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O Processo de Constituição
de Cooperativas de
Crédito Rural Solidárias
no Brasil
Fábio Luiz Búrigo
Adriano Michelon
Reginaldo S. Magalhães
Silvana Parente.
ASSESSORIA:
Wilson Dias
Ficha Técnica:
Reginaldo Magalhães
Especialista em elaboração e análise de políticas agrícolas pela Unicamp e mestre em Ciência Ambiental, pela USP. É
diretor da Plural Consultoria e Pesquisas, onde desenvolve trabalhos nas áreas de microfinanças, mercados e políticas
de desenvolvimento. É membro do grupo de pesquisas da USP Instituições do Desenvolvimento Territorial e
consultor do Ministério do Desenvolvimento Agrário.
Adriano Michelon
Assessor do Sistema Cresol de Cooperativas de Crédito Rural com Intenção Solidária desde sua concepção, formação
em ciências contábeis e especialização em cooperativismo, integrante do grupo de trabalho no BACEN que estuda
atualização normativa relacionado ao cooperativismo de crédito, consultor do Ministério do Desenvolvimento
Agrário e assessor da ANCOSOL.
1 Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
5 Condições operacionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
6 Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
1 Apresentação
Esta publicação é resultado de um estudo, fruto onde nossos consultores puderam, in loco, discutir
da parceria entre o Ministério do Desenvolvimento com mais conhecimento da realidade local a
Agrário e o Banco Central do Brasil, que em setembro viabilidade destas instituições.
de 2004, formalizaram um convênio para o apoio de
ações voltadas à expansão qualitativa e ordenada do Por outro lado, a atuação da SDT no
cooperativismo de crédito rural no Brasil, para fortalecimento dos Territórios Rurais, como
agricultores familiares e assentados da reforma estratégia para o desenvolvimento sustentável,
agrária. contribuiu para que diversas destas iniciativas
tivessem maior inserção social no âmbito local e
O convênio permitiu uma aproximação pudessem se apropriar com maior segurança dos
importante e inédita entre ambos os organismos, resultados deste processo.
buscando a cooperação técnica e o fortalecimento do
cooperativismo brasileiro, de modo a aperfeiçoar os É importante destacar também que a nossa
mecanismos de divulgação e os modelos intervenção, a partir deste convênio com o Banco
institucionais de atuação das cooperativas de crédito Central, permitiu às cooperativas de crédito da
no país. agricultura familiar, uma maior visibilidade e
reconhecimento de suas instâncias de representação
Sob a coordenação e a atuação direta de nossa nacional junto aos diversos órgãos da esfera federal.
Secretaria neste processo, foi possível conhecer mais
de perto a realidade diversa das regiões do país e as Com o sentimento de que este trabalho
diferentes motivações de grupos organizados representa um marco na historia do cooperativismo
interessados em constituir cooperativas de crédito de crédito brasileiro, desejamos a todas as pessoas
rural, a partir da elaboração de pareceres técnicos, interessadas neste tema, uma boa leitura.
Humberto Oliveira
Secretário de Desenvolvimento Territorial
Ministério do Desenvolvimento Agrário
2 Introdução
As imperfeições do mercado financeiro brasileiros existiam 1.600 sem agencia e sem PAA;
nacional vêm se constituindo num dos entraves para no final de julho de 2005, esse numero subira para
o desenvolvimento social e econômico brasileiro. 1.765. Além disso, em 2.170 municípios havia apenas
Um estudo patrocinado pelo Banco Mundial, em uma dependência bancária (1.536 contavam com
2003, assinala que apesar de sua grande sofisticação uma agência e 634 com um PAA).
tecnológica e altos níveis de lucratividade e número
de filiais, a rede bancária brasileira apresenta Vale ressaltar também que nem sempre a
debilidades estruturais, especialmente quando simples presença de filiais ou PAA de grandes
analisada sob o prisma do atendimento das bancos consegue atender as necessidades dos
necessidades financeiras de setores sociais excluídos do Sistema Financeiro Nacional (SFN). O
específicos e territórios de menor renda. Essas referido estudo do Banco Mundial assinala que sem:
disparidades ocorrem tanto em bairros de uma
[...] recursos com o objetivo explícito de alcançar os
cidade quanto em regiões do país. Ou seja, os
excluídos, mesmo que essas áreas sejam identificadas
e xc l u í d o s e s t ã o e n t r e o s m a i s p o b r e s
adequadamente, o fornecimento de um posto de serviços
economicamente, entre os que residem distante dos
propriamente dito não é suficiente para garantir o acesso
centros maiores e entre os membros de
aos serviços financeiros pelos grupos com menor renda
comunidades segregadas socialmente (KUMAR,
(KUMAR, 2005, p.1).
