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CURSO DE DIREITO
AGRADECIMENTOS
A meus pais, Ruben e Heloisa, que são responsáveis pelo ser humano que
hoje sou; que são meu porto seguro e meus maiores exemplos de força,
determinação, amor incondicional e solidariedade.
A meu irmão Felipe, por ser o primeiro amigo a me acompanhar nesta jornada
chamada “vida”.
A Ditmar Jorge Lohmann e Irna Arend, in memoriam, meus avós queridos que
deixaram, além da saudade, exemplos de perseverança e bondade.
À minha querida amiga Joana Corbellini Cenci, que prestou auxílio essencial
neste trabalho e foi uma grande companheira em meus estágios.
Aos demais amigos e familiares – não citarei nomes, pois seriam muitas
linhas e para não cometer injustiças ao esquecer de algum – que compartilharam
comigo anseios, decepções, conquistas, alegrias e que são essenciais na minha
vida.
RESUMO
§ Parágrafo
Apud Citado por
Art. Artigo
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
CF Constituição Federal
CLT Consolidação das Leis do Trabalho
CONANDA Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente
d. C. depois de Cristo
IPEC Programa Internacional para a Eliminação do Trabalho Infantil
Nº número
OIT Organização Internacional do Trabalho
ONG Organização não-governamental
p. Página
PETI Programa de Erradicação do Trabalho Infantil
Parquet Ministério Público
PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO................................................................................................. 7
ANEXOS ............................................................................................................. 81
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1 INTRODUÇÃO
No terceiro capítulo, por sua vez, faz-se uma análise aprofundada das causas
e consequências do trabalho infanto-juvenil, ou seja, das sequelas físicas e sociais
que a introdução precoce dessas crianças no mercado de trabalho acarreta.
Discorre-se, ainda, sobre os programas que buscam erradicar o problema,
analisando-se a efetividade dos mesmos.
Haim Grunspun apud Oliva (2006) afirma que o emprego de jovens e crianças
no trabalho sempre existiu, sendo que no decorrer da história humana, as crianças
sempre trabalharam junto as suas famílias e tribos sem que houvesse distinção com
os adultos com quem conviviam. Constituía, desta forma, no aprendizado através da
prática das atividades cotidianas e elementares à sobrevivência do grupo a que
pertenciam.
aprendizagem podia variar entre dois e dez anos, de acordo com a dificuldade do
ofício. Tal demora, e uma série de outros problemas, fizeram com que o
corporativismo entrasse em declínio, sendo que na França as corporações foram
abolidas pela Revolução Francesa, enquanto que na Inglaterra, no início do século
XIX, perderam seu vigor ao ceder espaço para o “maquinismo”, que eclodiu na
Revolução Industrial, no entendimento de Oliva (2006).
da família para maior proteção das crianças e numa maior intervenção da sociedade
e do Estado para oferecer a elas escolarização, assistência e proteção. Tal
consciência surgiu e se desenvolveu, inicialmente, entre a classe burguesa e, muito
tempo depois, difundiu-se entre as classes trabalhadoras, em um processo que
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O trabalho infantil sempre existiu para Peres (2002), sendo que após a
revolução industrial, no século XIX, abriu-se espaço para a utilização das chamadas
“meias-forças”, assim considerada a força exercida pelas mulheres adultas, pelas
crianças e pelos adolescentes, que, por assim ser, recebiam salários muito inferiores
aos dos homens.
Por outro lado, acreditando nas promessas de que nas fábricas seriam
transformados em damas e cavalheiros, teriam acesso à alimentação farta e a bens
14
Refere Marin (2006) que o uso do trabalho das crianças também estava
relacionado com as estratégias para diminuição dos custos de produção, uma vez
que estas recebiam salários insignificantes e se submetiam mais facilmente às
imposições. Assim:
Conforme destaca Lima (2008), dois nomes importantes na luta pela tutela
dos direitos dos trabalhadores foram de dois industriais, o inglês Robert Owen e o
francês Daniel Le Grand, que defendiam amplas reformas sociais e a aplicação
dessas novas idéias em suas fábricas, propondo um acordo internacional acerca da
legislação trabalhista e visando a criação de um direito internacional para proteção
contra o trabalho prematuro e excessivo.
que já era conferido aos filhos dos ricos” (Oliva, 2006, p. 48-49).
