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03.02.2011
Ao iniciar este artigo, creio ser oportuno reconhecer uma diferença entre três
coisas claras e distintas:
(2) Uma hipótese científica falsificada é uma coisa, porém uma suposta prova
feita mediante fraude, outra e notadamente distinta. Por exemplo, a hipótese
heliocêntrica de Copérnico mostrou que a concepção geocêntrica de Ptolomeu
era falsa, mas de nenhum modo fraudulenta. Era apenas um equívoco causado
pelo ponto de observação assumido pelo observador.
Por exemplo, a teoria da relatividade de Einstein não foi falsificada até hoje, mas
tem a possibilidade de ser, caso se descubra, por exemplo, que a velocidade da
luz (a saber: 300.000 km por segundo) – que é uma constante para Einstein -
sofre uma alteração, para mais ou para menos, em algum lugar no universo.
A fraude de Haeckel, assim como outras do mesmo tipo, não estava a serviço de
nenhuma ideologia de caráter político ou mesmo de qualquer outro tipo. Espírito
sequioso de fama, ele ambicionava o aplauso da comunidade científica e do
mundo.
Isso foi o que ocorreu de fato com a ciência durante os regimes totalitários do
nazismo e do comunismo - não que todos os ramos da ciência tenham sido
perversamente distorcidos ou substituídos por versões alternativas, mas tão-
somente aqueles que incomodavam a ideologia política vigente. E com igual
empenho os autocratas davam seu apoio e promoviam a divulgação em larga
escala das teorias capazes de reforçar sua ideologia política.
O próprio Einstein ironicamente previu seu destino quando disse que se sua
teoria não fosse falsificada e permanecesse de pé, os nazistas diriam que ele era
um grande cientista alemão, mas se fosse refutada por um experimento crucial,
ele passaria a ser um equivocado cientista judeu.
Mas o fato era que se alguma coisa pudesse ter abespinhado os nazistas era o
mencionado cientista ser judeu, não a teoria da relatividade que não afetava em
nada o antissemitismo, a concepção expansionista do Lebensraum (espaço vital),
a superioridade da raça ariana predestinada a dominar o mundo, etc, entre os
principais tópicos da monstruosa ideologia nacional-socialista.
Mas a Antropologia Física não foi considerada politicamente inócua pelo regime
nazista, pois havia um forte interesse ideológico político em apresentar
evidências da superioridade racial ariana, mediante investigação da morfologia
craniana e de caracteres genéticos terciários das diferentes “raças”. E desse modo
foi criada uma antropologia física nazista repleta de preconceitos e
arbitrariedades.
Por outro lado, durante o período stalinista, a Antropologia Física - fora breves
alusões feitas por seus autores à Dialética da Natureza de Friedrich Engels – não
apresentava marcantes diferenças em relação à adotada e ensinada nos países do
bloco ocidental.
Algumas vezes, teorias científicas não são distorcidas nem substituídas por
teorias alternativas, porém simplesmente desprezadas pelas decisões arbitrárias e
autoritárias de ditadores, que as tomam sem consultar nenhum cientista, e os
efeitos práticos podem ser simplesmente catastróficos.
Durante o período da Revolução Cultural do camarada Mao-Tsê-Tung
comandando a Guarda Vermelha, a China estava sendo assolada por um
crescimento desmesurado de pardais devastando sua agricultura.
Como agrônomo e geneticista, ele podia ser considerado um perfeito idiota. Mas
como já dizia o sábio e sereno Cervantes: “Loco si, pero no tonto”. Raposa
política das mais felpudas e sem nenhum escrúpulo, Lysenko se livrou de todos
os biólogos sérios da União Soviética mandando-os para o Arquipélago Gulag
cuja existência o mundo livre só ficou sabendo muitos anos mais tarde, graças à
corajosa denúncia do escritor A. Soljenitsin.