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AO DOUTO JUÍZO DA 8ª VARA CÍVEL DA COMARCA DA CAPITAL DO

ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Ref. ao processo ​nº 11111111111

Marcos, brasileiro, estado civil xxx, profissão xxx, inscrito sob o CPF nº xxxx e
portador do RG nº xxx, endereço eletrônico xxx, residente e domiciliado à Rua xxxx,
nº xxx, Bairro xxx, Cidade/UF, por intermédio do seu advogado e bastante
procurador, conforme documento de procuração em anexo, com escritório
profissional à Rua xxx, nº xxx, Bairro xxx, Cidade/UF, e-mail xxx, onde recebe
intimações, vem ​mui ​respeitosamente à presença de Vossa Excelência nos autos da
ação indenizatória que lhe move Julia, com fulcro nos artigos 335 e 343 do CPC,
apresentar

CONTESTAÇÃO COM RECONVENÇÃO

em face de Júlia, brasileira, estado civil xxx, profissão xxx, inscrita sob o CPF nº xxxx
e portadora do RG nº xxx, endereço eletrônico xxx, residente e domiciliada à Rua xxx,
nº xxx, Bairro xxx, Cidade/UF, endereço eletrônico xxx, ​pelos fatos e fundamentos
que passa a expor

DA TEMPESTIVIDADE DA DEFESA

A presente defesa está sendo apresentada dentro do prazo legal, qual seja de 15 dias,
conforme prevê o art. 219 do CPC, haja vista que o termo inicial, parâmetro para a
contagem do prazo, se iniciou no dia 19 de fevereiro de 2021, quando fora juntado aos
autos o Aviso de Recebimento referente à citação e intimação do réu, como determina
os artigos 335, III e 231, I do CPC. Diante disto, o prazo tem como termo final o dia 11
de março de 2021, portanto, resta demonstrado que a defesa cumpre o requisito da
tempestividade.
PRELIMINARMENTE

I - DA IMPUGNAÇÃO DO VALOR DA CAUSA

Conforme alegado pela autora, o seu prejuízo atingiu o montante de R$40.000,00


(quarenta mil reais), conduto, a mesma atribui à causa, em sua petição inicial, o valor
de R$1.000,00 (hum mil reais), evidenciando o equívoco.

Conforme determina o art. 292, V do CPC, nas ações em que se pretenda indenização,
deverá o valor da causa constante da petição inicial deverá representar o valor
pretendido, o qual no caso em tela se mostrou incompatível com o proveito
econômico de fato pretendido.

Diante do valor incorreto atribuído à causa, faz-se mister a intimação da parte autora
para que providencie a emenda à petição inicial a fim de corrigir o valor conferido à
causa devendo passar à constar R$40.000,00 (quarenta mil reais), bem como para
que complemente o valor da taxa judiciária, eis que não faz jus ao benefício da justiça
gratuita.

Portanto, importante impugnar a incorreção do valor da causa, que deve sofrer a


devida adequação, eis que traz consequências jurídicas relevantes.

DA VERACIDADE DOS FATOS

De princípio, é imperioso esclarecer que os fatos, assim como narrados na peça


exordial, não representam a realidade dos eventos que ocorreram na ocasião do
acidente. A autora falta com a verdade ao descrever a dinâmica do acidente, pois
oculta sua verdadeira conduta e aponta o réu como responsável exclusivo do acidente
por dirigir acima da velocidade permitida.

Ora, tais alegações não condizem com a realidade. A real circunstância é que a autora
estava dirigindo sob efeito de álcool, como comprova o boletim de ocorrência
acostado aos autos. Em razão da embriaguez a autora ultrapassou o sinal vermelho,
causando a colisão entre os veículos.

