenberg (1974) a freqüência fornece uma informação a respeito da dispersão das
espécies. O autor acrescenta ainda que espécies com um elevado número de indivíduos
podem apresentar baixos valores de freqüência em função de seus indivíduos estarem
agrupados em manchas, ao passo que outras espécies podem apresentam 100% de
freqüência, pois seus indivíduos encontram-se distribuídos em todas as parcelas
amostradas.

Com relação à dominância das espécies, as que apresentaram maiores áreas basais
na impuca ND foram Micropholis gardneriana, Calophyllum brasiliense, Licania
kunthiana, Licania apetala, Diospyros guianensis, Roupala montana e Sloanea
garckeana (Tabela 3). Na impuca DE foram Licania apetala, Sclerolobium froesii,
Ochthocosmus multiflorus, Acosmium nitens, Ormosia excelsa, Xylopia sp. e
Calophyllum brasiliense as espécies de maior dominância (Tabela 4). O landi (C.
brasiliense) foi a primeira madeira de lei do Brasil, sendo muito utilizada para a
construção de navios, marcenaria e carpintaria em geral desde a época do império
(LORENZI, 2002). Estes aspectos podem indicar uma ameaça às impucas da região,
mesmo aquelas localizadas dentro do Parque, visto que a população retira a madeira
para construções rurais justamente destas florestas. Os moradores do Parque mencionam
que ainda há muita extração de madeira das impucas, sendo que as espécies mais
procuradas são C. brasiliense (construções rurais) e S. froesii (cercas e currais).

Comparando-se as impucas do presente trabalho com as impucas de Tocantins


amostradas por Brito (2005) e Brito et al. (2008), observou-se que Calophyllum
brasiliense, Licania apetala e Diospyros guianensis também apresentaram elevada
dominância relativa na impuca preservada de Tocantins. L. apetala foi citada por Silva-
Júnior et al. (1996) como uma das espécies que apresentaram altos valores de área basal
em florestas de galeria do Brasil Central. Segundo esses autores, esta espécie pode
suportar a saturação sazonal do solo e é comum em locais úmidos. Schiavini et al.
(2001) mencionam que esta espécie apresenta ampla ocorrência nas florestas de galeria
do Brasil Central, apresentando um importante papel para a fauna. Os referidos autores
mencionam ainda que C. brasiliense seria uma espécie exclusiva de florestas de galeria,
tendo associado ao seu desenvolvimento a necessidade de condições abióticas inerentes
a esse ambiente, como inundações periódicas.
45

As dez espécies de maior valor de importância (VI) corresponderam a cerca de


63% do VI total da impuca ND e 77% na impuca DE, havendo alta representatividade
de poucas espécies nas comunidades amostradas (Tabelas 3 e 4). As que se destacaram
na impuca ND foram: Micropholis gardneriana, Licania kunthiana, Calophyllum
brasiliense, Licania apetala e Ochthocosmus multiflorus, e na impuca DE foram:
Licania apetala, Sclerolobium froesii, Ochthocosmus multiflorus, Acosmium nitens e
Xylopia sp.

Na impuca ND, Micropholis gardneriana e Licania kunthiana destacaram-se por


apresentar elevada densidade, freqüência e dominância relativas. Calophyllum
brasiliense e Licania apetala apresentaram elevada dominância e Ochthocosmus
multiflorus elevado número de indivíduos. Na impuca DE o que determinou o 1º lugar
em IVI de Licania apetala foi, principalmente, a maior área basal e o maior número de
indivíduos. Sclerolobium froesii e O. multiflorus destacaram-se em virtude da elevada
área basal, Acosmium nitens apresentou elevadas freqüência e área basal e Xylopia sp.
elevada densidade.

É importante salientar que o presente estudo representa o primeiro registro de


Micropholis gardneriana como espécie de maior importância ecológica em uma floresta
inundável (comparando-se com os trabalhos citados na Tabela 5). Dentre as 10 espécies
de maior IVI amostradas nas impucas do Parque Estadual do Araguaia, apenas quatro
também apareceram em destaque nas impucas estudadas em Tocantins (BRITO et al.,
2006, 2008). Este aspecto sugere que, apesar das impucas de Mato Grosso e de
Tocantins estarem localizadas na mesma planície de inundação, distantes entre si menos
de 200 km em linha reta, apresentam composição florística e estrutura da vegetação
diferenciadas, caracterizando que esta fitofisionomia pode variar dependendo do grau de
interferência antrópica, nível de inundação, fatores edáficos, dentre outros. Um aspecto
que precisa ser salientado é que as impucas estudadas em Tocantins (BRITO, 2005;
MARTINS et al., 2006, 2008) encontram-se posicionadas geograficamente mais na
borda da planície de inundação do Rio Araguaia do que as impucas estudadas em Mato
Grosso (presente estudo). Este fato pode explicar a ocorrência de um grande número de
espécies típicas de cerrado sentido restrito registradas nas impucas de Tocantins
(Curatella americana, Qualea grandiflora, Q. multiflora, etc.), provavelmente
refletindo um menor grau de inundação nas mesmas.
46

Eiten (1985) destacou o landi (Calophyllum brasiliense), a piranheira (Acosmium


nitens) e o carvoeiro (Sclerolobium froesii) como espécies comuns em impucas. Ratter
et al. (1978) e Ratter (1987) destacaram S. froesii e Ternstroemia candolleana como
importantes constituintes de florestas inundáveis da região nordeste de Mato Grosso e
leste de Goiás. Prance (1989) verificou que Licania apetala ocorre na Planície
Sedimentar do Bananal em florestas de galeria e florestas sazonalmente inundáveis, com
floração e frutificação no período de chuvas, e L. kunthiana ocorre em florestas
secundárias, de terra firme e sazonalmente inundáveis, com flores e frutos praticamente
o ano todo. Estas características podem representar vantagens competitivas para estas
espécies e justificar a dominância nas impucas estudadas.
Calophyllum brasiliense é uma árvore de dossel, ocasional em ambientes baixios
(RIBEIRO et al., 1999) e apresenta alta importância ecológica em florestas higrófilas e
de galeria (TORRES et al., 1992; TONIATO et al., 1998; MARIMON et al., 2002;
MARQUES et al., 2003; GUARINO e WALTER, 2005). Conforme Oliveira-Filho e
Ratter (1995), trata-se de uma espécie tolerante a inundações e comum em florestas de
várzea na Amazônia. Além disso, essa espécie foi destacada por alguns autores como
uma planta frutífera importante para a fauna (POTT et al., 2000), sendo consumida por
porcos, morcegos, peixes e com utilização apícola (POTT e POTT, 1994).
Sendo assim, as espécies que poderiam ser indicadoras de impucas não
degradadas seriam: Micropholis gardneriana, Licania kunthiana, Combretum laxum,
Diospyros guianensis, Roupala montana, Ternstroemia candolleana e Eschweilera
ovata, pois apresentaram alta importacia ecológica (elevado IVI) somente na impuca
ND (Tabela 3). E as espécies que poderiam ser indicadoras de impucas degradadas
seriam: Licania apetala, Sclerolobium froesii, Acosmium nitens, Xylopia sp., Mabea
paniculata, Ormosia excelsa, Duroia prancei e Mauritiella armata, pois apresentaram
maior destaque na impuca DE (Tabela 4).
47

Tabela 3 - Parâmetros fitossociológicos para as espécies com DAP≥5cm amostradas na


impuca ND. Densidade absoluta (DA) e relativa (DR), freqüência absoluta (FA) e
relativa (FR), dominância absoluta (DoA) e relativa (DoR), e índice de valor de
importância (IVI). Espécies em ordem decrescente de IVI. Valores absolutos em hectare
(D=N/ha, Do= m²/ha) e valores relativos em %.
Espécies DA DR FA FR DoA DoR IVI
Micropholis gardneriana 581 28,98 98 7,60 7,740 21,93 58,56
Licania kunthiana 133 6,64 80 6,16 3,154 8,95 21,76
Calophyllum brasiliense 35 1,75 42 3,24 4,066 11,54 16,52
Licania apétala 75 3,74 60 4,62 2,666 7,57 15,93
Ochthocosmus multiflorus 160 7,99 56 4,31 1,022 2,90 15,20
Combretum laxum 134 6,69 70 5,39 0,710 2,02 14,10
Diospyros guianensis 59 2,95 30 2,31 2,539 7,21 12,46
Roupala Montana 88 4,39 54 4,16 1,340 3,80 12,36
Ternstroemia candolleana 69 3,44 62 4,78 1,167 3,31 11,53
Eschweilera ovata 67 3,34 64 4,93 1,099 3,12 11,40
Diospyros xavantina 77 3,84 52 4,01 1,208 3,43 11,28
Sloanea garckeana 40 2,00 48 3,70 1,247 3,54 9,23
Symmeria paniculata 64 3,20 42 3,24 0,735 2,09 8,52
Sclerolobium froesii 39 1,95 36 2,77 1,335 3,79 8,51
Mabea paniculata 54 2,70 54 4,16 0,351 0,99 7,85
Xylopia sp. 44 2,20 44 3,39 0,601 1,71 7,29
Acosmium nitens 24 1,20 30 2,31 0,821 2,33 5,84
Dulacia egleri 33 1,65 46 3,54 0,145 0,41 5,60
Pouteria trilocularis 15 0,75 26 2,00 0,777 2,21 4,96
Mouriri acutiflora 20 1,00 28 2,16 0,480 1,36 4,52
Pagamea guianensis 30 1,50 28 2,16 0,288 0,82 4,47
Salacia impressifolia 14 0,70 22 1,69 0,119 0,34 2,73
Hirtella gracilipes 18 0,90 14 1,08 0,220 0,63 2,60
Cathedra acuminata 13 0,65 22 1,69 0,083 0,24 2,58
Passiflora cf. haematostigma 11 0,55 18 1,39 0,037 0,11 2,04
Strychnos guianensis 11 0,55 16 1,23 0,076 0,22 2,00
Eugenia florida 10 0,50 14 1,08 0,079 0,22 1,80
Neea ovalifolia 9 0,45 16 1,23 0,040 0,11 1,80
Simaba orinocensis 5 0,25 10 0,77 0,260 0,74 1,76
Pera schomburgkiana 7 0,35 12 0,92 0,147 0,42 1,69
Duroia prancei 8 0,40 12 0,92 0,123 0,35 1,67
Malouetia flavescens 9 0,45 12 0,92 0,086 0,24 1,62
Davilla kunthii 7 0,35 14 1,08 0,016 0,05 1,47
Panopsis rubescens 5 0,25 10 0,77 0,135 0,38 1,40
Machaerium inundatum 7 0,35 10 0,77 0,083 0,23 1,35
Genipa americana 4 0,20 8 0,62 0,122 0,35 1,16
Myrcia fallax 7 0,35 8 0,62 0,024 0,07 1,03
Alchornea schomburgkii 4 0,20 6 0,46 0,041 0,12 0,78
Coccoloba sp. 3 0,15 6 0,46 0,011 0,03 0,64
Croton cuneatus 3 0,15 6 0,46 0,007 0,02 0,63
Myrtaceae NI-1 2 0,10 4 0,31 0,007 0,02 0,43
48

Casearia sp. 2 0,10 2 0,15 0,007 0,02 0,27


Erythroxylum anguifugum 1 0,05 2 0,15 0,008 0,02 0,23
Hydrochorea corymbosa 1 0,05 2 0,15 0,007 0,02 0,22
Ocotea cernua 1 0,05 2 0,15 0,003 0,01 0,21
TOTAL 2003 100 1298 100 35,230 100 300

Tabela 4 - Parâmetros fitossociológicos para as espécies com DAP≥5cm amostradas na


impuca DE. Densidade absoluta (DA) e relativa (DR), freqüência absoluta (FA) e
relativa (FR), dominância absoluta (DoA) e relativa (DoR), e índice de valor de
importância (IVI). Espécies em ordem decrescente de IVI. Valores absolutos em hectare
(D=N/ha, Do= m²/ha) e valores relativos em %.
Espécies DA DR FA FR DoA DoR IVI
Licania apétala 317 23,77 84 10,22 6,028 23,95 57,87
Sclerolobium froesii 124 9,28 70 8,47 3,903 15,51 33,27
Ochthocosmus multiflorus 201 15,04 66 7,99 2,516 10,00 33,04
Acosmium nitens 64 4,79 66 7,99 2,097 8,34 21,12
Xylopia sp. 111 8,31 54 6,54 1,569 6,24 21,08
Mabea paniculata 95 7,11 58 7,02 0,748 2,97 17,10
Ormosia excelsa 51 3,82 36 4,36 1,873 7,45 15,62
Duroia prancei 72 5,39 42 5,08 0,755 3,00 13,47
Calophyllum brasiliense 38 2,84 38 4,60 1,081 4,30 11,74
Mauritiella armata 34 2,54 32 3,87 0,242 0,96 7,38
Maytenus sp. 28 2,10 32 3,87 0,305 1,21 7,18
Mouriri acutiflora 20 1,50 28 3,39 0,483 1,92 6,81
Hydrochorea corymbosa 19 1,42 24 2,91 0,596 2,37 6,69
Pera schomburgkiana 16 1,20 30 3,63 0,450 1,79 6,62
Combretum laxum 25 1,87 30 3,63 0,098 0,39 5,89
Diospyros guianensis 21 1,57 16 1,94 0,516 2,05 5,56
Diospyros xavantina 24 1,80 14 1,69 0,267 1,06 4,55
Pouteria trilocularis 11 0,82 18 2,18 0,377 1,50 4,50
Vochysia divergens 7 0,52 10 1,21 0,585 2,33 4,06
Ocotea cernua 14 1,05 18 2,18 0,163 0,65 3,87
Ternstroemia candolleana 9 0,67 14 1,69 0,178 0,71 3,08
Dulacia egleri 6 0,45 10 1,21 0,031 0,12 1,78
Panopsis rubescens 3 0,22 6 0,73 0,109 0,43 1,38
Garcinia madruno 9 0,67 4 0,48 0,033 0,13 1,29
Hirtella gracilipes 3 0,22 4 0,48 0,054 0,21 0,92
Malouetia flavescens 4 0,30 4 0,48 0,013 0,05 0,83
Passiflora cf. haematostigma 2 0,15 4 0,48 0,009 0,04 0,67
Croton cuneatus 2 0,15 4 0,48 0,006 0,02 0,66
Licania kunthiana 2 0,15 2 0,24 0,041 0,16 0,55
Genipa americana 1 0,07 2 0,24 0,015 0,06 0,38
Byrsonima riparia 1 0,07 2 0,24 0,012 0,05 0,37
Eugenia sp. 1 0,07 2 0,24 0,006 0,02 0,34
Salacia impressifolia 1 0,07 2 0,24 0,002 0,01 0,33
TOTAL 1336 100 826 100 25,158 100 300
49

90

80 Impuca Não-degradada
Índice de Valor de Importância

70
DoR
60
FR
50 DR

40

30

20

10

Famílias

70

60 Impuca Degradada
Índice de Valor de Importância

50 DoR
FR
40 DR

30

20

10

Famílias

Figura 1 - Índice de valor de importância das 10 famílias mais importantes da impuca


não-degradada e da impuca degradada do Parque Estadual do Araguaia, Novo Santo
Antônio-MT. Sendo: DoR= dominância relativa, FR= freqüência relativa e DR=
densidade relativa.
50

3.3. Similaridade florística


A similaridade florística entre as duas impucas do presente estudo foi elevada, de
67% com base no índice de Sørensen e 25% baseada no índice de Jaccard (Tabela 5).
Das 52 espécies amostradas nas duas impucas do Parque Estadual do Araguaia (ND e
DE), 26 foram comuns, 19 exclusivas da impuca ND e sete exclusivas da impuca DE
(Tabela 1). No entanto, apesar da elevada similaridade florística (com base no índice de
Sørensen), a estrutura da vegetação foi distinta entre as impucas ND e DE (item 3.2). A
impuca DE apresentou menor riqueza e diversidade de espécies, menor densidade e
menor área basal do que a impuca ND (Tabelas 2, 3 e 4).
Comparando-se as impucas do presente estudo com as impucas de Tocantins
(BRITO, 2005; MARTINS et al., 2008), a similaridade florística (Sørensen), entre as
impucas não-degradadas (MT e TO) foi inferior a 15% e entre as impucas degradadas
foi inferior a 4%, valores estes considerados baixos (Tabela 5). Estes valores sugerem
que as impucas de Mato Grosso registradas no presente estudo (ND e DE) diferem
floristicamente das impucas de Tocantins analisadas.
A baixa similaridade florística entre as impucas do presente estudo e as impucas
de Tocantins (MARTINS et al., 2008) pode estar relacionada à localização geográfica
das impucas de Tocantins mais à margem da grande Planície do Araguaia, sofrendo
maior influência das fitofisionomias savânicas do Bioma Cerrado, às diferenças no
período de inundação de cada área e às diferenças no histórico e padrão de perturbação.
Em geral, notou-se que as impucas do presente estudo apresentaram maior
similaridade florística com uma floresta inundável e uma impuca da Planície do
Araguaia (RATTER, 1987; MARIMON e LIMA, 2001) (Tabela 5), provavelmente por
se tratar de florestas que também sofrem inundações e por se localizarem mais próximas
geograficamente do que as demais florestas comparadas, fazendo parte inclusive da
mesma planície inundável. Fatores como altitude, latitude e características climáticas
podem ser determinantes para definir a similaridade florística entre florestas
sazonalmente inundáveis dos biomas Cerrado e Floresta Amazônica. Neste caso,
estudos mais detalhados e levantamentos em diferentes áreas são imprescindíveis para
compreender os padrões florísticos destas importantes e raras formações vegetais.
As espécies mais comuns entre as impucas DE e ND e as demais formações
florestais analisadas foram: Calophyllum brasiliense, Vochysia divergens e Alchornea
51

schomburgkii. Calophyllum brasiliense é uma espécie capaz de germinar após vários


meses de submersão, embora, enquanto inundadas, as sementes não germinem; suas
plântulas crescem normalmente, tanto em solo inundado quanto drenado (MARQUES e
JOLY, 2000). Estas características fazem com que a espécie seja muito freqüente em
vários ambientes ribeirinhos do sudeste do Brasil e também em outros ambientes
neotropicais onde o solo é permanente ou periodicamente inundado (SCARANO et al.,
1997).

