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*Texto produzido com base em: VACCARO, Guilherme Luís Roehe; POHLMANN, C. R.;
LIMA, A. C.; SANTOS, Manoela Silveira; CAMARGO, L. F. R.. Cenários de Futuro para a
Cadeia do Biodiesel do Rio Grande do Sul. In: XVI SIMPEP – Simpósio de Engenharia de
Produção, 2009, Bauru. Anais do XVI SIMPEP. Bauru: UNESP, 2009.
bustível é vista pelo Governo Brasileiro como um meio para promover o aumento da renda
e a inclusão social dos pequenos agricultores.
Em três anos de existência, o PNPB obteve avanços para a cadeia nacional de produção de
biodiesel, principalmente: no processo de comercialização do biodiesel por meio de leilões,
nas questões de logística de distribuição, no maior envolvimento dos atores, na introdução
de mecanismos de incentivo à agricultura familiar e no aumento do percentual de mistura
obrigatória (B). No ano de 2008, iniciou-se a obrigatoriedade de 2% de mistura (B2) de
biodiesel no diesel comercializado nacionalmente. Em virtude do papel, assumido pelo go-
verno, de gerador de demanda, o negócio biodiesel tornou-se muito atrativo, o que levou a
uma rápida ampliação do setor produtivo, antecipada à expansão da demanda. Esse movi-
mento sujeitou as usinas a funcionarem com capacidade ociosa. No início do ano de 2008,
por exemplo, já se podia produzir, no Estado, 250% a mais do que a demanda B2 estipulada
pelo Governo. Esse excesso de produção gerou uma concorrência muito acirrada, já que a
demanda era restrita – por exemplo, algumas usinas, procurando garantir vendas, adotaram
estratégias predatórias nos leilões, baixando os preços para níveis economicamente preju-
diciais à cadeia. A situação se agravou quando, no mesmo período, a soja – principal ma-
téria-prima da atual cadeia de produção de biodiesel – foi cotada muito acima do comum,
ampliando os prejuízos das usinas. Em meio a esse cenário desestimulante, veio o aumento
do percentual de mistura para 3% (B3), ocorrida ainda em 2008, que gerou uma certa esta-
bilidade e oportunizou tranquilidade para o mercado operar e reorganizar-se.
Ao longo desse curto período de tempo também emergiram questões importantes para a
competitividade e sustentabilidade da cadeia produtiva do Rio Grande do Sul, as quais ser-
viram como ponto de reflexão para o trabalho de prospecção realizado:
• Como promover a eficiência do selo social como um dos principais mecanismos para
promover a inclusão da agricultura familiar?
É neste contexto que foi realizado um estudo técnico, visando a identificar formas criati-
vas de promover sustentabilidade e competitividade neste setor estratégico da economia
regional, nacional e mundial. Dada a complexidade, evidenciada pelo número de variáveis,
atores e inter-relacionamentos potenciais associados ao tema, optou-se por uma abordagem
de modelagem e análise baseada em dinâmica de sistemas e planejamento de cenários, que
permite identificar, a partir de eventos e padrões de comportamento, estruturas de relacio-
namentos de causa-efeito-causa e que coloca atores e variáveis como elementos centrais do
sistema, ao mesmo tempo modificando e sendo modificados pelo contexto (STERMAN,
2000; SENGE, 1996). Com base na análise dos dados passados, presentes e das tendências
futuras, pela construção de modelos, a dinâmica de sistemas busca alinhar percepções e
compreensões dos participantes sobre um tema de foco, nesse caso o trabalho prospectivo.
A partir dessa visão compartilhada, foram planejados e analisados cenários de futuro e, con-
jugando os resultados obtidos, foram propostas ações baseadas na análise comparativa dos
cenários analisados.
O projeto aqui relatado foi realizado ao longo de cinco meses pelo Observatório de Desen-
volvimento Industrial do Rio Grande do Sul (ODI-IEL/FIERGS-RS), em parceria com a
Unisinos, por meio de 15 reuniões realizadas com uma equipe de especialistas e conduzidas
por um professor e dois mestrandos em Engenharia de Produção, em que foram sistematiza-
dos os passos do método sistêmico e coletadas as percepções. As discussões foram baseadas
em dados quantitativos e qualitativos e na construção e refinamento de um mapa sistêmico.
Uma síntese dos passos utilizados na aplicação do método sistêmico pode ser descrita da
seguinte forma (ANDRADE, 1997; ANDRADE et al., 2006):
1) Definir uma situação complexa de interesse: o objetivo nesta etapa é verbalizar clara-
mente o problema de interesse.
5) Desenhar o mapa sistêmico: nesta etapa já podem ser realizados os primeiros ensaios
da estrutura sistêmica, por meio de uma linguagem adequada.
A cadeia de produção do biodiesel no Estado pode ser analisada como um sistema, em que
partes interagem para gerar um resultado conjunto diferenciado dos resultados individuais
gerados por suas partes. Nesse caso, o resultado compreende a produção, a distribuição e
a comercialização de um biocombustível considerado estratégico pela atual gestão federal.
Em qualquer sistema socioeconômico, cada ator tem uma percepção diferente da realidade.
Essa percepção é moldada com base em experiências anteriores, expectativas de futuro, for-
mas de ação e visibilidade dos elos e interações com outros atores do sistema. Mais que isso,
é moldada por modelos mentais, que definem formas de ação e interação com os demais
elementos de um sistema.