Seguindo esta mesma linha evolutiva, em outros países da Europa, tais como
Alemanha e Itália (esta última mais tardiamente, em virtude de seu atraso no
processo de industrialização), buscou-se a regulamentação do trabalho infantil com
normas que limitavam a idade para ingresso no mercado de trabalho (Oliva, 2006).
Nascimento (2002) destaca as seguintes leis ordinárias: a de 1814, que na França
proibiu o trabalho de menores de 8 anos de idade; a de 1886, na Itália, que visava
proteger o trabalho da mulher e do menor; e, a de 1939, na Alemanha, que proibia o
trabalho de menores de 9 anos de idade.
Oliva (2006, p. 59) estima que “entre 1550 e 1855, cerca de 4 milhões de
escravos africanos tenham sido trazidos para o Brasil”. Não consta ter sido discutida
a necessidade de serem estabelecidas regras entre patrões e escravos, haja vista
que as mesmas se tornariam inúteis, por não serem os escravos sujeitos, e sim,
objetos de direito. Os escravos deveriam trabalhar assim que adquirissem condições
físicas para tanto, sendo que muitas crianças eram retiradas de sua família para ser
vendidas como mercadorias baratas.
lei não tenha tido “qualquer caráter justrabalhista, pode ela ser tomada em certo
sentido, como marco inicial de referência da História do Direito do Trabalho
brasileiro” (Delgado, 2006, p. 105). Afirma-se isto, pois constituiu-se num diploma
que “eliminou da ordem sociojurídica relação de produção incompatível com o ramo
justrabalhista (escravidão)” estimulando a incorporação pela prática social da
relação de emprego, que praticamente inexistia (Delgado, 2006, p. 106).
O início do século XX, além da expansão industrial, foi marcado também pelo
consequente surgimento das lutas sociais do proletariado nascente, sendo que,
neste contexto, durante a greve geral nacional de 1917 1, liderada por trabalhadores
urbanos, foi criado o Comitê de Defesa Proletária. O Comitê reivindicava, entre
outros direitos, a proibição do trabalho de menores de 14 anos e a abolição do
trabalho noturno de mulheres e de menores de 18 anos, conforme Lorenzi (2007).
Anos depois, em 1923, foi criado o Juizado de Menores, tendo Mello Mattos
como o primeiro Juiz de Menores da América Latina. E seguindo os mesmos
princípios, no ano de 1927, foi promulgado o primeiro documento legal para os
menores, qual seja, o Código de Menores, mais conhecido como Código Mello
Mattos, em reconhecimento de seu precursor (Oliva, 2006).
Mais tarde, com o Golpe Militar de 1964, uma ditadura militar foi instituída,
interrompendo por mais de 20 anos o avanço da democracia no país, sendo que a
nova Constituição (promulgada em 1967), estabeleceu diferentes diretrizes para a
vida civil, o que resultou em recuos no campo dos direitos sociais (Neto, 2006).
1
A Greve Geral de 1917 é o nome pela qual ficou conhecida a paralisação geral da indústria e
do comércio do Brasil, em Julho de 1917, como resultado da constituição de organizações operárias
de inspiração anarcossindicalista aliada à imprensa libertária.
21
O conceito de trabalho infantil não é tão simples como talvez possa parecer e
varia de um país para outro.
Para Neves (2001), o termo “trabalho infantil” tem sido considerado símbolo
do não reconhecimento de determinadas atividades produtivas remuneradas,
realizadas sob condições vis ou penosas por crianças e adolescentes, sendo, por
isso, proibido pela legislação. Tais condições são qualificadas como impeditivas da
continuidade do processo de formação do ser adulto que então se encontra em
curso, o que abrange a complementação do ciclo de desenvolvimento físico, social,
moral e profissional.
Esta perversa forma de inserção laborativa assalaria aqueles que não podem
responder livremente pelos seus atos civis; transfere força física de quem
dela necessita para completar o desenvolvimento biológico e a incorpora
para desvalorizar o preço da força de trabalho. Integrando a criança ou o
adolescente como trabalhador, o empregador remunera-os enquanto
incapazes de responder pelos atos que cumprem ou nos termos do
reconhecimento da responsabilidade civil definida legalmente. Além disso,
como a criança e o adolescente não respondem por seus atos, eles se
inserem no mercado de trabalho como se fossem apêndices dos pais, sob
constrangimentos que os descaracterizam como trabalhador livre.
