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O Modernismo e a Inerrância Bíblica - Brian Schwertley

© Editora os Puritanos.

É proibida a reprodução total ou parcial desta publicação, sem


autorização por escrito dos editores, exceto citações em resenhas.
Autor: Brian Schwertley Editor:
Responsável: Manoel Canuto Revisão: Emir e Alaíde Bemerguy
Tradução: Denise Meister
Designer: Heraldo Almeida
ISBN:

978-85-62828-44-7
Sumário

Créditos

PREFÁCIO

O MODERNISMO E A INERRÂNCIA BÍBLICA

A INSPIRAÇÃO E A AUTORIDADE DA BÍBLIA

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES FILOSÓFICAS

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

ARGUMENTOS BÍBLICOS E TEOLÓGICOS

CONCLUSÃO

Mídias

Nossos livros
PREFÁCIO

A inspiração das Escrituras sempre foi questionada.


Os maiores críticos da inspiração bíblica são os
liberais. Os liberais têm uma posição tão diferente da
posição ortodoxa, do verdadeiro cristianismo, que
não é de estranhar que o Dr. Gresham Machen,
fundador de Westminster Seminary, o campeão da
interpretação histórico-gramatical, e que escreveu o
famoso livro “Christianity and Liberalism[1]”,
chamava o liberalismo de uma “nova religião”.
Os liberais se opõem fortemente ao pensamento
dogmático da inspiração das Escrituras e defendem
o uso da crítica histórica e a aplicação das
descobertas da ciência que envolvam algo das
crenças religiosas.
Os liberais, de maneira oposta aos cristãos
verdadeiros, não aceitam a revelação escrita das
Escrituras e afirmam que, apesar de terem alguma
verdade (encontram alguma revelação), não podem
ser consideradas a base de toda a verdade. Muitos
subestimam o poder da revelação de Deus. Assim,
não acreditam que Moisés recebeu uma revelação
especial de Deus para escrever e descrever de forma
literal a queda do homem no Éden. A maioria
desacredita nas profecias bíblicas e acham que os
ortodoxos têm uma postura de idolatria para com a
Bíblia.
Além disso são tão críticos e relativistas que
acabam sendo o contrário do que pregam: são
intolerantes. A falsa tolerância tem sido uma das
marcas dos liberais. John MacArthur diz que os
erros doutrinários entram na igreja no lombo da
tolerância. Os liberais têm procurado destruir a fé
cristã histórica “que uma vez foi dada aos santos”.
Têm marginalizado os ortodoxos como Hodge,
Warfield, Berkhof, Edwards, Machen e outros,
julgando-os como antiquados, bitolados e têm
preferido homens como Barth, Brunner, Bultmann,
Tilich, (neo-ortodoxos) cujos ensinos têm
“destruído” a igreja. Basta ir à Europa e ver o caos
da maioria das igrejas. Nunca se ouviu esta
expressão: “Deus usou estes homens para trazer um
grande despertamento espiritual, uma grande
reforma, um grande avivamento à igreja”. Pelo
contrário, com eles a igreja enfraquece e apostata.
Por eles os ortodoxos, piedosos e zelosos mestres
são chamados de anacrônicos, fechados, dogmáticos
e incompetentes para compreender a mentalidade
moderna. Os liberais são soberbos. Liberalismo e
piedade são antagônicos.
Os liberais defendem a posição de que os
princípios de interpretação das Escrituras são de que
a Bíblia foi escrita para homens, na linguagem dos
homens, e que o seu significado deve ser buscado da
mesma forma que se faz com qualquer outro livro.
Muitos defendem que a Bíblia está cheia de mitos
que nos levam à crença no sobrenatural. Por isso
muitos não creem no Gênesis, em um Adão literal,
nem em Eva ou numa serpente literal, no fruto
proibido, etc., considerando que, quando Jesus e
Paulo se referem a estas coisas do Gênesis, estavam
nada mais do que aceitando a crença nos “mitos
fundantes”. Ou seja: o Gênesis e seus mitos estariam
para a origem da Queda, assim como a loba
amamentando Rômulo e Remo estaria para a origem
de Roma. Também não creem na encarnação de
Deus na pessoa de Cristo, na Sua ressurreição
literal, nos milagres de Jesus e dos apóstolos; e o
racionalismo tem permeado suas mentes.
A partir da segunda metade do século XVIII,
tendo o seu grande expoente em Emanuel Kant, a
pregação caiu sob a influência do racionalismo e,
por isso, os ensinos básicos da fé cristã como o
pecado original, a expiação substitutiva de Cristo, a
justificação pela fé, a trindade, as duas naturezas de
Cristo, sumiram dos púlpitos. Contra essa postura
filosófica e teológica surgiu uma reação sob a
liderança de Friedrich D. E. Schleiermacher da
Universidade de Berlim. O problema é que
Schleiermacher tinha uma concepção errônea das
Escrituras: cria na Bíblia não como auto revelação
de Deus aos homens, mas como um registro da
experiência religiosa subjetiva de santos
preeminentes. O resultado foi a defesa de que a
pregação deve derivar da consciência do pregador,
identificar-se com a consciência religiosa do povo,
apesar de nutrir-se da Escritura, principalmente do
NT. Para Schleiermacher, pregar não é expor e
aplicar a Escritura, mas transmitir uma consciência
religiosa, e o alvo da pregação não é doutrinária,
mas o viver cristão (a experiência). Dessa forma, ele
concordava com o racionalismo em que o conteúdo
da pregação deve ser obtido subjetivamente, mas
tendo como ponto de partida, não o racional, mas o
religioso.
Este teólogo de Berlim, Schleiermacher é
conhecido como o pai do liberalismo teológico e
com ele surgiu a pregação modernista dos nossos
dias, onde se substitui a Palavra objetiva de Deus
pela experiência religiosa subjetiva tão comum nos
cultos de hoje. Neste aspecto, é curioso ver como
em alguns pontos os carismáticos se identificam com
os liberais.
Os liberais são contra todos os credos e
confissões. Não se ajustam a qualquer dogma
estabelecido. Dão uma ênfase exagerada na bondade
inerente do homem e em sua racionalidade. Têm
enfatizado os movimentos para o melhoramento
econômico-social em lugar da salvação da alma e a
esperança do céu. São soberbos, considerando que
são detentores de mais verdades do que os
ortodoxos aos quais chamam de ultraconservadores.
Rejeitam o sobrenatural (não todos).
Alguns pensam que o movimento liberal terminou
com as publicações das obras de Barth que
instituiram a neo-ortodoxia, mas o liberalismo
continuou, apesar de não ter o mesmo ímpeto. Por
outro lado os pensamentos de Rudolf Bultmann e de
Paul Tilich deram continuidade ao pensamento
liberal. Estes estiveram associados à revolução
teológica da Karl Barth, tentando evitar certos
excessos do liberalismo. Mas as críticas que
podemos fazer contra esses homens são
essencialmente as mesmas que são feitas ao
liberalismo mais antigo.
Os liberais não confiam nos credos e confissões,
pois derivam de algo que a igreja inventou sobre
Jesus e que não seriam verdadeiras; seriam fruto dos
ensinos de Paulo, de especulações helenistas e de
um supernaturalismo, geralmente sem sentido.
Usualmente não toleram valores fixos embutidos em
sistemas dogmáticos. Por isso são tolerantes,
pluralistas, pragmáticos e relativistas.
Com respeito ao pecado, os liberais são tolerantes
e por demais “compreensivos” para com as falhas
dos homens, pois que seriam devidas à falta de
conhecimento. A salvação é vista como algo que
livra apenas o homem de uma condição adversa. A
doutrina da expiação de Cristo é vista pelos liberais
apenas como um grande exemplo dado por Jesus
que visava exercer apenas uma influência moral
sobre o homem.
Encerro este prefácio citando as palavras de R. B.
Kuiper:
“Por várias décadas os fundamentalistas e os modernistas
andam em rixa discutindo se o Evangelho é mensagem de
salvação individual ou social. Muitos pregadores
fundamentalistas, embora sabedores de que a sociedade está em
chamas, só estão interessados em resgatar indivíduos das
chamas, e não em apagar o fogo. O pregador modernista, por
outro lado tem a intenção de extinguir o fogo com esperanças
de assim beneficiar o indivíduo que, conforme entende, é em
geral produto do seu ambiente. Essa diferença também é visível
na evangelização atual.
O fundamentalista está certo em ir até onde vai, pois, que a
salvação é primordialmente pessoal, não admite dúvida.
Contudo, ele não vai longe o bastante. Ele negligencia os
ensinamentos sociais contidos na Palavra de Deus. Para citar
uns poucos exemplos, Jesus teve muito que dizer sobre
casamento e divórcio (Mt 5:27-32; Lc 16:18) e sobre o dever
dos ricos para com os pobres (Lc 16:19-25); e o apóstolo Paulo,
em acréscimo àqueles assuntos, tratou da atitude do cidadão
cristão para com o magistrado civil (Rm 13:1-7), das relações
mútuas entre empregadores e empregados (Ef 6:5-9; Cl 3:22-
4:1), e da escravidão (Filemom). Na evangelização, o cerne do
Evangelho tem que vir primeiro, é claro, mas as suas
implicações sociais não devem ser ignoradas.
A falta cometida pelo evangelho social do modernismo não está
em que pretende curar os males sociais, mas em que pensa
realizar isso de modo diametralmente oposto ao cristianismo.
Deixando de lado a verdade óbvia de que nunca a sociedade
pode ser melhor do que os indivíduos que a compõem,
pretendem melhorar o indivíduo melhorando a sociedade. Quer
resgatar os homens de consequências do pecado tais como a
pobreza e as doenças, em vez de redimi-los do pecado mesmo,
pelo sangue de Cristo. Pretende salvar o indivíduo por aquilo
que é denominado ‘regeneração da sociedade’, e não pelo novo
nascimento produzido sobrenaturalmente pelo Espírito Santo.
Pretende, por esforços humanos, tirar os homens das favelas,
em vez de tirar as favelas de dentro dos homens, pela graça de
Deus. Negligencia a profunda verdade tão expressa por aquele
grande pregador e evangelista, Charles Hadddon Spurgeon:
‘Leve um ladrão para o céu, e a primeira coisa que ele fará é
bater as carteiras dos anjos’”.

Sem dúvida o Pr. Brian Schwertley nos trará


neste pequeno livro evidências bíblicas de que as
Escrituras são de fato a Palavra de Deus inspirada e
não apenas contêm a Palavra de Deus. Isto é neo-
ortodoxia. Deus nos livre destes erros.
— O editor

________________
[1] Publicado pela Editora Os Puritanos e disponível para compra
em http://www.amazon.com.br/dp/B00GYXGWBS
O MODERNISMO E A
INERRÂNCIA BÍBLICA

Um dos maiores inimigos do cristianismo atual é o


modernismo ou liberalismo cristão. Na verdade,
poderia se dizer que o liberalismo cristão tem
causado mais danos às denominações e instituições
protestantes no séc. XX do que qualquer outro
movimento herético. O que é o liberalismo cristão?
O liberalismo cristão é parte de um movimento
religioso, político e cultural mais amplo na Europa
(em primeiro lugar) e então na América, que tem
sua base na visão de mundo humanista secular. A
razão pela qual os historiadores e teólogos referem-
se ao liberalismo cristão como modernismo é o fato
de que os liberais cristãos têm comprado e adotado a
visão de mundo secular moderna. Eles têm adaptado
seus ensinamentos para refletirem o espírito desta
era. O que ocorreu com as denominações que
adotaram o modernismo foi uma erosão séria da fé
em Cristo e o emparelhamento da Bíblia com a nova
fé nos pressupostos do progressivismo e
naturalismo. Isto envolveu a fé na humanidade. As
“descobertas” do homem na ciência, indústria,
ciências sociais e econômicas introduziriam um
milênio humanista. Algumas características comuns
do modernismo são uma crença na evolução
darwiniana, estatismo (comunismo, socialismo,
fascismo do bem-estar social), alto criticismo
negativo, relativismo histórico e ético e gradualismo
subversivo. Porque o modernismo ainda é a força
religiosa mais dominante na academia, governo civil
e na mídia nos dias de hoje, um estudo e refutação
de alguns dos seus ensinamentos mais proeminentes
se torna necessário. Além disso, as lições teológicas
que deveriam ter sido aprendidas das batalhas
teológicas entre modernistas e fundamentalistas (c.
1870-1940) não o foram por muitas pessoas, porque
novas formas de modernismo ainda estão destruindo
as instituições cristãs (e.g., Fuller Seminary)[2] e
denominações (e.g., A Igreja Reformada Cristã).
________________
[2] “A batalha pela Bíblia neste século XX (juntamente com a
década anterior) pode ser esquematizada em três períodos.
Primeiro (1893) foi a condenação e suspensão pela Igreja
Presbiteriana nos E.U.A. de Charles Augustus Briggs por manter
que a Bíblia afirma falsidades. Segundo foi a Afirmação Auburn [a
Afirmação Auburn foi escrita em 1923 primeiramente por Henry
Sloane Coffin e Robert Hastings Nichols. Ela foi assinada por 149
ministros modernistas na PCUSA. Em 1924 foi publicada e
eventualmente assinada por mais de 1200 ministros modernistas.
Este documento negava explicitamente a inerrância da Escritura].
O terceiro é a renovação destas posições no livro agora sob
consideração [Biblical Authority, 1977]. Este livro foi estimulado
pela publicação de Harold Lindsell, The Battle for the Bible
(Zondervan, 1976). Mas o presente ataque à Bíblia começou com a
reorganização do Fuller Seminary e a reorganização de todos ou da
maioria do seu corpo docente ortodoxo” (Gordon H. Clark, The
Concept of Biblical Authority [Philipsburg, NJ: Presbyterian and
Reformed, 1980], p.1).
A INSPIRAÇÃO E A
AUTORIDADE DA BÍBLIA

