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APOIO TECNOLÓGICO
2 Muitas das actividades de inovação científica são financiadas por agências ligadas às
estruturas governamentais dos EUA ou por fundações que partilham com elas propósitos (e
resultados). Grande parte do financiamento para investigação em áreas tão essenciais como
a biologia, astronomia, química e física provém destas fontes. Os países do chamado Sul, com
poucos recursos orçamentais, encontram no financiamento externo a forma de realizar
investigação de fronteira, que é depois orientada e explorada pelos próprios financiador es.
3 Este ponto é desenvolvido mais adiante em Ceceña (2004).
Ana ESTHER Ceceña
5 Evidentemente, a investigação sobre outros planetas faz parte dos contributos da indústria
tecnológica moderna, bem como a investigação sobre os comportamentos biológicos em
geral.
6 Mais elementos sobre este mesmo tema podem ser encontrados nos meus trabalhos
Ana ESTHER Ceceña
anteriores. Ver particularmente Ceceña (1998; 2004) e Ceceña et al. (1995).
OS DESAFIOS DAS EMANCIPAÇÕES NUM CONTEXTO MILITARIZADO
7 "A DARPA começou a desenvolver tecnologias de aviões furtivos no início dos anos 70 sob
o programa Have Blue, e teve as suas primeiras demonstrações proto-tipo em 1977 com a
Força Aérea F-117s, tão bem sucedida na Operação Tempestade no Deserto. Após o sucesso
do programa Have Blue's Stealth Fighter, a DARPA passou para a tecnologia de
demonstração Tacit Blue, que contribuiu directamente para o desenvolvimento do
bombardeiro B-2 destacado da Força Aérea. A tecnologia furtiva da DARPA também foi
lançada no mar: o Sea Shadow, construído em meados da década de 1980, utilizava um
aspecto semelhante ao do F-117 para escapar ao radar, enquanto a construção de cascos
duplos contribuiu para o aumento das capacidades de se infiltração. O Falcão Global e o
predador aéreo não tripulado desempenharam um papel proeminente na Operação
Enduring Freedom no Afeganistão. Mas "o mais famoso de todos os programas de
desenvolvimento tecnológico da DARPA é a Internet, que começou nos anos 60 -1970 com o
desenvolvimento da ARPANet e a sua arquitectura de protocolo de rede TCP/IP. O pacote de
comutação desenvolvido pela DARPA é o elemento de base das redes públicas e privadas,
ligando o Departamento de Defesa, o governo federal, a indústria americ ana e o mundo
inteiro" (DARPA, 2003).
OS DESAFIOS DAS EMANCIPAÇÕES NUM CONTEXTO MILITARIZADO
8 "DARPA irá concentrar-se em seis áreas nucleares de investigação nos próximos anos:
percepção computacional; representação e ressonância; aprendizagem, comunicação e
interacção; equipas coordenadas de sistemas cognitivos dinâmicos; e uma infra -estrutura
Ana ESTHER Ceceña
robusta de software e hardware para sistemas cognitivos" (DARPA, 2003).
OS DESAFIOS DAS EMANCIPAÇÕES NUM CONTEXTO MILITARIZADO
A OCUPAÇÃO DO MUNDO
9 Os contratos não podem ser renovados porque o que se procura é benefit desde o
momento inicial da criação. O cálculo que é feito é que num contrato subsequente o cientista
passaria para uma fase de desenvolvimento em vez de uma fase de invenção, e isso não
contribuiria em nada substancial para o trabalho regular da DARPA.
Ana ESTHER Ceceña
10 Sobre este ponto remeto para os meus trabalhos anteriores, a fim de evitar a repetição.
Ver especialmente Ceceña (2002, 2004 e 2004a).
OS DESAFIOS DAS EMANCIPAÇÕES NUM CONTEXTO MILITARIZADO
UM
DOIS
A área da Ásia Central, que até há pouco tempo era um dos territórios
mais críticos e estrategicamente importantes (Ceceña, 2002a) onde os
EUA tinham uma posição desvantajosa, é agora ocupada pelo Comando
Central dos EUA. As suas bases mais próximas eram, até 2001,
insuficientes, e não tinham o alcance necessário para intervir na região
da Ásia Central.
13 Geralmente, o repúdio é silencioso e não tem repercussões óbvias mas, nas ocasiões em
que foi expresso publicamente, teve um efeito nas regras e permissões destas operações e da
incursão de tropas estrangeiras. Um caso recentemente denunciado é o das comunidades
indígenas que habitam a zona de Manta e que foram brutalmente afectadas pela instal ação
Ana ESTHER Ceceña
da base e pelo seu funcionamento regular. A degradação que está a ocorrer entre os jovens
locais, o risco em que as jovens se encontram, e a desestruturação da comunidade, são as
queixas mais importantes. MAPA 1
14 O uso territorial exclusivo concedido ilegalmente aos EUA em países de quase toda a
América Latina tem sido sistematicamente denunciado pelos povos afectados.