Vochysia divergens é uma espécie amazônica (POTT e POTT, 1994) que


apresenta características ecológicas e fisiológicas que favorecem seu rápido
espalhamento e dominância em campos sazonalmente inundados. Merecem destaque a
elevada taxa de crescimento sob intensa luminosidade, sua tolerância à condição de
prolongado alagamento, a capacidade de suas plântulas para manter as folhas intactas
mesmo quando submersas e a grande produção de sementes espalhadas pelo vento e
água. Por ser uma espécie adaptada a condição de alagamento, pode ter suas populações
reduzidas em decorrência do efeito de períodos plurianuais de grandes secas (NUNES
DA CUNHA e JUNK, 2004).

4. CONCLUSÃO

As duas impucas estudadas apresentaram uma florística composta de espécies de


Cerrado, Pantanal e Floresta Amazônica. As espécies que mais se destacaram foram
Micropholis gardneriana, Licania apetala, Calophyllum brasiliense, Ochthocosmus
multiflorus, Licania kunthiana e Sclerolobium froesii, podendo ser consideradas
espécies típicas de impucas.

A impuca DE apresentou menor riqueza e menor diversidade de espécies,


menores densidade e dominância relativas do que a impuca ND. Este fato deve-se
provavelmente ao histórico de perturbações sofrido por cada uma e ao período que estão
sujeitas à inundação anual.

A reduzida similaridade florística observada entre as impucas do presente estudo e


as impucas de Tocantins pode estar relacionada às diferenças no regime de inundação,
no histórico e tipo de perturbação e na localização das impucas de Tocantins mais à
52

margem da Planície do Araguaia, sugerindo maior influência das fitofisionomias


savânicas do Bioma Cerrado.
Baseando-se na área basal por hectare, a impuca ND pode ser considerada uma
floresta densa e a impuca DE uma floresta aberta. Entretanto, o elevado valor de área
basal registrado e a presença de espécies com potencial madeireiro, como o
Calophyllum brasiliense, nessas impucas pode representar um risco, visto que podem
estar sujeitas à exploração madeireira. Sendo assim, é de fundamental importância que
estas florestas sejam protegidas e devidamente manejadas, tendo em vista também
serem estas florestas raras, pouco conhecidas e floristicamente diferentes de outras
florestas brasileiras sujeitas à inundações sazonais.
Desse modo, o presente estudo é fundamental para o plano de manejo do Parque
Estadual do Araguaia e para iniciativas de recuperação de impucas degradadas, tendo
em vista que levantou as espécies que compõem duas impucas no PEA, a quantidade de
indivíduos apresentados por cada espécie e a posição sociológica na comunidade,
informações estas importantíssimas para se planejar a recuperação de impucas que estão
sofrendo fortes pressões na Planície do Araguaia-MT.

5. AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à CAPES pela bolsa concedida ao primeiro autor, à


Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (FAPEMAT) pelo
financiamento do projeto, aos mestrandos em Ecologia e Conservação, Campus de
Nova Xavantina, Leandro dos Santos Silva e Edmar Almeida de Oliveira pelo auxílio na
coleta de dados no campo e à Secretaria do Estado de Meio Ambiente de Mato Grosso
(SEMA-MT) por autorizar o desenvolvimento deste estudo e disponibilizar o uso da
sede do Parque Estadual do Araguaia para o alojamento dos pesquisadores.
53

Tabela 5 - Características ambientais e métodos de amostragem das áreas comparadas neste estudo. Sendo: spp. – número total de
espécies; H’ – índice de diversidade de espécies de Shannon-Wiener; CCs – coeficiente de similaridade de SÆrensen; Sj – coeficiente de
similaridade de Jaccard; Alt. – altitude; Temp. – temperatura média anual; PMA – precipitação média anual; TF – tipo de floresta; FG –
floresta de galeria; FGI – floresta de galeria inundável; FRI – floresta ripária; MC – mata ciliar; FI – floresta inundável; FAI – floresta
aluvial inundável; I – ipuca ou impuca (fragmento natural de floresta inundável); FV – floresta de vale; FVA – floresta de várzea; FB –
floresta de brejo ou higrófila e CA – cambarazal.
CCs, Sj com CCs, Sj com Método de Alt. Temp. PMA
Referência Localização Geográfica spp. H’ Critério TF
Imp DE (%) Imp ND (%) amostragem (m) (°C) (mm)
Este estudo - Próximo ao Rio das Mortes CCs= 66,7 1450-
33 2,64 - Parcelas DAP³5 cm 208 24,9 I
impuca DE – PEA Sj= 25 1600
Este estudo - Próximo ao Rio Araguaia – CCs= 66,7 1450-
45 2,87 - Parcelas DAP³5 cm 194 24,9 I
impuca ND PEA Sj=25 1600
Martins et al. Área de orizicultura, Lagoa CCs= 3,9 CCs= 10,4
70 3,44 Censo DAP³5 cm 200 24 1750 I
(2008) da Confusão-TO Sj= 1,9 Sj= 5
Martins et al. Área preservada, Lagoa da CCs= 12,2 CCs= 14,9
49 2,97 Censo DAP³5 cm 200 24 1750 I
(2008) Confusão-TO Sj= 5,7 Sj= 6,9
Marimon e Lima Pantanal Mortes-Araguaia, CCs= 26,1 CCs= 22,2 Levantamento Indivíduos 200- 1450-
36 - 24,9 I
(2001) Cocalinho-MT Sj= 11,5 Sj= 10 Rápido lenhosos 300 1600
Ferreira e Igarapé Tarumã-Mirim, CCs= 5,7 CCs= 8,5
73 - Parcelas - - - - FI
Almeida (2005) AM Sj= 2,8 Sj= 4,1
Marimon e Lima Pantanal Mortes-Araguaia, CCs= 13,9 CCs= 12,8 Levantamento Indivíduos 200- 1450-
111 - 24,9 FI
(2001) Cocalinho-MT Sj= 6,5 Sj= 6 Rápido lenhosos 300 1600
Parque Nacional do CCs= 21,4 CCs= 17,6 Levantamento
Ratter (1987) 23 - - 245 25.5 1813,1 FI
Araguaia-TO Sj= 9,7 Sj= 8,1 Rápido
Guarim-Neto et CCs= 3,1 CCs= 2,6
Rio Cuiabá- Poconé-MT 31 - Quadrantes CAP³10 cm 80-150 - - MC
al. (1996) Sj= 1,5 Sj= 1,3
Guarim-Neto et Rio Bento Gomes-Poconé- CCs= 3,4 CCs= 0
25 - Quadrantes CAP³10 cm 80-150 - - MC
al. (1996) MT Sj= 1,7 Sj= 0
Baixo Rio Taquari, CCs= 9,7 CCs= 12,2
Pott et al. (2000) 70 - Parcelas - - - - MC
Pantanal-MS Sj= 4,6 Sj= 5,7
Toniato et al. CCs= 2,3 CCs= 4
Campinas-SP 55 2,80 Parcelas PAP³10 cm - 21,6 1381,2 FB
(1998) Sj= 1,1 Sj= 2
Marques et al. CCs= 2,4 CCs= 4,2
Rio Jacaré-Pepira-SP 51 2,81 Parcelas DAP³5 cm - 22 1421 FB
(2003) Sj= 1,2 Sj= 2
54

Guarino e CCs= 2,3 CCs= 2


Córrego Riacho Fundo, DF 53 2,84 Parcelas DAP³3 cm - - - FGI
Walter (2005) Sj= 1,1 Sj= 1
Guarino e CCs= 2,1 CCs= 1,9
Córrego Acampamento, DF 60 2,99 Parcelas DAP³3 cm - - - FGI
Walter (2005) Sj= 1 Sj= 0,9
Oliveira-Filho Córrego da Paciência, CCs= 4,9 CCs= 6
89 4,30 Parcelas CAS³9 cm 650 25,6 1421 FG
(1989) Cuiabá-MT Sj= 2,4 Sj= 2,9
Damasceno-
Rio Paraguai, Pantanal de CCs= 5,7 CCs= 4,9
Junior et al. 37 2,70 Parcelas DAP³5 cm - - 1070 FRI
Corumbá-MS Sj= 2,8 Sj= 2,4
(2005)
Parque Nacional da
Pinto e Oliveira- CCs= 2,2 CCs= 4,1 1800-
Chapada dos Guimarães- 148 4,34 Parcelas DAP³5 cm - - FV
Filho (1999) Sj= 1,1 Sj= 2 2000
MT
Bentes-Gama et CCs= 1,8 CCs= 1,6
Amazônia, Afuá-PA 78 3,62 Parcelas DAP³15 cm - 26 2500 FVA
al. (2002) Sj= 0,9 Sj= 0,8
Klinge et al. CCs= 2,5 CCs= 4,3
Ilha de Marchantaria-AM 47 - Parcelas DAP³5 cm - - - FVA
(1995) Sj= 1,2 Sj= 2,1
Almeida et al. CCs= 2,7 CCs= 6,9
Baixo Rio Xingu-PA 42 2,85 Parcelas DAP³10cm - 26 2800 FVA
(2004) Sj= 1,3 Sj= 3,3
Almeida et al. Estuário amazônico, CCs= 5,4 CCs= 3,2
78 3,52 Parcelas DAP³10 cm - 26 2800 FVA
(2004) Barcarena-PA Sj= 2,6 Sj= 1,6
Almeida et al. Estuário amazônico, CCs= 5,8 CCs= 2,5
36 1,62 Parcelas DAP³10 cm - 26 2800 FVA
(2004) Chaves-PA Sj= 2,8 Sj= 1,2
Almeida et al. Ilha do Cajuúna, estuário CCs= 0 CCs= 0
60 2,55 Parcelas DAP³10 cm - 26 2800 FVA
(2004) amazônico-PA Sj= 0 Sj= 0
Arieira e Nunes CCs= 4,4 CCs= 5,8 1000-
Pantanal Norte-MT (P1) 58 2,91 Parcelas CAP³5 cm 80-150 22-32 CA
da Cunha (2006) Sj= 2,1 Sj= 2,8 1500
Arieira e Nunes CCs= 3,8 CCs= 3,1 1000-
Pantanal Norte-MT (P2) 19 2,25 Parcelas CAP³5 cm 80-150 22-32 CA
da Cunha (2006) Sj= 1,9 Sj= 1,5 1500
Arieira e Nunes CCs= 6,3 CCs= 5,3 1000-
Pantanal Norte-MT (P3) 30 2,07 Parcelas CAP³5 cm 80-150 22-32 CA
da Cunha (2006) Sj= 3,1 Sj= 2,6 1500
Arieira e Nunes CCs= 6,8 CCs= 5,6 1000-
Pantanal Norte-MT (P4) 26 2,13 Parcelas CAP³5 cm 80-150 22-32 CA
da Cunha (2006) Sj= 3,3 Sj= 2,7 1500
55

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61

ARTIGO II
DISTRIBUIÇÃO DE DIÂMETROS E ALTURAS DE ESPÉCIES
LENHOSAS DE DOIS FRAGMENTOS NATURAIS DE
FLORESTAS INUNDÁVEIS (IMPUCAS) NO PARQUE ESTADUAL
DO ARAGUAIA-MT
Danielle Cristine de Figueiredo Barbosa1, Beatriz Schwantes Marimon2,
Eddie Lenza de Oliveira3, Ben Hur Marimon Junior4, Leandro dos Santos Silva5 e
Edmar Almeida de Oliveira5

[Preparado de acordo com as normas da Revista Árvore]

RESUMO - As impucas são fragmentos florestais naturais que ocorrem em depressões


na Planície do Araguaia e sofrem inundações sazonais. Esta pesquisa objetivou
caracterizar a distribuição de diâmetros e alturas da comunidade e das principais
espécies lenhosas de duas impucas com diferentes estados de conservação no Parque
Estadual do Araguaia-MT (PEA). Foram selecionadas uma impuca não-degradada (ND)
(12º19’11,2”S e 50º44’15,6”W) e uma degradada (DE) (12º09’04,2”S e 50º49’37”W),
nas quais foram demarcados cinco transectos subdivididos em 50 parcelas permanentes
de 10x20m. Foram mensurados os diâmetros e alturas de todos os indivíduos lenhosos
com diâmetro a altura do peito ≥5cm. O padrão unimodal das distribuições das alturas e
o modelo J-reverso das distribuições de diâmetros apresentados na comunidade lenhosa
e nas populações das principais espécies da impuca ND sugerem que a estrutura nesta
comunidade é auto-regenerante. A impuca DE foi submetida a distúrbios no passado
que alteraram a distribuição de indivíduos nas classes de menor diâmetro, sugerindo que
a comunidade encontra-se em um estádio sucessional intermediário. Licania apetala,
Sclerolobium froesii e Acosmium nitens apresentaram padrões na distribuição de
diâmetros e alturas, na impuca DE, que indicam que essas espécies parecem adaptar-se
muito bem em áreas alteradas e, neste caso, poderiam ser recomendadas para plantios
em impucas degradadas e que exijam iniciativas de recuperação. Verificou-se que
muitos indivíduos de Calophyllum brasiliense representados em todas as classes de
diâmetro pode ser um indicativo de que a impuca se encontra bem preservada, e muitos
indivíduos de Licania apetala e/ou Sclerolobium froesii em todas as classes de
diâmetros e alturas sugere que o fragmento florestal pode estar sendo degradado. Sendo
assim, em caso de medidas de recuperação de impucas degradadas, sugere-se que
espécies com distribuições de diâmetros e alturas irregulares devem receber prioridade
em iniciativas de plantio e proteção. As impucas do PEA devem ser protegidas contra
incêndios e presença constante do gado, e contar com um plano de manejo que evite a
expansão de espécies invasoras, bem como as interferências antrópicas.

Palavras-chave: impuca, diâmetros, alturas, recuperação.

1
Discente do Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais – UNEMAT, Cáceres-MT.
E-mail: danicris_04@hotmail.com
2
Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais – UNEMAT, Cáceres-MT e Programa de Pós-
graduação em Ecologia e Conservação – UNEMAT, Nova Xavantina-MT. E-mail: biamarimon@hotmail.com.
3
Docente do Programa de Pós-graduação em Ecologia e Conservação – UNEMAT, Nova Xavantina-MT.
4
Docente do curso de graduação em Ciências Biológicas – UNEMAT, Nova Xavantina-MT.
5
Discente do Programa de Pós-graduação em Ecologia e Conservação, Campus de Nova Xavantina.
62

1. INTRODUÇÃO

Impuca é um termo regional conferido aos raros e pouco conhecidos (EITEN,


1985) fragmentos naturais de florestas inundáveis que ocorrem em depressões no
terreno, favorecendo seu alagamento (BRITO, 2005) e surgem em meio a um campo
limpo ou campo de murundus.
Até o momento só existem descrições gerais sobre impucas em Mato Grosso, para
os municípios de Santa Terezinha (EITEN, 1985) e Cocalinho (MARIMON e LIMA,
2001). Estudos mais detalhados sobre esta fitofisionomia foram realizados em duas
impucas no estado de Tocantins, uma localizada em área preservada e outra em área de
orizicultura no município de Lagoa da Confusão (MARTINS et al., 2002, 2006, 2008;
BRITO, 2005; BRITO et al., 2006). Não há ainda estudos sobre a estrutura da
comunidade lenhosa nem informações sobre a distribuição de diâmetros e alturas de
espécies lenhosas de impucas no estado de Mato Grosso, sendo o presente estudo de
grande importância para o conhecimento científico e subsídio para ações de
conservação desses raros fragmentos florestais.
As impucas do PEA estão localizadas em uma área de tensão ecológica na
transição Cerrado-Floresta Amazônica (IBGE, 1993 apud MARIMON et al., 2006).
Segundo Marimon et al. (2006) a linha de contato entre o Bioma Cerrado e a Floresta
Amazônica é imensa, extendendo por aproximadamente 4500 km, porém há uma grande
falta de estudos relacionados à área de transição.
A estrutura vertical expressa o número de estratos de uma comunidade ou
população, a partir das estimativas das alturas totais de todos os indivíduos amostrados
(SOARES, 1997), e a avaliação da distribuição dos diâmetros fornece dados sobre a
estrutura de tamanho das populações e pode ser de grande importância para predições
sobre a produção florestal (FELFILI e SILVA JÚNIOR, 1988) e do estado de
conservação. Segundo Daubenmire (1968) apud Felfili e Silva Júnior (1988), a
comunidade e as populações que a compõem são sensíveis às condições ambientais.
Dessa maneira, a distribuição dos indivíduos em classes de diâmetro retrata a situação
atual e permite fazer inferências a respeito de perturbações passadas como: incêndios,
desmatamentos, baixos índices de polinização ou germinação, ataque de pragas e
doenças. Essas alterações se apresentam como interrupções nos histogramas de
63

distribuição diamétrica, indicando que o ciclo de vida das espécies não estaria
completando-se (FELFILI e SILVA JÚNIOR, 1988).

O presente estudo objetivou caracterizar e definir os padrões apresentados na


distribuição de diâmetros e de alturas da comunidade e das principais populações de
espécies lenhosas de duas impucas com diferentes estados de conservação no Parque
Estadual do Araguaia-MT no ano de 2007, visando identificar possíveis problemas e
comparar com distribuições de outras áreas para subsidiar estratégias de ação que
minimizem as perturbações nessas comunidades de forma a contribuir com a elaboração
do plano de manejo do Parque.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1. Área de estudo

Os dois fragmentos naturais de florestas inundáveis (impucas) enfocados no


presente estudo localizam-se no Parque Estadual do Araguaia (PEA), que apresenta
223.619,54 hectares de área, no município de Novo Santo Antônio, estado de Mato
Grosso. O PEA localiza-se na área conhecida como Planície do Araguaia (BRITO,
2005), Pantanal do Araguaia ou Pantanal dos rios Mortes-Araguaia (MARIMON e
LIMA, 2001) e está inserido em uma área de transição entre o Cerrado e a Floresta
Amazônica (MARIMON et al., 2006, 2008).

A Planície do Araguaia apresenta topografia plana e baixa altitude, nível do


lençol freático superficial elevado, predominância de Plintossolos e Gleissolos, ambos
com impedimento de drenagem e periodicidade de inundação (BRASIL, 1994). O clima
da região é tropical continental sempre quente, com uma estação seca entre abril e
setembro e uma chuvosa entre outubro e março, sendo do tipo Awi, segundo a
classificação de Köppen (CAMARGO, 1963; COCHRANE et al., 1985).

