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374 1796 1 PB
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Resumo
Este trabalho enfoca algumas práticas, vantagens e desafios enfrentados por agricultores fa-
miliares da cidade de Rubiataba, estado de Goiás, em direção à busca pelo fortalecimento da
atividade produtiva. Portanto, este artigo tem como objetivo identificar e analisar as principais
práticas, dificuldades e oportunidades encontradas pelos cooperados de uma cooperativa de
agricultores familiares, denominada Cooperativa Mista de Agricultores Familiares de Rubiataba
(COOMAFAR). Foi realizada uma pesquisa qualitativa, e para a coleta de dados utilizaram-se
questionários e entrevistas. Como resultado, a pesquisa aponta grande interesse dos produtores
em diversificar a produção, agregar maior valor aos produtos, ter maior acesso ao mercado e
com isso obter melhor competitividade. Mas esbarram em aspectos como a falta de incentivos
do poder público, de recursos financeiros, qualificação técnica e escassez de mão de obra. Com
esta pesquisa buscou-se colaborar para uma melhor compreensão da relação entre cooperativis-
mo e agricultura familiar.
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primeira seção situa o referencial teórico, o glaterra, que sofria as consequências da revo-
qual contempla as origens e evolução do coo- lução industrial, uma vez que, nessa época,
perativismo; a parte seguinte situa o coope- foi substituída a mão de obra artesanal pela
rativismo no ramo agrícola; posteriormente industrial.
são feitas as discussões do cooperativismo e O grande mérito desses pioneiros não foi
suas relações com a agricultura familiar; a apenas a iniciação do cooperativismo mun-
seção posterior aborda a metodologia usada; dial, mas a criação de normas e princípios
em seguida aparece o tópico que apresenta os que ficaram conhecidos como princípios
resultados da pesquisa e por fim, são feitas as cooperativistas e, até hoje, mesmo reformu-
considerações finais do caso. lados, fazem parte dos sete princípios coope-
rativistas mundiais (Irion, 1997). Portanto, a
experiência dos pioneiros de Rochdale foi a
2. Referencial Teórico base para a constituição dos princípios e va-
lores do cooperativismo.
2.1. Origens e evolução do cooperativismo Vale reproduzir uma passagem em que
Irion (1997) relembra os congressos da Alian-
A cooperação entre as pessoas aparece ça Cooperativa Internacional (ACI), onde
na história da civilização em vários momen- foram determinados os princípios cooperati-
tos. No contexto da produção rural, o coope- vistas, segundo a base “Rochdale”:
rativismo surge como modo de inserção do
produtor em um mundo globalizado e com- Quadro 1: Princípios cooperativos
COMO ERA (1966) COMO FICOU (1995)
petitivo, pois sua forma de organização per- 1º Princípio - Adesão livre; 1º Princípio - Adesão livre e voluntaria;
2º Princípio - Neutralidade social, política, 2º Princípio - Controle democrático pelos
mite dividir os medos, as responsabilidades religiosa e racial; sócios;
3º Princípio - Participação econômica dos
e as alegrias. Assim, torna-se possível buscar 3º Princípio - Um homem, um voto;
sócios;
4º Princípio - Retorno das sobras; 4º Princípio - Autonomia e independência;
uma inserção mais sustentável na dinâmica 5º Princípio - Juro limitado do capital;
5º Princípio - Educação, treinamento e
formação;
produtiva (Pires, 2010). Gianezini (2010) sa- 6º Princípio - Educação permanente;
6º Princípio - Cooperação entre
cooperativas;
lienta que a importância do cooperativismo 7º Princípio - Cooperação intercooperativa.