Neste sentido, tem a jurisprudência dos Tribunais Superiores que o boletim de


ocorrência goza de presunção de veracidade e constitui documento hábil a comprovar
a veracidade de fatos ocorridos em sede de acidentes de trânsito, é o que confirma o
trecho do julgado a seguir colacionado:
“Firma-se na jurisprudência que o Boletim de Ocorrência carrega presunção juris
tantum, tanto mais quanto elaborado logo após o evento, como no caso vertente.”
(1º TACSP, Ap. 315.933, 4ª C., j. 5.10.83, v.u, Rel. Benini Cabral)

Muito embora o réu estivesse acima da velocidade permitida em 5%, não fosse pela
irresponsabilidade da autora, o acidente teria sido facilmente evitado. Desse modo,
fica claro que a parcela de culpa do requerido é ínfima frente à culpa da autora, a qual
deve ser conferida maior responsabilidade pelo ocorrido, eis que sua conduta de
dirigir embriagada e desrespeitar a sinalização são muito mais gravosas.

DO MÉRITO

I - RESPONSABILIDADE SUBJETIVA

Ao contrário da autora, o contestante não praticou qualquer ato ilícito, e por isso não
comunga de qualquer responsabilidade pelos danos advindos da colisão. Nesta via,
estabelece o art. 186 do Código Civil que aquele que, por ação ou omissão voluntária,
negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito, tornando-se, por força do art. 927 do
Diploma Adjetivo, obrigado a repará-lo.

De certo que o réu não violou em momento algum os fundamentos legais para a
imputação da responsabilidade civil subjetiva alhures mencionados. É consabido que
questões de trânsito envolvem análise acerca da incidência do elemento culpa, seja
em sentido amplo (dolo), seja em sentido estrito (negligência, imprudência e
imperícia). São requisitos que precedem à análise da responsabilidade subjetiva,
devendo haver a presença de ao menos um deles para configurá-la.

Em razão dos fatos expostos, fica demonstrado que o contestante não ofendeu os
artigos 927 e 186 do Diploma Material Civil, e que portanto, diante da ausência de
responsabilidade, não possui qualquer dever de indenizar.

II - CULPA CONCORRENTE

Por força do princípio da eventualidade, extraído dos termos do art. 336 do CPC, cabe
ao contestante formular toda sua defesa na peça de contestação, sob pena de
preclusão.
Diante disto, não obstante os fatos e fundamentos trazidos à baila, caso o Douto Juízo
entenda que houve responsabilidade subjetiva por parte do contestante, deve-se
considerar a culpa concorrente de que trata o art. 945 do CC/02:

“Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização
será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do
autor do dano”

Assim sendo, se o réu estava acima da velocidade permitida, frise-se em 5%, a autora
por sua vez, dirigia embriagada mostrando total desleixo com as regras de trânsito e
com a vida das demais figuras envolvidas na dinâmica do trânsito, como pedestres e
outros condutores de veículo.

De certo que a culpa concorrente não exclui o dever de indenizar, mas leva a sua
significativa redução. Não cabe ao réu ser condenado ao pagamento de quarenta mil
reais, quando na verdade a sua contribuição para o ocorrido foi muito menor que a
contribuição ​da autora.

Portanto, por se mostrar a melhor medida da justiça, deve-se atribuir maior


responsabilidade a quem mais deu causa ao dano.

III - CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA

Considerando todos os fatos expostos e os documentos devidamente acostados à


presente peça, não resta dúvidas que a autora fora a única e exclusiva responsável
pela colisão que gerou danos à si mesma, bem como para o réu.