OS DESAFIOS DAS EMANCIPAÇÕES NUM CONTEXTO MILITARIZADO
TRÊS
15 Basta recordar o caso de Guantánamo, em Cuba, que é mais uma vez motivo de escândalo
devido à impunidade com que os prisioneiros afegãos são aí torturados, servindo
OS DESAFIOS DAS EMANCIPAÇÕES NUM CONTEXTO MILITARIZADO
também o propósito de colocar Cuba em alerta sobre as actividades levadas a cabo no
interior da base e as intenções ameaçadoras para o interior da ilha.
Ana ESTHER Ceceña
MAPA 2
16 O cobalto foi identificado como um dos quatro metais de maior importância estratégica
para os EUA, de acordo com estudos realizados pelo Office de Technology Assessment
(1985) nos anos 80. As últimas avaliações continuam a indicar que é essencial para a
reprodução da sua posição hegemónica, com 49% das reservas mundiais de cobalto a
serem encontradas no Congo e outros 4% na Zâmbia. A possibilidade de controlar estas
reservas é crucial, considerando que os outros dois países com reservas significativas
são Cuba (14%) - com os quais os EUA têm uma relação muito conflictive - e a Austrália
(20%). A África do Sul é também muito importante em muitos outros metais e gemas
estratégicas.
OS DESAFIOS DAS EMANCIPAÇÕES NUM CONTEXTO MILITARIZADO
(USGS, 2005) (ver Quadro 1). A isto devem ser acrescentadas as reservas
de diamantes, silício, zircónio e alguns outros minerais dos quais este
continente possui as maiores reservas do mundo.
QUADRO 1
VULNERABILIDADE DOS EUA EM METAIS ESTRATÉGICOS
QUADRO 1 (CONTINUAÇÃO)
VULNERABILIDADE DOS EUA EM METAIS ESTRATÉGICOS
Berílio Kasajastan (28%), Japão (24%), Brasil (10%), Espanha (6%), outros países
(32%)
Níquel Canadá (40%), Rússia (14%), Noruega (11%), Austrália (10%), outros países
(25%)
Cobre Canadá (28%), Chile (26%), Peru (23%), México (9%), Outros países
(14%)
Alumínio Canadá (59%), Rússia (17%), Venezuela (5%), México (2%) outros países
(17%)
Ferro de Canadá (49%), Brasil (41%), Austrália (4%), Chile (3%), outros países (3%)
engomar
Germanium Dados Bélgica (31%), China (29%), Taiwan (15%), Rússia (10%), outros países
não (15%)
acessívei
s
Hafnio Dados França (50%), Canadá (30%), China (10%), Japão (10%)
não
acessívei
s
Molibdénio Exportador** Ferromolibeno: China (78%), Reino Unido (20%). Concentrados de
* molibdénio: México (58%), Canadá (38%), Chile (2%).
Titânio Exportador Canadá (29%), Alemanha (12%), França (8%), China (7%), outros países
(TiO2) (44%)
Zircónio Exportador Nas minas e concentrados: Austrália (46%), África do Sul (38%), outros
países (16%). Zircónio em pó e não trabalhado: Alemanha (58%), Canadá
(22%),
Argentina (3%), China (3%), outros países (14%)
Fonte: Pesquisa de Paula Porras com informação do USGS (2002 e 2005).
Grande parte do cobalto produzido no Congo é refinado pela empresa finlandesa Kokkola
Chemicals Oy Refinery. Desta forma, o cobalto do Congo chega aos Estados Unidos através da
Finlândia: não é o único caso, mas um dos mais significant.
No caso dos materiais de que os Estados Unidos são exportadores, encontramos fontes de
abastecimento externo porque os metais passam sempre pelos processos de extracção,
beneficiation ou concentração, fundição, e diferentes níveis de refination. É por isso q ue existem
movimentos de importação e exportação, mas referem-se a metais em diferentes pontos do seu
processo de purificação.
MAPA 3
GUERRA ASSIMÉTRICA
19 Uma visão psicanalítica sobre este ponto é desenvolvida por Slavoj ÿizek (2003). A
confusão ou vazio produzido, em grande medida pelos meios de comunicação social, causa
uma espécie de esquizofrenia entre o que a pessoa vive e o que lhe é dito que vive, ao ponto
de precisar de um confirmation sobre a realidade que é fornecido pelo Estado através
das instâncias dos meios de comunicação social.