7º Princípio - Preocupação com a
comunidade.
no mundo, hoje reside no fato de que é uma Fonte: Irion (1997), adaptado pelas autoras.
alternativa capaz de mudar comportamentos,
atuar com uma racionalidade própria e condi- Conforme descrito no Quadro 1, os prin-
cionar novos hábitos, ações, posturas e regras. cípios básicos do cooperativismo são mutá-
Conforme a literatura, as cooperati- veis e têm como finalidade fornecer uma di-
vas são uma forma ideal de organização das reção para aqueles que querem construir uma
atividades socioeconômicas da humanidade. cooperativa legítima e autêntica.
Juntas e cooperando, as pessoas trabalham As cooperativas precisam evidenciar
coletivamente, rumo a um mesmo propósito que as grandes bandeiras sociais como pleno
para alcançarem satisfação. emprego, distribuição de renda, justiça so-
Segundo Pinho (2004), o cooperativismo cial, segurança alimentar, desenvolvimento
nasceu na Inglaterra em dezembro de 1844, local e regional sustentável, são também suas
fundado por tecelões. Assim, foi formada a bandeiras, porque pregam seus princípios. Na
primeira cooperativa do mundo, constituí- medida em que realizam isso, as cooperativas
da por 28 cooperados. O objetivo dominante assumem um novo papel, ao serem defen-
era a sobrevivência do povo, em um bairro soras das democracias e promotoras da paz
chamado Rochdale, em Manchester, na In- (Schreiner, 2011).
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ciado com preços justos de compra e venda, tivas, nas quais seus membros combinam
afastando ou disciplinado a presença de atra- atividades agrícolas e não agrícolas, vem se
vessadores e criando a consciência de grupo. elevando.
Segundo Nascimento (2000), a importância Carneiro (1997) salienta que a incapaci-
que as cooperativas agrícolas representam, dade das famílias de se sustentarem exclusi-
com sua tradição, seu crescimento, tanto vamente da agricultura é vista como evidên-
pelo “volume de negócios que elas envolvem, cia de impossibilidade desse tipo de produtor
quanto pelo seu dinamismo”, pode-se dizer de assimilar as demandas e a própria lógica
que o desenvolvimento delas está relacionado do mercado e de incorporar as inovações tec-
ao desenvolvimento do país. nológicas. Consequentemente, o seu enqua-
dramento em uma categoria social periférica,
acaba por reforçar a marginalização desse
2.3 O Cooperativismo na agricultura familiar grande contingente da população rural que
terá a sua sobrevivência dependente das polí-
Buendía Martinez e Pires (2002) veem a ticas sociais.
agricultura como o principal eixo do desen- No tocante às políticas públicas, que
volvimento rural, especialmente, por consti- se mostram tão necessárias para o fortaleci-
tuir principal fonte de ocupação da popula- mento da agricultura familiar, Deponti (2007)
ção rural. Para essas autoras, essa perspectiva adverte que numa perspectiva neomarxista, a
ganha força pelo fato do cooperativismo pos- agricultura familiar na sociedade contempo-
sibilitar a organização da produção, diversifi- rânea, precisa ser reconhecida pela sociedade
cação das atividades agrícolas e a agregação e pelo Estado, de forma que assegure sua re-
de valor às commodities agrícolas. produção.
Por isso, as cooperativas vêm contribuin- Vale ressaltar a visão de Grisa, Gazolla e
do para a potencialização dos locais onde estão Schneider (2010), para esses autores o forta-
inseridas confirmando a perspectiva presente lecimento da agricultura familiar passa por
na literatura que identifica as cooperativas um conjunto de iniciativas do Estado, mas
como estratégias importantes para o desen- também dos próprios agricultores enquanto
volvimento local/rural (Buendía Martínez & atores sociais do seu próprio destino e desen-
Pires, 2002). volvimento.
