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PROBLEMA 03
OBJETIVOS
O paciente com insuficiência cardíaca em geral permanece assintomático durante vários anos,
devido aos mecanismos adaptativos, que mantêm o débito cardíaco normal ou próximo ao
normal, pelo menos no estado de repouso. Porém, após período de tempo variável e imprevisível,
surgem os primeiros sintomas! Os sintomas podem ser consequência do baixo débito e/ou da
síndrome congestiva.
O sintoma mais comum e característico da ICD é a dispneia. Tal achado, entretanto, é pouco
específico, podendo ser encontrado em outras condições clínicas. O mesmo vale para a presença
de tosse noturna, edema de membros inferiores, sibilos ou estertores pulmonares. Por outro lado,
ortopneia, dispneia paroxística noturna e terceira bulha, apesar de não serem patognomônicas,
são sinais e sintomas mais específicos de IC.
Síndrome Congestiva Pulmonar: na maioria das vezes, a insuficiência cardíaca se inicia por um
comprometimento isolado do VE. Como resultado os pulmões se tornam congestos, com acúmulo
de líquido intersticial e intra-alveolar. A congestão aumenta o trabalho respiratório e estimula os
receptores J pulmonares, provocando a sensação de dispneia. Como as pressões de enchimento
inicialmente se elevam durante o esforço, o sintoma clássico inicial é a dispneia aos esforços.
Alguns pacientes com congestão mais acentuada se queixam de dispneia ao decúbito dorsal,
denominada ortopneia. Congestão brônquica mais acentuada pode levar a um quadro
semelhante ao broncoespasmo – a “asma cardíaca”.
Edema Agudo de Pulmão (EAP): o extremo da congestão pulmonar é o EAP. Neste caso, o
paciente apresenta intensa crise de taquidispneia e ortopneia, associada à insuficiência
respiratória, às vezes com cianose central (hipoxemia grave). O exame físico revela estertoração
pulmonar audível acima da metade inferior dos hemitórax. Pode haver sibilos difusos (“asma
cardíaca”).
Síndrome de Baixo Débito: é mais comum e mais acentuada na IC sistólica. Aparece inicialmente
aos esforços, devido à incapacidade do coração em aumentar o débito durante o esforço ou
qualquer situação de estresse. Os sintomas se confundem com os de uma síndrome “geral”:
fadiga muscular, indisposição, mialgia, cansaço, lipotímia. A maioria dos sintomas é secundária à
inadequada perfusão muscular durante o esforço físico.
Emagrecimento e “Caquexia Cardíaca”: o paciente com IC tende a perder massa muscular, pois
há um desbalanço entre o débito cardíaco e a demanda metabólica da musculatura esquelética.
Além do mais, pode haver redução na absorção intestinal de nutrientes (congestão mucosa).
Nas azotemias mais graves aparecem sinais e sintomas de insuficiência renal, que juntos
compõem a chamada síndrome urêmica aguda ou uremia aguda. Esta síndrome é composta por
três distúrbios básicos:
(1) acúmulo de toxinas nitrogenadas dialisáveis;
(2) hipervolemia;
(3) desequilíbrio hidroeletrolítico e acidobásico.
Os sinais e sintomas que definem a
síndrome urêmica são provocados pelo
acúmulo no organismo de grande
quantidade de “escórias nitrogenadas”, que
são substâncias tóxicas, contendo
nitrogênio, derivadas do metabolismo
proteico.
Na IRA, para se desenvolver a síndrome
urêmica, geralmente a creatinina está acima
de 4,0 mg/dl e a ureia acima de 120 mg/dl.
1- Manifestações Cardiopulmonares
A insuficiência renal aguda oligúrica ou anúrica pode causar retenção importante de líquidos e
sódio, aumentando a volemia. Os sinais e sintomas de hipervolemia aguda são:
(1) Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS);
(2) Edema Agudo de Pulmão (EAP);
(3) edema periférico.
A hipertensão arterial sistêmica é encontrada na IRA oligúrica ou anúrica das glomerulonefrites.
