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Guia de apresentação

O meu trabalho tem como assunto de pesquisa “ O paradigma da pobreza na Literatura


moçambicana” cujo trabalho surge:

• Primeiro- A partir de motivação pessoal, no que diz respeito ao Trabalho de


culminação do curso.
• Segundo- No âmbito social, surge para compreender a pobreza do ponto de vista das
obras literárias.
• Terceiro- Exploração do conteúdo literário da literatura moçambicana
Há que recitar que, para este estudo, recorremos à 4 obras distintas, das quais: obra de Paulina
Chiziane "Ventos de Apocalipse", de Abel Coelho "Filhos da Pátria que os Pariu", de Calane
da Silva “Nyembête ou as cores das lágrimas” e de Mia Couto “Terra Sonâmbula”. É a partir
destas obras que se circunscreve o nosso trabalho.

Uma vez que estamos perante a um trabalho de análise literária, este estudo possui a seguinte
questão de investigação:

 Como é descrito o paradigma pobreza nas obras de literatura moçambicana desde o


período da consolidação até nos dias actuais?

E a partir do tema e da questão de investigação, formulamos o seguinte objectivo geral:

 Compreender como é descrito o paradigma pobreza nas obras de literatura


moçambicana desde o período da consolidação até a fase actual.

E como objectivos específicos:

 Identificar, nas obras, excertos que nos remetam ao paradigma pobreza.

 Identificar as categorias da pobreza nas obras seleccionadas.

 Interpretar os excertos nos contextos sociais produzidos nas obras.

 Comparar as obras em relação aos anos de publicação e contexto social produzido face
a pobreza.

NO QUADRO TEÓRICO

Apresentamos o conceito de paradigma apresentado por Morin (2000) citado por Neto (2011,
p. 348) que concebe o termo paradigma como uma estrutura mental que organiza e dá
coerência aos fenómenos experimentados, que encontra problemas e propõe soluções.

E em relação à pobreza, na visão de CRESPO e GUROVITZ (2002) a pobreza é definida


como a falta do que é necessário para o bem-estar material – especialmente alimentos,
moradia, terra e outros activos. Em outras palavras, a pobreza é a falta de recursos múltiplos
que leva à fome e à privação física.

Também apresentamos neste espaço a periodização da literatura moçambicana que segundo


Laranjeira (1995:256-262), a literatura Moçambicana está dividida em 5 períodos,
nomeadamente:

 Período da incipiência (origens ate 1924)

 Período de prelúdio (1925 a 1944)

 Período da formação (1945 ̸ 48 a 1963)

 Período do desenvolvimento (1964 a 1975)

 Período da consolidação (1975 a 1992)

Na visão de Fonseca e Moreira (s/d, p. 28-35) distinguem-se pelo menos três fases no
processo de construção da literatura moçambicana:

 a fase colonial,

 a fase nacional e

 a fase pós-colonial.

No que concerne ao percurso Metodológico

1. A nossa pesquisa segue o paradigma interpretativo.


2. Quanto à natureza é uma pesquisa qualitativa.
3. Quanto à abordagem é uma pesquisa descritiva/interpretativa.
4. Quanto aos objectivos é uma pesquisa descritiva.
5. Quanto à técnica de recolha de dados – análise documental.

ANÁLISE DOS DADOS

Primeiro apresentaremos as categorias de análises seleccionadas para este estudo das quais

Como também faz parte das categorias de análise, a comparação das obras em análise, no que
diz respeito ao ano de publicação e contexto social.

Na obra Nyembête ou As Cores das Lágrimas, seleccionámos como categorias de análise:


desemprego, casas precárias e falta de luz eléctrica;

Na obra Ventos de Apocalipse, seleccionámos como categorias de análise: escassez de


escolas, fome e roubo;

Na obra Filhos Da Pátria Que Os Pariu, seleccionámos como categorias de análise:


mendicidade, violência sexual infantil, roubo, prostituição e nudez; e

Na obra Terra Sonâmbula, seleccionámos como categorias de análise: fome.


