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Metodos e Tecnicas de Pesquisa em Musica
Metodos e Tecnicas de Pesquisa em Musica
Métodos e Técnicas de
Pesquisa em Música
Governador do Estado do Maranhão Edição
Flávio Dino de Castro e Costa Universidade Estadual do Maranhão - UEMA
Núcleo de Tecnologias para Educação - UEMAnet
Reitor da UEMA
Prof. Gustavo Pereira da Costa Coordenadora do UEMAnet
Profª. Ilka Márcia Ribeiro de Souza Serra
Vice-reitor da UEMA
Prof. Walter Canales Sant’ana Coordenadora Pedagógica de Designer Educacional
Pró-reitor de Administração Profª. Maria das Graças Neri Ferreira
Prof. Gilson Martins Mendonça Coordenadora Administrativa de Designer Educacional
Pró-reitor de Extensão e Assuntos Estudantis Cristiane Costa Peixoto
Prof. Paulo Henrique Aragão Catunda Professor Conteudista
Pró-reitora de Graduação Daniel Lemos Cerqueira
Profª. Andréa de Araújo Designer Educacional
Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação Clecia Assunção Silva
Prof. Marcelo Cheche Galves Designer Pedagógico
Pró-reitor de Planejamento Lidiane Saraiva Ferreira Lima
Prof. Antonio Roberto Coelho Serra Revisora de Linguagem
Lucirene Ferreira Lopes
Editoração Digital
Luis Macartney Serejo dos Santos
Central de Atendimento
http://ava.uemanet.uema.br
39 p.
ISBN:
CDU: 78(812.1)
SUMÁRIO
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO À PESQUISA CIENTÍFICA 5
1.1 Introdução 5
2.5 Normalização 18
2.6 Citações 19
4.1 Recapitulando 30
4.2 Referências bibliográficas 31
4.3 Objetivos 31
4.4 Justificativa 32
4.5 Referencial teórico 33
4.6 Metodologia 33
4.7 Cronograma 35
4.8 Recursos 35
4.9 Introdução 36
4.10 Anexos 37
Qualquer tentativa de escrever sobre metodologia da pesquisa científica é um trabalho arriscado, pois
há uma vasta literatura sobre o tema na qual dificilmente seria possível estar plenamente a par. Entretanto,
os manuais existentes ainda focam na concepção positivista de “conhecimento científico”. Felizmente, as
Ciências Sociais há décadas têm provido valiosas reflexões no sentido de questionar esta visão estabelecida
de “ciência”. Aqui, ela se resume à busca da verdade, e esta “verdade” não pode mais estar restrita apenas
ao pensamento lógico-racional, à objetividade e à impessoalidade. A intuição, a subjetividade e as nossas
emoções não apenas fazem parte de nossa visão sobre a “realidade”, mas permeiam objetivamente os
processos e resultados de qualquer pesquisa “científica”. A oralidade se torna um meio de documentação
tão valioso como a vida – até porque práticas culturais que só existem em documentos estão, na verdade,
mortas. Como disse o engenheiro Saulo de Tarso Cerqueira Lima, meu pai, “não existe ciência ‘exata’, pois
toda ciência é fruto da percepção humana”.
Este panorama permitiu introduzir neste breve e modesto e-Book, mas de forma pioneira, a pesquisa
artística. Ela leva às últimas consequências esta reformulação sobre as visões consolidadas de “ciência” e
“conhecimento”. E nada mais oportuno do que apresentá-la aos estudantes de música, para que possam
fazer uso da mesma não apenas para a “ciência”, mas para a vida – enquanto persistir este paradoxo. E,
logicamente, não abandonamos todo o conhecimento acadêmico produzido até então; isto seria um ato de
extrema irresponsabilidade. Apenas queremos acrescentar uma prática que é claramente inferiorizada nas
universidades brasileiras – a “menor das faculdades”, segundo Borgdorff (2012, p. 26) – apesar destas últimas
fazerem uso recorrente da produção artística quando convém, mas nunca no mesmo patamar da “ciência”.
Por fim, esperamos que esta experiência, acrescida de uma linguagem mais informal, possa proporcionar
maior interesse dos estudantes em relação à pesquisa científica, isto porque no sentido tradicional, o “rigor” e
a “objetividade” dificultam uma aproximação espontânea (a Pedagogia do Piano que o diga...). Tudo poderia
ser muito mais estimulante e interessante; basta pensar um pouco “fora da caixinha”.
Bons estudos!
Daniel Lemos
Pianista
4
Introdução à Pesquisa
Científica 1
UNIDADE
OBJETIVOS
1.1 Introdução
A “pesquisa”, em um sentido mais amplo, está presente em nosso dia a dia. Ela acontece quando
buscamos informações, como saber a localização de uma rua, a receita para preparar um alimento, as
notícias do dia sobre política, economia e informações sobre eventos culturais na cidade. Sendo assim, o
ato de pesquisar envolve a busca por informações – ou melhor, pelo conhecimento – frente a algum tipo de
necessidade.
A diferença entre esta “pesquisa” cotidiana e o que chamamos de “pesquisa científica” se dá na maneira
como lidamos com as informações. Enquanto no dia a dia raramente nos preocupamos com a origem (ou
fonte) das mesmas e buscamos soluções rápidas para nossos problemas sem muita reflexão1 , na pesquisa
científica precisamos ser cuidadosos com a fonte e a autoria das informações, planejando de forma consciente
um caminho que vise a resolver os problemas encontrados – mesmo que eles não sejam “resolvidos” de fato2.
Outra preocupação muito importante da pesquisa científica é buscar por um conhecimento “novo”.
Curso de Licenciatura em Música
Porém, esse “novo” é relativo, pois todo conhecimento que produzimos provém de informações que já existiam,
ou seja: nenhuma novidade surge do “nada”. Podemos ilustrar aqui a 9ª Sinfonia de Ludwig van Beethoven
(1770-1827), que inovou no repertório sinfônico com a adição de um coral aos instrumentos da orquestra
de então – que possuía os naipes de cordas, madeiras, metais e percussão. Porém, não se trata de uma
inovação “pura”: os corais já existiam e a formação orquestral também. A “novidade” foi o insight – a ideia –
que Beethoven teve ao unir essas duas formações.
___________________________________________________
1
Alguns autores, como o sociólogo Boaventura Santos (2008), chamam essa prática de “senso comum”.
2
É importante reforçar que nenhuma pesquisa tem obrigação de apresentar resultados; há situações em que surgem mais perguntas
do que respostas. Pesquisa é, portanto, mais o percurso do que o fim.
5
1.2 O pensamento científico
Segundo nos diz Fonseca (2002, p. 11), “a ciência é uma forma particular de conhecer o mundo”.
Sua principal característica é apresentar conclusões3 norteadas pelo pensamento lógico-racional através
de estudos feitos por meio de abordagens qualitativas – análise de um objeto com maiores detalhes – ou
quantitativas – análise de uma amostra/quantidade maior de objetos. Os resultados (conclusões) destes
estudos são divulgados por meio de publicações (artigos, livros, monografias ou teses, entre outros) após
serem avaliados por pares – especialistas na área de conhecimento em questão4.
Historicamente, até meados do século XIX, a pesquisa científica focava apenas em estudos sobre
fenômenos da natureza, a exemplo da Física, Química, Astronomia e Biologia. Os estudos sobre os seres
humanos, conhecidos hoje como Ciências Sociais e Humanas, eram feitos até então por filósofos e teólogos
(GIL, 2008, p.3-4). Essas áreas foram incluídas na academia (e, portanto, na universidade) somente a partir
do século XIX, e suas ferramentas particulares de estudo – como entrevistas e questionários, por exemplo –
precisaram de tempo até serem aceitas como procedimentos “respeitáveis” de pesquisa científica.
A partir do século XX, estudos relacionados à Psicologia passaram a analisar outras formas de
pensamento além do lógico-racional e matemático que, por sua vez, dominavam os sistemas educacionais.
Como exemplo, mencionamos o trabalho de Jerome Bruner (1999), onde o autor destaca a relevância da
intuição no processo de ensino e aprendizagem. Há também, a “Teoria das Inteligências Múltiplas” de Howard
Gardner (2002) que, entre os sete tipos de inteligências que o autor propõe para o ser humano, está entre elas
a “inteligência musical”. Segue uma ilustração dos tipos de inteligência propostos por esta teoria (Figura 1).
Sobre a intuição, este é um tipo de conhecimento humano produzido por meio de “impressões”,
emoções e sensações táteis – o músico e o artista em geral trabalham muito com essa forma de pensar, que
influencia constantemente suas decisões criativas e interpretativas. Logo, a intuição interfere diretamente
– “objetivamente” – nos estudos que abordam práticas artísticas e culturais, sendo incoerente deixar de
reconhecê-la no processo de pesquisa.
___________________________________________________
3
Para vários autores, em vasta literatura, o objetivo principal da ciência é a “busca pela verdade”.
4
Para conhecer mais sobre formas e meios de publicação científica, veja Marconi e Lakatos (2003, p. 252-271).
