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PARTE GERAL

WJUR0315_v2.0
Jeferson Alexandre Gramasco

PARTE GERAL
1ª edição

Londrina
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
2020

2
© 2020 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


__________________________________________________________________________________________
Gramasco, Jeferson Alexandre.
G745p Parte geral/ Jeferson Alexandre Gramasco, – Londrina:
Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2020.
44 p.

ISBN 978-65-87806-66-2

1. Parte geral. 2. Notarial. 3. Registro I. Título.

CDD 352.8
____________________________________________________________________________________________
Raquel Torres - CRB: 6/2786

2020
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CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
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PARTE GERAL

SUMÁRIO
Natureza Jurídica da Delegação______________________________________ 05

Ética e Deontologia do Notário e do Registrador_____________________ 22

Disciplina Constitucional da Delegação de Notas e Registros Públicos


______________________________________________________________________ 40

Notários e Registradores ____________________________________________ 57

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Natureza Jurídica da Delegação
Autoria: Jeferson Alexandre Gramasco
Leitura crítica: Adriano César da Silva Álvares

Objetivos
• Apresentar a Lei nº 8.935, de 18 de novembro de
1994, conhecida como Estatuto dos Notários e
Registradores, sua estrutura e conteúdo.

• Conhecer a finalidade dos serviços e as atribuições


principais de cada especialidade.

• Relatar o regime disciplinar aplicado ao pessoal


atuante nesses serviços.

• Discutir a natureza jurídica das delegações de notas


e registro.

5
1. Introdução

Nesta aula, você tomará conhecimento do regime legal da atividade


notarial e registral, conhecimento essencial para conhecer a finalidade e
atribuições, bem como discutir o regime disciplinar e a natureza jurídica
da delegação.

2. A Lei n° 8.935, de 1994

Antes da Constituição Federal de 1988, notários e registradores eram


tratados como servidores da justiça, pertencentes ao foro extrajudicial,
para distingui-los daqueles que atuavam diretamente no processo
judicial (foro judicial). Segundo Bradelli (2007), a organização e a
atribuição desses serviços, tidos como auxiliares, eram feitas pelos
Tribunais de Justiça. Em virtude desse panorama, na doutrina da época,
difundiu-se a ideia de que notários e registradores eram funcionários
públicos.

No entanto, com o advento da Constituição Federal de 1988, essa


realidade foi alterada. O art. 236 da Constituição Federal fixou as
diretrizes básicas para os serviços notariais e de registro (BRASIL,
1988). Posteriormente, a Lei nº 8.935, de 18 de novembro de 1994,
regulamentou o artigo, que ficou conhecida como Estatuto dos Notários
e Registradores, Lei Orgânica dos Notários e Registradores, ou ainda, Lei
dos Cartórios.

Apesar do art. 236, §1º da Constituição Federal exigir, expressamente,


a edição de lei para regulamentar a atividade, a jurisprudência do STF
é firme no sentido de que o art. 236, “caput”, é norma autoaplicável,
de vigência imediata desde 5 de outubro de 1998, produzindo efeitos
antes do advento da Lei nº 8.935, de 1994 (BRASIL, 2016; 2019). Note
que a atividade extrajudicial, segundo o “caput” do referido artigo, é de

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delegação obrigatória, não podendo ser executada diretamente pelo
Estado. Desse modo, qualquer disposição legal anterior à Constituição
Federal de 1988 que seja incompatível com a regra, considera-se não
recepcionada (BRASIL, 1988).

O art. 236 e a Lei nº 8.935 promoveram mudanças na realidade vigente,


traçando os contornos da atividade notarial e registral. Por sua vez,
a Lei nº 8.935, de 1994, regulamenta a natureza e as finalidades dos
serviços notariais e de registro, os titulares e seus prepostos, atribuições
e competências, ingresso na atividade, responsabilidade civil e criminal,
incompatibilidades e impedimentos, direitos e deveres, infrações
disciplinares e penalidades, a fiscalização pelo Poder Judiciário, a
extinção da delegação e, por fim, a seguridade social.

Ao ingressarem na atividade, notários e registradores recebem por lei


uma parcela do poder do Estado, esse poder é chamado de fé pública
(art. 3ª da Lei nº 8.935, de 1994). Essa fé confere segurança às relações
jurídicas, estabelecendo confiança entre os particulares. Por exemplo,
os documentos produzidos por intervenção desses profissionais do
direito e os atos praticados por eles são considerados como autênticos,
verdadeiros.

É com base na fé pública que a Lei nº 8.935, de 1994, estabelece as


finalidades desses serviços, que garantem segurança, autenticidade,
publicidade e eficácia dos atos jurídicos (BRASIL, 1994, art. 1º). Além
disso, podemos utilizar a mnemônica SAPE, que significa: segurança,
que traduz a ideia daquilo que é certo, estável, firme; autenticidade
é a qualidade daquilo que é confiável, fidedigno, que representa a
verdade; público é aquilo que se faz conhecido de todos; e eficaz, é
aquilo que produz o efeito desejado. Assim, os fatos e documentos nos
quais notário ou registrador intervenham são tidos como verdadeiros
(autênticos), produzem os efeitos para os quais foram criados (são
eficazes), são presumidamente conhecidos por todos (publicidade) e, por
isso, conferem segurança.

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Figura 1 – Finalidades dos serviços notariais e registrais

Fonte: elaborada pelo autor.

Os titulares dos serviços notariais são os tabeliães de notas,


tabeliães e oficiais de contratos marítimos e os tabeliães de protesto,
que autuam nos tabelionatos. A eles é dada a atribuição genérica
de formalizarem os contratos e declarações das partes, conforme
as normas jurídicas, para que tenham validade; intervir nos atos e
negócios jurídicos, prestando consultoria e assessoramento jurídicos
sobre o melhor meio jurídico de alcançar os efeitos e as consequências
desejados pelos interessados; autenticar fatos; e expedir traslados e
certidões. Aos tabeliães de notas é, ainda, dada a atribuição específica
de lavrar procurações e escrituras; testamentos públicos e aprovação
dos testamentos cerrados; atas notariais; reconhecimento de firmas
e autenticação de cópias. Aos tabeliães e oficiais de registro de
contratos marítimos, por sua vez, é dada a atribuição específica
para formalizar atos, contratos e instrumentos sobre transações de
embarcações, registrar esses documentos e reconhecer firmas. Aos
tabeliães de protesto é dada a atribuição específica de protocolar
documentos de dívida, intimar os devedores para aceitá-los, devolvê-los
ou pagá-los, receber pagamento e dar quitação; formalizar o registro do
protesto ou acatar o pedido de desistência e averbar o cancelamento e
as alterações nos registros de protesto.

Além disso, os titulares dos serviços registrais são os oficiais de


registro de imóveis, oficiais de registro de títulos e documentos e civis

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de pessoas jurídicas, oficiais de registro civis das pessoas naturais e de
interdições e tutelas, e oficiais de registro de distribuição. Desse modo,
a eles são atribuídas às práticas dos atos mencionados na legislação,
uma vez que só podem registrar os atos expressamente previstos na
lei, em observância ao princípio da taxatividade, regente dos registros
públicos.

Há comarcas nas quais têm mais de um oficial de registro de títulos e


documentos e civis de pessoas jurídicas, ou mais de um Tabelionato de
Protesto. Nessas comarcas, pode ocorrer dos titulares dessas serventias
acordarem em criar um serviço distribuidor, a fim de distribuir de
forma equilibrada o volume de serviço entre eles, sendo obrigatória aos
protestos a distribuição. Essa distribuição, por sua vez, fica a cargo dos
oficiais de registro de distribuição, os quais recebem a atribuição de
registrar os atos praticados, efetuar averbações e cancelamentos dos
títulos a eles submetidos, além de expedir certidões de seus registros e
papéis.

Por fim, você conhecerá o regime disciplinar estabelecido pela Lei


n° 8.935, de 1994, para notários e registradores. Além disso, outros
aspectos dessa lei serão analisados nos capítulos seguintes.

É o Estado (Poder Executivo) quem detém a titularidade dos serviços


notariais e registrais. No entanto, coube ao Poder Judiciário a fiscalização
dessas atividades extrajudiciais (art. 236, §1º da Constituição Federal de
1988), especificamente ao Poder Judiciário dos Estados, através de seus
Tribunais.

Os Tribunais de Justiça dos Estados exercem essa fiscalização por meio


de suas Corregedorias Gerais da Justiça, órgão superior integrante da
estrutura dos Tribunais de cada Estado, essa função é denominada
função correcional1.
1
O termo “correição” é sinônimo de “correção”. Na tradição judiciária utiliza-se o termo “correição”, mas a
variante “correicional” não existe no vocabulário ortográfico da língua portuguesa, sendo o correto utilizar
“correcional” (COSTA, 2011, [s.p.]).

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A regulamentação dessa função, por determinação do art. 37 da Lei
nº 8.935, de 1994, ficou a cargo desses órgãos Estaduais. Logo, essa
função, além da fiscalização, agrega a competência normativa para
realizar a regulação da atividade, à exemplo das normas administrativas
pertinentes a cada especialidade, a implementação destas regras e a
fiscalização do seu cumprimento. Além disso, ela agrega o poder de
impor sanções como punição para as infrações cometidas, por sua vez,
isso se denomina de poder censório-disciplinar da Corregedoria.

As Corregedorias Gerais da Justiça editam atos e decisões normativas,


vinculantes da atividade extrajudicial e o fazem conforme poder
outorgado pela Constituição Federal ao Poder Judiciário, nos termos do
art. 96 (BRASIL, 1988).

A função correcional sobre o delegatário é exercida de forma direta pelo


órgão superior (normalmente o Corregedor Geral da Justiça e seus Juízes
Corregedores Auxiliares) ou por meio dos juízes corregedores locais
(por determinação do art. 38 da Lei nº 8.935, de 1994), normalmente
denominados de Juízes Corregedores Permanentes, a exemplo do
Estado do Rio Grande do Sul (art. 4º da Consolidação Normativa Notarial
e Registral2
), do Estado da Bahia (art. 13 do Código de normas e procedimentos dos
Serviços notariais e registrais do Estado da Bahia – CNP/BA3
) e do Estado de São Paulo (item 10 do capítulo XIII das Normas de
Serviço da Corregedoria Geral da Justiça4
). Estes são os juízes de direito atuantes na vara Cível local, nomeados
pela Corregedor Geral da Justiça para exercer a fiscalização de
determinado Serviço notarial ou registral daquela comarca. Assim, os

2
Art. 4º – A fiscalização dos Serviços Notariais e de Registro será exercida pelo juízo da Direção do Foro da
comarca a que pertencem, de ofício ou mediante representação de qualquer interessado, sem prejuízo das
atribuições do Corregedor-Geral da Justiça (BRASIL, 2020b).
3
Art. 13 – A Corregedoria Permanente das unidades do serviço notarial e de registro caberá aos Juízes das
Varas de Registros Públicos mais antigos na comarca, ou àqueles os quais a Lei de Organização Judiciária do
Estado da Bahia afetar essa atribuição (BRASIL, 2020a).
4
10 - A Corregedoria Permanente dos serviços notariais e de registro caberá aos Juízes a que o Código Judici-
ário do Estado, as Leis de Organização Judiciária e os Provimentos cometerem essa atribuição (BRASIL, 2019).

10
tabelionatos de notas ou oficiais de registro de uma mesma comarca
podem sofrer fiscalização por juízes corregedores locais diversos.

