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DOI: http://dx.doi.org/10.17921/2447-8733.

2019v20n3p327-331
BRITO, A.C.V.; MACIEL, A.M.C.A.

Letramento Visual na Educação Infantil: uma Proposta de Ensino

Visual Lettering in Child Education: a Teaching Proposal

Ana Carolina Vieira de Britoa; Alda Maria Coimbra Aguilar Maciel


a
Prefeitura da Cidade de Rio de Janeiro. RJ, Brasil.
b
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Práticas de Educação Básica.
RJ, Brasil.
*E-mail: coimbra.aldamaria@gmail.com
Recebido em: 21/02/19; Aceito em: 03/07/19

Resumo
O artigo discute o letramento na Educação Infantil por meio da pedagogia de multiletramentos. Foi realizada uma retrospectiva histórica
e breve análise dos documentos Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil - RCNEI, Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação Infantil - DCNEI e Orientações Curriculares para a Educação Infantil - OCEI. Para a elaboração do produto educacional, foram
utilizados os conceitos da Gramática do Design Visual - GDV e a estrutura narrativa de Labov para a organização da contação de histórias.
Baseou-se nas concepções do método pesquisa-ação de cunho qualitativo, cujo campo de aplicação foi uma creche pública do Município do
Rio de Janeiro – segmento Maternal I –, localizada em uma comunidade da zona Norte do Estado do Rio de Janeiro. Iniciou-se a elaboração
do produto utilizando a opinião das professoras da unidade, na qual a pesquisa foi realizada, para que o material fizesse realmente sentido para
elas. Ao disponibilizar o produto, esperou-se perceber cada teoria sendo utilizada em favor da formação de sujeitos mais autônomos, críticos
e criativos.
Palavras-chave: Multiletramento. Multimodalidade. Educação Infantil. Caderno Pedagógico.

Abstract
This article presents a research that discusses a literacy instrument in Early Childhood Education through multiliteracy pedagogy. It was
started with a historical retrospective and a brief analysis was carried out of the National Curricular Reference Framework for Early Childhood
Education (RCNEI), the National Curriculum Guidelines for Early Childhood Education (DCNEI) and the Curriculum Guidelines for Early
Childhood Education (OCEI). For the elaboration of the educational product, in turn, the concepts of the Grammar of Visual Design (GDV)
and the narrative structure proposed by Labov for the organization of storytelling were used. It was based on the conceptions of the qualitative
action research methodology, whose field of application was a public nursery school of the Municipality of Rio de Janeiro - Maternal I -,
located in a community in the northern area of the State of Rio de Janeiro. The elaboration of the product was started using the teacher’
opinion of the unit where the research was carried out so that the material could make real sense to them. In making our product available, it
is hoped to perceive each theory being used in favor of the formation of more autonomous, critical and creative subjects.
Keywords: Multiliteracy. Multimodality. Child Education. Early Childhood Education. Pedagogical Handbook .

1 Introdução à criança uma participação ativa na leitura, na qual a narrativa


sai do poder do adulto e passa a ser direcionada pela criança.
O presente artigo apresenta a pesquisa: “Imagens que
A função do professor passa a ser de mediar esse contato
contam: a pedagogia dos multiletramentos na Educação
da criança com o livro, explorando e enriquecendo essa
Infantil”, que tem como objetivo discutir o multiletramento
experiência.
na Educação Infantil, por meio de práticas de letramento
Considera-se a importância do trabalho com múltiplas
visual com gêneros multimodais. A partir do estudo dessas
linguagens na Educação Infantil, no qual as colocações das
teorias foi desenvolvido um caderno pedagógico, que orienta crianças devem ser a centralidade do trabalho pedagógico.
o profissional da Educação Infantil para o trabalho com o Para tanto, a narrativa por parte das crianças é fundamental.
letramento visual com atividades multimodais, que envolvem Na contação de histórias, a partir de imagens, essa narrativa
os diversos aspectos do texto, principalmente, a imagem. pode ser ricamente explorada, pois a criança consegue
O texto multimodal é aquele que relaciona cor, imagem, estabelecer um elo entre a fantasia e as informações que traz
links, som e demais aspectos que a sociedade atual demanda. da sua realidade.
Santos (2008) sinaliza a importância do uso de textos Sendo assim, pretende-se trazer uma contribuição que
multimodais e o modo como os mesmos se apresentam, sejam possibilite uma reflexão sobre práticas pedagógicas voltadas
esses digitais ou não. para o letramento. Neste trabalho se apresenta a metodologia
Desse modo, a leitura de um livro de imagens proporciona utilizada na pesquisa; os conceitos utilizados como base para