2005). Segundo dados do Banco Central (BC),
através dos correspondentes bancários e do Banco Fruto dessas constatações é que a experiência
Postal foi possível estender rapidamente a cobertura internacional tem revelado o papel estratégico das
financeira a todos os municípios brasileiros. Se no Instituições Financeiras Locais (IFLs) na
final de 2003 existiam 26.755 pontos de democratização dos serviços financeiros e na
atendimento, em 2004 este número já estava em implementação de projetos de desenvolvimento
46.222, indicando um grande crescimento da oferta local e dentro de uma escala de proximidade. Por sua
desse tipo de serviço. Apesar do saldo positivo, os vez, as instituições microfinanceiras (IMFs), que se
correspondentes nem sempre conseguem atender a difundiram pelo mundo a partir dos anos 1980,
demanda de serviços e produtos financeiros de uma sugerem que os pequenos créditos podem ser
comunidade, pois não oferecem o mesmo empregados como elementos geradores de capital
tratamento e nem a qualidade disponível nos bancos social, ajudando na emancipação das populações
e nas cooperativas de crédito. Além do mais, se a mais pobres, principalmente quando são utilizados
eliminação de municípios desasistidos de associados com outras políticas sociais e
atendimento financeiro encerrou um grave econômicas. Outro aspecto a se considerar é que o
problema social, a cobertura bancária via agências ou crédito induz inovações, podendo ser útil em
postos de atendimento avançado (PAA) está iniciativas que visam alterar a base produtiva e o
diminuindo: no final de 2003, dos 5.578 municípios padrão tecnológico. É por isso que diversos projetos
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específicos escaparem de taxas abusivas cobradas reuniram-se e sistematizaram-se as informações
pela rede bancária tradicional. A formação de novas sobre a região e o município em que se pretendia
cooperativas de crédito rurais vem sendo estimulada iniciar a cooperativa de crédito, bem como se fez
pelos próprios sistemas e seus órgãos de uma análise do Plano de Viabilidade enviado ao BC,
representação, mas também por diversas pelo grupo proponente. Em seguida realizou-se uma
organizações populares, que apóiam as experiências visita para conhecer a "in loco" a experiência e
locais e regionais. No Governo Federal, além do conversar com as principais lideranças da
tradicional apoio que o cooperativismo sempre cooperativa. Nessa visita são contatadas também as
recebeu no Ministério da Agricultura, recentemente organizações que informaram prestar apoio à
ele vem ganhando suporte da Secretaria Nacional da entidade. Na medida do possível realizaram-se ainda
Economia Solidária (Senaes) do Ministério do visitas aos futuros associados e às outras
Trabalho e Empreg o. No Ministério do experiências associativas, desenvolvidas pelos
D e s e n vo l v i m e n t o A g r á r i o ( M DA ) , o proponentes. De posse das informações secundárias
cooperativismo de crédito galgou destaque depois e dos dados e das impressões colhidas no contato, o
da instalação do Programa de Fomento ao consultor elabora seu Parecer Técnico seguindo um
Cooperativismo da Agricultura Familiar e Economia roteiro padrão em que são elencadas questões como:
Solidária (Coopersol). O Programa foi criado em o histórico do processo, o potencial sócio-
2004 pela Secretaria de Desenvolvimento Territorial econômico da região, a capacidade de angariar
(SDT) e pela Secretaria da Agricultura Familiar apoios materiais, políticos e o quadro de articulação
(SAF). institucional da iniciativa, o grau de capacitação
técnica dos envolvidos e como pretendem
O presente documento pretende discutir o desenvolver a gestão da futura cooperativa. Por fim é
processo recente de constituição das cooperativas de efetuada uma avaliação geral e emitida uma opinião a
crédito rural de economia familiar e solidária no respeito da viabilidade da proposta. Ressalte-se que a
Brasil. Visa resgatar os elementos que têm análise do MDA se debruça, sobretudo, sobre os
impulsionado e os que têm dificultado esse intento. aspectos sociais e organizativos da iniciativa e menos
Ao fazê-lo busca, igualmente, sistematizar as lições sobre as informações de natureza financeira, já que
apreendidas pelos promotores dessas experiências, estas são avaliadas diretamente pelo BC. Ou seja, a
bem como apresentar sugestões para qualificar o partir das informações procura-se diagnosticar as
processo de expansão do cooperativismo de crédito motivações e o grau de inserção da iniciativa nas
no país. Tomou-se como base as cooperativas de comunidades em que pretende atuar, os apoios que
crédito rurais solidárias que se organizaram no detêm e se o grupo proponente conhece as
período que vai de junho 2003 (emissão da responsabilidades de gerir uma cooperativa de
Resolução 3.106 do BC) à dezembro de 2004, crédito.
aproximadamente. Terá como fonte principal de
consulta 38 Pareceres Técnicos elaborados por O presente artigo apresentará, na primeira
consultores do MDA que visitaram as regiões e os parte, uma retrospectiva dos pedidos de constituição
grupos proponentes das novas cooperativas. e as autorizações outorgadas pelo BC no período. Os
Aproveita também a experiência profissional dos dados serão apresentados por sistema e por região.