Segundo Vasconcelos (2005), por conta da dinâmica fluvial e dos aspectos


geográficos apresentados pela Planície do Araguaia, definiram-se duas feições
geomorfológicas diferentes: uma relacionada com os depósitos aluviais ao longo dos
rios, caracterizada pela ocorrência de lagoas temporárias, ilhas e meandros lifados ou
não pela deposição atual; e outra referente aos depósitos de sedimentos em posições
64

marginais ao rio, em níveis topográficos mais elevados, composta por lagoas


temporárias e/ou periodicamente inundáveis.

As impucas amostradas no presente estudo foram selecionadas de acordo com


observações empíricas preliminares visando estabelecer dois padrões distintos
relacionados ao seu estado de conservação (Artigo I), ou seja, uma degradada,
denominada neste estudo de impuca DE (12º09’04,2”S e 50º49’37”W) e uma não-
degradada, ou ND (12º19’11,2”S e 50º44’15,6”W).

2.2. Coleta e Análise de Dados

Em cada impuca foi amostrado um hectare em transeções paralelas, posicionadas


perpendicularmente à borda da impuca, distantes 50 m entre si e com 20 m de largura,
que cortam a impuca transversalmente de uma borda a outra, subdivididas em 50
parcelas permanentes de 10 x 20 m.

Foram mensurados os diâmetros e as alturas de todos os indivíduos lenhosos


(vivos e mortos) das impucas ND e DE adotando-se como critério de inclusão o
diâmetro à altura do peito (DAP) ³ 5 cm, utilizando-se fita métrica e vara telescópica.
Quando o indivíduo apresentava caules múltiplos, pelo menos um deveria ter o DAP
mínimo para que fosse amostrado. Atendido este requisito, todos os demais caules
foram medidos. Os diâmetros dos indivíduos com caules múltiplos foram transformados
em diâmetro quadrático (SCOLFORO, 1993).

Foi coletado material vegetativo e reprodutivo de todas as espécies encontradas


com flor e/ou fruto no maior número possível de meses, abrangendo o início da seca até
o início das chuvas (maio a novembro), tendo em vista que o Parque permanece
inacessível para veículos no auge do período chuvoso. O material coletado foi
herborizado, identificado por meio de comparação com o material do Herbário NX
(UNEMAT-Campus de Nova Xavantina) e do Herbário UB (Universidade de Brasília) e
com a contribuição do especialista Dr. James Alexander Ratter. Os nomes das espécies
foram confirmados e atualizados por bibliografias específicas seguindo o sistema APG
II (2003) e foram feitas também, quando necessário, consultas ao MOBOT (2008).
Todo material coletado foi incorporado na coleção do Herbário NX e duplicatas
enviadas a outros herbários brasileiros.
65

Das 45 espécies apresentadas na análise fitossociológica da impuca ND e 33 da


impuca DE foram selecionadas as 10 de maior IVI (índice de valor de importância) e as
espécies comuns às duas impucas que tiveram densidades superiores à 24 ind.ha-1
(Artigo I) para análise da distribuição de alturas e diâmetros, totalizando 14 espécies
analisadas na impuca ND e 11 na DE.
Foram calculados os intervalos de classe ideais (IC) propostos por Spiegel (1976)
para as comunidades das impucas do presente estudo (ND e DE) e para cada espécie
selecionada. Para avaliar se a distribuição dos diâmetros está ou não balanceada,
calculou-se o quociente q, sugerido por Liocourt (1898) apud Meyer (1952). Uma
distribuição balanceada se caracteriza por uma situação em que a redução do número de
indivíduos, de uma classe para a seguinte, ocorre numa razão constante, já a distribuição
não-balanceada é quando a redução se mostra diretamente proporcional ao aumento dos
diâmetros (LEAK, 1964), apresentando uma tendência inconstante.
As distribuições de diâmetros e alturas de cada comunidade (ND e DE) e das
espécies comuns às duas impucas foram comparadas através do teste de Kolmogorov-
Smirnov pelo programa BioEstat 3.0 (AYRES et al., 2003). De acordo com Felfili
(1993), este teste é muito sensível a qualquer tipo de diferença que pode ser apresentada
entre as distribuições comparadas.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1. Distribuição de diâmetros

3.1.1 Comunidades
As distribuições dos diâmetros de todos os indivíduos amostrados na impuca não-
degradada (ND) apresentaram a forma de J-reverso (ou invertido) (Fig. 1), sugerindo
que esta comunidade apresenta boa reprodução e recrutamento contínuo (OLIVEIRA-
FILHO et al., 1994). De acordo com Pires e Prance (1977) este tipo de distribuição é
geralmente associado a florestas maduras e espécies tolerantes à sombra.
A impuca DE apresentou maior número de indivíduos nas primeiras classes de
diâmetro com um decréscimo gradual em direção às classes maiores, sugerindo também
66

um recrutamento contínuo (Fig. 1). Entretanto, de acordo com o que foi observado por
Oliveira-Filho et al. (1994) em uma floresta semidecídua montana, esta comunidade
(impuca DE) pode encontrar-se em um estádio sucessional intermediário. Além disso,
na impuca DE o número de indivíduos na primeira classe de diâmetros (5 a 10 cm) é
cerca de 50% inferior ao registrado na impuca ND o que reforça a ocorrência de
distúrbios no passado (Fig. 1). A distribuição dos indivíduos pelas classes de diâmetros
foi estatisticamente diferente entre as impucas ND e DE (Teste de Kolmogorov-
Smirnov, χ2= 21,99, p≤ 0,0001), confirmando que ambas encontram-se em diferentes
estádios sucessionais.
A forma de J-reverso apresentada pela impuca ND é típica de florestas tropicais
heterogêneas (PINTO e OLIVEIRA-FILHO, 1999) e florestas inequianas mistas
(OLIVEIRA-FILHO et al., 1994). De acordo com Oliveira-Filho et al. (1994) a
distribuição em J-reverso apresenta a maioria dos indivíduos concentrados na menor
classe, caindo drasticamente nas classes subsequentes. Este tipo de distribuição também
é típico em comunidades que estão se auto-regenerando (FELFILI, 1997) e que não
estão sendo perturbadas (ASSUNÇÃO e FELFILI, 2004), indicando que a maioria das
populações é representada por indivíduos de pequeno porte (HARPER, 1977) e em fase
inicial de estabelecimento (SILVA-JÚNIOR e SILVA, 1988).
Outras florestas tropicais brasileiras e bem preservadas, assim como a impuca
ND, também apresentaram a distribuição diamétrica em forma de J-reverso, dentre as
quais destacam-se florestas semideciduais montanas, de galeria, ribeirinhas inundáveis,
de vale e de várzea (OLIVEIRA-FILHO et al., 1994; KLINGE et al., 1995; FELFILI,
1997; PINTO e OLIVEIRA-FILHO, 1999; IVANAUSKAS et al., 2004).
A comunidade da impuca DE apresentou distribuição de diâmetros similar à
registrada em uma floresta pré-amazônica após a passagem de fogo (IVANAUSKAS et
al., 2003). De acordo com esses autores, o fogo pode causar grandes impactos na
estrutura populacional das florestas tropicais, afetando principalmente os indivíduos
jovens. Isso pode justificar o fato de, na impuca DE, o maior número de indivíduos não
ter se concentrado somente na primeira classe de diâmetros, e sim nas primeiras classes
(Fig. 1).
Comparando-se as impucas do presente estudo com as de Tocantins, estudadas
por Brito (2005), observa-se que apesar de estarem localizadas na mesma planície de
67

inundação (Planície do Araguaia), a distribuição de diâmetros da comunidade da impuca


não degradada (ND) do presente estudo foi diferente da registrada na impuca preservada
(PR) de Tocantins. A impuca ND apresentou padrão típico de J-reverso, tal como
descrito por Oliveira-Filho et al. (1994), entretanto, na impuca PR a redução no número
de indivíduos entre a primeira classe e as classes subseqüentes foi gradual sugerindo
que a mesma esteja em um estádio intermediário de sucessão e assemelhando-se mais
ao padrão registrado na impuca DE do presente estudo. A diferença na distribuição de
diâmetros da comunidade da impuca ND e da impuca PR pode se justificar pelo fato da
primeira estar localizada em uma unidade de conservação (Parque Estadual do
Araguaia) e supostamente estar menos suscetível às interferências antrópicas.
A impuca degradada do presente estudo (DE), assim como a antropizada de
Tocantins (AN) (BRITO et al., 2006), também se localizam na mesma planície de
inundação e apresentaram semelhanças na distribuição de diâmetros da comunidade,
onde a maioria dos indivíduos ocorreu nas menores classes de diâmetros, havendo um
decréscimo gradual na direção das classes maiores (Fig. 1). Apesar de Brito et al. (2006)
terem classificado a distribuição de diâmetros da impuca AN como do tipo J-reverso,
esta estaria melhor enquadrada no padrão proposto por Oliveira-Filho et al. (1994)
como sendo uma floresta em fase intermediária de sucessão.
A impuca ND apresentou 48,6% dos indivíduos na menor classe diamétrica (5 a
10 cm), enquanto que a impuca DE apresentou 40,8% (Fig. 1). Os valores do quociente
q nas duas impucas variaram em torno de 0,5 nas primeiras classes e com maior
variação nas últimas classes, demonstrando uma estrutura não balanceada (Fig.1), mas
como uma certa tendência ao balanceamento. Em florestas nativas, quando a razão do
quociente q é constante, significa que há um equilíbrio entre mortalidade e
recrutamento, ou seja, há um balanceamento, com um número proporcional de árvores
em cada classe diamétrica (FELFILI e SILVA JÚNIOR, 1988). O quociente q tendendo
a balanceado também foi observado em comunidades de cerrado stricto sensu, em
florestas de galeria e em floresta estacional decidual do Bioma Cerrado (FELFILI e
SILVA JÚNIOR, 1988; MARIMON et al., 2001a; NASCIMENTO et al., 2004).
68

1200

1000
Densidade (N.ha-1)

800

ND DE
q1= 0,44 q1= 0,67
600
q2= 0,62 q2= 0,53
q3= 0,57 q3= 0,62
q4= 0,55 q4= 0,41
400 q5= 0,40 q5= 0,50
q6= 0,75 q6= 0,75
q7= 0,57 q7= 0,24
q8= 0,44
200 q9= 0,71

0
5 a 10 10,1 a 15 15,1 a 20 20,1 a 25 25,1 a 30 30,1 a 35 35,1 a 40 40,1 a 45 45,1 a 50 > 50

Classes de Diâmetro (cm)

Figura 1 - Distribuição de diâmetros dos indivíduos amostrados em uma impuca não-


degradada (ND)= e uma degradada (DE)= do Parque Estadual do Araguaia, Novo
Santo Antônio-MT e respectivos quocientes q. Intervalo de classes= 5 cm.

3.1.2 Principais Espécies


Dentre as populações das principais espécies amostradas no presente estudo,
somente Ochthocosmus multiflorus (Fig. 2) e Eschweilera ovata (Fig. 6), ambas na
impuca ND, apresentaram a distribuição de diâmetros típica de J-reverso, corroborando
com a classificação proposta por Oliveira-Filho et al. (1994) por apresentar a maioria
dos indivíduos na menor classe de diâmetro, caindo drasticamente nas classes
subseqüentes. Esse padrão observado nas duas populações indica uma mortalidade mais
elevada nas classes de diâmetro menores dentro do processo natural de recrutamento de
novas gerações (ALDER e SYNOTT, 1992), sugerindo também uma capacidade de
auto-regeneração e manutenção dos níveis atuais de densidade (NASCIMENTO et al.,
2004). Os valores do quociente q das duas espécies tenderam ao balanceamento (Fig. 2
e 6).
A população de Calophyllum brasiliense, na impuca DE, apresentou uma
distribuição de diâmetros semelhante ao padrão J-reverso, com a maioria dos indivíduos
concentrados na menor classe de diâmetro (Fig. 4), mas ausência de indivíduos
registrados nas terceira e quarta classes que sugere a ocorrência de distúrbios em um
69

passado recente. A distribuição de diâmetros desta espécie na impuca ND além de


apresentar reduzido número de indivíduos na primeira classe também apresentou classes
vazias (Fig. 4), reforçando a ocorrência de distúrbios que podem ter afetado seu
recrutamento. Ou seja, a população desta espécie nas duas impucas não se apresenta
estável. Neste caso, o pisoteio ocasional do gado poderia explicar a reduzida ocorrência
de indivíduos nas classes menores, e as classes vazias (impucas ND e DE) podem
representar os efeitos danosos do fogo e/ou do corte de árvores para uso madeireiro. Em
uma impuca preservada, estudada por Brito (2005) no estado de Tocantins, C.
brasiliense apresentou maior mortalidade em determinadas classes e falhas em eventos
de frutificação e dispersão em determinados anos, com reflexo na regeneração.

O fato do padrão J-reverso ter ocorrido apenas em duas espécies da impuca ND


pode se justificar pela condição de inundação sazonal dessas impucas que pode ser um
fator limitante ao estabelecimento das espécies. Além disso, esse grande número de
populações que não apresentaram padrão J-reverso pode estar sofrendo interferências
antrópicas, mesmo que em baixo nível. Sendo assim, provavelmente Ochthocosmus
multiflorus e Eschweilera ovata são espécies mais tolerantes à inundação que podem
apresentar adaptações fisiológicas e morfológicas específicas que representam uma
importante vantagem competitiva nestes ambientes (JOLY e CRAWFORD, 1982) e/ou
são espécies mais resistentes às interferências antrópicas. A inundação somada às
interferências observadas na impuca DE (o fogo, pisoteio do gado e o avanço de
espécies invasoras) podem justificar a ausência da forma J-reverso na distribuição
diamétrica das principais espécies dessa impuca (DE).

Dentre as principais espécies estudadas nas impucas do Parque Estadual do


Araguaia, Licania apetala (na impuca DE) (Fig. 2), Acosmium nitens (ND), Xylopia sp.
(DE e ND), Mabea paniculata (DE) (Fig. 3), Combretum laxum (ND e DE) (Fig. 4),
Micropholis gardneriana e Licania kunthiana (ambas na ND) (Fig. 5) e Roupala
montana (ND) (Fig. 6), apresentaram maior número de indivíduos nas menores classes
de diâmetro e um decréscimo gradual na direção das classes maiores. Padrão similar foi
registrado por Oliveira-Filho et al. (1994) em uma floresta semidecídua montana para
espécies que apresentavam boa reprodução e recrutamento contínuo (PIRES e
PRANCE, 1977). Dentre as espécies registradas no presente estudo e que apresentaram
um decréscimo gradual na direção das classes de diâmetro maiores, todas são
70

predominantes entre as árvores de grande porte ou lianas que formam o dossel das
florestas estudadas. Os valores do quociente q nessas espécies não foram constantes,
portanto a distribuição de diâmetros apresentadas por elas pode ser considerada
desbalanceada (LEAK, 1964; MARIMON e FELFILI, 2000).
De modo geral, a população de Acosmium nitens na impuca ND apresentou
poucos indivíduos na menor classe de diâmetros e nas subsequentes, e uma distribuição
não balanceada (Fig. 3). Este fato pode indicar problemas com polinização, frutificação,
germinação, predação de frutos e sementes e distúrbios naturais (WALTER, 1995). O
que merece destaque é o fato desta espécie ter apresentado maior número de indivíduos
em praticamente todas as classes de diâmetros da impuca degradada (DE), quando
comparada com a impuca não-degradada (ND) (Fig. 3), sendo possível que A. nitens
seja pouco tolerante ao sombreamento e exija áreas mais abertas para se desenvolver.
Este fato pode ser um importante indicativo para o teste de plantio de A. nitens em
impucas degradadas e que exijam iniciativas de recuperação.
Dentre as espécies analisadas, Licania apetala (impuca DE), Xylopia sp. (DE),
Mabea paniculata (DE) e Roupala montana (ND) apresentaram menor número de
indivíduos na primeira classe em relação a segunda. Este aspecto pode ser um indicativo
de que estas espécies apresentam populações maduras e desbalanceadas, onde o
recrutamento não compensou a mortalidade durante certo período (MARIMON, 2005).
Knight (1975) verificou que populações com menor número de indivíduos na primeira
classe de diâmetros do que na segunda não estão se reproduzindo tão bem atualmente
quanto no passado ou então os indivíduos crescem rapidamente através das classes
menores sempre que as condições assim o permitirem.
As populações de Duroia prancei e Mauritiella armata (ambas na impuca DE)
(Fig. 7) compõem-se de arbustos e pequenas árvores. De acordo com Oliveira-Filho et
al. (1994), as distribuições de diâmetros apresentadas pelas referidas espécies seriam
típicas de espécies abundantes em locais onde um dossel mais aberto promove um
sombreamento moderado. No presente estudo, D. prancei e M. armata foram
comumente registradas nas bordas das impucas e em pequenas clareiras.
O padrão de distribuição de diâmetros observado em Sclerolobium froesii,
Ochthocosmus multiflorus (ambos na impuca DE), Licania apetala (ND) (Fig. 2) e
Mabea paniculata (ND) (Fig. 3), caracterizou-se pelo maior número de indivíduos na
71

menor classe e um pico nas classes intermediárias. De acordo com Bongers et al. (1988)
e Oliveira-Filho et al. (1994) este tipo de distribuição está relacionado com uma boa
reprodução, mas com um recrutamento descontínuo. Pires e Prance (1977) observaram
ainda que este tipo de distribuição estaria associado a espécies não-tolerantes à sombra.
De fato, S. froesii, L. apetala e M. paniculata são consideradas espécies exigentes de luz
(RIBEIRO et al., 1999; IBGE, 2002). Os valores do quociente q não foram constantes,
indicando uma distribuição não balanceada (LEAK, 1964; MARIMON e FELFILI,
2000).
Comparando-se os resultados das impucas do presente estudo com as impucas de
Tocantins, observa-se que a distribuição de diâmetros de Licania apetala (impuca ND,
Fig. 2) foi similar ao padrão registrado por Brito (2005) em uma impuca preservada,
provavelmente indicando a dificuldade da manutenção de regeneração natural da
espécie nesse ambiente e a preferência por áreas mais abertas (BRITO, 2005).
As espécies cujas populações apresentaram um padrão de distribuição de
diâmetros unimodal, com reduzido número de indivíduos nas menores e maiores classes
e maior número nas classes intermediárias foram: Sclerolobium froesii (impuca ND)
(Fig. 2), Acosmium nitens (DE) (Fig. 3), Diospyros guianensis (ND) (Fig. 5),
Ternstroemia candolleana (ND) (Fig. 6) e Ormosia excelsa (DE) (Fig. 7). Estas
espécies apresentam indivíduos de maior porte, geralmente localizados no dossel da
floresta e, de acordo com Sokpon e Biaou (2002), pode ser considerado um grupo de
espécies em declínio, com recrutamento reduzido e intermitente sob o dossel fechado.
Neste caso, estas espécies são consideradas como exigentes de luz, dependendo da
abertura de clareiras para garantir a sua regeneração. Em geral, no caso de espécies que
apresentam esta distribuição de diâmetros, a mortalidade é elevada nos estágios iniciais
sob o dossel da floresta e precisam de uma escala espacial ou temporal maior para
regenerar-se (FELFILI, 1997). Em uma impuca preservada de Tocantins estudada por
Brito (2005) e Brito et al. (2008) Diospyros guianensis apresentou uma distribuição de
classes de diâmetro diferente da apresentada na impuca não-degradada do PEA, com
concentração de indivíduos nas classes menores, sendo a única espécie que demonstrou
aproximar-se de uma condição balanceada (BRITO, 2005; BRITO et al., 2008).
Em uma floresta monodominante na região leste mato-grossense, Marimon
(2005) observou que a concentração dos indivíduos em classes de diâmetro
72

intermediárias significa que a espécie apresentou maior número de indivíduos jovens no


passado. A autora observou também que este padrão ocorre em espécies exigentes por
luz onde os indivíduos adultos do presente estabeleceram-se na floresta em um período
passado, quando clareiras maiores teriam sido mais freqüentes. Assim, a redução de
indivíduos nas menores classes pode ser um reflexo da diminuição de luz no sub-bosque
da floresta, o que seria insuficiente para permitir a mesma taxa de estabelecimento que
foi registrada no passado. Clark e Clark (1987) e Read et al. (1995) observaram que o
estabelecimento de algumas espécies florestais pode ser episódico, ou seja, estar
relacionado com episódios de aberturas de clareiras, fato este que pode estar
acontecendo com as espécies das impucas ND e DE que apresentaram distribuição
unimodal de diâmetros.