Além da retenção hidrossalina, a insuficiência renal predispõe à vasoconstricção arteriolar
sistêmica, talvez pela depleção de substâncias endógenas vasodilatadoras, como o óxido nítrico.
A retenção hidrossalina também promove congestão e edema pulmonar cardiogênico, levando à
dispneia, ortopneia ou até insuficiência respiratória. As toxinas urêmicas podem aumentar a
permeabilidade capilar pulmonar, levando a um componente não cardiogênico de edema
pulmonar, do tipo SDRA (“pulmão urêmico”).
O edema periférico está presente na síndrome nefrítica e no renal crônico com insuficiência renal
agudizada. É do tipo periorbitário, das serosas (derrame pleural, pericárdico, ascite) e de regiões
dependentes de gravidade (membros inferiores).
A pericardite urêmica manifesta-se com dor torácica pleurítica, associada a atrito pericárdico e/ou
alterações eletrocardiográficas de pericardite aguda. Provém de uma inflamação pericárdica
hipervascularizada, predispondo à rotura de capilares e sangramento. Por isso, o líquido
pericárdico geralmente é hemorrágico. O tamponamento cardíaco é uma das complicações mais
temíveis da uremia, pois pode ser fatal. Ocorre pelo acúmulo muito rápido de líquido na cavidade
pericárdica, elevando subitamente a pressão intrapericárdica. A causa mais comum é o
sangramento pericárdico.
Hipertensão arterial invariavelmente ocorre nos estádios mais avançados da insuficiência
renal crônica e, na grande maioria das vezes, é resultado de um volume circulante
excessivo. A expansão do volume extracelular aumenta o débito cardíaco e causa
hipertensão.
Insuficiência cardíaca congestiva e edema agudo de pulmão são quase sempre decorrentes
do excesso de volume circulante.
2- Manifestações Hematológicas
A anemia pode ocorrer, porém costuma ser menos acentuada que a anemia da uremia crônica.
Diversos podem ser os fatores que causam anemia no paciente com uremia aguda, muitos deles
não diretamente associados à insuficiência renal. Pode ser consequente à infecção, perda
sanguínea, hemodiluição, hemólise etc.
A uremia aguda cursa com um distúrbio da hemostasia, devido à disfunção plaquetária. As
plaquetas no paciente urêmico têm menor capacidade de adesão e agregação. O Tempo de
Sangramento (TS) está caracteristicamente prolongado. O fator de Von Willebrand, elemento
importante para a adesão plaquetária ao colágeno, está disfuncionante.
Epistaxe, gengivorragia, sangramento de sítios de punção, hemorragia digestiva e até mesmo
AVE hemorrágico podem ocorrer.
A anemia desenvolve-se invariavelmente à medida que a nefropatia crônica progride.
Ela é quase sempre normocítica, normocrômica, traduzindo a natureza hipoproliferativa da
eritropoese, resultante dos níveis reduzidos de eritropoetina, que, por sua vez, são
consequentes à redução da massa renal.
4- Manifestações Gastrointestinais
Os primeiros sintomas da uremia aguda frequentemente estão relacionados ao aparelho
digestório. A uremia provoca inflamação nas mucosas e disfunção na motilidade. Surgem então
sintomas como: anorexia, náuseas e vômitos (como consequência à gastroparesia), diarreia ou
íleo metabólico. Os sintomas gastrointestinais da uremia melhoram prontamente após o início da
terapia dialítica.
Os sintomas mais comuns são a anorexia, náuseas e vômitos. Náuseas pela manhã ou pós-
prandiais é o habitual. Alguns se queixam de um gosto metálico e apresentam hálito
amoniacal (hálito urêmico).
Na injúria renal aguda podemos ter vários distúrbios hidroeletrolíticos e acidobásicos. Na forma
oligúrica ou anúrica, os principais são:
(1) hipercalemia;
A hipercalemia se dá pela redução da excreção renal de potássio, que continua sendo ingerido na
dieta. A causa de IRA que mais eleva o potássio sérico é a rabdomiólise, pela liberação maciça
deste eletrólito a partir do músculo lesado. A hipercalemia grave pode levar à parada
cardiorrespiratória por fibrilação ventricular ou assistolia.
