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Teófilo Otoni
2020
Riane Camila Salustiano Resende
Teófilo Otoni
2020
Riane Camila Salustiano Resende
Teófilo Otoni
Dedico esse trabalho ao meu eterno amor, meu pai Josué Resende, que
virou um anjo.
AGRADECIMENTOS
.
Todos podem ver as táticas de minhas conquistas,
mas ninguém consegue discernir a estratégia que
gerou as vitorias.
Sun Tzu.
RESUMO
This work aims to briefly analyze the movement of structuring and development of the
Solidarity Economy, mainly in Brazil, from the perspective and theoretical construction of the
main authors who study this theme and also from the analysis of projects already carried out
and inserted in the structure economic/productive capacity of the country. The aim is to verify
if it consists of another modality of adaptation to the economic reality in the face of
unemployment, poverty and other social problems or if it has depth, with possible impacts on
the essence and dynamics of the Capitalist Production Mode. The theoretical discussion that
covers how the Solidarity Economy expanded in Brazil and the specificities of this whole
process in the country's political and economic scenario, apprehended from its links with
imperialism and the condition of Brazil's external dependence and underdevelopment before
the nations of central capitalism, contributes to the understanding of the mechanisms and
structure of the current mode of production and the socioeconomic reality of the country.
Solidarity ventures appear as an alternative for better working and living conditions within the
structure of capitalist organization, but, to a certain extent, it still provides, even if
involuntarily, the systemic perpetuation of the current mode of production.
INTRODUÇÃO.......................................................................................................................11
1.1 – Introdução.......................................................................................................................15
1.2 – A Economia Solidária: surgimento, conceitos e determinações................................15
1.3 – Considerações gerais sobre a formação social e econômica do Brasil: o abismo
entre as classes sociais no país................................................................................................18
1.4 – Impactos e transformações socioeconômicas: Economia Solidária e a autogestão.21
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................42
REFERÊNCIAS..........................................................................................................45
11
INTRODUÇÃO
1
Florestan Fernandes interpreta a realidade brasileira a partir da compreensão do processo histórico de formação
e desenvolvimento do país, sob quatro padrões de dominação externa na periferia (que é o caso do Brasil), onde
os mesmos expressam a relação de subordinação e dependência do Brasil, que se organiza socioeconomicamente
diretamente influenciado por alterações nos padrões econômicos, políticos e tecnológicos das nações
hegemônicas. O primeiro padrão de dominação externa sobre o Brasil é justamente o Sistema Colonial. O
segundo é representado pelo neocolonialismo, expressando o poder hegemônico inglês no controle do comércio
pós-estrangulamento do sistema colonial. O terceiro tipo de dominação externa segundo Fernandes (2009) está
12
dinâmica global com uma condição desigual na integração entre essas nações, por ser
determinado e limitado pelo papel de maior pólo dinamizador do crescimento das principais
nações hegemônicas.
Interpretes clássicos da realidade brasileira como Florestan Fernandes, Caio
Prado Jr., Celso Furtado e outros pensadores que os tomam como referência, desenvolveram
suas formulações teóricas que nos auxiliam na compreensão da condição social, econômica e
política brasileira contemporânea, considerando estes diferentes padrões de dominação
externa pertencentes ao traçado histórico de interação entre as nações ou grupo de nações, que
consubstanciaram também as relações capitalistas na atualidade.
Resgatar as bases socioeconômicas do país é de extrema importância para a
compreensão das barreiras criadas por todo o processo histórico de formação, bem como para
alcançar a superação desse passado.
A Economia Solidária cada vez mais vem se tornando uma saída viável frente às
mazelas sociais e econômicas promovidas pela dinâmica capitalista, principalmente no Brasil,
onde as características regionais são muito distintas (considerando a grandeza geográfica do
país), e a participação com a organização dos Estados e principalmente dos municípios se
torna extremamente importantes para fortalecer o trabalho cooperativo, e o crescimento
conjunto das regiões mais pobres.
1.1 – Introdução.
Este capítulo tem o objetivo de realizar uma breve analise das transformações
promovidas pela dinâmica capitalista mundial, principalmente com o advento do
imperialismo, evidenciando que existe uma parcela considerável da classe trabalhadora no
Brasil e no mundo, que se estabelece sobre uma densa desigualdade socioeconômica e sem
maiores perspectivas de transformação qualitativa dessa condição no quadro geral da relação
entre as classes sociais.
As iniciativas populares de coordenação e cooperação estabelecidas pelo princípio
da solidariedade e a propriedade coletiva dos meios de produção, evidenciam a Economia
Solidária como uma forma diferenciada de estruturação do trabalho e dos meios de produção.