O reduzido número de indivíduos nas menores classes de diâmetro das


populações de Sclerolobium froesii (Fig. 2), Acosmium nitens (Fig. 3), Diospyros
guianensis (Fig. 5), Ternstroemia candolleana (Fig. 6) e Ormosia excelsa (Fig. 7) pode
estar relacionado ainda à diminuição de luz no sub-bosque das comunidades estudadas
(impucas DE e ND), o que seria insuficiente para permitir a mesma taxa de
estabelecimento registrada no passado. Hubbell e Foster (1987) observaram que
espécies que precisam de “sol parcial” para crescer apresentam maior abundância nas
classes de diâmetro intermediárias, tal como observado em algumas populações do
presente estudo. Essas espécies são chamadas de “reprodutoras infreqüentes” e tendem a
desaparecer da floresta se as clareiras não ocorrerem com freqüência suficiente para
garantir a regeneração (KNIGHT, 1975).

As espécies comuns às duas impucas (ND e DE) que apresentaram diferenças na


distribuição de diâmetros (Teste de Kolmogorov-Smirnov, p£ 0,001) foram:
Calophyllum brasiliense, Ochthocosmus multiflorus e Licania apetala (Fig. 2 e 4).
Conforme já discutido anteriormente, a população de C. brasiliense pode ter sofrido
diferentes impactos nas duas impucas estudadas. O. multiflorus também pode ser mais
suscetível aos impactos sofridos na impuca DE e assim apresentar poucos indivíduos
nas menores classes de diâmetro. Por outro lado, O. multiflorus apresenta mais
indivíduos nas classes maiores na impuca DE, possivelmente refletindo uma condição
preferencial por áreas mais abertas. L. apetala também apresentou maior número de
indivíduos na impuca DE, em todas as classes de diâmetro, representando uma espécie
73

que pode ser favorecida ou suportar bem impactos antrópicos (fogo e pisoteio do gado)
e pode se desenvolver bem em áreas degradadas.
Considerando-se apenas as espécies que foram comuns às duas impucas (Fig. 2,
3 e 4), as que apresentaram maior número de indivíduos na impuca ND foram:
Ochthocosmus multiflorus (1ª e 2ª classes de diâmetro) e Combretum laxum (todas as
classes). Este aspecto pode sugerir que estas espécies sejam indicativas do bom estado
de conservação de uma impuca. As espécies que apresentaram maior número de
indivíduos na impuca DE foram: Licania apetala (todas as classes), Sclerolobium
froesii (todas), O. multiflorus (3ª classe em diante), Acosmium nitens (2ª, 3ª, 4ª e 5ª),
Xylopia sp. (todas), Mabea paniculata (2ª em diante) e Calophyllum brasiliense (1ª e
2ª). Assim, a elevada representatividade destas espécies nas diferentes classes de
diâmetro poderá ser um indicativo do reduzido grau de conservação de uma impuca.
As espécies Micropholis gardneriana, Licania kunthiana, Diospyros guianensis,
Roupala montana, Ternstroemia candolleana e Eschweilera ovata ocorreram
preferencialmente na impuca não-degradada (ND). Dessas, D. guianensis e T.
candolleana apresentam distribuição de diâmetros seguindo um padrão unimodal, típico
de espécies exigentes por luz (Fig. 5 e 6). Assim, essas espécies poderiam ser testadas
em plantios, em fase inicial, para iniciativas de recuperação de impucas degradadas. M.
gardneriana, L. kunthiana e E. ovata apresentaram elevado número de indivíduos
jovens, representados nas primeiras classes de diâmetro (Fig. 5 e 6). Neste caso,
iniciativas de recuperação de impucas degradadas deverão levar em conta que estas
espécies apresentam elevado recrutamento sob o dossel da floresta, em ambientes mais
sombreados. Assim, elas poderiam ser testadas sendo introduzidas em uma fase
posterior, depois que outras espécies exigentes por luz já tenham ocupado a área e
promovido o sombreamento.
As espécies que apresentaram maior número de indivíduos ou ocorreram
exclusivamente na impuca DE foram Ormosia excelsa, Duroia prancei e Mauritiella
armata. De acordo com o padrão de distribuição de diâmetros (Fig. 7) todas seriam
exigentes por luz. Neste caso, estas espécies poderiam também ser testadas para
iniciativas de plantio em recuperação de impucas degradadas.
74

120
Licania apetala
100
Densidade (N.ha-1)

80
ND DE
60 q 1= 0,58 q 1= 1,01
q 2= 0,91 q 2= 0,37
q 3= 1,50 q 3= 0,62
40 q 4= 0,67 q 4= 0,42
q 5= 0,40 q 5= 0,54
q 6= 1.00 q 6= 0,67
20 q 7= 0,50 q 7= 0,25
q 8= 2,00

0
5,1 a 10 10,1 a 15 15,1 a 20 20,1 a 25 25,1 a 30 30,1 a 35 35,1 a 40 40,1 a 45 > 45
Classes de Diâmetro (cm)

35
Sclerolobium froesii
30
Densidade (N.ha-1)

ND DE
25 q 1 = 0,50 q 1= 0,36
q 2 = 2.00 q 2= 1,17
20 q 3 = 1,17 q 3= 0,36
q 4 = 1,28 q 4= 0,94
q 5 = 0,55 q 5= 0,61
15 q 6 = 0,20 q 6= 0,91
q 7 = 1.00 q 7= 0,30
10 q 8 = 1.00 q 8= 1,33

0
5,1 a 9 9,1 a 13 13,1 a 17 17,1 a 21 21,1 a 25 25,1 a 29 29,1 a 33 33,1 a 37 > 37
Classes de Diâmetro (cm)

80

70
Ochthocosmus multiflorus
Densidade (N.ha-1)

60 ND DE
q 1 = 0,45 q 1 =0,82
50 q 2 = 0,65 q 2 = 0,76
q 3 = 0,64 q 3 = 1,24
q 4 = 0,50 q 4 = 0,71
40 q 5 = 0,43 q 5 = 0,91
q 6 = 1.00 q 6 = 0,70
30 q 7= 0 q 7 = 0,86
q 8= q 8 = 0,08
20 q 9= 0 q 9 = 1.00
q 8 = 1.00 q 10 = 2.00
10

0
5a 7 7,1 a 9 9,1 a 11 11,1 a 13 13,1 a 15 15,1 a 17 17,1 a 19 19,1 a 21 21,1 a 23 23,1 a 25 > 25
Classes de Diâmetro (cm)

Figura 2 - Distribuição de diâmetros das principais espécies comuns em uma impuca


não-degradada (ND)= e uma degradada (DE)= do Parque Estadual do Araguaia,
Novo Santo Antônio-MT e respectivos quocientes q. Intervalos de Classe: L. apetala= 5
cm, S. froesii= 4 cm e O. multiflorus= 2 cm.
75

20
18
16
Acosmium nitens
Densidade (N.ha-1)

14
12
10
ND DE
8 q 1 = 0,57 q 1=1,83
q 2 = 1.00 q 2= 1,64
6 q 3 = 0,75 q 3= 1,05
4 q 4 =0,67 q 4= 0,37
q 5 = 1,50 q 5= 0,28
2
0
5,5 a 10 10,1 a 15 15,1 a 20 20,1 a 25 25,1 a 30 30,1 a 35 35,1 a 40 > 40
Classes de Diâmetro (cm)

45
Xylopia sp.
40
35
Densidade (N.ha-1)

30
25
20 ND DE
q 1= 0,42 q 1= 1,21
15 q 2= 1,12 q 2= 0,59
q 3= 0,55 q 3= 0,48
10 q 4= 0,20 q 4= 0,27
q 5=2 ,00 q 5= 0,67
5
0
5,1 a 9 9,1 a 13 13,1 a 17 17,1 a 21 21,1 a 25 25,1 a 29 29,1 a 33 > 33
Classes de Diâmetro (cm)

35
Mabea paniculata
30
Densidade (N.ha-1)

25
ND DE
q 1= 0,27 q 1 = 1,50
20 q 2= 1,57 q 2 = 0,45
q 3= 0,54 q 3 = 0,87
15 q 4= 0,17 q 4 = 0,38
q 5= 1,00 q 5 = 0,60
q 6= 2,00 q 6 = 0,67
10

0
5a 7 7,1 a 9 9,1 a 11 11,1 a 13 13,1 a 15 15,1 a 17 17,1 a 19 > 19
Classes de Diâmetro (cm)

Figura 3 - Distribuição de diâmetros das principais espécies comuns em uma impuca


não-degradada (ND)= e uma degradada (DE)= do Parque Estadual do Araguaia,
Novo Santo Antônio-MT e respectivos quocientes q. Intervalos de Classe: A. nitens= 5
cm, Xylopia sp.= 4 cm e M. paniculata= 2 cm.
76

30
Calophyllum brasiliense
25
Densidade (N.ha-1)

ND DE
q 1= 0 q 1 =0,22
20 q 2= q 2=
q 3= 1,20 q 3=
q 4= 1,83 q 4=
15 q 5= 0,36 q 5 = 0,33
q 6= 1,00 q 6 = 1,00
10

0
5,1 a 13 13,1 a 21 21,1 a 29 29,1 a 37 37,1 a 45 45,1 a 53 > 53,1
Classes de Diâmetro (cm)

35
Combretum laxum
30
Densidade (N.ha-1)

ND DE
25 q 1 = 0,82 q 1 = 0,42
q 2 = 1,07 q 2 = 0,60
20 q 3 = 0,52 q 3 = 0,33
q 4 = 0,73 q 4 = 2,00
q 5 = 0,27 q 5 = 0,50
15 q 6 = 1,00 q 6 = 1,00
q 7 = 2,00
10 q 8 = 0,50
q 9 = 0,67
q 10= 0,50
5

0
5a6 6,1 a 7 7,1 a 8 8,1 a 9 9,1 a 10 10,1 a 11 11,1 a 12 12,1 a 13 13,1 a 14 14,1 a 15 15,1 a 16 16,1 a 17 > 17

Classes de Diâmetro (cm)

Figura 4 - Distribuição de diâmetros das principais espécies comuns em uma impuca


não-degradada (ND)= e uma degradada (DE)= do Parque Estadual do Araguaia,
Novo Santo Antônio-MT e respectivos quocientes q. Intervalos de Classe: C.
brasiliense= 8 cm e C. laxum= 1 cm.
77

250
Micropholis gardneriana
q 1= 0,54
200 q 2= 0,71
Densidade (N.ha-1)

q 3= 0,69
q 4= 1,12
q 5= 0,42
150 q 6= 0,52
q 7= 0,07
q 8= 2,00
100 q 9= 1,00
q 10 = 1,00
q 11 = 1,00

50

0
5a 8 8,1 a 11 11,1 a 14 14,1 a 17 17,1 a 20 20,1 a 23 23,1 a 26 26,1 a 29 29,1 a 32 32,1 a 35 35,1 a 38 > 38

Classes de Diâmetro (cm)

40
Licania kunthiana
35
Densidade (N.ha-1)

30
q 1 = 0,63
q 2 = 0,83
25 q 3 = 1,15
q 4 = 0,39
20 q 5 = 1,11
q 6 = 0,50
15 q 7 = 0,20
q 8 = 3,00
10

0
5,3 a 9 9,1 a 13 13,1 a 17 17,1 a 21 21,1 a 25 25,1 a 29 29,1 a 33 33,1 a 37 > 37
Classes de Diâmetro (cm)

16
Diospyros guianensis
14
Densidade (N.ha-1)

12

10 q 1 = 1,00
q 2 = 1,75
8 q 3 = 0,86
q 4 = 0,83
6 q 5 = 0,20
q 6 = 2,00
q 7 = 0,25
4

0
6,5 a 11,4 11,5 a 16,4 16,5 a 21,4 21,5 a 26,4 26,5 a 31,4 31,5 a 36,4 36,5 a 41, 4 > 41,4
Classes de Diâmetro (cm)

Figura 5 - Distribuição de diâmetros das principais espécies em uma impuca não-


degradada (ND)= do Parque Estadual do Araguaia, Novo Santo Antônio-MT e
respectivos quocientes q. Intervalos de Classe: M. gardneriana = 3 cm, L. kunthiana= 4
cm e D. guianensis = 5 cm.
78

35
Roupala montana
30
Densidade (N.ha-1)

25

20
q 1 = 1,26
q 2 = 0,72
15 q 3 = 0,48
q 4 = 0,20
10 q 5 = 0,50
q 6 = 1,00
5

0
5,3 a 9 9,1 a 13 13,1 a 17 17,1 a 21 21,1 a 25 25,1 a 29 29,1 a 33 33,1 a 37 > 37
Classes de Diâmetro (cm)

20
Ternstroemia candolleana
18
16
Densidade (N.ha-1)

14
12 q 1 = 1,30
q 2 = 1,38
10 q 3 = 0,72
q 4 = 0,46
8 q 5 = 0,50
q 6 = 1,33
6 q 7 =0,25
4
2
0
5,4 a 8 8,1 a 11 11,1 a 14 14,1 a 17 17,1 a 20 20,1 a 23 23,1 a 26 26,1 a 29 > 29
Classes de Diâmetro (cm)

40
Eschweilera ovata
35
Densidade (N.ha-1)

30

25
q 1 = 0,30
q 2 = 0,54
20
q 3 = 0,67
q 4 = 0,75
15 q 5 = 1,00
q 6 = 1,00
10 q 7 = 0,33

0
5,1 a 9 9,1 a 13 13,1 a 17 17,1 a 21 21,1 a 25 25,1 a 29 29,1 a 33 > 33
Classes de Diâmetro (cm)

Figura 6 - Distribuição de diâmetros das principais espécies em uma impuca não-


degradada (ND)= do Parque Estadual do Araguaia, Novo Santo Antônio-MT e
respectivos quocientes q. Intervalos de Classe: R. montana e E. ovata= 4 cm,; T.
candolleana= 3 cm.
79

16

14
Densidade (N.ha-1)

12
Ormosia excelsa
10

8 q 1 = 1,40
q 2 = 2,00
6 q 3 = 1,07
q 4 = 0,27
q 5 = 1,25
4

0
5a 7 7,1 a 12 12,1 a 19 19,1 a 26 26,1 a 33 33,1 a 40 40,1 a 47 > 47
Classes de Diâmetro (cm)

35
Duroia prancei
30
Densidade (N.ha-1)

25

20

15 q 1= 2,64
q 2= 0,72
q 3= 0,43
10 q 4= 0,11

0
5,3 a 8 8,1 a 11 11,1 a 14 14,1 a 17 17,1 a 20 20,1 a 23 > 23
Classes de Diâmetro (cm)

12
Mauritiella armata
10
q 1 = 2,00
Densidade (N.ha-1)

q 2 = 0,60
8 q 3 = 0,83
q 4 = 0,40
q 5 = 1,50
6 q 6 = 0,33
q 7 =0,00
q 8=
4 q 9 = 1,00

0
6,4 a 7,3 7,4 a 8,3 8,4 a 9,3 9,4 a 10,3 10,4 a 11,3 11,4 a 12,3 12,4 a 13,3 13,4 a 14,3 14,4 a 15,3 > 15,3

Classes de Diâmetro (cm)

Figura 7 - Distribuição de diâmetros das principais espécies em uma impuca degradada


(DE)= do Parque Estadual do Araguaia, Novo Santo Antônio-MT e respectivos
quocientes q. Intervalos de Classe: O. excelsa= 2 cm, D. prancei= 3 cm e M. armata= 1
cm.
80

