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Universidade Zambeze

Faculdade de Ciências Sociais e Humanidades

CURSO DE ECONOMIA – 2.º Ano

SUJEITOS
Comerciantes
Empresários Comerciais – Artigo 2.º do Código Comercial1 – Todas as
actividades que estas pessoas pratiquem são actos subjectivamente
comerciais, pois, são praticadas por comerciantes.

Comparando este artigo com o artigo 230.º2 do Código Comercial


anterior: Na definição de comerciante do Código Comercial anterior,
no artigo 13.º3, exigia-se, expressamente, a profissionalidade;

1
Artigo 2.º
(Empresário Comercial)
São Empresários comerciais:
a) As pessoas singulares ou colectivas que, em seu nome, por si ou por
intermédio de terceiros, exercem uma empresa comercial.
b) As sociedades comerciais.
2
Das Empresas
Artigo 230.º
(Empresas comerciais)
Haver-se-ão por comerciais as empresas, singulares ou colectivas, que se
propuserem:
1. Transformar, por meio de fábricas ou manufecatoras matérias primas,
empregando para isso, ou só operários, ou operários e máquinas;
2. Fornecer, em épocas diferentes, géneros, quer aos particulares, quer ao
Estado, mediante preço convencionado;
3. Agenciar negócios ou leiloes por conta de outrem em escrotório aberto ao
público, e mediante salários estipulado;
4. Explorar quaisquer espetáculos público;
5. Aditar, publicar ou vender obras científicas, literárias ou artísticas;
6. Edificar ou construir casas para outrem com matérias subministradas pelo
empresário;
7. Transportar, regular e permanentemente, por água ou por terra, quaisquer
pessoas, animais, alfaias ou mercadorias de outrem;
§ 1.º Não haverá como compreendido no n.º 1 o proprietário ou o explorador
rural que apenas fabrica ou manufactura os produtos do terreno que agriculta
acessoriamente à sua exploração agrícola, nem o artista, industrial, mestres

1
No actual Código Comercial retirou-se a noção “profissional” da
definição de comerciante mas, apesar de tal não estar expresso,
exige-se também a profissionalidade: Só será comerciante aquele
sujeito (pessoa singular ou colectiva) que actuar de modo
sistemático e tendo em vista uma vantagem (o lucro);

Ora, modo sistemático e vantajoso significa modo profissional,


portanto exige-se aqui também a profissionalidade.

Resumindo, para ser comerciante, a pessoa singular ou colectiva tem


de actuar de modo sistemático e ter em vista o lucro.

O Professor Menezes Cordeiro defende que a prática comercial


realizada de modo profissional assenta em 4 aspectos:
1 – Prática reiterada ou habitual (o sujeito não se limita a
praticar actos pontuais);

Nota Bem – Numa empreitada, por exemplo, apesar de aparentar ser um


acto isolado, pontual, na realidade não é, porque, apesar de ser um
único acto comercial, por detrás desse acto pode estar uma série de
actos comerciais preparatórios;

ou oficial de ofício mecânico que exerce directamente a sua arte, indústria ou


ofício, embora empregue para isso, ou só operários, ou operários e máquinas.
§ 2.º Não se haverá como compreendido no n.º 2º proprietário ou explorador
rural que fizer fornecimentos de produtos da respectiva propriedade.
§ 3.º Não se haverá como compreendido no n.º 5 o proprietário que editar,
publicar ou vender as suas obras.

3
Dos Comerciantes
Artigo 13.º do Código Comercial de 18888
(Quem é Comerciante)
São comerciantes:
1. As pessoas, que, tendo capacidade para praticar actos de comércio, fazem
desta profissão.
2. As sociedades comerciais.

2
Outro exemplo: a construção de uma fábrica é um único acto, mas há
uma série de outros actos (aquisição de material, etc), portanto,
não pode deixar de se considerar uma prática reiterada.

2 – O lucro – a actuação tem de se destinar a ter lucro; pode não


dar lucro (porque a actividade comercial se caracteriza pelo risco),
porém a actividade tem de ter como objectivo o lucro.

3 – O comerciante actua em nome próprio e por sua conta e risco


(mesmo que actue através de intermediários, mediante representação,
desde que a actividade se repercuta na esfera do comerc
iante).