A grande linha divisória entre o modernismo e o


cristianismo bíblico está no tema fundamental da
inerrância bíblica e autoridade final. A posição cristã
ortodoxa histórica tem sido sempre a de que Deus
fala ao seu povo através da Bíblia, que é inspirada
por Deus e, por essa razão, é infalível (ou inerrante)
de capa a capa. Toda a Escritura tem origem divina;
consequentemente, ela é a Palavra de Deus. “Cada
palavra da Bíblia é, por seu próprio testemunho a si
mesma, infalivelmente verdadeira [cf. Mt 5.18; Is
45.19; Sl 119.160; Jo 17.17]... [Assim], a Bíblia é
‘absolutamente sem erros’ em qualquer um dos
assuntos que menciona em seu ensino - seja
declarações sobre história, história natural, etnologia,
arqueologia, geografia, ciência natural, fato histórico
ou físico, princípio psicológico ou filosófico ou
doutrina espiritual e deveres”[3]. Porque a Bíblia é a
revelação especial de Deus de Si mesmo ao homem
e é infalível (i.e., verdade objetiva), é a fonte final e
última de autoridade em todos os assuntos de
adoração, doutrina e disciplina.
A base do liberalismo cristão não é a Bíblia, mas a
humanidade ou, mais especificamente, o estudioso
modernista, líder cristão ou burocrata. O grande
pressuposto do modernismo é uma Bíblia falível.
Uma vez que o liberalismo cristão engloba uma
grande variedade de pontos de vista heréticos com
relação à Escritura, o que se segue são os
ensinamentos típicos, gerais dos estudiosos
modernistas com relação à Bíblia. Os modernistas
argumentam (em acordo com os seus pressupostos
anti-sobrenaturais) que a Bíblia é um registro
humano da evolução religiosa do politeísmo para o
monoteísmo das tribos do Oriente Médio. Estas
tribos eventualmente se tornaram conhecidas como
israelitas. De acordo com os estudiosos liberais
cristãos, a Bíblia é cheia de mitos e lendas. Por esta
razão, a Bíblia não nos diz a palavra de Deus, antes
revela os ensinamentos religiosos de uma
comunidade religiosa antiga. Slogans comuns entre
os modernistas são: 1) A Bíblia não é a própria
verdade, mas contém a verdade. 2) A Bíblia não é
um livro texto com relação à ciência.
Consequentemente, não se deve esperar que ela
reflita acuradamente o que realmente aconteceu
durante a criação, etc.. 3) O Pentateuco, os
Evangelhos e outros livros históricos nunca tiveram
a intenção de serem considerados relatos históricos.
4) A Bíblia é cheia de contradições. 5) A Bíblia
reproduz erros científicos, visões éticas e
preconceitos sociais do período em que foi escrita.
Assim, muitas das leis do Antigo Testamento são
injustas, bárbaras e não éticas. 6) Os milagres
registrados na Bíblia não deveriam ser considerados
verdadeiros porque violam as leis da natureza. A
lista prossegue mas os pontos enumerados acima são
suficientes para uma pessoa entender o modernismo.

________________
[3] Greg L. Bahnsen, “The Inerrancy of the Autographa” em
Norman L. Geisler, ed., Inerrancy,(Grand Rapids, MI: Zondervan,
1980), pp. 152-153.
ALGUMAS
CONSIDERAÇÕES
FILOSÓFICAS

Uma pessoa em uma igreja modernista e alguém que


lê um artigo na revista Time com relação à Bíblia ou
que assiste à “televisão pública” ouvirá que a posição
cristã liberal sobre a Bíblia é simplesmente a da
evidência relativa aos fatos. A verdade, no entanto, é
que os estudiosos modernistas sempre ignoram as
evidências bíblicas, históricas e arqueológicas que
não se enquadram nos seus pressupostos humanistas
seculares. Se os pontos de partida de uma pessoa
são: Deus não é soberano; Ele não pode revelar-se
de forma infalível à humanidade de uma forma
proposicional; milagres são impossíveis; a doutrina
do inferno não pode ser verdadeira; o domínio da fé
é não racional e não histórico; o homem é o
determinador autônomo da verdade, da realidade,
etc.; então, naturalmente, ele não irá considerar a
Bíblia como fundamentalmente digna de confiança e
sim meramente como outro livro religioso antigo. As
conclusões do alto criticismo com relação à Bíblia
são o resultado inevitável de um axioma apóstata
incrédulo. A metodologia “científica” secular
moderna diz que a Bíblia não pode ser recebida
como auto-autenticada porque isto seria
dogmatismo. Isto seria submissão cega à autoridade.
Assim, a fim de ser realmente científica e objetiva,
uma pessoa deve sujeitar a Bíblia aos métodos
literários e históricos autorizados dos seminários e
universidades liberais. Mas tudo o que este chamado
processo científico tem feito tem sido transferir a fé
das pessoas da autoridade bíblica para a autoridade
dos chamados experts bíblicos. As pessoas não estão
mais seguindo o dogmatismo das Escrituras mas o
dogmatismo dos teólogos incrédulos.
Lembre-se, quando uma pessoa sustenta um
ponto de vista particular com relação à Bíblia, seu
ponto de vista não ocorre e não pode ocorrer em um
vácuo. Ele é necessariamente parte de uma visão de
mundo geral. Ele envolve uma visão da ontologia
(teoria do ser), epistemologia (teoria do
conhecimento), história, Deus (e.g., Deus é
soberano? Ele pode se comunicar de uma forma
proposicional com a humanidade? etc.), homem,
criação e até mesmo salvação. Consequentemente, o
tema não é um daqueles de mera efetividade, mas a
visão de mundo que uma pessoa usa para formular,
filtrar e analisar os fatos. O verdadeiro evangélico
faz o melhor que pode para derivar seus
pressupostos da própria Palavra de Deus. Seu ponto
de partida é a trindade ontológica independente que
se revela infalivelmente ao homem na Bíblia. Ao
derivar sua visão de mundo geral e doutrina a partir
da Escritura, ele aborda a Bíblia com reverência. Ele
sabe que ela é auto-autenticada, inerrante, perspícua
(i.e., clara) e suficiente. Ele sabe que a fé salvadora
em Jesus Cristo não pode ser separada da fé nas
palavras de Cristo. O modernista (por outro lado)
aproxima-se da Bíblia com pressupostos que são
antitéticos à autoridade bíblica. Ele começa com a
hipótese de que a verdade é apenas aquela que o
homem determina como verdadeira. Deus é
colocado no banco dos réus para ser julgado pelos
homens finitos, pecadores e arrogantes. Em segundo
lugar, ele assume o relativismo histórico. A
mensagem da Bíblia não pode ter significado para a
era moderna porque é um livro muito velho. Ela
deve ser provada, analisada e reformada pelos
estudiosos modernos a fim de ser relevante na era
moderna. Se uma doutrina ou estipulação ética
parece distante da modernidade, o estudioso
modernista simplesmente a reduz a um mito ou a
uma redação, ou à opinião de uma pessoa antiga
com conhecimento limitado.
O que é irônico com relação à posição modernista
é que ela não é apenas tão dogmática quanto o
cristianismo bíblico, é também irracional. O
modernista se apresenta como o campeão da
objetividade e da razão. Porém, ele abandona a
Bíblia enquanto se proclama o campeão de Jesus e
do cristianismo. Mas, como uma pessoa pode
racionalmente declarar-se campeã de uma religião
que é baseada na verdade divina enquanto nega que
tal verdade exista? É neste ponto que o modernista
tira a máscara do racionalismo e da objetividade e a
substitui pela máscara do misticismo, irracionalidade
e subjetivismo. O modernista procura agarrar-se ao
título de cristão com uma superficialidade tão
bizarra como: “A verdade divina não é encontrada
nas proposições escritas mas na consciência
autêntica pessoal de Deus”, ou “O poder da
Escritura não é derivado da inspiração objetiva ou
verdade mas do seu efeito espiritual maravilhoso
sobre o homem”, ou “Embora a Bíblia não seja
inspirada por Deus e não seja uma fonte confiável
para as afirmações dogmáticas, ela tem uma
autoridade poderosa na experiência religiosa com a
qual mexe nos corações dos seus estudantes.” O
modernista, ao puxar o tapete de sob a verdade
objetiva, é deixado com uma religião antropológica.
Ao fazer do homem o ponto de referência final para
a verdade, o liberal cristão é deixado com um
subjetivismo grosseiro e slogans místicos tolos. Logo
que uma pessoa entende a posição modernista geral
no seu contexto de visão de mundo, nunca mais
deveria deixar-se enganar pelo argumento de que os
liberais cristãos são racionais, objetivos e científicos
enquanto que os ortodoxos cristãos são seguidores
fideístas cegos da autoridade. O cristianismo bíblico
que repousa na infalibilidade bíblica é a única
posição racional defensível. É a única posição que
evita o subjetivismo, relativismo e misticismo.
ALGUMAS
CONSIDERAÇÕES
PRELIMINARES