(2) hiponatremia;
A hiponatremia se deve à retenção de água livre maior do que a retenção de sódio. Isso
acontecerá sempre que a ingestão ou administração de líquido tiver um excesso importante de
água em relação ao NaCl.
Se a hiponatremia for grave, ou seja, Na < 110-115 mEq/L, podem surgir sintomas pelo edema
cerebral citotóxico (intoxicação hídrica).
(3) acidose metabólica,
A acidose metabólica ocorre pela retenção dos ácidos produzidos pelo metabolismo proteico,
principalmente o ácido sulfúrico. A retenção de H+ leva ao consumo de bicarbonato, causando
acidose metabólica. A retenção do sulfato (SO4²) e outros ânions leva ao aumento do ânion-gap.
Quando isso acontece, há risco de arritmia ventricular fatal ou choque por vaso dilatação e baixa
resposta às catecolaminas.
(4) hiperfosfatemia,
(5) hipocalcemia.
A hiperfosfatemia e a hipocalcemia normalmente ocorrem juntas. O fosfato precisa do rim para
ser eliminado, havendo hiperfosfatemia quando a TFG está baixa (< 20 ml/min). A consequência
imediata e mais importante da hiperfosfatemia é a hipocalcemia (Ca < 8,0 mg/dl). Isso se dá pela
ligação entre o fosfato e o cálcio no plasma.
O fosfato de cálcio se precipita nos tecidos e o cálcio plasmático se reduz. Os sintomas da
hipocalcemia grave são: irritação neuromuscular, como parestesias de extremidades ou perioral,
tetania (espasmos musculares), convulsões e coma.
Níveis altos de fosfatos orgânicos são associados a prurido urêmico
Volume Circulante
Habitualmente, o paciente urêmico apresenta um excesso de volume circulante à custa de um
modesto aumento no sódio e água total. Geralmente, este excesso de volume não traz sintomas,
embora, quando excessivo, se traduza por hipertensão arterial, edema e insuficiência cardíaca
congestiva.
5) ELABORAR FLUXOGRAMA DIAGNÓSTICO DA SÍNDROME URÊMICA
A história deve incluir uma pesquisa de todos os sintomas urinários prévios: sintomas de infecção
urinária, cólica renal, eliminação de cálculos e ingesta de analgésicos, sobretudo os que contêm
fenacetina. A história deve incluir dados sobre hipertensão arterial, diabetes mellitus, surdez,
colagenoses, gota, etc.
O exame de uma amostra de urina matinal deve incluir: densidade urinária e um teste qualitativo
para glicosúria e quantitativo para proteinúria. Proteinúrias importantes (3 g/dia) são geralmente
secundárias a glomerulonefrites, nefropatia diabética e amiloidose.
Existe Doença Renal Crônica (DRC) quando há “dano renal” (geralmente detectado pela
presença de albuminúria > 30 mg/dia, ou alterações equivalentes) e/ou “perda de função renal”
(definida como uma taxa de filtração glomerular < 60 ml/min/1.73 m2), por um período maior ou
igual a 3 meses. Este pré-requisito temporal é importante para diferenciar entre DRC e IRA... De
um modo geral, as causas de doença renal crônica são processos patológicos lentamente
progressivos. Ao contrário do que se observa na maioria dos casos de IRA, na DRC não ocorre
regeneração do parênquima renal, e por isso a perda de néfrons, por definição, é irreversível.
Todas as nefropatias crônicas, após um período variável (geralmente entre 3 a 20 anos), podem
evoluir para a chamada Doença Renal em Fase Terminal (DRFT), em que se observam níveis
residuais de TFG (< 15% do normal). A histopatologia renal perde as características específicas
da nefropatia inicial, apresentando uma alteração universal: fibrose glomerular e intersticial, aliada
à atrofia dos túbulos (ou seja, “perda total” dos néfrons). O paciente, então, apresenta os diversos
sinais e sintomas que compõem a Síndrome Urêmica (Uremia).
