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Capítulo 2 - Auxílio-Doença e

Aposentadoria por Invalidez

2.1. Benefícios decorrentes de Incapa-


cidade

A
aposentadoria por invalidez, denominada,
com a edição da Emenda Complementar nº
103/2019, de incapacidade permanente é um
benefício pago ao trabalhador que está inca-
pacitado de modo permanente de exercer a sua atividade
profissional e que também não possa ser reabilitado em
outra profissão.
Para ter direito ao benefício, o trabalhador precisa
ter pelo menos 12 meses de carência e possuir qualidade de
segurado na data de incapacidade.
A incapacidade para o trabalho tanto a gerada por
acidente de trabalho quanto à originada de causas comuns,
confere ao segurado os direitos ao gozo de benefícios ob-
servados os requisitos exigidos para cada uma das espécies.
A diferença básica entre os benefícios desta cate-
goria reside no grau de incapacidade. Os benefícios por

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incapacidade são: auxílio-doença, aposentadoria por inva-
lidez, auxílio-acidente.
Vamos estudar, neste capítulo, o auxílio-doen-
ça e o auxílio-acidente no capítulo 3 para melhor com-
preensão.

2.2. Auxílio-Doença

O auxílio-doença somente foi previsto de forma


expressa com a Edição da Lei Orgânica da Previdência So-
cial- LOPS, a Lei n.º 3.807 de 26 de agosto de 1960. Previa-
-se que o auxílio-doença seria concedido ao segurado após
o recolhimento de doze contribuições mensais por parte
do segurado (carência) e o mesmo ficasse impossibilitado
de trabalhar por mais de 15 (quinze) dias.
Atualmente, o mesmo é regido pela Lei 8.213/91,
artigos 59 a 64 (ressalvado as alterações e inclusões realizadas pe-
las Leis 9.876/99, 13.135/15, 13.457/17 e Lei Complementar
150/15) e Decreto n.º 3.049/99 (Ressalvado as alterações reali-
zadas pelos Decretos 3.265/99, 4.729/03, 5.545/05 e 8.691/16),
artigos 71 a 81. O objetivo do auxílio-doença não é proteger
o segurando contra a doença em si, mas sim proteger a in-
capacidade para o trabalho. Desta forma, o auxílio-doença é
um benefício de Prestação continuada, em razão de doença
ou acidente, destinada ao amparo do trabalhador em caso de
incapacidade temporária ao trabalho com afastamento supe-
rior a 15 (quinze) dias consecutivos.

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Importante dar-se um destaque especial a Lei Com-
plementar n.º 150/15 que realizou signifcativas alterações na
Lei n.º 8.213/91 incluindo o empregado doméstico como
detentor de vários direitos e benefícios previdenciários, que
até então, de forma injusta, não o era, e dentre estes, o bene-
fício do auxílio doença.

“Art. 63. O segurado empregado, inclusive o do-


méstico, em gozo de auxílio-doença será considerado
pela empresa e pelo empregador doméstico como licen-
ciado. (Redação dada pela Lei Complementar nº 150, de 2015)”

Destaca-se, no entanto, que o objetivo do auxílio-


-doença é a incapacidade para o trabalho, a doença e o
acidente são considerados somente os fatores que culmi-
naram na incapacidade.
Interessante definirmos, neste momento, a defini-
ção da palavra “doença”, visto que a mesma pode ser in-
terpretada de várias formas (biológica, clínica, anatômica).
A OIT – Organização Internacional do Trabalho,
em sua convenção n.º 130, define doença da seguinte for-
ma: “Todo estado mórbido, qualquer que seja sua causa”.
Para a Previdência Social será interpretada como o causa-
dor da incapacidade laboral.
Os requisitos para a concessão do auxílio-doença
são: redução total ou parcial da capacidade de trabalho, ne-
cessidade de assistência médica e de ministração de meios

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terapêuticos, inexistência de uma forma de seguro social que
cubra o mesmo evento.