Ao investigar a doutrina da inspiração e


infalibilidade da Escritura, o lugar mais lógico para
se começar é a própria Bíblia. Se a Bíblia não alega
ser inspirada por Deus; se não alega ser inerrante ou
sem erro em tudo o que ensina, incluindo assuntos
de ciência e história; se ela meramente alega ser um
registro falível e uma experiência religiosa de um
povo antigo, então, obviamente, não há razão para
se insistir na sua infalibilidade e total autoridade
sobre a igreja e toda a humanidade. No entanto, se a
Bíblia ensina a inerrância bíblica, então devemos
defender as alegações da Escritura com cada fibra
do nosso ser.
Um argumento baseado nas Escrituras será
considerado por muitos como raciocínio circular não
científico e inadequado. No entanto, devemos nos
lembrar que a Bíblia é única. Porque é a Palavra de
Deus, ela deve ser auto-autenticada porque não
pode haver autoridade acima do próprio Deus. A
Bíblia deve ser crida porque ela é a Palavra de Deus.
O autor do livro de Hebreus diz “visto que não
tinha ninguém superior por quem jurar, jurou por
si mesmo” (Hb 6.13). Este ponto, contudo, não
significa que a crença de um cristão na Bíblia seja
irracional ou um salto cego no escuro (fideísmo). A
crença nas Escrituras é suportada por abundantes
evidências. Como a Confissão de Westminster diz:
“a excelência do assunto, a eficácia da doutrina, a
majestade do estilo, o consentimento de todas as
partes, o alvo do todo (que é dar toda a glória a
Deus)...e toda a perfeição disso são argumentos
através dos quais há evidência abundantemente
como sendo a Palavra de Deus....”[4] A isto poderia
ser adicionado às surpreendentes descobertas de
arqueologia, profecias perfeitamente cumpridas,
sinais e maravilhas e assim por diante. Enquanto
todas estas evidências testificam a verdade da
Escritura, não devemos nunca nos esquecer de que a
Bíblia repousa definitivamente na própria autoridade
de Deus. “Deus ‘testifica a Si mesmo’ porque não
há nada mais epistemologicamente autoritário ou
moralmente final que poderia autorizar o que Ele
revela.”[5]
Antes de examinarmos as muitas passagens
bíblicas e doutrinas que ensinam claramente que a
Bíblia é a Palavra infalível, inspirada de Deus,
deveria ser notado que o cristianismo se ergue ou cai
na inerrância bíblica. Por quê? Porque a Bíblia é a
base de cada doutrina da fé cristã. O cristianismo é
uma religião baseada no espaço e tempo reais,
eventos históricos e na própria interpretação de
Deus destes eventos. A fim de se tornar um cristão,
uma pessoa deve crer em Cristo como ele é revelado
nas Escrituras. A Bíblia é virtualmente a única fonte
de informação com relação a estes eventos e é a
única fonte que nos dá a interpretação de Deus
destes fatos. Consequentemente, toda a teologia
deve ser baseada na Bíblia. Enquanto é verdade que
certas coisas sobre Deus são aprendidas a partir da
revelação geral (i.e., revelação de Deus de Si mesmo
na natureza; cf. Sl 19.1; Rm 1.18ss.), o apóstolo
Paulo diz que esta informação é suficiente apenas
para condenar o homem natural (cf. Rm 1.20ss.). Se
uma pessoa diz ter fé em Jesus Cristo, ela deve ter
fé na Bíblia que nos diz quem Jesus é. A fé em
Cristo como uma pessoa não pode ser separada da
fé nas Escrituras que definem Cristo e sua obra. À
parte da revelação especial de Deus, a imagem do
homem ou interpretação de Cristo de uma pessoa é
tão boa quanto a de outra, porque são todas
invenções da imaginação do homem. Todas elas são
obras de suposição subjetiva. Sem a Bíblia, os
modernistas são homens cegos tateando no escuro.
Sua religião nada mais é do que uma forma
intelectualmente sofisticada de idolatria.
Se, como os modernistas afirmam, a Bíblia é uma
mistura de verdade e erro, então nada da Bíblia
pode ser confiado em sua própria autoridade. Mas o
que é esta autoridade maior? Ela mesma é infalível,
objetiva e totalmente confiável? Não. A autoridade
maior é meramente a mais recente teoria popular
ensinada nas instituições modernistas. O alto
criticismo não é uma ciência severa. Um arqueólogo
pode descobrir uma pedra de pavimentação ou um
monumento antigo e dizer que Pôncio Pilatos
realmente existiu e governava quando a Bíblia diz
que ele governava. O estudioso modernista, no
entanto, diz coisas como: «Baseado em minha
análise da gramática hebraica, há dois autores
diferentes do livro de Isaías”. O estudioso
modernista realmente sabe se dois homens diferentes
escreveram o livro de Isaías? Não. Ele tem uma
teoria. Ele tem uma opinião instruída, baseada nos
seus próprios pressupostos modernistas. O cristão
professo em uma igreja modernista não pode
colocar sua confiança em qualquer porção da
Escritura sem primeiro consultar as mais recentes
autoridades modernistas para ter certeza de que não
está crendo em algum mito tolo ou em uma edição
de um poderoso sacerdote faminto, ou em uma
lenda de uma comunidade cristã do segundo século
inclinada a moldar o Jesus humano à sua própria
imagem. Quando uma base segura da Bíblia infalível
é substituída por opiniões pervertidas de humanistas
seculares disfarçados de mestres cristãos, então (de
acordo com o seu próprio ensino) não se pode
confiar em um único ponto da Bíblia.
Os modernistas não são diferentes dos romanistas
porque a base da teologia de ambos não é apenas a
Escritura mas, antes, a tradição humana. Os
católicos romanos olham para os pais da igreja e
para as invenções teológicas da Idade Média (e.g.,
purgatório, Mariolatria, transubstanciação, celibato
para os sacerdotes e freiras, papado, etc.) enquanto
os liberais cristãos seguem as tradições dos filósofos
seculares (e.g., Hobbes, Spinoza, Hume, Kant, etc.)
e dos teólogos apóstatas (e.g., Schleiermacher,
Ritschl, Bushnell, Bultmann, etc.). Para romanistas e
modernistas, a autoridade final não é a Bíblia, mas a
igreja. No catolicismo romano, o Papa e a hierarquia
da igreja determinam a doutrina enquanto entre os
liberais cristãos ela é determinada pelos professores
de seminário e pela burocracia da igreja. Nas
denominações modernistas, basicamente, quem quer
que tenha o poder, esse determina a doutrina. O
único fator limitador nas denominações modernistas
é a opinião pública. Aqueles que têm o poder
refreiam as visões mais radicais até que as pessoas
nos bancos das igrejas, que pagam seus salários,
sejam conquistadas quanto a estas novas visões. A
repreensão de Jesus aos escribas e fariseus aplica-se
igualmente a todos os modernistas: “E, assim,
invalidastes a palavra de Deus, por causa da vossa
tradição...são cegos, guias de cegos. Ora, se um
cego guiar outro cego, cairão ambos no barranco”
(Mt 15.6, 14). Paulo nos admoesta quanto a tais
homens maus: “Cuidado que ninguém vos venha a
enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme
a tradição dos homens, conforme os rudimentos do
mundo e não segundo Cristo” (Cl 2.8). Isaías
adverte: “À lei e ao testemunho! Se eles não
falarem desta maneira, jamais verão a alva” (Is
8.20).

________________
[4] Capítulo I, Seção V.
[5] Greg L. Bahnsen, Van Til’s Apologetic: Readings and Analysis
(Philipsburg, NJ: Presbyterian & Reformed, 1988), pp. 201-202.
ARGUMENTOS BÍBLICOS
E TEOLÓGICOS

De capa a capa, a Bíblia se apresenta como a


Palavra de Deus. Ela é a revelação registrada de
Deus de Si mesmo à humanidade. A Bíblia é um
registro infalível da história da redenção e nos diz
tudo o que Deus quer que saibamos com relação à
fé e à vida. Como sabemos que ela é a palavra
inspirada infalível de Deus? Porque ela nos diz isso
claramente. Há muitos argumentos escriturísticos
para a inerrância bíblica.
1. Há centenas de passagens no Antigo
Testamento que identificam as palavras dos profetas
como vindo diretamente de Jeová. Frases como
“Assim diz o SENHOR,” “diz o Deus de Israel,”
“diz o SENHOR dos exércitos,” “diz o SENHOR
Deus,” “diz o Santo,” “diz o SENHOR,” “diz o
Santo de Israel,” “o Deus de Israel diz,” “o
SENHOR diz,” “o Altíssimo diz,” “diz o Rei,” etc.
ocorrem 864 vezes. Há inúmeros exemplos de frases
como “o SENHOR falou,” “Deus falou,” “o
SENHOR disse,” “Eu falei,” “Eu, o SENHOR,
disse,” “Eu disse,” etc.. A Bíblia diz que Deus falou
verbalmente com Adão e Eva, Noé, os patriarcas,
Moisés e com os profetas e apóstolos. O próprio
Cristo é a revelação final de Deus ao homem.
“Havendo Deus outrora falado, muitas vezes e de
muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes
últimos dias, nos falou pelo Filho” (Hb 1.1-2).
2. Há fórmulas introdutórias na Bíblia que
afirmam claramente que os profetas falaram as
próprias palavras de Deus. Há frases como: “a
palavra do SENHOR veio até...,” “palavra do
SENHOR ao profeta...,” “palavra que o SENHOR
falou a...,” “palavra que o SENHOR me mostrou,”
“palavra do SENHOR através de...” (cf. Gn 15.1,4;
1 Re 6.11; 12.22; 13.20; 16.1; 17.2; 18.1; 19.9;
21.17, 18; Is 38.4; Jr 1.2, 4, 11, 13; Os 1.1, 4; Jl
1.1; Am 3.1; Jn 1.1; 3.1; Sf 1.1; Ag 1.1; Zc 1.1, 7;
4.8; 6.9; 7.8; etc.).
Os profetas estavam cientes de que falavam a palavra de Deus
ao povo. Eles introduziam a mensagem de Deus com frases
como: “ouvi a palavra do SENHOR” e “ouvi esta palavra que o
SENHOR falou”. Bromiley escreve: “O profeta é o homem a
quem a palavra do SENHOR (Iavé) vem e que, então, a declara
ao povo... Não é palavra do próprio profeta...O profeta não
produz a palavra de dentro de si mesmo. Ela é uma mera
questão de discernimento religioso; a palavra é de Deus. O que
o profeta diz é verdade porque é o que Deus diz.”[6] Depois de
examinar as muitas passagens apontadas acima, uma pessoa não
deveria concluir que apenas visões e declarações diretas de
Deus são inspiradas. Porque a Bíblia também identifica os
registros históricos dos escritores bíblicos, poesia, canções de
adoração e assim por diante como divinamente inspirados. O
rei Davi, o grande compositor, disse: “O Espírito do SENHOR
fala por meu intermédio, e a sua palavra está na minha língua”
(2 Sm 23.2). Isaías disse: “Buscai no livro do SENHOR e lede”
(Is 34.16). Young escreve: “Ele [Isaías] está, em efeito,
referindo-se a esta profecia como uma parte do todo. Ela é
parte de uma Escritura real, de um livro escrito para que os
homens possam voltar-se a ele e encontrar nele a referência a
esta profecia. Isaías apela para as palavras escritas de Deus
como a autoridade pela qual os homens devem julgar a
confiabilidade de sua mensagem. Quando uma pessoa encontra
a profecia na Escritura, deve ler e, através da leitura, será capaz
de verificar a confiabilidade do que Isaías predisse” (Edward J.
Young, The Book of Isaiah [Grand Rapids: Eerdmans, 1969],
2:442). Paulo disse, “Toda a Escritura é inspirada por Deus” (2
Tm 3.16; cf. 2 Pe 1.21). Há muitas outras passagens que
confirmam este ensinamento. Aqui estão alguns exemplos.
“Respondeu-lhe o SENHOR [a Moisés]: Quem fez a boca do
homem? Ou quem faz o mudo, ou o surdo, ou o que vê, ou o
cego? Não sou eu, o SENHOR? Vai, pois, agora, e eu serei com
a tua boca e te ensinarei o que hás de falar” (Ex 4.11-12). “O
Espírito do SENHOR fala por meu intermédio, e a sua palavra
está na minha língua” (2 Sm 23.2). “Depois, estendeu o
SENHOR a mão, tocou-me na boca e o SENHOR me disse: Eis
que ponho na tua boca as minhas palavras” (Jr 1.9).