O estadiamento da DRC tem sido feito conforme o sistema proposto pela KDIGO, revisado em
2013. Esta classificação permite estratificar o paciente quanto ao risco de complicações da DRC
(ex.: eventos cardiovasculares, evolução para DRFT, óbito).
*a classificação final será composta pela combinação dos estágios “G” + “A”, devendo-se
acrescentar a letra “D” se o paciente estiver em diálise.
Doenças altamente
prevalentes na
população, como
Diabetes Mellitus e
Hipertensão Arterial, são
as principais etiologias
de DRC no Brasil e no
mundo, respondendo,
juntas, por cerca de 70%
dos casos!
Estágio 5 DRC = IRC
Naturalmente, a creatinina plasmática é um indicador mais fiel da função renal residual, porém
também pode variar dependendo da massa muscular de cada indivíduo. Se a creatinina
plasmática inicial de determinado paciente for de 1 mg/100 ml, uma elevação desta para 2
mg/100 ml aproximadamente indica uma redução da função renal em 50%.
Nessa primeira fase, de diminuição da função renal, embora haja uma redução da filtração
glomerular (redução de 25%), não há habitualmente azotemia, e os balanços de sódio, potássio,
cálcio, fósforo e ácido-básico são mantidos graças a um aumento do processo funcional
adaptativo dos néfrons remanescentes.
Numa segunda fase (renal insufficiency), há uma redução da função renal de até 75% e o rim já
não é capaz de manter a homeostasia interna. O paciente apresenta nictúria, a qual reflete o
distúrbio na concentração urinária; ocorre anemia e uma moderada elevação da uréia plasmática
(azotemia).
Numa terceira fase, as anormalidades do meio interno são mais persistentes: azotemia intensa,
anemia, acidose metabólica, hiperfosfatemia, hipercalcemia e hiponatremia. A função renal
geralmente está abaixo de 20% (renal failure).
A quarta fase é a fase terminal, em que predominam os sintomas e sinais de uremia (síndrome
urêmica), indicando a necessidade de uma terapia substitutiva na forma de diálise ou transplante.
CLASSIFICAÇÃO E ESTRATIFICAÇÃO
Classificação de Nefropatia Crônica
Definição de nefropatia crônica
Causas
Adaptações
A creatinina é filtrada e não sofre reabsorção tubular. Apenas com níveis plasmáticos elevados de
creatinina ocorre secreção tubular, mas não o suficiente para manter a excreção em balanço com
a produção. Com a destruição de néfrons, ocorre uma elevação plasmática, a qual acarreta um
aumento na quantidade a ser filtrada pelos néfrons residuais. No entanto, não há nenhum
mecanismo compensatório que aumente esta excreção acima do nível que mantém o balanço
(produção = excreção). Desta forma, a elevação na concentração plasmática persistirá.
Outras substâncias, como fosfatos, uratos, possuem uma melhor adaptação. Outros solutos,
como o sódio, o potássio e o magnésio, são mantidos em balanço até bem próximo à fase
terminal de insuficiência crônica. Isto se deve basicamente a um exagerado aumento na
quantidade filtrada por néfron residual.
A figura ilustra a adaptação que deve
ocorrer na excreção de sódio em face de
uma redução na população de néfrons. A
figura compara o percentual de sódio
filtrado que deve ser excretado para um
indivíduo com uma filtração glomerular de
120 ml/min e outro com uma filtração
glomerular de 4 ml/min. A adaptação é
comparada alternando-se a ingesta de sal:
de 3,5 g/dia para 7,0 g/dia. Observem
que, em ambas as situações, os rins
lesados precisam excretar um percentual
muito maior do sódio filtrado para manter
o balanço de sódio.
PO4 = fosfato
PTH = paratormônio
Função glomerular
Em face da destruição de néfrons, uma das adaptações intra-renais qualitativas é uma elevação
da filtração e do fluxo sangüíneo glomerular. Com a elevação da pressão capilar glomerular,
ocorre um aumento do gradiente de pressão trans capilar, responsável pelo aumento da filtração
glomerular por néfron (SNGFR = single nephron glomerular filtration rate). Desta forma, a
capacidade excretora dos néfrons aumenta.