Ana ESTHER Ceceña
20 De acordo com Steven Metz, foi apenas nos anos 90 que o Departamento de Defesa
dos EUA começou a oficially levantar o problema da assimetria como uma questão
estratégica (Metz, 2002).
OS DESAFIOS DAS EMANCIPAÇÕES NUM CONTEXTO MILITARIZADO
21 Badiou salienta que não existem sujeitos humanos abstractos, mas sim seres
humanos na possibilidade de se tornarem sujeitos através de um processo de verdade
Ana ESTHER Ceceña
que os leva a uma ruptura imanente. É a paixão ou fidelity para uma verdade que os
move à subjectividade (Badiou, 2002).
OS DESAFIOS DAS EMANCIPAÇÕES NUM CONTEXTO MILITARIZADO
que não podem ser circunscritos nem na esfera social nem na esfera
política porque se movem em todas as esferas, propondo uma
transformação da totalidade que implica novos procedimentos e
conteúdos.
E os povos na fase neoliberal foram efectivamente atirados
para as últimas fronteiras. Geograficamente é-lhes negada a
territorialidade e politicamente ou culturalmente são apagados do
imaginário social. A ambição de poder absoluto que procura
incessantemente perseguir, humilhar e esmagar os dominados de
forma implacável e desumana, que procura tirar toda a dignidade, que é
um pilar da ideologia e do senso comum do pensamento militarista dos
dominadores, é eloquentemente expressa no comportamento das
tropas dos EUA em qualquer parte do mundo - comportamento
criticado até mesmo por alguns conselheiros do Pentágono porque
contribui para aumentar a insegurança do exército em relação às
populações ocupadas.22 O facto de os EUA serem o único país do
mundo que conseguiu controlar os dominados não é apenas um
exemplo do desejo dos militares pelo poder absoluto, mas também do
desejo dos militares pelo domínio dos dominados, que é a base da
ideologia e do senso comum do pensamento militarista dos
dominadores.
A estratégia de guerra assimétrica que consiste em cobrir tudo
(espectro total) para não deixar espaço ao inimigo (Joint Chiefs of Staff,
2000) leva a pretensão de humilhação aos níveis em que desencadeia
a luta pela recuperação da dignidade.
As insurreições populares que podemos observar em todo o
mundo têm como marca de identidade este carácter
recuperador/recriador de dignidade e significados, de identidades; novas
identidades, que, embora carregadas de tradições e histórias, estão a ser
inventadas na luta.
A maior parte dos movimentos de hoje encontram o seu
significado no território e a partir daí revoltam-se. Território como
espaço de inteligibilidade do complexo social em que a história é traçada
desde o mundo até ao cosmos e engloba todas as dimensões do
pensamento, da sensibilidade e da acção. É o lugar onde reside a história
que vem de longe para nos ajudar a encontrar os caminhos para o
horizonte. Daquele lugar onde a terra adquire forma humana e toma forma
nos homens e mulheres de milho, nos da cor da terra, ou nos homens e
mulheres de mandioca, trigo e arroz. Do território cultural, do território
complexo (Ceceña, 2000 e 2004b) onde são geradas práticas e utopias, os
significados de vida e morte, os tempos e universos de entendimento. É
lá que
Ana ESTHER Ceceña
22 "Uma chave para o sucesso é a integração das tropas com a população local, na maior
medida possível. Infelizmente, a doutrina americana de protecção da força mina este
tipo de integração" (Lind, 2005: 15). "...] é preciso procurar preservar o Estado mesmo
quando se o derrota. Dar 'honras de guerra' às forças contrárias, dizendo -lhes que
tiveram um bom desempenho, tornando a sua derrota 'civilizada' para que sobrevivam à
guerra institucionalmente intactas e depois trabalhem com as suas forças [...] Humilhar
as tropas derrotadas do inimigo, especialmente perante o seu próprio povo, é sempre um
erro da primeira ordem, mas é algo que as Forças Armadas [dos EUA] estão habituadas a
fazer" (Lind, 2005: 6). (Lind, 2005: 16).
OS DESAFIOS DAS EMANCIPAÇÕES NUM CONTEXTO MILITARIZADO
BIBLIOGRAFIA
AAAS 2005 Acção do Congresso sobre I&D no Orçamento para o AF de 2004 em
<http://www.aaas.org/spp/rd/default.htm>.
Agamben, Giorgio 2003 fítat d'exception (Paris: Seuil).
Badiou, Alain 2002 Para uma nova teoría do sujeito (Rio de Janeiro:
Relume Dumará).