4 – A prática deve ser tendencialmente exclusiva, a pessoa (singular


ou colectiva) deve exercer exclusivamente essa actividade. Nota Bem
– Tendencialmente, porque essa pessoa pode praticar outras
actividades.

O Professor Pupo Correia acrescenta um outro critério: - o


comerciante deve organizar os factores de produção com vista à
produção de utilidades económicas.

Os empresários comerciais referidos no artigo 2.º alínea a), do


Código Comercial, são comerciantes profissionais.

Os actos praticados por um comerciante apenas não são


subjectivamente comerciais se forem puramente civis (ver última
parte do n..º 2 do artigo 4.º4 do Código Comercial.

4
Artigo 4.º
(Actos de comércio)
1. São considerados actos de comércio:
a) Os actos especialmente regulados na lei em atenção às necessidades da
empresa comercial, designadamente os previstos neste código, e os actos
análogos;
b) Os actos praticados no exercício de uma empresa comercial.

3
Para retirar a comercialidade de um acto praticado por um
comerciante – e não ser considerado comercial:

1 - analisar se o acto foge à actividade normal/ habitual do


comerciante (vender um carro quando o seu negócio habitual é vender
farinha);

2 - Se não o fez com propósitos propagandísticos;

3 - Se não tinha por objectivo o lucro. Importa qualificar alguém


como comerciante porque um comerciante tem um estatuto próprio; os
comerciantes têm obrigações próprias.

O comerciante pode ser uma pessoa singular ou colectiva (artigo 9.º5


do Código Comercial; Discute-se aqui a capacidade (se esta é de gozo
ou de exercício);

A capacidade de gozo é a aptidão para ser sujeito de relações


jurídicas; a capacidade de exercício é a aptidão para poder actuar
(que pode ser através de representante, procurador).

A doutrina maioritária entende que a capacidade exigida na lei


comercial é a capacidade de exercício; a prática de actos de
comércio refere-se à capacidade de agir e não à mera idoneidade para
ser titular de direitos e obrigações.

2. Os actos praticados por um empresário comercial consideram-se tê-lo sido no


exercício da respectiva empresa, se deles e das circunstâncias que rodearam
a sua prática não resultar o contrário.
5
Capacidade empresarial, empresários e suas obrigações
Capacidade Empresarial
(artigo 9.º)
(Capacidade para o exercício da actividade empresarial)
Pode ser empresário comercial toda a pessoa singular, residente ou não residente,
ou pessoa colectiva, com sede estatutária no país ou não, que tiver capacidade
civil, sem prejuízo do disposto em disposições especiais.

4
O Professor Menezes Cordeiro faz uma interpretação diversa do artigo
9.º : Diz ele que o artigo 9.º do CCom remete para a lei civil e
portanto, no essencial, as regras são as seguintes: Todos temos
capacidade de gozo plena (67.º Código Civil)6; já as pessoas
colectivas têm a capacidade de gozo necessária à prossecução dos
seus fins (160.º do Código Civil7).

Face à lei, no entendimento do Dr. Américo Fragoso, o artigo 9.º


CCom remete para a lei civil em tudo o que não estiver previsto na
lei comercial. No nosso Código Comercial, porém, há suprimento
quanto a incapacidades (artigo 10.º Código Comercial8) e apenas onde
não o houver se recorrerá ao Código Civil.

6Artigo
66.º do Código Civil
1. A Personalidade adquire-se no momento do nascimento complemento e com vida.
2. Os direitos que a lei reconhece aos nascituros dependem do seu nascimento.

Artigo 67.º do Código Civil


(Capacidade jurídica)
As pessoas podem ser sujeitos de quaisquer relações jurídicas, salvo
disposição legal em contrário, nisto consiste a sua capacidade jurídica.

7
Artigo 160.º do Código Civil
(Capacidade)
1. A Capacidade das pessoas colectivas abrange todos os direitos e obrigações
necessárias ou convenientes à prossecução dos seus fins.
2. Exceptuam-se os direitos e obrigações vedados por lei ou que sejam
inseparáveis da personalidade singular.