Essa atividade fiscalizatória e normativa das corregedorias se embasa


na sujeição que vincula os delegatários a esses órgãos, por meio de
seleção por concurso público no qual obtiveram aprovação e aceitação
da outorga do serviço correspondente à sua delegação.

Logo, é importante se atentar ao fato de que o poder censório-


disciplinar das corregedorias tem como destinatário o titular da
delegação, isto é, a figura do tabelião e do oficial, e a ele se limita.
Assim, não alcança os prepostos contratados pelos titulares. De
acordo com El Debs (2018, p. 1871), estes prepostos se submetem
ao poder disciplinar do delegatário, nos termos da lei trabalhista,
estabelecendo-se, assim, uma gradação. Para seu melhor entendimento,
um exemplo desse regime pode ser dado com base nas decisões
exaradas pela Corregedoria Geral da Justiça do Estado de São Paulo
(BRASIL, 2007, [s.p.]):

(10/2006-E) – Proc. CG nº 943/2005

PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR – Inadmissível imposição


de pena a oficial interino, pois apenas os titulares de delegação estão
sujeitos ao poder censório-disciplinar (item 1, Capítulo V, do Provimento
CG nº 5/96) – Decretação de nulidade, de ofício, de todo o procedimento
disciplinar, inclusive da decisão do MM. Juiz Corregedor Permanente
impositiva de pena.

(174/2007-E) – Protoc. CG nº 17.432/2007

PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR – Inadmissível sua


instauração, pelo Juízo Corregedor Permanente, em relação a preposto
de serventia extrajudicial, pois somente os titulares de delegação
estão sujeitos ao seu poder censório-disciplinar (item 1, Capítulo V, do
Provimento CG nº 5/96) – Decretação de nulidade, de ofício, de todo o
procedimento disciplinar. No mesmo sentido: Proc. CG nº 2007/19.819.

11
A correição (fiscalização) sobre a Serventia (unidade notarial ou
registral) se divide em quatro espécies: (1) a correição ordinária, que
consistente na fiscalização previamente agendada, com data e hora
informadas ao titular; (2) a correição extraordinária, consistente numa
fiscalização excepcional, de inopino, a qualquer dia e hora sem prévio
aviso; (3) a visita correcional ou inspeção, que consistente numa
fiscalização com finalidade de verificar se as irregularidades constatas
em correições anteriores foram sanadas ou para verificar algum fato
determinado; e (4) a correição “on-line” ou virtual (essa denominação
pode variar de acordo com os Estados), que é uma espécie de correição
tecnológica à distância, sem a visita física do corregedor, realizada por
meio eletrônico.

Por meio das correições, o Estado tem a possibilidade de verificar a


existência de irregularidades na prestação do serviço e, assim, exercer
seu poder censório-disciplinar para punir infrações cometidas, aplicando
as penas previstas no art. 32 da Lei nº 8.935, de 1994, conforme os
critérios de aplicação previstos nos arts. 33 e 34 da mesma lei, os quais
você pode conhecer de acordo com a figura a seguir.

Figura 2 – Aplicação das penas aos notários e registradores

Fonte: elaborada pelo autor.

12
A perda da delegação, que é a pena mais grave entre todas as outras,
somente poderá ser aplicada por meio de sentença judicial com trânsito
em julgado, ou mediante decisão exarada em processo disciplinar
administrativo, assegurado o contraditório e ampla defesa, nos termos
do art. 5º, LV, da Constituição Federal5
, por motivo de falta gravíssima, grave violação da legislação pelo
delegatário (BRASIL, 2009b) ou condenação criminal a pena privativa
de liberdade. Por fim, de acordo com El Debs (2018, p.1867-1871), com
exceção da perda da delegação, as outras penas poderão ser cumuladas,
desde que haja referência a fatos diversos.

3. Natureza jurídica da delegação

Veja que todo serviço notarial e registral é delegado, onde se fala


em nome do Estado. Mas qual a natureza dessa delegação? No item
anterior, você aprendeu que a delegação dos serviços extrajudiciais
é outorgada pelo Estado ao particular (pessoa física). No entanto, o
que são os cartórios, bem como os notários e registradores? O STF
já manifestou entendimento de que os notários e registradores são
particulares em colaboração com o Estado exercendo suas atividades
em nome dele, sob fiscalização permanente do Poder Judiciário. Ou
seja, são pessoas naturais delegatárias de serviço público que prestam
um serviço público, mas não são servidores públicos, senão agentes
públicos em colaboração (BRASIL, 2019). Eles exercem uma função
pública sem titularizar o cargo público efetivo (BRASIL, 2006). Assim, as
serventias são um feixe de competências públicas que formalizam atos
de criação, preservação, modificação e extinção de direitos e obrigações,
remuneráveis por tarifa cuja natureza é de tributo, mais especificamente
na modalidade de taxa (BRASIL, 2011). Desse modo, decorre que: (1) o
STF considera os serviços notariais e registrais como sendo espécies do

5
LV - Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o con-
traditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes (BRASIL, 1988).

13
gênero “serviços públicos”; (2) as serventias são órgãos públicos, eis que
geridas por agentes públicos (tabelião ou oficial), desprovidas, portanto,
de personalidade jurídica; o detentor dessa personalidade é o seu titular
(notário ou registrador).

A titularidade dos serviços notariais e registrais é do Estado, mas


qual Poder? Há certa polêmica a permear o assunto: (1) Brandelli
(2007, p. 58) entende que o titular do poder delegante é o Poder
Judiciário, uma vez que detém a competência para delegar o exercício
dessa atividade, bem como reconhecer as hipóteses de extinção da
delegação; (2) Loureiro (2020, p. 170) entende que o titular dos serviços
notariais e registrais é o Executivo Federal, pois é ele o detentor do
poder de fé pública, sendo que o Judiciário Estadual promove a outorga
das delegações aos particulares por meio de delegação da União; (3)
Ceneviva (2014, p. 52) ensina que, para esses serviços, o delegante não é
um dos três poderes, mas a entidade jurídica e soberana do Estado.

De uma forma ou de outra, a Resolução n° 81 do CNJ acometeu a


outorga da delegação ao Presidente do Tribunal de Justiça dos Estados,
ou seja, ao Poder Judiciário (BRASIL, 2009a, art. 13). Assim, reputamos
mais correta a interpretação de Loureiro (2020), uma vez que justifica
a existência do art. 236, §1º na CF, ou seja, em razão de o titular da
atividade ser o Estado, na face do Poder Executivo Federal, faz-se
necessário existir um artigo inserido na CF que atribua a fiscalização
dos atos dos notários e registradores a outro poder, o Judiciário, pois,
somente o Poder titular poderia delegar a fiscalização a outro Poder
(BRASIL, 1988).

O ato de delegar significa transferir o exercício de certa atividade, não a


titularidade dela. O delegante continua a titularizá-la, contudo, transfere
o seu exercício a outrem, no caso das Serventias Extrajudiciais, aos
particulares, sendo uma forma de descentralização administrativa,
sujeita ao poder de controle do ente delegante, isto é, o delegante

14
tem a capacidade de influir sobre o delegatário, inexistindo relação de
hierarquia (LOUREIRO, 2020, p.167).

Nesse sentido, é preciso lembrar que o “caput” do art. 236 da


Constituição Federal, de 1988, e o art. 3º da Lei nº 8.935, de 1994,
obrigam que esse serviço seja delegado a particulares, que o exercerão
em caráter privado, ou seja, por sua conta e risco. Logo, trata-se de
delegação compulsória, de forma que o Estado está impedido de
exercer tal atividade. Apesar de exercidas em caráter privado, essas
atividades submetem-se ao regime de direito público decorrente
do caráter público inerente à atividade, sendo-lhes aplicáveis os
princípios que regem a administração pública em geral, constante do
art. 37, “caput” da CF. De acordo com Loureiro (2020, p. 164), como
esclarecem a doutrina e a jurisprudência do STF (BRASIL, 1995), notários
e registradores estão sujeitos à duplo regime jurídico, coexistentes:
regime de direito público, em decorrência do caráter público da
atividade (sujeição aos princípios do direito administrativo); e regime de
direito privado, por causa da independência na organização e gestão
de suas atividades e de suas convicções jurídicas como profissional do
direito, eis que recebe a delegação para realizar negócios jurídicos de
direito privado.

Segundo o direito administrativo, os serviços públicos podem ser


delegados. Medauar (2018, p. 50), por sua vez, esclarece que o termo
“delegação” possui várias acepções: (1) ato pelo qual uma órgão ou uma
autoridade superior, titular de certo poder, os transfere a outro órgão
ou outra autoridade inferior, estabelecendo as matérias transferidas,
os limites, objeto e duração, dentro de uma mesma estrutura
hierarquizada; (3) transferência de competências da Administração
direta para entidade da Administração indireta; ou (3) transferência da
execução de serviços públicos por meio de concessão e permissão.

Desse modo, o que mais se aproxima das atividades extrajudiciais são


as delegações por meio de concessão e permissão. Elas têm como

15
objeto uma atividade material (serviço público, obra ou uso exclusivo
de um bem público); seus delegatários as exploram por sua conta
e risco; possuem prazo determinado; a concessão somente admite
como delegatário uma pessoa jurídica ou consórcio de empresas; já
a permissão admite como delegatária uma pessoa física ou jurídica;
devem ser precedida de procedimento licitatório (OLIVEIRA, 2019, p.
177-179); existe entre o poder delegante (concedente) e o delegatário
(concessionário ou permissionário) uma relação de subordinação deste
àquele; o vínculo entre eles é contratual com incidência de cláusulas
exorbitantes, inexistindo independência do delegatário; objeto da
concessão ou permissão poderá ser executado pelo Estado ou por
particular, sendo essas formas de contratação regidas pela noção
de conveniência do Poder Público, não compulsórias; o contrato de
concessão pode admitir subcontratação.

Por sua vez, as delegações de notas e registro têm como objeto uma
atividade profissional intelectual, e não material, só podendo recair
sobre uma pessoa natural, jamais uma pessoa jurídica. O vínculo que
une delegante e delegatário não é contratual; o art. 28 da Lei nº 8.935,
de 1994, assegura independência no exercício das atividades notariais e
registrais, sem afastar o poder fiscalizatório e normativo do Estado, uma
vez que a independência desses profissionais é equilibrada pelo dever
de obediência às normas de serviços, assegurando imparcialidade no
seu proceder. Logo, a independência se refere à gestão de sua Serventia,
à aplicação e interpretação do direito, inerentes ao seu exercício
profissional intelectual, no entanto, não é absoluta (LOUREIRO, 2020,
p.109-111). A transferência da delegação extrajudicial é compulsória e
não temporária, diversamente da concessão e permissão, extinguindo-
se apenas nas hipóteses legalmente previstas (morte, aposentadoria,
invalidez, renúncia, perda da capacidade civil ou perda da delegação),
as quais a encampação não acomete (a encampação é forma de
extinção da concessão por interesse público). Por fim, segundo Loureiro
(2020, p. 116), a atribuição recebida pelos notários e registradores,

16
por ser outorgada pelo Poder Público, é irrenunciável, não podendo
esse profissional furtar-se de exercer seu mister quando instado, nem
o transferir a qualquer outra pessoa, autoridade ou preposto, não
havendo subcontratação.

Assim, é possível notar que há diversas diferenças entre essas


delegações. O STF já admitiu que a atividade extrajudicial se sujeita
a regime jurídico de caráter privado, sendo essencialmente distinta
da exercida por servidores públicos, e a vista de ser exercida em
caráter privado, também não se submete à disciplina que rege as
pessoas jurídicas de direito privado prestadores de serviço público
(concessionários e permissionários).