2.3. Prazo de Espera

O beneficiário deverá aguardar um período para a


percepção do benefício, desta forma doenças mais “sim-
ples” que não acarretem a necessidade de afastamento são
sanadas.
Os primeiros quinze dias correspondem ao perí-
odo de espera. Este período será custeado pela empresa.
O pagamento desta remuneração por parte da empresa
possui caráter salarial, incidindo nas mesmas verbas pre-
videnciárias. Tal previsão esta descrita no Regulamento da
Previdência Social, Decreto 3048/99, artigo 75 in verbis:

“Art. 75. Durante os primeiros quinze dias conse-


cutivos de afastamento da atividade por motivo de do-
ença, incumbe à empresa pagar ao segurado empregado
o seu salário. (Redação dada pelo Decreto n.º 3.265, de 1999)”

Durante o período de espera, o Contrato de Tra-


balho será interrompido. Vejamos o conceito de interrup-
ção do Contrato de Trabalho:
A interrupção contratual trabalhista é o afasta-
mento do empregado, porém continuam a serem devidos

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os encargos do contrato de trabalho, estando interrompi-
das as obrigações principais dos empregados, prestação de
trabalho e disponibilidade perante o empregador.
O doutrinador Sérgio Pinto Martins refere-se à in-
terrupção da seguinte forma: “Na interrupção há a cessação
temporária e parcial dos efeitos do contrato de trabalho”.
Logo, no caso da interrupção, a empresa continuará pagan-
do salários ao empregado dentro do período de espera e o
período será computado como tempo de serviço. Interrom-
pem o contrato de trabalho, por exemplo, as férias, o DSR
e o afastamento do empregado por doença até o 15.º dia.
Em relação à Suspensão do Contrato de Trabalho,
o doutrinador Jediael Galvão Martins, em sua obra: “Di-
reito da Seguridade Social”, página 178, alega o que segue:

“Durante o período em que estiver de gozo de


auxílio- doença, o segurado empregado é considerado
licenciado. Trata-se da hipótese de suspensão do con-
trato de trabalho, estando o empregador desonerado
de efetuar o pagamento de remuneração ao empregado
enquanto ele estiver percebendo auxílio-doença.”

Portanto, ocorrerá interrupção do contrato de tra-


balho durante o período de espera. Após a concessão do
auxílio-doença, ocorrerá à suspensão do contrato de tra-
balho. Na suspensão, o empregado não recebe pelo tempo
inativo e tal período não conta como tempo de serviço.

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2.4. Ônus da Prova de Incapacidade

De acordo com a Lei 8.213/91 que dispõe sobre


os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras
providências, existe uma ordem de preferência entre os ates-
tados médicos para fins trabalhistas.

“Art. 60. O auxílio-doença será devido ao segura-


do empregado a contar do décimo sexto dia do afasta-
mento da atividade, e, no caso dos demais segurados, a
contar da data do início da incapacidade e enquanto ele
permanecer incapaz.”
“§ 4.º A empresa que dispuser de serviço médi-
co, próprio ou em convênio, terá a seu cargo o exame
médico e o abono das faltas correspondentes ao perí-
odo referido no § 3.º, somente devendo encaminhar o
segurado à perícia médica da Previdência Social quando
a incapacidade ultrapassar 15 (quinze) dias.”

O doutrinador Sérgio Pinto Martins, em sua obra:


“Direito da Seguridade Social” afirma que a ordem legal dos
atestados médicos com a finalidade trabalhista será em pri-
meiro lugar o atestado médico da empresa ou do convênio.
Caso a empresa não possua plano médico ou médico, os
atestados da Previdência Social (ou emitidos pelo Sistema
Único de Saúde - SUS) ou emitidos pelo Sindicato.
Visando firmar ainda mais seu aprendizado,

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colacionamos em nosso livro didático as súmulas 15 e 282
do Tribunal Superior do Trabalho.