8Artigo10.º do Código Comercial


(Autorização para exercer a actividade empresarial)
1. O menor de idade, que seja maior de dezoito anos, pode exercer actividade
empresarial, desde que devidamente autorizado.
2. A autorização para o exercício da actividade empresarial pode ser
concedida:
a) Pelos pais, desde que tenham a guarda do menor;
b) Pelo tutor;
c) Pelo Juiz, na falta dos pais ou do tutor, ou quando entender conveniente e
oportuno aos interesses do menor.
3. A autorização para o exercício da activdade empresarial deve ser autorgada
por escrito, podend o instrumento de autorização limitar os poderes ou
impor condições para o seu exercício, indicar o ramo da actividade a ser
explorada pelo menor, fixar prazo de validade da autorização e, mesmo
quando concedida por tempo indeterminado, pode ser revogada, a qualquer
altura, pelo outorgante, salvaguardados os direitos adquiridos de
terceiros.
4. Não havendo fixação do prazo de validade nem limitação de poderes, presume-
se que a autorização tenha sido concedida por tempo indeterminado, ficando

5
A actividade (empresa) comercial é a organização de factores de
produção para o exercício de uma actividade económica.

Capacidade do Interdito – 139.º9 do Código Civil


Remetemos o regime dos interditos para o Código Civil; daqui remete-
se de novo para o Código Comercial, pois este prevê a situação dos
menores (artigo 10.º/ 1, Código Comercial), que têm o mesmo regime
dos interditos.

Nota Bem: O Estado e a autarquia, quando exercerem uma empresa


comercial, não adquirem a qualidade de empresário comercial,
ficando, porém, no que ao exercício daquela diz respeito, sujeitos à
disposição do Código Comercial.

Tipos de sociedades comerciais – artigo 82.º do Código Comercial10 -


As Associações e as Fundações não são comerciais porque a sua
finalidade não é lucrativa – têm fins sociais. No entanto, muitas
vezes chegam a ter lucro. Quando essas associações e fundações têm
como objectivo principal o lucro e não fins sociais, devem ser
consideradas como empresas comerciais.

o menor habilitado para a prática de todos os actos próprios da actividade


empresarial.
5. Para produzir efeitos em relação a terceiros, o instrumento de autorização
e sua revogação devem ser registados na entidade competente para o registo
comercial.
9
Artigo 139.º do Código Civil
(Capacidade do interdito e regime da interdição)
Sem prejuízo do disposto nos artigos seguintes, o interdito é equiparado ao menor,
sendo-lhe aplicáveis, com as necessárias adaptações, as disposições que regulam a
incapacidade por menoridade e fixam os meios de suprir o poder parental.

10
Tipos de Sociedades Comerciais
Artigo 82.º
(tipos de Sociedades Comerciais)
1. São sociedades comerciais, independentemente do seu objecto, as sociedades
em nome colectivo, de capital e industria, em nome comandita, por quotas.
2. As sociedades que tenham por objecto o exercício de uma empresa comercial
só podem constituir-se segundo um dos tipos societários previstos neste
artigo.

6
O Comerciante Pessoa Singular
As pessoas singulares podem ser comerciantes: basta que tenham
capacidade para praticar actos de comércio e façam deste profissão.

Em relação às pessoas singulares, os menores não têm, em princípio,


capacidade de exercício – artigo 123.11º Código Civil - a
incapacidade daí resultante é suprida pelo poder paternal e,
subsidiariamente, pela tutela – artigo 124.º do Código Civil.

Quanto aos interditos, esta matéria não está prevista na Lei


Comercial, (que remete para uma matéria que já foi revogada (?)), ou
seja, em tudo o que não estiver regulado em matéria de capacidade,
remete-se para a Lei Civil, mas uma vez que o regime dos menores
está previsto na Lei Comercial, aplicar-se-á a Lei Comercial (artigo
139.º Código Civil).

Quanto aos inabilitados (artigo 152.º12 e 153.º13 do Código Civil),


aplica-se a Lei Civil, mas há remissão ao regime da interdição.

11
Incapacidades
Condição jurídica dos menores
Artigo 122.º do Código Civil
(Menores)
São menores as pessoas de um e outro sexo enquanto não perfizerem vinte e um anos
de idade.

Artigo 123.º Código Civil


(Incapacidade dos menores)
Salvo disposição em contrário, os menores carecem de capacidade para o exercício
de direitos.