Portanto, as delegações de notas e registros não são concessões nem


permissões, não se amoldam perfeitamente as espécies de delegações
conforme as entendem o direito administrativo em seu sentido comum,
ostentando uma outra natureza, a par daquelas, sendo uma forma de
delegação “sui generis”.

4. Extinção da delegação
Na figura a seguir, você pode verificar algumas das hipóteses de
extinção da delegação dispostas na Lei nº 8.935, de 1994. No entanto,
elas não são as únicas, pois outras hipóteses poderão advir de outras
leis e atos normativos

17
Figura 3 – Hipóteses de extinção da delegação na Lei nº 8.935, de
1994

Fonte: elaborada pelo autor.

Desse modo, notários e registradores não estão sujeitos a aposentadoria


compulsória, inexistindo limite máximo etário, portanto, para o exercício
da profissão.

A perda da delegação, por sua vez, é espécie do gênero extinção, e


relaciona-se necessariamente com sanção disciplinar.

Quanto às hipóteses que poderão conduzir à extinção da delegação, o


CNJ já firmou o entendimento de que inexiste previsão constitucional
ou na Lei nº 8.935, de 1994, limitando a aplicação de penalidades aos
notários e registradores somente àquelas hipóteses elencadas nesta lei,
autorizando a conclusão de que referidas hipóteses são meramente
exemplificativas, admitindo-se, inclusive, a imposição da perda da

18
delegação. Veja que a parte final do art. 28 da Lei nº 8.935/94 autoriza
a perda da delegação quando o ato de perda estiver fundamentado
em hipótese prevista em alguma outra lei. Inobstante, o art. 31, I, da
mesma lei, também, autoriza a perda em casos de inobservância de
prescrições legais ou normativas (isto é, deixar de observar a lei ou
outra norma de hierarquia inferior a lei). Desse modo, por exemplo, a
ineficiência do serviço poderia conduzir à perda de delegação; o simples
descumprimento de atos normativos também.

5. Conclusão

O art. 236 da Constituição Federal (BRASIL, 1988), regulamentado pela


Lei nº 8.935/94, romperam com a disciplina vigente à época, que tratava
os notários e registradores como servidores da justiça, e de forma
sistemática, organizaram a estrutura extrajudicial, erigindo-os a uma
categoria autônoma (BRASIL, 1994).

Dadas as peculiaridades que envolvem a atividade, tais como a


independência dos notários e registradores e o vínculo permanente e
não contratual, verificou-se que a natureza jurídica da delegação dos
serviços extrajudiciais não se amolda perfeitamente às modalidades
conceituadas pelo direito administrativo, constituindo, portanto, a
par daquelas, uma espécie específica de delegação, sui generis, com
contornos próprios.

Por fim, existem várias hipóteses de extinção da delegação previstas na


Lei nº 8.935, de 1994, cuja leitura poderia levar a concluir tratar-se de
um rol fechado. No entanto, prevalece o entendimento do CNJ de que
referidas hipóteses são meramente exemplificativas, admitindo estejam
contidas em outras normas.

19
Referências Bibliográficas
BRANDELLI, Leonardo. Teoria geral do direito notarial. 2. ed. São Paulo: Saraiva,
2007.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.
Brasília, DF: Presidência da República, [1988]. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 22 jul. 2020.
BRASIL. Lei nº 8.935, de 18 de novembro de 1994. Regulamenta o art. 236 da
Constituição Federal dispondo sobre serviços notariais e de registro. (Lei dos
cartórios). Brasília, DF: Presidência da República, [1994]. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8935.htm. Acesso em: 22 jul. 2020.
BRASIL. Provimento nº 03/2020. Dispõe sobre o Código de Normas e Procedimentos
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BRASIL. Provimento nº 56/2019. Atualiza o Tomo II das Normas de Serviço da
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20
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LOUREIRO, Luiz Guilherme. Manual de direito notarial da atividade e dos
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MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 21. ed. Belo Horizonte:
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OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. Curso de direito administrativo. 7. ed. Rio de
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Disponível em: https://www.migalhas.com.br/coluna/gramatigalhas/127349/
correicional-ou-correcional. Acesso em: 22 jul. 2020.

21
Ética e Deontologia do Notário e
do Registrador
Autoria: Nome do autor da disciplina
Leitura crítica: Nome do leitor da disciplina

Objetivos
• Compreender os aspectos filosóficos que envolvem
os conceitos de direito, moral, ética e deontologia,
bem como suas relações.

• Conhecer sobre a formação histórica da deontologia


dos notários e registradores.

• Estudar os deveres éticos gerais e comuns aos


notários e aos registradores.

22
1. Introdução

Cada profissão contém padrões de comportamento aceitáveis por


aquele grupo profissional, que a valorizam e dignificam. Nesta aula,
você estudará os comportamentos éticos e deontológicos aplicáveis aos
notários e registradores.

2. Compreensão do aspecto filosófico

A vida em sociedade é regida por regras sociais. Desse modo, sem


adentrar em profundas discussões filosóficas, você estudará alguns
conceitos, distinções e noções essenciais à compreensão do assunto,
bem como às relações que esses vários elementos possuem entre si:
direito, moral, ética e deontologia.

2.1 Relação entre direito e moral

Qual a relação entre direito e moral?

Existem regras sociais que são cumpridas de forma espontânea pelos


seus indivíduos. No entanto, outras são apenas por meios repressivos,
coativos. Mas, se ambas são regras sociais, por que se estabelecem
essas duas situações?

A diferença é encontrada no espírito do sujeito. O cumprimento


espontâneo de uma regra social revela que o sujeito aderiu ao conteúdo
daquela regra, aceitando-a. E, assim, conscientemente conduzindo-se
segundo o preceito que a regra estabelece.

A regra social, na verdade, objetiva preservar um valor importante para


a vida em comum. Esse valor é apreendido pelo espírito do sujeito,
o qual consegue vislumbrar nela (na regra) um sentido, de forma

23
autêntica, isto é, sem a interferência de terceiros e sem estar de alguma
forma forçado a isso, realiza a conduta por ela traçada. O sujeito se
convence de que não está a cumprir uma obrigação, mas um ato que o
fortalece espiritualmente, sendo isso pertencente à moral.

Segundo Reale (2002, p. 43), o Direito protege o mínimo de moral


necessária para a sobrevivência de uma sociedade, podendo isso ser
ilustrado por meio de dois círculos secantes: o círculo da moral e o
círculo do Direito, os quais num dado ponto se entrelaçam, sendo que
a parte entrelaçada representa a relação entre o jurídico e a moral,
ou seja, o mínimo de moral obrigatória e necessária para existência
da sociedade. Ainda, segundo o autor, essa é a concepção real ou
pragmática das relações entre o Direito e a Moral (REALE, 2002).

Diante do fato de haver pessoas que não cumprem espontaneamente


essas regras sociais mínimas, tidas por essenciais à existência de um
certo grupo, faz-se necessário torná-las juridicamente obrigatórias
por meio de coação, cominando em punições à sua transgressão. No
entanto, isso se afasta do campo da moral, que é de cumprimento
espontâneo, adentrando ao campo do jurídico, que é obrigatório.
Portanto, o que os distingue é a coercibilidade.

2.2 A Ética

O que é a Ética? A moral, como você aprendeu anteriormente, é


individual, espontânea, bem como sua transgressão tem como
consequência uma consciência pesada, um sentimento de culpa do
sujeito, uma reprovação espiritual, uma vergonha perante o social. A
moral não é uma ciência, ela está relacionada ao estado de consciência
do sujeito.

Conforme Vazquez (2009 apud NALINI, 2009, p. 19), a ética é a “ciência do


comportamento moral dos homens em sociedade”, um ramo da filosofia

24
que estuda as regras de comportamento, o caráter adquirido pelas
reiteradas condutas que se pratica.

O objeto da ética é a moral, mais especificamente, a “moral positiva”,


isto é “o conjunto de regras de comportamento e formas de vida através
das quais tende o homem a realizar o valor do bem” (MAYNEZ, 2009
apud NALINI, 2009, p. 19). Assim, o objeto da ética incide sobre o “modo
de ser”, a reiteração de comportamentos que compõe o hábito. Ou
seja, ela seria uma ciência dos costumes, que extrai princípios gerais
de comportamento dos fatos morais ocorridos, “seu conteúdo monstra
às pessoas os valores e princípio que devem nortear sua existência”
(NALINI, 2009, p. 20).

A estrutura das normas éticas envolve um juízo de valor acerca do


comportamento estudado, seguido de uma sanção a fim de garantir a
conduta escolhida como benéfica à coletividade, representando uma
diretriz de caráter obrigatório.

Os seus preceitos, por sua vez, são imperativos. Portanto, diversamente


da moral, que depende de uma consciência, adesão espontânea (REALE,
2002, p. 33).

2.3 Deontologia

O que é a deontologia? Enquanto a ética realiza os princípios gerais


direcionados ao coletivo no sentido de fazer o bem a todas as pessoas,
chama-se deontologia as regras de condutas éticas direcionadas à
determinado grupo profissional.

Deontologia e ética são diferentes em razão de suas abrangências, pois,


apesar de diferentes, as regras deontológicas (que tem abrangência
restrita a certos grupos profissionais) derivam da ética (que tem
abrangência geral).

25
Neste contexto, a deontologia é a ética profissional, consubstanciando-
se no código de conduta destinado às pessoas que praticam certa
profissão, de modo que cada profissão detém um código próprio de
conduta profissional.

Assim, é formada do conjunto de normas éticas profissionais que


imperam sobre um determinado grupo. Por sua vez, cada indivíduo que
passe a pertencer a esse grupo profissional, exercendo determinada
profissão, está sujeito a incidência imperativa do código de conduta a
ela pertencente. Logo, os médicos estão sujeitos a um código de ética
próprio do CFM (Conselho Federal de Medicina); os advogados, aos
conselhos de ética da OAB; juízes, promotores, notários e registradores
estão sujeitos a seus códigos de ética específicos, instituídos por seus
Conselhos.

A deontologia serve para preservar a confiança das pessoas nos grupos


profissionais, dar coesão e eficiência àquela organização, ou seja, manter
a credibilidade de certa profissão. Desse modo, pode-se dizer a moral de
uma determinada profissão encontra-se em suas regras deontológicas.

Portanto, você teve distinguir as seguintes noções: (1) a ética é a ciência


que estuda os comportamentos a fim de dirigir a conduta das pessoas
para o bem, cujos preceitos são positivados em alguma norma; (2)
a deontologia é a ética dos deveres profissionais, que visa proteger
esse grupo mantendo-o eficiente, tornando-o necessário aos olhos do
público, cujos preceitos também são positivados nos códigos de ética; e,
(3) a moral que é a consciência individual de cada sujeito pertencente a
esse grupo profissional em cumprir espontaneamente os seus deveres,
com honestidade, seriedade, boa-fé (LOUREIRO, 2020, p. 315-319).

Segundo Dip (2008, p. 95-102), o exercício de qualquer profissão


obedece a quatro elementos ou deveres éticos: (1) vocação: encontrar
prazer no exercício da profissão gera equilíbrio psicológico e emocional,
e isso reflete positivamente na qualidade do serviço prestado; (2)

26
aptidão: apreender as técnicas para o exercício das atividades da
profissão; (3) integridade: não agir a partir de influências subjetivas,
criando discriminações ou privilégios; (4) espírito de serviço: priorizar
a função social da profissão, sem contudo negar a preocupação
monetária.