Outra forma de abordar essa questão é dizer também que diferentes comunidades de prática
têm diferentes explicações para como um sistema funciona, ou seja, a visão da cooperativa
difere dos usineiros, que difere do governo, etc. – e essas diferenças estão baseadas na visão
que cada um tem da cadeia a partir do ponto em que está nela. Entretanto, a própria cadeia
só existe porque seus diferentes atores percebem a sua existência por meio das interações
que realizam.
Figura 1 Uma visão simplificada da cadeia produtiva de biodiesel no Rio Grande do Sul.
o que acontece nos grupos de pessoas com diferentes backgrounds culturais e organi-
zacionais, que se encontram por um período de tempo para analisar um problema ou
elaborar um projeto é que eles criam uma comunidade discursiva e ativam uma prática
discursiva situada, que lhes permite comparar diferentes perspectivas, percebendo que
elas são e permanecerão isoladas, justapostas, não comunicantes, e até mesmo confli-
tuosas. Comparar as perspectivas significa tanto compreender quanto não compreen-
der, aceitar a diversidade, bem como rejeitá-la, entender e não entender. Assumir uma
posição discursiva é posicionar-se em uma rede de relações sociais estruturadas pelo
poder, interesse e mobilização de interesses.
Assim, por meio da prática discursiva sobre as práticas da cadeia pode-se partir para a cons-
trução de ações que sejam alavancadoras para a sustentabilidade e a competitividade dessa
cadeia produtiva. Mas para isso é preciso construir uma conversação entre as diferentes
partes, o que demanda, primeiramente, a compreensão de seus atores, de seus objetivos e de
suas visões sobre o problema. O alinhamento entre os atores é fundamental para a consoli-
dação de ações robustas focalizadas no bem comum, se considerado, também, o elemento
social envolvido nessa discussão.
Para o início do projeto foi necessário identificar as forças que fazem os atores da cadeia
interagirem. Essas forças estão associadas a fatores-chave que merecem cuidadosa avalia-
ção e compreensão, pois, ao interagirem, definirão o comportamento futuro do sistema. No
contexto da cadeia de produção de biodiesel do Rio Grande do Sul, os fatores-chave identifi-
cados representam forças políticas, econômicas, sociais, tecnológicas e ambientais. São eles:
• Políticas públicas: o Governo Federal deu a partida para o PNPB, definindo, como
posição estratégica, desenvolver alternativas para a substituição de combustíveis de
origem fóssil por biocombustíveis, motivado por mudanças climáticas globais e pela
possibilidade de independência energética por meio de fontes renováveis. Com essa ini-
ciativa, vislumbrou a possibilidade de utilizar, por meio de um marco legal, as forças de
crescimento da cadeia produtiva de biodiesel para promover a diversificação produtiva
e a inserção social da agricultura familiar. Mais amplamente, o Governo Federal per-
A partir desses fatores, foi aplicado o método sistêmico como forma de construção de uma
prática discursiva, na qual os diferentes discursos atravessam fronteiras e se combinam para
formar discursos mais amplos, enquanto as pessoas coordenam seus empreendimentos,
convencem-se uns aos outros, conciliam suas perspectivas e formam alianças (WENGER,
1998). Esse processo deu origem ao mapa sistêmico apresentado na Figura 2.
Para facilitar sua interpretação e referência, cada cenário foi batizado com um nome, uma
palavra-chave, que permita sintetizar a essência do mesmo frente aos atores dele participan-
tes. A Figura 3 apresenta os cenários gerados, os quais serão descritos a seguir.
Como fruto desse contexto, há dependência de P&D desenvolvidos pela iniciativa privada.
O mercado interno oportuniza baixo resultado e o mercado externo tem importância es-
Neste cenário de futuro, a estrutura dos atores que atualmente formam a cadeia não é sus-
tentável. A participação da agricultura familiar perde importância com a ampliação do uso
de matérias-primas não agrícolas. No entanto, outros atores se incorporam ligados à pro-
dução de biodiesel de segunda geração, como poderia ser o caso de produtores de algas, por
exemplo. O mercado interno é restrito e gerido pela capacidade de negociação e escoamento
da produção de biodiesel. A competição entre as usinas aumenta, restringindo o mercado
às mais competitivas. A competitividade dependerá de investimentos privados e pouco de
políticas públicas.
Cenário 2 – Perigo!
No cenário de futuro batizado como Perigo!, os atores da cadeia de biodiesel do RS estão
desalinhados. Como reforço, há baixa credibilidade nos atores e deles entre si, favorecendo
o surgimento de silos de informação (isto é, conjuntos de dados relevantes ou estratégicos
para um sistema, mas que ficam restritos a um número reduzido de atores, não sendo com-
partilhados). Como resultado, as informações disponíveis são precárias e as análises delas
decorrentes são incompletas. As ações executadas por parte do setor público e dos agentes
privados são ineficazes. Nesse futuro, o PNPB tem baixa credibilidade, pois não contribui
para a geração de renda na agricultura familiar. Há pressão para aumento da transferência
de renda por meio de subsídios. As estratégias utilizadas para fiscalizar e regulamentar a
cadeia de biodiesel são falhas e os resultados decorrentes da pesquisa científica e tecnológica
têm pouca expressão em termos de viabilidade econômica.
Proposição de ações
A geração de cenários prospectivos, sua análise e comparação visam identificar ações es-
truturadoras e alavancadoras do sistema. Estruturadoras por serem pensadas com base na
análise de uma estrutura sistêmica de relacionamentos entre atores e variáveis associadas
ao contexto do biodiesel no Estado. Alavancadoras por permitirem atuar sobre elementos-
-chave dessa estrutura, visando favorecer os aspectos atrativos dos cenários anteriormente
apresentados e, simultaneamente, proteger a cadeia dos aspectos indesejáveis desses poten-
ciais futuros.