3. A Bíblia declara sua própria pureza, perfeição e


verdade. Assim, qualquer ideia que a Escritura
contém impurezas, imperfeições ou enganos deve
ser rejeitada. “As palavras do SENHOR são palavras
puras” (Sl 12.6). “A lei do SENHOR é perfeita... O
mandamento do SENHOR é puro” (Sl 19.7, 8).
“Puríssima é a tua palavra... As tuas palavras são em
tudo verdade” (Sl 119.140, 160). “Toda palavra de
Deus é pura” (Pv 30.5). Jesus disse, “Santifica-os na
verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17.7). O
mundo não cristão e todos os modernistas rejeitam
estas passagens. Ao contrário de todos os apóstatas
modernistas, declaramos como Paulo: “Seja Deus
verdadeiro, e mentiroso todo homem” (Rm 3.4).
4. Os autores inspirados do Novo Testamento
consideravam os escritos do Antigo Testamento
como a palavra de Deus. Eles repetidamente
recorreram ao Antigo Testamento como palavra
vinda diretamente de Jeová. Não há dúvida de que
todos os apóstolos sustentavam a visão estrita da
inspiração plena verbal. Este fato é demonstrado no
modo como os autores do Novo Testamento
referem-se ao Antigo Testamento quando o citam.
Há passagens em que se diz que foram faladas por
Deus e até mesmo passagens que substituem a
palavra Deus por Escritura.
Exemplos de autores do Novo Testamento que
atribuem passagens do Antigo Testamento a Deus
estão a seguir. Mateus refere-se à profecia de Isaías
do nascimento virginal de Cristo (Is 7.14) como “o
que fora dito pelo Senhor” (Mt 1.22; cf. 2.15).
Quando o apóstolo Pedro referiu-se aos Salmos
69.25 e 109.8, ele os introduziu dizendo: “convinha
que se cumprisse a Escritura que o Espírito Santo
proferiu anteriormente por boca de Davi” (At 1.16).
Antes de referir-se ao Sl 2.1-2, também disse: “Tu,
Soberano Senhor, que fizeste o céu, a terra, o mar e
tudo o que neles há; que disseste por intermédio do
Espírito Santo, por boca de Davi, nossa pai, teu
servo: Por que se enfureceram os gentios...?” (At
4.24-25). “Por isso, também diz [Deus] em outro
Salmo: Não permitirás que o teu Santo veja
corrupção” (At 13.35). Antes de citar Isaías 55.3
(que os modernistas não acreditam nem mesmo ter
sido escrito por Isaías), Paulo disse, “Desta maneira
o disse [Deus]: E cumprirei a vosso favor as santas e
fiéis promessas feitas a Davi” (At 13.34). Quando o
autor de Hebreus citou o Sl 2.7; Dt 32.43; Sl 97.7 e
Sl 104.4, ele disse: “Pois a qual dos anjos [Deus]
disse jamais” (Hb 1.5), “E, novamente, ao introduzir
o Primogênito no mundo, [Deus] diz” (Hb 1.6);
“Ainda, quanto aos anjos, [Deus] diz” (Hb 1.7).
Quando o mesmo autor introduziu o Salmo 95.7-11,
disse, “Assim, pois, como diz o Espírito Santo” (Hb
3.7).
B. B. Warfield cita muitos outros exemplos. Ele
escreve: “Alinhadas a estas passagens, algumas
outras são comumente classificadas nas quais a
Escritura parece ser mencionada com sujeito oculto
legei ou phasi, o sujeito dominante — seja a Palavra
divinamente dada ou o próprio Deus — sendo aceito
como verdadeiro. Entre estas têm sido contadas
passagens, por exemplo, como as se seguem: Rm
9.15, “Respondeu-lhe, terei misericórdia de quem eu
tiver misericórdia e me compadecerei de quem eu
me compadecer” (Ex 33.19); Rm 15.10, “Louvai, ó
nações, o seu povo” (Dt 32.43); e novamente,
“Louvai ao SENHOR, vós todos os gentios, louvai-o
todos os povos” (Sl 117.1); Gl 3.16, “Ora, as
promessas foram feitas a Abraão e ao seu
descendente. Não diz: E aos descendentes, como se
falando de muitos, porém como de um só: E ao teu
descendente (Gn 13.15), que é Cristo”; Ef 4.8, “Por
isso, diz: Quando ele subiu às alturas, levou cativo o
cativeiro e concedeu dons aos homens”. (Sl 68.18);
Ef 5.14, “Pelo que diz: Desperta, ó tu que dormes,
levanta-te de entre os mortos, e Cristo te iluminará”
(Is 60.1); 1 Co 6.16, “Porque, como se diz, serão os
dois uma só carne” (Gn 2.24); 1 Co 15.27, “E,
quando diz que todas as coisas lhe estão sujeitas” (Sl
8.7); 2 Co 6.2, “porque ele diz: Eu te ouvi no tempo
da oportunidade e te socorri no dia da salvação” (Is
49.8); Hb 8.5, “pois diz ele: Vê que faças todas as
coisas de acordo com o modelo que te foi mostrado
no monte” (Ex 25.40); Tg 4.6; “pelo que diz: Deus
resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes”
(Pv 3.34).[7] O fato dos apóstolos repetidamente
dizerem “ele diz” (o que obviamente refere-se a
Deus) quando citam as Escrituras do Antigo
Testamento é evidência irrefutável de que o
consideravam divinamente inspirado.
Os apóstolos não apenas dizem “Deus diz,” “Ele
diz,” “O Senhor diz” ou “o Espírito Santo diz”
quando se referem ao Antigo Testamento, mas
também substituem a palavra Deus por Escritura.
Em Gálatas 3.8, Paulo escreveu: “Ora, tendo a
Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os
gentios, preanunciou o evangelho a Abraão: Em ti,
serão abençoados todos os povos” [cf. Gn 12.1-3].
Em Romanos 9.17, Paulo escreveu: “Porque a
Escritura diz a Faraó: Para isto mesmo te levantei”
[cf. Ex 9.16]. Em ambos os exemplos, Deus é quem
fala. Deus falou diretamente a Abraão e falou a
Faraó através de Moisés. Para o apóstolo Paulo, não
havia distinção alguma entre a Escritura falando e
Deus falando. A Bíblia tem a mesma infalibilidade,
fidelidade e autoridade como o próprio Deus
falando. O apóstolo identificava “o texto da
Escritura como Deus falando de forma tão habitual
que o uso do termo “a Escritura diz” se tornou
natural quando o que se pretendia realmente era
“Deus disse como registrado na Escritura”[8]
5. Um exame nos evangelhos revela que Cristo
acreditava e ensinava que as Escrituras do Antigo
Testamento eram divinamente inspiradas e
completamente autoritativas em todas as questões de
fé e prática. O que é de interesse particular é o fato
de Cristo ter crido e ensinado que todas as narrativas
históricas do Antigo Testamento eram verdadeiras,
confiáveis e relatos reais do que aconteceu de fato.
Jesus até mesmo sustentou a historicidade literal de
eventos que todos os modernistas virtualmente
negam. Ele apontou para a criação de Adão e Eva
por Deus como uma resposta definitiva à questão
dos fariseus com relação ao divórcio (Mt 19.4; Mc
10.6-8). Ele referiu-se ao assassinato de Abel, filho
de Adão e Eva (Lc 11.51). Nosso Senhor usou Noé
e o dilúvio para ilustrar o que irá acontecer na
segunda vinda (Mt 24.37-39; Lc 17.26,27). Ele
também se referiu a Ló (Lc 17.28-32) e à destruição
de Sodoma pelo fogo e enxofre (Mt 10.15l
11.23,24; Lc 10.12). Se estes eventos nunca
aconteceram de fato, então não poderiam ter sido
usados por Cristo como paradigmas históricos dos
eventos que envolvem a segunda vinda (a não ser
que se creia que a segunda vinda é um mito e que
Cristo é um mentiroso). Jesus usou o relato histórico
de Jonas e do grande peixe para ilustrar a sua
ressurreição (Mt 12.39-41; Lc 11.29, 30, 32).
Novamente, se Cristo estava errado ao considerar a
estada de Jonas no ventre do peixe, então por que
deveríamos confiar nele com relação ao dogma
central da fé cristã — a ressurreição?
Jesus ensinou a historicidade dos patriarcas:
Abraão (Jo 8.56), Isaque e Jacó (Mt 8.11; Lc
13.28). Diferente dos modernistas, ele ensinou que
Moisés escreveu o Pentateuco. Foi Moisés quem
entregou a lei (Mt 8.4; 19.8; Mc 1.44; 7.10; 10.5;
12.26; Lc 5.14; 20.37; Jo 5.46; 7.19). Cristo
repetidamente referiu-se à lei moral do Antigo
Testamento como o padrão absoluto de ética (e.g.,
Mt 18.16; 19.4-6, 18-19; 22.37; Mc 10.19; 12.29-
31). Ele chamava a lei do Antigo Testamento de
mandamento de Deus (Mt 15.3-4). Jesus ensinou
que Davi foi um escritor de salmos que escrevia por
inspiração divina: “O próprio Davi falou, pelo
Espírito Santo” (Mc 12.36; cf., Mt 22.43-44; Lc
20.42-43). Ele repetidamente citou o livro de
Salmos como um guia profético infalível no seu
próprio ministério e para resolver questões de
doutrina e ética (e.g., Sl 8.2-Mt 21.16; Sl 22.1-Mc
15.34; Sl 31.5-Lc 23.46; Sl 41.9-Jo 13.18; Sl 69.4-
Jo 15.25 [note a frase de Jesus, “para que se cumpra
a palavra escrita na sua lei”]; Sl 118.22,23-Mc
12.10; Lc 20.17; Sl 118.26-Mt 23.39, Lc 13.35; Sl
110.1-Mt 22.43-44, Mc 12.36; Lc 20.42-43).
Jesus ensinou que os escritos proféticos do Antigo
Testamento foram inspirados por Deus e eram
absolutamente verdadeiros. Ele citou Isaías (Is
6.9,10-Mt 13.14, Mc 4.12; Is 29.13-Mt 15.7-9, Mc
7.6-7, Lc 8.10; Is 53.12-Lc 22.37; Is 54.13-Jo 6.45;
Is 56.7-Mt 21.23, Lc 19.46, Mc 11.17; Is 61.1,2-Lc
4.19; Is 66.24-Mc 9.48) diferentemente dos
modernistas que não creem ou ensinam que houve 2
ou 3 autores diferentes para o livro. Ele citou
Jeremias (Jr 7.11-Mt 21.13, Lc 19.46, Mc 11.17),
Daniel (Dn 11.31, 12.11-Mt 24.15, Mc 13.14),
Oséias (Os 6.6-Mt 12.7; Os 10.8-Lc 23.30);
Miquéias (Mq 7.6-Mt 10.36); Zacarias (Za 13.7-Mt
26.31, Mc 14.27), e Malaquias (Ml 3.1-Mt 11.10).
Quando Cristo discutiu o elemento profético do
Antigo Testamento, Ele ensinou sem equívoco que
tudo o que estava escrito a seu respeito deveria
acontecer. “São estas as palavras que eu vos falei,
estando ainda convosco: importava se cumprisse
tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés,
nos Profetas e nos Salmos” (Lc 24.44). Para Cristo,
a Escritura tem uma fidelidade absoluta. “Assim está
escrito que o Cristo havia de padecer e ressuscitar
dentre os mortos no terceiro dia” (Lc 24.46).
Quando a Bíblia diz que algo irá acontecer, há uma
necessidade absoluta de que isto aconteça. Além
disso, Jesus não estendeu a autoridade bíblica para
apenas uma parte da Bíblia ou só para os
pensamentos dos autores, mas para as próprias
letras. “Porque em verdade vos digo: até que o céu e
a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da
Lei, até que tudo se cumpra” (Mt 5.18).
Uma passagem onde Cristo ensina a inspiração
plena e a autoridade divina de cada palavra nos
manuscritos originais das Escrituras do Antigo
Testamento é João 10.34-35: “Replicou-lhes Jesus:
Não está escrito na vossa lei: Eu disse: sois deuses?
Se ele chamou deuses àqueles a quem foi dirigida a
palavra de Deus, e a Escritura não pode falhar...”
Nesta passagem Jesus:
1.Baseia todo o seu argumento em uma palavra do texto
hebraico.
2. Diz que o Antigo Testamento (a palavra lei é usada em um
sentido mais amplo para incluir os escritos e os profetas) é a
Palavra de Deus.
3. Diz que a Escritura não pode falhar. Isto é, não pode ser
privada de sua autoridade obrigatória.

