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PROEJA NO IFRJ: LIMITES E POSSIBILIDADES

Tania Maria Almenara da Silva

Resumo:

Esta pesquisa pretende investigar o PROEJA-Programa do Governo


Federal que integra a Educação Básica com a Educação Profissional de Nível
Médio no Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro IFRJ.
Partindo do princípio que este programa oferece uma proposta inovadora de
educação através da concepção de Educação Integral em seu documento Base,
faz-se necessário investigar quais os seus limites e possibilidades, uma vez que
este conceito de Educação vem de uma proposta revolucionária, apresentada por
Gramsci, para emancipação da classe trabalhadora, e tendo a clareza que
vivemos em uma sociedade de classes nos moldes do Capital, torna-se no
mínimo contraditória esta proposta. Assim devemos compreender como essa
proposta se materializa no IFRJ, tomando como fundamento da análise as
contradições do Capital e as tentativas de reorganizar o modelo com intenção de
mantê-lo. Segundo Neves há um mecanismo de conformação social, para que as
massas de trabalhadores sejam educadas pela Pedagogia da Hegemonia no
sentido de aceitarem a idéia de que a escassez de emprego está ligada a falta de
qualificação das massas trabalhadoras, culpabilizando os indivíduos pelo próprio
insucesso e mascarando o caráter estrutural do desemprego na sociedade do
capital. A aprendizagem técnica não poderia estar dissociada de certos
comportamentos e atitudes aceitos socialmente. Essa foi a tomada de
consciência empresarial do papel estratégico da educação, no sentido de uma
mudança cultural da força de trabalho, pois há novas demandas postas pelo
aprofundamento das inovações tecnológicas, então a escola torna-se a
argamassa do projeto burguês. Os anos de 1990 registram a presença dos
organismos internacionais que entram em cena em termos organizacionais e
pedagógicos. A educação básica deveria ajudar a "reduzir a pobreza aumentando
a produtividade do trabalho dos pobres. Na sociedade do capital, a educação e o
trabalho são subordinados a esta dinâmica que leva à alienação do trabalhador.
Para romper com está lógica o papel da educação seria então libertador e onde
as mudanças educacionais não seriam limitadas aos interesses do capitalismo,
não se o objetivo for qualitativo. Então será necessário romper com a lógica do
capital se quisermos contemplar a criação de uma alternativa educacional
significativamente diferente. A luz das categorias: Trabalho como Princípio
Educativo, Pedagogia da Hegemonia e Educação Integral analisaremos o
PROEJA NO IFRJ: LIMITES E POSSIBILIDADES.

O objeto deste estudo será a EJA na forma como está posta na educação
profissional, tomando como referência empírica o novo impulso que a modalidade
de ensino ganhou a partir da implantação do Programa Nacional de Integração da
Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de
Jovens e Adultos (PROEJA). Programa implantado nas Instituições Federais de
Ensino pelo Decreto Nº 5.478/2005, no âmbito do ensino médio. Este anti-projeto
apresenta uma proposta de pesquisa que pretende investigar até que ponto a
Pedagogia da Hegemonia se materializa no PROEJA, quais as contradições dos
processos formativos no âmbito deste programa, destinado a classe
trabalhadora?

A finalidade será investigar um conjunto de informações que


permitirá ampliar a compreensão dos sentidos e significados das especificidades
do PROEJA e como estas se materializam na própria escola. Tal conhecimento
certamente nos auxiliará na reflexão acerca da eficiência do PROGRAMA, no que
se refere à qualificação dos Jovens e Adultos que, ao longo do tempo, foram
excluídos da escola e necessitam ter garantido seu direito de acesso ao
conhecimento historicamente acumulado.