autores nessa área. Em termos metodológicos o Em seguida são elencados as principais motivações e
trabalho dos consultores do MDA consistiu-se um panorama dos processos organizativos que
basicamente de três etapas. Em primeiro lugar, culminaram na criação das cooperativas. Uma
10
3 A Evolução Recente do Cooperativismo
de Crédito no Brasil
No último ano nota-se uma pequena redução grosso modo, o processo de crescimento econômico
no número de cooperativas de crédito, mesmo do país, reproduzindo, por isso, algumas de suas
continuando a existir um processo de expansão. disparidades em termos geográficos e desequilíbrios
Como se verá, entre 2003 e 2004, o ritmo de criação demográficos, gerados pelo aumento exacerbado das
de novas cooperativas de crédito diminuiu em função taxas de urbanização. Desse modo, foi no Sul e no
das mudanças na legislação. Mas, contribuiu também Sudeste que o cooperativismo de crédito ressurgiu
para isso o crescimento da fiscalização, que tem com mais força. Foi também nos centros urbanos, via
levado ao cancelamento de cooperativas sem as categorias profissionais e trabalhadores de
viabilidade, e a continuidade de movimento de empresas públicas e privadas (crédito mútuo), que ele
verticalização dos maiores sistemas. Sobretudo no ganhou mais expressão. Ressalte-se, todavia, que
espaço rural, esse movimento tem reduzido o mesmo não se tendo dados precisos sobre o número
número de cooperativas de pequeno porte, que são de cooperados em cada ramo de atividade, quando
analisadas em relação ao percentual da população, as como também entidades que prestaram apoio à
cooperativas de crédito são ainda mais presentes no organização desse tipo de cooperativismo, das
meio rural. Isso pode ser verificado através da Tabela diferentes partes do Brasil. Tal articulação ganhou
1, que aponta a composição geral do cooperativismo novo impulso em 2004, com a constituição da
de crédito brasileiro, em julho de 2005. Associação Nacional do Cooperativismo de Crédito
da Economia Familiar e Solidária (Ancosol) e, mais
Embora o Brasil detenha em torno de 20% da recentemente, em 2005, através da fundação da
sua população no campo, o cooperativismo de União Nacional das Cooperativas da Agricultura
crédito rural representa mais de 31% do total das Familiar e da Economia Solidária (Unicafes).
cooperativas de crédito, o que certamente indica sua
maior penetração no tecido social rural. Desde 2003, o cooperativismo de crédito
brasileiro vive sob a égide de um novo marco legal.
Sob o ponto de vista da representação política, Através da Resolução 3.106 e de outras medidas
os diferentes sistemas cooperativos brasileiros vêm complementares, o Governo Federal reestruturou o
se aglutinado em dois campos principais1 . De um setor visando estimular a propagação do
lado, estão os principais sistemas existentes cooperativismo de crédito pelo país. Além de
atualmente (Unicred, Sicoob e Sicredi), que atuam estabelecer novas atribuições às centrais de crédito e
sob a égide de estruturas integradas de representação permitir a criação de cooperativas de livre admissão,
ligadas à Organização das Cooperativas Brasileiras as novas regras introduziram exigências extras para
(OCB). Trafegam por espaços institucionais já autorizar o funcionamento das cooperativas. Pela
conhecidos e que podem, por isso, ser denominados Resolução 3.106 os interessados precisam enviar
de entidades ligadas ao cooperativismo tradicional. previamente ao BC um plano de viabilidade,
De outro, estão os sistemas e as cooperativas de contendo um detalhamento de como se será a gestão
crédito que se autodenominam de solidárias. A partir da futura cooperativa e as projeções em termos de
de 2000, estas organizações estabeleceram uma
articulação própria, depois de atuarem por alguns 1
Esta separação nem sempre corresponde em diferenças muito claras na
anos de forma independente. Criaram um Fórum forma de atuação, principalmente quando se observa a atuação cotidiana das
cooperativas singulares. Servem apenas para se compreender o desenho
congregando sistemas e cooperativas de crédito, político e as forças sociais que se movem no setor.
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crescimento. Segundo o BC, as medidas deveriam dar crédito e, de outro, as dificuldades em se cumprir
maior consistência aos pedidos de autorização, novas exigências legais limitavam essa expansão.
evitando a formação de cooperativas de crédito em
situações em que os grupos proponentes se Diante desse paradoxo e depois de muitas
mostrassem despreparados e sem apoio social para pressões sociais, o próprio Governo passou a buscar
organizar tal empreendimento. alternativas para agilizar o processo. Uma das ações
foi a de aumentar o número de funcionários do BC
Mas, os novos procedimentos acabaram dedicados às cooperativas de crédito. Criou-se,
diminuindo o ritmo de criação de cooperativas no inclusive, um Departamento de Fiscalização de
país. Isso pode ser comprovado pelas informações Instituições Não Bancárias, em que as cooperativas
do próprio BC, que apontavam que em 2002, 2003 e de crédito estão inseridas. Ao mesmo tempo, o BC e
2004 foram abertas, respectivamente, 84, 60 e 21 o MDA celebraram um acordo visando agilizar os
novas cooperativas de crédito. Ou seja, apesar do processos de autorização de funcionamento das
estímulo do Governo Federal, no ano anterior cooperativas de crédito rurais. Através do referido
nasceram mais cooperativas de crédito do que no ano Convênio, os técnicos do MDA passaram a emitir
posterior a publicação das medidas. Em janeiro de pareceres técnicos, ajudando o BC avaliar o grau de
2005, um levantamento a respeito das solicitações organização do g r upo proponente e as
das novas cooperativas de crédito desde a publicação possibilidades da experiência ter êxito.