A conduta de dirigir embriagada e ultrapassar o sinal vermelho demonstra que a


motorista assumiu o risco de produzir um resultado danoso, tornando evidente a
presença da culpa consciente, ou quiçá dolo eventual, no comportamento adotado
pela autora, de tal modo que trouxe para o réu prejuízos no valor de R$30.000,00
(trinta mil reais). É como entende a jurisprudência:

APELAÇÃO CÍVEL - INDENIZAÇÃO - RESPONSABILIDADE CIVIL - ACIDENTE


DE TRÂNSITO. CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA CONFIGURADA - SENTENÇA DE
IMPROCEDÊNCIA MANTIDA. - Autor que, ao ingressar a pista de rolamento, não se
certificou que a faixa de trânsito que ia tomar estava livre numa extensão suficiente
para que sua manobra não pusesse em perigo ou obstruísse o trânsito - ​A culpa
exclusiva da vítima afasta o dever de indenizar ​- Sentença de improcedência.
Manutenção - Conhecimento e desprovimento do recurso.

(TJ-RJ - APL: 00077674620178190210, Relator: Des(a). CAETANO ERNESTO DA


FONSECA COSTA, Data de Julgamento: 12/06/2019, SÉTIMA CÂMARA CÍVEL)

Do mesmo modo decidiu o Tribunal do Rio de Janeiro, ao tratar de prova inconteste e


conclusiva:

APELAÇÃO CÍVEL. ACIDENTE DE TRÂNSITO. RESPONSABILIDADE CIVIL.


COLISÃO ENTRE TAXI E COLETIVO. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA
AMPARADA EM LAUDO DO ICEE. CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA. Trata-se de
ação de responsabilidade civil pelo rito sumário, em que o Autor requer indenização
por danos materiais e extrapatrimoniais. Irresignação do Autor em que argui error in
procedendo, vez que o Magistrado deferiu seu pedido inicial de produção de prova
testemunhal, mas proferiu a sentença sem permitir a oitiva. Prova testemunhal
incapaz de modificar o resultado. ​Sentença fundamentada em prova
documental produzida sobre o crivo do contraditório, qual seja, Exame
do Local, produzida pelo ICCE, com base em ​imagens de câmeras do momento
do acidente que identificaram avanço de sinal. Dessa forma, sendo a prova
incontestada e conclusiva pela culpa exclusiva da vítima, a dispensa da prova oral não
viola qualquer direito. ​Culpa Exclusiva da Vítima. RECURSO CONHECIDO.
PROVIMENTO NEGADO.

(TJ-RJ - APL: 00120271820088190038, Relator: Des(a). GEÓRGIA DE CARVALHO


LIMA, Data de Julgamento: 30/01/2018, VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL)

Assim como evidenciado, a autora nada provou em sua petição inicial. Sua pretensão
indenizatória está fundada em alegações vazias e insinuosas. Por outro lado, o réu
refutou todos os fatos apontados por ela, visto que apresentou elementos realmente
comprobatórios, não se apoiando apenas em declarações infundadas.

Além de um ilícito civil, cometeu a autora um delito de trânsito previsto inclusive no


Código de Trânsito Brasileiro, que estabelece:

“Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em


razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine
dependência:
Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se
obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.”

No presente caso, além de infringir a legislação de trânsito, foi a autora quem


cometeu o ato ilícito descrito no art. 186 do Código Civil, sendo assim resta
comprovada a culpa exclusiva da vítima, condição que exclui o dever de indenizar por
parte do contestante.

DA RECONVENÇÃO

I - DO CABIMENTO DA RECONVENÇÃO

Conforme previsão expressa do art. 343 do Código Civil, é lícito ao réu, em sede de
contestação, propor reconvenção para manifestar pretensão própria, conexa com a
ação principal ou com o fundamento da defesa. É o que se faz pelas razões a seguir
expostas.

Consonante ao dispositivo acima mencionado, para a admissão do pedido de


reconvenção se faz necessário o cumprimento de ao menos um dos requisitos
exigidos no artigo, seja a conexão entre os danos sofridos e os fatos narrados na ação
principal, seja a ligação entre os fundamentos apresentados na defesa com a
pretenção do contratante.

No caso em tela, ambos os requisitos foram cumpridos. Restou comprovado que os


prejuízos sofridos pelo contestante tem ligação direta com os fatos narrados na
inicial, bem como os fundamentos arguidos na presente ratificam que os referidos
prejuízos adviram de tais fatos, frise-se, causados pela conduta imprudente da autora.