3.2. Distribuição de alturas

3.2.1. Comunidades
As distribuições das alturas de todos os indivíduos amostrados nas impucas ND
e DE apresentaram estratificação composta por três níveis distintos (Fig. 8, 9 e 10). O
estrato inferior, formado por indivíduos com alturas até 5,5 m apresentou espécies de
sub-bosque (Fig. 8, 9 e 10), o estrato intermediário, formado por indivíduos com alturas
entre 5,6 e 13,5 m apresentou espécies típicas do sub-dossel (co-dominantes) e o estrato
superior (dominantes) compôs o dossel da floresta, sendo formado por indivíduos com
alturas acima de 13,5 m (Fig. 8, 9 e 10). Nas duas impucas a altura mínima encontrada
foi de 1,5 m (mortos), enquanto a altura máxima foi de 22 m na impuca ND e de 24 m
na impuca DE (Fig. 9 e 10). Algumas espécies apresentaram indivíduos emergentes na
estrutura vertical das comunidades estudadas, sendo que na impuca ND destaca-se
Calophyllum brasiliense e na impuca DE Vochysia divergens (Fig. 9 e 10).
A estrutura vertical composta por três estratos parece ser um padrão comum
observado em florestas da região leste mato-grossense, visto que Marimon et al. (2001b,
c) e Marimon (2005) também registraram este padrão em uma floresta monodominante,
uma floresta mista e uma floresta de galeria localizadas na mesma na região.
As impucas do presente estudo apresentaram um padrão unimodal nas
distribuições das alturas de todos os indivíduos amostrados (Fig. 1), com reduzido
número de indivíduos nas classes menores, maior número nas intermediárias e redução
nas classes maiores, caracterizando uma tendência a distribuição normal (HAIDAR et
al., 2005), típica de comunidades tropicais heterogêneas que podem estar se auto-
regenerando (FELFILI, 1997; MARIMON et al., 2001a). O padrão unimodal também
foi observado em florestas de galeria (WALTER, 1995; FELFILI, 1997; MARIMON et
al., 2001a) em florestas monodominantes (MARIMON et al., 2001b, c) e floresta
estacional semidecidual (MARIMON, 2005) localizadas no Brasil Central.
As impucas ND e DE apresentaram a maioria de seus indivíduos concentrada nas
classes intermediárias, entre a terceira e quinta classes de altura (de 5,6 a 11,5 m), com
cerca de 66% dos indivíduos na impuca ND e 78% na DE (Fig. 8). Uma floresta de vale
(PINTO e OLIVEIRA-FILHO, 1999), duas de galeria (FELFILI, 1997; MARIMON et
al., 2001a), duas florestas estacionais semideciduais (HAIDAR et al., 2005;
81

MARIMON, 2005) e dois tipos de florestas pluviais na Amazônia (OLIVEIRA-FILHO


e SOUZA, 1983) também apresentaram elevada densidade nas classes intermediárias,
em um padrão similar ao apresentado nas impucas do presente estudo. Baseando-se nas
alturas alcançadas observa-se que a maioria das espécies que compõe a estrutura das
comunidades das impucas ND e DE pode ser denominada como mesofanerófitas, de
acordo com a classificação proposta por Raunkaier (KENT e COKER, 1992), em um
padrão similar ao registrado em florestas de galeria do Brasil Central (FELFILI, 1997).
A comparação das distribuições de classes de alturas entre as impucas ND e DE
indicou diferenças significativas entre elas (Teste de Kolmogorov-Smirnov, χ2= 78,26,
p≤ 0,001) (Fig. 8). A partir da terceira classe de alturas (5,6 a 7,5 m) a impuca DE
sempre apresentou menor número de indivíduos em comparação com a ND, sendo que
em algumas situações, como na classe de 13,6 a 15,5 m, a impuca ND apresentou cerca
de quatro vezes mais indivíduos (Fig. 8). Além disso, a impuca ND apresentou maior
número de espécies e, consequentemente, indivíduos no estrato superior (> 20 m) da
estrutura vertical da comunidade, quando comparada com a impuca DE (Fig. 9 e 10).
Estes aspectos reforçam a sugestão de que ambas as comunidades encontram-se em
diferentes estádios sucessionais. A diferença apresentada nas distribuições das alturas
das comunidades estudadas também pode refletir os efeitos negativos das alterações
antrópicas (queimadas, pisoteio do gado, invasão de Scleria sp., entre outros) evidentes
na impuca DE. Neste caso, iniciativas de contenção dos impactos registrados na impuca
DE podem ser indispensáveis para garantir a manutenção da estrutura vertical desta
comunidade.
Foram observados nas impucas do presente estudo, muitos indivíduos (de grande
porte) mortos e tombados, devido ao impacto causado pelo pisoteio do gado e o fogo
que causa a destruição do sistema radicular dos indivíduos lenhosos, tal como
observado na impuca DE. Esses indícios somados a condição de encharcamento sazonal
do solo, que dificulta a fixação de árvores de alturas elevadas, podem justificar o baixo
número de indivíduos emergentes, principalmente na impuca DE (Fig. 8, 9 e 10).

Dorneles e Waechter (2004) também observaram poucos indivíduos emergentes


em uma floresta turfosa no Rio Grande do Sul e sugerem que o excesso de água no solo
pode estar limitando o desenvolvimento dos indivíduos no que diz respeito à altura.
Além disso, possivelmente a grande quantidade de indivíduos de baixa estatura pode
82

estar relacionada à instabilidade do solo durante períodos de inundação e à pequena


profundidade do sistema radicular em razão da superficialidade do lençol freático
(BIANCHINI et al., 2003). Essas características ampliam a possibilidade de
tombamento dos indivíduos mais altos e limitam o crescimento em altura de outros
(MARTINEZ-RAMOS, 1985 apud BIANCHINI et al., 2003).

700

600

500
Densidade (N.ha-1)

400

300

200

100

0
1,5 a 3,5 3,6 a 5,5 5,6 a 7,5 7,6 a 9,5 9,6 a 11,5 11,6 a 13,5 13,6 a 15,5 15,6 a 17,5 17,6 a 19,5 > 19,5

Classes de Altura (m)

Figura 8 - Distribuição das alturas dos indivíduos amostrados em uma impuca não-
degradada (ND)= e uma degradada (DE)= do Parque Estadual do Araguaia, Novo
Santo Antônio-MT. Intervalo de classes= 2 m.
83

25
Altura Mínima
Altura Média
Altura Máxima

20

15
Altura (m)

10

0
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45

Sequência de Espécies

Figura 9 - Alturas Máximas, Médias e Mínimas das espécies com DAP≥ 5 cm


amostradas em uma impuca não-degradada (ND), Parque Estadual do Araguaia, Novo
Santo Antônio-MT. Espécies em ordem decrescente de IVI. Sendo: 1- Micropholis gardneriana, 2-
Licania kunthiana, 3- Calophyllum brasiliense, 4- Licania apetala, 5- Ochthocosmus multiflorus, 6- Combretum laxum, 7-
Diospyros guianensis, 8- Roupala montana, 9- Ternstroemia candolleana, 10- Eschweilera ovata, 11- Diospyros xavantina, 12-
Sloanea garckeana, 13- Symmeria paniculata, 14- Sclerolobium froesii, 15- Mabea paniculata, 16- Xylopia sp., 17- Acosmium
nitens, 18- Dulacia egleri, 19- Pouteria trilocularis, 20- Mouriri acutiflora, 21- Pagamea guianensis, 22- Salacia impressifolia, 23-
Hirtella gracilipes, 24- Cathedra acuminata, 25- Passiflora cf. haematostigma, 26- Strychnos guianensis, 27- Eugenia florida, 28-
Neea ovalifolia, 29- Simaba orinocensis, 30- Pera schomburgkiana, 31- Duroia prancei, 32- Malouetia flavescens, 33- Davilla
kunthii, 34- Panopsis rubescens, 35- Machaerium inundatum, 36- Genipa americana, 37- Myrcia fallax, 38- Alchornea
schomburgkii, 39- Coccoloba sp., 40- Croton cuneatus, 41- Myrtaceae NI-1, 42- Casearia sp., 43- Erythroxylum anguifugum, 44-
Hydrochorea corymbosa, 45- Ocotea cernua.
84

25
Altura Mínima
Altura Média
Altura Máxima
20

15
Altura (m)

10

0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33

Sequência de Espécies

Figura 10 - Alturas Máximas, Médias e Mínimas das espécies com DAP≥ 5 cm


amostradas em uma impuca degradada (DE), Parque Estadual do Araguaia, Novo Santo
Antônio-MT. Espécies em ordem decrescente de IVI. Sendo: 1- Licania apetala, 2- Sclerolobium froesii,
3- Ochthocosmus multiflorus, 4- Acosmium nitens, 5- Xylopia sp., 6- Mabea paniculata, 7- Ormosia excelsa, 8- Duroia prancei, 9-
Calophyllum brasiliense, 10- Mauritiella armata, 11- Maytenus sp., 12- Mouriri acutiflora, 13- Hydrochorea corymbosa, 14- Pera
schomburgkiana, 15- Combretum laxum, 16- Diospyros guianensis, 17- Diospyros xavantina, 18- Pouteria trilocularis, 19-
Vochysia divergens, 20- Ocotea cernua, 21- Ternstroemia candolleana, 22- Dulacia egleri, 23- Panopsis rubescens, 24- Garcinia
madruno, 25- Hirtella gracilipes, 26- Malouetia flavescens, 27- Passiflora cf. haematostigma, 28- Croton cuneatus, 29- Licania
kunthiana, 30- Genipa americana, 31- Byrsonima riparia, 32- Eugenia sp., 33- Salacia impressifolia.

3.2.2. Principais espécies


As distribuições de alturas das populações da maioria das principais espécies
estudadas nas impucas do Parque Estadual do Araguaia (ND e DE) caracterizaram-se
pela tendência unimodal com concentração dos indivíduos nas classes intermediárias
(Fig. 11-16). Esse padrão, observado em Licania apetala (impuca DE), Ochthocosmus
multiflorus (ND e DE) (Fig. 11), Acosmium nitens, Xylopia sp. (ambos na DE), Mabea
paniculata (DE) (Fig. 12), Combretum laxum (DE) (Fig. 13), Micropholis gardneriana,
Licania kunthiana (Fig. 14), Roupala montana, Ternstroemia cadolleana, Eschweilera
ovata (ND) (Fig. 15), Ormosia excelsa, Duroia prancei e Mauritiella armata (DE) (Fig.
85

16). Felfili (1997) e Marimon et al. (2001a) observaram que este padrão de distribuição
de alturas seria típico de comunidades tropicais heterogêneas que estão se auto-
regenerando. Entretanto, em um estudo com palmeiras, Lima et al. (2003) sugeriram
que neste caso o recrutamento de uma população seria reduzido. Felfili (1995) sugere
que padrões como este ocorram com espécies que necessitam de luz (clareiras) para se
estabelecer.
Sabe-se muito pouco sobre as exigências de luminosidade para promover o
crescimento da maioria das espécies tropicais (AGYEMAN et al., 1999) e não há dados
na literatura científica sobre as exigências de luz das espécies mais importantes das
impucas estudadas. Neste caso, pode-se apenas especular sobre os fatores ambientais
que determinam o padrão de distribuição das classes de altura destas espécies.
Entretanto, acredita-se que a incidência de luz nas comunidades estudadas e as
diferenças sucessionais por elas apresentadas (já discutidas anteriormente) são fatores
importantes na determinação do padrão de distribuição de alturas.
As espécies que não apresentaram um padrão unimodal na distribuição de alturas
de suas populações foram: Licania apetala (impuca ND), Sclerolobium froesii (ND)
(ambas na Fig. 11), Acosmium nitens, Xylopia sp., Mabea paniculata (todas na ND)
(Fig. 12). Sclerolobium froesii (DE) (Fig. 11), Combretum laxum (ND) (Fig. 13) e
Diospyros guianensis (ND) (Fig. 14) apresentaram um padrão de distribuição irregular,
com picos em diferentes classes de altura e de uma a quatro classes vazias,
respectivamente para D. guianensis e S. froesii. Os impactos antrópicos na impuca ND
foram pouco evidentes, mas o padrão irregular apresentado nas distribuições das alturas
de algumas espécies pode refletir um declínio na regeneração devido à morte de
indivíduos adultos por conta de interferências antrópicas. Talvez a impuca ND também
esteja sofrendo com o impacto do fogo e o pisoteio do gado, mesmo que os indícios
sejam poucos, ou até mesmo com a extração madeireira. Neste caso, em se tratando de
medidas de recuperação de impucas degradadas, sugere-se que as espécies que
apresentam distribuições irregulares devem receber prioridade em iniciativas de plantio
e proteção.
O padrão de distribuição das alturas de Calophyllum brasiliense (Fig. 13) nas
duas impucas estudadas reflete padrões bem distintos. Na impuca DE há poucos
indivíduos representados nas classes acima de 11,6 m de altura. Este aspecto pode ser
86

um indicativo do corte desta espécie, cuja madeira é muito usada para construções civis
na região. Por outro lado, na impuca ND há muitos indivíduos representados nas classes
de alturas maiores (> 15 m), sendo que alguns alcançaram alturas superiores a 21 m.
Este aspecto pode indicar que a pressão de corte sobre esta espécie tenha sido inferior
na impuca ND. Além do corte da espécie, também é necessário considerar os impactos
do fogo, que no presente estudo foi registrado apenas na impuca DE. Carvalho et al.
(1995), estudando uma floresta em regeneração em uma área de garimpo abandonado,
registraram C. brasiliense com um padrão semelhante ao encontrado na impuca DE,
apresentando alta densidade entre as classes 7 e 8 m e nenhum indivíduo de grande
porte.
De acordo com as distribuições das alturas apresentadas pelas principais espécies,
de forma geral, foi possível identificar três estratos distintos, tal como delimitados nas
comunidades estudadas (Fig. 8). Considerando-se que o limite mínimo de inclusão na
amostragem do presente estudo foi de 5 cm de diâmetro, os indivíduos que foram
registrados no estrato inferior das impucas estudadas são todos indivíduos jovens que
pertencem a espécies que alcançam os estratos intermediário e/ou superior das
comunidades. Dentre as principais espécies, Ochthocosmus multiflorus (Fig. 11),
Micropholis gardneriana (Fig. 14) e Duroia prancei (Fig. 16) apresentaram indivíduos
neste estrato, apesar de poderem alcançar alturas superiores a 13, 19 e 11 m,
respectivamente.
Na impuca ND, o estrato intermediário (entre 5,6 e 13,5 m) foi representado por
indivíduos de Ochthocosmus multiflorus (Fig. 11), Mabea paniculata (Fig. 12),
Micropholis gardneriana, Licania kunthiana, Diospyros guianensis (Fig. 14), Roupala
montana, Ternstroemia candolleana e Eschweilera ovata (Fig. 15). Na impuca DE o
estrato intermediário foi representado por Licania apetala, Sclerolobium froesii, O.
multiflorus (Fig. 11), M. paniculata, Acosmium nitens, Xylopia sp. (Fig. 12),
Calophyllum brasiliense, Combretum laxum (Fig. 13), Ormosia excelsa, Duroia prancei
e Mauritiella armata (Fig. 16).
Licania apetala e Mabea paniculata são consideradas espécies exigentes de luz
(RIBEIRO et al., 1999; IBGE, 2002), o que pode justificar também o fato de termos
observado grande número de indivíduos dessas espécies nas bordas das impucas
estudadas. De acordo com Marimon (2005), assim como as espécies do estrato superior,
87

as que compreendem o estrato intermediário também podem refletir uma maior


necessidade por luz. Assim, a ocorrência de clareiras naturais é importante para garantir
a regeneração dessas espécies (KNIGHT, 1975). Neste caso, a ocorrência de espécies
exigentes de luz no estrato intermediário da impuca DE confirma o padrão estrutural
desta comunidade, que apresenta um dossel mais aberto e maior ocorrência de clareiras.

O estrato superior na impuca ND foi representado por Licania apetala,


Sclerolobium froesii (Fig. 11), Calophyllum brasiliense, Combretum laxum (Fig. 13),
Micropholis gardneriana e Licania kunthiana (Fig. 14) e na impuca DE, o estrato
superior foi representado apenas por indivíduos de S. froesii (Fig. 11). A ocupação do
estrato superior da impuca DE por apenas uma espécie confirma as diferenças
estruturais das impucas estudadas e reforça os impactos negativos resultantes das ações
antrópicas que alteraram a estrutura da comunidade em questão. S. froesii foi citado por
Ribeiro et al. (1999) e IBGE (2002) como espécie exigente de luz, sugerindo que na
impuca DE esta espécie pode estar se desenvolvendo satisfatoriamente. Neste caso,
recomenda-se testar esta espécie para iniciativas de recuperação e plantios (em fases
iniciais), visto que ela consegue ocupar o estrato superior da comunidade, mesmo em
impucas degradadas.

Sete das oito espécies comuns às duas impucas (ND e DE) apresentaram
diferenças nas distribuições das alturas (Teste de Kolmogorov-Smirnov, p≤ 0,01):
Ochthocosmus multiflorus, Sclerolobium froesii, Licania apetala (Fig. 11), Mabea
paniculata, Xylopia sp. (Fig. 12), Combretum laxum e Calophyllum brasiliense (Fig.
13). No caso de L. apetala, S. froesii e Xylopia sp., o maior número de indivíduos
registrado nas classes intermediárias da impuca DE em relação à ND sugere uma
condição preferencial dessas espécies por áreas mais abertas. C. laxum e C. brasiliense
(Fig. 13) apresentaram elevado número de indivíduos no estrato superior da impuca ND,
sugerindo que essas espécies se desenvolvem melhor em áreas fechadas e preservadas.