Por isso, os tópicos deste capítulo irão trazer uma análise das especificidades da
estruturação e desenvolvimento da Economia Solidária no Brasil e no mundo, por verificar
sua conceituação e suas determinações, argumentando sobre a condição estrutural de
desigualdade social e concentração de riqueza no Brasil, fator este, que contribui para
consubstanciar a realidade degradante imposta a grande massa de trabalhadores do país, fator
que justifica e impulsiona a necessidade e importância das organizações populares..
3
Compreende-se por estrutura, toda a organização econômica e social, o que corresponde a um determinado
nível de desenvolvimento das forças produtivas e as relações de produção. A superestrutura e caracterizada pelo
conjunto das instituições, dos ideários sociais e da cultura que determina as formas e normas de convívio social.
17
Diversos estudiosos dessa temática formulam suas construções teóricas que tratam
de conceituar a Economia Solidária de diversas formas, mas sempre com o mesmo sentido de
que a mesma se relaciona com o seu papel social transformador, mesmo que ela propicie o
alcance de interesses individuais, pois, sua especificidade está diretamente relacionada à
propriedade coletiva e a autogestão (SINGER, 2004).
Seus princípios gerais buscam, em síntese, a integração entre produção e
circulação, por possibilitar uma tentativa de minimizar as contradições causadas pela
dinâmica capitalista, promovendo a valorização do trabalho humano, a satisfação das
necessidades humanas e estabelecendo uma relação de harmonia com a natureza.
A Economia Solidária não é apenas um fenômeno econômico resultante das
condições ou tendências históricas do mercado de trabalho, mas é também resultado do
acúmulo do movimento popular nos anos 70 e 80 por todo o mundo (MANCE, 2000).
(...) a concepção da ideia de rede do principio de que unidades produtivas que
operam isoladamente tendem a fracassar, pois não conseguem superar a
concorrência capitalista. A alternativa das redes de colaboração solidária se
baseia no trabalho em conjunto, mediante interligação entre movimentos de
consumo e produção por meio de mecanismos verticalizados de produção, ou
seja, o encadeamento de cédulas produtivas, em que o bem final produzido
por uma serve de insumo demandado por outra (MANCE, 2000. p. 30).
4
O termo remete a noção de exclusividade ou monopólio forçado pela metrópole nas relações de comércio com a
colônia, o que permitiu extrair uma grande concentração de riqueza metalizada, que foi drenada pela Europa.
19
5
O imperialismo é o capitalismo no estágio de desenvolvimento em que ganhou corpo a dominação dos
monopólios e do capital financeiro; em que a exportações de capital adquiriu marcada importância; em que a
partilha do mundo pelos trustes internacionais começou; em que a partilha da terra entre os países capitalistas
mais importantes terminou (LENIN, 2012, p. 124, 125).
6
Prado Jr. (1957) expõe no capítulo 7 que a economia capitalista internacional, não se apresenta enquanto um
simples agregado de países situados em níveis diferentes de progresso econômico. Cada país constitui uma
função especifica neste conjunto; e cabem aos países subdesenvolvidos no que tange sua relação nesse sistema
internacional, devido a circunstancias de intervenção externa nos seus processos e seus nexos de dependência
econômica; a falta de estruturação das suas bases econômicas próprias e nacionais, uma função econômica
especifica neste conjunto.
21
A partir dos anos 1980 o Estado perde seu papel de protagonista e agente
planejador central e deu lugar à chamada livre ação das forças de mercado, defendida
pelo pensamento ortodoxo. Diante disso, desencadeou-se no mundo capitalista um
processo rápido de desregulamentação de mercados e liberalização comercial em nível
global, dando ao capital cada vez mais mobilidade para buscar melhores oportunidades
de investimento, em termos de taxa de retorno (SILVA; NAGEM, 2012).
2.1 - Introdução.
trabalho. Toda a estrutura desse modelo de produção é centrada na realocação dos que estão à
margem dos processos sociais e do mercado de trabalho, promovendo a dignidade e criando
meios de subsistência alternativos contrapondo, em certa medida, a estrutura capitalista.
No Brasil, essa modalidade se estruturou com seus princípios que defendem a
vida e a dignidade, frente às inúmeras disparidades sociais e econômicas que são
características do subdesenvolvimento do país, almejando um desenvolvimento sustentável e
racional, além de possibilitar uma melhoria na qualidade de vida e renda para a população
mais carente.
Este capítulo não propõe uma critica ou defesa dos empreendimentos solidários
no Brasil, nem tampouco sobre a estrutura e dinâmica capitalista. Mas sim, vai analisar os
aspectos conceituais e características da estruturação da Economia Solidária no Brasil,
apresentando os principais aspectos da iniciativa no país e como se dá o arranjo da
organização entre governo, trabalhadores e empresas. Para assim, demonstrar o histórico de
origem da mesma no Brasil e suas formas de organização na estrutura específica do
capitalismo do país.
8
O objetivo dos sócios de uma empresa solidária é promover a economia solidária tanto para dar trabalho e renda
a quem precisa como para difundir num país ou no mundo um modo mais democrático e igualitário de organizar
atividades econômicas (SINGER, 2002, p.16).