SÚMULA 15: ATESTADO MÉDICO - A jus-


tificação da ausência do empregado motivada por do-
ença, para a percepção do salário-enfermidade e da re-
muneração do repouso semanal, deve observar a ordem
preferencial dos atestados médicos, estabelecida em lei.
SÚMULA 282: ABONO DE FALTAS.
SERVIÇO MÉDICO DA EMPRESA - Ao ser-
viço médico da empresa ou ao mantido por esta
última mediante convênio compete abonar os pri-
meiros 15 (quinze) dias de ausência ao trabalho.

Mediante a análise legal acima, devemos compre-


ender que caberá ao segurado, no caso o empregado, com-
provar ao empregador sua enfermidade através de atestados
médicos e demais provas médicas.
Nesse viés, o auxílio-doença é um benefício de
curta duração e renovável, pago em decorrência da inca-
pacidade temporária do trabalhador. De forma semelhante
ao benefício por invalidez, é necessário que o trabalhador
tenha feito pelo menos 12 contribuições ao INSS e tenha
qualidade de segurado na época do problema de saúde.
Antes de 2019, se o trabalhador deixasse de con-
tribuir por um tempo, era possível que voltasse a obter a
qualidade de segurado após alguns meses de contribuição

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(6 meses de acordo com a última regra até o período). En-
tretanto, no início do ano essa regra mudou. Para voltar
a obter a qualidade de segurado, o trabalhador terá que
contribuir por 1 ano.

2.5. Atividades Concomitantes

O segurado que exercer atividades laborais diver-


sas poderá ficar incapacitado para somente uma delas, por
exemplo, não necessariamente apresentando incapacidade
para as demais atividades laborativas concomitantes.
Incapacitando-se para o exercício de uma delas terá
direito ao auxílio- doença em relação a esta doença, por pe-
ríodo indefinido não sendo possível sua aposentadoria por
invalidez, enquanto essa incapacidade não atingir as demais
atividades laborais exercidas de forma concomitante.
O artigo 32 da Lei 8.213/91 regulamenta esta
questão. Senão vejamos:

Art. 32. O salário de benefício do segurado que


contribuir em razão de atividades concomitantes será
calculado com base na soma dos salários de contribui-
ção das atividades exercidas na data do requerimento
ou do óbito, ou no período básico de cálculo, observa-
do o disposto no art. 29 e as normas seguintes:
I - quando o segurado satisfizer, em relação a cada
atividade, as condições do benefício requerido, o salário de

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benefício será calculado com base na soma dos respectivos
salários de contribuição;
II - quando não se verificar a hipótese do inciso
anterior, o salário de benefício corresponde à soma das
seguintes parcelas:
a) o salário de benefício calculado com base nos
salários de contribuição das atividades em relação às
quais são atendidas as condições do benefício requerido;
b) um percentual da média do salário de contri-
buição de cada uma das demais atividades, equivalente à
relação entre o número de meses completo de contribui-
ção e os do período de carência do benefício requerido;
III - quando se tratar de benefício por tempo de
serviço, o percentual da alínea “b” do inciso II será o re-
sultante da relação entre os anos completos de atividade e
o número de anos de serviço considerado para a conces-
são do benefício.
§ 1.º O disposto neste artigo não se aplica ao
segurado que, em obediência ao limite máximo do sa-
lário de contribuição, contribuiu apenas por uma das
atividades concomitantes.
§ 2.º Não se aplica o disposto neste artigo ao
segurado que tenha sofrido redução do salário de con-
tribuição das atividades concomitantes, em respeito ao
limite máximo desse salário.

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Porém, na hipótese do segurado exercer atividades
concomitantes e em todas exercer a mesma profissão, de-
verá ser afastado de todas elas e o valor do benefício será
ampliado.