Artigo 124.º Código Civil


(Suprimento da incapacidade dos menores)
A incapacidade dos menores é suprida pelo poder paternal e, suprida pelo poder
paternal e, subsidiariamente, pela tutela, conforme se dispõe nos lugares
respectivos.

12
Inabilitação
Artigo 152.º do Código Civil
(Pessoas sujeitas a inabilitação)

7
Situação dos menores (ver artigo 10.º Código Comercial)
Os menores autorizados, os interditos com tutor, e os inabilitados
com curador são comerciantes, quanto aos incapazes, sempre que
devidamente representados, são comerciantes, mas atenção, são
comerciantes os incapazes e não os seus representantes.

Quanto ao regime dos actos praticados pelos menores, estes são


anuláveis (artigo 125.º do Código Civil). O menor pode, pois,
praticar inúmeros actos comerciais, quer por serem da vida corrente,
quer por corresponderem a uma profissão que o menor tenha sido
autorizado a exercer, quer por porem em jogo apenas bens conseguidos
no exercício dessa profissão.

Proibições, Incompatibilidades, Inibições e Impedimentos


A profissão do comerciante está aberta a todas as pessoas, mas só
por excepção surgem casos em que ela é vedada:
As proibições gerais – são as que resultam de normas que vedam a
toda e qualquer pessoa singular, o exercício de determinado tipo de
comércio; por exemplo, a actividade bancárias pode ser exercida por
Sociedades Anónimas.

As incompatibilidades – impedem determinadas pessoas singulares,


colocadas em certas posições ou envolvidas em determinadas situações

Podem ser inabilitados os indivíduos cuja anomalia psíquica, surdez-mudez ou


cegueira, embora de carácter permanente, não seja de tal modo grave que justifique
a sua interdição, assim como aqueles que, pela sua habitual prodigalidade ou pelo
abuso de bebidas alcoólicas ou de estupefacientes, se mostrem incapazes de reger
convenientemente o seu património.

13
Artigo 153.º
(Suprimento de Inabilidade)
1. Os inabilitados são assistidos por um curador, a cuja autorização estão
sujeitos os actos de disposição de bens entre vivos e todos os que, em
atenção às circunstâncias de cada caso, forem especificados na sentença.
2. A autorização do curador pode ser judicialmente suprida.

8
jurídicas, de exercer o Comércio: é o que se passa com os
magistrados judiciais.

As incompatibilidades atingem determinadas pessoas não por si, mas


em função de cargos que exerçam. Vedam qualquer exercício comercial
e não podem ser afastadas por nenhuma autorização mas apenas com a
cessação da ocorrência que lhe deu origem.

As inibições – estas atingem selectivamente determinadas pessoas,


por factos que elas hajam perpetrado ou por situações nas quais se
achem incursas: é o caso da inibição de uma empresa falida que não
pode exercer a actividade comercial.

Os impedimentos – estes adstringem as pessoas nele incursas a não


praticar determinado tipo de comércio, salvo autorização; é o caso
das fundações e associações. O impedimento atinge a pessoa em
virtude de um cargo, mas ao contrário da incompatibilidade, não é
geral e pode ser cessar com uma autorização.

* A inibição é diversa da incompatibilidade: não está em causa o


exercício de nenhum cargo, mas uma ocorrência relativa, própria do
inibido. Ao contrário da incompatibilidade, ela não desaparece com a
cessação do exercício de quaisquer funções, mas, apenas de acordo
com certos mecanismos legais.

Nota Bem - O Estado e as autarquias, pela sua qualidade (de


autoridade), não adquirem a qualidade de comerciante (15.º Código
Comercial)

O Comerciante Pessoa Colectiva

9
Sociedades Comerciais – Estas são comerciantes natos (artigo 82.º/
214 e 83.º15, Código Comercial); o seu objecto é a prática de actos
comerciais.

A sua constituição atribui-lhe, desde logo, a comercialidade, ou


seja, as sociedades comerciais adquirem a personalidade no momento
do registo definitivo do acto constitutivo, tornando-se comerciantes
nesse momento; os seus actos são subjectivamente comerciais.

Mas as sociedades que tenham por objecto, exclusivamente, a prática


de actos não comerciais, são sociedades civis (980.º16 do Código
Civil), não comerciais.