6
Apesar da pesquisa científica ainda priorizar o pensamento lógico-racional, temos observado nas
últimas décadas um forte movimento de diálogo entre a ciência e outras formas de pensamento e tipos de
informações, contemplando a intuição, as sensações táteis e a oralidade, entre outros5. Isso acontece porque o
conceito tradicional de “ciência” não tem se mostrado suficiente para responder às perguntas levantadas pelos
estudos que focam no ser humano6 e, em especial, nas Artes. Como reflexo dessas mudanças, observamos
um questionamento sobre a imagem do cientista como alguém que atua apenas em laboratórios fazendo
pesquisas “objetivas” e “impessoais” sem se envolver com questões políticas, econômicas e sociais – concepção
resultante do conceito de “pesquisa pura”, instituído como política mundial de Ciência e Tecnologia a partir
da década de 1950 (BORGDORFF, 2012, p. 86-88). Essa visão enfática do racionalismo e da objetividade,
que se tornou o pilar do conceito tradicional de “ciência”, tem sua origem no “Discurso do Método” de René
Descartes (2001). Segundo Vieira:
Foi com ele que aprendemos o que era a ciência, o método científico (no singular), a
objetividade. Foi esse Discurso do Método que marcou a ciência deste século [XX] e também a
pedagogia escolar e a educação em geral. [...] Ensinou-se a ler, contar, e escrever – educação
essencialmente racionalista, cognitivista. Não era importante a educação dos sentidos, o pensar
as emoções, o afeto entre docente e discente; a relação. O importante era o produto, o aluno
instruído, não o processo de levar a aprender, de educar, verdadeiramente. [...] Arrumamos
também assim o mundo de uma forma muito dualista: razão/emoção; racional/irracional;
instruído/analfabeto; etc. E assim continuamos a pensar, ainda, por vezes, hoje. (VIEIRA, 1999,
p. 22).
Apesar do debate contemporâneo apresentar novas propostas para o que se entende por “pesquisa
científica” e seus respectivos métodos7, a grande maioria das instituições que apoiam atividades de pesquisa
e regulamentações dos sistemas nacionais de educação ainda são norteadas por métodos tradicionais
estabelecidos no meio acadêmico, como no caso do Brasil. E conforme já discutimos anteriormente, para
propormos algo “novo” precisamos estar a par do que fora produzido.
Assim, vamos partir da elaboração de uma pergunta que aponta a existência de um “problema”, tal
como ocorre no método hipotético-dedutivo – recomendamos a leitura de Gil (2008)8 . Destacamos uma
interessante afirmação do musicólogo Paulo Castagna que trata sobre o real espírito da pesquisa científica:
“não pode existir um método padronizado de pesquisa que possa se enquadrar em qualquer tipo de trabalho,
pois se isso existisse, as pesquisas não teriam resultados diferentes” (CASTAGNA, 2008, p. 9). Por último,
acrescentamos que a área de Música é apenas uma das áreas do conhecimento que tem a música como
objeto de estudo. A diferença entre as pesquisas acontece nas abordagens e procedimentos adotados.
___________________________________________________
5
Na ciência, o registro de informação mais recorrente é a escrita.
6
Este tem sido um debate muito acalorado no meio acadêmico, para o qual recomendamos o trabalho de Sousa (2008).
7
O método é a abordagem ou procedimento que o cientista irá adotar em sua pesquisa, visando a resolver um problema ou estudar
um objeto. Para mais informações, recomendamos ler Gil (2008, p. 8-25).
8
Gil aborda esta questão nas páginas 12 e 13 de seu livro.
7
1.3 Problema, Hipótese e Questão Norteadora
Toda pesquisa emerge da necessidade de ampliar nosso conhecimento. Essa necessidade surge a
partir de alguma questão – “problema”9 – que observamos em uma determinada área – no nosso caso em
particular, a área de Música. A partir deste problema, podemos imaginar formas de resolvê-lo. Cada uma
dessas possíveis soluções é chamada de hipótese.” (obs: preservar o negrito na palavra “hipótese. A essa
pergunta damos o nome de hipótese.
A partir da hipótese e do problema, podemos formular uma pergunta capaz de representar o norte
de nossa pesquisa. Esta pergunta pode ser chamada de questão norteadora. Seguem adiante exemplos de
questões problematizadoras:
É interessante observarmos que todas essas perguntas podem ser respondidas de diversas maneiras.
Isso depende essencialmente do método que cada um de nós iria desenvolver para respondê-las.
Nas abordagens qualitativas, procuramos focar em um objeto de pesquisa e estudá-lo com o maior
detalhamento possível. Por exemplo: para estudarmos o ensino de música em bandas marciais e de fanfarra
de maneira qualitativa, é melhor escolhermos uma banda específica – como a do 24.º Batalhão de Infantaria
Leve de São Luís, por exemplo – e estudar como ocorre o ensino e aprendizagem da música nesse contexto.
Já no estudo sobre a “Missa Solene”, de Antônio Rayol, a questão norteadora já indica que se trata de uma
obra em particular. Este tipo de trabalho, onde estudamos um objeto específico, se chama estudo de caso e
é bastante recorrente na área de Música.
Já nas abordagens quantitativas, buscamos estudar um grupo de objetos para tirar conclusões que
podem ser aplicadas de maneira mais geral. Tomemos como exemplo, a questão da perda auditiva de músicos
que trabalham em shows “grandes”, ou seja: onde há uso recorrente de amplificadores de som com alta
intensidade (“volume”). Um estudo possível seria selecionar trinta músicos que atuam nessas condições e Curso de Licenciatura em Música
aplicar um questionário para saber se eles sentem desconforto após os shows ou sinais de perda auditiva –
dados que seriam reforçados através de testes de audiometria10 e/ou da medição da intensidade sonora por
meio de um decibilímetro11 , mas que dependem dos recursos disponíveis da pesquisa para serem feitos. Os
resultados desse estudo consistiriam em uma análise estatística dos dados obtidos.
___________________________________________________
9
Sobre a formulação de problemas, recomendamos a leitura de Gil (2008, p. 33-40).
10
Exame médico que visa a detectar problemas de audição.
11
Equipamento utilizado para verificar a intensidade sonora de uma fonte ou ambiente que utiliza o decibel (dB) como unidade de
medida.
8
Outra questão importante diz respeito aos recursos disponíveis para o estudo. No Brasil, as pesquisas
de monografia geralmente ficam restritas ao material e pessoas disponíveis para a instituição. Além disso, elas
são elaboradas na maioria das vezes por iniciantes na pesquisa. Já nas dissertações de mestrado, há mais
tempo para realização (dois anos, por padrão) e o pesquisador já tem alguma experiência, enquanto nas teses
de doutorado há ainda mais tempo e experiência. Sendo assim, ao definir sua hipótese, converse com seu
orientador sobre a viabilidade da pesquisa que você pretende realizar naquele momento. Mas lembre-se que
esta é uma limitação temporária: você pode fazer uma pesquisa mais aprofundada em outro momento após a
graduação, possivelmente em uma especialização ou mestrado. Sendo assim, “guarde” sua hipótese anterior!
Há casos em que temos dificuldade em definir uma hipótese de pesquisa. Isso ocorre principalmente
quando nós ainda não possuímos um conhecimento aprofundado sobre o contexto que pretendemos estudar.
No nosso caso, “Música” é uma vasta área do conhecimento, portanto, precisamos ser mais específicos para
definir o campo de pesquisa. Destacamos a convenção das atuais “subáreas” da Música no Brasil, com um
resumo bastante simples e geral dos trabalhos que as caracterizam:
• Educação Musical: foca nas teorias e práticas de ensino e aprendizagem da música em contextos
específicos;
• Musicologia: estuda o contexto histórico-cultural onde se situa a produção musical (Histórica) ou os
aspectos composicionais e estéticos dessas obras (Sistemática);
• Etnomusicologia: trata das manifestações sonoras ou musicais de culturas diversas do mundo, em
diálogo com a Antropologia;
• Performance Musical ou Práticas Interpretativas: aborda as práticas de composição e/ou interpretação
musical em contextos culturais específicos;
• Sonologia: trabalha as relações entre tecnologias de produção musical e sonora com o meio ambiente e/
ou sua interpretação pelo ser humano12 ;
• Musicoterapia: voltada para a utilização da produção musical e sonora sob fins de tratamento médico e
terapêutico;
• Música e Tecnologia: estuda as relações entre ferramentas tecnológicas, sua aplicação e influência nas
práticas musicais de diferentes contextos.
É possível, ainda, adicionar outra subárea intitulada “Música e Interfaces”, incluindo outras áreas do
conhecimento que também dialogam com a Música. Entre elas, há “Psicologia da Música” (estudos de Cognição
aplicados à prática musical), “Pedagogia da Performance Musical” (ensino e aprendizagem para instrumentistas, Curso de Licenciatura em Música
regentes e compositores), “Música e Comunicação” (trabalhos sobre as relações entre as mídias/os meios de
comunicação, a produção musical e as indústrias culturais) e “Saúde do Músico” (Medicina aplicada a problemas
de saúde recorrentes do trabalho dos músicos, como tendinite e surdez), entre outras. Um trabalho que aborda
mais detalhadamente os tipos de pesquisa em Música feitos no Brasil é o de Lia Tomás (2015).
