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MODELO PARA A ENTREGA DAS ATIVIDADES (veja instruções no rodapé)

CURSO: Licenciatura em Letras

POLO DE APOIO PRESENCIAL: Campinas

SEMESTRE: 2°

COMPONENTE CURRICULAR / TEMA: Didática/ Pratique

NOME COMPLETO DO ALUNO: Cícero Costa Villela

TIA: 20505647

NOME DO PROFESSOR: MILENA COLAZINGARI DA SILVA

Assistir a um trecho do filme “Entre os Muros da Escola” é uma experiência capaz de nos dar indícios
de quais são possíveis problemas no processo de ensino e aprendizagem entre o professor de francês e seus
alunos. Falamos indícios, já que se trata de um filme longo e que, além disso, é preciso levar em conta que as
relações “entre os muros” são dinâmicas. Neste trabalho vamos nos dedicar a olhar as cenas iniciais a partir da
perspectiva trazida por Marli E.D.A. de André em seu texto “Questões do Cotidiano na Escola de Primeiro Grau”.
Segundo a autora, para que possamos captar a totalidade das relações que acontecem no cotidiano
da sala de aula, é preciso que levemos em conta diferentes dimensões do fazer educacional. Ela elenca três
dimensões: a institucional/organizacional; a dimensão instrucional/pedagógica e, por fim, a dimensão
histórica/filosófica/epistemológica.
Essas dimensões vão nortear a breve a análise que faremos do trecho do filme. O primeiro ponto que
devemos levar em conta diz respeito ao contexto escolar, ou seja, à dimensão institucional/organizacional, que
envolve os aspectos referentes ao contexto da prática escolar, tais como, formas de organização do trabalho
pedagógico, as estruturas de poder e de decisão, os níveis de participação de seus agentes. Logo no início da
cena, quando na sala dos professores cada um dos membros da escola se apresenta, nos dá pistas de que há
ali um certo compartilhamento ou, ao menos, cumplicidade entre os professores. Além disso, nas falas pode-se
depreender que se trata de uma escola do subúrbio e que recebe alunos de classes mais pobres e imigrantes.
Essa conjuntura escolar vai afetar diretamente as aulas do professor de francês. Ao que parece, esse
professor vem de uma classe social diferente da dos alunos, fazendo com que sua posição de classe impacte
em escolhas pedagógicas na sala de aula. Um exemplo disso, diz respeito aos nomes escolhidos para exemplos
em frases. Em determinado momento ele usa uma frase cujo sujeito é “Bill”, os alunos retrucam-no, ao perguntar
se ele não poderia usar outros nomes. A questão étnica aparece nesse momento com força, os alunos o
questionam os motivos de não ser utilizados nomes como Rashid ou Ahmed, nomes mais próximos da cultura
francesa e da cultura árabe, nesse momento a questão da origem não francófona dos alunos se apresenta. Ou
seja, há aqui uma resistência dos alunos aos nomes, que não diz respeito apenas a esse aspecto, mas a uma
tentativa de se sentirem mais reconhecidos ou pertencentes à sala de aula
Esse aspecto contextual da origem dos alunos e do bairro onde se encontram, materializado na
intervenção dos estudantes durante a aula, também nos serve de indício para entendermos o aspecto
instrucional, que abrange todas as situações de ensino onde se dá o encontro professor-aluno-conhecimento.
Nesse aspecto, a escolha dos nomes nas frases nos indica um certo desvão entre professor e alunos, ao se
utilizar de exemplos provenientes de realidades distantes daqueles alunos. A história dos alunos é
desconsiderada, fazendo com que a realidade do ensino se torne distante da vida cotidiana desses sujeitos.
O fato de tais elementos serem desconsiderados na prática de sala de aula nos aponta para a
dimensão histórica/filosófica/epistemológica da análise. Há, pelo simples olhar do professor, o julgamento e
separação dos grupos da sala de aula entre os que se sentam no fundo com capuz, por exemplo, as meninas
questionadoras e uma aluna mais introspectiva, por exemplo. Ou seja, as posições em que esses alunos são
colocados já está dada previamente no imaginário da escola, o que gera uma certa surpresa quando um dos
alunos do “fundão” menciona Mozart, compositor clássico e símbolo de distinção no consumo musical de uma
suposta elite. Essa categorização prévia, apaga esses sujeitos, eles perdem suas histórias pessoais, seus
talentos, suas potencialidades, sendo vistos apenas a partir da ótica do grupo em que se insere na sala.
Além desse elemento, um outro exemplo que podemos utilizar para mostrar a dimensão
epistemológica, aparece quando dois professores conversam, olhando para o diário de classe e um deles
classifica os alunos como “bem-comportados” e “mal-comportados”. Ou seja, há todo um processo de que esses
alunos só podem ser vistos dentro dessas categorias. Todo esse processo impacta na concepção que se tem de
ensino, nossos exemplos nos mostram que essa é uma escola em que há um confronto entre alunos e
professores, já que a concepção do que é ensinar um conteúdo para aqueles alunos está completamente distante
da realidade deles. Esses elementos da diferença, que poderiam ser incorporados para um processo de
entendimento de suas próprias realidades é simplesmente ignorado em nome de um formalismo e de um pré-
julgamento, ou desconhecimento, de quem são realmente os estudantes “entre os muros da escola”.

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