Estes mecanismos de adaptação que culminam com elevada SNGFR têm por objetivo aumentar
a eliminação de toxinas. Entretanto, esta adaptação pode ser prejudicial, causando um processo
de autoperpetuação de lesão glomerular, caracterizado patologicamente por esclerose
glomerular, que evolui para insuficiência renal.
A patogênese da esclerose glomerular tem sido objeto de intensos estudos. A hipertensão ou
hiperfiltração glomerular tem sido incriminada. Esta resposta glomerular adaptativa inicial causaria
lesão endotelial, elevação da permeabilidade capilar glomerular e elevada filtração de
macromoléculas, o que resulta na ativação de células mesangiais e deposição aumentada de
matriz mesangial.
Uma outra adaptação intra-renal consiste na hipertrofia compensatória dos néfrons. O
comprimento e a tortuosidade dos túbulos proximais aumentam, presumivelmente, devido a um
aumento no número e no tamanho das células.
Função tubular
Quando a filtração glomerular por néfron aumenta ou diminui, a função tubular se altera para
manter o balanço tubuloglomerular. Este balanço é alcançado em parte por força física nos
capilares peritubulares. Por exemplo, a queda de filtração glomerular se acompanha de uma
queda na pressão oncótica do capilar peritubular, enquanto há um aumento da pressão
hidrostática. Estes acontecimentos causam uma redução na absorção tubular para
contrabalançar a redução de filtração.
Da mesma forma, hipercalemia causa um aumento da secreção de K+ pelo túbulo coletor
possivelmente via aldosterona, e, em resposta à acidose metabólica, a produção de NH3
aumenta. A concentração aumentada de amônia no parênquima renal pode ser responsável por
lesão tubulointersticial.
Excreção de sódio
Quando sódio é adicionado ao organismo, ocorre uma expansão do volume extracelular. Existem
elementos que detectam esta expansão e a transmitem a elementos integradores, possivelmente
no sistema nervoso central, e forças natriuréticas são mobilizadas. Estas forças diminuem a
reabsorção de sódio, excretando o sódio que foi adicionado. Desta forma, a atividade dessas
forças natriuréticas aumenta ou diminui de acordo com a ingesta de sódio. Com a destruição de
néfrons, haverá um período de retenção de sódio, associado a uma expansão de volume
extracelular. Esta expansão será detectada e integrada por elementos específicos que aumentam
a atividade das forças natriuréticas, aumentando a excreção de sódio nos néfrons residuais. A
cada destruição de néfrons, o ciclo se repete.
Assim sendo, mesmo que haja um comprometimento importante da função renal, o balanço de
sódio pode ser mantido à custa de um aumento na excreção de sódio por néfron.
A expansão do volume extracelular após uma carga de sódio resulta num aumento apropriado na
excreção urinária de sódio. Além da supressão do sistema renina-angiotensina-aldosterona e
uma pequena elevação na taxa de filtração glomerular, hormônios natriuréticos contribuem para
esta resposta. Peptídeo atrial natriurético (PAN) é liberado pelos átrios em resposta a expansão
de volume, percebida através de uma distensão dos átrios. O PAN é um vasodilatador periférico,
reduzindo portanto a pressão arterial sistêmica, e um hormônio diurético e natriurético.
Ocasionalmente, a taxa máxima de excreção de sódio de um paciente se fará com uma ingesta
de 5 g de sal por dia ou até menos.
Se a ingesta de sódio é reduzida rapidamente a níveis inferiores à excreção obrigatória, o
paciente entra em balanço negativo de sódio, o qual causa uma contração do volume
extracelular, contração que reduz a filtração glomerular, agravando a retenção nitrogenada, a
retenção de potássio e ácidos metabólicos.
Algumas vezes, a perda diária de sódio é elevada (100 a 200 mEq/dia) e costuma-se dizer que o
paciente é portador de uma nefropatia perdedora de sódio. Acredita-se que, em parte, esta
natriurese ocorra pela alta carga de soluto por néfron (diurese osmótica).
Excreção de água
O nefropata crônico perde o padrão diurno de excreção de água, apresentando uma deficiên cia
do mecanismo de concentração e diluição urinária.