Dentre as espécies que foram comuns às duas impucas e que apresentaram


diferenças estatisticamente significativas nas distribuições das classes de alturas,
Ochthocosmus multiflorus (entre 3,5 e 8,6 m), Calophyllum brasiliense (acima de 15,7
m) e Combretum laxum (em todas as classes) apresentaram maior número de indivíduos
na impuca ND. Neste caso, essas espécies podem servir de indicativo sobre o grau de
88

conservação de uma impuca, tendo em vista que sugerem desenvolvimento favorável


em uma impuca não-degradada (ND).
As espécies que apresentaram maior número de indivíduos nas classes de alturas
na impuca DE foram: Licania apetala (entre 3,7 e 11,6 m), Sclerolobium froesii (quase
todas as classes), Ochthocosmus multiflorus (acima de 8,7), Xylopia sp. (entre 3,6 e 13,5
m), Mabea paniculata (entre 5,1 e 10 m) e Calophyllum brasiliense (abaixo de 11,6 m).
Neste caso, a concentração de indivíduos das referidas espécies nas classes em destaque,
em outras impucas do Parque Estadual do Araguaia, poderá representar um reduzido
estado de conservação de uma impuca.
No que diz respeito ao padrão de distribuição das alturas, dentre as espécies
comuns às duas impucas, as que podem ser testadas para utilização em plantios em fases
iniciais, considerando impucas mais abertas e degradadas, seriam: Licania apetala,
Sclerolobium froesii, Acosmium nitens, Xylopia sp. e Mabea paniculata. As espécies
recomendadas para teste em plantios em fases posteriores, depois que o dossel já sofreu
um fechamento parcial, seriam: Ochthocosmus multiflorus, Calophyllum brasiliense e
Combretum laxum. De fato, Lorenzi (2002a) recomenda o uso de C. brasiliense para
plantios em áreas degradadas e Torres et al. (1992) ressalta que esta é uma espécie
nativa típica de áreas de brejo, sendo indicada para reflorestamento de áreas próximas a
nascentes e com drenagem deficiente do solo.
Tanto as espécies que ocorreram preferencialmente na impuca não-degradada
(ND): Micropholis gardneriana, Licania kunthiana, Diospyros guianensis, Roupala
montana, Ternstroemia candolleana e Eschweilera ovata (Fig. 14 e 15), quanto as
exclusivas da impuca DE: Ormosia excelsa, Duroia prancei e Mauritiella armata (Fig.
16), apresentaram um padrão de distribuição de alturas unimodal, típico de populações
que estão se auto-regenerando (FELFILI, 1997; MARIMON et al., 2001a). De acordo
com Lorenzi (2002b) E. ovata é sugerida para a composição de reflorestamentos
heterogêneos com fins ecológicos.
89

180
160
140 Licania apetala
Densidade (N.ha-1)

120
100
80
60
40
20
0
1,7 a 3,6 3,7 a 5,6 5,7 a 7,6 7,7 a 9,6 9,7 a 11,6 11,7 a 13,6 13,7 a 15,6 > 15,6
Classes de Altura (m)

30
Sclerolobium froesii
25
Densidade (N.ha-1)

20

15

10

0
4,2 a 5,7 a 6,7 a 7,7 a 8,7 a 9,7 a 10,7 a 11,7 a 12,7 a 13,7 a 14,7 a 15,7 a 16,7 a > 17,6
5,6 6,6 7,6 8,6 9,6 10,6 11,6 12,6 13,6 14,6 15,6 16,6 17,6
Classes de Altura (m)

50
45 Ochthocosmus multiflorus
40
Densidade (N.ha-1)

35
30
25
20
15
10
5
0
3,5 a 4,6 4,7 a 5,6 5,7 a 6,6 6,7 a 7,6 7,7 a 8,6 8,7 a 9,6 9,7 a 10,6 10,7 a 11,7 a 12,7 a > 13,6
11,6 12,6 13,6
Classes de Altura (m)

Figura 11 - Distribuição de alturas das principais espécies comuns em uma impuca não-
degradada (ND)= e uma degradada (DE)= do Parque Estadual do Araguaia, Novo
Santo Antônio-MT. Intervalos de Classe: L. apetala= 2 m, S. froesii e O. multiflorus= 1
m.
90

30
Acosmium nitens
25
Densidade (N.ha-1)

20

15

10

0
4,3 a 6 6,1 a 8 8,1 a 10 10,1 a 12 12,1 a 14 14,1 a 16 16 a 18
Classes de Altura (m)

50
45
40 Xylopia sp.
Densidade (N.ha-1)

35
30
25
20
15
10
5
0
3,6 a 5,5 5,6 a 7,5 7,6 a 9,5 9,6 a 11,5 11,6 a 13,5 13,6 a 15,5 15,6 a 17,5 > 17,5
Classes de Altura (m)

30

25 Mabea paniculata
Densidade (N.ha-1)

20

15

10

0
2,2 a 3 3,1 a 4 4,1 a 5 5,1 a 6 6,1 a 7 7,1 a 8 8,1 a 9 9,1 a 10,1 a 11,1 a 12,1 a 13,1 a 14,1 a 15,1 a
10 11 12 13 14 15 16
Classes de Altura (m)

Figura 12 - Distribuição de alturas das principais espécies comuns em uma impuca não-
degradada (ND)= e uma degradada (DE)= do Parque Estadual do Araguaia, Novo
Santo Antônio-MT. Intervalos de Classe: A. nitens e Xylopia sp.= 2 m e M. paniculata=
1 m.
91

16

14 Calophyllum brasiliense
Densidade (N.ha-1)

12

10

0
5,3 a 7,6 7,7 a 9,6 9,7 a 11,6 11,7 a 13,6 13,7 a 15,6 15,7 a 17,6 17,7 a 19,6 19,7 a 21,6 > 21,6
Classes de Altura (m)

35

30
Combretum laxum
Densidade (N.ha-1)

25

20

15

10

0
5a 7 7,1 a 9 9,1 a 11 11,1 a 13 13,1 a 15 15,1 a 17 17,1 a 19 19,1 a 21 > 21
Classes de Altura (m)

Figura 13 - Distribuição de alturas das principais espécies comuns em uma impuca não-
degradada (ND)= e uma degradada (DE)= do Parque Estadual do Araguaia, Novo
Santo Antônio-MT. Intervalos de Classe= 2 m.
92

140

120
Micropholis gardneriana
Densidade (N.ha-1)

100

80

60

40

20

0
3,2 a 4,1 a 5,1 a 6,1 a 7,1 a 8,1 a 9,1 a 10,1 a 11,1 a 12,1 a 13,1 a 14,1 a 15,1 a 16,1 a 17,1 a 18,1 a > 19
4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19

Classes de Altura (m)


25
Licania kunthiana
20
Densidade (N.ha-1)

15

10

0
3,3 a 4 4,1 a 5 5,1 a 6 6,1 a 7 7,1 a 8 8,1 a 9 9,1 a 10 10,1 a 11,1 a 12,1 a 13,1 a 14,1 a > 15
11 12 13 14 15
Classes de Altura (m)
14

12 Diospyros guianensis
Densidade (N.ha-1)

10

0
5a 6 6,1 a 7 7,1 a 8 8,1 a 9 9,1 a 10 10,1 a 11 11,1 a 12 12,1 a 13 13,1 a 14 14,1 a 15
Classes de Altura (m)

Figura 14 - Distribuição de alturas das principais espécies em uma impuca não-


degradada (ND)= do Parque Estadual do Araguaia, Novo Santo Antônio-MT.
Intervalos de Classe= 1 m.
93

25

Roupala montana
20
Densidade (N.ha-1)

15

10

0
4,5 a 5,4 5,5 a 6,4 6,5 a 7,4 7,5 a 8,4 8,5 a 9,4 9,5 a 10,4 10,5 a 11,4 11,5 a 12,4 > 12,4
Classes de Altura (m)

25
Ternstroemia candolleana
20
Densidade (N.ha-1)

15

10

0
4,1 a 5 5,1 a 6 6,1 a 7 7,1 a 8 8,1 a 9 9,1 a 10 10,1 a 11 11,1 a 12 12,1 a 13 > 13
Classes de Altura (m)

25
Eschweilera ovata
20
Densidade (N.ha-1)

15

10

0
5,3 a 7 7,1 a 9 9,1 a 11 11,1 a 13 13,1 a 15 15,1 a 17 > 17
Classes de Altura (m)

Figura 15 - Distribuição de alturas das principais espécies em uma impuca não-


degradada (ND)= do Parque Estadual do Araguaia, Novo Santo Antônio-MT.
Intervalos de Classe: R. montana e T. candolleana= 1 m e E. ovata= 2 m.
94

30

25 Ormosia excelsa
Densidade (N.ha-1)

20

15

10

0
3,1 a 5 5,1 a 7 7,1 a 9 9,1 a 11 11,1 a 13 13,1 a 15 > 15
Classes de Altura (m)

25

Duroia prancei
Densidade (N.ha-1)

20

15

10

0
3,3 a 4 4,1 a 5 5,1 a 6 6,1 a 7 7,1 a 8 8,1 a 9 9,1 a 10 10,1 a 11

Classes de Altura (m)

16

14
Mauritiella armata
Densidade (N.ha-1)

12

10

0
2,7 a 4,6 4,7 a 6,6 6,7 a 8,6 8,7 a 10,6 10,7 a 12,6 > 12,6
Classes de Altura (m)

Figura 16 - Distribuição de alturas das principais espécies da impuca degradada (DE)=


do Parque Estadual do Araguaia, Novo Santo Antônio-MT. Intervalos de Classe:
Ormosia excelsa e M. armata= 2 m e D. prancei= 1 m.
95

4. CONCLUSÃO

Considerando-se o padrão unimodal das distribuições das alturas e o modelo J-


reverso das distribuições de diâmetros apresentados na comunidade lenhosa e nas
populações das principais espécies da impuca ND, sugere-se que, em caso de não
ocorrer perturbações, a estrutura da comunidade tenderá ao equilíbrio, comportando-se
como auto-regenerante.

A distribuição de diâmetros da impuca DE também sugere um recrutamento


contínuo. Entretanto, a maioria das espécies analisadas apresentou estrutura já alterada,
devido a esta comunidade ter sido submetida a distúrbios no passado que afetaram a
distribuição de indivíduos nas classes de menor diâmetro, sugerindo que ela encontra-se
em um estádio sucessional intermediário. Assim, caso os distúrbios (fogo, pisoteio do
gado, retirada de madeira) não sejam imediatamente reprimidos, em curto prazo a
comunidade que já se encontra alterada poderá ter sua estrutura mais agravada ainda.
Outro ponto preocupante em relação às alterações estruturais da impuca DE é a
expansão de indivíduos de Scleria sp. (capim navalha), que competem com as espécies
de árvores, arbustos e lianas da comunidade e podem representar uma séria ameaça à
manutenção da composição florística e estrutural desta impuca. Rígidas medidas de
controle do fogo, ocupação do gado e corte de árvores devem ser adotadas.

As distribuições de diâmetros e alturas das principais espécies amostradas nas


impucas ND e DE indicam que estas se encontram em diferentes estágios sucessionais,
definidos por características ambientais peculiares de cada impuca, pelo estado de
conservação e/ou por características genéticas das espécies.

Dentre as espécies analisadas no presente estudo, as recomendadas para teste em


plantio em fases iniciais, considerando impucas mais abertas e degradadas, seriam:
Licania apetala, Sclerolobium froesii, Acosmium nitens, Xylopia sp., Mabea paniculata,
Duroia prancei, Mauritiella armata, Ormosia excelsa, Diospyros guianensis e
Ternstroemia candolleana. As espécies recomendadas para teste em plantios em fases
posteriores, depois que o dossel já sofreu um fechamento parcial, seriam: Ochthocosmus
multiflorus, Calophyllum brasiliense, Combretum laxum, Micropholis gardneriana,
Licania kunthiana e Eschweilera ovata.
96

Analisando-se a distribuição de diâmetros e alturas de Calophyllum brasiliense, a


espécie mais ameaçada pela extração madeireira na região, é possível confirmar que
distúrbios no passado afetaram a estrutura de suas populações, mesmo na impuca ND.
Este aspecto evidencia a urgente necessidade de repressão ao corte de indivíduos desta
espécie e também aos impactos como o fogo e pisoteio do gado que podem estar
afetando o estabelecimento e o desenvolvimento de indivíduos jovens e de grande porte
nas impucas do Parque Estadual do Araguaia. Ochthocosmus multiflorus também
apresentou indicativos de ser uma espécie suscetível, principalmente na fase jovem,
merecendo especial atenção em relação à sua conservação nas impucas do PEA.
Por outro lado, espécies como Licania apetala, Sclerolobium froesii e Acosmium
nitens, parecem adaptar-se muito bem em áreas alteradas e, neste caso, podem ser
testadas para plantios em impucas degradadas e que exijam iniciativas imediatas de
recuperação.
Sugere-se que no PEA impucas bem preservadas são aquelas que apresentam
muitos indivíduos de Ochthocosmus multiflorus nas primeiras classes de diâmetros e
alturas e muitos indivíduos de Combretum laxum e Calophyllum brasiliense
representados em todas as classes. Entretanto, impucas que apresentam muitos
indivíduos de Licania apetala, Sclerolobium froesii e Xylopia sp. em todas as classes de
diâmetros e alturas podem ser consideradas como pouco preservadas.
Em caso de medidas de recuperação de impucas degradadas do Parque Estadual
do Araguaia, sugere-se que as espécies que apresentam distribuições de diâmetros e
alturas irregulares devem receber prioridade em iniciativas de plantio e proteção.
É de ressaltar que as impucas do PEA, para cumprir efetivamente o seu papel de
preservação das populações de espécies nativas devem ser protegidas contra incêndios e
contar com um plano de manejo que evite a expansão de espécies invasoras, bem como
as interferências antrópicas.
5. AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à CAPES pela bolsa concedida ao primeiro autor, à
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (FAPEMAT) pelo
financiamento do projeto e à Secretaria do Estado de Meio Ambiente de Mato Grosso
(SEMA-MT) por autorizar o desenvolvimento deste estudo e disponibilizar o uso da
sede do Parque Estadual do Araguaia para o alojamento dos pesquisadores.
97

6. REFERÊNCIAS

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102

ARTIGO III
CONHECENDO E CONSERVANDO AS IMPUCAS
(FRAGMENTOS NATURAIS DE FLORESTAS INUNDÁVEIS) DO
PARQUE ESTADUAL DO ARAGUAIA-MT

Danielle Cristine de Figueiredo Barbosa1, Beatriz Schwantes Marimon2,


Eddie Lenza de Oliveira3 e Ben Hur Marimon Junior4

[Preparado de acordo com as normas da Revista Árvore]

RESUMO - A Planície do Araguaia considerada uma área de importância ecológica


extremamente alta vem sofrendo fortes pressões por parte da pecuária extensiva e da
pesca predatória. Nessa área está localizado o Parque Estadual do Araguaia (PEA), uma
Unidade de Conservação que abriga diversas formações vegetacionais do Bioma
Cerrado, entre elas uma rara e pouco conhecida, chamada impuca ou fragmento natural
de floresta inundável. As impucas de Mato Grosso só ocorrem nessa região e estão
sendo intensivamente degradadas principalmente pelo fogo na época da seca. Tendo em
vista que são florestas que não resistem a esse tipo de impacto e estão rapidamente
sendo destruídas, o presente estudo objetivou elaborar uma cartilha com informações
importantes sobre as impucas do PEA, visando despertar nos leitores (moradores da
região e visitantes) a sensibilização para a importância de ações que conservem essas
impucas, garantindo a proteção delas. A partir de entrevistas informais realizadas com
todos os moradores do PEA, foram coletadas informações a respeito das impucas e de
espécies por eles conhecidas. Também foi efetuado um amplo registro fotográfico das
impucas e as principais espécies que ocorrem nesta fitofisionomia no PEA. Partindo de
uma linguagem simples e acessível ao público leigo, a cartilha abordou assuntos sobre a
localização das impucas (PEA), suas características, principais espécies, curiosidades,
ameaças sofridas e estratégias de conservação.

Palavras-chave: impucas, Pantanal, Planície do Araguaia, cartilha.

1. INTRODUÇÃO

Em meio a áreas de franca expansão econômica, destaca-se a Planície do Araguaia


que compreende os estados de Mato Grosso e Tocantins, está inserida em uma área de
transição entre os biomas Cerrado e Floresta Amazônica (MARIMON et al., 2006,
2008), e sazonalmente sofre inundação na estação chuvosa durante quatro a cinco meses

1
Discente do Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais – UNEMAT, Cáceres-MT.
E-mail: danicris_04@hotmail.com.
2
Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais – UNEMAT, Cáceres-MT e do Programa de Pós-
graduação em Ecologia e Conservação – UNEMAT, Nova Xavantina-MT. E-mail: biamarimon@hotmail.com.
3
Docente do Programa de Pós-graduação em Ecologia e Conservação – UNEMAT, Nova Xavantina-MT.
4
Docente do curso de graduação em Ciências Biológicas – UNEMAT, Nova Xavantina-MT.
103

(BRITO, 2005). Essa planície, com cerca de 600.000 km2 de área, tem a maior
representatividade na Ilha do Bananal (EITEN, 1985) e apresenta um expressivo
ecótono, englobando características de Cerrado, da Floresta Amazônica e do Pantanal, o
que justifica o mosaico vegetacional ali presente (BRITO, 2005).
A Planície do Araguaia foi considerada uma área de importância biológica
extremamente alta, por cientistas das mais diferentes áreas que reuniram-se em Brasília-
DF e sugeriram “Ações Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade do Cerrado e
Pantanal” (MARIMON et al., 2008). Naquela oportunidade foram recomendadas ações
urgentes de conservação para minimizar o impacto das atividades humanas em áreas de
especial interesse ecológico (MARIMON e LIMA, 2001) e assim, foram recomendadas
ações voltadas para o manejo sustentado e a criação de Unidades de Conservação
(MARIMON et al., 2008).
Conforme Marimon et al. (2008), no estado de Mato Grosso, a Planície do
Araguaia localiza-se principalmente nos municípios de Novo Santo Antônio, São Félix
do Araguaia, Ribeirão Cascalheira, Cocalinho, Luciara, Nova Nazaré e Santa Terezinha,
sob influência do sistema de drenagem do Rio das Mortes e do Rio Araguaia. Esses
autores observaram que são fortes as pressões da pecuária extensiva e da pesca
predatória nessa região, sendo necessário e urgente ações de planejamento e ocupação
para conciliar a conservação dos recursos naturais, sócio-ecológicos e culturais.
Em 2001 foi criado o Parque Estadual do Araguaia (PEA), localizado na Planície
do Araguaia e é o maior parque estadual em Mato Grosso, abrangendo uma área de
223.619,54 hectares. O PEA situa-se no município de Novo Santo Antônio na região
nordeste de Mato Grosso, sendo limitado ao norte pela confluência do Rio das Mortes e
do Rio Araguaia (MARIMON et al., 2008). De acordo com os referidos autores, a
inundação sazonal que ocorre no PEA confere à sua fauna e flora características
peculiares, algumas não encontradas em nenhum outro lugar do planeta. Sua paisagem é
caracterizada por extensas áreas de varjão (campos de murundus), campos limpos,
manchas de cerrado sentido restrito, cerradão, florestas ciliares e impucas.
As impucas são fragmentos de florestas inundáveis que ocorrem naturalmente e
apresentam composição florística própria, distinta das fisionomias campestres que a
circundam (BRITO, 2005). Conforme Martins (2004), esses fragmentos são
caracterizados por depressões na superfície do solo, em relação à planície, variando de
104

40 a 120 cm. Representam importantes elementos na drenagem desta planície de


inundação, pois estabelecem ligação entre os rios, lagos e córregos da região (BRITO,
2005; MARTINS et al., 2006). As impucas são verdadeiros ninhais para a avifauna e a
sua degradação poderá desencadear profundas alterações no equilíbrio do ambiente
(MARTINS et al., 2002).
Cada indivíduo percebe, reage e responde de maneira diferente às ações sobre o
ambiente onde vive e as respostas ou manifestações decorrentes disso são
conseqüências das percepções (individuais e coletivas) dos processos cognitivos,
julgamentos e expectativas de cada um (FERNANDES et al., 2007). Quanto mais o
ambiente habitado reflete a identidade de seus habitantes, maior valoração lhe será
atribuído, o que significa comportamentos de apropriação potencialmente
preservacionistas (CORRÊA e OLIVEIRA, 2005). A interação do ser humano com o
meio ambiente se liga à memória, na medida em que a contemplação de determinadas
paisagens induz a relações nostálgicas que despertam valor afetivo (MARIN, 2003).
Caminhar através da Botânica, no dizer de Guarim-Neto (2005), é também
compreender que juntamente com as plantas estão presentes muitos outros organismos,
ainda outros fatores ambientais que se relacionam e apresentam aspectos que muito
favorecem a inserção da Educação Ambiental, manifestando-se nas situações que se
apresentam. Nesse sentido, a Educação Ambiental enquanto um processo cumulativo de
conhecimento e prática é seguramente eficiente na sensibilização e compreensão de
fatos que muitas vezes exigem uma interpretação afetiva e muito próxima das pessoas e
demais seres (GUARIM-NETO, 2005).
Sendo assim, Marques e Colessanti (2001) acrescentam que a educação e a
percepção ambiental despontam como armas na defesa do meio natural, e ajudam a
reaproximar o homem da natureza, garantindo um futuro com mais qualidade de vida
para todos, já que despertam uma maior responsabilidade e respeito dos indivíduos em
relação ao ambiente em que vivem.
Apesar das impucas do Parque Estadual do Araguaia estarem localizadas em uma
área de proteção integral, seu entorno, tal como observado por Guarim (2005) em
Unidades de Conservação, é de vital importância para a preservação do patrimônio
natural. Dessa forma é que as áreas de entorno devem estar sob limitações de uso,
visando orientar e promover as atividades compatíveis, com os cuidados de não
105

interromper econômica e socialmente as comunidades locais (GUARIM, 2005). A


autora acrescenta ainda que uma Unidade de Conservação é uma das ferramentas mais
utilizadas para a conservação da diversidade biológica, sendo definida no âmbito das
políticas públicas de gestão ambiental e constituindo um processo de proteção da
biodiversidade.