Por fim, sobre a deontologia, é preciso esclarecer que ela não é uma
parte da dogmática jurídica, pois o fato de nela existirem temas éticos
não implica reduzir seu objeto àquilo que está prescrito na norma
positiva (DIP, 2008, p. 89).

3. Deontologia dos notários e registradores

A deontologia notarial e registral tem sua importância voltada a manter


a honestidade, a boa-fé e a seriedade da instituição, preservando a
confiança da sociedade e do Estado.

Por sua vez, os deveres éticos dos notários e registradores foram


consagrados por usos e costumes, pela legislação e códigos de ética. Por
se tratar de valores a serem alcançados, eles podem variar de acordo
com o momento histórico e com as práticas do lugar. Neste contexto, a
noção de segurança, fé pública e autenticidade podem variar no tempo.
A seguir, veja alguns breves momentos históricos para compreender o
surgimento dessa deontologia.

Na idade antiga, os escribas egípcios redigiam contratos, já que


para aquela época, os documentos escritos geravam segurança
probatória. Eles não dispunham de fé pública, por isso, os seus escritos
deviam ser homologados por uma autoridade superior, a fim de lhes
conferir autenticidade. Assim, surgiu a noção de prova e autencidade
documental; os escribas hebreus redigiam documentos em duas vias,
sendo que uma delas era cerrada, selada e assinada. Apenas diante

27
de um litígio a via selada poderia ser aberta diante de um tribunal.
Verifica-se que dos atos selados derivam a noção de sigilo, em conexão
com a noção de prova e autenticidade; em Roma, existiam os tabularii,
fiscais que escrituravam em livro próprio os registros de hipotecas, os
nascimentos e inventários, bem como os tabelliones que assessoravam
as partes e redigiam contratos e testamentos particulares. Os tabelliones
formavam uma corporação colegial que criavam outros tabelliones de
reconhecida probidade e capacidade redacional.

Na idade média, com o surgimento das comunas italianas, os notários


foram dotados de fé pública devido a sua credibilidade, que os fizeram
alcançar posições políticas e culturais privilegiadas. Com isso, surgiram
as primeiras corporações profissionais, cujos conselhos notariais
estabeleciam regras deontológicas para garantir o prestígio e o mercado
desses profissionais.

Na idade moderna, a confiança conquistada nas épocas anteriores


fez com que os notários fossem reconhecidos como organização
encarregada pela autenticidade, segurança e validade das transações
jurídicas, fazendo surgir leis nacionais sobre normas éticas que serviam
de base para os códigos de ética.

A partir de agora, analisaremos o momento atual da deontologia.


Kumpell (2015, p. 101) ensina que a atual Carta Magna (CF/88) detém
diversas disposições éticas, sendo a mais evidente, a exigência de
moralidade, contida no “caput” do art. 37. A par dela, incluímos mais três
outras exigências: legalidade, impessoalidade e eficiência. Sem dúvida,
como serviço público, a atividade notarial e registral está submetida a
esses preceitos.

Nesse sentido, há deveres éticos específicos dos notários, bem como


outros específicos dos registradores, dadas suas diferenças de atuação.
No entanto, é importante verificar as condutas que são comuns a
ambos, eis que as atividades notariais e registrais, em um aspecto

28
geral, regem-se por normas comuns, pois a existência de ambos está
destinada a garantir segurança, eficácia, publicidade e autenticidade
(BRASIL, 1994, art. 1º).

No entanto, não pretendemos esgotar a enumeração dos deveres,


que são muitos, bastando analisar alguns dos seus deveres gerais
primordiais. Logo, veja que grande parte dos deveres éticos-profissionais
gerais dos notários e registradores encontram-se explicitados no art. 30
da Lei nº 8.935, de 1994, como você pode verificar no quadro a seguir.

29
Quadro 1 – Deveres dos notários e registradores
Deveres dos Guardar os papéis, livros e documentos em local seguro,
notários e conservando-os bem.
registradores Atender as partes com eficiência, urbanidade e presteza.

Atender com prioridade as solicitações de autoridades judiciais ou


administrativas quando a finalidade for defender as pessoas jurídicas
de direito público em juízo.

Manter em arquivo as leis, regulamentos, resoluções, provimentos,


regimentos, ordens de serviço e quaisquer atos que digam respeito à
sua atividade.

Proceder com dignidade para valorizar a função, tanto nas atividades


profissionais como também na vida particular.

Guardar sigilo sobre a documentação e os assuntos de que tenham


conhecimento em razão de sua profissão.
Afixar em local visível, as tabelas de emolumentos em vigor.

Observar os emolumentos fixados nas tabelas de custas.

Dar recibo dos emolumentos percebidos.


Observar os prazos legais fixados.
Fiscalizar o recolhimento dos impostos incidentes sobre os atos que
devem praticar.
Facilitar que as pessoas habilitadas pela lei tenham fácil acesso aos
documentos que estão na serventia.
Encaminhar ao juízo competente as dúvidas levantadas pelos
interessados, obedecida a sistemática processual respectiva.
Observar as normas técnicas estabelecidas pelo juízo competente.

Fonte: elaborado pelo autor.

No mesmo sentido, Chaves e Rezende (2013, p. 64-69) apresentam


alguns princípios deontológicos sistematizados pela União Internacional

30
do Notariado, reunida em San José da Costa da Rica no ano de 2005,
órgão de caráter internacional.

Figura 1 – Princípios internacionais

Fonte: elaborada pelo autor.

Desse modo, podemos notar que a deontologia dessa profissão


ultrapassa as barreiras dos Estados. No Brasil, conforme a doutrina
pátria, alguns deveres gerais podem ser extraídos, por já se encontrarem
positivados na Lei nº 8.935, de 1994. Alguns deles, por sua vez, detém
correspondência com os sistematizados pela União Internacional do
Notariado.

31
Nos tópicos a seguir, veja alguns desses deveres/princípios.

3.1 Dever de diligência (art. 30, IV, da Lei nº 8.935, de


1994)

Notários e registradores não devem exercer sua função em condições


que comprometam a qualidade de seus serviços. Logo, todo o aparato
legislativo pertinente ao direito e à prática de sua atividade deve
ser mantido atualizado em sua serventia, permitindo rápida e eficaz
consulta.

3.2 Dever de competência (art. 4º da Lei nº 8.935, de


1994)

O serviço deve ser prestado de modo adequado e eficiente. Desse


preceito está implícito o dever de aprimorar o conhecimento técnico,
usá-lo para o bem das partes, assegurando que o negócio no qual
interveio surta os efeitos desejados, com menor custo possível.

3.3. Dever de conselho

Implícito no art. 1º da Lei nº 8.935, de 1994, como decorrência da


eficácia e segurança que esses profissionais do direito estão obrigados
a assegurar. Assim, as partes devem ser aconselhadas e assessoradas
sobre as consequências do ato desejado, bem como conscientizadas dos
cuidados a serem tomados.

3.4. Dever de segredo profissional (art. 30, VI, da Lei nº


8.935, de 1994)

O dever de sigilo abrange todas as declarações feitas pelas partes, das


quais notário e registrador tenham ciência em razão de seu ofício.

32
Por óbvio, não alcança a publicidade jurídica do conteúdo lançado em
seus livros, bem como dos quais esses profissionais têm o dever legal de
emitir certidão, em virtude do princípio da publicidade.

No entanto, esse dever encontra exceções, entre elas: (1) decorrente


da Lei 9.613, de 1998 (art. 9º, XIII), e do Provimento CNJ nº 88, de
2019, sobre lavagem de dinheiro, que estabelecem obrigações de
comunicação ao COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras);
(2) decorrente do art. 30, XII, Lei nº 8.935, de 1994, que determina
a facilitação de acesso às documentações da Serventia por pessoas
legalmente habilitadas.

3.5. Dever de transparência da remuneração (art. 30, VII,


VIII, IX, da Lei nº 8.935, de 1994)

Os emolumentos devidos pelos atos praticados na serventia são


tarifados/taxados por uma tabela de custas fixada em lei estadual.
Portanto, é vedado cobrar valores acima da tabela, bem como exigir
“taxa de urgência”, cobrar diligências não fixadas em lei, bem como
repassar custos bancários ou de cartão de crédito relativo ao pagamento
dos emolumentos.

Ademais, os titulares estão obrigados a repassarem as verbas


componentes dos emolumentos aos demais entes e órgãos públicos.

3.6. Dever de cordialidade

Além disso, há um dever de cortesia na prestação do serviço


extrajudicial. Segundo o art. 30, II, da Lei nº 8.935, de 1994, os notários
e registradores têm o dever de atender as pessoas com urbanidade,
eficiência e presteza (BRASIL, 1994).

33
Esse dever não se limita apenas às partes, mas estende-se no
tratamento a outros notários e registradores, bem como às autoridades
com as quais deve existir uma relação respeitosa e de tolerância.

Desse modo, essa regra de urbanidade é importante, normalmente, nela


também constam as normativas impostas pelas Corregedorias Gerais
do Estados, integrando sua função correcional, a exemplo do Estado
do Estado de São Paulo, cujo Capítulo XIII das normas de Serviço da
Corregedoria Geral de Justiça, no item 2, prevê que a fiscalização será
exercida mediante correição, de ofício ou por representação de pessoa
interessada para a observância, entre outros princípios, da qualidade,
regularidade e urbanidade na prestação dos serviços.

3.7. Conduta condigna com a profissão (art. 30, V, da Lei


nº 8.935, de 1994)

O proceder ético dos notários e registradores deve concretizar-se tanto


no exercício de sua função quanto em sua vida particular.

A deontologia jurídica não se limita aos valores que devem reger a


atuação profissional dos notários e registradores, mas se estende a
direcionar a ética em suas vidas pessoais. Esse padrão ético, inclusive na
vida particular, se exprime nos termos do art. 30, V (dirigir sua conduta a
fim de dignificar a função, tanto no exercício da profissão como na vida
privada), art. 31, II (evitar condutas atentatórias às instituições notariais
e de registrais) e art. 14, VI (“ostentar conduta particular compatível
com exercício da profissão como condição para ingresso na atividade”)
(BRASIL, 1994).

34
3.8. Dever de respeitar os limites de sua atribuição (art.
9º e art. 12 da Lei nº 8.935, de 1994)

Os registradores têm o dever ético de observar, em regra, o limite


territorial de sua circunscrição geográfica, não podendo praticar atos
fora dela. O mesmo dever tem os notários, que não podem, em regra,
praticar atos além de seu Município.

Logo, a regra é respeitar os limites de sua atribuição, podendo a


legislação, no entanto, mitigá-la, estabelecendo exceções, a exemplo do
art. 5º do Provimento 65-CNJ, entre outras.

3.9. Dever de imparcialidade

Segundo Dip (2008, p. 106), notários e registradores devem se abster de


serem parte na questão que se decide, de forma que não devem redigir
ou qualificar títulos em que sejam parte interessada.

A Lei nº 8.935, de 1994, positivou esse dever no art. 27, que estabelece
que os titulares da Serventia não poderão praticar, pessoalmente, atos
de seu interesse, de interesse de seu consorte (cônjuge ou companheiro)
ou de parentes, na linha reta, ou na colateral, consanguíneos ou afins,
até o 3º grau.

3.10. Dever de imparcialidade ou independência (art. 28


da Lei nº 8.935, de 1994)

Este dever significa que notários e registradores evitem a influência de


pessoas, do poder econômico, discriminações e privilégios indevidos no
exercício de sua atividade. Por isso, o art. 28 da Lei nº 8.935, de 1994,
menciona que tais profissionais gozam de independência.

