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REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE

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TRIBUNAL ADMINISTRATIVO

PIMEIRA SECÇÃO

Processo n.º 255/2009-1.ª

ACÓRDÃO N.º 78/2016

Acordam, em conferência, na Primeira Secção do Tribunal


Administrativo:

CARLOS MUIAIA FISCAL, com os demais elementos de identificação


constantes dos autos do processo à margem indicado, interpôs, perante
esta instância da jurisdição administrativa, nos termos do disposto no
artigo 922.º do Código de Processo Civil, (CPC), aplicável ex vi do artigo 1
da Lei n.º 9/2001, de 7 de Julho, Lei do Processo Administrativo
Contencioso (LPAC), e esta última, por força do disposto no artigo 228 da
Lei n.º 7/2014, de 28 de Fevereiro, Lei que regula os procedimentos
atinentes ao Processo Administrativo Contencioso (LPPAC), do que
chamou de “recurso de apelação” contra o Despacho n.º 2210/4D.19/89,
datado de 10 de Agosto, do Ministro das Obras Públicas e Habitação,
proferido em sede do recurso tutelar contra o Despacho da Direcção
Regional da Empresa CETA E.E, datado de 9 de Fevereiro de 1987, que o
desvincula como trabalhador daquela empresa, louvando-se, em síntese,
nos factos e fundamentos seguintes:

Foi trabalhador da empresa CETA, E.E, desde 4 de Setembro de 1979, com


a categoria de Carpinteiro “B” e, mais tarde, veio transferido, sem aviso
prévio, para a sede da Direcção Regional, em 1984 para exercer as funções

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de Escriturário “C” em acumulação com as de responsável do A.E.A,
Formação Profissional, Higiene e Segurança no Trabalho a nível Regional;
Instrutor Alfabetizador/Educador de A.E.A. na Obra 503 e, ainda, dos
assuntos Sindicais, desvinculado no âmbito da reestruturação da empresa,
ocorrida em 9 de Fevereiro de 1987, por ter sido considerado mão-de-obra
excedentária e inactiva.

Entretanto, no processo da sua desvinculação, não foi respeitada a


legislação em vigor sobre a matéria, mormente a Lei n.º 8/85, de 14 de
Dezembro, Lei do Trabalho, e a Constituição da República, porquanto não
lhe foi pago o valor da indemnização correspondente ao tempo de serviço
prestado na empresa, tendo apenas sido pago 3 (três) meses de salário de
pré-aviso, sem aplicação da percentagem de 50%, correspondente ao
aumento de salários em vigor no País, sentindo-se prejudicado e
considerar que foi despedido sem justa causa.

Deste modo, requer o pagamento da devida indemnização, nos termos do


disposto no artigo 29 da Lei n.º 8/85, de 14 de Dezembro, Lei do Trabalho,
que se calcula da seguinte forma:

Tempo de serviço prestado na empresa CETA, E.E: 8 anos = 96 meses

Salário mensal: 5.600,00MT

96 meses* 5.600,00MT = 537.600,00MT* 2 = 1.075.200,00MT.

Tempo privado de exercer as funções de carpinteiro, sem rescisão do


respectivo contrato: 22 anos= 264 meses

264 meses* 5.600,00MT = 1.478.400,00MT

Total da indemnização: 1.478.400,00MT + 1.075.200,00MT =


2.553.600,00MT (dois milhões, quinhentos e cinquenta e três mil e
seiscentos meticais da antiga família).

No mais, dá-se por integralmente reproduzido o conteúdo da petição de


folhas 2 a 4 dos autos, para todos os efeitos legais.

Juntou os documentos de folhas 5 a 43 dos autos.

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Em seu primeiro despacho, exarado a folhas 45 e 45 verso, o juiz relator
ordenou a notificação do recorrente para corrigir as irregularidades da
petição inicial, mormente a indicação do meio processual de que lançou
mão, tendo em conta o disposto no artigo 2 da Lei n.º 9/2001, de 7 de
Julho.

Porém, feitas as diligências, não foi possível notificar o recorrente, tendo-


se encontrado um parente que informou que o mesmo perdeu a vida, no
mês de Novembro de 2009 (vide folhas 46 a 51 dos autos).