Para tanto será necessário analisar por meio de uma extensa


revisão de literatura o que fundamenta o aumento do interesse pela
democratização da educação de Jovens e Adultos Trabalhadores. Pois há um
mecanismo de conformação social, para que as massas de trabalhadores sejam
educadas pela Pedagogia da Hegemonia (NEVES,2008) no sentido de aceitarem
a idéia de que a escassez de emprego está ligada a falta de qualificação das
massas trabalhadoras, culpabilizando os indivíduos pelo próprio insucesso e
mascarando o caráter estrutural do desemprego na sociedade do capital. Outro
aspecto que é importante mencionar diz respeito à participação cada vez maior
das ONG’s nas Conferências Internacionais de Educação de Adultos –CONFINTEA’S
- assim como em todo setor da sociedade, esse aspecto vem caracterizar mais
uma façanha do capital, que tenta dar uma cara mais humana à sua exploração
através de nova roupagem que pode ser chamada de Terceira Via, onde o Estado
mínimo, que foi a grande marca da fase Neoliberal do capital, é amenizado pela
participação da sociedade civil, através das ONG’s, para mais uma vez conformar
as massas, dando uma ideia de participação e cumplicidade da sociedade nos
vários setores, desde a educação, saúde, emprego até no controle ambiental.

É necessário atentar para os posicionamentos e iniciativas educacionais


assumidos pelos sujeitos políticos mais envolvidos com a educação escolar para
levantar os fatores que motivaram o processo das políticas públicas educacionais
principalmente nos anos iniciais dos anos 90. Observar como as questões
educacionais são relacionadas ao contexto econômico, relações de poder e
relações sociais.Nesse período o tema central era qualidade de ensino
nitidamente associando educação à produção. As mudanças da base produtiva e
da sociedade deveriam formar não apenas técnicos de fábrica, mas cidadãos-
trabalhadores. A aprendizagem técnica não poderia estar dissociada de certos
comportamentos e atitudes aceitos socialmente. Essa foi a tomada de
consciência empresarial do papel estratégico da educação, no sentido de uma
mudança cultural da força de trabalho, pois há novas demandas postas pelo
aprofundamento das inovações tecnológicas, então a escola torna-se a
argamassa do projeto burguês-industrial com a Pedagogia da Qualidade1.
(NEVES, 2008).

Os anos de 1990 registram a presença dos organismos internacionais que


entram em cena em termos organizacionais e pedagógicos. O primeiro desses
eventos é a "Conferência Mundial sobre Educação para Todos" realizada em
Jomtien, Tailândia, que inaugurou um grande projeto de educação em nível
mundial, para a década que se iniciava, financiada pelas agências UNESCO,
UNICEF, PNUD e Banco Mundial. A Conferência de Jomtien apresentou uma
"visão para o decênio de 1990" e tinha como principal eixo a idéia da "satisfação
das necessidades básicas de aprendizagem": O estreitamento de laços da
educação profissional com o setor produtivo e entre os setores público e privado
na oferta de educação, a atenção aos resultados, a avaliação da aprendizagem, a
descentralização da administração das políticas sociais. É retomada a teoria do
capital humano por meio da inversão em capital humano e atenção à relação
custo/benefício, a educação básica deveria ajudar a "reduzir a pobreza
aumentando a produtividade do trabalho dos pobres. Há uma urgência de ampla
reforma dos sistemas educacionais para a capacitação profissional e o
aproveitamento da produção científico-tecnológica.

A partir de uma análise sobre os limites e equívocos das visões liberais da


educação, onde nas relações sociais capitalistas a educação funciona,
dominantemente, como um sistema de internacionalização dos conhecimentos,
valores e cultura funcionais à reprodução da (des) ordem do metabolismo social
do capital. (MÉSZÁROS), essa pesquisa ganhará importância e justificativa por
objetivar compreender a estrutura e implementação do PROEJA no Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro - IFRJ.
Pretendendo contribuir com o conhecimento já produzido acerca da pedagogia da
Hegemonia que deflagra a educação profissional como aparelho de reprodução
Hegemônica e de conservação da ordem, através do consentimento. A relevância
do problema está em compreender de que forma as políticas públicas do Governo
Lula podem ser consideradas avanços - visto que o argumento central destas
políticas educacionais é baseado na ruptura da histórica visão hierárquica e
dogmática do conhecimento (Documento Base) e suas contradições, já que estas
políticas públicas estão, tradicionalmente, comprometidas com o capital. Ainda,
porque este problema traz à investigação os desafios e as perspectivas de todos
os sujeitos envolvidos no programa, principalmente referentes ao projeto
pedagógico, entre outras questões. Mas, sobretudo a da pseudo-integração da
EJA as instituições tecnológicas federais, que não absorvem o discurso inclusivo
na sua forma emergencial, é fortalecida pela própria política pública que
regulamentou o PROEJA, visto que não se priorizou um segundo princípio
fundamental do programa que é a política de integração, pois “apesar das
declarações favoráveis à integração entre formação básica e formação
específica, a política de educação profissional processa-se mediante programas
focais e contingentes numa travessia marcada por intensos conflitos e no terreno
da contradição.” (FRIGOTTO 2005) O perfil inclusivo do PROEJA é, no seu
discurso, transformador (Documento Base). Contudo, há de se questionar as
bases econômicas atuais que sustentam a lógica deste programa, no projeto de
desenvolvimento econômico e social do Brasil. É importante questionar se há
uma acomodação ou o desejo de superação da lógica da divisão internacional do
trabalho que perpetua na lógica produtiva destes trabalhadores que compõem os
quadros da EJA e, em razão disso, tornam sua formação, na escola, um mero
investimento em "capital humano", adequado à reprodução ampliada do capital e
submisso a esta ordem. Este pesquisa trará como referência empírica a
experiência do PROEJA –IFRJ na sua materialidade e contradições à luz das
categorias explicitadas.