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a pesquisa e para a elaboração do trabalho e, por fim, uma objetivos de definição do teor das mensagens.
breve orientação para o profissional de Educação Infantil para Todos esses dados foram analisados para a elaboração do
o trabalho com o letramento visual. produto, para que esse fosse realmente útil e relevante para o
O Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil público destinado.
- RCNEI e as Orientações Curriculares para a Educação
3 Resultados e Discussão
Infantil - OCNEI foram pontos de partida para análise e
para esclarecer tal questão e basear teoricamente a pesquisa, A história da Educação Infantil segue as mudanças
sendo utilizados conceitos de letramento como uso social da ocorridas na história e nas diferentes concepções de
língua de Soares (1998); pedagogia dos multiletramentos de sociedade, de família e de infância. Na Idade Média, por
Rojo (2012; letramento visual, segundo Kress e Van Leeuwen exemplo, não existia a diferença entre adulto e criança e nem
(2001) que se baseia na Linguística Sistêmico Funcional de mesmo a concepção de infância. Ariès (1981) destaca que o
Halliday e Matthiessen (1994); e, por fim, a estrutura narrativa sentimento de infância não existia nesse período, a essa não se
proposta por Labov (1972). dava um tratamento característico da sua faixa etária e as suas
Esta investigação e a elaboração do produto foram especificidades que a distinguisse dos adultos.
realizadas no âmbito do Grupo de Estudos e Pesquisas em Os primeiros livros para crianças surgem no século XVII
Lingua(gem) e Projetos Inovadores na Educação - GEPLIED, e XVIII na Europa, até então não havia literatura voltada
liderado pela Prof.ª. Dr.ª. Alda Maria Coimbra Aguilar Maciel para essa fase, pois ainda não havia a concepção de infância.
e vinculado ao Programa de Mestrado Profissional em Práticas A infância e a literatura infantil surgem em decorrência
de Educação Básica do Colégio Pedro II (MPPEB-CPII). da ascensão da família burguesa. A criança passa a ser
entendida como um ser distinto do adulto, com suas próprias
2 Material e Métodos
especificidades e necessidades. Cademartori (1994, p.23)
A pesquisa foi realizada em uma Creche Municipal da afirma que:
Rede Pública do Município do Rio de Janeiro, no segmento a literatura infantil se configura não só como instrumento
Maternal I. Teve como participantes 26 crianças e quatro de formação conceitual, mas também de emancipação da
professoras. Tratou-se de uma pesquisa-ação, que segundo Gil manipulação da sociedade. Se a dependência infantil e a
(2010) se concretiza com planejamento da ação destinado a ausência de um padrão inato de comportamento são questões
que se interpenetram, configurando a posição da criança na
enfrentar um problema, que foi objeto de investigação. relação com o adulto, a literatura surge como um meio de
Selecionamos os seguintes instrumentos para coleta de superação da dependência e da carência por possibilitar a
dados: reformulação de conceitos e a autonomia do pensamento.
 questionário, com a finalidade de levantar dados sobre
o conhecimento das professoras sobre o tema e se esses No campo educacional, o surgimento da Educação
conhecimentos são aplicados por elas; Infantil, em especial, nas instituições públicas de ensino, é um
 registros do “livrão”, composto de controle de frequência movimento recente no Brasil. As primeiras creches surgiram
e caderno, no qual as professoras registram as atividades;
com a revolução industrial na necessidade da inserção da
 registros em diário de campo das atividades realizadas
pela pesquisadora. mulher no mercado de trabalho. Nessa época, o atendimento
As docentes responderam ao questionário informando era de cunho assistencialista e, por isso, por muito tempo,
os seus conhecimentos sobre o tema multiletramento e esses espaços eram considerados “depósitos” de crianças.
letramento visual e a frequência da utilização desses temas em A Educação Infantil vem sendo transformada ao longo dos
sala de aula; os vinte e seis alunos participaram das atividades anos, acompanhando os modelos de sociedade vigente. As
propostas por esta pesquisa. A pesquisadora, após a análise do políticas públicas também foram fundamentais para formar
embasamento teórico e dos conteúdos, aplicou o produto na o modelo de Educação Infantil que se tem hoje. Destaca-se
turma citada. sempre a importância de Educação Infantil de qualidade e as
A aplicação do questionário é relevante na medida em experiências nessas vivenciadas para a formação do sujeito.
que é usado para conhecer a opinião das professoras sobre o Pensando no espaço da Educação Infantil , Zabala (1998)
tema pesquisado e se as mesmas já fazem uso dos conceitos destaca que a capacidade de uma pessoa para se relacionar
no seu planejamento pedagógico. Esse contém perguntas que depende das experiências que vivem, e as instituições
investigam o conhecimento sobre multiletramentos e quais as educacionais são um dos lugares prediletos. Nessa fase da
possíveis práticas que as docentes já utilizam ligadas ao tema. vida, criam-se vínculos e relações que definem os próprios
O questionário foi fundamental para a elaboração do pontos de vista pessoais sobre si mesmo e sobre os demais.
produto, bem como os registros e diários de campo, que Destaca-se um dos principais documentos que orientam
nortearam na análise dos resultados das atividades. o professor para o trabalho nessa etapa tão importante da
A técnica de análise de dados foi a de conteúdo, essa Educação Básica, o DCNEI (2010), ressaltando o que o
se apresenta como um conjunto de técnicas de análise mesmo traz sobre a linguagem oral e escrita na Educação
das comunicações, que faz uso de métodos sistemáticos e Infantil .