“A Escritura não pode falhar. Ela é absolutamente


indestrutível, não importa como o homem a
considere. O Antigo Testamento, na forma escrita
em que se encontra! é inspirado, infalível e munido
de autoridade”[9] escreve Pink: “Note o modo como
no v. 35 o Salvador disse, ‘A Escritura não pode
falhar.’ Que grande honra ele colocou na Palavra
escrita! Ao fazer uso deste versículo do salmista
contra os seus inimigos, todo o ponto do seu
argumento foi baseado em uma única palavra –
‘deuses’ – e o fato de que ela ocorreu no livro
divinamente inspirado. A Escritura foi a corte final
de apelação, e aqui o Senhor insiste na sua
autoridade absoluta e inerrância verbal”.[10] “Que ‘a
Escritura não pode falhar’ pressupõe a inspiração da
mesma é, para quem quiser ver, perfeitamente
claro”[11].
J. C. Ryles escreve: “A Escritura não pode falhar.
As teorias daqueles que dizem que os escritores da
Bíblia foram inspirados, mas não todos os seus
escritos, – ou que as ideias da Bíblia foram
inspiradas, mas não toda a linguagem em que estas
ideias foram transmitidas,– parecem ser totalmente
irreconciliáveis com o uso da sentença por nosso
Senhor diante de nós. Não há outra posição a ser
mantida sobre a inspiração, creio, exceto o princípio
de que ela é plena e alcança cada sílaba. Uma vez
abandonada esta posição, somos mergulhados em
um mar de incertezas. Como uma cuidadosamente
composta linguagem de vontades, declarações e
comunicações, cada palavra da Bíblia dever ser
considerada sagrada, sem a admissão de uma única
falha ou deslize da caneta” (Expository Thoughts on
the Gospels [Cambridge, Inglaterra: James Clark
and Co., 1976] 2:251).
Quando Jesus foi confrontado por Satanás no
deserto, Ele respondeu a cada tentação com uma
citação do Antigo Testamento. Cada citação é
introduzida por nosso Senhor com a fórmula
autoritária “Está escrito” (Mt 4.4, 7, 10; Lc 4.4, 8).
Esta frase, “está escrito” (gegraptai), indica que as
passagens da Escritura de Deuteronômio citadas por
Cristo foram escritas ou dadas no passado por Deus
mas continuam a ter efeito duradouro. Elas
continuam a ter a autoridade de Deus por trás.
Ainda estão em vigor e devem ser obedecidas. Uma
boa tradução de gegraptai seria “permanece escrito”.
Nosso Senhor poderia ter falado sobre a sua própria
autoridade, ou até mesmo ter dado uma nova
revelação, mas escolheu dizer, “Está escrito”. Ele
colocou-se honestamente sob a autoridade das
Escrituras do Antigo Testamento. Ele confiou na
espada do Espírito. “Porque a palavra de Deus é
viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer
espada de dois gumes” (Hb 4.12). “Cristo usa a
Escritura como seu escudo; porque este é o modo
adequado de lutar se quisermos ter certeza da
vitória”.[12] A fórmula “está escrito” ocorre pelo
menos setenta vezes no Novo Testamento. Warfield
escreve: “Quando um escritor do NT diz, ‘Está
escrito’, não pode surgir dúvida quanto ao lugar
onde deve ser encontrado o que ele assim alega
como possuindo autoridade absoluta sobre o
pensamento e consciência dos homens. A simples
adjunção, neste modo solene e decisivo, de uma
autoridade escrita, carrega a implicação de que o
apelo é feito à autoridade indefectível da Escritura
de Deus, a qual, em todas as suas partes e em cada
uma das suas declarações, é coberta com a
autoridade do próprio Deus”.[13]
A atitude de Jesus com relação à Escritura
também pode ser observada nos seus confrontos
com seus principais oponentes, os escribas e
fariseus. Cristo constantemente os repreendia por
não crerem nas Escrituras e não se submeterem a
elas. “Porque, se, de fato, crêsseis em Moisés,
também creríeis em mim; porquanto ele escreveu a
meu respeito. Se, porém, não credes nos seus
escritos, como crereis nas minhas palavras?” (Jo
5.46-47). (Alguns modernistas não creem em
Moisés ou nos seus escritos; então, de acordo com
Cristo, como podem crer nele?) Nosso Senhor
repreendeu os fariseus por adicionarem as tradições
humanas à palavra de Deus. “Ele, porém, lhes
respondeu: Por que transgredis vós também o
mandamento de Deus, por causa da vossa
tradição?... assim, invalidastes a palavra de Deus,
por causa da vossa tradição” (Mt 15.3, 6). A
declaração de Cristo pressupõe claramente que a
Escritura é o padrão final, único da doutrina e da
ética. Jesus ensinou que as opiniões dos homens
estavam sujeitas ao erro mas que a Escritura
guardava uma autoridade incontestável. Diferente
dos modernistas, nosso Senhor ensinou que os
homens não devem submeter a Escritura às suas
opiniões falíveis, mas sim, submeterem-se à
autoridade dada por Deus à Escritura inerrante. Os
modernistas têm anulado a Escritura, substituindo-a
por suas próprias crenças e opiniões iníquas e até
blasfemas. A denúncia de Cristo aos saduceus se
aplica a todos os modernistas: “Errais, não
conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus”
(Mt 22.29). A resposta de Jesus à falsa doutrina foi
“não tendes lido o que Deus vos declarou” (Mt
22.31; cf. Mc 12.26; Lc 20.37).
Como os modernistas respondem ao fato de que
Jesus cria e ensinava a inspiração e inerrância das
Escrituras do Antigo Testamento? Os modernistas
mais radicais diriam que Cristo era meramente
humano e estava simplesmente errado com relação à
Bíblia. Em outras palavras, Ele era finito, limitado
no conhecimento e sujeito a erros de julgamento,
assim como o resto de nós. Esta visão é
grosseiramente não cristã e iníqua. Outros
modernistas, mais preocupados em parecerem
cristãos, argumentam que Ele se acomodou à cultura
e sociedade nas quais vivia. Em outras palavras, Ele
sabia que a Escritura era cheia de erros, mentiras e
mitos, mas Ele simulava que era inerrante porque
não queria preocupar seus ouvintes do primeiro
século. Eles afirmam que se Jesus tivesse vindo no
século XX, seria um modernista e admitiria
abertamente que a Bíblia é cheia de erros, lendas e
estórias mitológicas.
É esta a resposta modernista para o ensino de
Cristo com relação às Escrituras bíblicas do Antigo
Testamento? Ela é racional? A própria ideia de Jesus
Cristo (que é Deus [Mt 1.23; Jo 1.1-3, 14; Rm 9.5],
que não pode mentir [Tt 1.2; Hb 6.18], que é
onisciente [Hb 4.13; Rm 11.2]) apelar para uma
mentira, ou mito ou para uma redação de sacerdotes
inescrupulosos iníquos para estabelecer uma
doutrina ou ensino ético e apresentar este ensino
como palavra de Deus, absolutamente verdadeira, é
uma negação explícita do cristianismo. Ensinar,
como os modernistas fazem, que ainda que Cristo
fosse inconsciente da natureza mitológica do relato
da criação, de Noé e o dilúvio, de Sodoma e
Gomorra e de Jonas e o grande peixe; que Ele
propositadamente mentiu ao povo (atendendo aos
ensinos judaicos errôneos, populares em seus dias,
com relação às Escrituras) é uma negação do Cristo
da Bíblia. Um Jesus que não era Deus, que era
pecador, não ético, que era um mentiroso podre,
não pode ser a expiação pelos pecados dos eleitos. O
Cristo modernista não é mais ético do que um líder
de seita aproveitador ou o típico político democrata
(mentiroso habitual). A doutrina da inerrância
bíblica é tão tecida com a doutrina de Cristo que
negar o último logicamente conduz à negação do
primeiro. A inspiração plena e a inerrância bíblica
dos autógrafos é uma questão de céu e inferno.
Além disso, a ideia de que Jesus mentiu
propositadamente ao povo porque não queria
ofender seus equívocos de primeiro século com
relação às Escrituras é ridícula quando observamos o
modo como Cristo ofendeu o povo judeu por todo o
seu ministério. Ele referiu-se aos líderes judeus
como guias cegos de cegos (Mt 15.14), hipócritas
(Mt 23.13), filhos do diabo (Jo 8.44) e sepulcros
caiados (Mt 23.27). Ele referiu-se ao povo judeu
como raça de víboras (Mt 3.7; 12.34; 23.33; Lc
3.7), e como geração perversa e adúltera (Mt 12.45;
16.4). Ele ensinou uma visão de divórcio muito
restritiva e não popular (Mt 19.9). Recusou-se a
acomodar sua própria visão de reino à concepção
judaica carnal do Messias como um ditador e
conquistador militar terreno para transformá-lo em
rei (Jo 6.15). Ele parece ter ofendido
propositadamente à multidão quando lhes disse
sobre a necessidade de comerem a sua carne e
beberem o seu sangue (Jo 6.51-56). Quando disse
aos judeus que Ele era igual ao Pai, eles se
enfureceram de tal modo que apanharam pedras
para matá-lo (Jo 10.28-39). Sempre que encontrava
um falso ensino entre os judeus, Ele o refutava sem
qualquer consideração com a inimizade que isto lhe
acarretaria (Mt 5.20ss.; 12.3-8; 15.3-20, etc.). A
principal preocupação de Cristo nunca foi com a
popularidade mas com o estabelecimento da verdade
com relação a Si mesmo e à Escritura. Ele fielmente
entregou a mensagem dada a Ele pelo Pai para o
povo: “aquele que me enviou é verdadeiro, de modo
que as coisas que dele tenho ouvido, essas digo ao
mundo... Eu falo das coisas que vi junto de meu
Pai” (Jo 8.26, 38). Jesus é “o caminho, a verdade e
a vida” (Jo 14.6; cf. Jo 1.14). Ele é “o Amém, a
testemunha fiel e verdadeira” (Ap 3.14; cf. Is
65.16). Ele não é o falso profeta, mentiroso e
fraudulento que os modernistas apresentam. Você
crê no Cristo da Escritura ou no falso Cristo dos
modernistas?[14]
6. Um exame do ofício profético revela que Deus
exigiu 100% de exatidão de todos os profetas
genuínos. Qualquer índice menor era uma ofensa
passível de morte. “Porém o profeta que presumir
de falar alguma palavra em meu nome, que eu lhe
não mandei falar, ou o que falar em nome de outros
deuses, esse profeta será morto. Se disseres no teu
coração: Como conhecerei a palavra que o
SENHOR não falou? Sabe que, quando esse profeta
falar em nome do SENHOR, e a palavra dele se não
cumprir, nem suceder, como profetizou, esta é
palavra que o SENHOR não disse; com soberba, a
falou o tal profeta; não tenhas temor dele” (Dt
18.20-22). Se Deus requeria 100% de exatidão do
profeta para que o profeta fosse um verdadeiro
profeta de Jeová, então, de acordo com a visão
modernista do Antigo Testamento, as Escrituras são
primariamente a obra de falsos profetas. Por que
então lemos a Escritura, ou temos a exposição da
mesma ou até mesmo vamos à igreja se a Bíblia não
é verdade, se a Bíblia nem mesmo satisfaz o teste de
Deuteronômio 18.20-22? Uma pessoa estaria numa
situação melhor se ficasse na cama do que se
estivesse presente em uma igreja modernista
apóstata incrédula. Além disso, a Bíblia diz que um
profeta que ensina o povo a adorar um deus falso
deve ser morto (Dt 13.1-5). Visto que os
modernistas ensinam o povo a adorar um falso
Cristo e um falso deus, eles se colocam sob uma
maldição especial de Deus. Em uma nação
verdadeiramente cristã, eles seriam executados e
seus seminários fechados ou entregues aos
verdadeiros mestres da palavra de Deus.
7. A Bíblia contém muitos mandamentos para não
se adicionar nem retirar coisa alguma da palavra de
Deus. Estes mandamentos pressupõem que a palavra
de Deus é única; que só a palavra de Deus é infalível
e munida de autoridade. A palavra de Deus ensina
explicitamente a Sola Scriptura. “Nada
acrescentareis à palavra que vos mando, nem
diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos
do SENHOR, vosso Deus, que eu vos mando” (Dt
4.2). “Tudo o que eu te ordeno observarás; nada lhe
acrescentarás, nem diminuirás”(Dt 12.32). “Toda
palavra de Deus é pura; ele é escudo para os que
nele confiam. Nada acrescentes às suas palavras,
para que não te repreenda, e sejas achado
mentiroso” (Pv 30.5-6). “Eu, a todo aquele que
ouve as palavras da profecia deste livro, testifico: Se
alguém lhes fizer qualquer acréscimo, Deus lhe
acrescentará os flagelos escritos neste livro; e, se
alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro
desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da
vida, da cidade santa e das coisas que se acham
escritas neste livro” (Ap 22.18-19).
Se, como os modernistas afirmam, a Bíblia é
cheia de mentiras, mitos e lendas, então, por que a
Bíblia contém tantas advertências severas contra
alterações no texto da palavra de Deus? Se a Bíblia
é falível, se ela é uma mistura de verdade e erro, se
contém o erro e até as alterações manipulatórias
desonestas dos homens (e.g., a teoria J, D, E e P),
então as muitas advertências fortes para não misturar
a palavra de Deus são palavras de tolos iludidos.
Mas se a Bíblia é o que alega ser (a própria palavra
de Deus, inerrante e inspirada), então, ai dos
modernistas que zombam das alegações da Bíblia.
Estes falsos mestres “...nuvens sem água impelidas
pelos ventos; árvores em plena estação dos frutos,
destes desprovidas, duplamente mortas,
desarraigadas; ondas bravias do mar, que espumam
as suas próprias sujidades; estrelas errantes, para as
quais tem sido guardada a negridão das trevas, para
sempre” (Jd 12-13). Devemos prestar atenção às
palavras do profeta Isaías: “À lei e ao testemunho!
Se eles não falarem segundo esta palavra, nunca
verão a alva” (8.20-RC).
8. A Bíblia contém algumas declarações muito
específicas de que as Escrituras são inspiradas por
Deus. Duas passagens clássicas sobre o assunto da
inspiração são 2 Timóteo 3.16 e 2 Pedro 1.21.
Em sua segunda epístola a Timóteo (e a última
carta que escreveu), Paulo insiste com Timóteo para
que este mantenha “o padrão das sãs palavras” (2
Tm 1.13) nas quais havia sido instruído pelo
apóstolo. Paulo quer que Timóteo “transmita a
homens fiéis e também idôneos para instruir a
outros” (2 Tm 2.2). Timóteo deveria se preocupar
em “manejar bem a palavra da verdade” (2 Tm
2.15) e com a sua santificação pessoal (cf. 2 Tm
2.21-22) porque há muitos que se extraviam da
verdade; que estão envolvidos em “falatórios inúteis
e profanos” (2 Tm 2.16). Timóteo também deveria
estar preparado para o futuro de ilegalidade e
perseguição. Em contraste aos homens maus e falsos
mestres que “irão de mal a pior” (2 Tm 3.13),
Timóteo deveria continuar: 1.) nos ensinos
inspirados do apóstolo Paulo (cf. 2 Tm 2.2; 3.10;
3.14) e 2.) nas Sagradas Escrituras (i.e., no Antigo
Testamento). Por quê? Porque “toda Escritura é
inspirada por Deus”. A passagem no contexto
imediato diz: “Tu, porém, permanece naquilo que
aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de
quem o aprendeste e que, desde a infância, sabes
as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para
a salvação pela fé em Cristo Jesus. Toda a
Escritura é inspirada por Deus e útil para o
ensino, para a repreensão, para a correção, para a
educação na justiça a fim de que o homem de Deus
seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda
boa obra”.(2 Tm 3.14-17).
Paulo diz que “toda a Escritura é inspirada por
Deus” (2 Tm 3.16). Este versículo levanta duas
questões. O que Paulo quer dizer com a frase “toda
a Escritura” e com “inspirada por Deus”? O termo
Escritura (graphe), que ocorre mais de cinquenta
vezes no Novo Testamento (no singular ou plural),
sempre se refere a todo o Antigo Testamento (as
sagradas Escrituras) ou a uma passagem do Antigo
Testamento (e.g., Mc 12.10). A palavra grega pasa
pode ser traduzida por “toda” (KJV, NKJV, NASB,
NIV, RSV, JB) ou como “cada” (ASV, NEB). A
maioria dos tradutores e comentaristas (pelo menos
os conservadores) preferem traduzir pasa como
“toda” pelas seguintes razões: primeira, a gramática
grega permite (cf. Rm 11.26) e alguns dos maiores
estudiosos gregos (e.g., C. F. D. Moule) preferem a
tradução toda. Segunda, o contexto decididamente
favorece a tradução toda. Paulo havia acabado de
dizer a Timóteo no versículo 15 que as Sagradas
Escrituras (i.e., todo o Antigo Testamento) eram
capazes de torna-lo “sábio para a salvação pela fé