Como fundamentação teórica para realização deste estudo de pesquisa


serão analisadas as proposições e ideias de pensadores, pesquisadores e
teóricos que têm contribuído de forma significativa na área deste objeto de
estudo.

A pesquisa situa-se no âmbito dos estudos da relação entre trabalho e


educação, mais especificamente no debate sobre a Educação Profissional de
Jovens e Adultos –PROEJA- e seu impacto na formação dos trabalhadores.

Assim trabalharemos com o documento base-


BRASIL/MEC/SETEC/PROEJA-que nos dá as diretrizes do programa e sua
intenção:

Com o PROEJA busca-se resgatar e reinserir no sistema escolar brasileiro


milhões de jovens e adultos possibilitando-lhes acesso a educação e a formação
profissional na perspectivas de uma formação integral. O PROEJA é mais que um
projeto educacional. Ele, certamente, será um poderoso instrumento de resgate
da cidadania de toda uma imensa parcela de brasileiros expulsos do sistema
escolar por problemas encontrados dentro e fora da escola. Temos todas as
condições para responder positivamente a este desafio e pretendemos fazê-lo
(DOCUMENTO BASE, 2006).

Porém, analisando este documento podemos observar que ele coloca


nitidamente a responsabilidade do desemprego no próprio sujeito:

O declínio sistemático do número de postos de


trabalho obriga redimensionar a própria formação, tornando-
a mais abrangente, permitindo ao sujeito, além de conhecer
os processos produtivos, constituir instrumentos para inserir-
se de modos diversos no mundo do trabalho, inclusive
gerando emprego e renda. Nesse sentido, a discussão
acerca da identidade “trabalhador” precisa ser matizada por
outros aspectos da vida, aspectos constituintes e
constitutivos dos sujeitos jovens e adultos como a
religiosidade, a participação social e política, familiar, nos
mais diversos grupos culturais, entre outros(DOCUMENTO BASE
2006).

O capitalismo se fundamenta numa base produtiva, cujo objetivo principal é


a produção de mais-valia, que está intimamente ligada à organização do trabalho
e, atualmente, à implementação de novas tecnologias. O modelo fordista, como
processo de produção em massa, de consumo de massa, emanou novas políticas
de gerenciamento do trabalho e, apesar de ter levado quase meio século para se
consolidar totalmente, se constituiu no paradigma produtivo do capital (HARVEY,
1992, p.122).