Para além das sociedades comerciais, colocam-se dúvidas quanto a


outras pessoas colectivas: as Fundações e as Associações – são
consideradas como sendo comerciantes?

Resposta: – Não, porque de acordo com os critérios para aferir a


profissionalidade, estas não têm por fim o lucro; as Fundações têm

14
Tipos de Sociedades Comerciais
Artigo 82.º do Código Comercial
(Tipos de Sociedades comerciais)
1. São sociedades comerciais, independentemente do seu objecto, as sociedades
em nome colectivo, de capital e indústria, em comandita, por quotas e
anónimas.
2. As sociedades que tenham por objecto o exercício de uma empresa comercial
só podem constituir-se segundo um dos tipos societários previstos neste
artigo.

15
Artigo 83.º do Código Comercial
(Requisitos essenciais das sociedades comerciais)
São condições essenciais para que uma sociedade se considere comercial:
a) Que tenha por objecto praticar um ou mais actos de comércio;
b) Que se constitua em harmonia com os preceitos deste Código.

16
Sociedade
Artigo 980.º do Código
(Noção)
Contrato de sociedade é aquele em que duas ou mais pessoas se obrigam a contribuir
com bens ou serviços para o exercício em comum de certa actividade económica, que
não seja de mera fruição, a fim de repartirem aos lucros resultantes dessa
actividade.

10
fins sociais e as Associações não têm fim lucrativo, daí não serem
comerciais (157.º a 182.º Código Comercial).

Nota Bem – Se, porém, qualquer destas pessoas colectivas, por


necessidade de dispor de rendimentos, se dedicar ao exercício
comercial como actividade secundária, e o volume de negócios atingir
proporções consideráveis, o ente em causa deve constituir uma
sociedade autónoma para o efeito, e só neste caso seria comerciante.
Por exemplo, cooperativas.

Se essa actividade secundária se transformar em principal, temos que


tratar essa Fundação ou Associação como comercial, transformando-as
em sociedades comerciais.

Pessoas semelhantes a comerciantes – pessoas singulares ou


colectivas em relação às quais há dúvidas quanto à sua qualificação
como comerciantes:

A 1ª situação de dúvida é a situação dos mandatários comerciais


(465.º e 466.º Código Comercial – ver também Mandato Civil, artigo
1157.º Código Comercial - O mandato civil é uma modalidade do
contrato de prestação de serviços).

O mandato comercial é um regime especial em relação ao mandato


civil. Há mandato comercial sempre que o comerciante no exercício da
sua actividade comercial celebre negócios em nome de terceiros.

Artigo 1157.º do Código Civil – “Mandato é o contrato pelo qual uma


das partes se obriga a praticar um ou mais actos jurídicos por conta
da outra”.

11
Comerciantes são as pessoas singulares ou colectivas descritas na a)
do artigo 2.º do Código Comercial; Há outras pessoas que podem ser
comerciantes? – Os mandatários comerciais são pessoas que actuam
comercialmente em nome de um mandante; os seus actos repercutem-se
na esfera jurídica do mandante.

A doutrina tem discutido se o mandatário comercial é comerciante ou


não; segundo Meneses Cordeiro, se determinado mandatário tem como
profissão a representação de actos comerciais em nome de terceiros,
se tem autonomia em relação a esses terceiros e se tem uma
organização para esse efeito, deve então ser considerado
comerciante.

O Código Comercial tomou uma posição relativamente a esta matéria:


tratar o mandatário comercial como empresário comercial (subsume-se
o mandatário na a), artigo 2.º do Código Comercial).

Quanto aos profissionais liberais, em princípio não serão


comerciantes; a maioria das profissões liberais estão agrupadas
(ordem dos advogados, ordem dos engenheiros, etc); no entanto, para
alguns autores, se esses profissionais liberais exercerem a sua
actividade – mesmo em desrespeito à ordem da sua classe – com fins
lucrativos, devem ser considerados comerciantes.

Para outros autores, exercendo os profissionais liberais a sua


actividade com fins lucrativos, não devem logo ser considerados
comerciantes; devem primeiro ser expurgados da ordem profissional em
que estejam inseridos e ser depois tutelados no âmbito do Direito
Comercial.