A anormalidade na capacidade de formar urina diluída parece ser atribuída a um aumento na
excreção de solutos por néfron. Esta excreção elevada de solutos resulta primariamente do
aumento da filtração por néfron e da supressão na reabsorção proximal de sódio. Além disso, o
filtrado glomerular contém uma alta concentração de solutos pouco reabsorvíveis (uréia, sulfato,
fósforo, etc.). Estes três fatores seriam responsáveis pela excreção excessiva de solutos através
dos néfrons residuais presumivelmente normais.
Quando se corrige o clearance de água livre para a taxa de filtração glomerular e excreção de
soluto, verifica-se que a capacidade de diluição está preservada. Entretanto, a redução global na
taxa de filtração glomerular comprometea capacidade do rim em excretar uma carga de água
mesmo quando está normal a formação de água livre por néfron remanescente.
Ácido-básico
Aproximadamente 1 mEq/kg de íons H+ são produzidos diariamente, oriundos de uma ingesta
protéica. Estes íons H+ são tamponados pelo bicarbonato plasmático, e os rins deverão
regenerar este bicarbonato consumido, além de excretar os íons H+.
ANEMIA NA DRC
A anemia é uma das primeiras manifestações da síndrome urêmica. Em geral se instala quando a
filtração glomerular cai abaixo de 30-40 ml/min (creatinina sérica > 2,0-3,0 mg/dl) - os pacientes
com DRC toleram relativamente bem graus importantes de anemia.
DIÁLISE
Para aumentar a capacidade de renovação, a solução de diálise corre contracorrente com o fluxo
sanguíneo nos capilares do filtro.
(2) Diálise Peritoneal (DP): o processo de diálise é realizado dentro do próprio corpo, utilizando-se
o peritônio como a membrana semipermeável.
O peritônio é um tecido extremamente vascularizado, contendo capilares de permeabilidade
acentuada, e banhado externamente pelo líquido peritoneal. Podemos infundir a solução de
diálise dentro da cavidade peritoneal, induzindo ascite. As substâncias se difundem do sangue
(que passa pelos capilares peritoneais) para a cavidade peritoneal (contendo a solução de
diálise), através do peritônio.
Depois de um tempo, necessário para a difusão das substâncias do plasma para o líquido
peritoneal, este é retirado, sendo trocado por uma nova solução de diálise.
ASPECTOS FISIOLÓGICOS
1- Remoção de Toxinas
3- Ultrafiltração
A diálise é um processo de remoção de solutos. Porém, durante a diálise pode se também
remover líquido. A remoção de líquido durante a diálise é denominada Ultrafiltração. O princípio
físico que determina o processo de ultrafiltração é o gradiente de pressão entre o capilar e a
solução de diálise. Este gradiente é favorecido pela pressão hidrostática do capilar e pela pressão
osmótica da solução.
Ultrafiltração na Hemodiálise: Quando o sangue atinge os capilares do filtro de hemodiálise,
existe um gradiente de pressão hidrostática entre o sangue e a solução de diálise, chamado de
Pressão Transmembrana (PTM). Este gradiente é o principal determinante da ultrafiltração na
hemodiálise, sendo contrabalançado apenas pela pressão oncótica do plasma.
Existe um Coeficiente de Ultrafiltração (KUf) próprio do filtro. Podemos utilizar este coeficiente
para calcular qual a pressão hidrostática (PTM) que devemos manter dentro do capilar para que
seja ultrafiltrada do paciente uma quantidade determinada de líquido na sessão dialítica.
Ultrafiltração na Diálise Peritoneal: A pressão hidrostática dos capilares peritoneais não pode ser
ajustada. Portanto, a melhor maneira que temos para influir na quantidade de volume líquido
ultrafiltrado na diálise peritoneal é aumentando ou diminuindo a pressão osmótica da solução de
diálise. Isso é feito utilizando-se diferentes concentrações de glicose nas soluções para diálise
peritoneal.
4- Limitações da Diálise
1- Uremia Aguda
A diálise, nesses casos, é um tratamento de urgência, visando evitar a morte por insuficiência
renal.
