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Do meio natural ao meio Técnico-científico-informacional

A atividade produtiva industrial madura do século XIX criou uma especialização


regional da produção de alcance global. Para entender a DIT do século XIX e da
atualidade, é necessário o entendimento da evolução da técnica aliada a economia
capitalista. Desde tempos pré-históricos o homem executa trabalho com objetos técnicos
para efetivar a transformação da natureza em espaço geográfico. Porém, desde o
neolítico até os idos do século XVIII, as estruturas sociais, especialmente a produção,
estavam submetidas aos ciclos da natureza. O plantio demandava condições
meteorológicas que não podiam ser ignoradas no processo de produção; o trabalho era
realizado fundamentalmente durante o dia com iluminação natural. O aumento da
complexidade e densidade dos sistemas técnicos alterou esse quadro. Em meio a
Revolução Industrial a sociedade ocidental criou um ambiente diferenciado para as
necessidades sociais. Esse novo meio, chamado Técnico, fez do homem o agente dos
ciclos produtivos. Ao longo do século XIX os países europeus e, eventualmente, os
EUA e o Japão transformaram suas paisagens com objetos criados de modo sistêmico
para realização das necessidades de transformação da natureza: extração mineral;
estradas, portos e ferrovias; cidades como ambiente de produção e consumo. Esse
processo de aumento da densidade e complexidade dos sistemas técnicos não ocorre de
modo cego ou independente de outros campos da sociedade. Na verdade, a economia
capitalista fomenta e se beneficia do desenvolvimento do meio técnico.

Afinal, a crescente necessidade de investimentos para a ampliação da produção e


produtividade desemboca, necessariamente, nesse processo de difusão de novas técnicas
na sociedade. Porém, essas técnicas não ficam restritas aos países europeus, EUA e
Japão. O capitalismo exige investimentos que transcendem os limites territoriais das
regiões de origem do capital. Ao mesmo tempo, esses investimentos se traduzem em
transformações das estruturas técnicas das demais regiões para viabilizar as
necessidades do capital. É dessa forma que podemos entender a implantação de um
moderno sistema de ferrovias no século XIX no estado de São Paulo ou na Índia (sob
domínio britânico). A necessidade do capital, potencializada pelo novo sistema técnico,
torna-se veículo da difusão de um mesmo padrão de transformação da natureza em
escala global no séc. XIX. Para implantação de sistemas tão complexos e radicalmente
diferentes dos sistemas locais, os países centrais precisam exercer um controle mais
forte sobre as regiões periférica. Daí, as práticas imperialistas caracterizarem-se como
um instrumento de controle político direto ou indireto exercido por Japão, EUA e países
europeus sobre, respectivamente, regiões da Ásia, África e América Latina. Vale
lembrar que a difusão da técnica não ocorre na mesma velocidade para todas as regiões.
Há regiões que absorvem mais facilmente o sistema técnico estrangeiro enquanto outras
são refratárias. Vários fatores definem essa velocidade da difusão das técnicas:
necessidades dos países centrais; condições físicas de exploração das regiões
periféricas; resistências políticas.

Cenário de Globalização “A globalização pode assim ser definida como a


intensificação das relações sociais em escala mundial, que ligam localidades distantes
de tal maneira que acontecimentos locais são modelados por eventos ocorrendo a muitas
milhas de distância e vice-versa”. Vista dessa forma, a globalização tem um caráter
processual podendo ser identificada sua essência desde tempos pré-históricos. Milton
Santos em Por uma Nova Geografia sugere que a revolução neolítica e as trocas
monetarizadas foram os primeiros fatores de aumento da interdependência entre regiões
Porém, apenas com o advento do capitalismo comercial e em meio às Grandes
Navegações é que houve um efetivo enlace de abrangência global. Visto desta forma, o
processo apenas se intensificou nas últimas décadas.

Há dois fatores básicos de intensificação recente do processo de globalização: •


Meio técnico-científico-informacional • Fim da Guerra Fria As tecnologias presentes
hoje para o processo de globalização já estavam presentes – em grande parte ou
germinalmente – nos anos 1970. Porém, a bipolarização mundial dificultava os contatos
entre os blocos capitalista e socialista. Com o fim da Guerra Fria o capitalismo liberal
tornou-se hegemônico. Vale ressaltar que o capitalismo, em sua vertente liberal, é
contrário às restrições dos governos à atividade econômica. Assim, os fluxos de capitais
e mercadorias cresceram muito em escala mundial. Houve o desenvolvimento de um
novo meio denominado técnico-científico-informacional.

Os objetos desse novo meio são diferenciados na medida em que são: •


Técnicos: funcionam de modo sistêmico com vistas ao aumento das capacidades
humanas de transformação da natureza. • Científicos: só podem ser criados mediante
uma forma específica de entendimento da natureza desenvolvida no Mundo Ocidental: o
conhecimento científico • Informacional: são objetos alimentados por informações e
fornecedores de informações. Esses objetos criaram um mesmo padrão técnico em
escala global permitindo, além dos deslocamentos mais rápidos de pessoas e
mercadorias, a instantaneidade dos fluxos de informações e capitais. Análise Crítica do
Processo É possível intuir que o atual estágio de globalização faz com que a localização
perca importância, que o espaço perca importância. Nada mais errado!! O conceito de
globalização pressupõe uma mesma técnica nas regiões de partida e chegada do capital,
da informação, das mercadorias e das pessoas. Assim, sem acesso a rede mundial de
computadores, sem aeroportos, por exemplo, não é possível a ligação de duas regiões.
Como o espaço geográfico é entendido como natureza transformada, em cenário de
globalização a maneira como a sociedade produz espaço é fundamental para possibilitar
que a região participe ou não dos processos globais; participe de modo agente ou como
objeto. Isso gera uma conseqüência imediata: as regiões com maior densidade de
sistemas técnicos são centrais no atual processo de globalização. As regiões com
carência de recursos técnicos (África, por exemplo) são marginalizadas.

A marginalização não ocorre apenas em termos espaciais. Também ocorre em


termos sociais. Afinal, na economia capitalista o acesso a eletricidade, computador,
internet, transporte aéreo, enfim, todos os meios que facilitam o processo de
globalização são pagos, disponíveis apenas para quem tem renda. As populações mais
pobres também são excluídas do processo. Mesmo o acesso à informação apresentado
como democrático no mundo da globalização e da internet é, na verdade, bastante
restrito. Além de o acesso a Rede ser restrito por renda, a veiculação de informações
não é “tão livre”. São poucas as empresas que controlam, em escala global ou nacional,
a difusão de informações. Em escala global há CNN, Reuters, Associated Press entre
outras poucas. No Brasil há quatro grandes famílias ou grupos: Martinho das
organizações Globo; Mesquita do jornal O Estado de São Paulo; Frias do grupo Folha; e
Civita do grupo Abril (revista Veja).

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