Na obra Nyembête ou As Cores das Lágrimas de Calane da Silva, uma das categorias que foi
analisada é o desemprego, e o principal aspecto que caracteriza o desemprego nessa obra é a
busca de emprego no estrageiro, como mostra o seguinte excerto retirado da obra, que é o
excerto de número 6 no nosso apêndice:

“Para Sigahul, as cores surgem do ventre lua para a primeira prova do mundo. Os wêtes apressam-
se na fome da terra, barriga vazia de milho e feijão. As dores explodiram também da ansiedade, do
sofrer-saudade de Macassana. […] Antes de partir, Macassana sabia do sangue secado da mulher.
Agora de regresso e muito carregado, apressa-se nos bíceps e nos pés já calcados. Há-de chegar a
casa ainda na manha deste andar.

Sem alternativas de vida nas suas comunidades, muitos jovens emigravam para as farmes
dos fazendeiros sul-africanos do Natal, ou ainda para as minas de carvão e ouro do
Transval. Os jovens fugiam não só devido à fome e desemprego mas também ao
recrutamento compulsivo para o exército colonial, que precisava de homens para combater
os guerrilheiros da libertação. ” (Silva: 2008, pp. 17)

Neste excerto, o narrador descreve o estado físico da esposa de Macassana (pai da Nyembête)
e o regresso do Macassana das terras do rand, onde fora à busca de emprego. A falta de
emprego descrito neste excerto da obra era motivo de preocupação para muitos jovens
moçambicanos e motivo de emigração ao exterior de muitos jovens.

Na obra Ventos de Apocalipse de Paulina Chiziane, uma das categorias analisadas é o roubo,
ele descreve o paradigma da pobreza neste período em análise, como ilustra o excerto
seguinte, que é o excerto de número 12 que consta do nosso apêndice:

“A desgraça de uns é sorte para outros. […] Os produtos de primeira necessidade são
escassos no tempo de guerra, têm muita procura e são bem pagos. Desviam-se. Vendem-se
nos mercados clandestinos. Os desonestos enriquecem.” Chiziane (2006, p.232)

O roubo é uma das características apresentadas da pobreza. Neste excerto é descrito uma
situação em que os produtos são desviados para serem usados em fins clandestinos. Como diz
o excerto, a desgraça de uns passa a ser brecha para enriquecimento de pessoas desonestas
que roubam produtos que seriam usados para tais pessoas desgraçadas.

3. Uma outra categoria que apresentaremos aqui é a prostituição, que é descrita na obra Filhos
Da Pátria Que Os Pariu de Abel Coelho. A prostituição é um aspecto que também descreve a
pobreza em Moçambique onde milhares de meninas iniciam-se nessa vida por falta de
condições. Como ilustra o excerto seguinte, que é o excerto de número 4 no nosso apêndice:

Maria Celeste Marmota tinha nascido longe do centro da cidade e do iluminado das
grandes avenidas. […] Era só filha de mãe, mas da mãe pouco se lembrava; tinham-lhe
dito tratar-se de mulher presenteada com corpo esbelto, fêmea de muitos amores, cabeça
louca e esperteza fina e responsabilidade fraca. Tinha desaparecido numa noite de paixão
aguarrada às bagagens de um marinheiro turco. […] Celeste perdeu-lhe o rasto, ficou só,
[…] foi dona Morgada, mulher da vida e colega da mãe que, depois de dois meses, lhe
deitou a mão e a levou para casa. […] Mas Dona Morgada não tinha vida para criar, nem
para mimar, nem para educar; era mulher vivida, sobrevivente do mundo cão, prostituta
decadente e senhora de moral discutível. Quando viu Celeste brotar corpo, arrebitar
mamas, produzir coxas e sangrar da barriga, dona Morgada falou com ela de mulher para
mulher, deu-lhe uma lição de vida, uma maleta de roupa, um cliente com dinheiro, um
palheiro escondido, e iniciou-a no negócio de vender o corpo. Na profissão de puta . Coelho
(2014, pp.160 -161)

Neste excerto, o narrador descreve a vida de uma adolescente que teve uma mãe prostituta e
ela também, posteriormente, por falta de condições, entra na vida de prostituição.

Muitos casos de meninas que se prostituem não têm sido por vontade, mas sim por falta de
escolha, falta de alternativas. A pobreza, por certas vezes, obriga a fazer muitas coisas, que de
certa forma, não são das vontades dos que a praticam. A prostituição, em Moçambique, é uma
realidade. A nível mundial, a prostituição tem a cara de mulher, ou seja, falando-se de
prostituição, a mulher está dentro. A prostituição é, nesta obra, descrita como negócio de
mulheres e os homens, geralmente, os que têm dinheiro, vistos como clientes.