35
Desse modo, se houver alguma discriminação ou privilégio que possa
ser aplicado, eles devem decorrer da lei. Quanto aos registradores,
especificamente, significa não alterar o rigor da qualificação de acordo
com o interessado que apresenta o título para registro.

3.11. Dever de observar a legalidade

A segurança jurídica que os serviços extrajudiciais estão obrigados a


assegurar é condicionada à atuação de acordo com a lei, nos limites
e com a compreensão dos significados normativos da lei. Sem essa
observância legal, a atuação se torna insegura, sacrificando a razão de
existência do próprio serviço.

Os serviços extrajudiciais não são aptos a suprirem lacunas da lei. Como


serviços públicos que estão adstritos àqueles princípios constitucionais
do art. 37, “caput”, entre os quais o da legalidade.

4. Código de ética

Complementando a deontologia notarial e registral expressada na


Constituição Federal de 1988 e nas leis, precisamos mencionar a
existência de códigos de ética a regularem essas atividades. Nesse
sentido, notários e registradores possuem suas associações de classe,
de âmbito nacional e estadual, dentre elas, a ANOREG-BR.

A ANOREG (Associação dos Notários e Registradores) é uma associação,


sem fins lucrativos, cujo objetivo é congregar a classe de tabeliães e
oficiais de registro de cada região do país, havendo a de âmbito federal e
as de âmbito estadual e distrital, uma em cada uma dessas unidades da
federação.

36
Além de defender e representar os interesses dos notários e
registradores, elas têm como função estreitar os laços da classe com
a comunidade, buscando atribuir maior qualidade, desburocratização
e modernização do serviço, entre eles, o estabelecimento de normas
deontológicas por meio de um Código de Ética, o qual foi aprovado em
2 de abril de 2014, de âmbito nacional, a regular a conduta de notários e
registradores associados de todo o país.

O Código de Ética, da ANOREG-BR, classifica os deveres deontológicos


em: (1) deveres fundamentais de seu ofício; (2) deveres mútuos entre
notários e registradores; (3) deveres em relação ao usuário; (4) deveres
em relação aos prepostos contratados; e (5) deveres relativos às
autoridades.

Entre os deveres fundamentais desse código, podemos citar os


seguintes deveres: (1) zelar pela dignidade da função e pelo prestígio da
classe; (2) proceder na sua função e na vida particular com honestidade
e honra; (3) oferecer seus serviços sem menção comparativa ou
depreciativa aos serviços de outros notários ou registradores; (4)
abster-se de apor na Serventia letreiros, anúncios e propagandas que
visem captar clientela, e (5) não se pronunciar publicamente, sobre a
má conduta de outro colega ou defender interesse contrário à classe.
Perceba que esses deveres fundamentais, entre outros, complementam
os já recomendados pela legislação específica.

5. Conclusão

A ética é uma disciplina da filosofia que estuda o comportamento


humano, a fim de extrair normas que o conduza a praticar o bem. A
partir dela é derivada a deontologia, disciplina que estuda normas de
conduta direcionadas a atuação profissional, mais especificamente os
deveres profissionais, a fim de conferir credibilidade e fazer acreditar

37
sobre a necessidade dessa profissão no meio social. Relativamente aos
notários e registradores, a sua deontologia surgiu dos usos e práticas
do passado, sendo modificada e incrementada a cada momento
histórico. As regras deontológicas comuns aos notários e registradores
estão dispostas tanto na Constituição Federal, de 1988, quanto na
sua lei de regência (Lei nº 8.935, de 1994) e, até mesmo, organismos
internacionais, como a União Internacional do Notariado, além dos
Códigos de Ética instituídos por suas próprias associações.

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38
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Acesso em: 22 jul. 2020.
CHAVES, Carlos Fernando Brasil; REZENDE, Afonso Celso F. Tabelionato de notas e
o notário perfeito. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
DIP, Ricardo. Da ética geral à ética profissional dos registradores prediais. 4. ed.
[S.l.]: Quinta Editorial, 2008.
KUMPEL, Vitor Frederico; ASSIS, Olvey Queiroz. Noções gerais de direito e
formação humanística. São Paulo: YK Editora, 2015.
LOUREIRO, Luiz Guilherme. Manual de direito notarial da atividade e dos
documentos notariais. 4. ed. Salvador: Juspodivm, 2020.
NALINI, José Renato. Ética geral e profissional. 7. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2009.
REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.

39
Disciplina Constitucional da
Delegação de Notas e Registros
Públicos
Autoria: Jeferson Alexandre Gramasco
Leitura crítica: Adriano César da Silva Álvares

Objetivos
• Complementar o conhecimento a respeito das
delegações de notas e registros, e estudar os
princípios constitucionais da administração pública
aplicáveis a atividade extrajudicial.

• Conhecer as normas gerais mais importantes sobre


a cobrança de emolumentos.

• Conhecer a atuação do Conselho Nacional de Justiça


(CNJ) em relação aos oficiais de notas e registros.

40
1. Introdução

A partir do texto da Constituição Federal de 1988, você estudará as


diretrizes constitucionais que regem a atividade notarial e registral. Elas
são as normas mais básicas que fundamentam o regime jurídico no qual
se insere a atividade extrajudicial, notadamente, o regime de direito
público.

Além disso, você conhecerá as disposições legais que regulamentam


os textos constitucionais, bem como o posicionamento do Supremo
Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça a respeito de certas
questões diretamente ligadas à Constituição Federal, sempre que for
necessário para compreensão do assunto (BRASIL, 1988).

2. A delegação de notas e registros e suas


diretrizes na Constituição Federal de 1988

Os serviços notariais e registrais são sempre delegados pelo Estado


por meio de outorga ao particular. As diretrizes dessa delegação são
encontradas a partir do art. 236 da Constituição Federal (BRASIL, 1988).

O “caput” do art. 236 da constituição revela que o detentor da


titularidade dos serviços extrajudiciais é a União Federal, mais
especificamente o Poder Executivo Federal, a detentora constitucional
do poder de fé pública (LOUREIRO, 2020, p. 170).

Por sua vez, na parte final do §1º do art. 236, a Constituição Federal
transfere ao Poder Judiciário Estadual a competência para outorgar,
através do Presidente do Tribunal de Justiça, as delegações de notas e
registros aos particulares que preencham requisitos legais, bem como
fiscalizar o seu exercício (BRASIL, 1988).

41
Nesse sentido, somente o titular de um poder pode delegá-lo a outrem;
se a própria Constituição possui dispositivo delegante expresso,
forçoso concluir que o titular desse poder é mesmo a União, sendo o
Poder Executivo o mais afeto às questões administrativas, eis que as
delegações notariais e registrais se encontram na seara administrativa.

Em complemento à competência atribuída aos Tribunais de Justiça


dos Estados, o art. 96, II, “d”, da Constituição Federal, a eles acomete
a organização judiciária de seu território. Nesse aspecto, o atual
entendimento do STF, é no sentido de pertencer aos Tribunais de
Justiça a iniciativa para legislar sobre a alteração, criação ou supressão
de Serventias, já que são os responsáveis pela organização judiciária
(BRASIL, 2020).

Segundo Di Pietro (2017, p. 523), a “delegação” é forma de


descentralização administrativa por colaboração, regendo-se pelo
critério da conveniência. Em outras palavras, o poder delegante não está
obrigado a transferir o exercício da atividade, podendo exercê-la por si
mesmo, mas estando autorizado a transferi-la segundo a conveniência,
para melhor atender ao interesse público.

No entanto, as delegações extrajudiciais não se regem por esse critério.


Assim, é preciso verificar que o caput do art. 236 da Constituição
Federal de 1988 e o art. 3º da Lei nº 8.935, de 1994, que o regulamenta
obrigam que esse serviço seja delegado a particulares, que o exercerão
em caráter privado, por sua conta e risco. Trata-se, portanto, de uma
delegação compulsória, de forma que o Estado está impedido de exercer
tal atividade. Isso já demonstra um aspecto sui generis dessa delegação.

42
3. Diretrizes constitucionais acerca do ingresso
na atividade

O §3º do art. 236 da Constituição Federal (BRASIL, 1988) afirma que o


ingresso nessa atividade está condicionado à aprovação em concurso
público de provas e títulos, vedando-se que qualquer Serventia fique
vaga, sem abertura de concurso, por mais de seis meses. Essa norma
é complementada pela Lei nº 8.935, de 1994, e pela Resolução nº 81
do CNJ, estabelecendo outros requisitos. Relembre, no entanto, que
a jurisprudência do STF é pacífica declarando se tratar de norma
autoaplicável, produzindo efeitos antes do advento da Lei 8.935, de
1994. Desse modo, qualquer norma que seja incompatível com o
preceito, considera-se não recepcionada (BRASIL, 2016).

Observe que, apesar do ingresso na atividade ser provido por meio


de concurso público, o “caput” do art. 236 da Constituição Federal
determina que os serviços extrajudiciais serão exercidos em caráter
privado (BRASIL, 1988).

Diante dessa afirmação, qual seria então a natureza da função


notarial e registral, bem como qual regime jurídico lhe é aplicável?
O STF já manifestou entendimento de que os notários e registradores
são particulares em colaboração com o Estado, exercendo uma função
pública (BRASIL, 2006). Por essa razão e em vista do caráter sui generis
dessa espécie de delegação, suas atividades submetem-se a duplo
regime jurídico: (1) regime de direito público decorrente do caráter
público inerente à atividade, sendo-lhes aplicáveis os princípios que
regem a administração pública em geral, constante do art. 37, da CF;
e (2) regime de direito privado em vista da independência dos notários
e registradores como profissionais do direito, eis que recebem a
delegação para realizar negócios jurídicos de direito privado (BRASIL,
1995).

43
4. Diretrizes constitucionais sobre o regime de
direito público das serventias extrajudiciais

Submetidos ao regime de direito público, sobre eles incidem os


princípios constitucionais da administração pública: legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Todos eles
imbuídos de carga deontológica.

Figura 1 – Princípios constitucionais

Fonte: elaborada pelo autor.

4.1 Princípio da legalidade

Segundo o direito fundamental insculpido no art. 5º, inciso II, da


Constituição Federal de 1988, “ninguém será obrigado a fazer ou deixar
de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”.

44
No entanto, esse preceito apresenta as seguintes nuances: (1) para os
particulares vigora a autonomia da vontade, de modo que a legalidade
para eles implica em autorização para fazer tudo aquilo que a lei não
proíbe; (2) já, para a administração pública, a legalidade tem alcance
bem mais restrito, de forma que ela só está autorizada a fazer o que a lei
determina; o silêncio da lei, a ausência de previsão legal, implica vedação
de atuação.

Em virtude do regime de direito público aplicável aos notários e


registradores, eles submetem-se a mesma noção de legalidade da
administração pública, devendo agir conforme a lei. Em outras palavras,
o tabelião só pode lavrar os atos permitidos por lei, e o registrador
somente assentar os atos previstos na lei.

4.2 Princípio da impessoalidade

Esse princípio dá a diretriz de que a atividade notarial e registral deve ser


exercida de forma igualitária e equidistante, devendo ser compreendida
a partir de uma dupla acepção.

Numa primeira acepção, a impessoalidade significa abster-se de fazer


discriminação, bem como abster-se de promover a criação de privilégios
não previstos na legislação vigente. Desse modo, somente quando a lei
criar discriminações ou privilégios serão legítimos sua aplicação pelo
tabelião ou oficial, em atendimento ao princípio da legalidade, segundo
o qual deverá fazer aquilo que a lei determina.