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De acordo com a DCNEI (2010, p.25) a linguagem oral e de Halliday (1994). Tais teorias ajudaram na elaboração do
escrita deve promover experiências que: Caderno Pedagógico aqui apresentado.
Favoreçam a imersão das crianças nas diferentes linguagens As metafunções (ideacional, interpessoal e textual),
e o progressivo domínio por elas de vários gêneros e formas
de expressão: gestual, verbal, plástica, dramática e musical; sugeridas por Halliday (2004), são aplicadas pela GDV como
Possibilitem às crianças experiências de narrativas, de suporte para a análise das imagens. A tabela a seguir demonstra
apreciação e interação com a linguagem oral e escrita, e
convívio com diferentes suportes e gêneros textuais orais e como cada metafunção é utilizada para interpretar a imagem.
escritos.
Quadro 1 - As metafunções na interpretação das imagens
Partindo do documento acima citado, destaca-se a Metafunção Função na análise da imagem.
importância em envolver a criança em atividades que Representa a função que a imagem tem de
Ideacional
promovam experiências com as práticas sociais de leitura reproduzir o mundo que nos cerca.
e escrita. A função social da leitura e da escrita (SOARES, Estabelece o modo como a imagem interage
Interpessoal com o leitor, podendo aproximar ou afastar o
1998) pode ser considerada um dos fatores que difere os mesmo.
termos letramento e alfabetização. De acordo com a autora, Estabelece a função da imagem de se organizar
alfabetizado nomeia apenas quem aprendeu a ler e escrever, Textual de forma coerente com o seu contexto de
não aquele que adquiriu o estado ou condição de quem se produção.
apropriou da leitura e da escrita, incorporando as práticas Fonte: Dados da pesquisa.

sociais que as demandam (SOARES, 1998).