Nos termos desta definição, o trabalho infantil tem mobilizado o investimento
de uma verdadeira cruzada moral, liderada principalmente por porta-vozes da
OIT - Organização Internacional do Trabalho, no sentido da condenação de
formas aviltantes ou intoleráveis de pobreza. Para efeitos de sua
condenação, ele tem sido utilizado a partir da cristalização de significados
auto-evidentes: ele responde a carências materiais e sociais dos que a eles
se submetem. E tem sido identificado às condições específicas de países de
desenvolvimento econômico dependente. (Neves, 2001, p. 149-150).
3.1 Terminologias
Já Oliveira (2006), define “trabalho infantil” como sendo todo aquele em que
haja desobediência às limitações legais, ou seja, o trabalho proibido, com fins
econômicos ou equiparados e até mesmo aquele sem fins lucrativos em ambiente
residencial, realizado para terceiros, onde se configurara o trabalho doméstico.
Mas, entre o final do século XIX e início do século XX, com o fenômeno do
Constitucionalismo Social 2, o sistema constitucional de 1891 tornou-se inadequado
diante da prevalência do sentido social do direito, o que ensejou sua ruptura e
promulgação da Constituição de 1934 (Neto, 2006).
2
Para Neto (2006), o Constitucionalismo Social buscava modificar a postura do Estado em
face dos indivíduos, estando vinculado ao princípio da não-neutralidade, ou seja, mediante um
comprometimento da filosofia constitucional com os desfavorecidos.
29
Introduziu o Fundo de Garantia por tempo de Serviço, que já havia sido criado
por lei ordinária do ano de 1966 (Nascimento, 2002). Em contrapartida, apresentou
um retrocesso, visto que, em seu artigo 158, inciso X, fixou em 12 anos a idade
mínima para admissão ao trabalho (que antes era de 14 anos) e restabeleceu as
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Outro retrocesso, para Camino (2004, p. 42), se deu com a Emenda nº 1/69,
que vetou a greve nos serviços essenciais e limitou a competência da Justiça do
Trabalho, “tornando praticamente inócuo o seu poder normativo e deslocando para a
Justiça Federal Comum os litígios individuais trabalhistas envolvendo servidores
públicos federais”.
(...)
I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II – garantir o desenvolvimento nacional;
III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades
sociais e regionais;
(...).
Em seu art. 5°, estabelece a Carta, ainda, que todos são iguais perante a lei,
garantindo-se aos residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade,
à igualdade e à segurança. Em seu art. 6°, estabelece que:
Ao tratar dos direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, em seu art. 7°, inc.
XXXIII, proíbe o trabalho noturno, perigoso ou insalubre para menores de 18 anos, e
34
adolescentes como um dos seus princípios basilares” (Oliva, 2006, p. 75) através do
supra citado artigo e também de acordo com a disposição dos seus artigos 205 e
214, IV. A educação, vista como um direito de toda a população e um dever do
Estado bem como da família, passou a ter como uma de suas metas a formação
para o trabalho.
Loureiro apud Sarlet (2005, p. 24), sustenta que o que importa nisto é que se
tenha presente a consciência de que a dignidade da pessoa humana “(...) implica
uma obrigação geral de respeito pela pessoa (...), traduzida num feixe de deveres e
direitos correlativos (...)” indispensáveis ao “florescimento humano”.
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O atual estatuto estabelece que criança é toda aquela pessoa que ainda não
completou 12 anos e adolescente aquela entre 12 e 18 anos de idade. Entretanto, a
OIT considera criança a pessoa que tem idade inferior a 15 anos, sendo este o limite
internacionalmente estabelecido para o ingresso no mercado de trabalho (Peres,
2002).
De se frisar que o artigo 60, supra referido, foi tacitamente revogado pelo
novo texto do artigo 7°, XXXIII, da Constituição Federal, cuja redação foi dada pela
Emenda Constitucional n° 20. Assim, fica proibido qualquer tipo de trabalho antes
dos 14 anos de idade, sendo que acima de 14 anos e até os 24 anos é permitido o
trabalho na condição de aprendiz, que será abordado mais especificamente na
sequência.