Numa segunda acepção, os tabeliães e os oficiais devem se abster de ser


parte nas questões que decidem, não redigindo nem qualificando títulos
em que sejam parte interessada.

Na verdade, de acordo com Dip (2008, p. 106), é o dever deontológico


de impartialidade, positivado pelo art. 27 da Lei nº 8.935, de 1994,
estabelecendo que os titulares da serventia não poderão praticar,

45
pessoalmente, atos de seu interesse, de interesse de seu consorte ou
de parentes, na linha reta, ou na colateral, consanguíneos ou afins, até o
terceiro grau.

4.3 Princípio da moralidade

A doutrina adverte que a noção exata de moralidade como princípio


é de difícil definição, sendo explicada por conceitos próximos. O
parágrafo único, inciso IV, do art. 2º, da Lei nº 9.784, de 1999, trata
do princípio da moralidade como sendo a “atuação segundo padrões
éticos de probidade, decoro e boa-fé”. A essa definição de moralidade
administrativa, a doutrina acrescenta que comportamentos ofensivos
à moral comum também são abrangidos pelo princípio (FANCO
SOBRINHO, 2017 apud DI PIETRO, 2017, p. 109).

Nesse sentido, este princípio só pode ser bem compreendido a partir de


aspectos deontológicos, dada a carga ética que traz em si. No exercício
de suas funções públicas, tabeliães e oficiais agem como representantes
do Estado, e como tais, eles devem sobrepor os interesses públicos aos
seus interesses particulares e dos demais particulares.

Logo, do princípio da moralidade derivam muitos deveres éticos como


lealdade, honestidade, integridade e sigilo, que notários e registradores
devem manter na sua conduta profissional e pessoal.

Esses profissionais, por sua vez, devem sempre proceder na profissão


e em sua vida privada de forma a transmitir credibilidade, observando
a ética nas relações e atos praticados. Nesta linha, o resguardo da
intimidade vem reforçado pelo art. 30, V, da Lei 8.935, de 1994, que diz:
“proceder de forma a dignificar a função exercida, tanto nas atividades
profissionais como na vida privada”.

46
4.4 Princípio da publicidade

O princípio da publicidade reflete a necessidade de ser dada ampla


divulgação dos atos administrativos praticados pela administração,
pois a ideia do constituinte foi dar ciência ao cidadão para que possa
fiscalizar a atividade administrativa. No entanto, são ressalvadas da
publicidade o direito a intimidade e à vida privada (BRASIL, 1988, art. 5º,
X).

Assim, oficiais, tabeliães e prepostos recebem, diariamente, informações


de caráter pessoal, informações privilegiadas e íntimas dos usuários.
Assim sendo, a compreensão desse princípio aplicado aos serviços
notariais e registrais, necessariamente, deve passar por essa distinção:
(1) informações e declarações de cunho íntimo (relativos à vida privada)
prestadas pelas partes ao oficial ou tabelião a fim de lhes obter o
necessário aconselhamento e assessoria jurídica; e (2) as informações
que são lançadas em seus livros.

Em regra, estas últimas encontram na divulgação, por meio de traslados


e certidões extraídos dos assentos lançados nos livros de notas e de
registros, a necessária e legítima publicidade, geradora de segurança
jurídica. No entanto, nos testamentos públicos, a publicidade é mitigada,
uma vez que as disposições testamentárias não poderão ser reveladas
indistintamente antes da morte do testador; após este evento, a
publicidade será total.

As informações e declarações de cunho íntimo e os testamentos


públicos são protegidas pelo dever de sigilo, eis que alcançados pelo
direito à intimidade e à vida privada. Destarte, as informações e os
dados arquivados na serventia devem ser reservados, acobertados
pelo sigilo, devendo ser públicos apenas as constantes em livros e os
documentos que ensejaram o ato armazenado no livro.

47
A publicidade mitigada (acobertadas pelo sigilo) vem ganhando relevo,
tendo seu fundamento no princípio da dignidade da pessoa humana,
que é a peça chave de todos os preceitos constitucionais e, também, o
último refúgio dos direitos individuais.

4.5 Princípio da eficiência

O princípio da eficiência tem diversos desdobramentos dentro


da serventia. De acordo com Oliveira (2019, p. 43-44), a doutrina
administrativista ensina que seu objetivo é substituir uma administração
burocrática por uma administração gerencial. Com relação aos serviços
extrajudiciais, sua noção vem acompanhada de quatro vetores: a
celeridade, a efetividade de direitos, a modernização e a economia.

Sobre o primeiro vetor, a noção de celeridade resplandece pelo art. 5º,


inciso LXXVIII, da Constituição Federal de 1988, que assegura a todas as
pessoas, como um direito fundamental, “a razoável duração do processo
e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”. A definição
constitucional abrange tanto o âmbito judicial como administrativo, em
que célere significa aquilo que é rápido, que não tolera procrastinações
injustificáveis.

Sobre o segundo vetor, devemos compreender que eficaz é tudo aquilo


que gera o efeito desejado. A efetividade de direitos necessariamente
tem que passar pela eficácia do ato. Portanto, devemos compreender
que o resultado do ato praticado não pode se afastar das consequências
jurídicas e extrajurídicas pretendidas pelas escolhas das partes.

Sobre o terceiro vetor, as serventias devem acompanhar as evoluções


técnicas, incorporando novas tecnologias de comunicação e informática,
arquivamento e tratamento de documentos em formato digital.

Por sua vez, sobre o quarto vetor é preciso compreender que a escolha
das consequências jurídicas e extrajurídicas, realizada pelas partes,

48
deve ser implementada da maneira mais econômica possível. Assim, “as
normas jurídicas serão eficientes na medida em que forem formuladas
e aplicadas levando em consideração as respectivas consequências
econômicas” (OLIVEIRA, 2019, p. 45).

Os atos registrais e notariais devem sempre pautar-se pela eficiência,


aplicando essas noções aos serviços notariais e registrais, deve-se
ter a compreensão segundo a qual os atos devem ser praticados no
menor tempo possível, sem perda de qualidade, atendendo a todos os
requisitos legais e normativos exigidos para a sua constituição, com a
finalidade de torna-lo perfeito, sem mácula capaz de invalidá-lo e pelo
menor custo possível.

4.6 Princípio da não cumulação de cargo, empregos ou


funções públicas

Assim, somente pode ser reputado eficiente o ato notarial que cumpra
esses requisitos, pois certamente atenderá o anseio das partes, bem
como surtirá todos os efeitos jurídicos desejados. Logo, a eficácia
municia o ato de segurança jurídica.

O art. 37, inciso XVI, da Constituição Federal de 1988, proíbe a cumulação


de cargos públicos por seus servidores. A regra constitucional é aplicada
à administração pública, mas o STF, em julgamento ao MS 27955-AgR-
ED/DF (BRASIL, 2018), decidiu que os titulares de serviço notarial ou
registral também devem respeitá-la.

Apesar de não titularizar cargo público, a função extrajudicial (notarial


ou registral) possui inegável natureza pública. Por essa razão, justifica-
se serem alcançados pela vedação, uma vez que o inciso XVII do art. 37,
estende a proibição também para as funções públicas.

A exceção fica por conta de notários e registradores estarem autorizados


a exercer um cargo de professor, havendo compatibilidade de horários,

49
cujo fundamento pode ser extraído do art. 37, inciso XVI, da CF, c/c item
7.1, inciso III da minuta de edital de concurso constante da Res. 81-CNJ
(BRASIL, 1988; 2009). Esta última, por sua vez, admite o exercício do
magistério superior na área jurídica como critério de pontuação em
títulos no concurso para remoção (ou seja, o candidato que exerce uma
delegação, no concurso para se remover, poderá contar pontos em seus
títulos acaso também exerça o magistério pelo período mínimo de 5
anos).

4.7 Princípio da Continuidade

Ao lado dos princípios já mencionados, Loureiro (2020, p. 169)


acrescenta mais um: o princípio da continuidade. A continuidade do
serviço público significa sua não interrupção, contudo, em relação
aos serviços notariais e registrais, essa continuidade é mitigada, uma
vez que tais serviços só funcionam em dias úteis e durante horários
determinados na lei.

A exceção fica por conta dos Registros Civis de Pessoas Naturais, que
estão obrigados a prestar serviços em dias não úteis sob a forma de
plantão.

5. Diretrizes constitucionais sobre a


remuneração dos serviços extrajudiciais

O caráter privado da prestação dos serviços extrajudiciais traz um outro


aspecto que também deve ser analisado. O art. 236, §2º da Constituição
Federal, determina que seja criada uma lei federal específica para
tratar de normas gerais sobre fixação de emolumentos devido sem
decorrência dos atos praticados pelos serviços notariais e de registro
(BRASIL, 1988).

50
Assim, notários e oficiais têm direito ao recebimento de emolumentos
integrais pelos atos que praticarem, os quais são pagos pelos usuários
a título de remuneração, e conforme as tabelas de custas fixadas pelos
Estados (legislação estadual). Esse direito vem consagrado no art. 28
da Lei nº 8.935, de 1994, mas não é absoluto. As legislações federais
e estaduais podem criar hipóteses de isenção dos emolumentos,
a exemplo da gratuidade das certidões de nascimento e óbito no
Registro Civil de Pessoas Naturais, bem como pode ser determinada
judicialmente quando certos atos praticados no cartório sejam
necessários para efetivação de um direito reconhecido judicialmente
(BRASIL, 2015, art. 98, §1º, IX).

É a Lei Federal nº 10.169 de 2000 que regulamenta o §2º do art. 236. Ela
estabelece normas gerais para a cobrança dos emolumentos oriundos
dos serviços prestados. As normas específicas sobre emolumentos
ficam a cargo de cada Unidade da federação, que o fazem por meio de
lei.

Assim, aos Estados cabem fixar o valor dos emolumentos, o qual deve
corresponder ao custo efetivo, à suficiente e adequada remuneração
dos serviços. Adequação e suficiência são os princípios regentes
consagrados pela Lei Federal de normas gerais (BRASIL, 1988, art. 1º).

Os valores fixados integram tabelas publicadas anualmente. Assim,


nelas consideram-se incluídos todos custos e despesas suportados
pelo cartório para a prática do ato, como papeis, salários, canetas,
impressões, tarifas bancárias para transferência de dinheiro, impostos,
encargos, entre outros. Por essa razão, notários e registradores estão
proibidos de cobrar valores acima ou abaixo daqueles fixados na tabela.

A lei geral faz algumas vedações: (1) é proibido fixar emolumentos


em percentual sobre o valor do negócio jurídico, por isso as tabelas
preveem faixas de valores, nas quais o negócio jurídico é enquadrado.
O enquadramento se dá pelo valor do negócio jurídico declarado

51
pelas partes, ou o seu valor venal, sendo que o maior deles será usado
como critério de enquadramento; (2) é proibido cobrar valores não
expressamente previstos nas tabelas; (3) também é proibido cobrar
pela prática de ato de retificação, renovado ou refeito, em razão de erro
imputável ao cartório. Esses dois últimos são claras consequências da
adequação e suficiência dos valores.

Portanto, devemos compreender que a expressão “emolumentos”


inserida na lei, abrange a parcela do valor que constitui a receita do
cartório, além das despesas devidas ao Estado, à carteira de previdência,
aos fundos e associações de classe, todos definidos na lei de cada ente
membro. Assim, as leis específicas que tratam de emolumentos são de
âmbito estadual, obedientes ao regramento geral estabelecido pela lei
federal.