Ao mesmo tempo, Graziano da Silva (2001) Nesse contexto, diante da importância da
aponta que está havendo êxodo rural, um agricultura familiar para a produção de ali-
fato inevitável, e, que a gestão das pequenas mentos no país, o governo federal criou algu-
e médias propriedades rurais está se indivi- mas políticas públicas para apoiar esse setor.
dualizando, ficando o pai e/ou um dos filhos Uma delas é o Programa Nacional de Alimen-
encarregado das atividades, enquanto os de- tação Escolar (PNAE), implantado em 1955,
mais membros da família procuram outras que garante a transferência de recursos finan-
formas de inserção produtiva e geração de ceiros para a alimentação escolar dos alu-
renda, em geral, fora da propriedade. nos da rede de educação pública (Fundação
Para Graziano da Silva (2001) as ocupa- Nacional de Desenvolvimento da Educação
ções agrícolas são as que geram menor renda; (FNDE) 2011). Cabe salientar que para a ven-
o número de famílias agrícolas vem dimi- da dos produtos para a merenda escolar, os
nuindo, pois elas não conseguem sobreviver agricultores familiares devem estar de acordo
somente de rendas agrícolas. Para esse autor, com as Leis nº 8.666/1993 e nº 10.520/2002,
nem mesmo o número das famílias pluria- que regem a necessidade de efetivação do
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los quais os cooperados a constituíram, das terpretar os dados obtidos. Essa metodologia
metas e dos objetivos buscados. de análise de dados é usada para descrever e
Utilizou-se de entrevistas, de questioná- interpretar o conteúdo de toda classe de do-
rio e de observação para a coleta de dados. cumentos e textos (Moraes, 1999).
Sendo que se buscou ir além de questiona- Em seguida é destacada a discussão da
mentos das experiências vividas pelos coo- pesquisa.
perados, mas também houve acesso a docu-
mentos que foram fontes de evidências. As
entrevistas foram feitas na propriedade de 4. Resultados e Discussões: o caso
cada cooperado, em ambiente doméstico e COOMAFAR
privado; fazendo-se uso de um roteiro pre-
viamente construído com base na literatu- Este estudo foi realizado na Cooperativa
ra aqui apontada. Na elaboração do roteiro Mista de Agricultores Familiares de Rubia-
para as entrevistas houve a preocupação em taba (COOMAFAR), composta por 20 coo-
investigar o motivo do ingresso na COOMA-
Este estudo foi realizado na Cooperativa Mista de Agricultores Famil
perados, todos pequenos produtores rurais.
FAR, as principais dificuldades e oportunida-
Rubiataba (COOMAFAR), composta por 20 cooperados, todos pequenos produtor
Atualmente, toda a produção é destinada ao
des encontradas após a adesão, assim como,
Atualmente, toda a produção é destinada
mercado local. ao mercado local.
os fatores impeditivos para a diversificação
Desse modo,e o GráficoDesse
1 apresenta
modo,ootamanho
Gráficoda1 propriedade
apresenta odos ta-produtores.
competitividade da produção rural. A inves- manho da propriedade dos produtores.
tigação teve ainda a intenção de saber como
Gráfico 1: Tamanho da propriedade
andam as ações da cooperativa, relacionadas à Gráfico 1: Tamanho da propriedade
assistência técnica e à oferta de incentivos para
o desenvolvimento da atividade produtiva.
Durante as entrevistas, às vezes surgia a
necessidade de mais questionamentos para
sanar dúvidas que iam aparecendo.
O questionário aplicado foi levado até as
propriedades dos cooperados e respondido
por 15 dos 20 cooperados. Os outros cinco
cooperados não quiseram participar da pes-
quisa. O intuito era descobrir o tamanho de Fonte: Dados da pesquisa, elaborado pelas autoras, 2012.
suas propriedades, os produtos comercializa- Fonte: Dados da pesquisa, elaborado pelas autoras, 2012.
dos, o local de comercialização e os produtos No Gráfico 1 é possível observar que to-
que tinham intenção de produzir visando di- dos os cooperados são pequenos agricultores.
versificar a produção. Todas suas propriedades possuem menos de
No Gráfico 1 é possível observar que todos os cooperados são pequenos agr
A técnica da observação foi também fun- 4 módulos fiscais. Eles vivem em regime de
Todas suas propriedades agricultura
possuem menosfamiliar,
de 4mas alguns
módulos produtores
fiscais 2
. Eles vivem em re
damental para complementar as descobertas.