A partir dessas breves definições, podemos definir qual subárea trabalha com assuntos mais próximos
daqueles que pretendemos abordar em nossa pesquisa. Depois, precisamos realizar uma revisão de literatura.
Este é um dos procedimentos de pesquisa mais importantes, pois é através do levantamento de trabalhos
publicados que podemos situar nosso “problema” e desenvolver uma questão norteadora (caso não haja
___________________________________________________
12
Esta subárea também se aproxima da Acústica, voltada ao estudo físico das ondas sonoras, e da Psicoacústica, que trabalha as
relações entre a propagação do som e a percepção humana.
9
nenhuma ainda). Vamos exemplificar: caso você esteja pretendendo desenvolver um estudo sobre ensino de
música na Educação Básica (escola regular), é necessário pesquisar trabalhos que tratam sobre esse tema, cuja
subárea mais próxima é a Educação Musical.
Há algumas décadas, a única forma de elaborar um levantamento bibliográfico (da literatura) era através
de bibliotecas. Na área de Música, as principais bibliotecas estão na região Sudeste, fato que tornava o acesso
a publicações muito restrito para quem reside no Maranhão. E mesmo nas bibliotecas em questão, quando
havia uma referência interessante que não estava disponível, era necessário comprá-la, podendo levar meses
para que a mesma chegasse. Hoje, com a Internet, é possível acessar de forma instantânea livros, artigos,
teses e trabalhos acadêmicos diversos de vários países. O Brasil possui periódicos (revistas acadêmicas) de
Música que oferecem livre acesso a seus artigos, além de bibliotecas virtuais com teses e dissertações. E
mesmo aquelas bibliotecas que não disponibilizam seu material para acesso virtual geralmente possuem um
catálogo on-line. Portanto, hoje é muito mais fácil realizar uma revisão de literatura e, além disso, mantê-la
atualizada – isso é muito importante! A revisão de literatura é um procedimento que precisamos refazer até o
fim de nossa pesquisa.
No contexto da Internet, a pesquisa é feita por palavras-chave, ou seja: termos que norteiam o assunto/
tópico que pretendemos estudar. Voltando ao exemplo anterior, “Educação Musical” e “Educação Básica” serão
palavras-chave importantes para fazer a pesquisa através dos mecanismos de busca na Internet 13.
Entretanto, ao ler os trabalhos encontrados e (se houver) seus resumos14 , você verá que há diversos
trabalhos sobre o ensino de música na Educação Básica. Logo, será necessário “filtrar” ou “refinar” o assunto,
direcionando-o por meio de questões mais específicas: que ciclos/anos da Educação Básica você pretende
abordar? Qual a faixa etária (idade) aproximada desses alunos? Qual é a quantidade de alunos por turma?
Em que escola onde você pretende desenvolver o trabalho? As respostas a essas perguntas ajudarão você
a delinear melhor o problema e formular uma questão norteadora – a pergunta que irá nortear sua pesquisa.
Além disso, você poderá criar outras palavras-chave, refinando a sua pesquisa na Internet.
Ao elaborar a revisão de literatura, é importante anotarmos os trabalhos que nos interessam em uma Curso de Licenciatura em Música
lista. Para nos habituarmos à redação acadêmica, precisamos elaborar essa lista com base nas normas
vigentes de referências bibliográficas. Quem dispõe sobre essas normas é a Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT). Em sua página virtual, há manuais que explicam e exemplificam as normas vigentes: http://
___________________________________________________
13
Exemplos desses mecanismos são o Google (http://www.google.com.br), Bing (http://www.bing.com) e Google Acadêmico (http://
scholar.google.com.br).
14
Dica: em uma revisão de literatura, sugerimos ler primeiro os resumos e ver as palavras-chave. É melhor ler os trabalhos apenas
se o resumo indicar que se trata de uma fonte interessante para você.
10
www.abnt.org.br. Periódicos e instituições também podem criar normas próprias, desde que não entrem em
conflito com aquelas da ABNT. Este é o caso da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), que define suas
normas próprias no “Manual para Normalização de Trabalhos Acadêmicos” (BAIMA et al., 2014).
Podemos nos organizar sabendo que informações básicas devem aparecer em qualquer tipo de
referência bibliográfica. São elas: 1) Nome do(s) autor(es); 2) Título do trabalho; 3) Ano de publicação; e 4) Se
o trabalho está inserido em algum documento maior, como um livro, periódico ou anais de evento acadêmico.
ATIVIDADE
Outras informações são necessárias, mas dependem do tipo de documento, como: 5) Páginas inicial e final
se for trabalho impresso; 6) Endereço eletrônico, se for trabalho virtual; e 7) Cidade e nome da editora, se for
livro.
Escolha um dos temas descritos a seguir e elabore uma revisão de literatura com pelo menos cinco
fontes/referências acadêmicas (artigos, livros, capítulos, teses, dissertações ou monografias) relacionadas ao
tema proposto. Temas:
Citação de livro:
SOBRENOME, Nome do Autor. Título do Livro. Número da edição. Cidade: Nome da editora, ano de publicação.
Resumo
Esta Unidade trouxe uma introdução elementar à pesquisa científica aplicada à área de Música,
apresentando algumas conceituações básicas e o debate atual. Em seguida, foram apresentados os conceitos
de problema, hipótese e questão norteadora, além de uma iniciação à revisão de literatura por meio de
palavras-chave e da Internet. Duas tarefas práticas foram propostas.
REFERÊNCIAS
BAIMA, G. M. N.; PAIVA, I. G.; LOPES, B. F. Manual para Normalização de Trabalhos Acadêmicos. 2.ed. São
Luís: Uema, 2014.
BORGDORFF, H. The conflict of the faculties: Perspectives on Artistic Research and Academia. Amsterdã:
Leiden University Press, 2012.
DESCARTES, R. Discurso do método. Traduzido por Maria Ermantina Galvão. São Paulo: Martins Fontes,
2001.
GARDNER. H. Estruturas da Mente: A Teoria das Inteligências Múltiplas. Traduzido por Sandra Costa. Porto
Alegre: ARTMED, 2002.
GIL, A. C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de Metodologia Científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003. Curso de Licenciatura em Música
TOMÁS, L. A Pesquisa Acadêmica na Área de Música: um estado da arte (1988-2013). Porto Alegre: ANPPOM,
2015.
VIEIRA, R. Modelos Científicos e Práticas Educativas: (breve incursão no séc. XX). A Página da Educação, n.
79, p. 22, abr-1999. 12
Leitura e Redação
Acadêmica 2
UNIDADE
OBJETIVOS
Ao lermos textos acadêmicos sob a finalidade de fazer uma pesquisa, é preciso mudar a maneira de ler.
Precisamos criar o hábito de organizar as informações obtidas durante a leitura, facilitando seu uso na fase
posterior de redação da pesquisa. Votre e Pereira (2010) mencionam três tipos de leitura analítica:
• Fichamento: leitura onde anotamos ou sublinhamos informações do texto que nos interessam;
• Resumo: síntese de um texto que pontua suas principais informações;
• Resenha: análise crítica de um texto que oferece espaço para observações do leitor.
Marconi e Lakatos (2003) também tratam sobre a leitura e análise de textos, destacando a importância
de desenvolvermos novos hábitos. Aqui, vamos sugerir que vocês trabalhem com um tipo de leitura analítica
mais semelhante ao fichamento. Ao ler um texto acadêmico, deixe do seu lado um caderno ou um equipamento
13
Apresentamos um exemplo de leitura analítica baseado em nossa sugestão:
SILVA, Paula Figueirêdo da. Uma História do Piano em São Luís. Dissertação de Mestrado. São
Luís: PGCULT/UFMA, 2013. 188p.
p. 21-22
Nordeste como embrião do cenário musical brasileiro até o século XVI. 1763: capital muda de São
Salvador para São Sebastião do Rio de Janeiro. Transição do cenário musical para Minas do Ouro
a partir do século XVII, com a migração interna e a vinda maciça de portugueses para o Brasil
Colônia.
p. 24
O Rei Dom João I, juntamente com Marquês de Pombal, publica decreto em 1759 visando à
extinção da Companhia de Jesus, com o objetivo de fortalecer o poder da monarquia.
p. 26
Instrumento de teclado mais antigo: o órgão, inventado por Ktesibos por volta de 250 a.C.
(HENRIQUE, L. Instrumentos Musicais. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2004).
p. 28
O primeiro instrumento de teclado que chegou no Brasil foi o cravo, também utilizado para ensino
musical pelos jesuítas.
p. 30
A coroa portuguesa, até 1808, censurava suas colônias: proibia a atividade editorial, não criava
bibliotecas e museus, e as instituições de ensino eram muito escassas. Tal fato só mudou com a
chegada da família real ao Brasil Colônia.
p. 31
Criação da Biblioteca Nacional em 1810 e do Museu Nacional em 1818.