As macroações propostas são baseadas em focos estratégicos definidos com base nos cená-
rios anteriormente apresentados. Adicionalmente, podem ser identificadas ações comple-
mentares, úteis para a preparação para um ou dois cenários em particular. As ações pro-
postas não são excludentes. Dada a complexidade da cadeia e o número de diferentes atores
participantes, o número de propostas é elevado. Buscou-se priorizá-las em função do tempo
de percepção de seus potenciais benefícios, em ações de curto prazo (CP), médio prazo
(MP) e longo prazo (LP), conforme resumido no Quadro 1.
Sem a pretensão de ser definitivo, este estudo buscou divulgar a percepção de necessidade
de ações de benefício comum entre os integrantes da cadeia, tais como as sugestões de ações
aqui relatadas. Por outro lado, buscou fomentar o diálogo entre os diversos elos da cadeia
de produção de biocombustíveis do Estado, para que sejam compartilhadas informações e
se construa, por meio de uma prática discursiva conjunta, uma visão comum de como asse-
gurar relações saudáveis, sustentáveis e competitivas, desde agora e no futuro, beneficiando
não apenas os integrantes dessa cadeia, mas a sociedade sul-rio-grandense e brasileira.
Ação
Criar fóruns e sistemas de alinhamento de informações entre os atores da cadeia (formar
um grupo de mobilização representativo das entidades).
Estimular lideranças na cadeia de biodiesel do RS.
Ampliar o comitê estratégico de biocombustíveis.
Promover alinhamento com MDA, MCT, MAPA, Embrapa, centros de pesquisa e iniciativa
privada para implementação de projetos de pesquisa em novos produtos e novos usos na
cadeia de biodiesel.
Realizar estudo para otimização da cadeia de suprimentos e distribuição.
curto prazo
A Elster foi fundada em 1948 por Johann Sigmar Elster, em Berlim, na Alema-
nha. A unidade Elster Medição de Energia de Cachoeirinha/RS foi fundada
em 1967, com o nome de APREL – Aparelhos de Precisão S.A. Em 1981, a
APREL foi adquirida pela Westinghouse, passando a ser chamada de Wes-
tinghouse – Divisão Aprel do Brasil S.A. Em 1988, a ABB adquiriu a unidade
Cachoeirinha, que passou a se chamar ABB – Asea Brown Boveri Ltda. Em
2005, o grupo CVC adquiriu o Ruhrgas, passando o conglomerado a se cha-
mar Grupo Elster. A partir disso, a unidade Cachoeirinha passou a se chamar
Elster Medição de Energia Ltda.
O desejo de ser escolhido pelos seus clientes como fornecedor preferencial e de atuar com
velocidade, flexibilidade e iniciativa servia de desafio e motivação. Questionavam o que es-
tavam realmente fazendo para mudar as relações de poder dentro de sua organização, qual
era o grau de autonomia de seus operadores e se estavam realmente preparando seus colabo-
radores para atuarem neste cenário.
Desse modo, os gestores perceberam que uma simples mudança de layout não seria sufi-
ciente para garantir pessoas mais ágeis, flexíveis. O aumento da tecnologia exigia que ou-
tras competências de seus colaboradores viessem a ser desenvolvidas. Com isso, a empresa
decidiu e iniciou a implementação de equipes autogerenciáveis (EAGs). Direção e gestores
encontravam-se desafiados e motivados. Os colaboradores estavam surpresos, curiosos, al-
guns com medo que esta mudança pudesse levar à perda de seu emprego, mas gostando
das melhorias iniciais (refrigeração de toda unidade, cadeiras e bancadas ergonomicamente
corretas, estudos para os que necessitavam e desejavam a concluir sua formação escolar).
Trata-se de um sistema de trabalho que privilegia o uso das habilidades naturais do ser hu-
mano, propiciando-lhe oportunidades de desenvolvimento e autorrealização, permitindo-
-lhe ampliar sua visão relativa ao negócio, além de obter maior nível de cultura geral.
A organização deve ser percebida por todos os seus funcionários como um sistema social
aberto, em que as pessoas possam compartilhar responsabilidades por objetivos.
As pessoas devem ser percebidas como seres integrais − racionais, emocionais e sociais −
tendo suas necessidades satisfeitas através de sua corresponsabilidade pelo trabalho e seus
consequentes resultados.
Resultados esperados
• Melhoria na produtividade
• Melhoria na qualidade
• Uma estrutura organizacional mais flexível, com habilidades individuais, como poli-
valência e capacidade de tomar decisões.
Nos primeiros meses, os resultados já aparecem, o que motiva alguns a querer continuar
e, até mesmo, a querer acelerar o processo de mudança. Estes resultados estão no de-
senvolvimento das pessoas, no processo, no produto, na flexibilidade, na qualidade, na
produtividade e, por que não dizer, na lucratividade.
Até então, a empresa tinha um processo de produção verticalizado. Quando se torna ABB, é
realizado um processo de terceirização gradativa, passando etapas produtivas para fornece-
dores especializados nos diversos subprocessos ou para empresas dirigidas por ex-gerentes,
que eram conhecedores dos mesmos. Com isso, ocorreram mudanças na planta da produ-
A partir dessa mudança, foi dado início ao trabalho de rearranjo do layout remanescente,
buscando otimizar os espaços deixados pelos setores que saíram, mas, principalmente, pas-
sar de um layout tradicional para uma distribuição que visava: reduzir as perdas por trans-
porte interno, melhorias de qualidade, balanceamento de tempos, multifuncionalidade dos
operadores, ergonomia do processo de trabalho, implantação de equipes autogerenciáveis e,
sobretudo, flexibilidade.