As metafunções acima apresentadas auxiliaram na
Portanto, o conceito de letramento vai além de um método
da aquisição da leitura e da escrita. O termo expressa uma avaliação dos textos imagéticos para a elaboração do caderno
maneira diversificada de considerar essas habilidades na pedagógico, sobretudo, a obra selecionada “O jornal”, que
sociedade, que vai além daqueles ensinados nas instituições traz diversas modalidades de imagens que possibilitam ser
de ensino. ricamente exploradas.
Já a Pedagogia do Multiletramento, de acordo com Rojo O conceito de multimodalidade é importante para analisar
(2012), não se restringe aos vários modos de estimular os
a relação entre texto escrito e imagens. Esse conceito permite
eventos de letramento, mas envolve também os aspectos
a interpretação dos sentidos sociais constituídos por esses
culturais, que estimulam a inclusão sociocultural, por meio de
práticas como a que se propõe aqui. textos e seu significado nas práticas de letramento.
No modelo atual de sociedade são encontrados diversos Vinculada com a interpretação de imagens, a narrativa
recursos semióticos que são utilizados no dia a dia. Os também ajudará a compor o produto, já que se destaca sempre
textos, por sua vez, estabelecem várias relações entre as a importância de ouvir a criança. Nesse sentido, o aluno irá
multimodalidades, como som, cor, links, imagens, entre criar as suas narrativas a partir na interpretação de imagens,
outros. Oliveira (2013, p.2) aponta que:
que por sua vez, será estimulada e mediada pelo professor
Nas práticas sociais pós-modernas, os cidadãos estão cada de acordo com os seus conhecimentos sobre as categorias da
vez mais sendo expostos à leitura de textos que misturam
escrita, layout, imagens, som e objetos 3D. Entretanto, apesar GDV.
do uso intensivo da imagem fora do ambiente escolar, ainda é
insuficiente a sistematização do uso dessas imagens para fins Quadro 2 - Etapas de uma narrativa
pedagógicos. Nesse sentido, nas últimas décadas, pesquisas
Apresenta, de forma breve, o tema da história
realizadas em diferentes correntes da linguística têm dedicado
e tem como função resumir a narrativa. Por ser
parte de seus estudos ao que se refere às ‘práticas do (multi)
opcional, pode ou não estar presente. Por se
letramento’ como instrumento do exercício da cidadania.
Resumo apresentar na “extremidade” da narrativa, tem
Assim, cada cultura desempenha práticas de letramento função interativa; isto é, pode ser um pedido de
turno para falar ou a base para a negociação da
de maneiras diversas, seja na família, na instituição religiosa, apresentação da narrativa.
nos espaços informais, e todas devem ser valorizadas. Com a Orientação Situa o leitor ao lugar, tempo e pessoa.
globalização, a cultura dita superior prevalece em todos esses Complicação Narra a ordem dos acontecimentos e compõe o
da ação corpo da narrativa.
espaços, sobretudo, no espaço escolar. Demonstra a ação do narrador em relação à
narrativa. Pode aparecer ao longo da narrativa
3.1 Principais concepções para a elaboração do produto Avaliação
e pode ser revelada por diversas estruturas
educacional linguísticas, como, por exemplo, o tom de voz.
Revela o que ocorreu, como foi solucionada a
Para o trabalho com a multimodalidade e com o letramento Resolução
complicação.
visual se estão utilizando os conceitos da Gramática do Design Constitui o mecanismo que traz a narrativa de
Visual (GDV), propostos por Kress e Van Leeuwen (2006), Coda volta ao momento presente. Sinaliza, também, o
baseados no aporte teórico da Linguística Sistêmico Funcional final da narrativa.

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Esta é uma breve apresentação do tema da acredita que uma teoria que não se constitui em prática perde
história que tem como função resumir a o seu sentido.
narrativa. Por ser opcional, pode ou não estar Diante disso, segue uma breve demonstração das atividades
Resumo presente. Por se apresentar na “extremidade” da
narrativa, ele tem uma função interativa; isto é, que estão sendo elaboradas para o caderno pedagógico:
pode ser um pedido de turno para falar ou a base Atividade 1: Exploração do livro “O jornal”
para a negociação da apresentação da narrativa. Etapa I: Apresentando a história; Etapa II: Reconhecendo
Orientação Situa o leitor ao lugar, tempo, pessoa.
os personagens; Etapa III: Explorando os acontecimentos;
Complicação É relativo ao corpo da narrativa e narra a ordem
da ação dos acontecimentos. Etapa IV: Dando vida à narrativa; Etapa V: Estimulando a
Demonstra a ação do narrador em relação à percepção; Etapa VI: Encerrando
narrativa. Pode aparecer ao longo da narrativa Atividade 2: Registro de falas e ideias da classe
Avaliação
e pode ser revelada por diversas estruturas Atividade 3: Desenho sobre o livro “O jornal”
lingüísticas, como, por exemplo, o tom de voz.
O que ocorreu, como foi solucionada a
Atividade 4: Confecção de um livro a partir das narrativas
Resolução das crianças
complicação.
É o mecanismo que faz com que a narrativa Atividade 5: Culminância
Coda volte ao momento presente. Sinaliza, também, Atividade 1: Exploração do livro “O jornal”
o final da narrativa.
Fonte: Dados da pesquisa. Objetivo: desenvolver o letramento visual por meio da
exploração da narrativa do livro “O jornal”.
Os estudos sobre a GDV, a LSF e a estrutura narrativa Duração: a contação de história será dividida em dois dias,
de Labov, vêm para colaborar com as demais teorias aqui 20 minutos para cada dia.
expostas, tendo em vista que as mesmas tratam o texto em seu Nesta atividade, faz-se uso das etapas da estrutura narrativa
contexto social e cultural. de Labov para a contação de história (Quadro 3).