Sugerimos o uso do editor de texto porque quando você for escrever a sua pesquisa, fica mais fácil
encontrar as informações desejadas através do localizador de palavras. Além disso, vários trechos já digitados
podem ser aproveitados através do conhecido procedimento de “copiar e colar”.
Ao salvar o arquivo digital em seu computador ou celular, sugerimos que você acrescente
ao final do nome do arquivo a data como, por exemplo: “Texto 16-08-2017.docx”. Nos
outros dias em que trabalhar, salve em outro arquivo com a nova data. Assim você terá
cópias de segurança do seu trabalho, podendo restaurá-lo em caso de necessidade.
Recomendamos também salvá-los na Internet, no seu e-mail ou em “nuvem” – serviços Curso de Licenciatura em Música
de discos virtuais como o Dropbox e o Google Drive.
14
ATIVIDADE
Busque um artigo científico na Internet que trate sobre um tema de seu interesse – preferencialmente
relacionado à sua hipótese, caso você já tenha. Faça uma leitura analítica do mesmo utilizando o procedimento
que sugerimos.
Podemos perceber nas referências que trabalhamos na Unidade anterior que os textos acadêmicos
se baseiam no português “formal”, ou seja, nas normas cultas da Língua Portuguesa. Logo, é importante
estarmos atentos a eventuais erros de ortografia (a grafia das palavras) e concordância entre substantivos,
artigos e verbos.
Contudo, esse não é o único aspecto que devemos atentar. Uma boa redação é, acima de tudo, aquela
cujas frases têm tamanho equilibrado e pontuação fluente, sob uma ideia de “respiração” – assim como
temos respirações entre frases musicais. Já os parágrafos devem constituir um conjunto de frases que tratam
do mesmo assunto, ou seja: abrimos um novo parágrafo somente quando há uma mudança no tema que
está sendo abordado. Porém, mesmo com essa mudança de tema, os parágrafos apresentam uma ligação,
seguindo uma espécie de “fio condutor”. Essa unidade/organicidade do texto é chamada de coesão15 .
Vamos observar alguns exemplos para discussão. Observe o trecho para análise:
Você é capaz de perceber algum problema no texto apresentado? Qual? Tente ler esse texto em voz
alta. Você irá perceber que ficará sem ar no meio do parágrafo, que é composto por uma frase enorme.
Além disso, a palavra “também” é repetida em dois pontos muito próximos – isso não fica bom em textos
acadêmicos. Vamos tentar reformular esse texto? Que tal assim:
Curso de Licenciatura em Música
Pode-se afirmar que o ensino de música no Maranhão começou ainda no
período Colonial. Deve-se a isso a ação dos Jesuítas, que catequizavam os
índios. Eles foram expulsos em 1760. Enquanto isso, havia também ensino de
música nos Seminários na Igreja da Sé. Esta última possuía um Cabido onde
havia um chantre, um subchantre e moços do coro. Eles interpretavam obras de
cantochão, motetos e missas durante as cerimônias litúrgicas.
___________________________________________________
15
Para saber mais sobre coesão textual, recomendamos a leitura do capítulo elaborado por Votre e Pereira (2010, p. 65-96).
15
E agora? Você achou que ficou bom? Ou ainda há mais alguma questão que pode ser trabalhada? Leia
essa reformulação do parágrafo. Este “excesso” de pontos finais acaba tornando o texto monótono e muito
fragmentado. Sendo assim, podemos substituir alguns pontos finais por vírgulas, buscando manter a coesão
entre as frases – não vamos dividir frases que tratam sobre a mesma questão! Veja agora:
Como ficou? Você acha que está bom, ou há mais algo a melhorar? O trabalho de redação acadêmica
é assim: precisamos ir “lapidando” o texto até conseguir clareza e adequação na escrita.
Em geral, textos acadêmicos são mais difíceis de ler do que aqueles que estamos habituados a ler em
notícias de jornais e blogs, por exemplo. Isso se dá porque fazemos uso recorrente de termos técnicos. No caso
da área de Música, por exemplo, é comum utilizarmos “tessitura”, “andamento”, “armadura”, “composição” ou
“timbre”, por exemplo, que são palavras com um sentido particular para quem trabalha nessa área – “armadura”
para nós, por exemplo, não é uma vestimenta de proteção! Além disso, há casos em que o texto fica difícil de
entender porque ainda existe uma certa preferência no meio acadêmico por erudição e prolixidade, ou seja:
“falar difícil é bonito”.
Por sorte, muitos pesquisadores da atualidade têm se preocupado em tornar seus textos acessíveis
não somente para especialistas, mas também para mais pessoas fora desse círculo. Logo, é importante nos
preocuparmos com a coerência, buscando um texto que possa ser mais facilmente interpretado.
Um dos elementos importantes na coerência do texto é decidir qual será a pessoa do verbo que fará a
“narração”. É possível escrevermos: 1) na primeira pessoa do plural – assim como temos feito neste trabalho;
2) na primeira pessoa do singular; ou
3) na terceira pessoa do singular. Veja um exemplo do primeiro caso:
Nosso trabalho pretende abordar os métodos mais recorrentes que têm sido
utilizados na área de Música. Curso de Licenciatura em Música
ATIVIDADE
Procure três artigos na Internet que se relacionem com o tema que você pretende pesquisar. Leia-os observando a
estrutura feita pelo autor. Em seguida, identifique as partes do texto que correspondem à introdução, ao desenvolvimento
e à conclusão.
17
2.5 Normalização
Conforme fizemos menção na Unidade anterior, os textos acadêmicos precisam ser elaborados sob
um padrão de formatação – norma. No Brasil, a elaboração dessas normas é de responsabilidade da ABNT,
sendo que periódicos e instituições podem definir normas internas – esse é o caso da UEMA. Recomendamos
ler o Manual, que explica detalhadamente as normas textuais vigentes, assim como elementos que devem
estar presentes em trabalhos de conclusão de curso (monografias, dissertações ou teses), a exemplo da folha
de rosto (BAIMA et al., 2014).
Um dos aspectos mais importantes de uma pesquisa científica é permitir a localização das informações
utilizadas no trabalho. Além disso, é fundamental dar o devido crédito a quem desenvolveu cada ideia,
respeitando a propriedade intelectual. Lembramos, ainda, que copiar ideias e textos, especialmente da
Internet – uma prática recorrente hoje – constitui crime de plágio.
Existem duas situações que exigem citação:
1) Quando utilizamos uma ideia provinda de um autor, mas a redigimos com nossas próprias palavras; e
2) Quando reproduzimos exatamente as mesmas palavras que o autor utilizou ao expressar sua ideia.
[...] inicialmente, é importante distinguir o que sejam normas, técnicas e métodos. Normas são
convenções, utilizadas para poupar o tempo dos leitores e para garantir modelos próximos de
organização para os trabalhos científicos, variando de lugar para lugar, de época para época e,
muitas vezes, de pesquisador para pesquisador. (CASTAGNA, 2008, p. 9).
19
Resumo
A presente Unidade abordou questões sobre leitura analítica e redação acadêmica, sugerindo
procedimentos habituais para a escrita de textos acadêmicos. Questões sobre coesão, coerência e estruturação
textual, normas de formatação e citação foram contempladas. Houve duas tarefas relacionadas à prática de
leitura e redação acadêmica.
REFERÊNCIAS
BAIMA, G. M. N.; PAIVA, I. G.; LOPES, B. F. Manual para Normalização de Trabalhos Acadêmicos. 2. ed. São
Luís: Uema, 2014.
MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de Metodologia Científica. 5.ed. São Paulo: Atlas, 2003.
VOTRE, S. J.; PEREIRA, V. C. Redação de textos acadêmicos. Rio de Janeiro: Fundação Cecierj, 2010.
20
Métodos de Pesquisa
3
UNIDADE
OBJETIVOS
16
O termo “método” é utilizado de forma diferente por Gil (2008) e Köche (2011), sendo utilizados pelos autores ora no sentido de
“raciocínio” ou “concepção”, ora no sentido de “procedimento”. Portanto, vamos limitar o uso desse termo no trecho adiante para
evitar possíveis equívocos.
17
Expressão utilizada pela pianista, professora e pesquisadora Ana Cláudia de Assis, vinculada à Escola de Música da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG). 21
No entanto, pesquisas que envolvem a produção artística como parte central do método começaram a
se estabelecer no meio acadêmico apenas a partir da década de 1990, e ainda não são reconhecidas como
estudos “respeitáveis” em diversos países – entre eles, o Brasil.
3.2.1 Dedução
3.2.2 Indução
Na indução, fazemos o caminho oposto da dedução: estudamos vários objetos em particular, e a partir
dos resultados, procuramos estender as conclusões de maneira mais geral, ou seja: à generalização. Aqui,
temos afirmações prováveis/possíveis e não definitivas, ao contrário da dedução. O exemplo que Gil nos
oferece é: “Antônio é mortal, Benedito é mortal, Carlos é mortal [...]. Antônio, Benedito e Carlos são homens.