• Estávamos trabalhando com uma equipe interna de implantação, o que nos impossi-
bilitaria desenvolver e implantar em toda unidade.
• Sabíamos que a primeira etapa do trabalho seria uma reavaliação de processos e mu-
danças de layout.
Naquele momento, o gerente referia que, neste modelo de equipe (EAGs), poderia ser traba-
lhado um maior grau de autonomia nos grupos, mas com conceitos definidos pela organiza-
ção e focando o resultado a ser atingido na produção. Percebemos que estava se colocando
uma proposta de construção de uma aprendizagem em grupo. No papel de consultora − o
contrato estava firmado como uma consultoria de procedimento − eu atuaria como facilita-
dora e “continente” para o grupo, trabalhando as dificuldades que os impediam de avançar,
como seus medos e mudanças, assim como contribuiria para que eles permanecessem no
foco que definissem.
Como se tratava de um novo desafio para os integrantes desta reunião, formamos um grupo
de estudos, com encontros semanais, em que começamos a estudar juntos novas etapas do
processo. Participaram os superintendentes, os profissionais de recursos humanos (do De-
senvolvimento Humano Organizacional – DHO), os gerentes, os encarregados e os supervi-
sores. Refletíamos sobre aonde queríamos chegar, o momento da organização e o contexto
mundial. Buscamos livros, artigos, materiais que acreditávamos poder nos ajudar no estudo
naquele momento. Deste estudo surgiu o Programa de Formação e Desenvolvimento das
EAGs.
Como grupo de estudo, apresentávamos os resultados das leituras em subgrupos. Desta for-
ma, todos se preparavam para apresentar, mas, em cada encontro, apenas um grupo era
sorteado para apresentar o seu trabalho. Todos se mostravam comprometidos e desafiados,
até porque a identificação com o desafio era característica do grupo. Eles agiam de forma
resiliente diante dos desafios.
Ocorreram também visitas técnicas, em que buscamos conhecer indústrias que estavam tra-
balhando no seu processo de produção em células com equipes semiautônomas. Ao retornar
para a organização, o grupo voltava a se reunir e conversar sobre as suas percepções e sobre
como essa experiência conhecida poderia contribuir ou não para a construção das EAGs.
Eles validavam o seu desafio e as características de grupo. Os encontros eram coordenados
pela consultora no papel de facilitadora e continente para o grupo, como já indicado.
Os operadores passam a fazer reuniões em suas células para discutir e buscar melhorias do
trabalho e/ou das relações, melhorias estas para serem implantadas pela organização. Os
grupos continuavam sendo trabalhados em seminários e começou a preparação para traba-
lhar com pontas de estrela. A noção de pontas de estrela permite que o funcionário, além das
atividades produtivas, desenvolva outros papéis, como o de cuidar do seu plano de treina-
mento, realizar manutenções básicas, participar da seleção de novos colegas para a equipe,
acompanhar equipes de desenvolvimento de produto, fazer compras de materiais de uso
diário – cada uma dessas atividades representando uma ponta da estrela. Os integrantes da
EAGs escolheram quando e quem iria se envolver com as ações das pontas de estrela. Desta
forma eles determinaram o tempo que cada um permaneceria em cada ponta da estrela.
Os operadores sentiam desejo de aprender nas e com as outras células, mas continua-
vam pertencendo a sua célula original. Eles aprenderam a dividir as tarefas e, quando já
eram calibradores (calibrar é uma etapa do processo na construção dos medidores em
que cada medidor é aferido e calibrado, e isto requeria do colaborador um conhecimen-
to de todo o processo. Esse cargo era ocupado por operadores experientes que tinham
muito tempo na organização e que já tinha passado por todas as etapas) passaram a
ensinar aos outros. Começaram a diminuir o “pulmão” produtivo, que era o número de
medidores extras produzidos por um integrante de bancada e que sobrecarregava o co-
lega. Na verdade, o objetivo do pulmão era poder fazer uma pausa de aproximadamente
20 minutos, sem prejudicar o andamento da célula. Além disso, quando alguém falta,
um operador de outra célula pode substituí-lo, atuando como coringa. A oportunidade
de atuar em outra célula passa a ser valorizada, o que não ocorria antes.
O grupo percebeu também uma mudança nas relações de poder, pois eles passaram grada-
tivamente a receber um grau maior de autonomia. Os “supervisores” que permaneceram
passaram a exercer o papel de facilitadores, com ênfase em ajudar o grupo a resolver os
problemas. Os facilitadores tinham o objetivo de identificar a necessidade de treinamentos
para o grupo se desenvolver e, assim, atingir os resultados esperados pela organização. O
O grupo de operadores foi aprendendo a pensar junto e passou a ganhar e buscar construir
um grau maior de autonomia, necessária para o seu trabalho. E a organização estruturou o
que seriam, para os operadores, graus de autonomia. Os gestores, através dos facilitadores
e do DHO, tiveram que ressignificar para os operadores o que vem a ser autonomia. A au-
tonomia foi sendo “descoberta”, não estando sempre claros os seus limites e desafios, tanto
para os operadores como para os gestores. Os gestores demonstravam clareza quanto ao
conceito de autonomia e seus graus de evolução, mas, quando repassavam este conceito para
os operadores, percebiam que o desenvolvimento destes era rápido; os gestores nem sempre
se encontravam preparados para delegar e lidar com a tomada de iniciativa e a análise crítica
dos operadores.
e-projeti: desenvolvendo as
capacidades dinâmicas a partir
de seus recursos e processos
A Projeti, fundada em 2002, tinha como foco prestar serviços de infraestrutura de informá-
tica e projetos de TI, e a e-Merit, fundada em 2005, focava a terceirização de serviços de TI
(outsourcing). Essas empresas tornaram-se parceiras por terem alguns clientes comuns, o
que facilitou a interação e criou sinergia entre as empresas e empresários.