Para HARVEY o Estado trabalha na montagem de novas formas de


regulação, caminhando na direção de um regime flexível, que vem resultando
num modelo de desenvolvimento liberal-produtivista. É nas duas últimas décadas
que temos vivido uma intensa fase de compreensão do tempo-espaço que tem
tido um impacto desorientado e disruptivo sobre as práticas político-
econômicas,sobre o equilíbrio do poder de classe, bem como, sobre a vida social
e cultural. A produção em massa e o consumo é o grande lema chamado de
fordismo. Fordismo é um sistema a organização espacial para acelerar o tempo
de giro do capital produtivo. Assim o tempo pode ser acelerado em virtude do
controle estabelecido por meio da organização e fragmentação da ordem espacial
da produção. O capital é o dominador do espaço-tempo e o faz, em parte, graças
ao domínio superior do espaço e do tempo. É um processo de reprodução da vida
social por meio da produção de mercadorias em que todas as pessoas do mundo
capitalista avançado estão envolvidas. Acumulação Flexível marca da vida pós-
moderna está marcada por uma sociedade global sem fronteiras, com poderes e
inovações marcadas por novas condições de trabalho para suprir a demanda
vigente. A necessidade do trabalhador se inserir ou se manter no mercado de
trabalho faz com que busquem cada vez mais qualificação, pensando assim
estarem aptos às exigências necessárias para ocupar um bom emprego. Mas,
percebemos no processo de restruturação produtiva um excedente de força de
trabalho, o que dá ao capital o poder de escolher entre aqueles adaptáveis às
novas demandas produtivas, em detrimento de uma multidão de trabalhadores
excluídos do mercado de trabalho ou inseridos em condições de precariedade. É
obvio que esta situação ameaça a manutenção do consenso em torno do modelo
de desenvolvimento hegemônico.

A acumulação flexível é uma particular e, talvez, nova combinação de


velhos elementos dentro da lógica dominante da acumulação do capital. As
características do capitalismo apontadas por Marx continuam sendo vigentes,
mas perante a crise do Capital que se estabelece Diante do processo de
reestruturação produtiva e reforma do Estado desencadeado em função da crise
do capital a partir dos anos 1970.No caso do Brasil, estas transformações ficaram
mais evidentes a partir dos anos 1990, quando as empresas passaram a
apresentar uma nova configuração dos processos de trabalho e de gestão da
produção, ao mesmo tempo em que o Estado renovou seus mecanismos de
mediação do conflito de classes, combinando ampliação dos espaços de
participação social e controle das decisões estatais com reformulação dos
mecanismos de conformação das camadas populares.

Há um grande interesse do jovem trabalhador em enriquecer seu


conhecimento, para se inserir ou se assegurar no mercado de trabalho. De
acordo com o discurso proferido pela classe hegemônica, para que se inserir no
mercado de trabalho é necessário que haja uma formação básica e profissional.
O Estado é fundamental no controle social, pois assume, conforme Mészáros
(2000, p. 119), o papel de favorecer o sistema capitalista, uma vez que é ele o
responsável pelo controle das classes subalternas, proporcionando à classe
dominante a garantia de resistência a possíveis revoltas da classe trabalhadora.
Como resposta a essa realidade, o governo federal desenvolveu nas duas últimas
décadas diversas políticas públicas para juventude. Dentre os diversos programas
criados, o PROEJA, cujo objetivo é ampliar a escolaridade e a qualificação
profissional desse segmento populacional.

Trabalharemos com a categoria Pedagogia da Hegemonia(NEVES 2005),


ou seja, processos educativos significativos que agem mais como mecanismo de
conformação de um contingente imenso da população destinado à precarização
do trabalho e ao desemprego, minimizando substancialmente o conflito de classe
decorrente do processo de exclusão cada vez mais intenso neste contexto de
crise do capital.

A complexifição crescente das relações capitalistas monopolistas, o


processo de redefinição dos fundamentos e das práticas do Estado brasileiro, no
sentido da consolidação e do aprofundamento do projeto burguês para a
atualidade, evidencia a pedagogia da hegemonia representada pela Terceira Via,
num processo em que o Estado ampliado se requalifica historicamente como
agente educador. A ênfase gramsciana da sociedade civil recai na parte
superestrutural da sociedade, relacionando-se dialeticamente com a base
material. A sociedade civil é analisada como o lugar da hegemonia, da imposição
do consenso e atuação do Estado educador (NEVES, 2005).
A hegemonia, além de expressar as reformas econômicas, assume o
caráter de uma reforma intelectual e moral (Kuenzer, 2005, p. 79). O Estado de
tipo ocidental, diferentemente do Estado coerção de tipo oriental, educa para o
consenso. Sendo assim, a fraseologia neoliberal da empregabilidade,
empreendedorismo, comunitarismo etc., torna-se “senso comum” (Gentili, 2005,
p. 52), de forma institucionalizada ou não, através da coerção ou da “educação”,
mediante a utilização de associações políticas e sindicais, constituindo-se em
aparelhos privados de hegemonia”.