Logo, todos os homens são mortais”. (GIL, 2008, p. 10).
Este é uma elaboração do método indutivo, e possui semelhanças com o que Köche chama de “método
indutivo-confirmável” (KÖCHE, 2011, p. 54-57). Aqui, tentamos provar se a informação é falsa, sendo a
“generalização” é feita somente após verificá-la. Gil apresenta uma ilustração desse método:
Aqui (Figura 4), detectamos um problema em um determinado contexto. A partir dele, geramos hipóteses
que apontam o caminho da uma possível solução. Depois, deduzimos informações a partir das observações Curso de Licenciatura em Música
feitas no estudo, com base nas hipóteses levantadas. Por fim, as informações que passaram pela verificação
são colocadas como possíveis afirmações/conclusões.
3.2.4 Experimentação
22
3.2.5 Análise estatística
3.3.1 Observação
Segundo Gil (2008), este é o procedimento que apresenta o maior grau de precisão em pesquisas
nas Ciências Sociais, porém, é também o mais primitivo e impreciso. Difere da experimentação porque neste
último, é possível promover uma intervenção no objeto estudado – ação evitada na observação.
Marconi e Lakatos (2003)18 classificam a observação em quatro tipos: a observação, onde o
pesquisador produz e registra dados; a entrevista, que gera uma abordagem qualitativa através de contato
com o entrevistado; o formulário, onde o pesquisador preenche as informações também mediante contato
com o entrevistado; e o questionário, onde é possível fazer uma abordagem quantitativa sem a presença física
do pesquisador. É importante ressaltar que a entrevista é uma relação humana, portanto, recomendamos que
seu planejamento ofereça um mínimo de interferências no contexto,
Pois há casos em que a simples aparência do pesquisador pode causar um impacto sobre o entrevistado.
3.3.2 Comparação
3.3.3 Etnografia
Procedimento de pesquisa natural da área de Antropologia e que tem transitado em diversas áreas Curso de Licenciatura em Música
do conhecimento. Consiste no estudo das práticas de um indivíduo ou comunidade através de observação,
documentação e, em alguns casos, até intervenção, sendo a pesquisa de campo uma estratégia essencial. No
âmbito da área de Música, a Etnomusicologia se baseia no desenvolvimento da etnografia aplicada a práticas
“musicais” – entre aspas porque são relativamente poucas as culturas onde existe a ideia de “música” tal qual
como a nossa. Ainda, a subárea de Educação Musical também tem trabalhado com estas ideias. Segundo
Anthony Seeger:
___________________________________________________
18
Para conhecer melhor o método de observação, recomendamos a leitura das páginas 190 a 213 do livro de Marconi e Lakatos.
23
A etnografia da música não deve corresponder a uma antropologia da música, já que a etnografia
não é definida por linhas disciplinares ou perspectivas teóricas, mas por meio de uma abordagem
descritiva da música, que vai além do registro escrito de sons, apontando para o registro escrito
de como os sons são concebidos, criados, apreciados e como influenciam outros processos
musicais e sociais, indivíduos e grupos. A etnografia da música é a escrita sobre as maneiras
que as pessoas fazem música. Ela deve estar ligada à transcrição analítica dos eventos, mais
do que simplesmente à transcrição dos sons. Geralmente inclui tanto descrições detalhadas
quanto declarações gerais sobre a música, baseada em uma experiência pessoal ou em um
trabalho de campo. (SEEGER, 2008, p. 239).
Logo, os estudos etnográficos trabalham tanto com objetividade e a análise de dados quanto a
subjetividade e a pessoalidade, seja do “objeto” ou do pesquisador.
Na atualidade, há estudos de etnografia sendo realizados no meio digital, com vistas a pesquisar práticas
e comportamentos humanos na Internet. Esta adaptação do método em questão tem sido chamada de
netnografia.
3.3.4 Historiografia
Segundo Malerba (2006), trata-se do estudo da história sob uma perspectiva científica, envolvendo tanto
as diversas correntes de pensamentos que norteiam a análise de fatos históricos quanto os procedimentos e
ferramentas utilizados na pesquisa. As três concepções metodológicas que serão vistas adiante – Estruturalismo,
Materialismo dialético e Fenomenologia – são exemplos que podem nortear um estudo historiográfico.
Na Música, temos a Musicologia Histórica como subárea que dialoga com a Historiografia. Estudos
sobre as práticas musicais de outros tempos tem como característica o uso de fontes variadas. São
consideradas fontes primárias informações orais (podem ser coletadas por entrevistas), jornais de época,
cartas19, programas de apresentações musicais, partituras manuscritas e outros tipos de documentos, como
inventários, relatórios ou despachos administrativos. Um exemplo de trabalho que aborda as práticas musicais
do período colonial com amplo uso de fontes primárias é o de Holler (2006), que foca na atuação dos jesuítas
na América Portuguesa. Já as fontes secundárias consistem em publicações que fazem uso de fontes
primárias como livros, artigos de periódicos ou eventos, partituras editadas ou material didático, entre outros.
3.3.5 Estruturalismo
Corrente de pensamento onde a pesquisa busca explicar o objeto ou fenômeno estudado como uma
estrutura, onde partes independentes se relacionam para formar um todo. Qualquer alteração em uma das
partes implica em modificações de outra parte, mantendo o equilíbrio da estrutura. Gil (2008) aponta quatro
aspectos que um estudo estruturalista precisa possuir:
___________________________________________________
19
O estudo científico de cartas é chamado de Epistolografia.
24
como singular e revelada graças à experiência sensível. Dessa forma, o objeto passa a ser o que é, ou seja,
o fato. Para o estruturalismo o fato isolado, enquanto tal, não possui significado”. (GIL, 2008, p. 20).
Logo, o estruturalismo sempre entende o objeto ou fenômeno como uma parte de um “mecanismo”,
buscando situá-lo neste modelo/sistema/estrutura.
Relacionada às Ciências Sociais e Humanas, há dois conceitos de dialética: 1) o mais antigo, proposto
por Platão e que está ligado à Retórica – o estudo da capacidade de argumentação e defesa coerente de
ideias; e 2) a dialética proposta por Hegel, onde o percurso histórico da humanidade se baseia em uma
sucessão de contradições.
No século XIX, Karl Marx e Friedrich Engels propuseram o materialismo dialético como uma abordagem
analítica para compreensão da verdade/realidade. Sua característica mais evidente é partir do pressuposto
que o mundo físico – a matéria – e, portanto, a produção econômica, norteia e conduz o pensamento humano,
em oposição ao idealismo. Gil (2008) resume os três princípios do materialismo dialético:
1. A unidade dos opostos: dois objetos ou fenômenos contraditórios e conflitantes entre si são, na verdade,
parte indissolúvel de um mesmo processo. Essa “luta” constitui o desenvolvimento da realidade;
2. Quantidade e qualidade: todos os objetos e fenômenos possuem características relacionadas ao
quantitativo e ao qualitativo, portanto, quantidade e qualidade estão inter-relacionadas;
3. Negação da negação: as mudanças são “negações” (oposições) ao fenômeno que se pretende mudar.
O resultado dessa mudança também é negado, e o desenvolvimento da realidade consiste em uma
sucessão de “negações”, mas em contextos diferentes.
O materialismo dialético é uma abordagem amplamente difundida nas Ciências Sociais. Segundo Gil
(2008), a dialética adota uma abordagem qualitativa, onde o objeto de estudo é analisado mais detalhadamente.
Essa concepção se contrapõe ao positivismo, que foca na abordagem quantitativa e em conclusões feitas a
partir de padrões apresentados por uma quantidade significativa de objetos de estudo.
3.3.7 Fenomenologia
Esta abordagem parte do pressuposto que as certezas do positivismo, presente nas abordagens
25
3.3.8 Método clínico
Envolve uma relação muito próxima entre o pesquisador e seu “objeto” – no caso, pessoas. Segundo
Gil (2008), esta é uma abordagem amplamente utilizada na Psicologia, especialmente a partir dos trabalhos
de Sigmund Freud. Está relacionada aos estudos de caso, uma vez que não oferece condições favoráveis
para estabelecer conclusões gerais.
3.3.9 Pesquisa-ação
Este tipo de pesquisa, intimamente ligado às Ciências Sociais, tem o objetivo de proporcionar uma ação
social ou buscar soluções para problemas coletivos, havendo uma relação cooperativa entre o pesquisador e
as pessoas envolvidas na pesquisa. É uma proposta diferente da chamada “pesquisa clássica”, onde o foco se
encontra na produção e análise de dados com um mínimo de interação e posicionamento político e social, sob
a concepção de “preservar a objetividade”. Gil (2008) apresenta também o conceito de “pesquisa participativa”,
em que, o pesquisador procura contribuir com o desenvolvimento social e autônomo da comunidade estudada
– e que geralmente está em situação de “vulnerabilidade”. O autor nos diz ainda que estes tipos de pesquisa
se distanciam dos princípios da pesquisa clássica, colocando-se mais próxima da dialética em contraponto ao
positivismo.