Em dezembro do mesmo ano, a empresa fechou parceria com a fabricante de hardware para
estações de trabalho Positivo. Como a e-projeti não tinha a intenção de comercializar hard-
ware por não fazer parte de sua estratégia de negócio, a Positivo possibilitou que fossem
locados seus equipamentos para a e-projeti ao invés de vendê-los. Isso levou a uma remode-
lação do modelo de negócio recém-criado, incluindo a oferta do hardware e software para as
estações de trabalho, além dos serviços de gerenciamento e suporte.
Plano estratégico
Para conseguir chegar a esse modelo de negócio, a empresa percorreu algumas etapas im-
portantes, como o desenvolvimento de um plano estratégico, que contribuiu para identificar
quais recursos e capacidades precisavam ser desenvolvidos para viabilizar e dar sustentabi-
lidade ao negócio.
A e-projeti, desde sua concepção, entende a importância de “organizar a casa” para cres-
cer de forma sustentável. Para isso, utilizou recursos financeiros – próprios e também de
incentivos públicos ao desenvolvimento da pequena empresa – para a organização da sua
estrutura operacional e estratégica.
Dessa forma, apresenta-se o mapa estratégico da empresa, que relaciona quatro perspectivas
estratégicas divididas da seguinte forma: a) resultado, b) clientes, c) processos internos, d)
aprendizagem, desenvolvimento e inovação (A.D.I).
Na perspectiva de (b), a estratégia é focar em alguns nichos que a empresa entende como
estratégicos. Além disso, existe a preocupação em manter um bom nível de satisfação dos
clientes e aumentar as vendas para os clientes atuais. A estratégia é ter 70% do portfólio de
clientes em setores estratégicos. Os setores definidos como estratégicos são: redes de varejo,
construção civil e logística (transporte).
Além das competências dos recursos humanos, o plano estratégico apontou alguns proces-
sos elencados como prioritários para a organização da empresa e para o desenvolvimento
das suas capacidades dinâmicas. Esses processos estão relacionados aos recursos e às capa-
cidades que vêm a integrar, coordenar, reconfigurar e transformar os ativos da empresa em
fontes valiosas de vantagem competitiva. São eles:
Dessa forma, entende-se que, a partir da mobilização dos recursos e da estruturação reali-
zada por meio de processos estratégicos, a empresa desenvolveu suas capacidades dinâmi-
cas, dentre as quais se pode destacar a capacidade de antecipar as necessidades dos clientes e
transformá-las em oportunidades de negócio, desenvolvendo produtos e serviços inovado-
res que atendam a tais necessidades.
A ideia de inovação é muito presente dentro da empresa, pois se sabe que esse setor é muito
dinâmico e que as mudanças ocorrem muito rapidamente. Por isso a constante preocupação
em buscar novas soluções que garantam um resultado positivo e sustentável. Contudo, sabe-
-se que para uma inovação ter sucesso ela deve ser aceita pelo mercado. Então, a capacidade
de ler esse mercado e, assim, conseguir antecipar as necessidades dos clientes é essencial
para que a empresa tenha sucesso.
Existem ainda outros fatores que contribuem para o desenvolvimento dessas capacidades,
como a habilidade de fazer escolhas estratégicas e a habilidade de adaptar-se rapidamente
às mudanças do ambiente, além de criar um ambiente voltado à inovação. Tais habilidades
são observadas na trajetória de empreendedorismo dos sócios da e-projeti que, desde 2002,
vêm empreendendo em TI, sempre buscando diferenciais para se manterem competitivos
no mercado, o que culminou nesse novo modelo de negócio.
Para reflexão
1) Na sua percepção, uma empresa startup é mais suscetível a mudanças e a correr ris-
cos do que uma empresa já estabelecida no mercado?
2) Além dos elementos citados nesse estudo, você visualiza outros fatores que podem
influenciar no desenvolvimento da e-projeti?
Alexandre Garcia
Junico Antunes
A gestão da organização é estruturada em torno do Sistema de Gestão Fras-le (SGF), que por
sua vez é gerenciado por meio do sistema de indicadores. Esse sistema de gestão (SGF) tem
como pilar conceitual o método PDCA (Plan, Do, Check, Action), que é a base conceitual
da área do conhecimento denominada Gestão pela Qualidade. Algumas das certificações
e premiações da empresa são: ISO 9001, ISO 14001, QS 9000, troféus bronze, prata, ouro
e diamante do PQRS – Prêmio de Qualidade do Rio Grande do Sul, troféu PNQ – Prêmio
Nacional da Qualidade em 2007 e Prêmio FINEP de Inovação Tecnológica 2007 (Fundo de
Financiamento de Estudos e Projetos), além de diversos outros reconhecimentos desse tipo.
A FRAS-LE é uma empresa inovadora desde sua fundação e atualmente é possível identi-
ficar que a inovação ocorre por meio de três subsistemas: i) P&D – Centro de Pesquisa e
Desenvolvimento, ii) SPF – Sistema de Produção Fras-le e iii) inovação industrial.