da Resolução 3.106, comprovava que o Sul e o
Sudeste continuavam a liderar os pedidos analisados A partir de janeiro de 2005, a equipe de
e os aprovados pelo BC. A Tabela 2 apresenta estas consultores do MDA passou a visitar as experiências
informações. e encontrar as lideranças que tinham enviado
pedidos de autorização ao BC. As tabelas a seguir
Percebe-se que as novas regras acabaram discriminam as cooperativas de crédito que foram
gerando uma situação impensada pelos promotores contatadas entre janeiro e julho de 2005, indicando o
oficiais do cooperativismo de crédito. De um lado, os sistema, o município, o estado e a situação do pedido
programas governamentais e as iniciativas da e se ele foi considerado nas análises qualitativas
sociedade civil propagavam o cooperativismo de desenvolvidos no presente artigo.
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Tabela 4 - Cooperativas analisadas pelo Convênio BC / MDA (2)
Sistema Município sede UF Situação* Parecer analisado
1. CREDSOL Muqui ES 3 X
2. CREDSOL Colatina ES 3 X
3. CREDSOL Montanha ES 3 X
1. CREHNOR Tupanciretã RS 2 X
2. CREHNOR Ijuí RS 3
3. CREHNOR Eldorado do Sul RS 2 X
4. CREHNOR Palmitos SC 3
1. CREDITAG Silvânia GO 3 X
2. CREDITAG Fervedouro MG 2 X
3. CREDITAG Cláudio MG 2 X
4. CREDITAG Capão Bonito SP 2
5. CREDITAG Apiaí SP 2** X
6. CREDITAG Ibiúna SP 2
7. CREDITAG Guarulhos e região SP 2
8. CREDITAG Goiânia GO 2 X
9. CREDITAG Sabinópolis MG 2
10. CREDITAG João Pinheiro MG 2
11. CREDITAG Belo Jardim PE 2 X
12. CREDITAG Caruaru PE 2 X
13. CREDITAG Tapiramutá BA 2
14. CREDITAG Brejo da Madre de Deus PE 2 X
15. CREDITAG Bonito BA 2
16. CREDITAG Morro do Chapéu BA 2
17. CREDITAG Pontes e Lacerda MT 2 X
18. CREDITAG Porto Esperidião MT 2 X
19. CREDITAG S. José Quatro Marcos MT 2 X
20. CREDITAG Cáceres MT 2 X
1. ECOSOL Araripe Ouricuri PE 3
2. ECOSOL Serra Talhada PE 3
3. ECOSOL Tupi Paulista SP 2**
4. ECOSOL Espera Feliz MG 2
5. ECOSOL Simonésia MG 2
* Cooperativa: em (1) em formação; (2) em análise no BC; (3) autorizada; ** processos arquivados para a criação de duas cooperativas
(desmembramento). Dados de setembro de 2005. Fonte: BC. Adaptado pelos autores.
Nº de solicitações de Cooperativa
Situação /Região Maio 2003 Julho 2005 cooperativas de solidárias com Planos
Nº % Nº % Nº % Nº %
* Apenas as cooperativas de créditos incluídas no Convênio MDA / BC (dados de setembro de 2005). Fonte: BC. Adaptado pelo
autor.
Nota-se que em torno de 44% dos pleitos continua sendo um grande desafio. Nem mesmo
submetidos aos pareceres do MDA (66) já tiveram os sistemas solidários possuem planos de
seus planos de viabilidade aprovados pelo BC (29). expansão para aquela região.
Sabe-se que algumas das cooperativas de crédito
autorizadas já estão com as portas abertas e outras O trabalho passará analisar agora questões
estão finalizando os atos constitutivos. Por outro qualitativas relacionadas à constituição de uma
lado, o cooperativismo de crédito na região Norte cooperativa de crédito rural solidária.