Segundo Henk Borgdorff (2012), o debate sobre a pesquisa artística emergiu porque os métodos de
pesquisa científica já estabelecidos no meio acadêmico não têm se mostrado suficientes para compreender
a área de Artes na perspectiva de seu tipo de produto mais relevante: a produção artística. A seguir,
apresentaremos os três tipos de pesquisa artística conforme a proposta de Cristopher Frayling, aprimorada
por Henk Borgdorff (2012):
Abordagens onde práticas e/ou produções artísticas são o objeto do estudo. Aqui, é possível adotar
os métodos estabelecidos de pesquisa científica, uma vez que estes estudos são essencialmente teóricos e
baseados na distância entre pesquisador e objeto. Praticamente todas as pesquisas científicas sobre Música
feitas até hoje estão associadas a este tipo, de onde provém disciplinas como Musicologia, Etnomusicologia,
Constitui os estudos onde as práticas e produções artísticas são o objetivo do estudo, estando
relacionadas à pesquisa aplicada. Trabalhos sobre a construção de instrumentos musicais ou análise acústica
de um espaço cultural, por exemplo, visam a oferecer melhores condições para a prática musical. Aqui, também
se admite a adoção de métodos científicos já consolidados no meio acadêmico.
26
3.4.3 Pesquisa nas artes
São os estudos onde as práticas artísticas são tanto o objeto da pesquisa quanto parte do método.
Logo, não há separação entre o objeto – a prática – e o pesquisador – inserido na prática. Também não há
diferença entre teoria e prática, pois ambas estão presentes simultaneamente.
Todos os artistas, ao produzir obras de arte, lidam com habilidades sensoriais e intelectuais específicas:
escultores aprendem e aprimoram constantemente suas técnicas de manipulação de materiais, atores estudam
a expressão do corpo na prática e músicos lidam com habilidades auditivas e motoras para compor, cantar ou
tocar um instrumento musical. Como esse conhecimento não pode ser integralmente documentado – e por
isso mesmo é trabalhado através da relação entre “mestre e aprendiz” – os estudiosos da pesquisa artística
têm se referido ao mesmo como conhecimento incorporado. Os resultados dessas pesquisas muitas vezes
não podem ser publicados na forma de textos acadêmicos, requerendo recursos multimídia – como, por
exemplo, gravações em áudio ou vídeo.
López-Cano e Opazo oferecem um exemplo de pesquisa nas artes que nos ajuda a entender este tipo
particular de pesquisa:
[...] a estudante [violinista], além dos aspectos biográficos, históricos ou analíticos, decide
dedicar seu trabalho ao estudo de versões da sonata BWV 1017 de Bach através de gravações
tanto em instrumentos modernos como em interpretações historicamente informadas com
instrumentos de época. Utilizando um programa para visualização do som e comparação
dos arquivos sonoros, como o Sonic Visualiser, compara fraseados, articulações, escolha e
condução do tempo, os diferentes estilos de realizar vibrato, as cesuras entre as frases e os
estilos interpretativos de cada violinista. [...] Aqui, as perguntas da pesquisa se concentrariam
em aspectos próprios da interpretação: como foram as mudanças da escolha de tempo na
interpretação dessa sonata ao longo do século XX? Além das diferenças de estilo na condução
do vibrato e da articulação, existem algumas semelhanças entre o fraseado de versões com
instrumentos modernos e aquelas que utilizam instrumentos de época com critérios históricos?.
(LÓPEZ-CANO; OPAZO, 2014, p. 50)
Podemos perceber que para responder às hipóteses do trabalho, o pesquisador precisa ter habilidades
musicais como percepção musical e interpretação do violino, indo além da análise musicológica. Logo, este é
um exemplo de pesquisa onde a prática artística constitui parte essencial do método, exigindo do pesquisador
a aplicação de suas habilidades específicas.
Outro exemplo de pesquisa nas artes é “Música sacra e religiosa brasileira dos séculos XVIII e XIX:
Teorias e práticas editoriais”, do musicólogo Carlos Alberto Figueiredo. A edição de partituras é uma atividade
de prática artística. Entretanto, a publicação das partituras resultantes da edição somente, mesmo diante
de todas as competências artísticas e saberes necessários para realizar essa tarefa, ela não é considerada
“produção de conhecimento” no sentido tradicional de “pesquisa científica” – assim como apresentações
musicais, exposições de quadros, mostras de filmes e performances teatrais e coreográficas. Sendo assim,
Curso de Licenciatura em Música
Figueiredo publicou um livro (2017) com discussões teóricas e relatos de algumas decisões editoriais mais
relevantes do seu trabalho de edição musical, caracterizando outro aspecto da “pesquisa nas artes”: a
documentação foca no processo e não no resultado/produto. Trata-se de outra diferença significativa em
relação à “pesquisa clássica”.
27
ATIVIDADE
Você já tem uma questão norteadora em mente para sua pesquisa? Caso a resposta seja sim, observe
se algum dos métodos ou correntes de pensamento apresentadas nesta Unidade poderia ajudá-lo a obter
respostas para a tua questão norteadora? Escolha um dos métodos descritos conforme seu interesse e
procure aprofundar seu conhecimento sobre o mesmo, lendo as referências indicadas. Depois, escreva um
breve texto de pelo menos duas páginas, descrevendo o método que você estudou, buscando aprofundar seu
conhecimento.
Resumo
REFERÊNCIAS
BORGDORFF, H. The conflict of the faculties: Perspectives on Artistic Research and Academia. Amsterdã:
Leiden University Press, 2012.
FIGUEIREDO, C. A. Música sacra e religiosa brasileira dos séculos XVIII e XIX: Teorias e práticas editoriais.
2. ed. Rio de Janeiro: Edição do autor, 2017.
GERHARDT, T. E.; SILVEIRA, D. T. (Org.). Métodos de Pesquisa. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009.
GIL, A. C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
MALERBA, J. (Org.). A História Escrita: teoria e história da historiografia. São Paulo: Contexto, 2006.
HOLLER, M. T. Uma história de cantares de Sion na terra dos Brasis: a música na atuação dos Jesuítas na
América Portuguesa (1549-1759). Tese (Doutorado em Música). 951f. Campinas: PPGM/IA/UNICAMP, 2006.
KÖCHE, J. C. Fundamentos de Metodologia Científica: Teoria da ciência e iniciação à pesquisa. Petrópolis: Curso de Licenciatura em Música
Vozes, 2011.
MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de Metodologia Científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003.
SEEGER, A. Etnografia da música. Traduzido por Giovanni Cirino. Cadernos de Campo, São Paulo, n. 17, p.
1-348, 2008.
28
Projetos de Pesquisa
4
UNIDADE
OBJETIVOS
Os projetos de pesquisa, assim como qualquer outro tipo de projeto, visam a apresentar uma proposta
que ainda será concretizada – diferentemente da monografia, que já é o próprio trabalho de pesquisa. Sendo
assim, um projeto de pesquisa precisa demonstrar para seus avaliadores certos aspectos, sendo os mais
importantes:
• Clareza/coesão nas ideias propostas, mesmo que elas aparentem ser “redundantes” ou repetitivas;
• Referências bibliográficas atualizadas e/ou pertinentes para a área em que o estudo será realizado;
• Relevância da contribuição do projeto conforme a revisão de literatura, o problema, a hipótese e a
questão norteadora;
• Capacidade/coerência na escrita do proponente segundo as normas e padrões de redação
acadêmica.
Outra questão importante, baseada nas discussões realizadas nas Unidades anteriores, é compreender
que a pesquisa científica é um processo dinâmico e sempre sujeita a mudanças e atualizações. Logo, o projeto
precisa refletir esta flexibilidade, pois o pesquisador deve ter segurança na condução da pesquisa e saber se Curso de Licenciatura em Música
adaptar a possíveis imprevistos que poderão ocorrer.
A seguir, iremos abordar a estruturação elementar de um projeto de pesquisa, oferecendo sugestões
para elaboração de cada parte. Recomendamos também a leitura de Gerhardt e Silveira (2009) e, em especial,
Marconi e Lakatos (2003), referências bem mais detalhadas sobre o assunto em questão20 .
___________________________________________________
20
Este assunto é contemplado nas páginas 65 a 88 do livro de Gerhardt e Silveira e nas páginas 215 a 227 do livro de Marconi e
Lakatos.
29
4.1 Recapitulando
• No local onde vivo e/ou trabalho, o ensino de música existe e/ou é satisfatório?
• As escolas da educação básica (públicas ou particulares) de minha cidade oferecem ensino de
música na disciplina de Artes?
• Existem estudos sobre a biografia de músicos da cidade ou região onde moro?
• Há acervos ou coleções de partituras na região onde resido?
Se você respondeu “sim” para alguma delas, estará apontando um problema no seu contexto. Porém,
as perguntas apresentadas aqui são apenas sugestões, e talvez não lhe despertem motivação – elemento
fundamental em tudo o que desejamos fazer!