27
A SENAES foi criada em 2003, pelo então presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, indicando o professor Paul Singer como Secretário do Movimento Social em
seu primeiro governo. (II CONAES, 2010)
A secretaria foi criada no âmbito do Ministério do Trabalho e Emprego
(MTE) como fomento e geração de emprego e renda de forma diferenciada na
organização de trabalho e com a tentativa de confrontar desigualdades econômicas e
políticas oriundas do pensamento neoliberais. (SINGER, 2009).
O MTE desde a sua criação, tem por missão proteger os direitos dos
trabalhadores formalmente estabelecidos e principalmente os que não estão, e figuram
com destaque os números levantados na agenda do ministério, que justificam o
surgimento da SENAES por representar uma ampliação significativa do âmbito de
responsabilidades do MTE, que passa a incluir o cooperativismo e o associativismo
urbano (o rural é representado pelo Ministério da Agricultura) nas suas atribuições.
A SENAES surgiu a partir da mobilização de vários atores sociais,
organizados em torno da temática da Economia Solidária e que atuam em diversas
áreas da sociedade brasileira, e que demonstravam um alinhamento com o
posicionamento dentro das ações governamentais do Partido dos Trabalhadores (PT),
que estimulou a Economia Solidária como alternativa ao sistema hegemônico vigente
no Brasil e no mundo (SINGER, 2009).
Um mapeamento recente mais completo, entre 2010 a 2012, foi abarcado
11.663 empreendimentos solidários, desde 2004 e foram identificados 33.518
Empreendimentos de Economia Solidária (EES), em todo território nacional
(SANTIAGO, 2013).
O aspecto relevante deste mapeamento se refere aos 50% (5.811 EES) que
foram criados depois de 2004, o que evidencia o dinamismo social e econômico da
Economia Solidária no país, sem estar necessariamente vinculada a contextos de crise
e desemprego que caracterizou seu surgimento (SIES, 2013).
Na figura a seguir, é possível analisar a evolução do número de
empreendimentos desde 1900, explicitando o seu processo de crescimento:
35000
30000
25000
20000
15000
10000
5000
0
1900 1950 1970 1980 1990 2000 2005 2007 2013
3.1 - Introdução.
3 Centros públicos de Economia Solidária: espaços locais para a Economia Solidária para
. aglutinação de diversas iniciativas, formação, reuniões dos Fóruns estaduais, abrigo de
eventos culturais ligados à Economia Solidária, pequenas atividades comerciais;
6 Centrais de Comercialização;
.
Fonte:
SENAES/MTE 2007.
Verifica-
se a maior
concentração e atuação
de
Considerações finais.
socioeconômico real que carrega em sua face, uma gama repleta de possibilidades,
seja para o bem ou para o mal, e que também dê melhoria de condições de vida
daqueles que fazem parte da composição de miséria geral por se tornarem parte da
exploração do capital.
Desta feita, a Economia Solidária no Brasil tem feito parte de uma agenda
que busca sempre pensar modelos alternativos de desenvolvimento socioeconômico,
inclusivo e democrático abrindo novos e amplos horizontes para as lutas
emancipadoras no presente.
REFERÊNCIAS
42
ALEIXO, A. S.M D. F. et al. Da economia social para a economia solidária. 2015. Tese de
Doutorado. Disponível em: <https://repositorio.iscte-iul.pt/handle/10071/11388> Acesso em:
29 mai. 2019.
GAIGER, Luiz Inácio. Empreendimento Econômico Solidário. In: CATTANI, Antônio David
et al. Dicionário Internacional da Outra Economia. Coimbra: Edições Almedina, 2009.
GAIGER, Luiz & ASSEBURG, Benno. (2007), “A economia solidária diante das
desigualdades”. Dados Revista de Ciências Sociais, 50 (3): 499-533.
44
GAIGER, Luiz & LAVILLE, Jean-Louis. (2009), “Economia solidária”, in A. Cattaniet al.
(orgs.), Dicionário internacional da outra economia, Coimbra, Almedina, p. 162-168.
PRADO JR., C. Esboço dos fundamentos da teoria econômica. 3ª edição. São Paulo:
Brasiliense, 1957.
45
PRADO JR., C. Evolução política do Brasil. 7ª edição. Brasiliense. São Paulo: 1971.
SANTOS, W.G; COIMBRA, M.A. (orgs.) Política Social e combate à pobreza. Rio
de Janeiro, Jorge Zahar, 1989, p.33-63.
SINGER, Paul. Os Oito Primeiros Anos da Secretaria Nacional de Economia Solidária. In:
LIANZA, S.; HENRIQUES, F. C. (Org.). A Economia Solidária na América Latina:
realidades nacionais e políticas públicas. Rio de Janeiro: UFRJ, 2012.