O Documento Base do PROEJA traz a concepção de currículo integrado:

O currículo integrado é uma possibilidade de inovar


pedagogicamente na concepção de ensino médio, em resposta
aos diferentes sujeitos sociais para os quais se destina, por meio
de uma concepção que considera o mundo do trabalho e que leva
em conta os mais diversos saberes produzidos em diferentes
espaços sociais. Abandona-se a perspectiva estreita de formação
para o mercado de trabalho, para assumir a formação integral dos
sujeitos, como forma de compreender e se compreender no
mundo. O fundamental nesta proposta é atentar para as
especificidades dos sujeitos da EJA, inclusive as especificidades
geracionais. Por isso, é essencial conhecer esses sujeitos; ouvir e
considerar suas histórias e seus saberes bem como suas
condições concretas de existência. “Assim, a educação [...] deve
compreender que os sujeitos têm história, participam de lutas
sociais, têm nome e rostos, gêneros, raças, etnias e gerações
diferenciadas. O que significa que a educação precisa levar em
conta as pessoas e os conhecimentos que estas possuem”
(BRASIL, 2005, p. 17).

Em Gramsci currículo integrado parte da noção de escola unitária. O


"princípio unitário" ultrapassa a escola como instituição (Gramsci, 1977, p. 1.538)
e se relaciona à luta pela igualdade social, para superar as divisões de classe,
que se expressam na separação entre trabalho industrial e trabalho intelectual e
dividem a sociedade entre governantes e governados. A "escola unitária" é
esboçada como "um esquema de organização do trabalho cultural" (idem, ibid., p.
1.539). Tem como ponto de partida as relações sociais dentro do capitalismo, já
que Gramsci não fala em destruir o capitalismo primeiro e somente depois disso
cuidar da educação dos trabalhadores. Ele não tem uma visão dicotômica da
relação entre Estado e sociedade. A escola unitária está no horizonte de um
processo de construção que, por ser dialético, é simultaneamente de destruição.
Consiste num método de união entre o ensino e o trabalho que surge quando é
superada a formação profissional especializada, predominante na época em que
a produção econômica se baseava no artesanato. É daí que surgem as "escolas
agronômicas e politécnicas", criadas pelos filantropos ingleses para habilitar o
trabalhador ao exercício de diversas profissões. Por isso, em Marx, a "instrução
politécnica" refere-se ao ensino de muitas técnicas. Mas ele não deu à sua
proposta o nome de "educação politécnica" ou "educação tecnológica", pois
concebia a educação de uma forma bem mais ampla, incluindo também a
educação intelectual e física.

Vamos tomar o conceito em Gramsci de Revolução Passiva e Contra


Reforma: a prática do transformismo como modalidade de desenvolvimento
histórico, um processo que, através da cooptação das lideranças políticas e
culturais das classes subalternas, busca excluí-las de todo efetivo do
protagonismo nos processos de transformação social. Nas palavras de Gramsci,
como uma “ditadura sem hegemonia” (CC, 5, 330), o Estado protagonista de uma
revolução passiva não pode prescindir de um mínimo de consenso. E Gramsci
nos indica o modo pelo qual as classes dominantes obtêm este consenso mínimo,
“passivo”, no caso de processos de transição “pelo alto”, igualmente “passivos”. A
época neoliberal não destrói integralmente algumas conquistas do Welfare, o que
se deve, sobretudo, à resistência dos subalternos. Por outro lado, nos círculos
neoliberais mais ligados à chamada "terceira via”, e até mesmo em organismos
financeiros internacionais como o Banco Mundial, vem se manifestando nos
últimos tempos uma "preocupação" em face das consequências mais desastrosas
das políticas neoliberais, que continuam a ser aplicadas, entre as quais, por
exemplo, o aumento exponencial do desemprego. Mas esta "preocupação" — que
levou à adoção de políticas sociais compensatórias e paliativas, com a criação de
Programas Profissionalizantes — não anula o fato de que estamos diante de uma
indiscutível contra-reforma.