Outra etapa de responsabilidade do P&D são os testes práticos, que ocorrem na Fras-le des-
de 1971. Inicialmente, esses testes eram feitos em pistas externas, porém, com um investi-
mento das empresas do Grupo Randon, foi construída uma pista de provas, inaugurada em
2009, que serve à maioria das empresas coirmãs.
O SPF funciona de forma matricial, a partir da adoção das unidades de negócio. Assim, as
pessoas que estão alocadas em suas respectivas áreas de trabalho, ao utilizarem metodolo-
gias e ferramentas visando à melhoria contínua, estão praticando o SPF.
Inovação industrial
Outra vertente de inovação na Fras-le é denominada pela empresa como inovação industrial.
Esta prática de gestão da inovação começou a ser estruturada em 2007 em função da neces-
sidade de um sistema mais formal de gerenciamento das inovações. Ou seja, antes da inova-
ção industrial, as ideias surgiam, porém eram desenvolvidas de forma pontual e esporádica.
Durante a montagem do sistema, após análise dos diversos conceitos de inovação, a empresa
gerou seu conceito próprio de inovação industrial, a saber: “a inovação industrial é a busca,
descoberta, experimentação, desenvolvimento, imitação e adoção de novos produtos, novos
processos e novas técnicas organizacionais, que produzam resultados econômicos”.
Um dos objetivos da inovação industrial é criar e capturar valor. Para tanto, são considera-
dos aspectos como aumento da receita, redução de custos, diminuição do risco e aceleração
do retorno sobre investimentos. Os principais focos são novos processos de fabricação e
novas tecnologias.
Gestão da
Gestão do conhecimento
Relacionamento externo
inovação
para inovação
Comunicação
Indicadores
Estrutura
Estratégia
organizacional
Conceito / objetivo
Conclusão
O caso Fras-le é interessante para o debate sobre inovação e gestão de empresas por alguns
motivos. O primeiro deles é que na Fras-le a inovação ocorre de diferentes maneiras (ou
seja, de forma plural) inter-relacionadas e sob um guarda-chuva mais amplo intitulado de
Sistema de Gestão Fras-le (SGF). Ou seja, o P&D com processos formais de pesquisa e de-
senvolvimento de materiais gera novos produtos para a empresa. O SPF, através da unifica-
ção de conceitos, métodos e ferramentas da gestão pela qualidade e da engenharia de produ-
ção, contribui para a geração de melhorias incrementais. Já a inovação industrial possui um
processo mais formalizado de gestão de ideias, que viram projetos e passam por um circuito
de desenvolvimento para a geração de inovações de processo. A análise do caso Fras-le pro-
porciona uma reflexão no sentido de que a inovação pode ocorrer, simultaneamente, sob
várias óticas e perspectivas.
Outro aspecto interessante de analisar no caso Fras-le é que foi identificada uma oportu-
nidade de melhoria no sistema de inovação. Na pesquisa de campo, houve a percepção de
que os três subsistemas de inovação (P&D, SPF e inovação industrial) têm interação com o
planejamento estratégico da empresa e, também, com o Sistema de Gestão Fras-le – SGF. No
entanto, foi identificado que a interação entre os três subsistemas (P&D, SPF e inovação in-
dustrial) pode ser consideravelmente melhorada. Com isso, a empresa poderia discutir uma
forma de integrar mais os subsistemas de inovação e, assim, os fortalecer ou talvez criar o
seu próprio sistema corporativo de inovação. A Figura 7 traz a representação das interações
citadas anteriormente:
Gustavo S. Borba
Contexto
A formação superior, considerando o paradigma das competências e não o
foco em conteúdo é um dos principais desafios que as universidades preci-
sam enfrentar.
Paralelo a este processo, a evolução das tecnologias tem empregado uma di-
nâmica distinta em sala de aula, da que existia no paradigma analógico. As
novas ferramentas digitais, o conceito de web 2.0 e a consequente mudança
no protagonismo do processo de ensino e aprendizagem reforçam a impor-
tância de um paradigma de ensino que preconiza a troca, a prática e a cons-
trução do conhecimento coletivamente. Considerando estas questões, Levy
(1999) constata uma necessidade atual de diversificação e de personalização,
pois “os indivíduos toleram cada vez menos seguir cursos uniformes ou rí-
gidos que não correspondem as suas necessidades reais e à especificidade de
seu trajeto de vida” (p. 169).
A universidade
A Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) é mantida pela Associação Antônio
Vieira, da Companhia de Jesus, a ordem dos jesuítas fundada por Santo Inácio de Loyola.
Entre as maiores universidades privadas do Brasil, concentra, no câmpus, em São Leopoldo
(RS), cerca de 25 mil estudantes em cursos de graduação, pós-graduação e extensão. Tam-
bém integra uma rede de 200 instituições de ensino superior jesuítas, com 2,2 milhões de
alunos no mundo todo.
A Unisinos já diplomou cerca de 63 mil estudantes, cuja formação espelha as grandes opções
estratégicas da instituição: transdisciplinaridade, educação por toda a vida e desenvolvimen-
to regional.
Reconhecida atualmente como a melhor universidade privada da região Sul (MEC, 2009), a
Unisinos possui:
• 59 cursos de graduação
• 45 especializações
• 19 mestrados
• 10 doutorados
Este processo deu origem a um grupo de cursos, reconhecidos nacionalmente como exem-
plo de inovação, são eles:
• Design
• Comunicação Digital
• Engenharia da Computação
“O movimento do processo formativo caracteriza-se por ser em espiral, de modo que a orga-
nização do curso, das propostas didático-pedagógicas e do processo cognitivo sigam um ca-
minho ascendente, contínuo e aberto a articulações, iniciativas e contribuições individuais e
coletivas, inspirado e permeado pelo MAGIS. A figura exposta a seguir expressa, de forma
gráfica, a representação desse processo.”