4. Uma outra categoria a considerar é a fome, extraída na obra Terra Sonâmbula de Mia
Couto, onde é descrito os efeitos da guerra, como ilustra o excerto, que é o excerto 9 do nosso
apêndice:

- Tem fome, não é miúdo? Quem lhe mandou poupar o cabrito?

O moço está derreando, parece ter regressado ao estado da doença. Está quase parente da estrada,
parado e poeiroso. O velho Tuahir se aborrece com a apatia do jovem. – Já esqueceu falar, outra
vez? É da fome isso. Sabe o que você faz? Você engole com força. É, engole saliva, faz conta está
entrar comida na garganta. A fome fica confusa, assim. […] Ao fim da tarde chegam, enfim, a uns
terrenos de machamba. Tudo fora abandonado, as culturas se tinham perdido, castanhamente. […]
Aquelas visões ainda mais os esfaimam, fazendo-os arrotar o seu próprio jejum. COUTO
(2014:53-54)

A fome que o narrador descreve nesta obra é indiscutivelmente uma das formas de descrição
da pobreza em Moçambique no período descrito.

6. Comparação das obras

Ano de publicação

As obras em análise foram publicadas em anos diferentes.

A obra terra sonâmbula de Mia Couto publicada em 1992, pela primeira vez.

A obra ventos do apocalipse de Paulina Chiziane foi publicada em 1999.

Nyembête ou as cores das lágrimas de Calane da Silva foi publicada em 2008; e

A obra filhos da pátria que os pariu de Abel Coelho publicada em 2014.

Conteúdo e contextos sociais


Em relação ao conteúdo, todas obras falam das mesmas temáticas: guerra, sofrimento, nudez,
desemprega, fome, prostituição. O que se pode notar de diferente nestas obras é o contexto
social produzido. Fora as datas de publicação, estas obras falam sobre a história de
Moçambique num período considerável entre 1962 a 1992, que corresponde ao período da
guerra de libertação colonial, o período da independência e período da guerra civil até os
primeiros anos após a assinatura dos acordos de paz em Roma.

A pois a realização do estudo chegamos a CONCLUIR que:

As obras em análise abordam os mesmos aspectos, ou seja, há uma convergência na forma de


descrição da pobreza. As formas que os episodio são descritos como desvio de donativos, o
desejo de trabalhar nas farmes, nas minas, nas plantações de cana-de-açúcar, algodão em
Africa do Sul, a descrição é a mesma, o que nos faz concluir que essas obras, por mais que
escritas e publicadas em tempos diferentes, elas descrevem a pobreza quase de uma forma
igual.

Mia Couto, na sua obra Terra Sonâmbula, descreve a pobreza como sendo uma realidade
vivida pelo povo moçambicano, mas também como consequência da guerra civil. Este ponto
de vista de descrição é partilhado por Chiziane, na sua obra Ventos do Apocalipse, e por
Coelho, na sua obra Filhos Da Pátria Que Os Pariu. Porém, Calane da Silva, na sua obra
Nyembête ou As Cores Das Lágrimas, faz uma descrição diferente. Ele descreve a pobreza
como sendo uma simples realidade vivida pelo povo moçambicano no seu dia-a-dia.

O que se pode perceber na leitura dessas obras, por exemplo em algumas categorias que
foram usadas para descrever a pobreza em Moçambique, a categoria roubos e prostituição, é
que as condições de vida dessas pessoas, que se iniciam nessa vida, influencia a se iniciarem
nessa vida, porque nem todo que rouba gostaria que fosse ladrão, mas sim, a vida, as
condições obrigam-nas a ser; do mesmo jeito acontece com as ditas “prostitutas”.
As nossas PROPOSTAS são:
1. Faça-se mais estudos nessa área para poder compreender as novas abordagens que as
obras recém-publicadas trazem em volta do tema em questão;
2. Que essas obras sejam utilizadas por professores, visto que, de certa forma, elas
retractam o historial de Moçambique de forma ficcional.
3. Que sejam um meio de conhecer a história moçambicana.

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