Primeiramente, foi feito um agricultura familiar, mascontam
estudo explora-
com umacontam
alguns produtores pequena comparticipação de
uma pequena participação d
mão de obra contratada.
tório e um planejamento para o registro
obra das
contratada.
Através do Gráfico 2 observa-se que a
informações que seriam captadas.
Através do Gráficomaioria dos produtores
2 observa-se tem como
que a maioria principaltem como
dos produtores
A coleta de dados para este estudo ocor-
atividade a pecuária de atividade
leite, e comoa pecuária de leite, e como
atuação secundária, atuação
a produção de legumes, v
reu no mês de outubro, de 2011.
secundária, a produção de legumes, verduras
frutas. Apenas 13% dos produtores não produzem leite em suas propriedades.
Para a análise dos dados optou-se pela
e frutas. Apenas 13% dos produtores não pro-
análise de conteúdo, e buscou-se, a fundo, in-
duzem leite em suas propriedades.
Gráfico 2: Produtos comercializados
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produtos industrializados; pois foi apontado que 46%, a maioria, gostaria de produzir doces
biscoitos ou polpas de fruta.
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Gráfico 4: Produtos que gostaria de produzir
Gráfico 2: Produtos comercializados Gráfico 4: Produtos que gostaria de produzir
Fonte: Dados da pesquisa, elaborado pelas autoras, 2012. Fonte: Dados da pesquisa, elaborado pelas autoras, 2012.
Fonte: Dados da pesquisa, elaborado pelas autoras, 2012.
Fonte: Dados da pesquisa, elaborado pelas autoras, 2012.
A preferência dos cooperados em produ- Esses dados mostram que uma signifi-
zir leite, pode ser explicada pelo fato da ati- cativa parte dos cooperados está disposta a
A preferência dos cooperados em produzir leite, pode ser explicada Esses dados mostram
fato da que
peloproduzir uma significativa
produtos parte dos cooperados
agroindustriais, buscandoestá disposta
vidade leiteira ser tradicional em Rubiataba
leiteira ser tradicional em Rubiataba e região. Percebe-se também
produzir nos produtores,
produtos agroindustriais,
e região. Percebe-se também nos produtores, agregar valorbuscando
e inovaragregar valor e inovar
na produção e, na produção e, talvez
talvez,
ça quanto às mudanças estruturais que seriam necessárias para a diversificação da
insegurança
Fonte: quanto
Dados da às mudanças
pesquisa, elaborado
conseguir
estruturais
pelas autoras, 2012.
conseguir
preços mais preços
favoráveis mais favoráveisSobre
na comercialização. na comerciali-
este aspecto, Beduschi e
rural. Assim, eles preferem evitar as incertezas e não correr riscos, continuando com
que seriam necessárias para a diversificação Abramovay (2004)zação.defendemSobre este aspecto,
que precisa Beduschi
haver destinação e Abramo-
de recursos federais voltados à
o de leite.
da produção rural. capacitação vay (2004)
dos produtores paradefendem que
a elaboração de precisa
projetos haver destina- de caráte
de desenvolvimento
ode-se observar
A preferência no dosGráfico 3 que aAssim,
cooperados maioria
em
eles preferem
dos produtos,
produzir leite, pode
evi-
27%,
ser éexplicada
comercializada
pelo fato da
colas
dade públicas,
tarfeira
leiteira ser
as incertezas
local
tradicionale com e não correr
ema Rubiataba
COOPER-AGRO riscos,
e região.
conti-tambémção
inovador.