em Cristo Jesus”. Paulo então prossegue dizendo a
Timóteo a razão pela qual a Escritura era capaz de
fazer isto. É porque “toda a Escritura”, ou todo o
Antigo Testamento, é inspirado. Terceiro, a tradução
“cada Escritura” é facilmente interpretada de uma
forma que viola o contexto imediato e a analogia da
Escritura. Um modernista poderia dizer que “cada
Escritura inspirada” (NEB) é eficaz, mas que as
Escrituras não inspiradas não são eficazes. Esta
tradução contradiz o versículo 15 (como
mencionado acima) onde Paulo diz que todo o
Antigo Testamento é capaz de tornar uma pessoa
sábia para a salvação e centenas de passagens que
ensinam ou indicam a inspiração do Antigo
Testamento. Muitos estudiosos conservadores (e.g.,
William Hendriksen, George W. Knight III,
Fairbairn) argumentam que a tradução “cada
Escritura” ainda ensina a inspiração de todo o
Antigo Testamento porque significaria que cada
passagem do Antigo Testamento, ou cada parte
componente da sagrada Escritura é inspirada. O que
é importante notar é que Paulo ensina explicitamente
que todo o Antigo Testamento é inspirado por Deus.
Esta única passagem refuta todo o lixo tolo que
emana das instituições de ensino superior e
seminários modernistas (i.e,. centros de treinamento
de Satanás).
A segunda questão é: o que “inspirada por Deus”
significa? Significa que os autores da Escritura
tinham um dom especial de inspiração humana
como Shakespeare ou Milton? Significa que a Bíblia
tem a habilidade de inspirar seu leitor? Em 2
Timóteo, não significa nenhum destes dois. Ambas
as visões erram completamente o alvo. A palavra
grega traduzida por “inspirada por Deus”
(theopneustos) é uma palavra composta que contém
a palavra para Deus (theos) e o verbo para respirar
(pneo). O verbo tem uma raiz aoristo (pneus) com o
adjetivo verbal terminando-tos.[15] Assim, ela
literalmente significa “respirado por Deus.” A razão
pela qual virtualmente todas as traduções em inglês
usam a frase “inspirada por Deus” é porque os
primeiros tradutores para o inglês seguiram a
Vulgata Latina (inspiratus a Deo) e esta tradição
ainda permanece. O grande estudioso bíblico B. B.
Warfield demonstrou (um tanto conclusivamente)
em um artigo de cinquenta páginas sobre a palavra
theopneustos que ela deveria ser considerada como
uma forma verbal passiva. Isto significa que a fonte
da Escritura é a respiração de Deus. Warfield
escreve: “O que é theopneustos é ‹Deus respirou,›
produzido pela respiração criativa do Todo
Poderoso. E a Escritura é chamada theopneustos a
fim de designá-la como ‘Deus respirou’, o produto
da inspiração divina, a criação do Espírito que está
em todas as esferas da atividade divina, o executivo
da Divindade. A tradução tradicional da palavra pelo
latim inspiratus a Deo é, sem dúvida, desacreditada,
se formos considerá-la ao pé da letra. Ela não
expressa uma respiração por Deus para o interior
das Escrituras. Mas a concepção ordinária presa a
ela, enquanto entre os pais e dogmáticos, é, em
geral, vindicada. O que ela afirma é que a Escritura
deve sua origem a uma atividade de Deus, o Espírito
Santo, e é no sentido mais elevado e verdadeiro, sua
criação. É nesta base da origem divina que todos os
altos atributos da Escritura são edificados.» [16] A
respiração divina refere-se ao Espírito de Deus que
guiou os autores humanos da Escritura de tal forma
que eles escreveram exatamente o que Deus queria.
Paulo escreve: “Mas Deus no-lo revelou pelo
Espírito; porque o Espírito a todas as coisas
perscruta, até mesmo as profundezas de Deus.
Porque qual dos homens sabe as coisas do homem,
senão o seu próprio espírito, que nele está? Assim,
também as coisas de Deus, ninguém as conhece,
senão o Espírito de Deus” (1 Co 2.10-11). Dizer
que toda a Escritura é respiração de Deus é o
mesmo que dizer que toda a Escritura é palavra de
Deus.
O apóstolo Pedro também ensina que a Escritura
é o resultado de uma obra especial do Espírito
Santo. “Temos, assim, tanto mais confirmada a
palavra profética, e fazeis bem em atendê-la, como a
uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até que
o dia clareie e a estrela da alva nasça em vosso
coração, sabendo, primeiramente, isto: que nenhuma
profecia da Escritura provém de particular
elucidação; porque nunca jamais qualquer profecia
foi dada por vontade humana; entretanto, homens
santos falaram da parte de Deus, movidos pelo
Espírito Santo” (2 Pe 1.19-21).
A fim de entendermos o versículo 21, devemos
primeiramente considerar o contexto da passagem.
O versículo 21 chega ao fim e é o ponto culminante
de uma seção que lida com o testemunho apostólico
com relação a Jesus Cristo e à natureza da sagrada
Escritura que confirma aquele testemunho (2 Pe
1.16-21). Esta seção se encontra em uma posição
crucial entre: primeiro, uma seção onde Pedro diz
aos recebedores da letra que ele está prestes a
morrer e quer lembra-los a estarem certos da “da
verdade já presente convosco” (2 Pe 1.12); e
segundo, uma longa seção na qual os recebedores
são advertidos com relação aos falsos profetas e
falsos mestre (2 Pe 2.1-22). Pedro então retorna ao
tema da terceira seção com uma discussão sobre os
escarnecedores (2 Pe 3.3ss.). É interessante que
duas passagens clássicas com relação à inspiração e
origem divina da Escritura estejam inseridas no
contexto da necessidade de se continuar na doutrina
correta e na advertência com relação aos falsos
mestres. Tanto para Paulo quanto para Pedro, a
palavra de Deus é o único modo de manter a sã
doutrina e eliminar os falsos mestres.
Na seção que contém a discussão de Pedro
quanto à inspiração, ele apresenta sua apologética
para a verdade da fé cristã. Primeiramente, ele
apresenta seu testemunho apostólico. Os apóstolos,
ao pregarem o Evangelho, não estavam seguindo
“fábulas engenhosamente inventadas” (2 Pe 1.16)
ou mitos,[17] ou mentiras humanas. Eles foram
testemunhas oculares dos eventos históricos reais.
Pedro destaca a transfiguração onde ele, Tiago e
João foram praticamente cegados pela glória de
Cristo e onde ouviram a voz de Deus, o Pai,
testificando sobre seu Filho amado. Em segundo
lugar, ele volta sua atenção para a natureza da
sagrada Escritura. A Escritura é absolutamente
confiável; consequentemente, ela deve ser
obedecida.
Nos versículos 19 a 21, Pedro identifica três
coisas sobre a natureza da Escritura. Primeiramente
ele diz, “Temos, assim, tanto mais confirmada a
palavra profética” (2 Pe 1.19). Esta declaração pode
ser legitimamente interpretada de duas formas
diferentes. Ela pode significar que as predições do
Antigo Testamento foram confirmadas e, assim,
tornaram-se certas pelo relato testemunhal
apostólico do cumprimento perfeito da profecia com
relação a Cristo e ao seu reino. Ou pode significar
que a palavra escrita de Deus é ainda mais certa do
que ser uma testemunha ocular de um evento
milagroso. Nisbet escreve: “Ele a chama de uma
palavra mais segura, comparando-a à voz do Céu,
mas porque é maior ter previsto e profetizado as
coisas futuras do que ter visto e relatado as maiores
coisas presentes. E porque uma voz transitória é
mais facilmente passível de erro ou esquecida do
que um registro autêntico permanente, assim a
palavra escrita é uma base mais segura para o
pecador colocar a sua fé do que uma voz do céu
poderia ser”.[18]
Em segundo lugar, Pedro diz: “nenhuma profecia
da Escritura provém de particular elucidação” (2 Pe
1.20). Esta declaração é interpretada de várias
formas diferentes. Em nome da brevidade, iremos
considerar duas das melhores interpretações.
A primeira, que é parcialmente refletida na
maioria das traduções inglesas, considera a palavra
grega epilyseos como interpretação. A palavra tem o
significado básico de desligar, libertar ou desatar
algo e, neste contexto, carrega o significado
metafórico de explicar ou interpretar a Escritura. Por
esta razão, o ponto de Pedro é que ninguém deve
impor sua própria imaginação ou fantasias sobre a
Escritura mas deve deixar que a Escritura interprete
a Escritura “porque o Espírito, que falou através dos
profetas, é o único e verdadeiro intérprete de si
mesmo».[19] De acordo com esta interpretação,
Pedro repreende os falsos mestres que se precipitam
na Escritura com todos os tipos de ideias fantásticas.
A Escritura é única. Como livro divinamente
inspirado, ela deve ser tratada com reverência e
cuidado especiais.
A segunda interpretação considera a palavra
epilyseos como se referindo à origem ou fonte.
Assim, o significado é que “nenhuma profecia da
Escritura é resultado de revelação privada”,[20] ou
“origina-se ou surge como o resultado de qualquer
determinação privada”.[21] Esta interpretação
encaixa-se belamente no versículo 21. Pedro está
dizendo que a profecia não é algo que os profetas
inventaram ou sugeriram. Pelo contrário, estes
homens falaram porque foram movidos ou levados
pelo Espírito Santo (o versículo 21 explica o
versículo 20).
Pedro completa sua consideração sobre a
Escritura com uma explicação da inspiração divina.
“porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por
vontade humana; entretanto, homens santos falaram
da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo” (2
Pe 1.21). O apóstolo refuta explicitamente a visão
modernista de inspiração. Pedro diz que a profecia
ou revelação divina nunca foi dada, brotou ou
originou-se como resultado da vontade do homem.
Contrário em muito do pensamento religioso
moderno, a Bíblia não é apenas uma coleção de
escritos de homens que tiveram experiências
religiosas maravilhosas e encontros com Deus. Ela
não é um registro da sabedoria, perspicácia e
discernimento humano. Não é um registro do que
homens sábios pensaram que iria acontecer. Não é
uma redação de sacerdotes corruptos, famintos por
poder ou oficiais da igreja dos séculos II e III
inclinados a moldarem Cristo às suas próprias
imagens. A única profecia que surge como resultado
da vontade humana é a falsa profecia. “Assim diz o
SENHOR dos Exércitos: Não deis ouvidos às
palavras dos profetas que entre vós profetizam e vos
enchem de vãs esperanças; falam as visões do seu
coração, não o que vem da boca do SENHOR” (Jr
23.16; cf. 14.14). “Filho do homem, profetiza
contra os profetas de Israel que, profetizando,
exprimem, como dizes, o que lhes vem do coração.
Ouvi a palavra do SENHOR! Assim diz o SENHOR
Deus: Ai dos profetas loucos, que seguem o seu
próprio espírito sem nada ter visto!” (Ez 13.2-3).
Pedro diz que a profecia genuína veio porque
“homens santos falaram da parte de Deus, movidos
pelo Espírito Santo”. O que Pedro quer dizer com
homens movidos pelo Espírito Santo? A palavra
traduzida por movidos (pheromenoi) significa ser
carregado ou dirigido. É a mesma palavra usada
para descrever um navio arrastado pelo vento em
Atos (cf. 27.15, 17). O Espírito de Deus veio sobre
os profetas e apóstolos e os arrastou. O Espírito
Santo lhes deu uma revelação especial e os
controlou de tal forma para garantir que aquilo que
iriam dizer ou escrever era a própria palavra de
Deus. “Os autores humanos foram poderosamente
guiados e dirigidos pelo Espírito Santo. Como
resultado, o que escreveram não é apenas sem erro
mas de valor supremo para o homem. É tudo o que
Deus queria que fosse. Constitui a regra infalível de
fé e prática para a humanidade”[22]. Smeaton
escreve: “Eles permaneceram silenciosos até
receberem a comunicação do Espírito, ou o impulso
claro do Espírito (Jr 1.17); em outras palavras, eles
não começaram até os portões serem abertos e
serem ordenados a correr. O Espírito não lhes deu o
dom como um hábito permanente, ou como uma
riqueza tão preservada que poderiam sacar de
acordo com a própria sabedoria. Ele lhes deu luz e
comunicações divinas para o propósito oficial no
qual toda inspiração foi útil apenas em determinadas
épocas; e Ele assim os moveu para que não
pudessem falar ou escrever senão o que o Espírito
queria que declarassem”.[23] Dr. Martin Lloyd-Jones
nos fala do significado da declaração de Pedro. Ele
escreve: “Fomos preparados por Pedro nesta forma
explícita quanto à grande doutrina do Antigo e do
Novo Testamentos, a doutrina da revelação. A
alegação feita aqui é a de que Deus se agradou em
sua infinita compaixão e condensação em falar aos
homens. A alegação feita para este livro é a de que
ele é absolutamente único, que não há outro livro no
mundo como ele. Todos os outros livros são
produções de homem; eles são o resultado da
vontade, do entendimento, do discernimento do
homem. Mas aqui está um Livro que alega ser o
registro de Deus falando. E ele alega isto com
relação à mensagem–revelação — e também com
relação ao modo como esta mensagem foi registrada
— inspiração”.[24]
Embora a doutrina da inspiração da Escritura seja
claramente ensinada na Bíblia, há alguns tópicos que
precisam ser discutidos a fim de apurarmos o nosso
entendimento desta doutrina. Em primeiro lugar, a
inspiração se aplica à Bíblia como um todo e não
apenas às revelações dadas aos profetas por visões,
sonhos ou linguagem. As seções históricas, poesia,
provérbios, epístolas, etc. são inspirados. Uma
passagem da Escritura não tem que ser ditada por
Deus para ser inspirada e munida de autoridade.
Consequentemente, estas seções da Escritura que
não são o resultado de uma visão direta ou voz de
Deus, vieram através de uma superintendência
especial do Espírito Santo. (Isto nos leva ao nosso
próximo ponto). Em segundo lugar, a Bíblia não
ensina o que tem sido chamado de teoria ditada da
inspiração. Isto é, os escritores da Escritura não
foram usados como robôs, nem foram meros
amanuenses (escrivãs). As Igrejas Reformadas
sempre sustentaram (justamente) o que é chamado
de visão orgânica da inspiração bíblica. Isto significa
que o Espírito Santo operou sobre os escritores da
Bíblia de tal forma a preservar o exercício natural de
suas faculdades. Assim, todas as peculiaridades da
cada autor são preservadas. Cada autor tem sua
própria experiência de vida, personalidade, e estilo
de escrita que estão refletidos nas suas obras
escritas. A Bíblia é o produto tanto da agência de
Deus quanto da do homem; no entanto, o Espírito
Santo trabalhou ao mesmo tempo nos autores e
através deles para produzir soberanamente um
resultado perfeito, infalível. Hendriksen faz uma
descrição excelente deste processo: “Ao faze-lo
nascer em um determinado tempo e lugar,
concedendo-lhe dons específicos, equipando-o com
um tipo definido de educação, causando-o a passar
por experiências predeterminadas, e fazendo-o
lembrar-se de certos fatos e suas implicações, o
Espírito preparou sua consciência humana. Depois,
o mesmo Espírito o moveu a escrever. Finalmente,
durante o processo de escrita, o mesmo Autor
Primeiro, em uma conexão orgânica perfeita com
toda a atividade precedente, sugeriu à mente do
autor humano a linguagem (as próprias palavras!) e
o estilo, o qual seria o veículo mais apropriado para
a interpretação das ideias divinas para as pessoas de
cada nível e posição, idade e raça. Daí, embora cada
palavra seja verdadeiramente palavra do autor
humano, é ainda mais verdadeiramente a Palavra de
Deus”.[25]
Em terceiro lugar, a inspiração de Deus estende-
se não apenas aos pensamentos dos autores bíblicos
mas também às próprias palavras. Os teólogos
referem-se a isto como inspiração verbal. 1.) Os
escritores do Novo Testamento e o próprio Jesus
fizeram distinções teológicas e argumentos baseados
em uma única palavra. Como notado anteriormente,
Jesus baseou todo um argumento em uma única
palavra “deuses” (Jo 10.34,35). Em Gálatas 3.16,