Ainda, o trabalho exercido pelo menor deve ser compatível com as atividades
escolares, de forma a permitir a frequência escolar. Para Oliveira (2006, p. 235),
“esta compatibilidade deve concretizar-se em duração de jornada que efetivamente
permita a freqüência à escola”, sendo que dados indicadores sociais sobre a
41
Depreende-se, assim, que esta lei defende que o melhor para as crianças e
adolescentes não é o trabalho, mas sim a escola, a fim de que possam se tornar
adultos qualificados técnica e intelectualmente, bem como ser portadores das
condições de cidadãos (Marin, 2006).
Os arts. 404 e 405 dispõem regras acerca do trabalho do menor. Fica proibido
o trabalho noturno (entre 22 e 5 horas) ao menor de 18 anos, bem como o trabalho
do menor em locais insalubres ou perigosos, e em locais prejudiciais à sua
moralidade, quais sejam:
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outras semelhantes;
c) de produção, composição, entrega ou venda de escritos, impressos,
cartazes, desenhos, gravuras, pinturas, emblemas, imagens e quaisquer
outros objetos que possam, a juízo da autoridade competente, prejudicar
sua formação moral;
d) consistente na venda, a varejo, de bebidas alcoólicas.
Art. 412 - Após cada período de trabalho efetivo, quer contínuo, quer
dividido em 2 (dois) turnos, haverá um intervalo de repouso, não inferior a
11 (onze) horas.
Art. 413 - É vedado prorrogar a duração normal diária do trabalho do menor,
salvo:
I - até mais 2 (duas) horas, independentemente de acréscimo salarial,
mediante convenção ou acordo coletivo nos termos do Título VI desta
Consolidação, desde que o excesso de horas em um dia seja compensado
pela diminuição em outro, de modo a ser observado o limite máximo de 48
(quarenta e oito) horas semanais ou outro inferior legalmente fixada;
II - excepcionalmente, por motivo de força maior, até o máximo de 12 (doze)
horas, com acréscimo salarial de, pelo menos, 25% (vinte e cinco por cento)
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Estas normas, quando ratificadas pelo Brasil, têm, portanto, “se tornado
importantes fontes formais justrabalhistas no país” (Delgado, 2006, p. 155).
Foi também a OIT quem levantou a bandeira do trabalho decente para todos
como meio de buscar uma globalização mais justa, capaz de favorecer a inclusão
social. Para a referida organização, o trabalho decente se baseia no reconhecimento
de que o trabalho é fonte de dignidade pessoal, estabilidade familiar, paz na
comunidade, de democracias que produzam crescimento econômico e fonte que
possibilite o trabalho produtivo e o desenvolvimento das empresas, sendo que, no
seu entender, o emprego produtivo e o trabalho descente são elementos-chave para
alcançar a redução da pobreza, para Romita (2007).
Esse decreto serve para que nossos fiscais possam ter instrumentos para
punir o trabalho escravo. Às vezes o combate não depende da fiscalização,
porque é uma questão cultural”, disse o presidente, lembrando que muitas
crianças ajudam os pais nas atividades diárias em busca do sustento.
Segundo o presidente, é preciso diferenciar cada atividade. “É preciso a
gente tratar de forma humana e diferenciada cada tipo de atividade. O
empresário, por exemplo, não tem nenhum cabimento manter uma criança
trabalhando. Se precisar de uma criança aprendiz é preciso tomar cuidado
para que isso não atrapalhe a criança de estudar. 14 anos não é idade de
trabalhar”, salientou.
Lula disse ainda que os pais têm um papel importante no combate do
trabalho infantil. “Nós com esse decreto aperfeiçoamos um pouco mais [o
combate ao trabalho infantil]. Mas temos que fazer apelo para que os pais
dessas crianças e adolescentes evitem que a pretexto de trabalhar elas
deixem de estudar, porque elas vão sentir falta disso depois”, afirmou (LULA
assina decreto para ampliar combate ao trabalho infantil, 2008, texto digital).
Neste caso, a capacidade obreira é que não foi respeitada. Não obstante o
vício em um dos elementos jurídico-formais do contrato, todos os efeitos
trabalhistas devem ser reconhecidos, em face da tutela justrabalhista ter
sido construída exatamente para proteger a criança e o adolescente – e não
ampliar a perversidade de sua exploração (Delgado, 2006, p. 307).