Tendo em vista a necessidade de conservação das impucas do PEA e o fato de até


o momento o Parque não possuir um plano de manejo em execução, o presente estudo
objetivou elaborar uma cartilha com informações importantes sobre as impucas do
Parque Estadual do Araguaia (PEA), visando despertar nos leitores (moradores da
região de abrangência da Planície do Araguaia e visitantes do PEA) a sensibilização
para a importância de ações de conservação, garantindo a existência dessas raras e
pouco conhecidas florestas inundáveis.

Dessa forma, acredita-se que a cartilha é um instrumento de Educação


Ambiental muito importante, tendo em vista que atividades de turismo baseadas em
visitações mal orientadas e mal intencionadas conduzem a destruição do patrimônio
natural. Para que isso não ocorra, fiscalização, conhecimento e orientações são
necessários para a proteção dessas e de outras florestas. Segundo Boff (2000) apud Zart
(2004, p. 25) “conhecer não é apenas uma forma de dominar a realidade. Conhecer é
entrar em comunhão com as coisas”.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.2. Área de estudo

Os dois fragmentos naturais de florestas inundáveis (impucas) enfocados no


presente estudo localizam-se no Parque Estadual do Araguaia (PEA), que apresenta
223.619,54 hectares de área, no município de Novo Santo Antônio, estado de Mato
Grosso. O PEA localiza-se na área conhecida como Planície do Araguaia (BRITO,
2005), Pantanal do Araguaia ou Pantanal dos rios Mortes-Araguaia (MARIMON e
LIMA, 2001).

Essa região vem sofrendo fortes pressões da agropecuária extensiva e do turismo


indiscriminado (baseado principalmente na pesca predatória) (MARIMON e LIMA,
2001; MARIMON et al., 2008). Sendo assim, é necessário e urgente ações que venham
106

a minimizar esses impactos e contribuir com a conservação desse patrimônio natural e


sua biodiversidade.
2.3. Coleta de dados
Foram efetuadas visitas a todos os moradores do Parque Estadual do Araguaia
(PEA) e conversas informais com os mesmos a fim de obter informações sobre as
impucas no decorrer das atividades de coleta de dados dos Projetos “Caracterização e
classificação dos Campos de Murundus do Parque Estadual do Araguaia com aplicações
em Ecoturismo” e “Florística, estrutura e características ambientais de fragmentos
naturais de florestas inundáveis (impucas) no Parque Estadual do Araguaia”
desenvolvidos por docentes e discentes da Universidade do Estado de Mato Grosso –
UNEMAT, entre os anos de 2005 e 2008. Foram anotadas informações sobre as
espécies de plantas ocorrentes nas impucas que são de conhecimento dos moradores.
Também foram coletadas informações sobre os animais que vivem nas impucas.
Foi organizado um extenso acervo fotográfico das impucas do PEA abrangendo
épocas do ano em que o acesso ao parque é possível por via terrestre, entre maio e
novembro. Para a confecção da cartilha também foram utilizadas as informações
técnico-científicas expostas e discutidas nos artigos I e II da presente dissertação, que
abordaram assuntos referentes à estrutura e a composição florística (I) e as distribuições
de diâmetros e alturas de duas impucas no Parque Estadual do Araguaia-MT (II).
Foram efetuadas coletas botânicas de todas as espécies encontradas com flores
e/ou frutos no maior número possível de meses, abrangendo o início da seca até o início
das chuvas (maio a novembro), tendo em vista que o Parque permanece inacessível para
veículos no período chuvoso. O material coletado foi herborizado, identificado por meio
de comparação com o material do Herbário NX (UNEMAT-Campus de Nova
Xavantina) e do Herbário UB (Universidade de Brasília) e com a contribuição do Dr.
James Alexander Ratter. Os nomes das espécies foram confirmados e atualizados por
bibliografias específicas seguindo o sistema APG II (2003) e foram feitas também,
quando necessário, consultas ao MOBOT (2008). Todo material coletado foi
incorporado na coleção do Herbário NX e duplicatas enviadas a outros herbários
brasileiros.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A cartilha:
107

IMPUCAS
DO PARQUE ESTADUAL DO ARAGUAIA

CONHECER PARA CONSERVAR

Foto: E. Lenza
108

IMPUCAS
DO PARQUE ESTADUAL DO ARAGUAIA

CONHECER PARA CONSERVAR

Danielle Cristine de Figueiredo Barbosa


Beatriz Schwantes Marimon
Ben Hur Marimon-Junior
Eddie Lenza de Oliveira
Edmar Almeida de Oliveira
Leandro dos Santos Silva
109

Ficha técnica
Esta cartilha é resultado da dissertação de mestrado intitulada “Estrutura e
composição florística de dois fragmentos naturais de florestas inundáveis (impucas) no
Parque Estadual do Araguaia-MT” e do Projeto “Florística, estrutura e características
ambientais de fragmentos naturais de florestas inundáveis (impucas) no Parque Estadual do
Araguaia” a qual faz parte esta pesquisa de dissertação. Desenvolvidos por docentes e
discentes da Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus de Nova Xavantina,
Departamento de Ciências Biológicas, com o apoio financeiro da Capes e FAPEMAT.

Apoio Edmar Almeida de Oliveira e Leandro dos


FAPEMAT, UNEMAT e Capes. Santos Silva – mestrandos em Ecologia e
Conservação, UNEMAT – Nova Xavantina.
Autores
Danielle Cristine de Figueiredo Barbosa – Agradecimentos
mestranda em Ciências Ambientais pela Os autores agradecem à CAPES pela bolsa
UNEMAT; concedida ao primeiro autor, à Fundação
Profª Dra. Beatriz Schwantes Marimon – de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato
docente dos cursos de Mestrado em Grosso (FAPEMAT) pelo financiamento do
Ciências Ambientais, UNEMAT - Cáceres e projeto e à Secretaria do Estado de Meio
do Mestrado em Ecologia da conservação, Ambiente de Mato Grosso (SEMA-MT) por
UNEMAT - Nova Xavantina; autorizar o desenvolvimento deste estudo
Profº Dr. Ben Hur Marimon Junior - e disponibilizar o uso da sede do Parque
docente do curso de Ciências Biológicas, Estadual do Araguaia para o alojamento
UNEMAT - Nova Xavantina; dos pesquisadores.
Profº Dr. Eddie Lenza de Oliveira -
docente do curso de Mestrado em Ecologia
e conservação, UNEMAT - Nova
Xavantina;

Barbosa, Danielle Cristine de Figueiredo


Impucas do Parque Estadual do Araguaia: conhecer para conservar/ Danielle
Cristine de Figueiredo Barbosa, Beatriz Schwantes Marimon, Ben Hur Marimon
Junior, Eddie Lenza de Oliveira, Edmar Almeida de Oliveira e Leandro dos Santos
Silva. Editora UNEMAT, Cáceres-MT: 2009.

(Cartilha)
ISSN:
110

Parque Estadual do Araguaia


O Parque Estadual do Araguaia (PEA) é chuvas (dezembro-abril) que conferem à
uma Unidade de Conservação enquadrada fauna e flora do PEA características
na categoria de “Unidade de Proteção peculiares, algumas não encontradas em
Integral” (SNUC - Sistema Nacional de nenhum outro lugar do planeta.
Unidades de Conservação, Lei nº 9.985)
onde é permitida a manutenção dos
ecossistemas livres de alterações causadas
por interferência humana, admitindo apenas
MATO GROSSO PEA
o uso indireto dos seus atributos naturais
(BRASIL, 2000). Cuiabá

Localização Geográfica do Parque Estadual do Araguaia,


Novo Santo Antônio-MT e seus limites: a oeste – Rio das
Mortes, a leste – Rio Araguaia e ao sul – linha preta.

A paisagem do PEA é caracterizada por


Entrada do Parque Estadual do Araguaia,
Novo Santo Antônio-MT. extensas áreas de varjão (campos de

Foto: B. H. Marimon-Jr murundus), campos limpos, manchas de


cerrado sentido restrito, cerradão, florestas
O PEA localiza-se na Planície do Rio
ciliares e impucas (MARIMON et al., 2008).
Araguaia e é o maior Parque estadual do
A Planície do Araguaia, onde o PEA
estado de Mato Grosso, abrangendo uma
está localizado, é também conhecida como
área de 223.619,5 hectares. Situa-se no
Pantanal do Araguaia ou Pantanal dos rios
município de Novo Santo Antônio na região
Mortes-Araguaia (MARIMON e LIMA, 2001;
nordeste de Mato Grosso, sendo limitado
BRITO, 2005), apresenta características de
pelo Rio das Mortes (oeste) e pelo Rio
Cerrado, Floresta Amazônica e Pantanal,
Araguaia (leste) e se encontra em uma área
fato que explica o mosaico vegetacional
de transição entre o Cerrado e a Floresta
presente, destacando-se como uma das
Amazônica (MARIMON et al., 2008). Estes
regiões mais ricas em biodiversidade do
rios sofrem inundações no período das
país (BRITO, 2005).
A SEMA-MT (Secretaria do Estado de Meio Ambiente de Mato Grosso) é o órgão responsável pela
administração, controle e gerenciamento do PEA. Qualquer atividade a ser desenvolvida no Parque
somente poderá acontecer após autorização da SEMA-MT. Coordenadoria de Unidades de Conservação
– Fone: (65) 3613-7224
111

O que é uma impuca?


As impucas são fragmentos naturais poucos metros abaixo da superfície do solo,
de florestas inundáveis (EITEN, 1985) que sendo que em alguns pontos de maior
apresentam características peculiares. As depressão do terreno ou em anos com
impucas do PEA localizam-se em depressões períodos de estiagem mais curtos a água
do terreno e permanecem inundadas pode permanecer acima da superfície do
durante todo o período das chuvas (entre solo mesmo no auge da estação seca (B. S.
seis e sete meses anuais). No período seco, Marimon, dados não publicados).
o nível do lençol freático permanece

Fonte: B. H. Marimon-Jr

As impucas ocorrem naturalmente em florestas da região (BRITO et al., 2006;


forma de fragmentos isolados, apresentando MARIMON et al., 2008). Em geral, ocorrem
particularidades florísticas, estruturais e em meio a um campo limpo ou campos
fisionômicas, diferenciando-se das demais de murundus.

Foto: E. Lenza Fonte: Google Earth


112

Apesar de estarem localizadas na gardneriana (1) (leiteiro), Licania apetala


mesma planície de inundação, as impucas (2) (pimenteira), Calophyllum brasiliense (3)
do PEA, em Mato Grosso, apresentam (landi), Ochthocosmus multiflorus, Licania
diferenças florísticas e estruturais em kunthiana e Sclerolobium froesii (4)
relação às impucas de Tocantins (BRITO, (carvoeiro).
2005). Sugere-se que diferentes históricos
de perturbação e a localização dessas
impucas na planície podem justificar essas
diferenças, porém são necessários estudos
mais detalhados para melhor
2 2
esclarecimento, tendo em vista que são
poucos os estudos de impucas no Brasil.
3 1
Fotos: B. H. Marimon-Jr

Importância das impucas


Foto: B. H. Marimon-Jr
As impucas do PEA servem de abrigo a
Significado e termo regional diversos animais, tais como: macacos-

Impuca significa furo no igapó e vem prego, quatis, jacarés-tinga, peixes,

do tupi, significando água arrebentada diversas espécies de aves, insetos, etc. No

(FERREIRA, 2004). É um termo regional de período de inundação as impucas fazem a

Mato Grosso (EITEN, 1985), e no estado de ligação entre rios, lagos e córregos, e são

Tocantins esses fragmentos florestais são verdadeiros ninhais, principalmente para as

chamados de “ipuca” (BRITO, 2005). aves, sendo que a sua degradação poderá
trazer grave desequilíbrio ao ambiente
(MARTINS et al., 2002). Assim, as impucas
Principais espécies são importantes para a fauna silvestre,
As impucas do PEA apresentam pois ocorrendo em fragmentos elas
espécies vegetais de Cerrado, Pantanal e desempenham papel fundamental como
Floresta Amazônica. As espécies de árvores refúgio e conectam outras florestas da
que mais se destacam são Micropholis Planície do Araguaia (MARTINS et al., 2008).
113

Ameaças às impucas do PEA

Fogo
As impucas, assim como as demais
florestas do PEA, estão sendo destruídas
principalmente pelo fogo usado por
moradores da região para renovar
pastagens e promover a limpeza de áreas.
Foto: B. H. Marimon-Jr

Além disso, após a passagem do fogo


o ambiente se torna suscetível ao
aparecimento de espécies invasoras, como o
capim-navalha (Scleria sp.), dificultando o
estabelecimento das plântulas de árvores,
arbustos e cipós.

Foto: B. H. Marimon-Jr

Muitas espécies de cerrado


encontradas no PEA resistem ao fogo, pois
apresentam características especiais, como
Foto: B. H. Marimon-Jr
troncos com casca grossa e capacidade de
rápida brotação após a queimada. Assim, com o aumento das queima-
das, uma impuca pode ficar totalmente des-
Entretanto, muitas espécies, especialmente
truída, sem a capacidade de se regenerar.
aquelas que ocorrem em formações
florestais, não resistem ao fogo. As espécies
lenhosas que compõem as impucas são
muito resistentes às inundações, mas não
ao fogo. O sistema radicular de espécies
de áreas inundáveis é superficial, tendo em
vista a dificuldade de fixação em um solo
instável, e pode ser totalmente destruído
pelo fogo. Foto: B. H. Marimon-Jr
114

Gado Extração madeireira


Outra atividade que vem comprome- A extração madeireira é outro fator
tendo as impucas do PEA é o gado bovino preocupante para as
ainda criado na região, que adentra nessas impucas do PEA, pois
florestas causando a morte das plântulas e pode causar a extinção
compactando o solo devido ao excesso de local de algumas
pisoteio. espécies, como o landi, e
provocar um extenso
desequilíbrio ambiental.
Sendo assim, a exploração madeireira
em impucas que não estão incluídas em
Unidades de Conservação deve ser
controlada e nas impucas do PEA a extração
madeireira deve ser rigorosamente punida.
É fundamental que se promova o

Foto: B. H. Marimon-Jr
conhecimento a respeito da biodiversidade
existente no Parque e que este seja levado
O solo das impucas permanece
às pessoas que moram, usam, pesquisam e
encharcado durante a estação chuvosa e as
visitam o Parque Estadual do Araguaia para
raízes das árvores são superficiais. Assim, a
que ocorra uma efetiva proteção da imensa
compactação do solo pode provocar o
riqueza biológica e da exuberância das
tombamento das árvores provocando grave
paisagens desta extensa planície de
desequilíbrio nessas florestas.
inundação.

Foto: B. H. Marimon-Jr Foto: B. H. Marimon-Jr


115

Estratégias de conservação das impucas


· Ao fazer uma fogueira, limpar a área ao
Fogo
redor e lembrar-se de apagar o fogo
antes de deixar o local;
· Não queimar o lixo. Se for orgânico
(galhos, restos de alimentos, folhas, etc.)
enterre-o e se não for orgânico (plásticos,
isopor, latas, etc.) jogue-o na lixeira;
· Antes de acender velas limpe a área a ser
usada;
· Não jogar cigarros na beira da estrada ou
Fonte: <http://www.macae.rj.gov.br>
na natureza. Jogar apenas onde não há
risco de provocar um incêndio;
· Os agricultores ou criadores de gado
Sensibilização da população
- Informações extraídas de GDF (2004): devem estar cientes das implicações

Diante da destruição decorrente dos legais referentes à queimada controlada.

incêndios nas impucas e demais florestas do É necessário solicitar autorização ao

PEA, é de vital importância evitá-los. órgão ambiental (SEMA-MT), estudar as

Infelizmente a maioria dos incêndios é características do terreno, fazer aceiros,

causada pela ação humana. Sendo assim, as observar as condições climáticas, instruir

pessoas que residem e visitam o PEA e capacitar as pessoas que vão realizar a

precisam estar cientes que uma única queimada controlada e tomar todas as

queimada já pode comprometer precauções para evitar a ocorrência de

drasticamente a fauna e a flora de uma um incêndio florestal;

impuca. Neste caso, prevenir e impedir a · Em caso de detecção de incêndio,

entrada do fogo nestas florestas é a única comunique imediatamente ao Corpo de

maneira de evitar seu desaparecimento. Bombeiros através do telefone 193.