(cooperativa
Percebe-seleiteira).
de recursos federais voltados à capacitação
nos produtores,
nuando com a estruturais
produçãoque de seriam
leite. necessáriasQuando dos produtores
questionou-se para a elaboração
os cooperados sobre osdefatores
projetos de
impeditivos para a
gurança quanto às mudanças para a diversificação da
Pode-se observar desenvolvimento de caráter inovador.
dução rural.
Gráfico 3: Assim,
Local de eles preferem evitar
comercialização asno
dos
Gráfico
incertezas
produtos e não3 correr
que ariscos,
diversificação da produção,
continuandoos mais
comcitados foram: a falta de incentivo dos poderes públicos
odução de leite.maioria dos produtos, 27%, é comercializada Quando questionou-se os cooperados
carência de assistência técnica rural e a escassez de mão de obra (tanto familiar quanto
Pode-secom as escolas
observar no Gráficopúblicas,
3 que a feira
maioria local e com a27%,
dos contratada).
produtos,
sobre os fatores impeditivos para a diversifi-
Grisa,é Gazolla
comercializada
e Schneider (2010) citam diversos benefícios decorrentes da
COOPER-AGRO
as escolas públicas, (cooperativa
feira local e com a COOPER-AGROleiteira). (cooperativa cação da produção, os mais citados foram: a
leiteira).
estratégia de diversificação, como novas fontes de renda, menor vulnerabilidade da
falta de incentivo dos poderes públicos, ca-
influências externas, segurança alimentar, entre outros.
Gráfico 3: Local de comercialização dos rência de assistência técnica rural e a escassez
Gráfico 3: Local de comercialização dos produtos No que diz respeito à falta de assistência técnica, Souza (2001) salienta que na
produtos de mão de obra (tanto familiar quanto con-
produção agrícola,tratada).
a decisão Grisa,
do tipoGazolla
de variedades a serem (2010)
e Schneider cultivadas,
ci- depende da
características de cada
tampropriedade. Tais aspectosdecorrentes
diversos benefícios estão relacionados com o tipo de solo
da estra-
tégia de diversificação, como novas fontes de
renda, menor vulnerabilidade das influências
externas, segurança alimentar, entre outros.
No que diz respeito à falta de assistência
técnica, Souza (2001) salienta que na produ-
ção agrícola, a decisão do tipo de variedades
a serem cultivadas, depende das característi-
Fonte: Dados da pesquisa, elaborado pelas autoras, 2012.
cas de cada propriedade. Tais aspectos estão
relacionados com o tipo de solo, clima, plu-
O Gráfico 4 mostra que é significativa a
viometria, pragas, entre outros. Para tanto, a
vontade, por parte dos produtores, de produ-
aplicação de conhecimento técnico especiali-
zir produtos industrializados; pois foi apon-
tado que 46%, a maioria, gostaria de produzir zado é importante com vistas a diminuir as
doces, biscoitos ou polpas de fruta. incertezas e riscos e, assim, obter resultados
favoráveis.
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Como previsto por Graziano da Silva Por outro lado, segundo a maioria dos
(2001), o último fator mencionado, escas- entrevistados, a maior dificuldade encontra-
sez de mão de obra, se deve ao fato de que da como cooperado da COOMAFAR, é a falta
os filhos dos cooperados, os quais poderiam de união entre os membros. Pode-se afirmar
ajudar a gerenciar a atividade rural, em sua que alguns cooperados, inclusive fundadores,
maioria, estão trabalhando no meio urbano. não têm um autêntico espírito cooperativista.