A diálise de urgência está indicada quando um ou mais desses distúrbios que ameaçam a vida
estão presentes.
Nos casos de IRA com piora progressiva da
função renal, a diálise deve ser indicada antes de
aparecer uma das situações acima, geralmente
quando há oligoanúria ou um rápido aumento da
ureia e creatinina, (ureia > 200 mg/dl, creatinina
próxima a 10 mg/dl).
2- Uremia Crônica
Os pacientes com IRC devem ser tratados conservadoramente nas fases iniciais da disfunção
renal e devem ser acompanhados de perto pelo ambulatório de nefrologia. O momento ideal para
estes pacientes entrarem em programa de diálise é um assunto que gera algumas controvérsias.
O ideal seria iniciar a diálise logo antes do surgimento de sintomas urêmicos. Sabe-se que nos
diabéticos a diálise precoce pode diminuir a progressão das complicações da doença, como a
retinopatia, a neuropatia, a gastropatia e a microangiopatia. Porém, a diálise pode de fato piorar a
qualidade de vida do paciente, devido aos inconvenientes do próprio método. Atualmente,
coloca-se o paciente em programa de diálise quando a TFG está abaixo de 10 ml/min, momento
em que a creatinina plasmática costuma estar próxima de 10 mg/dl.
O paciente em programa de diálise deve continuar com o tratamento conservador da IRC, com
total enfoque para uma boa aderência à dieta. Quando começam as sessões de diálise, o débito
urinário costuma se reduzir mais ainda, pois a eliminação de ureia e outros solutos pela diálise
diminui o efeito osmótico na diurese. A restrição proteica não deve ser excessiva, pois esses
pacientes são predispostos à desnutrição. A perda de nutrientes pela diálise pode piorar o estado
nutricional.
Deve-se estar atento para os sinais dos déficit corporais dessas substâncias. Algumas devem ser
repostas de rotina: piridoxina, vitamina C, ácido fólico e sulfato ferroso.
CONCENTRADO DE HEMÁCIAS
Indicações e contra-indicações
A transfusão de concentrado de hemácias (CH) deve ser realizada para tratar, ou prevenir
iminente e inadequada liberação de oxigênio (O2) aos tecidos, ou seja, em casos de anemia,
porém nem todo estado de anemia exige a transfusão de hemácias.
De modo geral, anemias em que o nível de Hb é superior a 10g/dL (Hct superior a 30%) são bem
toleradas, e só excepcionalmente, requerem transfusão. Inversamente, quando a Hb é inferior a
7g/dL existe grande risco de hipóxia tecidual e comprometimento das funções vitais. Neste caso,
o paciente se beneficia com a transfusão de CH. Entre 7 e 10g/dL de Hb, a indicação de
transfusão fica na dependência da avaliação do estado clínico do paciente.
Em situações de anemia, sempre que possível, deve-se considerar outras formas de intervenções
terapêuticas, tais como reposição de ferro ou o tratamento com eritropoetina, antes da transfusão.
De maneira ideal, a decisão da realização da transfusão de CH deve ser baseada em uma
constelação de fatores clínicos e laboratoriais, tais como: idade do paciente, velocidade de
instalação da anemia, história natural da anemia, volume intravascular e a presença de co-fatores
fisiológicos que afetam a função cardiopulmonar.
Do ponto de vista prático, alguns aspectos devem ser levados em consideração e a transfusão
deve ser considerada nas seguintes situações:
• Anemia aguda: para aliviar sintomas de descompensação clínica relacionados com a perda de
sangue.
• Anemia crônica: para aliviar sintomas relacionados com a diminuição do volume de hemácias,
quando outras intervenções terapêuticas, tais como reposição de ferro ou o tratamento com
eritropoetina, ou ambas foram insuficientes.
A transfusão de concentrado de hemácias não deve ser considerada nas seguintes situações:
• Para promover aumento da sensação de bem-estar.
• Para promover a cicatrização de feridas.
• Profilaticamente
• Para expansão do volume vascular, quando a capacidade de transporte de O2 estiver
adequada.