2.6. Auxílios-Doença Sucessivos

Conforme afirmado ao longo de nosso livro di-


dático, os primeiros quinze dias em caso de incapacidade
para o trabalho serão arcados pelo empregador e após este
período pelo INSS.
Vejamos a redação da Previdência Social em seu site
(www.previdencia.gov.br, 14 de setembro de 2013). In verbis:

“Havendo novo pedido de auxílio-doença em


decorrência da mesma doença, cujo requerimento te-
nha ocorrido até 60 dias da cessação do benefício an-
terior, e concluindo a Perícia Médica pela concessão do
benefício, será negado o novo pedido e prorrogado o
benefício anterior, descontando-se os dias trabalhados,
se for o caso
Nos casos em que o segurado empregado se
afastar do trabalho por 15 dias consecutivos, retornar à
atividade no 16.º dia e afastar-se novamente dentro de
60 dias desse retorno, em razão da mesma doença, o
benefício será pago a partir da data do novo afastamen-
to. Se o retorno à atividade ocorrer antes de 15 dias do

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afastamento, o pagamento será a partir do dia seguinte
ao que completar os 15 dias, desde que esses 15 dias
estejam dentro do prazo máximo de 60 dias.”

Desta forma, na hipótese de afastamento pela mesma


doença em período de sessenta dias contados da cessação do
benefício anterior a empresa não deverá arcar com os quinze
dias iniciais do novo afastamento.

2.7. Doença Preexistente

A doença preexistente à filiação no Regime da Pre-


vidência Social não possibilitará a concessão do auxílio-
-doença, salvo se a incapacidade do segurado apresentar
progressão durante o período de filiação. A Lei 8.213/91,
em ser artigo 59, § Único, prevê o que segue:

“Artigo 59, Parágrafo único. Não será devido au-


xílio-doença ao segurado que se filiar ao Regime Geral de
Previdência Social já portador da doença ou da lesão invocada
como causa para o benefício, salvo quando a incapacidade sobrevier
por motivo de progressão ou agravamento dessa doença ou lesão.”
(grifo nosso).

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Portanto, não caberá a concessão de auxílio-doença
ao segurado que antes de filiar-se a Previdência já era portador
da doença que viria a ensejar o benefício.

2.8. Período de Carência do Auxílio-Doença

O período de carência para o auxílio-doença será


de 12 (doze) contribuições mensais no caso de auxílio-do-
ença comum e independentemente de carência o auxílio-
-doença decorrente de acidentes de qualquer natureza.
O artigo 26, II, da Lei 8.213/91 determina que
deva ser realizada uma previsão entre o Ministério da Saú-
de e Ministério do Trabalho, elencando as doenças que dis-
pensariam carência. Vamos analisar o ditame legal:

“Art. 26. Independe de carência a concessão das


seguintes prestações:
II – “auxílio-doença e aposentadoria por in-
validez nos casos de acidente de qualquer natureza
ou causa e de doença profissional ou do trabalho,
bem como nos casos de segurado que, após filiar-
-se ao RGPS (Regime Geral de Previdência Social),
for acometido de alguma das doenças e afecções
especificadas em lista elaborada pelos Ministérios
da Saúde e da Previdência Social, atualizada a cada
3 (três) anos, de acordo com os critérios de estig-
ma, deformação, mutilação, deficiência ou outro fa-

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tor que lhe confira especificidade e gravidade que
mereçam tratamento particularizado;" (Redação dada
pela Lei 13.136/15)

Mais adiante, na mesma previsão legal, o legislador


prevê, independentemente, da lista referência a ser elabo-
rada pelos Ministérios, que algumas doenças independem
de carência, ou seja, não será devida para aqueles que se
desenvolverem as doenças previstas no artigo 151 da Lei
8.213/91. Senão vejamos:

“Art. 151. Até que seja elaborada a lista de doenças


mencionada no inciso II do art. 26, independe de carên-
cia a concessão de auxílio-doença e de aposentadoria por
invalidez ao segurado que, após filiar-se ao RGPS, for aco-
metido das seguintes doenças: tuberculose ativa, hansenía-
se, alienação mental, esclerose múltipla, hepatopatia grave,
neoplasia maligna, cegueira, paralisia irreversível e incapa-
citante, cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondilo-
artrose anquilosante, nefropatia grave, estado avançado da
doença de Paget (osteíte deformante), síndrome da defici-
ência imunológica adquirida (aids) ou contaminação por
radiação, com base em conclusão da medicina especializa-
da.” (Redação dada pela Lei 13.135/15)

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