Missão
Credo
Inserção regional
Parcerias
fonte de luz Demanda identificada
A estruturação por Programas de Aprendizagem como uma nova base de organização cur-
ricular acaba por susbistituir o sistema tradicional de disciplinas. Cabe ainda reforçar que
a base para a contrução dos programas não é o conteúdo e sim os campos de problemas da
realidade ou as competências necessárias ao perfil do profissional em formação.
• Grupo de foco com egressos do ensino médio, buscando identificar o curso ideal na
área de administração
A partir deste processo, foi percebida a necessidade de construção do curso a partir de uma
unidade curricular distinta das tradicionais disciplinas, que preconizam o conteúdo. Nesse
contexto, buscou-se a construção de programas de aprendizagem, os quais caracterizam-se,
no curso em questão, como (Borba, Silveira, Faggion, 2003):
Cabe salientar que os programas de aprendizagem, enquanto base curricular, possuem uma
forte correlação interna (atividades do programa) e externa (relação com os demais pro-
gramas de aprendizagem do curso). Nesse contexto a aprendizagem é compreendida como
processual e vivencial, crescendo em complexidade à medida que os alunos avançam em seu
plano curricular.
Estudos de caso – os estudos de caso envolvem aspectos teóricos (casos internacionais ana-
lisados em aula), bem como aspectos práticos (empresas que disponibilizam problemas que
devem ser solucionados pelos alunos)
Oficinas – uma das principais metodologias utilizadas no curso é o espaço para aprofunda-
mento de necessidades específicas, denominado de oficina. Estes espaços são utilizados para
apoio ao desenvolvimento de projetos específicos. Destaa-se a existência, no plano curricu-
lar, de oficinas temáticas (envolvem um tema, disciplina ou conjunto de saberes específicos)
e as oficinas articuladoras (espaços para facilitar a articulação de conhecimentos)
As características expressas nesta seção podem ser percebidas como elementos fundamen-
tais para a formação por competências. A seção a seguir descreve este processo.
• Convergência Digital: o publico que busca o presente curso faz parte das gerações que
nasceram mais próximas do ambiente digital (geração Y e geração z – nativos digitais).
Nesse sentido, a construção de espaços de aprendizagem além da sala de aula é fundamen-
tal. No curso, além das ferramentas de web 2.0 utilizadas pelos professores, dependendo
da atividade, é utilizada a plataforma Moodle, para a realização de atividades à distância
– não presenciais. Além disso, todos os alunos recebem no inicio do curso um notebook e
utilizam uma estrutura com internet sem fio para apoio didático as atividades.
• Integração com empresas: o curso possui convênios com empresas da região, as quais
são percebidas como locais de aprendizagem. Além disso, nas diferentes atividades dos
programas de aprendizagem, os empresários podem levar sua empresa como estudo de
caso para análise, ou provocar os alunos com desafios que a empresa precisa dar conta,
como a construção de um projeto de internacionalização.
Referências
ANDREOLA, Balduino Antonio. Interdisciplinaridade na obra de Freire: uma pedagogia
da simbiogênese e da solidariedade. In: STRECK, Danilo; REDIN, Euclides; MÄDCHE,
Flávia (orgs.) et al. Paulo Freire. “Ética, utopia e educação. Petrópolis”: Vozes, 1998.
BORBA, Gustavo Severo de; SILVEIRA, Teniza da; FAGGION, Gilberto. Praticando o que ensinamos:
inovação na oferta do curso de graduação em Administração – Gestão para Inovação e Liderança da
UNISINOS. Anais do XXVIII EnANPAD, Curitiba, 2004
BORBA, Gustavo Severo de; SILVEIRA, Teniza da; FAGGION, Gilberto. Praticando o que ensinamos:
inovação na oferta do curso de graduação em Administração – Gestão paraInovação e Liderança da
UNISINOS. Organizações e Sociedade, v. 12, n. 35, p. 165-182. Escola de Administração da Universi-
dade Federal da Bahia, Out/Dez, 2005
UNISINOS. Projeto do Curso de Administração: Gestão para Inovação e Liderança. Centro de Ciên-
cias Econômicas, São Leopoldo: 2002a.
BRASIL, MEC. As Novas Diretrizes Curriculares que Mudam o Ensino Médio Brasileiro, Brasília,
1998.
CASTELLS, M. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
FAGUNDES, L.C.; SATO, L.S.; MAÇADA, D.L. Aprendizes do futuro: as inovações
começaram! Coleção Informática para a Mudança na Educação. MEC, 1999.
HERNADES, F., & VENTURA, M. A organização do currículo por projetos de trabalho. Porto Alegre:
Artes Médicas, 1997.
KOLVENBACH, SJ. Peter-Hans. A pedagogia inaciana hoje. In: Pedagogia inaciana:
uma proposta prática. Trad. Pe. Mauricio Ruffier, S.J. São Paulo: Loyola, 1994.
LÉVY, P. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. Ed. 34, 1993.
Para reflexão
1) O curso denominado de graduação de referência da Unisinos surgiu para atender a
necessidade de um contexto. Você concorda com essa necessidade! Justifique. Quais são
as competências demandadas neste contexto?