Caso você tenha experiência como músico ou professor de música atuante em sua cidade, pode ser
mais interessante verificar as dificuldades e desafios vivenciados em seu trabalho, e a partir dessa vivência,
é possível elaborar uma pesquisa. Outra opção seria fazer um estudo sobre alguma área da Música que lhe
interessou mais, sem necessariamente estar ligado à sua região ou contexto. Poderia ser, por exemplo, uma
pesquisa baseada em revisão de literatura e discussão. Por fim, se você ainda não conseguiu “arrumar um
problema”, tente conversar com colegas, músicos e educadores de sua cidade. Pode ser que durante um
bate-papo descontraído apareça alguma questão que irá lhe interessar – isso é muito mais frequente do que
imaginamos!
Depois de diagnosticar um problema, vamos definir uma questão norteadora para sua pesquisa. Um
problema – ou tema – pode gerar diversas perguntas, conforme podemos observar no modelo a seguir, que
trata sobre o ensino de música em Bacurituba (Figura 5):
A. Como se dá o ensino e
aprendizagem na Escola de
Música Sebastião Ewerton ?
B. Quais Igrejas
Evangélicas de Bacurituba
Figura 5 - Exemplos de perguntas tê aulas de música e como
els são
30
Todos os casos listados no modelo (Figura 5) constituem estudos de caso com base no contexto
local. Além disso, as propostas de questões norteadoras apresentadas podem ser “refinadas”, como a do
quadro C: pode ser mais interessante focar na biografia de um professor de música da cidade, ao invés de
vários. Já no quadro D, é possível fazer um relato sobre as aulas de música de uma escola regular apenas
(assim como ocorre no quadro A). Essa decisão irá depender da quantidade de informações que você irá
encontrar, em diálogo com seu orientador.
No final, a questão norteadora será uma pergunta que representa plenamente a sua pesquisa. É
fundamental ter esta pergunta bem clara, tendo em vista que a argumentação das demais partes do projeto
depende diretamente dela. Caso você não tenha definido ainda uma questão norteadora ou está em dúvidas
sobre ela, recomendamos seguir as sugestões de Gil (2008)21 .
Na Unidade I, abordamos em 1.4 Revisão de Literatura, os documentos e textos acadêmicos que você
citou nas demais seções, sob as normas de formatação definidas pela ABNT e UEMA. Entretanto, esta deve
ser a última seção do seu projeto. Mencionamos ela aqui porque é mais interessante criá-la primeiro, e à
medida que forem feitas citações de autores nas demais seções, você deve ir nas “Referências Bibliográficas”
e inserir a referência correspondente a cada citação. Não deixe para fazer este trabalho no final, pois pode
haver confusão! É importante criar o hábito de inserir as referências assim que elas forem citadas, pois não
será necessário verificar se há referências a mais ou a menos depois.
Algumas pessoas gostam de trabalhar com duas folhas de caderno ou arquivos digitais diferentes: no
primeiro, elas escrevem o projeto; e no segundo, anotam as referências bibliográficas utilizadas. Assim que a
redação do projeto for concluída, ele apenas acrescenta o segundo caderno/arquivo ao final do primeiro.
4.3 Objetivos
São as atividades e ações que você pretende realizar em sua pesquisa. Um recurso conhecido que
ajuda a construir os objetivos é perguntar: “o que pretendo fazer?” As respostas, que devem ser frases curtas e
claras, podem começar com verbos no infinitivo que exprimem ações, como “investigar”, “promover”, “analisar”,
“propor” ou “elaborar”.
Temos, ainda, dois tipos de objetivos: 1) o objetivo geral, que consiste na ação ou atividade que
responde à questão norteadora e conclui a pesquisa; e 2) os objetivos específicos, que são resultado indireto
da pesquisa. Curso de Licenciatura em Música
Como exemplo, vamos supor que seu trabalho seja sobre o ensino na Escola de Música Zacarias Rêgo, de
Pastos Bons. Você fará a pergunta – “o que pretendo fazer?” – e terá como possíveis respostas:
___________________________________________________
21
Estas sugestões estão presentas nas páginas 41 a 48 do livro de Gil.
31
• Entrevistar os professores do estabelecimento;
• Fazer um levantamento do material didático utilizado nas aulas da escola;
• Verificar o planejamento pedagógico da instituição.
Perceba que o primeiro objetivo apresentado responde à questão norteadora; esse é, portanto, o
objetivo geral.
ATIVIDADE
Você já tem um problema e uma questão norteadora definidos? Se sim, escreva-a na primeira página de
um caderno ou editor de texto. Em seguida, escreva o objetivo geral e pelo menos cinco objetivos específicos,
perguntando para si mesmo: “o que pretendo fazer?”
4.4 Justificativa
Nos projetos de pesquisa solicitados por boa parte das instituições de ensino superior do Maranhão, é
comum que a seção “Justificativa” apareça antes dos “Objetivos”. Entretanto, acreditamos ser mais interessante
elaborar os objetivos antes da justificativa, portanto, basta você trocar a ordem das seções no seu projeto de
pesquisa.
Conforme afirmamos anteriormente, o projeto de pesquisa tem um caráter redundante. Isso se dá
porque suas partes são inter-relacionadas. Além disso, essa “redundância” reforça para os avaliadores a
segurança que o proponente do projeto deve possuir sobre a pesquisa que deseja desenvolver.
Diferentemente dos objetivos, que são frases curtas e diretas, a justificativa consiste em parágrafos
onde você irá argumentar/defender a relevância da sua pesquisa. A pergunta que nos guia para elaborar a
justificativa é “por que esta pesquisa seria importante?” Cada resposta irá gerar um parágrafo argumentativo.
Para redigi-lo, é preciso ter algum conhecimento sobre o tema que irá abordar no projeto, ou seja: você já
deveria ter feito uma revisão de literatura e a leitura analítica de algumas referências.
Em geral, a justificativa traz pelo menos três argumentações – e, logicamente, essa mesma quantidade
de parágrafos. Para ajudá-lo a desenvolver a justificativa, sugerimos fazer a pergunta “por que” pensando em
três aspectos distintos. Por exemplo:
Voltemos ao exemplo sobre o ensino musical na Escola de Música Zacarias Rêgo. Seguem adiante
possíveis parágrafos para uma justificativa:
1. A Escola de Música Zacarias Rêgo, a exemplo de tantas outras instituições de ensino musical mantidas
por prefeituras no Estado do Maranhão, contribui de maneira significativa para a manutenção das práticas
musicais em Pastos Bons. Um estudo científico permitirá refletir sobre as contribuições efetivas da escola
em âmbitos mais aprofundados;
32
2. Segundo a literatura, há relatos de experiência relevantes sobre outras instituições de ensino musical
maranhenses, como a Escola de Música “Maestro Nonato” em São José de Ribamar, a Escola de Música
de Morros e a Escola de Música do Estado do Maranhão “Lilah Lisboa de Araújo” em São Luís. Entretanto,
não há estudos que abordam a Escola de Música Zacarias Rêgo;
3. O ensino e aprendizagem musical da Escola de Música Zacarias Rêgo é um tópico de relevância tanto para
estudantes e professores da instituição, que terão um retorno analítico e um registro de suas atividades,
quanto para pesquisadores das subáreas de Educação Musical e Musicologia.
ATIVIDADE
Considerando sua questão norteadora, elabore a justificativa de seu projeto com base nas três perguntas
apresentadas, buscando responder cada uma delas em um parágrafo diferente.
Algumas instituições solicitam que seus projetos de pesquisa contenham a seção “Referencial Teórico”.
Sua elaboração é semelhante à da “Justificativa”, mas com uma finalidade diferente: o pesquisador deve
demonstrar conhecimento da bibliografia, teorias, concepções e discussões ligadas ao tema da pesquisa.
É importante o uso de citações, reforçando o diálogo com a literatura. Portanto, para elaborar o referencial
teórico, você já precisaria ter realizado a revisão de literatura e várias leituras analíticas.
No exemplo que temos utilizado, uma possível seção de “Referencial Teórico” sobre o ensino na Escola
de Música Zacarias Rêgo iria contemplar estudos de caso semelhantes – como os da Escola de Música de
Morros e de São José de Ribamar, por exemplo – e trabalhos de autores ligados à subárea de Educação
Musical com foco em instituições de ensino, a exemplo de Neide Esperidião, Marisa Fonterrada, Rita Fucci
Amato e Luciana Del-Ben.
ATIVIDADE
Com base nos trabalhos desenvolvidos até agora sobre sua pesquisa, elabore um breve referencial
4.6 Metodologia
Este é o “coração” do seu projeto. É na metodologia que você responderá à pergunta “como vou fazer
esta pesquisa?”. Aqui entrarão os conhecimentos estudados na Unidade III, que oferecem ideias sobre como
conduzir e desenvolver sua pesquisa.
Conforme vimos anteriormente, existem dois tipos de método: 1) abordagens conceituais; e 2)
procedimentos técnicos. Pense, agora, em que método(s) específico(s) de cada tipo seriam interessantes
33
para responder à hipótese da sua pesquisa - que, neste momento, já precisa estar bem definida.