A CLT, em seu art. 428, alterado pela Lei nº 11.180/2005, traz a atual
definição do contrato de aprendizagem, dispondo que a aprendizagem é um contrato
de trabalho especial, onde o empregador compromete-se a assegurar ao maior de
14 anos e menor de 24 anos, inscrito em programa de aprendizagem, formação
técnico-profissional metódica. O contrato deve ser ajustado por escrito e por prazo
determinado e a aprendizagem deve ser compatível com o desenvolvimento físico,
moral e psicológico do aprendiz. Ainda, autorizado fica, seja excedido o limite de
idade máximo quando se tratar de jovem portador de deficiência.
profissional, a teor do que dispõem os artigos 429 e 425, §1º, ambos da CLT.
No que tange aos direitos específicos do aprendiz, Oliva (2006) enfatiza que
tem aquele, de regra, os mesmos direitos do empregado em geral, havendo algumas
particularidades, dentre elas as previstas nos arts. 433 e seguintes da CLT:
Art. 68. O programa social que tenha por base o trabalho educativo, sob
responsabilidade de entidade governamental ou não-governamental sem
fins lucrativos, deverá assegurar ao adolescente que dele participe
condições de capacitação para o exercício de atividade regular remunerada.
§ 1º Entende-se por trabalho educativo a atividade laboral em que as
exigências pedagógicas relativas ao desenvolvimento pessoal e social do
educando prevalecem sobre o aspecto produtivo.
§ 2º A remuneração que o adolescente recebe pelo trabalho efetuado ou a
participação na venda dos produtos de seu trabalho não desfigura o caráter
educativo.
Visto como solução para os problemas das crianças pobres por alguns, o
trabalho infantil tem sido reconhecido por outros como um grave problema, pois,
perpetua a miséria e promove maior exclusão dos mais desfavorecidos. E sob esta
ótica, o Brasil, ampliando a idade mínima para o trabalho de 14 para 16 anos e
ratificando convenções e recomendações internacionais, parece buscar livrar-se
59
Neste sentido, Loguercio (2006, p. 94) afirma que “todo o trabalho infantil é
altamente prejudicial à formação física, psíquica e emocional da criança” sendo,
ainda, responsável por reproduzir o ciclo da miséria, pois, além de impedir o acesso
à educação formal, a mão-de-obra infantil está ocupando o lugar dos trabalhadores
pais de família. Assim, conforme a autora, as crianças se tornam alvo das piores
explorações, “dos trabalhos mais pesados e impróprios para seus frágeis
organismos, da absoluta negação de qualquer proteção legal ou fática” (Loguercio,
2006, p. 95).
Na maioria dos países, o direito comum fixa com precisão as idades em que
as diversas “maturidades” são proclamadas adquiridas, quais sejam: sexual, civil,
política, entre outras. Neste sentido, Javeau (2005) disciplina que:
admissível e do que seria inadmissível de ser feito com as crianças ou que estas o
fizessem. Ou seja, a concepção moderna do conceito de infância se deu a partir da
separação do mundo dos adultos e de institucionalização das crianças, onde a
criação de creches e escolas públicas teve um papel determinante com o
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Isto se denota através do estudo realizado pela OIT, que estima que cerca de
5 milhões de crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos trabalhavam no Brasil no
início da década de 90, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios - PNAD 2001, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
62
Segundo a PNAD de 2007 (IBGE, 2007), o Brasil ainda tinha cerca de 2,5
milhões de crianças e adolescentes de 5 a 15 anos que trabalhavam, o que
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representava uma porcentagem de 6,6% do total de pessoas nessa faixa etária - que
totalizava 37.938.344. Comparado com os anos anteriores, houve avanço, embora
pequeno, já que em 2004 havia quase 2,8 milhões de crianças em situação de
trabalho infantil e, em 2005, ainda houve relativo aumento.