Nessa linha, Carneiro (1997) concorda que a Como previsto por Simioni et al. (2009), mui-
sazonalidade da produção agrícola pode dis- tos ainda não pensam no coletivo e buscam
pensar parcialmente ou integralmente traba- atender seus interesses próprios. Sabe-se que
lhadores que estarão disponíveis para exercer quando os membros têm tal comportamento,
outras atividades econômicas, mas não con- a estrutura cooperativista tende a se enfra-
sidera esse fato como uma ameaça à conti- quecer e começa a surgir alguns subgrupos
nuidade da atividade agrícola. dentro da cooperativa. Nesse sentido, quan-
Segundo Ávila (2009), um dos fato- do alguns problemas não são resolvidos, se-
res contribuintes para a escassez de mão de gundo os entrevistados, estes grupos come-
obra em Rubiataba e região, está relacionado çam a se confrontar. O que vem a colaborar
à presença das usinas sucroalcooleiras, pro- para o enfraquecimento e a desestruturação
cessadoras da cana-de-açúcar. Desse modo, a da cooperativa, e, ao mesmo tempo, implica
maior parte dos trabalhadores rurais parte em na redução do número de cooperados. Por-
busca das vagas nas usinas da região. E, “o tanto, conforme o ideal defendido por Ga-
desinteresse dos filhos em ficar na terra, in- wlak e Ratzke (2001), está faltando um pen-
viabiliza a produção agrícola” (entrevistado). samento dominante que abarque o bem-estar
Soma-se a isso, o arrendamento de pequenas do coletivo.
propriedades feito pelas usinas, muitas vezes, Esta situação, alinhada aos argumentos
vantajoso para o agricultor. Isso contribui de Simioni et al. (2009) é desfavorável, uma
para o êxodo rural, não apenas dos filhos, mas vez que a competitividade e influência do am-
às vezes, de toda a família. Dessa maneira, fica biente institucional, implica na necessidade de
difícil diversificar e alavancar a produção. uma atuação diferenciada em relação à cons-
Considerando as possibilidades apresen- trução de relações de lealdade mais estáveis.
tadas na literatura por Buendía Martinez e Para Morato e Costa (2001), o coopera-
Pires (2002), foi perguntado aos cooperados o tivismo surgiu como forma de organização e
que os levaram a ingressar na COOMAFAR. democracia para a distribuição de bens, com
O principal motivo apontado foi a busca de objetivos focados na solidariedade e demo-
agregação de valor em seus produtos, além cracia. Portanto, é necessária a educação das
de ter como e onde vender, ou seja, facilidade pessoas envolvidas nas atividades, de modo
no processo de comercialização. Sabe-se que que abracem a filosofia cooperativista.
a produção de produtos com atributos dife- Quando questionados sobre a importân-
renciados e de qualidade, cria novas oportu- cia da COOMAFAR para o desenvolvimento
nidades de mercado. E, essas novas oportuni- socioeconômico de Rubiataba e região, todos
dades incluem a inserção desses agricultores disseram ser importante para a geração de
em mercados nacionais e até internacionais renda para as famílias, valorização da classe
(Maluf, 2004). Outra motivação apontada pe- ruralista e melhor qualidade de vida.
los produtores foi a questão fiscal, pois par- Quando os cooperados foram indagados
ticipando da cooperativa, os impostos ficam sobre as ações da cooperativa para estimular
reduzidos. e mobilizar os agricultores em busca de ino-
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Por isso, o interesse dos cooperados em fazer produtores ou, até mesmo, à diretoria da coo-
o beneficiamento de alguns produtos, pois há perativa buscar alternativas para fortalecer a
exigências nesse sentido; ao mesmo tempo, é atividade econômica.
necessário adotar algumas políticas e práti- Por fim, a principal limitação deste traba-
cas de gestão da qualidade dos produtos que lho é a de ser um estudo de caso de modalida-
são destinados à merenda escolar. de única, pois os resultados encontrados não
Com relação ao comportamento dos podem ser generalizados. Porém, as discus-
membros da COOMAFAR, nota-se que os sões aqui apresentadas servem como reflexão.