Os agentes – são comerciantes;

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Os correctores de Bolsa (intermediários financeiros) – são
comerciantes.

A qualificação de actos como comerciais tem como objectivo


determinar que a dada matéria se apliquem os princípios e regras
específicas do Direito Comercial.

Forma dos Actos Comerciais e das Obrigações Comerciais

No Direito Civil temos o princípio da consensualidade (219.º Código


Comercial); este princípio ganha especial dimensão no Direito
Comercial, com vista a promover o Comércio; por exemplo, o n° 1 do
artigo 459.º do Código Comercial: “ Os títulos comerciais são
válidos, qualquer que seja a língua em que forem exarados”; aqui vê-
se que o Direito Comercial tende a desformalizar, tendo em vista a
promoção do Comércio.

Solidariedade passiva – Nos termos do artigo 513.º17 do Código


Civil, a solidariedade não se presume; no Direito Civil, a
solidariedade só existe quando resulta da Lei ou da vontade das
partes; no Direito Comercial, pelo contrário, a solidariedade
presume-se, isto é, a regra é a solidariedade (artigo 461.º do
Código Comercial).

Fiança – No Direito Comercial há solidariedade do fiador (artigo


462.º do Código Comercial); há uma derrogação do princípio geral do
artigo 638.º18 do Código Civil (benefício da excussão).

17
Artigo 513.º do Código Civil
(Fontes de Solidariedade)
A solidariedade de devedores ou credores só existe quando resulte da lei ou da
vontade das partes.

18
Artigo 638.º do Código Civil
(Benefício da exclusão)
1. Ao fiador é lícito recusar o cumprimento enquanto o credor não tiver
excutido todos os bens do devedor sem obter a satisfação do seu crédito.

13
Prescrição – Artigo 317.º, alínea b)19 do Código Civil – Os créditos
dos comerciantes prescrevem no prazo de 2 anos perante devedor não
comerciante; perante um outro comerciante, o prazo de prescrição é
um prazo de prescrição normal (20 anos – artigo 309.º20 Código
Civil). Portanto, dá-se maior prazo de prescrição aos créditos entre
comerciantes para que o Comércio seja incentivado.

Juros – No Direito Comercial vigora o princípio da onerosidade –


464.º, n° 2, Código Comercial (artigo 463, Código Comercial – ver
também o artigo 559.º do Código Civil).
Os juros dizem-se legais quando são previstos na lei (559.º Código
Civil);

Há uma especificidade no Código Comercial (463.º) em relação ao


Código Civil. A especificidade em relação ao artigo 560 do Código
Civil é que o artigo 463.º do Código Comercial aplica-se sempre que
haja mora e por períodos inferiores a 1 ano.

2. É lícita ainda a recusa, não obstante a excussão de todos os bens do


devedor, se o fiador provar que o crédito foi satisfeito por culpa do
credor.

19
Artigo 317.º do Código Civil
(Prescrição de dois anos)
Prescrevem no prazo de dois anos:
a) Os créditos dos estabelecimentos que forneçam alojamento, ou alojamento e
alimentação, a estudantes, bem como os créditos dos estabelecimentos de
ensino, educação, assistência ou tratamento, relativamente aos serviços
prestados.
b) Os créditos dos comerciantes pelos objectos vendidos a quem não seja
comerciante ou os não destine ao comércio, e bem assim os créditos daqueles
que exerçam profissionalmente uma indústria, pelo fornecimento de
mercadorias ou produtos, execução de trabalhos em gestão de negócios
alheios, incluindo as despesas que hajam efectuado, a menos que a prestação
se destine ao exercício industrial do devedor.
c) Os créditos pelos serviços prestados no exercício de profissões liberais e
pelo reembolso das despesas correspondentes.

20 Prazos da Prescrição

Artigo 309.º do Código Civil


O prazo ordinário da prescrição é de vinte anos.

14
O artigo 463.º do Código Comercial tem que ser interpretado em
conjunção com o artigo 560.º21 do Código Civil.

Os juros são convencionais quando resultam de convenção das partes;


há limites impostos aos juros convencionais pelo artigo 1146.º22 do
Código Civil (usura).