Conforme descrito acima, ficou configurada a responsabilidade da autora na


ocorrência dos eventos danosos, uma vez que estava embriagada ao volante e
apresentou conduta no mínimo imprudente, o que gerou prejuízos volumosos
também ao réu, e portanto ela tem o dever de indenizar, compreendido nos artigos
186 e 927 do Código Civil.

II - DANO MATERIAL

O prejuízo material suportado pelo réu alcançou a cifra de R$ 30.000,00 (trinta mil
reais), conforme comprovante juntado aos autos.
A presente pretensão indenizatória tem fundamento no art. 944 do Código Civil, que
estabelece que a indenização mede-se pela extensão do dano. Sendo o dano
emergente, isto é, o prejuízo efetivo sofrido, diante do princípio da reparação integral
do dano, pugna-se pelo ressarcimento do valor despendido no conserto do veículo,
qual seja R$30.000,00 (trinta mil reais).

Assim exprime a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça:

RECURSO ESPECIAL Nº 1.512.139 - MG (2015/0009948-0) RELATOR : MINISTRO


MARCO BUZZI RECORRENTE : MICHEL GONZAGA BERNARDO ADVOGADO :
DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE MINAS GERAIS RECORRIDO : JOSÉ
HENRIQUE DE SOUZA CAMPOS ADVOGADO : ROGERIO ARTUR SILVESTRE
PAREDES E OUTRO (S) DECISÃO Trata-se de recurso especial interposto por
MICHEL GONZAGA BERNARDO, fundamentado na alínea a do permissivo
constitucional, em face de acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado de
Minas Gerais, assim ementado: APELAÇÃO. INDENIZAÇÃO. ACIDENTE DE
TRÂNSITO. RECONVENÇÃO. POSSIBILIDADE. PROVA DA RESPONSABILIDADE
DO CONDUTOR. DESRESPEITO Ã SINALIZAÇÃO. RECONVENÇÃO
PROCEDENTE. DANO MATERIAL. SENTENÇA MANTIDA. - Ausente prejuízo à
instrução processual, bem como ante a inexistência de manifestação do autor em
sentido contrário, ​é possível o réu apresentar, juntamente com a
contestação, pedido de reconvenção. - Comprovada a responsabilidade
pelo acidente, em decorrência de transposição indevida da sinalização de
PARE​, impossível alteração da sentença.(...)

(STJ - REsp: 1512139 MG 2015/0009948-0, Relator: Ministro MARCO BUZZI, Data


de Publicação: DJ 07/10/2015)

Portanto, dá-se a causa o valor de : R$30.000,00 (Trinta Mil Reais).

PEDIDOS

Ante a todo exposto, pelas razões de fato e de direito, requer:

a) o acolhimento da preliminar para que seja intimada a parte autora para que
proceda a devida correção do valor da causa, bem como para recolher a diferença da
taxa judiciária;
b) seja declarada a improcedência do pedido autoral por culpa exclusiva da vítima, e
subsidiariamente o reconhecimento da culpa concorrente para reduzir o quantum
indenizatório;

c) seja julgado PROCEDENTE o pedido de reconvenção, condenando a autora ao


pagamento de R$30.000,00 (Trinta Mil Reais) ao réu, a título de indenização.

O réu manifesta que não tem interesse na realização de audiência de conciliação, a


qual não deverá ser realizada por força do expressa o art. 334, §4º, I do CPC.

Pugna-se provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos, em


especial prova documental suplementar e depoimento pessoal do autor.

Dá-se à reconvenção, com fundamento no art. 292, V do CPC, o valor de


R$30.000,00 (Trinta Mil Reais).

Termos em que,

Pede deferimento.

Rio de Janeiro, 09 de março de 2021.

Advogado xxx/OAB nº xxxx

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