16
4 O Processo de Constituição das
Cooperativas de Crédito
A formação de uma cooperativa de crédito envolve sua vez, têm a percepção de que os agricultores
um conjunto complexo de estratégias de organização familiares possuem negócios frágeis e instáveis, não
social. Mais do que a constituição de uma se comportam como empreendedores, desenvolve
organização financeira em si ela deve significar uma uma atividade de alto risco, cujo financiamento
reorganização ou a formação de um novo mercado apresenta elevado custo operacional. Esta grande
financeiro local. A análise do potencial de distância entre os agricultores familiares pobres e os
sustentabilidade das novas organizações depende bancos faz com que o mercado financeiro formal,
então da análise dos aspectos econômicos do público inclusive os bancos públicos, se direcione para as
alvo e dos territórios, mas também da qualidade das categorias de agricultores familiares que estão mais
redes sociais formadas entorno das cooperativas. integradas às cadeias agroindustriais e aos canais de
Após uma rápida consideração sobre o contexto comercialização formais, ou para aqueles que já se
institucional dos mercados financeiros onde estão encontram em estágio avançado de organização em
sendo constituídas as novas cooperativas de crédito, cooperativas de produção, beneficiamento e
esse tópico analisará as motivações, a relação com os comercialização. Os técnicos e gerentes dos bancos
bancos, o capital social, as relações entre mercados, públicos têm uma compreensão incompleta, para
as relações de proximidade, as estratégias de não dizer incorreta da agricultura familiar, suas
concorrência e o conhecimento sobre o público que características, potenciais e fragilidades. Em geral
as cooperativas pretendem atender. vêem o desenvolvimento rural de modo setorial e
empresarial e se orientam por um protótipo de
sucesso oriundo de negócios urbanos, industriais e
4.1 O contexto local dos mercados financeiros comerciais. Essa perce pção tem g erado
formais incompreensões e conflitos quanto a estratégias de
Apesar de se observar uma expansão do desenvolvimento rural, como é o caso da necessidade
atendimento financeiro no território nacional nos de diversificação de atividades da unidade familiar ao
últimos anos, os agricultores familiares, sobretudo os invés da preferência que os bancos dão a
mais pobres que se encontram em municípios de especialização setorial e ao aumento de escala. São
frágil base econômica, se acham ainda excluídos do estratégias opostas as das organizações dos
sistema financeiro formal. Para os agricultores agricultores familiares, que apostam, por exemplo,
ligados as novas cooperativas, "os bancos não se em pequenas agroindústrias familiares rurais ao invés
interessam em operar com os pobres e só emprestam de grandes agroindústrias, ou em agricultura
para quem já tem dinheiro". Quando indagados orgânica e agroecologia e não na agricultura
porque eles acham que os bancos se comportam convencional, que privilegia a utilização de insumos
assim, dizem que é porque "os agricultores pobres químicos. Além disso, os bancos analisam
não têm unidade rural estruturada e não têm geralmente propostas individuais, enquanto muitos
garantias para dar". Reclamam também da falta de agricultores familiares buscam se viabilizar e se
informação sobre os financiamentos. Os bancos, por fortalecer através de organizações coletivas, com o
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bancária. Considerando que a exclusão vem da social e política que a luta pelo crédito trouxe à
própria fragilidade da agricultura, as cooperativas agricultura familiar, e que marcou as lutas sindicais
deverão atuar em parceria com outras entidades de rurais da última década, parece ofuscar quase
apoio e articuladas com projetos de desenvolvimento totalmente outros papéis que as cooperativas de
local, de capacitação e fortalecimento organizacional crédito poderiam e deveriam desempenhar. Isto
dos agricultores. provoca uma grande preocupação quanto a
sustentabilidade das cooperativas e quanto ao seu
Em algumas cooperativas do Espírito Santo,
papel no desenvolvimento dos territórios. As
vinculadas ao sistema Credsol, a principal motivação
experiências de gestão do Pronaf nas cooperativas
é fortalecer a capacidade de atrair programas de
mais antigas mostram que sues recursos não podem
financiamento governamentais, com vistas a
ser tratados de forma isolada de outros serviços
viabilizar projetos de desenvolvimento local e
financeiros. A mobilização da poupança, por
regional com foco nos agricultores familiares. Para as
exemplo, é fundamental tanto para a sustentabilidade
lideranças das regiões de Muqui, Montanha e
das cooperativas, quanto dos próprios agricultores
Colatina "é necessário construir uma instituição
familiares. Reverter essa visão é um grande desafio
financeira que tenha o enfoque do desenvolvimento
para as novas cooperativas e seus sistemas.
territorial!".
Além da ampliação e facilitação do acesso ao
Pronaf, a motivação para a criação da cooperativa de 4.3 A relação entre as cooperativas de crédito e
Cerro Largo (RS) é o desejo de transformar a matriz os bancos
produtiva local, com a diversificação de atividades
Como foi visto acima, a formação de
como leite e hor tifr utig ranjeiros, a
cooperativas de crédito são marcadas pela forte
agroindustrialização familiar, em especial de
crítica que os agricultores familiares fazem a atuação
produtos orgânicos. Uma motivação correlata é a
dos bancos. As lideranças admitem, entretanto, que
vontade de fortalecer o controle social por parte dos
mesmo não atendendo os agricultores familiares, os
ag ricultores familiares. Segundo eles, a
bancos são importantes para o desenvolvimento
transformação da matriz produtiva só será possível
local e podem ser parceiros das cooperativas de
com uma organização financeira local controlada por
crédito. Em muitos municípios, a parceria entre
próprios envolvidos. Assim poderão financiar
sindicatos de trabalhadores rurais e o Banco do Brasil
projetos alternativos e inovadores, com garantias
(BB) tem criado estratégias eficazes de redução dos
solidárias e baixa inadimplência. Outra grande
custos de acesso ao Pronaf. Na maioria dos casos, é o
motivação é a busca pela permanência dos jovens nas
sindicato que divulga o Pronaf, organiza grupos de
áreas rurais. É o caso de Guarani das Missões (RS),
produtores, discute as possibilidades de
município que possui uma Escola Agrícola Federal
financiamento, prepara as propostas para os bancos,
que apesar de formar muitos jovens, "exporta-os"
recolhe, encaminha a documentação exigida, faz o
para outras regiões do país, por falta de condições de
trabalho operativo de análise de risco e tomada de
aproveitá-los em atividades locais. Com a cooperativa
decisão sobre a concessão e, em alguma medida,
de crédito rural solidária, esperam eles, ficará mais
controla e negocia os casos de inadimplência. Vale
fácil ampliar oportunidades para que esses jovens
ressaltar, que a despeito de todo esse trabalho, são os
permaneçam em suas regiões de origem.