Aqui, podemos fazer uma observação: na prática extrajudicial, a


rigor, as terminologias são entendidas da seguinte forma: o termo
“emolumentos” refere-se à parcela do valor que constitui a receita da
Serventia; o termo “verbas” referem-se à diversas parcelas, pertencentes
ao Estado, à associação responsável por manter os cartórios de
Registro Civil, ao Tribunal de Justiça do Estado, ao Ministério Público, à
Defensoria, aos Municípios a título de pagamento do imposto ISS, entre
outras definidas em lei própria; e o termo “custas” significa o total da
somatória de todas essas parcelas, consistindo no valor total a ser pago
pelo usuário pelos atos praticados. Relembre-se que as “verbas” são
repassadas pelo cartório aos seus respectivos credores, em substituição.

Qual é a natureza das custas devidas ao cartório? É preciso conhecer


o que o Supremo Tribunal Federal (STF) consolidou, segundo o qual
o entendimento que os emolumentos (aqui tomado na sua acepção
de custas, ou seja, a totalidade do valor devido) têm natureza jurídica
tributária, especificamente de taxa (BRASIL, 1997).

52
Segundo a corte suprema, a instituição, majoração e exigibilidade das
custas cartorárias sujeitam-se aos princípios constitucionais tributários
da reserva de competência impositiva, da legalidade, da isonomia e
da anterioridade. O fato dos serviços notariais e de registro serem
exercidos em caráter privado, por delegação do poder público, não
descaracteriza a natureza estatal dessa atividade administrativa.

Apesar disso, a doutrina completa essa noção sobre a natureza dos


emolumentos, com a advertência que além da natureza de taxa,
eles também possuem caráter remuneratório do serviço privado,
assumindo, na verdade, a natureza de taxa sui generis. Logo, justifica-
se esse entendimento na razão de que os cartórios são remunerados
diretamente por seus usuários e não pelos cofres públicos (LOUREIRO,
2020, p. 130). Além disso, isso também explica o motivo pelo qual o
princípio constitucional da imunidade tributária recíproca não se aplica
aos emolumentos: essa condição peculiar de tributo e remuneração.

6. Atuação do CNJ em relação as serventias


extrajudiciais

A Constituição Federal de 1988, no art. 92, inciso I-A, dentro da estrutura


do Poder Judiciário, prevê a existência de um órgão denominado
Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Esse órgão compõe-se de 15
ministros, indicados das mais diversas formas, para exercerem um
mandato de 2 anos, admitida uma recondução (BRASIL, 1988, art. 103-
B). Logo, a sua composição é bastante eclética, tendo a participação de
variados setores da sociedade.

Quadro 1 – Composição do CNJ


Presidente do STF
1 Ministro do STJ Indicado pelo STJ
1 Ministro do TST Indicado pelo TST

53
1 desembargador do TJ Indicado pelo STF
1 juiz estadual Indicado pelo STF
1 juiz do TRF Indicado pelo STJ
1 juiz federal Indicado pelo STJ
1 juiz do TRT Indicado pelo TST
1 juiz do trabalho Indicado pelo TST
1 membro do MPU Indicado pelo PGR
1 membro do MPE Escolhido pelo PGR
2 advogados Indicados pelo CF/OAB
1 cidadão de notável Indicado pela Câmara dos
conhecimento jurídico e Deputados
reputação ilibada
1 cidadão de notável Indicado pelo Senado Federal
conhecimento jurídico e
reputação ilibada
Fonte: elaborado pelo autor.

Esse órgão, por sua vez, nos interessa, uma vez que a Constituição
Federal a ele atribui a competência para receber e conhecer das
reclamações contra as serventias notariais e de registro, possuindo,
ainda, competência disciplinar e correcional.

Internamente, o CNJ possui um órgão denominado de Corregedoria


Nacional de Justiça, cuja atuação é: (1) orientar, coordenar e executar
políticas públicas voltadas à atividade correcional e ao bom desempenho
da atividade judiciária e extrajudicial; (2) expedir atos normativos como
recomendações e provimentos destinados a aperfeiçoar as atividades
dos serviços extrajudiciais (art. 8º do Regimento Interno do CNJ), os
quais são de cumprimento obrigatório pelas Serventias de todo o
país; (3) realizar inspeções para apuração de fatos relacionados aos
cartórios, havendo ou não evidências de irregularidades (art. 41 do
Regimento Interno do CNJ); (4) correições para apurar graves deficiências
dos serviços extrajudiciais, sem prejuízo da atuação correcional dos
Tribunais de Justiça (art. 54 do Regimento Interno do CNJ); (5) promover

54
sindicâncias, quando não couber inspeção ou correição (art. 60 do
mesmo regimento); e por fim (6) avocar processos disciplinares em curso
(art. 79 do Regimento Interno do CNJ).

7. Conclusão

Nesta aula, você pode verificar as disposições que influenciam as


atividades dos notários e registradores contidas na Constituição Federal
de 1988. Junto a elas você, também, teve a oportunidade de estudar
as leis e atos normativos que as disciplinam, adquirindo um amplo
conhecimento acerca da maneira como a Constituição estrutura a
atividade, bem como a trama legislativa que a desenvolve.

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Brasília, DF: Presidência da República, [2000]. Disponível em: http://www.planalto.
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55
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de Justiça e dá outras providências. Diário da Justiça Eletrônico, Brasília, 6 mar.
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BRASIL. Resolução nº 81-CNJ/09. Dispõe sobre os concursos públicos de provas e
títulos, para a outorga das Delegações de Notas e de Registro, e minuta de edital.
Diário da Justiça Eletrônico, Brasília, 16 jun. 2009.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI 4.223, Relator: Min. Gilmar Mendes. Diário
da Justiça Eletrônico, Brasília, 2 abr. 2020.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI 3.643, Relator: Min. Ayres Britto, Requerido:
Governadora do Estado do Rio de Janeiro. Diário da Justiça Eletrônico, Brasília, 8
nov. 2006.
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Teori Zavascki, Ação Rescisória 2.730, Julgado: 28/02/2019. Diário da Justiça
Eletrônico, Brasília, 28 out. 2016.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal (Segunda Turma). MS 27955 AgR-ED. Diário da
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Requerido: Governador do Estado do Espírito Santo. Diário da Justiça Eletrônico,
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DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 30. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2017.
DIP, Ricardo. Da ética geral à ética profissional dos registradores prediais. 4. ed.
[S.l.]: Quinta Editorial, 2008.
LOUREIRO, Luiz Guilherme. Manual de direito notarial da atividade e dos
documentos notariais. 4. ed. Salvador: Juspodivm, 2020.
OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. Curso de direito administrativo. 7. ed. Rio de
Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2019.

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Notários e Registradores
Autoria: Jeferson Alexandre Gramasco
Leitura crítica: Adriano César da Silva Álvares

Objetivos
• Estudar as finalidades instituídas pela Lei nº 8.935,
de 1994, fundamento da existência dos serviços
extrajudiciais.

• Estudar a fé pública e os direitos de que


gozam notários e registradores, bem como sua
responsabilidade nos diversos aspectos da atividade.

• Conhecer os prepostos e os deveres correlatos


comuns dos tabeliães e oficiais.

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1. Introdução

O fundamento da existência dos serviços extrajudiciais repousa nas


garantias que devem gerar como forma de pacificação social. Para
compreender essa afirmação, você estudará todos os elementos
fundamentais que tornam essa tarefa possível.

2. Finalidades dos serviços notariais e registrais

Nos termos do art. 1º da Lei nº 8.935, de 1994, a existência das


atividades notariais e registrais tem como finalidade garantir a
autenticidade, eficácia, publicidade e segurança dos atos jurídicos.
Cada uma dessas finalidades é alcançada de uma forma diferente para
notários e registradores.

2.1 Noção de autenticidade

Autêntico é aquilo que se diz confiável, legítimo. Logo, autenticidade é


a qualidade conferida ao ato confirmado por uma autoridade que
detém fé pública. Os atos praticados pelos notários e registradores,
bem como todos os documentos deles emanados nessa qualidade, são
detentores de autenticidade, sendo documentos e declarações feitos e
assinados por um agente público acobertado pela fé pública.

A autenticidade decorre da fé pública. Por sua vez, ela confere uma


presunção relativa de verdade sobre o conteúdo do ato, gerando
credibilidade. Torna-se crível aquilo que o tabelião ou oficial redigir.
Portanto, aquele que contestar o documento deverá fazer prova cabal
da falsidade ou fraude, o que se torna difícil na prática.

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Quanto aos notários, a autenticidade recai sobre os atos que o tabelião
declarou ter presenciado; quanto aos registradores, a autenticidade
recai: (1) sobre a exatidão do próprio registro, e não ao negócio
jurídico adjacente, uma vez que, em regra, o registrador não presencia
ato, somente acolhe o título; e (2) sobre os atos de procedimento
administrativo, ou seja, as diligências que promove nas notificações
realizadas pelo Oficial de Títulos e Documentos através de preposto; as
constatações sobre a situação do imóvel em procedimento de retificação
de área e de usucapião extrajudicial, realizadas pelo Oficial de Registro
de Imóveis; e a verificação de nascimento de criança ocorrido fora de
maternidade, realizada pelo Oficial de Registro Civil de Pessoas Naturais
(atos presenciados pelo registrador, acobertados pela autenticidade).

2.2 Noção de eficácia

Eficaz é aquilo que tem poder para produzir efeitos, as consequências


desejadas. Logo, a eficácia consiste na aptidão que certo ato possui
para produzir os efeitos jurídicos, efeitos para o qual foi praticado.

Os atos praticados pelo notário são eficazes uma vez que esse
profissional, ao intervir, cuida para que todos os requisitos materiais
do ato pretendido pelas partes estejam presentes, posteriormente,
escriturando o instrumento necessário. Por sua vez, ele promove o
ato jurídico de conformidade com todos os requisitos materiais e
instrumentais exigidos pela legislação, escoimando-o de vício que possa,
de alguma maneira, torná-lo irregular. Assim, ele dota referido ato de
toda força necessária para a produção de seus efeitos.

O registrador, antes de assentar o registro, procede a uma análise


dos requisitos formais do instrumento (título), buscando verificar se
ele possui todos os requisitos exigidos pela legislação. No livro serão
lançados apenas os instrumentos livres de vício formal. Logo, todos os

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registros lavrados, por terem sido filtrados, estão aptos a gerar todos os
efeitos desejados.

2.3 Noção de publicidade

Para o direito notarial e registral, a publicidade tem a conotação


de tornar uma situação jurídica acessível a todas as pessoas,
inclusive terceiros que não participaram da relação jurídica. A noção de
publicidade é assegurar um conhecimento presumido de determinada
situação jurídica. Portanto, diz presumido pois, o fato de inúmeras
pessoas não tomarem efetivo conhecimento do ato jurídico, não invalida
o direito, eis que a informação está disponível a qualquer pessoa que se
interesse, bastando solicitar certidões aos cartórios competentes.

Assim, a publicidade é a divulgação de uma situação jurídica, a quem


dela se interessar, resultando num potencial conhecimento com efeito
erga omnes. Ela assegura a qualquer interessado o direito de conhecer
o teor de um assento por meio de certidão, garantindo a oponibilidade
daquele direito contra terceiros.

No direito notarial e registral, em regra, todos os atos praticados são


públicos, podendo qualquer interessado requisitar certidão de um ato.
A publicidade, no entanto, não é absoluta, sendo em certas situações,
por determinação legal, judicial ou normativa, notários e registradores
(a exemplo dos Tabelionatos de Protesto e do Registro Civil de Pessoas
Naturais) deverão guardar sigilo. Assim, fala-se numa publicidade
mitigada, que vem ganhando destaque, visto que seu embasamento
está no princípio da dignidade da pessoa humana, que é a peça chave
de todos os preceitos constitucionais e também o último refúgio dos
direitos individuais.