3.2 Caderno pedagógico como uma proposta de ensino Quadro 3 - Sequência das etapas da narrativa
Estrutura Narrativa Sequências Das Etapas
A seguir, demonstra-se brevemente a proposta partindo
Resumo I- Apresentando a história
das teorias aqui apresentadas, da colaboração das professoras
Orientação II- Reconhecendo os personagens
utilizando os questionários por elas respondidos e da análise Complicação da ação III- Explorando os acontecimentos
do planejamento realizado pelas mesmas. Avaliação IV- Dando vida à narrativa
Utiliza-se a obra “O jornal” para a demonstração da Resolução V- Estimulando a percepção
proposta. “O jornal” é um livro de imagens lançado pela Coda VI- Encerrando
editora Brinque-book, cuja autora e ilustradora é Patrícia Fonte: Dados da pesquisa.

Auerbach1. O livro tem uma vasta ilustração e faz parte do


Desenvolvimento das etapas da contação de história:
acervo do PNBE2 na escola: literatura fora da caixa, do ano  Etapa I: Apresentando a história
de 2014, desenvolvido pelo Ministério da Educação (MEC),  Etapa II: Reconhecendo os personagens
o que motivou a escolha. Tal publicação é distribuída para  Etapa III: Explorando os acontecimentos
todas as instituições públicas de Educação Infantil, inclusive a Nessas etapas se utiliza a GDV para a exploração junto às
instituição na qual esta pesquisa foi realizada. crianças, por meio das estratégias da professora. As categorias
Soares e Paiva (2014, p.13), no guia que acompanha o da GDV foram empregadas para identificar as funções das
acervo supracitado, orientam sobre a importância da leitura imagens em determinado contexto. Assim sendo, nessa fase, é
literária na Educação Infantil: fundamental que a professora conduza a contação de histórias
Espera-se que, nesse segmento da escolaridade, as crianças a favor da exploração da narrativa e da criatividade da criança,
tenham contato permanente com esses bens culturais que são que possui suas próprias considerações.
os livros de literatura, para que se familiarizem com eles de  Etapa IV: Dando vida à narrativa
modo a interagir com a linguagem literária – nos textos e nas  Etapa V: Estimulando a percepção
ilustrações -, preparando-se para compreender também esses  Etapa VI: Encerrando
usos sociais da escrita.
Atividade 2: Registro de falas e ideias da classe.
A sequência de atividades proposta a seguir foi baseada na Objetivos: promover o letramento por meio do registro;
estrutura narrativa desenvolvida por Labov (1972) e a análise valorizar a participação das crianças; duração: 20 min para
de imagens de acordo com as categorias da Gramática do cada um dos dois dias de contação de história.
Design Visual desenvolvida por Kress e Van Leeuwen. Atividade 3: Desenho sobre o livro “O jornal”
Por meio dessas atividades se busca colocar em prática Objetivos: estimular a produção artística; explorar a
a articulação de todas as teorias aqui demonstradas, pois se criatividade; associar o desenho a história narrada; duração:

1 Informações: http://www.agenciariff.com.br/site/AutorCliente/Autor/115
2 PNBE é a sigla de Programa Nacional Biblioteca na Escola, programa instituído pelo MEC no ano de 1997.