A folhas 53 dos autos, exarou um outro despacho, ordenando a sua


notificação por edital, através do seu mandatário judicial, no entanto,
terminou o prazo previsto sem a confirmação, por parte do tribunal
deprecado, da notificação do recorrente, através do seu mandatário
judicial (fls. 54 a 57 dos autos).

No visto, o Digníssimo Magistrado do Ministério Público, neste tribunal,


promoveu a insistência da diligência da notificação do mandatário judicial
do recorrente junto do tribunal deprecado (fls. 57 verso).

Colhidos os vistos legais, cumpre, agora apreciar e decidir.

Veio o impetrante, pela peça constante de folhas 2 a 4 dos autos, interpor,


nos termos do disposto no artigo 922.º do CPC, aplicável ex vi do artigo 1
da LPAC, e por força do disposto no artigo 228 da Lei n.º 7/2014, de 28 de
Fevereiro, LPPAC, o que designou de “recurso de apelação” contra o
Despacho n.º 2210/4D.19/89, datado de 10 de Agosto, do Ministro das
Obras Públicas e Habitação, proferido em sede de recurso tutelar, contra
o despacho da Direcção Regional da Empresa CETA E.E., datado de 9 de
Fevereiro de 1987, que o desvincula, sem justa causa, de trabalhador
daquela empresa, requerendo, no final, o pagamento de uma
indemnização que considera justa, no valor de 2.553.600,00MT (dois
milhões, quinhentos e cinquenta e três mil e seiscentos meticais da antiga
família), nos termos do disposto no artigo 29 da Lei n.º 8/85, de 14 de
Dezembro, Lei do Trabalho.

Autuada a petição, foram os autos conclusos ao juiz relator que constatou


deficiências e irregularidades na petição inicial, e, sobretudo, a clareza do

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meio processual que o impetrante lançou mão, tendo em consideração o
disposto no artigo 2 da LPAC; consequentemente ordenou, nos termos do
artigo 56, n.º 1, da mesma lei, a notificação do recorrente para suprir ou
corrigir as irregularidades, apresentando uma nova petição.

No entanto, apesar de todo o esforço feito, incluindo a insistência, por via


de edital, não foi possível notificar o recorrente na sua pessoa, nem na do
seu mandatário judicial, havendo informações (embora não confirmadas
por meio da correspondente certidão) segundo as quais o impetrante
faleceu em Novembro de 2009 (vide fls. 49 dos autos).

Por outro lado, a falta de suprimento ou correcção de irregularidades


apontadas no despacho não reclamado para a conferência, como no caso
vertente, tem como efeito a rejeição do recurso, conforme prescreve o
artigo 56, n.º 3, da Lei n.º 9/2001, de 7 de Julho, Lei do Processo
Administrativo Contencioso.

Ademais, da petição apresentada não se pode descortinar o meio


processual de que lançou mão, para tutelar o seu direito ou interesse
legalmente protegido.

Tendo em conta que, nos termos do disposto no artigo 2 da LPAC, a todo


o direito subjectivo público ou interesse legalmente protegido,
corresponde um meio processual próprio destinado à sua tutela
jurisdicional efectiva, na falta de uma clara indicação, nem se podendo
dela extrair a pretensão do autor, a petição é liminarmente indeferida, ao
abrigo do disposto na parte final da alínea c) do n.º 1 do artigo 474.º do
Código de Processo Civil, aplicável por força do disposto no artigo 1 da
LPAC, aplicável ex vi do artigo 228 da Lei n.º 7/2014, de 28 de Fevereiro,
termos em que acordam os Juízes Conselheiros da Primeira Secção.

Sem custas, por ter apresentado atestado de pobreza (fls.11 dos autos).

Registe-se e notifique-se.

Maputo, 9 de Agosto de 2016.

José Luís Maria Pereira Cardoso – Relator

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Paulo Daniel Comoane

David Zefanias Sibambo

Pelo Ministério Público,


Fui Presente

Taíbo Caetano Mucobora,


Procurador-Geral Adjunto

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