princípios cooperativistas precisam estar mais 1 ALIANÇA COOPERATIVA INTER-
presentes em seus modelos mentais, para as- NACIONAL (ACI): Congresso realizado em
sim, refletir em seus comportamentos. Em Viena em 1966, para a atualização dos princí-
consonância à pesquisa de Simioni et al. pios cooperativistas; realizado novamente em
(2009), alguns cooperados não têm um au- 1995, com a finalidade de fazer uma revisão
têntico espírito cooperativista e muitos bus- nos princípios, em Manchester (Irion,1997).
cam atender seus próprios interesses. Sabe-se 2 Segundo o INCRA (2008), módulo fis-
que nessas condições, a estrutura cooperati- cal é a unidade de medida expressa em hec-
vista tende a enfraquecer e abre espaço para tares, fixada para cada município. No caso de
comportamentos oportunistas. Assim, cor- Rubiataba, o módulo fiscal é de 30 hectares.
roborando o estudo de Simioni et al. (2009),
percebe-se que neste estudo, os valores coo-
perativistas de igualdade, coletividade e soli- Referências
dariedade são relegados a um segundo plano.
Em se tratando da atual diretoria admi- Abreu, M. A. P. (2008). Urbanização e (des)
nistrativa, nota-se por parte desta, falta de ruralização da agricultura familiar e seus
iniciativas em proporcionar aos produtores atores. Dissertação de Mestrado em Ecologia
cursos de qualificação, tanto nas áreas admi- e Produção Sustentável, Pontifícia Universi-
nistrativas quanto técnica, com vistas a supe- dade Católica de Goiás, Goiânia, GO, Brasil.
rar as dificuldades mencionadas e obter um
Aref, F. (2011). Agricultural Cooperatives
melhor desempenho de suas atividades pro-
for Agricultural Development in Iran. Life
dutivas. Haja vista que essa lacuna tem pre- Science Journal, 8(1), 82-85.
judicado o desempenho geral da cooperativa.
Portanto, tais iniciativas estariam relaciona- Ávila, S. R. S. A. (2009). Efeitos sócio-ecô-
das à busca pela modernização das técnicas nomicos da expansão da cana-de-açúcar no
administrativas e produtivas. Vale do São Patrício. Dissertação de Mestra-
Pois, como afirmam Simioni et al. (2009), do em Agronegócios, Universidade Nacional
para fazer frente à nova realidade do am- de Brasília, DF, Brasil.
biente competitivo, as cooperativas do ramo Beduschi, L. C., Filho., & Abramovay, R.
agrícola precisam se profissionalizar no que (2004). Desafios para o desenvolvimento das
se refere ao processo de gestão e às relações regiões rurais. Nova Economia, 14(3), 35-70.
com os seus associados e se adaptar às novas
regras do mercado. Complementarmente, Buendía Martínez, I., & Pires, M. L. L. S.
conforme a linha de pensamento de Grisa, (2002). Cooperativas e revitalização dos
Gazolla e Schneider (2010), pode-se dizer que espaços rurais: uma perspectiva empresarial
a intervenção do Estado com políticas públi- e associativa. Cadernos de Ciência e Tecnolo-
cas apropriadas é importante, mas cabe aos gia, 19(01), 99-118.
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208
Abstract
This work focuses on some practical advantages and challenges facing family farmers Rubiataba
city, state of Goiás, towards the strengthening of productive activity. Therefore, this article aims
to identify and analyze the main practical difficulties and opportunities faced by the cooperative
to a cooperative of farmers, called Mixed Cooperative of Family Farmers Rubiataba (COOMA-
FAR). We conducted a qualitative research, and data collection was used questionnaires and in-
terviews. As a result, the research shows strong interest from producers to diversify production,
add more value to the products, have greater access to the market and thereby achieve better
competitiveness. But hindered by issues such as lack of incentives from the government, finan-
cial resources, technical expertise and shortage of manpower. This research aimed to contribute
to a better understanding of the relationship between cooperatives and family farms.
RAIMED - Revista de Administração IMED, 3(3), 2013, p. 194-208 - ISSN 2237 7956