Gerenciamento
A área de engenharia da Petrobras, através da Gerência de Implementação de Empreen-
dimentos para Dutos Submarinos – IEDS, foi responsável pela determinação da estratégia
para condução do empreendimento, pela sua abordagem junto ao mercado fornecedor de
bens e serviços e, consequentemente, pelo gerenciamento de sua implementação. Definida a
forma de condução do projeto, as principais atividades desenvolvidas pela área de gerencia-
mento de projetos e contratos da Petrobras ficaram pautadas na integração entre as diversas
áreas afetadas e relacionadas ao projeto, bem como no desenvolvimento do contrato em
todas as suas frentes de trabalho − a fiscalização do contrato.
Para a realização dos serviços foi contratada uma empresa especializada em instalações
marítimas. O contrato foi do tipo EPCI (Engineering, Procurement, Construction and
Installation), no qual a contratada executa, diretamente e também através de subcontra-
tadas, o detalhamento de projeto, a compra dos equipamentos e materiais, a construção
Escopo
Consumido pelo mercado industrial, petroquímico, automotivo e residencial, térmico,
o gás é uma importante fonte de energia para o país. A demanda de gás na região Su-
deste do Brasil tem crescido de forma significativa nos últimos anos e tem sido suprida
pelo mercado internacional. Para reduzir a dependência externa e garantir o abasteci-
mento, é necessário o desenvolvimento de sistemas de coleta e escoamento. O projeto
do gasoduto de Canapu foi concebido para permitir a coleta do gás produzido no poço
submarino ESS-138, na bacia do Espírito Santo, a uma plataforma do tipo FPSO (Floa-
ting Production Storage and Offloading) aumentando assim a oferta de gás para a região
Sudeste do Brasil.
• aquisição de materiais: aquisição dos tubos e dos equipamentos, que precisam ser fa-
bricados de acordo com as especificações do projeto;
Com um prazo exíguo, o cronograma foi definido com folga zero, tornando assim todas as
operações críticas. Nesse caso, qualquer desvio atrasaria a conclusão do projeto. A Petrobras
e sua contratada enfrentaram esse desafio com uma estratégia de fast tracking, ou seja, a
execução paralela de atividades que, em uma situação normal, seriam realizadas de forma
sequenciadas. Isso reduz a possibilidade de impacto do atraso de uma operação na outra,
mas aumenta sobremaneira a complexidade da gestão e o risco de perda da etapa concluída.
Com relação aos requisitos técnicos, o maior desafio foi atingir um altíssimo índice de iso-
lamento térmico do gasoduto para evitar que a temperatura do gás, ao fluir do poço até o
FPSO, caísse para valores que levassem à formação de hidrato, substância sólida que pode-
ria obstruir o gasoduto. A solução encontrada foi o pipe-in-pipe, um duto dentro de outro
com o espaço anular preenchido por um material isolante térmico. A queda de temperatura
deveria ser tão pequena que apenas um tipo de isolante poderia atender aos requisitos, o
aerogel, componente usado em satélites, carros de Fórmula 1 e naves espaciais.
Como o uso de pipe-in-pipe para gás em água profunda era algo inédito no mundo, ficou
evidente que, além do prazo menor que o usual para empreendimentos similares, o projeto
compreendia o desenvolvimento de novas tecnologias.
Nas fases iniciais de concepção de Canapu, foram criados grupos de trabalho multidiscipli-
nares para elencar os riscos de projeto e as estratégias de mitigação. Profissionais da área de
gestão de projetos, design, planejamento e controle, meio ambiente e segurança trabalharam
juntos para tratar de forma sistêmica as potenciais ameaças às metas estabelecidas. Nestes
fóruns, em vista do curto prazo e dos desafios técnicos, foi identificado que o projeto apenas
Nos primeiros meses após a assinatura do contrato, a equipe da Petrobras, liderada por um
profissional com perfil perfeccionista, discutiu com a contratada cada detalhe do projeto, o
que foi feito por meio de uma série de longas reuniões em que as hipóteses de trabalho eram
analisadas e testadas. Esse intenso envolvimento inicial fez que a contratada compreendesse
o grau de exigência com que o projeto seria gerenciado.
Durante o andamento do Projeto foram realizadas duas reuniões semanais, uma de coorde-
nação e uma técnica, combinadas mensalmente e com o envolvimento das gerências supe-
riores de ambas as empresas, visando dar celeridade às decisões de maior impacto em custo
e prazo.
A reunião de coordenação, conduzida pelo fiscal de contrato Petrobras, tinha como objetivo
o monitoramento constante das interfaces, a verificação da aderência ao cronograma, a dis-
cussão de soluções para os problemas relacionados ao gerenciamento e o esclarecimento de
eventuais dúvidas contratuais. Na reunião técnica, que era conduzida por um grupo da Pe-
trobras formado por especialistas de múltiplas áreas, eram tratados os aspectos relacionados
às especificações, aos requisitos técnicos, à qualificação dos componentes e às necessidades
de modificações de projeto.
Além do intenso relacionamento entre as equipes de projeto, outro aspecto importante para
garantir a correta execução dos serviços foi o acompanhamento in loco das atividades atra-
Conclusão
A forma como o projeto foi gerenciado e coordenado foi o diferencial do projeto Canapu,
tendo garantido que o serviço fosse concluído no escopo, custo, prazo e qualidade planeja-
dos. Êxito esse que, em 2009, foi coroado com o prêmio Destaque de Melhor Projeto Con-
cluído da Engenharia, um reconhecimento corporativo da Petrobras ao trabalho das equipes
que contribuem efetivamente para o alcance dos resultados da engenharia por meio de seu
desempenho.