Esta última pesquisa ainda apontou que, entre os 2,5 milhões de meninos e
meninas brasileiros que trabalhavam, 2,5% deles não estudavam, ou seja, cerca de
62,5 mil crianças sem educação formal. Em relação ao tipo de ocupação das
crianças e adolescentes de 5 a 17 anos, apurou-se que cerca 63% delas trabalham
com atividades não-agrícolas, (tarefas domésticas, em indústrias, no comércio, entre
outros), enquanto que as atividades agrícolas ocupavam 37% de meninos e meninas
na faixa etária, totalizando 925 mil. De acordo com as faixas etárias da pesquisa, as
crianças de 5 a 9 anos com ocupação somavam 195 mil meninos e meninas, das
quais a maioria delas (cerca de 147 mil) exerciam atividades agrícolas. No grupo de
10 a 14 anos, apontou-se maior equilíbrio entre as atividades agrícolas e não
agrícolas, mas o número total de pessoas com ocupação passava de 1,8 milhão.
Seria fútil negar que o trabalho de socialização, ele mesmo dividido em uma
fase “primária” e em várias fases “secundárias”, não se insere num
substrato biológico cuja universalidade não pode ser contestada. Mas nem
63
(familiar ou não), um aspecto muito levantado é a sua necessidade, tanto como meio
de inserção social, quanto como forma de complementação de renda familiar, pois,
conforme estudo realizado por Marin (2006). Muitos dos pais consideram o trabalho
como uma “agência educadora”, disciplinadora e capaz de evitar que os filhos
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estas atividades, já que não dispõem de locais (como creches) onde deixá-los. Por
esta razão, muitos pais preferem levar seus filhos para o local trabalho, à deixá-los
em casa e, assim, diante de tantos problemas, depositam no trabalho a esperança
de desenvolver nos filhos o senso da disciplina e ao mesmo tempo controlar o tempo
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Neste mesmo sentido, Carlos Amaral apud Peres (2002) destaca que o
trabalho infantil passa principalmente pela questão socioeconômica, pois para as
crianças o trabalho proporciona ter acesso a bens que valorizam e que os pais não
podem lhes oferecer, enquanto “os pais, por sua vez, pensam que, colocando os
filhos para trabalhar, estão fazendo um bem a eles, impedindo que se tornem
delinqüentes e vagabundos” (Peres, 2002, p. 28).
Por outro lado, tanto pela sociedade brasileira como por órgãos
internacionais, tornou-se recorrente a valorização da infância como período do
estudo, da brincadeira, da inocência e da irresponsabilidade social, buscando
erradicar esta forma de trabalho. Isto porque, quando a criança ou adolescente
exercita o trabalho pela necessidade de prover o próprio sustento, “o trabalho
conflita com outros interesses seus, quais sejam, aqueles ligados ao
desenvolvimento da personalidade” (Machado, 2003, p. 177).
Portanto, a legislação volta-se para proteção cada vez maior das crianças e
adolescentes, entendendo que devem ser atacadas as causas do problema, e não,
simplesmente buscar minimizar os seus efeitos (Oliva, 2006).
educação compulsória é uma das mais efetivas formas de evitar o trabalho infantil.
No entanto, sem sentido são as leis que a tornam obrigatória “se não houver número
adequado de escolas disponíveis e se material, uniforme, transporte etc. não forem
acessíveis ou subsidiados”, lembra Peres (2002, p. 31).
Conforme destaca Peres (2002, p. 21), o Brasil foi o primeiro país da América
Latina a fazer parte do referido programa e a escolha se deu devido às “altas taxas
de atividades envolvendo crianças entre 10 e 14 anos”. O índice, na época (1992)
era de 18%, “superando outros países subdesenvolvidos, como Honduras (14,3%),
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A família beneficiada com o Bolsa Escola recebe uma ajuda de R$ 15,00 por
criança na escola, com o limite de R$ 45,00 por mês. A cada três meses a
freqüência das crianças é checada e se as faltas passarem de 15%, o benefício
pode ser suspenso. As prefeituras que adotam o Bolsa Escola são responsáveis por
cadastrar e selecionar as famílias beneficiárias e também podem complementar esta
renda (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, 2007).
Abrinq pelos Direitos da Criança, a qual foi fundada em 16 de abril de 1990, tendo
como objetivo principal a promoção dos direitos elementares de cidadania das
crianças. A aplicação de seus objetivos se dá por meio de projetos e da articulação
de mobilização da sociedade, sensiblizando e promovendo o engajamento da
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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