bancos quem recebem quase que integralmente o
Em raras situações, as lideranças vêem a
cooperativa como um instrumento de mobilização 2
Remuneração recebida pelos bancos a título de pagamento
da poupança local e de acesso a outros serviços dos custos administrativos e tributários dos contratos do
financeiros, além do crédito. A enorme importância Pronaf.
20
cooperativas. Em outros municípios participam assentamentos. O seu papel na rede será o de
também vários tipos de associações, organizações org anizar os produtores e dar apoio à
estaduais de assistência técnica, várias ONGs, comercialização. A Cooptec é uma cooperativa de
universidades, igrejas, Sebrae, diversos movimentos assistência técnica, que dará suporte técnico aos
sociais e outras cooperativas. São mobilizações agricultores que receberem financiamento da
sociais em torno de um objetivo comum: aumentar a cooperativa de crédito. A formação desse plano
poupança local e fortalecer a capacidade de financiar integrado de financiamento, de produção e de
o desenvolvimento local. No município de Cáceres comercialização deverá favorecer as condições de
(MT), por exemplo, estão participando da criação da sustentabilidade do conjunto de toda a cadeia de
cooperativa de crédito o Sindicato dos Trabalhadores negócios.
Rurais, a Prefeitura Municipal, a Câmara de
Vereadores, a agência do BB, o Conselho Municipal
de Desenvolvimento Rural Sustentável, a Associação 4.5 A relação entre as cooperativas de crédito e
Comercial e Conselho Estadual de Desenvolvimento outros mercados
Rural Sustentável. As cooperativas de Brejo da Madre A existência de relações entre diferentes
de Deus (PE), de Caruaru (PE) e algumas outras mercados é uma característica importante na
estão amarrando, durante o processo de constituição, formação de novos mercados. Recursos econômicos
protocolos de parceria com órgãos estaduais e e não econômicos, como conhecimento,
ONGs, que prestam serviços de assistência técnica. informação, clientes e fornecedores, parcerias, de um
Uma orientação geral nesse sentido, por parte dos mercado podem ser transferidos para outro em
sistemas e das instituições de apoio, seria muito formação (FLINGSTEIN, 2001). As cooperativas
importante para reunir condições locais mais de crédito financiam atividades que dependem de
favoráveis a sustentabilidade das cooperativas e dos mercados específicos para se tornarem viáveis. O
negócios por elas financiados. conhecimento das condições dos mercados dos
Mas, infelizmente, na maioria dos casos estas quais dependem as atividades que são financiadas
parcerias falham, por não transformar esse grande pelas cooperativas de crédito é fundamental para
potencial num planejamento articulado de ações, uma oferta adequada de serviços e para a avaliação
com papeis e responsabilidades bem definidas, metas mais precisa dos riscos envolvidos. Embora existam
e critérios de avaliação e em contratos formais que grandes potenciais em diversas atividades agrícolas e
garantam os compromissos de cada organização. não agrícolas nos territórios onde estão sendo
Infelizmente, sem bons planejamentos, as redes constituídas as cooperativas, há poucos casos de
sociais não passam de boas intenções. estratégias bem articuladas de integração de serviços
financeiros às iniciativas de organização da produção
Um exemplo positivo, e que caminha no sentido
e de acesso a outros mercados. O planejamento dos
contrário dessa tendência, é o da Cooperativa de
serviços financeiros e do quadro social, na maioria
Tupanciretã (RS), que tem uma estratégia bem
das cooperativas, não tem levado em conta a
formulada de formação de uma rede de
importância da formulação de planos integrados de
organizações. Três organizações planejam um plano
produção, comercialização e financiamento. Dentre
integrado de trabalho junto aos agricultores,
as novas cooperativas, o caso que parece ter a
articulando o financiamento com a orientação
estratégia mais bem articulada entre dois mercados é
técnica, o apoio à gestão e à comercialização. A
de São João (PR), cuja proposta de trabalho passa por
Cooperterra é uma cooperativa de produção, criada
uma parceria com a cooperativa de leite da
há dois anos e possui cerca de 300 associados, cuja
agricultura familiar (Claf). Os serviços que serão
principal atividade é o apoio à produção de leite nos
oferecidos pela futura cooperativa de crédito estão
22
desenvolvimento local e grupos solidários criam aproveitados para permitir a devolução dos
laços de cooperação, reduzem custos, riscos e empréstimos a um custo baixo de monitoramento
ampliam o alcance dos serviços para pessoas que não das operações. Em vários municípios visitados pelos
tinham, até então, acesso a serviços financeiros pareceristas não há uma forte articulação de
formais. A oferta de serviços de capacitação organizações locais. Associações comunitárias,
integrados ao crédito, através de parcerias entre as municipais ou regionais, sindicatos, cooperativas de
instituições de microfinanças e organizações de produção, conselhos e grupos religiosos estão
capacitação e assistência técnica, amplia as condições presentes e participando da criação de cooperativas
de sustentabilidade dos negócios financiados e de crédito em quase todos os municípios. Mas, da
aumenta a segurança das IMFs. Os comitês de análise mesma forma que as redes de cooperação necessitam
de projetos, formados por lideranças e técnicos de planejamento e de contratos, a construção de
locais, qualificam a análise dos projetos e constroem relações de proximidade depende de políticas
direcionamentos estratégicos que são fundamentais claramente organizadas com esse objetivo.