Algumas medidas preventivas podem · Em caso de incêndio dentro do PEA

ser tomadas para evitar a ocorrência do comunique imediatamente o Gerente

fogo nas impucas do PEA e nas Regional (residente em Novo Santo

proximidades, tais como: Antônio-MT) ou à SEMA (Cuiabá-MT).


116

Estratégias de combate aos recursos humanos do órgão executor

incêndios (GDF, 2004) segundo as necessidades detectadas;


· Criar uma Brigada de Combate a
Incêndios, especialmente treinada para
atuar no PEA;
· Definição dos pontos prioritários para a
proteção da Unidade de Conservação
estabelecidos em função da
vulnerabilidade da vegetação, como é
o caso das impucas, e do
Foto: R. S. Siqueira
desenvolvimento de pesquisas.
· Formação do pessoal que atua no Parque · Construir aceiros no limite sul do PEA,
Estadual do Araguaia, capacitando-o a onde o mesmo faz divisa com fazendas
adotar os procedimentos apropriados, em de criação de gado;
tempo hábil e de acordo com a situação · Durante a época da seca (maio-outubro)
apresentada em cada momento; intensificar a vigilância do PEA,
· Executar treinamentos de pessoal para o implantando pontos fixos de observação,
aperfeiçoamento e a reciclagem dos como torres e guaritas.

Gado
proteger as impucas e demais florestas, tais
como:
· Não permitir que o gado adentre nas
impucas localizadas no PEA, tendo
em vista que o Parque é uma
unidade de proteção integral da
biodiversidade;
· Não permitir a entrada do gado em
Foto: B. H. Marimon-Jr
outras formações florestais do PEA.
Quanto aos impactos causados pela · Variar os locais de pastoreio do
presença do gado no Parque Estadual do gado, minimizando os impactos sobre
Araguaia, medidas de controle por parte dos a vegetação e o solo.
moradores da região podem ajudar a
117

Recuperação de impucas degradadas

Conforme estudos realizados nas impucas do PEA, algumas se apresentam em boas


condições ecológicas, ou seja, a comunidade de plantas lenhosas (árvores, arbustos e cipós)
encontra-se em equilíbrio. Entretanto, para que essas florestas continuem em equilíbrio é
necessário que sejam rigorosamente protegidas. Por outro lado, existem algumas impucas
no Parque que encontram-se em processo de degradação ou até mesmo totalmente
degradadas e com reduzidas possibilidades de se regenerarem naturalmente. Neste caso, os
estudos realizados nas impucas do PEA são de grande importância para subsidiar a
recuperação daquelas que já se encontram destruídas.

impuca não-degradada impuca degradada


impuca fortemente degradada

Dentre as espécies estudadas nas Micropholis gardneriana, Licania kunthiana e


impucas do PEA, as recomendadas para Eschweilera ovata.
plantio em fases iniciais, considerando
impucas mais abertas e degradadas, seriam:
Licania apetala (pimenteira), Sclerolobium
froesii (carvoeiro), Acosmium nitens
(piranheira), Xylopia sp. (pindaíba), Mabea
paniculata, Duroia prancei, Mauritiella
armata, Ormosia excelsa, Diospyros
guianensis e Ternstroemia candolleana. Foto: R. S. Siqueira

As espécies recomendadas para Em caso de medidas de recuperação


plantios em fases posteriores, depois que o de impucas degradadas do Parque Estadual
dossel já se fechou parcialmente, seriam: do Araguaia, sugere-se que as espécies que
Ochthocosmus multiflorus, Calophyllum se apresentam ameaçadas devem receber
brasiliense (landi), Combretum laxum, prioridade em iniciativas de plantio e
proteção.
118

Ecoturismo: excursionismo de mínimo impacto (SBF, s.d.)

· Entre em contato com o Gerente (SEMA-


MT) antes de visitar o Parque;
· Informe-se sobre o regulamento e
restrições do Parque;
· Visite o Parque em grupos pequenos de
até 10 pessoas, para que o impacto no
ambiente seja o mínimo possível;
· O grupo deve ter pelo menos um membro
que conheça bem o local (Guia de
Ecoturismo);
· Traga todo o lixo de volta;
· Não se arrisque em ambientes que
apresentam perigo;
Foto: B. H. Marimon-Jr · Leve com você: lanterna, agasalho, capa

Hoje é comum as pessoas procurarem de chuva, estojo de primeiros socorros

ambientes naturais, como os encontrados (antisépticos, antialérgicos, curativos,

em parques e outras unidades de etc.), repelente de insetos, protetor solar,

conservação, para atividades de lazer. alimento e água;

Desde um simples passeio até a prática de


esportes como caminhadas, canoagem,
mergulhos, off-road, natação e muitas
outras. Outros procuram essas áreas
naturais para realizar aulas-campo,
pesquisas e produzir conhecimento.
Atividades estas que poderão ser realizadas
no Parque Estadual do Araguaia se houver
Foto: D. C. F. Barbosa
devidas orientações e acompanhamento ou
· Siga apenas trilhas pré determinadas;
vigilância por parte da SEMA.
· Use protetores nas pernas (perneiras)
As pessoas que visitam o Parque
para se proteger de picadas de cobra;
devem estar cientes da importância de
· Acampe somente em locais pré
proteger o meio ambiente e contribuir para
estabelecidos ou a pelo menos 60 m de
mantê-lo limpo e conservado. Assim, você
qualquer curso d´água.
pode ajudar adotando medidas simples:
119

· Ao acampar, não corte nem arranque a


vegetação. O PEA possui ótimos lugares
para camping!
· Tire apenas fotografias, deixe apenas
pegadas, e leve para casa apenas suas
memórias;

Foto: D. C. F. Barbosa

· Se você é pesquisador e está


desenvolvendo um trabalho no Parque,
apenas faça coletas do que realmente for

Foto: E. S. Lima necessário, para que o impacto causado


seja o menor possível;
· Jamais faça fogueiras, elas podem causar
· Ande e acampe em silêncio, preservando
uma grande destruição no Parque;
a tranqüilidade e a sensação de harmonia
· Utilize lampião ou lanterna e cozinhe em
que a natureza favorece;
fogareiro a gás;
· Não leve para o Parque animais
· Observe os animais a distância e em
domésticos, eles podem provocar a morte
silêncio;
de pequenos animais e transmitir
· Não alimente os animais, eles podem se
doenças;
acostumar com alimentos industrializados
· Você também é responsável pela
e passar a invadir os acampamentos;
proteção da biodiversidade presente nas
impucas e no Parque, sendo assim,
colabore.
· Se você presenciar alguma agressão ao
patrimônio natural, denuncie ao gerente
do Parque ou à SEMA-MT, órgão
responsável pela fiscalização;

Foto: B. H. Marimon-Jr

Conheça e visite as impucas do Parque Estadual do Araguaia!


120

Curiosidades das impucas do PEA

Nas impucas do Parque Estadual do


Araguaia pode ser encontrada uma
espécie de arbusto (Dulacia egleri) cujas
folhas se prendem nas roupas,
semelhante a um velcro. As folhas de
Dulacia egleri apresentam minúsculos
ganchos que se fixam em sua roupa, uma
forma legal de interagir com o ambiente!
Experimente essa emoção, e ajude a
preservá-la!

Foto: B. H. Marimon-Jr

Entretanto quando maduro, o fruto


solta pequenas espículas que parecem
agulhas e que em contato com a nossa
pele podem causar irritações.

Foto: B. H. Marimon-Jr

Outra espécie, chamada Sloanea


garkeana, é uma árvore que pode atingir
20 m de altura e possui um tronco curioso
que forma expansões semelhantes a asas.
Considerando que o solo das impucas é
instável, estas expansões laterais auxiliam
na fixação da árvore. Esta espécie Foto: B. H. Marimon-Jr

também possui um fruto muito bonito e


As impucas sofrem inundações na
que chama atenção por sua cor vermelho
época das chuvas e acumulam a água
escuro.
sobre o solo, sendo um ambiente propício
121

para a ocorrência de esponjas de água tiririca (Scleria sp.), uma espécie


doce (Drulia spp.), que são localmente invasora.
conhecidas como “coí”. As folhas do capim-navalha
apresentam uma borda muito afiada,
podendo cortar a pele como uma faca.
Então, antes de entrar nas impucas que
apresentam as bordas fechadas com
vegetação e capim-navalha, use roupas
adequadas que protejam o corpo.

Foto: B. S. Marimon

O coí geralmente é encontrado em


volta dos troncos das árvores e em
plantas jovens.

Foto: B. H. Marimon-Jr

Durante a época seca, quando as


impucas não apresentam água sobre o
solo, é possível encontrar uma espécie de
jacaré, o jacaré-tinga, que permanece
enterrado em depressões e poços mais
Foto: B. H. Marimon-Jr
úmidos localizados dentro das impucas.

Apesar de ser interessante, pode ser No período da vazante, quando o


um perigo, principalmente em crianças. nível d’água nas impucas desce, ocorre
Há registros de sérias lesões nos olhos uma concentração de peixes. Neste
causadas pelas espículas desta esponja período é possível encontrar aves em
(VOLKMER-RIBEIRO et al., 2006), abundância que se alimentam dos peixes
especialmente na época da seca. que permancem isolados nessas lagoas

Nas impucas mais degradadas, onde que estão secando no interior das

a entrada do fogo ocorre com freqüência, impucas.

é comum encontrar o capim-navalha ou


122

Glossário
Aceiro: desbaste de terreno em volta de propriedades rurais, ou matas, coivaras, etc., para, pela
descontinuidade assim estabelecida na vegetação, evitar a propagação de incêndios ou queimadas
(FERREIRA, 2004).
Biodiversidade: a existência, numa dada região, de uma grande variedade de espécies, ou de outras
categorias (como gêneros, etc.) de plantas ou de animais.
Campo limpo: são extensas áreas cobertas exclusivamente com espécies de capins ou similares do Bioma
Cerrado que ocorrem em áreas onde o revelo é plano e ocorrem depressões no terreno (MARIMON et al.,
2008).
Campo de murundus: ocorrem em um campo limpo em forma de monchões ou ilhas cobertas com
vegetação de Cerrado e em geral possuem um cupinzeiro (MARIMON et al., 2008).
Dossel: estrato ou camada mais alta da floresta, formada pelas copas das árvores de maiores alturas.
Ecossistema: conjunto dos relacionamentos mútuos entre determinado meio ambiente e a flora, a fauna e
os microrganismos que nele habitam, e que incluem os fatores de equilíbrio geológico, atmosférico,
meteorológico e biológico (FERREIRA, 2004).
Estiagem: período seco, falta ou cessação de chuva.
Estruturais: disposição das plantas em uma floresta, estratos de alturas que elas ocupam na floresta (alto,
médio ou baixo).
Fauna silvestre: conjunto de animais nativos de uma determinada região.
Fisionômico: caráter dado a uma comunidade vegetal pela forma biológica de seus componentes
(FERREIRA, 2004).
Florística: estudo ou características das plantas relacionado à sua família, gênero e espécie em uma
determinada região.
Inundações sazonais: inundações ou alagamentos periódicos.
Lençol freático: lençol de água subterrâneo que se forma em profundidade relativamente pequena; lençol
superficial, lençol de água (FERREIRA, 2004).
Lenhosas: que possui consistência de madeira.
Mosaico vegetacional: uma paisagem composta por vários tipos de vegetação, e cada uma delas com
suas características particulares, diferindo uma das outras.
Plântulas: plantas jovens.
Sistema radicular: sistema ou conjunto de raízes.
Solo instável: solo que não apresenta firmeza ou características adequadas para fixação das raízes das
plantas.
Unidades de Conservação: áreas destinadas pelo poder público federal, estadual ou municipal para a
proteção integral ou uso sustentável de recursos naturais (ROTTA et al., 2006).
Vulnerabilidade: capacidade de estar sugeito a ataques ou perigo.
123

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4. REFERÊNCIAS – do Artigo III

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3- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em ambas as impucas estudadas no PEA a composição florística foi caracterizada


por espécies de Cerrado, Pantanal e Floresta Amazônica. Dentre essas espécies, as de
maior destaque foram Micropholis gardneriana, Licania apetala, Calophyllum
brasiliense, Ochthocosmus multiflorus, Licania kunthiana e Sclerolobium froesii,
demonstrando ser espécies típicas de impucas.
A impuca não-degradada (ND) pode ser considerada uma floresta densa e a
impuca degradada (DE) uma floresta aberta, baseando-se na área basal por hectare
apresentada. A impuca DE apresentou menor riqueza e menor diversidade de espécies,
menores densidade e dominância relativas do que a impuca ND. Este fato e a reduzida
similaridade florística observada entre essas impucas e as impucas de Tocantins podem
estar relacionados às diferenças no regime de inundação e no histórico e tipo de
perturbação. Além disso a diferença apresentada entre as impucas de Mato Grosso
analisadas no presente estudo e as de Tocantins pode se justificar também à localização
das impucas de Tocantins mais à margem da Planície do Araguaia, sugerindo maior
influência das fitofisionomias savânicas do Bioma Cerrado.
Considerando-se o padrão unimodal das distribuições das alturas e o modelo J-
reverso das distribuições de diâmetros apresentados na comunidade lenhosa e nas
populações das principais espécies da impuca ND, sugere-se que, em caso de não
ocorrer perturbações, a estrutura da comunidade tenderá ao equilíbrio, comportando-se
como auto-regenerante.
A distribuição de diâmetros da impuca DE também sugere um recrutamento
contínuo. Entretanto, a maioria das espécies analisadas apresentou estrutura já alterada,
devido a esta comunidade ter sido submetida a distúrbios no passado que afetaram a
distribuição de indivíduos nas classes de menor diâmetro, sugerindo que ela encontra-se
em um estádio sucessional intermediário. Assim, caso os distúrbios (fogo, pisoteio do
gado, retirada de madeira) não sejam imediatamente reprimidos, em curto prazo a
comunidade que já se encontra alterada poderá ter sua estrutura mais agravada ainda.
Além disso, a expansão de indivíduos de Scleria sp. (capim navalha), que competem
com as espécies de árvores, arbustos e lianas da comunidade, pode representar uma
séria ameaça à manutenção da composição florística e estrutural da impuca DE.
127

As distribuições de diâmetros e alturas das principais espécies amostradas nas


impucas ND e DE indicam que estas se encontram em diferentes estágios sucessionais,
definidos por características ambientais peculiares de cada impuca, pelo estado de
conservação e/ou por características genéticas das espécies.

Dentre as espécies analisadas no presente estudo, as recomendadas para teste em


plantio em fases iniciais, considerando impucas mais abertas e degradadas, seriam:
Licania apetala, Sclerolobium froesii, Acosmium nitens, Xylopia sp., Mabea paniculata,
Duroia prancei, Mauritiella armata, Ormosia excelsa, Diospyros guianensis e
Ternstroemia candolleana. As espécies recomendadas para testes em plantios em fases
posteriores, depois que o dossel já sofreu um fechamento parcial, seriam: Ochthocosmus
multiflorus, Calophyllum brasiliense, Combretum laxum, Micropholis gardneriana,
Licania kunthiana e Eschweilera ovata.

Analisando-se a distribuição de diâmetros e alturas de Calophyllum brasiliense, a


espécie mais ameaçada pela extração madeireira na região, é possível confirmar que
distúrbios no passado afetaram a estrutura de suas populações, mesmo na impuca ND.
Este aspecto evidencia a urgente necessidade de repressão ao corte de indivíduos desta
espécie e também aos impactos como o fogo e pisoteio do gado que podem estar
afetando o estabelecimento e o desenvolvimento de indivíduos jovens e de grande porte
nas impucas do Parque Estadual do Araguaia. Ochthocosmus multiflorus também
apresentou indicativos de ser uma espécie suscetível, principalmente na fase jovem,
merecendo especial atenção em relação à sua conservação nas impucas do PEA.

Por outro lado, espécies como Licania apetala, Sclerolobium froesii e Acosmium
nitens, parecem adaptar-se muito bem em áreas alteradas e, neste caso, podem ser
testadas para plantios em impucas degradadas e que exijam iniciativas imediatas de
recuperação.

Sugere-se que no PEA impucas bem preservadas são aquelas que apresentam
muitos indivíduos de Ochthocosmus multiflorus nas primeiras classes de diâmetros e
alturas e muitos indivíduos de Combretum laxum e Calophyllum brasiliense
representados em todas as classes. Entretanto, impucas que apresentam muitos
indivíduos de Licania apetala, Sclerolobium froesii e Xylopia sp. em todas as classes de
diâmetros e alturas podem ser consideradas como pouco preservadas.
128

Em caso de medidas de recuperação de impucas degradadas do Parque Estadual


do Araguaia, sugere-se que as espécies que apresentam distribuições de diâmetros e
alturas irregulares devem receber prioridade em iniciativas de plantio e proteção.
Assim, o presente estudo representa uma fundamental contribuição para o plano
de manejo do Parque Estadual do Araguaia e para iniciativas de recuperação de impucas
degradadas, tendo em vista que levantou as espécies que compõem duas impucas no
PEA, a quantidade de indivíduos apresentados por cada espécie, a posição sociológica
na comunidade, indícios de preferência das principais espécies por áreas mais abertas
(mais luz) ou fechadas (mais sombreadas), bem como indícios do estado de
desenvolvimento e estabelecimento nas impucas. Que são informações importantíssimas
para se planejar a recuperação de impucas que estão sofrendo fortes pressões na Planície
do Araguaia-MT.
É de ressaltar que, para as impucas do PEA cumprirem efetivamente o seu papel
de preservação das populações de espécies nativas, devem ser adotadas rígidas medidas
de controle do fogo, ocupação do gado, corte de árvores e controle da expansão de
espécies invasoras.
Diante da degradação acelerada que essas impucas vêm sofrendo é importante
que o conhecimento produzido a partir de estudos científicos seja levado à comunidade
local e visitantes através de ações de Educação Ambiental, como por exemplo a
produção e divulgação de uma cartilha (um dos produtos da presente dissertação). Dessa
forma, as pessoas passarão a ser agentes que contribuirão com a proteção da imensa
riqueza biológica presente nas impucas e demais formações vegetais do PEA e da
Planície do Araguaia, colaborando com o seu próprio bem estar e com o das gerações
futuras.

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