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20 min. críticas, de forma a ampliar seus conhecimentos, inclusive de


Atividade 4: Confecção de um livro a partir das narrativas mundo.
das crianças. A Educação Infantil é a etapa privilegiada para o trabalho
Objetivo: estimular a criação das crianças; explorar novas reflexivo com as crianças. Os professores podem apresentar
narrativas; criar um novo material para o acervo; duração: 20 inúmeras possibilidades, nas quais a aprendizagem ocorre por
min. meio da troca e do reconhecimento da criança como sujeito
Atividade 5: Culminância da sua própria ação. Assim, estudos como o aqui apresentado
Objetivos: envolver a família e a comunidade escolar possam impulsionar esses profissionais para tais práticas.
na produção das crianças; explorar a oralidade; estimular as
Referências
práticas de letramento; expor a função da imagem; duração:
40 min. para visitação e apresentação. ARIÈS, P. História social da criança e da família. Rio de Janeiro:
Considera-se que na Educação Infantil, o contato com Afiliada, 1981.
a leitura e a escrita deve ser realizado com o objetivo de AUERBACH, P. O jornal. São Paulo: Brinque-book, 2012.
proporcionar às crianças diferentes experiências, que não BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria de Educação
se limitem ao contato com as letras de forma mecânica e Básica. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
descontextualizada. Acredita-se, sobretudo, que esta não é a Infantil. Brasília: MEC, 2010.
etapa na qual a criança deverá ser alfabetizada. BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Referencial
Propõe-se que um ambiente letrado e os eventos de Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília, MEC,
1998.
letramento devem se constituir como ambiente e eventos
interacionais, que envolvam todos os atores: tanto o adulto, CADEMARTORI, L.  O que é literatura infantil? São Paulo:
Brasiliense, 1994.
quanto a criança, com a leitura e a escrita, em uma relação de
troca e não de hierarquia. GALVÃO, C. Narrativas em Educação. Ciênc. Educ.,
v.11, n.2, p.327-345, 2005 .  
Propõe-se, também, uma reflexão com base nas teorias
apresentadas, que se complementam quando buscam GIL, A.C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas,
2010.
demonstrar a função social da escrita (SOARES, 1998) e no
HALLIDAY, M.A.K. An introduction to functional grammar.
caso da GDV, a função da imagem no texto e como texto.
London: Arnold, 1994.
4 Conclusão HALLIDAY, M.A.K.; MATTHIESSEN, C.M.I.M. An
introduction to functional grammar. London: Arnold, 2004.
Para promover o letramento visual, utiliza-se a contação
KRESS, G.; VAN LEEUWEN, T. Multimodal discourse: the
de histórias por meio da obra “O jornal”, porque ler histórias
modes and media of contemporary communication. London:
para as crianças é algo amplamente utilizado pelas professoras Oxford University Press, 2001.
na Educação Infantil e fundamentado em uma teoria o produto
KRESS, G. Reading images: the grammar of graphic design.
poderá ser mais útil para as professoras e para as crianças. London: Routledge, 2006.
Porém, na atividade aqui planejada e executada, a criança LABOV, W. The transformation of experience in narrative
também possuiu o papel de narrador, e foi possível concluir syntax. Language in the inner city. Philadelphia: University of
que a imagem foi o principal elemento para estimular a Philadelphia Press, 1972.
imaginação e a criatividade desses pequenos contadores de BRASIL. Ministério da Educação. PNBE na escola. Literatura
história. fora da caixa. Brasília: MEC, 2014.
Ouvir a criança é mais do que explorar a oralidade, é saber OLIVEIRA, D. Gêneros multimodais e multiletramentos: novas
identificar seus anseios, é ter a oportunidade de refletir sobre práticas de leitura em sala de aula. Itabaiana: UFS, 2013.
a própria prática e ter a percepção sobre o significado dessas ROJO, R. Multiletramentos na escola. São Paulo: Parábola, 2012.
para as crianças. É uma experiência de troca de aprendizado SANTOS, Z. A construção de uma leitura multimodal em língua
ou de aprendizado mútuo. estrangeira. Rev. Educ. Destaque, v.1, n. 2, p.75-86, 2008.
Espera-se que por meio dessa pesquisa aqui apresentada e SOARES, M.B. Letramento: um tema em três gêneros. Belo
com o produto educacional - o caderno pedagógico - as crianças Horizonte: Autêntica, 1998.
possam ter práticas significativas em torno da sua cultura com ZABALA, A.A. Prática educativa: como ensinar. Porto Alegre:
situações desafiadoras, possibilitando que elas façam análises ArtMed, 1998.

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