Paulo baseia todo um argumento teológico no fato
de uma palavra estar no singular (semente) e não no
plural (sementes). Cristo e os apóstolos criam na
exatidão da Escritura até nos mínimos detalhes. 2.)
A Bíblia diz especificamente que as próprias
palavras da Escritura são do Espírito de Deus.
“Disto também falamos, não em palavras ensinadas
pela sabedoria humana, mas ensinadas pelo Espírito,
conferindo coisas espirituais com espirituais” (1 Co
2.13; cf. 1 Ts 2.13). Jesus disse, “Passará o céu e a
terra, porém as minhas palavras não passarão” (Mc
13.31). “Assim diz o SENHOR: Põe-te no átrio da
Casa do SENHOR e dize a todas as cidades de
Judá, que vêm adorar à Casa do SENHOR, todas as
palavras que eu te mando lhes digas; não omitas
nem uma palavra sequer” (Jr 26.2). 3.) A ideia
(comum entre aqueles que sustentam a teoria da
inspiração parcial) de que os pensamentos dos
escritores bíblicos foram inspirados mas que as
próprias palavras não eram inspiradas é ilógica.
Como pensamentos infalivelmente verdadeiros
podem ser expressos com palavras inexatas, não
verdadeiras? Pensamentos são compostos de
palavras individuais. Pensamentos inerrantes só
podem ser assegurados e preservados por palavras
inspiradas, infalíveis.
9. O Novo Testamento não apenas prova a
inspiração e autoridade do Antigo Testamento mas
também testifica quanto à sua própria inspiração.
Este ponto precisa ser dito porque zombadores
modernistas algumas vezes admitem que a evidência
bíblica para a inspiração e infalibilidade do Antigo
Testamento é muito forte. (No entanto, ainda não
creem nela ou não se submetem à sua autoridade).
Mas eles argumentam que não há evidência para a
inspiração e autoridade do Novo Testamento.
Há muitas razões pelas quais devemos aceitar a
autoridade e inspiração completa do Novo
Testamento. Em primeiro lugar, os apóstolos tinham
um chamado único, missão e autoridade vindos de
Cristo (Mt 10.40-41; At 1.21-22; 1 Co 9.1; 15.7-8),
através do qual receberam revelações especiais do
Espírito (Ef 3.3-5) e dons especiais de sinais (At
14.3; Hb 2.3-4). Jesus prometeu aos apóstolos que
eles seriam guiados de forma sobrenatural pelo
Espírito Santo durante os momentos mais difíceis e
cruciais de seus ministérios (cf. Mt 10.19; Lc 12.12;
Jo 14.16; 15.26; 16.7, 14). Os apóstolos tinham a
responsabilidade única de estabelecer as primeiras
igrejas e de colocar os fundamentos da instrução
para todas as gerações subsequentes (Ef 2.20ss.). Os
apóstolos e seus associados próximos (que eram os
profetas) receberam inspiração total: para contarem
perfeitamente a história do ministério de Cristo; para
darem a interpretação de Deus da pessoa e obra de
Cristo; para apresentarem novas leis com relação ao
governo, disciplina da igreja, etc..
Em segundo lugar, há passagens específicas que
provam que o Novo Testamento é divinamente
inspirado e totalmente dotado de autoridade. Paulo
disse aos efésios, “Por esta causa eu, Paulo, sou o
prisioneiro de Cristo Jesus, por amor de vós,
gentios, se é que tendes ouvido a respeito da
dispensação da graça de Deus a mim confiada para
vós outros; pois, segundo uma revelação, me foi
dado conhecer o mistério, conforme escrevi há
pouco, resumidamente; pelo que, quando ledes,
podeis compreender o meu discernimento do
mistério de Cristo, o qual, em outras gerações, não
foi dado a conhecer aos filhos dos homens, como,
agora, foi revelado aos seus santos apóstolos e
profetas, no Espírito” (Ef 3.1-5). Deus, pelo seu
Espírito, comunicou diretamente a Paulo as
verdades que antes eram desconhecidas aos homens.
Paulo recomendou a igreja de Tessalônica dizendo:
“Outra razão ainda temos nós para, incessantemente,
dar graças a Deus: é que, tendo vós recebido a
palavra que de nós ouvistes, que é de Deus,
acolhestes não como palavra de homens, e sim
como, em verdade é, a palavra de Deus, a qual, com
efeito, está operando eficazmente em vós, os que
credes” (1 Ts 2.13). Assim como os profetas do
Antigo Testamento que falaram as palavras de
Jeová, Paulo podia dizer que Cristo estava falando
nele (2 Co 13.3). As coisas que Paulo ensinava não
eram originárias da sabedoria humana mas eram
ensinamentos do Espírito Santo (1 Co 2.14).
Uma passagem (escrita aproximadamente 30 anos
depois do Pentecostes) que coloca o então (ainda em
formação) embrionário cânon do Novo Testamento
no mesmo nível das Escrituras do Antigo
Testamento é 2 Pe 3.15-16: “como igualmente o
nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a
sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca destes
assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as
suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de
entender, que os ignorantes e instáveis deturpam,
como também deturpam as demais Escrituras”. Esta
é uma alegação surpreendente. «Pedro coloca aqui
os escritos do apóstolo Paulo, e consequentemente
seus próprios escritos, em igualdade com as
Escrituras do Antigo Testamento.”[26]
Anteriormente, Pedro havia ensinado que os
apóstolos tinham a mesma autoridade que os
escritores do Antigo Testamento. “Amados, esta é,
agora, a segunda epístola que vos escrevo; em
ambas, procuro despertar com lembranças a vossa
mente esclarecida, para que vos recordeis das
palavras que, anteriormente, foram ditas pelos
santos profetas, bem como do mandamento do
Senhor e Salvador, ensinado pelos vossos apóstolos”
(2 Pe 3.1-2). Por que os escritos apostólicos do
Novo Testamento têm a mesma autoridade sobre a
igreja dos escritos sagrados do Antigo Testamento?
A resposta é que ambos foram inspirados ou
respirados por Deus e, assim, são igualmente palavra
de Deus. Afirmar algo contrário é argumentar que
os mandamentos dos apóstolos foram arbitrários e
que o cristianismo é um blefe, uma mera invenção
humana.
Só a inspiração total pode responsabilizar-se pelas
declarações de autoridade absoluta nas epístolas.
Paulo disse, “retendes as tradições assim como vo-
las entreguei” (1 Co 11.2). Note, a autoridade divina
por trás da declaração do apóstolo: «É assim que
ordeno em todas as igrejas» (1 Co 7.17). Note
também o modo como Paulo apresenta a lei
absolutamente munida de autoridade com relação ao
divórcio: «Aos mais digo eu, não o Senhor [i.e.,
Jesus durante seu ministério terreno de ensino, cf. 1
Co 7.10-11]: se algum irmão tem mulher incrédula,
e esta consente em morar com ele, não a
abandone... Mas, se o descrente quiser apartar-se,
que se aparte; em tais casos, não fica sujeito à
servidão nem o irmão, nem a irmã; Deus vos tem
chamado à paz” (1 Co 7.12, 15). Paulo deu ordens
a todas as igrejas: “Quanto à coleta para os santos,
fazei vós também como ordenei às igrejas da
Galácia” (1 Co 16.1). Exemplos poderiam ser
multiplicados, no entanto o ponto já foi estabelecido.
As epístolas têm uma autoridade “Assim diz o
Senhor”. Então, a advertência de Paulo à igreja de
Tessalônica se aplica a todos os modernistas que
rejeitam os ensinos da Bíblia como palavras de
homens. “Dessarte, quem rejeita estas coisas não
rejeita o homem, e sim a Deus, que também vos dá
o seu Espírito Santo” (1 Ts 4.8).
10. A doutrina da inspiração, inerrância e
autoridade da Bíblia repousa na doutrina de Deus.
Se Deus é absolutamente soberano (Gn 14.19; Ex
18.11; Dt 10.14, 17; Jr 27.5; Ap 19.6, etc.),
conhece todas as coisas (Hb 4.13; Rm 11.33) e não
pode mentir (Hb 6.18) ou mudar (Sl 102.27; Tg
1.17), então tudo o que Ele diz deve ser
absolutamente verdadeiro. A ideia de que Deus
existe mas não pode se revelar à humanidade de
forma proposicional; ou que Deus não tem a
capacidade para controlar o elemento humano da
escrita das Escrituras de tal forma a produzir
autógrafos inerrantes, é simplesmente uma negação
de que o Deus da Bíblia existe.
A posição modernista (logicamente) tem apenas
duas visões alternativas de Deus que se encaixam na
sua posição de Escritura. Eles podem argumentar
que Deus nunca pretendeu soberanamente produzir
uma Bíblia inspirada, inerrante. Esta posição retém o
ensino bíblico de que Deus é soberano mas não
pode manter a veracidade de Deus. Por quê? Porque
o Deus modernista não usa o seu poder soberano
para parar os profetas e apóstolos quando dizem que
a Bíblia é inspirada e inerrante. Esta posição afirma
que Deus enganou propositadamente seu próprio
povo pactual. Tal Deus é um mentiroso e não pode
ser confiado. A outra posição que os modernistas
podem defender é a de que Deus não pode mentir,
mas não é soberano e, então, não pode ser
considerado responsável pelas alegações da Escritura
com relação a Si mesmo. Tal Deus, no entanto, é
finito. O dilema modernista é que sua posição com
relação à inerrância bíblica não pode ser divorciada
da idolatria. Eles têm que criar falsos deuses para
manter sua posição. Querido leitor, você deve
rejeitar as especulações idólatras modernistas e
seguir a Cristo que disse: “a tua palavra é a
verdade” (Jo 17.17).
________________
[6] G. W. Bromiley, “Word, Word of the Lord” em Merrill C.
Tenney, ed., The Zondervan Pictorial Encyclopedia of the Bible
(Grand Rapids, MI: Zondervan, 1975), 5:957.
[7] B. B. Warfield, The Inspiration and Authority Of The Bible
(Philipsburg, NJ: Presbyterian and Reformed, 1948), p. 301.
Warfield, em um estudo prolongado sobre a frase do Novo
Testamento “os oráculos de Deus”, argumenta decisivamente que
tal frase quis dizer que os escritores do N.T. consideravam toda a
Escritura do Antigo Testamento como “a própria palavra de Deus.”
Ele escreve: “Provavelmente parecerá razoável para a maioria,
interpretar Rm 3.2 como certo, Hb v.12 como provável e At 7.38
como provavelmente uma referência às Escrituras escritas; e como
testemunho prestado à concepção deles por parte dos escritores do
Novo Testamento como “os oráculos de Deus”. Isto é, temos
evidência discreta e convincente aqui de que a Escritura do Antigo
Testamento, como tal, foi estimada pelos escritores do Novo
Testamento como um livro oracular, o qual não meramente
contém, mas é a “expressão”, a própria Palavra de Deus, e
devemos recorrer a ela como tal, e como tal submetermo-nos a ela,
porque nada é além da palavra cristalizada de Deus” (The
Inspiration and Authority of the Bible, p. 406).
[8] Ibid. pp. 299-300.
[9] William Hendriksen, The Gospel of John (Grand Rapids, MI:
Baker, 1953), p. 128.
[10] A. W. Pink, Exposition of the Gospel of John (Grand Rapids,
MI: Zondervan, 1975 [1954]), 2:149.
[11] E. W. Hengstenberg, Commentary on the Gospel of John
(Minneapolis, MN: Klock and Klock, 1980 [1865]), 1:542.
[12] João Calvino, Commentary on a Harmony of the Evangelists
(Grand Rapids, MI: Baker, 1981), 16.214.
[13] B. B. Warfield, The Inspiration and Authority of the Bible, p.
240.
[14] A posição modernista é também a negação da realeza ou
reinado mediador de Cristo. Depois da ressurreição, Jesus, o
Messias teantrópico, se tornou o rei exaltado sobre todas as coisas
no céu e na terra (Mt 28.18; At 2.24-36; Rm 1.4). Antes da
ascensão, ele mandou seus discípulos fazerem discípulos das
nações “ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho
ordenado” (Mt 28.20). Visto que Jesus é o autor de toda a Escritura
através do Espírito Santo, e Ele mesmo ensinou a inspiração e
inerrância da Bíblia, então a Bíblia é um livro para ser usado no
discipulado das nações. Cristo é o rei que governa pelo Espírito
Santo e pela palavra de Deus. A Bíblia é a lei em palavras de nosso
rei sobre as nações. No entanto, os modernistas apresentam um rei
sem lei real. Se a Bíblia é cheia de mentiras, mitos e lendas e não
pode ser confiada, então ela não pode servir como nosso projeto
para o domínio religioso. Assim, ninguém deveria se surpreender
ao descobrir que os modernistas buscam o domínio através do
poder do estado. Eles têm abraçado a religião do homem - o
humanismo secular. Como resultado, virtualmente em cada tema
maior, sustentam uma posição diametralmente oposta à Bíblia (e.g.,
apoiam o aborto por exigência, o socialismo, o infanticídio, a
eutanásia, os direitos de sodomitas e lésbicas, o feminismo radical,
a adoração à terra, o ambientalismo, a oposição à pena de morte,
etc.). Não há neutralidade. À parte de Deus falando infalível e
autoritariamente à humanidade através da Bíblia, as pessoas são
abandonadas no misticismo, no existencialismo e estadismo. North
escreve: “a religião poderosa é uma religião da autonomia do
homem. Ela procura poder ou riqueza a fim de tornar esta alegação
crível. Na hierarquia da autoridade cósmica, não pode haver apelo
judicial eficaz, significativo além da humanidade na história”
(Crossed Fingers: How the Liberals Captured the Presbyterian
Church [Tyler, TX: Institute for Christian Economics, 1996], p.
47). Ao destruir a autoridade bíblica, os modernistas cortaram toda
a comunicação com Deus. Eles não podem assassinar os
verdadeiros profetas de Deus como seus predecessores apóstatas
fizeram em Israel, assim eles matam a Bíblia e a sua autoridade.
[15] George W. Knight, The Pastoral Epistles (Grand Rapids, MI:
Eerdmans, 1992), p. 446.
[16] B. B. Warfield, The Inspiration and Authority of the Bible, p.
296.
[17] “A palavra fábulas (muthoi) carrega um sentido pejorativo na
linguagem religiosa de tempo; ela sustenta estórias imaginárias
sobre deuses, a criação do mundo, acontecimentos miraculosos,
etc..” (J. N. D. Kelly, The Epistles of Peter and of Jude [Peabody,
MA: Hendriksen, 1969], p. 316. Pedro, ao refutar os incrédulos,
zombadores e céticos de seus dias, também refuta os modernistas
de nossos dias. Os modernistas ensinam exatamente o oposto do
que Pedro diz. Eles afirmam que a igreja primitiva seguiu
dissimuladamente os mitos inventados sobre a criação, dilúvio,
Jonas e o peixe, destruição de Sodoma, nascimento virginal de
Cristo, milagres de nosso Senhor e ressurreição corporal de Cristo.
Todo o ponto de Pedro no versículo 16 é que os apóstolos estavam
pregando fatos históricos — eventos reais. A tática modernista
comum de argumentar que “se os eventos miraculosos do
Evangelho realmente aconteceram não é importante porque o que
importa é o efeito existencial religioso destas histórias” é sempre
dissipada (desfeita) pelo apelo de Pedro à efetividade histórica de
espaço e tempo.
[18] Alexander Nisbet, 1 and 2 Peter (Carlisle, PA: The Banner of
Truth Trust, 1982 [1658]), p. 239.
[19] João Calvino, Commentary on the Second Epistle of Peter
(Grand Rapids, MI: Baker, 1981), 22:389.
[20] A. T. Robertson, Word Pictures in the New Testament (Grand
Rapids, MI: Baker, n.d. [1993]), 6:158.
[21] D. M. Lloyd-Jones, Expository Sermons on 2 Peter (Carlisle,
PA: The Banner of Truth Trust, 1983 [1948-1950]), p. 95.
“Consequentemente, 1.20 deveria ser traduzido por, ‘Nenhuma
profecia escrita veio a existir por qualquer libertação da mesma
pelo indivíduo [ou, de forma mais literal], por libertação privada.
Porque...,’ etc.. Pedro está afirmando a ausência completa de
iniciativa humana na revelação. A revelação é iniciada por Deus.
Assim, visto que Deus revelou a mensagem a Moisés ou Isaías, ela
deve ser verdadeira e, por essa razão, munida de autoridade”
(Gordon H. Clark, The Holy Spirit [Jefferson, MD: The Trinity
Foundation, 1993], p. 30).
[22] William Hendriksen, Thessalonians, Timothy and Titus
(Grand Rapids, MI: Baker, 1979), 2:302.
[23] George Smeaton, The Doctrine of the Holy Spirit (Carlisle,
PA: The Banner of Truth Trust, 1974 [1881]), p 149.
[24] D. M. Lloyd-Jones, Expository Sermons on 2 Peter, p. 98.
[25] William Hendriksen, Thessalonians, Timothy and Titus, 2:302.
[26] D. M. Lloyd-Jones, Expository Sermons on 2 Peter, p. 212.
CONCLUSÃO