para o sucesso dos negócios financiados pelas IMFs.
Na Cooperativa de Águas de Chapecó (SC), a
Estes e vários outros sistemas de governança para
estratégia principal de gestão do risco é a criação de
microfinanças (MAGALHÃES, 2003) são
um comitê de crédito, com representantes das
fundamentais para a sustentabilidade, nas suas várias
comunidades. O Comitê será formado por pessoas
dimensões.
das mesmas comunidades das quais virão os pedidos
Outro aspecto importante no uso de métodos de financiamento. Assim, ao analisar os riscos se
adequados aos mercados de microfinanças é a gestão poderá levar em conta informações que não estariam
do risco. Os bancos dispõem geralmente apenas de disponíveis nos métodos formais e impessoais de
informações cadastrais sobre os seus clientes. Já gestão de risco. Na Cooperativa de Eldorado do Sul
organizações com relações de proximidade contam (RS) a estratégia principal de gestão do risco é a
com uma densa rede de informações formada por formação de grupos de aval solidário nos núcleos de
associações comunitárias, sindicatos e diversos tipos base dos assentamentos. Nesse caso, recorre-se
de organizações locais, formais ou informais. Esta também aos vínculos comunitários e de vizinhança
rede de informações possibilita às organizações para controlar o comportamento dos associados
obter informações mais completas e uma análise frente as suas obrigações para com as cooperativas.
mais precisa sobre os riscos dos financiamentos,
Em Blumenau (SC), onde existem vários bancos
reduzindo assim a assimetria de informações e a
estabelecidos, os agricultores não temem a
seleção adversa. Esta rede de informações permite
concorrência na praça. Segundo eles nenhum banco
também às instituições operar com custos de
tem a capacidade de atender os agricultores
transação mais baixos. A freqüência e a continuidade
familiares da forma como eles pretendem que a
das relações entre as instituições financeiras e os
Cooperativa faça: estabelecer relações de
usuários, assim como de toda a rede de informações e
proximidade e que respeite a cultura germânica,
relações existentes, promove o fortalecimento de
privilegiando o atendimento personalizado e na
laços de confiança entre as organizações e os
língua alemã.
indivíduos. Esta é uma das maiores virtudes das
tecnologias de empréstimos que se apóiam em
grupos de aval solidário: o trabalho recente de 4.7 O conhecimento da demanda local
Moreira (2005), sobre a organização de microcrédito
da Prefeitura de São Paulo (São Paulo Confia) mostra A maioria das cooperativas demonstra pouco
bem como os laços sociais já existentes são conhecimento sobre as demandas de sua base social
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diversos meios de constrangimento moral como cobram 5% ao mês de juros sobre os empréstimos.
forma de garantir os pagamentos combinados. As lideranças locais acreditam que a transferência do
Muitas vezes, o serviço de financiamento informal prestígio e legitimidade do sindicato para a
está associado com a compra de produtos agrícolas, cooperativa é o que irá construir uma relação de
como a tradicional "venda na palha", "venda na confiança que não existe entre os agricultores e
pedra", "aviamento", etc. Estas instituições agiotas. Além disso, a Cooperativa oferecerá serviços
financeiras informais formam, muitas vezes, que não estão hoje disponíveis para os agricultores
pequenos monopólios, exercem forte controle sobre familiares, nem nas agências bancárias, nem no
a população rural, que fica, sob essas condições em mercado informal, com custos mais baixos.
permanente endividamento (MAGALHÃES, 2005). Convênios com o BNDES, BRDE e Banco Popular
do Brasil vão ampliar a oferta de serviços e espera-se
Em Águas de Chapecó (SC) e nos outros quatro
assim conquistar a fidelidade dos futuros sócios da
municípios que irão compor a área de abrangência da
cooperativa de crédito.
futura cooperativa existem cinco agências bancárias.