CONCENTRADO DE PLAQUETAS
Indicações e contra-indicações
Existe um consenso que contagens superiores a 50.000/ µL são suficientes para a maioria dos
casos, exceto para procedimentos neurocirúrgicos e oftalmológicos para os quais níveis mais
elevados são exigidos (superiores a 80.000 a 100.000/µL).
PLASMA
Indicações e contra-indicações
As indicações são:
Hepatopatia: a redução na síntese dos fatores da coagulação (I, II, VII, IX e X) diretamente
correlacionada ao grau de dano do parênquima hepático e evidenciada laboratorialmente pelo
alargamento do Tempo de Protrombina (TP) é um fator predisponente ao sangramento em
pacientes com hepatopatia. A utilização de PFC com o intuito de prevenir hemorragia nestes
pacientes pode ser feita, mas corrige incompletamente o distúrbio da hemostasia e não é
consenso.
Evidências sugerem que não há benefício da reposição de PFC em pacientes com TP alargado
sem sangramento. Hepatopatas com sangramento ativo, por outro lado, podem se beneficiar da
reposição de fatores da coagulação a partir do PFC.
O PIC não tem todos os fatores da coagulação. Seu uso clínico pode estar restrito a líquido de
reposição na plasmaférese em pacientes com PTT, em detrimento do PFC.
O P24h, por sua vez, apesar de apresentar uma diminuição dos níveis de fatores da coagulação
pode ser usado nas mesmas situações clínicas com indicação para reposição destes fatores.
Justificativas imprecisas para o uso do PFC, como melhorar e acelerar processos de cicatrização
ou recompor sangue total antes da utilização devem ser abandonadas e não são reconhecidas
como indicação aceitável.
Deve ser ressaltado como contra-indicação o uso de PFC, PIC ou P24h nas seguintes situações:
• Como expansor volêmico e em pacientes com hipovolemias agudas (com ou sem
hipoalbuminemia).
• Em sangramentos sem coagulopatia.
• Para correção de testes anormais da coagulação na ausência de sangramento.
• Em estados de perda protéica e imunodeficiências
CRIOPRECIPITADO
Indicações e contra-indicações
O crioprecipitado está indicado no tratamento de hipofibrinogenemia congênita ou adquirida
(<100mg/dl), disfibrinogenemia ou deficiência de Fator XIII.
O crioprecipitado não deve ser usado no tratamento de pacientes com deficiências de outros
fatores que não sejam de fibrinogênio ou Fator XIII.
Indicação de uso de crioprecipitado:
1. Repor fibrinogênio em pacientes com hemorragia e deficiência isolada congênita ou adquirida
de fibrinogênio, quando não se dispuser do concentrado de fibrinogênio industrial.
2. Repor fibrinogênio em pacientes com coagulação intravascular disseminada (CID) e graves
hipofibrinogenemias
3. Repor Fator XIII em pacientes com hemorragias por deficiência deste fator, quando não se
dispuser do concentrado de Fator XIII industrial.
4. Repor Fator de von Willebrand em pacientes que não têm indicação de acetato de
desmopressina (DDAVP) ou não respondem ao uso de DDAVP, quando não se dispuser de
concentrados de Fator de von Willebrand ou de concentrados de Fator VIII ricos em multímeros
de von Willebrand.
CONCENTRADO DE GRANULÓCITOS
Indicações e contra-indicações
Pacientes neutropênicos: as transfusões de CG são tipicamente utilizadas em pacientes
neutropênicos, geralmente com neutrófilos abaixo de 500/µL, com hipoplasia mielóide de
recuperação provável.
Uso profilático: com base nas evidências disponíveis, não se pode recomendar a transfusão
profilática de granulócitos como prática rotineira, embora seja aceitável como medida de suporte,
sobretudo na fase neutropênica do transplante de medula óssea alogênico e da indução do
tratamento da leucemia mielóide aguda (LMA).
Neonatos sépticos: Nestes casos, os estudos são bastante heterogêneos e não permitem uma
conclusão definida sobre sua eficácia em reduzir mortalidade sem aumentar a morbidade, sendo
na prática raramente utilizados.