Desta breve consideração do modernismo e da


inspiração e autoridade das sagradas Escrituras,
aprendemos duas coisas importantes.
Primeiramente, o modernismo foi exposto como
uma versão falsificada do cristianismo. Os
modernistas têm seguido seu pai, o demônio, ao
desafiarem a veracidade e autoridade da palavra de
Deus. Quando Satanás quis que Adão e Eva
pecassem contra Deus, a primeira coisa que ele fez
foi atacar a palavra de Deus. Sua semente sutil de
dúvida- “É assim que Deus disse: Não comereis de
toda árvore do jardim?” (Gn 3.1) levou rapidamente
a uma negação direta – “É certo que não morrereis”
(Gn 3.4). A principal tática de Satanás ao buscar
destruir o cristianismo tem sido atacar a Bíblia. Isto
tem sido feito através de um ataque aberto e
perseguição onde Bíblias são confiscadas e
destruídas. Tem sido feito por hereges e líderes de
seitas que adicionam e subtraem da Escritura. Tem
sido feito por religiosos importantes que colocam a
Bíblia de lado em favor de tradições humanas. O
modernismo é a pedra superior, a maior e mais sutil
realização de Satanás em seu ataque às sagradas
Escrituras, porque o modernismo destrói a Bíblia em
nome da ciência, objetividade, sabedoria e verdade.
Satanás tem dissimulado o modernismo de forma
bem sucedida o qual é subjetivo, irracional, místico,
apóstata, incrédulo e condenável como um campeão
do cristianismo. Infelizmente, muitas pessoas que
preferem ser amadas pelo mundo antes de por Deus,
que tem prazer na hipocrisia, que estão apaixonadas
pelos seus pecados, abraçam este cristianismo
falsificado. O liberalismo cristão, no entanto, traz
consigo, o seu próprio julgamento, porque sua visão
da Escritura deixa os homens sem esperança,
nenhuma segurança e nenhuma boa nova. “Não
havendo profecia, o povo se corrompe” (Pv 29.18).
Os modernistas adoram um Deus desconhecido e
incognoscível. A salvação oferecida pelo
modernismo é uma especulação vaga baseada no
pensamento desejado. Nossa única esperança é
Jesus Cristo e o único caminho no qual aprendemos,
cremos e confiamos no precioso Salvador é
aprender primeiramente e crer nas palavras de Cristo
— a Bíblia.
Em segundo lugar, aprendemos que a Bíblia é
inspirada (respiração de Deus), infalível (i.e.,
inerrante) e munida de autoridade. A Bíblia é
absolutamente verdadeira em tudo o que fala
(espiritual, histórica, cientificamente, etc.). “Porque
a Bíblia é a Palavra de Deus, ela é a corte final de
apelação em todas as coisas pertinentes à doutrina,
obrigação e comportamento [conduta]”[27]. A
Escritura perfeita, infalível, inspirada é o resultado
da bondade e misericórdia perfeitas de Deus. Jeová
não deu ao seu povo um livro defeituoso,
fraudulento. Ele nos deu um livro que merece toda a
nossa confiança. “ela é a ‘semente’ na qual
nascemos de novo (1 Pe 1.23), a ‘luz’ pela qual
somos dirigidos (Sl 119.105), o ‘alimento’ no qual
somos alimentados (Hb 5.13,14) e a ‘base’ na qual
somos edificados (Ef 2.20)”.[28] Porque a Bíblia é o
que é, ela é absolutamente necessária para a
salvação, porque nela o filho de Deus é
infalivelmente revelado à humanidade. Ela é
absolutamente necessária para a santificação porque
nela estão os preceitos morais de Deus. Porque a
Bíblia é o que é, ela tem autoridade absoluta sobre
nós. Ignorar a palavra de Deus é ignorar o próprio
Deus. A Bíblia deveria ser nossa companhia
constante. Deveríamos estudá-la diligentemente e
prestar atenção em todos os seus preceitos. “A Bíblia
é o Livro pelo qual devemos viver e morrer. Assim,
leia a Bíblia para ser sábio, creia nela para ser salvo,
pratique-a para ser santo”.[29] “Seca-se a erva, e cai
a sua flor, mas a palavra de nosso Deus permanece
eternamente” (Is 40.8).

________________
[27] A. W. Pink, The Divine Inspiration of the Bible (Grand
Rapids, MI: Baker, 1996 [1976]), p. 104.
[28] Francis Turretin, Institutes of Elentic Theology (Phillipsburg,
NJ: Presbyterian and Reformed, 1992 [1696]), 1:55.
[29] A. W. Pink, The Divine Inspiration of the Bible, p. 108.
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