A maioria dos agricultores familiares não utiliza Em Tupanciretã (RS), a futura Cooperativa está
serviços formais de poupança, conta corrente ou sendo organizada com apoio direto do Movimento
cheque, devido ao alto valor das taxas, ao Nacional dos Trabalhadores Sem Terra. As
relacionamento distante com os gerentes, à lideranças locais acreditam que o principal fator de
dificuldade de utilizar o caixa eletrônico e à atração de cooperados será a oferta de serviços mais
dificuldade de entender os extratos. Os aposentados adequados à realidade dos assentamentos,
são os que mais se queixam das filas e do mau principalmente os repasses de crédito de custeio e
atendimento dos bancos. Por esse motivo, a investimento, o crédito habitação e a oferta de
população utiliza os serviços financeiros de agiotas serviços como cheques, cobrança de água e luz,
que oferecem serviços de crédito e de poupança e, empréstimos pessoais, custeio pecuário e pagamento
nesse caso, em condições bem vantajosas. Segundo as de benefícios do INSS. Segundo seus proponentes,
lideranças do município, os agiotas pagam em média as principais vantagens da nova cooperativa de
2 % ao mês sobre o dinheiro que lhes é confiado e crédito com relação às demais instituições
financeiras da região serão as cobranças de tarifas
mais baixas que os bancos, juros mais baixos nos
28
6 Condições Operacionais
Em primeiro lugar, o presente trabalho ajudou a crédito, as condições estruturais em que elas estão
se perceber que o cooperativismo de crédito não está sendo assentadas e como está se dando o
se desenvolvendo de maneira uniforme nas envolvimento da comunidade local. A partir da
diferentes regiões do país, como seria o desejável. A análise dos pareceres foi possível identificar
situação mais preocupante está no Norte, onde não igualmente que apesar da significativa expansão da
existem projetos de expansão, nem mesmo das redes cobertura bancária, a exclusão dos agricultores dos
solidárias. A boa novidade vem, todavia, do serviços financeiros formais ainda é marcante e
Nordeste, onde se nota o surgimento de um constitui-se num dos principais motivos para a
movimento mais articulado de criação de mobilização dos atores sociais para a criação de
cooperativas de crédito rural solidárias. cooperativas de crédito no país.
32
informações e de novos serviços da cooperativa. Os recursos oficiais destinado a suas filiadas. Assim,
agentes se reúnem na cooperativa a cada mês para pode-se imaginar que a sua mediação tornará mais
avaliar a situação dos associados e os problemas da factível a criação de compromissos das cooperativas
cooperativa. Os agentes são também consultados de crédito com os programas de desenvolvimento. A
pelos dirigentes para a avaliação do risco de crédito. articulação da Ancosol e das suas filiadas poderá
garantir, por exemplo, que a participação das
É necessário, portanto que as novas cooperativas de crédito junto ao Pronaf vá além do
cooperativas estabeleçam alguns uso do crédito.
mecanismos para estimular a formação de
sistemas de governança, fortalecendo assim Fica claro também que abertura de cooperativas
suas condições de sustentabilidade. Alguns de crédito rural solidárias isoladas representa um
desses mecanismos poderiam ser: risco muito grande em termos de sustentabilidade.
Em regiões pioneiras, em que não existam sistemas
1. Desenvolver metodologias participativas de próximos, acredita-se que seria mais estratégico se
elaboração de planos de negócios, que planejar a implantação de três ou mais cooperativas
contenham estudos de demanda e estratégias dentro de uma região. Isso viabilizaria a formação de
de formação de arranjos institucionais locais; uma base de serviços regional e de um pré-sistema.
Além de uma redução de custos operacionais, a idéia
2. Estabelecer condições de contrapartida,
poderia representar mais oportunidades de
mo b iliz a çã o de recurso s lo ca is,
aprendizado coletivo às cooperativas singulares,
complementaridade de políticas, formação
segurança e controle para o processo, como também
de parcerias e arranjos institucionais para o
maior perspectiva em termos de desenvolvimento
acesso a recursos públicos;
territorial.
3. Estimular a integração das cooperativas em
Por fim, a partir das visitas e dos pareceres
projetos territoriais de desenvolvimento e
analisados pode-se perceber a importância de uma
nos Planos Safras territoriais;
maior oferta de informações aos grupos
4. Estimular a formulação de planos territoriais proponentes. Para tanto se torna vital que os futuros
específicos para o desenvolvimento das cooperados e dirigentes possam dispor de materiais
microfinanças, promovendo parcerias entre didáticos e outras formas de treinamento que os
cooperativas, bancos, correspondentes ajudem a conhecer e praticar as noções de
bancários e outras organizações de apoio. cooperativismo de crédito. Isso certamente auxiliaria
as comunidades interessadas a descobrir quais são os
A partir dessas necessidades, a presença da caminhos mais seguros para se abrir uma cooperativa
Ancosol ganha destaque, visto ser ela a entidade que de crédito, como também apontaria os rumos para se
está ajudando a debater os planos de expansão e planejar a estruturação de sistemas de crédito
coordenando as negociações de boa parte dos solidário em regiões pioneiras.
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