Como os métodos mudam muito de acordo com o que estamos pesquisando, é mais interessante
vermos exemplos de métodos adotados em outros trabalhos. Seguem adiante alguns exemplos (Tabela 1):
Tabela 1 - Exemplos de métodos e pesquisas científicas da área de Música
• Procure pesquisas semelhantes à sua na Internet, procurando analisar que métodos foram
empregados pelo pesquisador;
• Leia os textos recomendados que tratam sobre o(s) método(s) que você pretende adotar em sua
pesquisa;
• Imagine um “passo a passo” das ações que você fará na sua pesquisa, sempre pensando em
como responder à sua questão norteadora.
Como a definição de métodos varia muito conforme cada pesquisa, sugerimos que você desenvolva a
34
seção “Metodologia” de seu projeto, mostrando-a para o seu orientador.
4.7 Cronograma
Aqui, você irá definir o tempo necessário para concluir cada ação prevista na seção “Metodologia” –
por isso recomendamos a você imaginar o “passo a passo” para o desenvolvimento de sua pesquisa. Em
geral, o cronograma é apresentado em forma de tabela, onde as linhas trazem cada etapa da metodologia e
as colunas o prazo previsto para conclusão das mesmas. É importante notarmos que o cronograma oferece
sempre uma estimativa, portanto, pode estar sujeito a alterações.
Com relação ao tempo total para realização do projeto, temos por definição o prazo de um ano para
conclusão de uma pesquisa de Monografia – este é o caso do curso de Licenciatura em Música a distância
da UEMA. Projetos de pesquisa para o Mestrado dispõem de dois anos para sua realização, enquanto os de
Doutorado possuem quatro anos. Sendo assim, ao elaborar seu projeto de pesquisa no âmbito deste curso,
você deve ter em mente que disporá de um ano para conclui-lo.
Apresentamos, a seguir, um exemplo de cronograma com base no exemplo que temos demonstrado
sobre o ensino na Escola de Música Zacarias Rêgo (Tabela 2).
Etapa Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
1. Revisão de literatura X X X
2. Redação da pesquisa X X X X X X X X
3. Análise do currículo X X
4. Entrevistas X X X
6. Defesa X
ATIVIDADE
Crie um cronograma para sua pesquisa, buscando definir de maneira clara cada procedimento/etapa
constante na metodologia e imaginando uma estimativa de tempo para conclui-la.
4.8 Recursos
Curso de Licenciatura em Música
Este item trata sobre os recursos necessários para realização da pesquisa. Em geral, não é solicitado
em caso de monografias. Entretanto, é interessante conhecê-lo, pois em projetos de pesquisa para Mestrado,
Doutorado e instituições de apoio à pesquisa – como no caso da Fundação de Apoio à Pesquisa do Maranhão
(FAPEMA) – além de projetos culturais, a seção “Recursos” é necessária, sendo inclusive uma das mais
importantes para sua execução e avaliação.
Ao elaborar este item, podemos dividir/classificar os recursos em três tipos:
1. Material de consumo: recursos físicos temporários, como resmas de papel, canetas, cadernos, cartuchos
para impressora, combustível ou alimentação, entre outros;
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2. Material permanente: recursos físicos sem prazo de validade, como computadores, cabos e equipamentos
de áudio, instrumentos musicais, pastas organizadoras, câmeras, filmadoras ou scanners, por exemplo;
3. Serviços de terceiros: recursos humanos em geral, podendo ser diárias/hospedagem, prestações de
serviços gerais, trabalhos temporários, consultorias ou cachets para músicos.
A apresentação dos recursos também costuma ser feita por meio de uma tabela ou quadro onde são
inseridos os itens, a quantidade necessária, o valor unitário e a soma dos mesmos. Segue adiante um exemplo
de quadro demonstrativo para os recursos (Tabela 3):
4.9 Introdução
Este é o item que inicia o projeto de pesquisa, portanto,é onde oferecemos um panorama geral do tema
e apresentamos o problema, a hipótese e a questão norteadora da pesquisa. Além disso, é o momento em
que, o pesquisador precisa ter plena convicção do seu trabalho, logo, torna-se mais interessante deixar como
a última seção a ser escrita – que é quando temos as ideias do projeto mais “amadurecidas”.
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4.10 Anexos
• Trabalhos voltados à edição musical, pode ser interessante demonstrar algumas das partituras que serão
editadas, inserindo-a nos anexos;
• Em projetos que tratam sobre a legislação vigente de Educação Musical ou ensino de música em escolas,
as leis e regimentos que se pretende discutir podem vir em anexo;
• Nas pesquisas que fazem uso de entrevistas e/ou questionários, é interessante colocar em anexo os
formulários utilizados;
• Em relatos de experiência, onde é interessante inserir registros visuais (fotografias) das atividades
desenvolvidas que não tiveram espaço apropriado no corpo do texto.
Nas pesquisas em Música, é comum haver pesquisas com registros em áudio e vídeo gravados em CD,
sendo a seção “Anexos” apropriada para inseri-lo. Portanto, recomendamos que você utilize um tipo de papel
mais resistente – como papel cartão ou couché, por exemplo, – e cole um envelope de CD para guardá-lo.
Por fim, caso o seu projeto de pesquisa venha a ter documentos em anexo, eles devem ser inseridos no final,
após a seção “Referências Bibliográficas”.
Aqui, vamos abordar algumas discussões que não foram contempladas neste breve trabalho, mas cuja
apresentação se mostra fundamental. Indicaremos referências mais adequadas sobre cada assunto.
___________________________________________________
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Este breve vídeo mostra como criar uma quebra de página: https://youtu.be/35VFUuUgpZU
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4.12.1 Plágio
Conforme abordamos brevemente, apresentar ideias de outras pessoas sem dar o devido crédito é
crime de plágio, disposto na Lei n.º 12.853/2013 de direitos autorais e no Art. 184 do Código Penal. Na
Internet, a fraude mais recorrente provém do ato de copiar e colar as informações – ferramenta que facilita
muito o trabalho, mas por outro lado pode ser utilizada de forma prejudicial. Entretanto, reescrever a ideia de
terceiros com suas próprias palavras, sem a devida citação, também caracteriza plágio.
Em estudos que lidam com pessoas de maneira muito próxima, a exemplo daqueles que adotam
métodos como observação, entrevistas, pesquisa-ação e pesquisa participativa, é importante atentar para a
questão do “consentimento informado”. Princípio estabelecido pelo Código de Nuremberg, consiste no direito
que as pessoas envolvidas na pesquisa têm em saber que tipos de informação estão sendo recolhidas e em
como elas serão divulgadas/publicadas. No caso de pesquisas na área da Saúde, este princípio deve ser
observado, pois pesquisas baseadas em experimentos com produtos farmacêuticos, por exemplo, podem
colocar em risco a saúde das pessoas. Entretanto, há uma discussão nas Ciências Sociais sobre a limitação
que este princípio infere à própria pesquisa, conforme nos diz Gil (2008, p. 107). Sobre a ética na pesquisa
em Música, recomendamos a leitura de Ilari (In: BUDASZ, 2009).
De qualquer forma, é importante se informar sobre o protocolo a seguir. Em geral, é necessário que
as pessoas assinem um Termo de Consentimento antes de participar da pesquisa. Na UEMA, o setor que
lida com questões de ética na pesquisa é o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP/UEMA)23 e pode dar maiores
orientações para a sua pesquisa, caso você precise lidar com pessoas.
Resumo
Nesta Unidade, estudamos as principais seções que constituem um projeto de pesquisa científica
adequado à área de Música, oferecendo sugestões de redação. Foram sugeridas tarefas relacionadas à
elaboração de partes específicas, recomendando a supervisão do trabalho por um orientador. No fim, foram
brevemente abordadas questões sobre ética na pesquisa.
BAIMA, G. M. N.; PAIVA, I. G.; LOPES, B. F. Manual para Normalização de Trabalhos Acadêmicos. 2. ed. São
Luís: Uema, 2014.
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A página do CEP/UEMA está vinculada ao portal da Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PPG/UEMA). Endereço eletrônico:
http://www.ppg.uema.br.
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COSTA NETO, R. J. M. Um panorama histórico-cultural sobre vida e obra de compositores de choro da
baixada maranhense: breve análise musical de obras já editadas. Monografia (Licenciatura em Música). 56f.
São Luís: UFMA, 2013.
GERHARDT, T. E.; SILVEIRA, D. T. (Org.). Métodos de Pesquisa. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009.
ILARI, B. Por uma conduta ética na pesquisa musical envolvendo seres humanos. In: BUDASZ, R. (Org.).
Pesquisa em Música no Brasil: métodos, domínios, perspectivas. Goiânia: ANPPOM, 2009, p. 167-185.
MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de Metodologia Científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003.
OLIVEIRA, R. V. L. Gosto musical de alunos do ensino fundamental: o repertório na atividade de canto coral
em uma escola regular do Estado do Goiás. Monografia (Licenciatura em Música). 36f. Porto Nacional: UAB/
UnB, 2014.
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