Juros remuneratórios são uma remuneração, correspondem ao


correspectivo valor pela indisponibilidade do dinheiro (por exemplo,
depósitos a prazo);

Juros moratórios é a indemnização pelo prejuízo causado ao credor


pela mora do devedor no cumprimento da obrigação (artigo 806.º23 do
Código Civil)24.

21
Artigo 560.º do Código Civil
(Anatocismo)
1. Para que os juros vencidos produzam juros é necessário convenção posterior
ao vencimento; pode haver também juros de juros, a partir da notificação
judicial feita ao devedor para capitalizar os juros vencidos ou proceder ao
seu pagamento sob pena de capitalização.
2. Só podem ser capitalizados os juros correspondentes ao período mínimo de um
ano.
3. Não são aplicáveis as restrições dos números anteriores, se forem
contrários a regras ou usos particulares do comércio.

22
Artigo 1146.º do Código Civil
(Usura)
1. É havido como usura o contrato de mútuo em que sejam estipulados juros
anuais superiores a oito ou dez por cento, conforme existe ou não garantia
real.
2. É havido também como usurária a cláusula penal que fixe como indemnização
devida pela falta de restituição do empréstimo, relativamente ao tempo de
mora, mais do que o correspondente a doze ou catorze por cento ao ano,
conforme exista ou não garantia real.
3. Se a taxa de juros estipulada ou o montante de indemnização exceder o
máximo fixado nos números precedentes, considera-se reduzindo a esses
máximos, ainda que seja a outra a vontade dos contraentes.

23 Artigo 806.º do Código Civil


(obrigações pecuniárias)
1. Nas obrigações pecuniárias a indemnização corresponde aos juros a contar do
dia da constituição em mora.

15
Responsabilidade dos bens dos cônjuges – Artigos 11.º e 12.º do
Código Comercial
Critério do Proveito Comum – O cônjuge só se pode opor se provar que
a dívida contraída pelo outro cônjuge não o foi em benefício do
património comum. Por exemplo, prova que o cônjuge comprou um
Ferrari para oferecer a uma “amiga”.

De notar que, além do trespassante (num negócio de trespasse), o


cônjuge também fica vinculado pela obrigação de não concorrência,
sendo relativamente indiferente para a questão o regime de bens do
casamento e a qualidade de bem comum ou próprio do estabelecimento
eventualmente a adquirir pelo cônjuge (além do facto de o
trespassante poder intervir na administração de empresa adquirida
pelo cônjuge e de as dívidas proveniente de exploração de tal
empresa poderem responsabilizar ambos os cônjuges, o cônjuge do
trespassante beneficiaria dos conhecimentos deste relativos ao
estabelecimento trespassado; a sua concorrência seria perigosa para
o trespassário; é também o caso dos filhos do trespassante, quando
com ele tenham colaborado na exploração da empresa transmitida).

Casos Práticos

2. Os juros devidos são os juros legais, salvo se entes da mora for devido a
um juro mais elevado ou as partes houverem estipulado um juro moratório
diferente do legal.

24
Obrigações de Juros
Artigo 559.º do Código Civil
(taxa de juros)
1. São de cinco por cento ao ano os juros legais e os estipulados sem
determinação de taxa ou quantitativo.
2. A estipulação de juros a taxa superior deve ser feita por escrito, sob pena
de serem apenas devido na medida de juros legais.

16
Pronuncie-se sobre se os seguintes contratos devem ou não ser
qualificados como actos de comércio; se a resposta for afirmativa,
indique se o critério da sua comercialidade é objectivo ou
subjectivo e se os actos são actos de comércio puros, bilaterais ou
unilaterais:

1 - Contrato de Compra e Venda de um imóvel rústico de que é


proprietário um agricultor que nele vem exercendo a sua actividade
agrícola; o comprador destina o prédio à exploração de uma pedreira,
actividade a que se dedica profissionalmente.

2 – Compra e Venda de um automóvel em 2ª mão, sendo o vendedor um


estudante da UZ e o comprador um comerciante. O contrato não fornece
outros dados relevantes.

3 - Contrato de doação de um quadro pertencente a uma sociedade


comercial, a favor de uma Fundação com fins culturais.

4 - Contrato celebrado entre uma sociedade e um docente da UZ para


que este último publicite os produtos da sociedade e angarie
potenciais clientes para celebrarem contratos com a sociedade.

17

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