Lembremos que Gramsci nos adverte como vimos antes, para o fato de
que "as restaurações [não são] um bloco homogêneo, mas uma combinação
substancial, se não formal, entre o velho e o novo” (Gramsci, 5, 143). O que
caracteriza um processo de Contra-Reforma não é assim a completa ausência do
novo, mas a enorme preponderância da conservação (ou mesmo da restauração)
em face das eventuais e tímidas novidades.

Estes conceitos e categorias serão imprescindíveis para a análise do


PROEJA em uma perspectiva de desvelar suas práticas e intenções na
conformação da classe trabalhadora.

Metodologicamente, a base marxista gramsciana possibilitará a


observação de nosso objeto e seu lugar na hegemonia ou na contra-hegemonia
das relações sociais no período de instauração das políticas neoliberais no Brasil.

A crítica à instrumentalização de projetos de cunho progressista, levados à


adaptação a uma nova conformação societária que torna nebulosa a sociedade
civil, escondendo as relações de classe, da qual esta é o espaço dinâmico e
contraditório é um dos objetivos que nos norteiam. Para Neves os reformadores
do Estado brasileiro baseavam-se na lógica liberal de que a sociedade civil
corresponde à esfera do social, sendo parceira do Estado na execução dos
serviços sociais. Assim sendo, o que se defendia era a Terceira Via de Anthony
Gidenns – reconstruir o Estado – ir além daqueles que afirmam que o ‘governo é
o inimigo’, e da esquerda que afirma que ‘o governo é a resposta’.

Com preocupação central do papel real e transformador da educação e


considerando que ela deve gerar agentes sociais e históricos conscientes, a lente
desta análise é a teórico-crítica. Uma análise onde se investiga o avanço real de
uma política educacional e de seus limites, limites estes que devem ser
reconhecidos por todos agentes envolvidos, ou seja, a comunidade escolar que
tem o PROEJA como realidade institucional.

Como procedimentos metodológicos, a análise documental


institucional , a pesquisa bibliográfica, a aplicação de questionários e entrevistas
ao corpo docente e discente, além da observação participativa, compõem o
quadro desta pesquisa etnográfica: Estudo de campo, convivência com os atores
que fazem parte do objeto de estudo.Os Procedimentos serão análise qualitativa,
observação participada, entrevistas,questionários estruturado e semi-estruturado.

Os objetivos da pesquisa serão Investigar a materialização da Pedagogia


da Hegemonia nos programas do Governo Luis Inácio Lula da Silva,
especificamente o PROEJA no sentido de constatar se a Integração, presente nos
documentos oficiais, se dá como uma forma de emancipação em uma perspectiva
omnilateral ou como uma contra-reforma. Identificar a concepção e percepção
dos professores em relação ao ensino e aprendizagem no PROEJA com vistas ao
currículo integrado. Analisar o perfil dos docentes e de sua prática pedagógica
dirigida aos jovens e adultos acerca da proposta de currículo Integrado.
Identificando a eficiência da Pedagogia da Hegemonia, através de entrevistas
com os alunos do PROEJA, através da análise dos níveis de satisfação com o
Programa, se este atende suas expectativas profissionais de inserção no mundo
do trabalho.
Referências bibliográficas:

BRASIL-SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA -


DOCUMENTO BASE- PROEJA. 2006.

BOITO JR. Armando. Hegemonia Neoliberal e Sindicalismo no Brasil. Revista


Crítica Marxista. N°3. São Paulo, Editora Brasiliense. 1996.

DE TOMMASI, Mirian Jorge, e HADDAD, Sérgio (org.) (1998): O Banco Mundial


e as Políticas Educacionais - São Paulo: Cortez.

FRIGOTTO,Gaudêncio.Concepções e Mudanças no Mundo do Trabalho,São


Paulo.Cortez.2005
GRAMSCI ,Antonio. Cadernos do Cárcere, Ed. Civilização Brasileira.

HARVEY, David. Condição pós-moderna. 14ª edição. São Paulo: Loyola, 1992.
349p

MÉSZÁROS, I. A educação para além do capital. São Paulo: Boitempo,2005.

NEVES, Lúcia Maria Wanderley (Org.). A nova pedagogia da Hegemonia:


estratégias do capital para educar o consenso. São Paulo: Xamã, 2005.

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