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2.4 Noção de segurança

A rigor, pode-se vislumbrar que a finalidade das atividades extrajudiciais


é uma única: conferir segurança aos atos e negócios jurídicos
particulares. Seguro é aquilo que é estável, firme, do qual se tem uma
certeza. É preciso compreender que “tanto o Registro Imobiliário, quanto
o Tabelionato de Notas estão destinados à segurança jurídica, mas não
do mesmo modo” (ORLANDI NETO, 2004 apud DIP, 2004, p. 14).

O notário participa da elaboração ato jurídico, constituindo prova


documental a partir da manifestação de vontade das partes, realizando
a segurança dinâmica do ato, isto é, ele não participa como parte,
mas atuando na feitura do ato torna-o legítimo no plano da validade,
conferindo autenticidade, eficácia e publicidade (ainda que mitigada).

O registrador, por sua vez, publica aqueles documentos e contratos,


tornando-os conhecidos através de uma presunção de conhecimento
geral, conferindo segurança estática, isto é, atuando na inscrição do
direito, verifica se o instrumento apresentado contém a qualidade
necessária e suficiente para publicidade em seus livros, agregando
também autenticidade e eficácia ao registro.

Desse conjunto, autenticidade, eficácia e publicidade, emerge a


segurança jurídica, ou seja, a certeza, a firmeza, estabilidade do ato
escorreito praticado pelo notário e do direito inscrito pelo registrador.

3. A segurança e a função qualificadora

A segurança jurídica garantida pela atividade extrajudicial está ligada


diretamente à função qualificadora. As quatro garantias previstas na
lei decorrem mesmo dessa função, assim, a qualificação é um juízo
prudencial, intelectivo, reflexivo e abstrato. A função qualificadora do

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notário é participar da elaboração consensual do direito autorizando
a elaboração do instrumento de prova; ele busca no direito a solução
mais adequada, verifica a existência de todos os elementos materiais
necessários ao ato, e aconselha a melhor forma de instrumentalizar
a vontade das partes, sempre com vistas a prevenir litígios futuros,
gerando segurança dinâmica.

A função qualificadora do registrador tem escopo diverso, verificando


se o título apresentado ostenta todos os requisitos formais exigidos
pelo ordenamento jurídico, suficientes para a aquisição, modificação
ou extinção do direito. Somente quando o instrumento ostentar todas
essas qualidades é que ele o inscreve em seus livros, gerando segurança
estática. Antes de registrar um direito, o registrador deve proceder à
qualificação do título que lhe dá suporte, verificando se este satisfaz
todos os requisitos exigidos pela lei e todos os princípios informadores
dos registros públicos. Se a qualificação for positiva, o registrador
formaliza o registro, assegurando confiança, eis que fora submetido ao
crivo de uma rigorosa qualificação registrária.

4. Fé pública

Tabeliães e oficiais quando recebem a delegação, a lei também lhes


transfere uma parcela do poder do Estado: a fé pública. Tanto que o art.
3º da Lei nº 8.935, de 1994, enuncia que os notários e registradores são
profissionais do direito dotados de fé pública. Essa fé é uma qualidade
atribuída pela lei a determinadas pessoas naturais (no caso, notários e
registradores), na qual os atos resultantes de seu ofício são legalmente
tidos como verdadeiros. Ela é termo jurídico que denota um crédito aos
que são longa manus do Estado.

De acordo com Ceneviva (2014, p. 49), a fé pública se consubstancia na


presunção de verdade que a lei confere àquilo que o tabelião ou oficial

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registrador declara. Trata-se de uma presunção juris tantum (relativa)
que milita a favor de todos os documentos e declarações que emanem
desses profissionais, obrigando à parte que os conteste a apresentar
prova cabal de sua falsidade. A legislação privilegia os atos praticados
pelos delegatários, por possuírem presunção de veracidade, mas
lembre-se: não há fé pública em atos eivados de falsidade e comprovada
fraude.

A doutrina distingue entre a fé pública notarial e a registral. Nesse


sentido, a fé pública notarial afiança como verdadeiro os fatos
presenciados pelo tabelião, declarados em forma de ato notarial.
Tanto é, que o Código de Processo Civil em seu art. 405 garante
que: “O documento público faz prova não só da sua formação, mas
também dos fatos que o escrivão, o chefe de secretaria, o tabelião ou
o servidor declarar que ocorreram em sua presença” (BRASIL, 2015).
Ela é destinada à documentação de atos privados. Logo, o tabelião é a
pessoa qualificada pela lei para presenciar e testificar publicamente o
ato jurídico privado dando-lhe forma jurídica adequada e autêntica. A
fé recai somente sobre fatos que o tabelião testemunha terem ocorrido
em sua presença. Já o instrumento escrito que sai de suas mãos goza
de autenticidade, na sua totalidade. Porém, não é a totalidade do
conteúdo do instrumento que tem fé pública, senão apenas os fatos que
ocorreram na presença do tabelião.

A fé pública registral se manifesta de forma diversa, pois o registrador,


em regra, não presencia nem testifica fatos como o tabelião, apenas
recepciona, qualifica e inscreve instrumentos. Desse modo, sua fé
decorre da eficácia das inscrições que promove em seus livros e da
publicidade delas emergentes, isto, é, a fé pública registral, em regra,
repousa na exatidão e integralidade dos assentos registrários, na
confiança de que foram lavrados de acordo com o título apresentado.
No entanto, não se deve esquecer que, nas hipóteses em que a
lei autoriza a realização de diligências pelo registrador (como nas
notificações, procedimento de retificação de área e de usucapião

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extrajudicial, e verificação de nascimento fora de maternidade), elas
também são acobertadas pela fé pública registral.

5. Prepostos

Para atingir as finalidades da Lei nº 8.935, de 1994 (publicidade,


autenticidade, eficácia e segurança), os serviços extrajudiciais devem
possuir organização técnica e administrativa adequadas, desde sua
gestão até contratação de prepostos (BRASIL, 1994, art. 21). A adequação
dessa organização deve contar com a colaboração de prepostos.

Nesse sentido, notários e registradores têm independência para atuar


sobre essa organização, cujo gerenciamento administrativo e financeiro
é livre, podendo contratar prepostos em número que julgar suficiente à
eficaz prestação do serviço, com livre remuneração ajustada. Não existe
um número mínimo ou um máximo de prepostos, ficando a cargo do
titular essa aferição, desde que haja adequação e qualidade no serviço.

Os prepostos são auxiliares e escreventes. Entre os escreventes, o titular


escolherá os substitutos, em quantidade que julgar necessária; já entre
os substitutos, um deverá ser nomeado pelo titular para responder pelo
serviço, em suas ausências e impedimentos, a exemplo de férias.

Dentre os prepostos, somente os escreventes podem ser autorizados


pelo titular a praticar atos jurídicos de competência do titular.
Ademais, cabe a ele autorizar o círculo de atuação de cada escrevente,
discriminando os atos que pode praticar. Aos auxiliares compete
os serviços burocráticos, de modo que, não podem praticar atos
jurídicos. Assim, ao titular cabe atribuir funções aos seus prepostos,
estabelecendo normas e obrigações, condicionando suas atuações
de modo a obter a melhor qualidade dos serviços. Logo, é o titular o
responsável pela fiscalização de seus prepostos.

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6. Direitos dos notários e registradores

Não só deveres deontológicos possuem os notários e registradores. A


par desses, os arts. 28 e 29 da Lei nº 8.935, de 1994, elencam os seus
direitos.

Quadro 1 – Direitos nos notários e registradores


Independência Significa que a gestão da serventia, a função
qualificadora e os atos praticados prescindem
de autorização, e são exercidos com liberdade
de convicção, livres de condicionamentos de
autoridades ou econômicos. A independência,
contudo, é relativa, uma vez que o tabelião e o
oficial encontram limites nas disposições legais e
normativas, das quais não podem se desviar ou
exceder.

Receber Os emolumentos decorrentes da prática dos atos


emolumentos são devidos aos notários e registradores em sua
integralidade. É a própria serventia que retém a
parte de sua remuneração e efetua os repasses
das verbas destinadas, por exemplo, ao Estado,
órgão de classe, Tribunal de Justiça, Defensoria e
Ministério Público, entre outros.

Perda da delegação Perda da delegação refere-se as formas de


somente nas extinção da delegação, a exemplo da morte,
hipóteses legais aposentadoria, entre outras. Dentre as formas
de extinção, inclui-se a perda da delegação como
penalidade, com o devido processo legal.

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Direito de opção Uma serventia pode ser desmembrada ou
desdobrada. Ceneviva (2014, p. 235) ensina
que o desmembramento implica na criação de
uma nova unidade em decorrência da divisão
da comarca. Já o desdobro resulta da criação
de uma nova serventia da mesma espécie, na
mesma comarca, ou seja, o cartório é dividido em
duas unidades prestadoras do mesmo serviço.
Em qualquer caso, o titular da serventia afetada
tem o direito de optar entre permanecer na
antiga ou atuar na nova, o que lhe aprouver. O
STJ já decidiu que dispensa consulta ou anuência
do titular atingido, inexistindo direito adquirido
ao não desmembramento (BRASIL, 2013).

Associar-se ou Notários e registradores podem criar associações


sindicalizar-se de classe ou sindicatos, e deles também
participar, independentemente de autorização
judicial ou administrativa. O poder delegante não
pode interferir, pois esse direito é consagrado no
art. 9º da CF (BRASIL, 1988).

Fonte: elaborado pelo autor.

7. Deveres correlatos de notários e


registradores

DOI: o art. 8º da Lei nº 10.426, de 2002, instituiu a obrigação sobre


notários, registradores de imóveis e Oficiais de títulos e documentos
de apresentarem à Receita Federal do Brasil a Declaração sobre
Operações Imobiliárias (DOI). Isso é feito por meio eletrônico (através
de programa de informática fornecido pela Receita Federal) até o último

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dia útil do mês seguinte ao mês da prática do ato notarial ou registral.
A regulamentação se dá pela IN RFB nº 1.112, de 2010, que estabelece
regras para preenchimento e apresentação à Receita Federal. Cada
escritura lavrada que envolva aquisição de imóvel, não importa o valor,
obriga ao cartório de notas declarar a DOI, e inserir na escritura a
expressão “emitida a DOI”. Cada ato praticado no registro de imóveis
que envolva aquisição de imóvel, também obriga o oficial a fazer a
declaração, ainda que o cartório de notas já a tenha feito. Para os
oficiais de títulos e documentos cabe uma explicação: a especialidade
competente para registrar transferências imobiliários é o registro de
imóveis; a competência do Oficial de Títulos e Documentos é residual,
e somente ocorrerá na hipótese de aquisição de imóvel consubstanciada
em instrumento particular (de conformidade com o art. 108 do CC) que
tenha sido devolvido pelo Registro de Imóveis por defeito do próprio
instrumento, acusando a impossibilidade do registro no fólio real.
Assim, somente quando presentes ambos requisitos (instrumento
particular acompanhado de nota devolutiva do Registro de Imóveis) o
oficial de TD, residualmente, poderá promover o registro, para fins de
conservação, e deste ato estará obrigado a declarar a DOI, inserindo
também no documento a expressão “emitida a DOI”. Esclareça-se que
desapropriação e usucapião são hipóteses que também obrigam a
declarar a DOI, pois importa em aquisição imobiliária.

Provimento nº 88-CNJ: O CNJ, em 2019, inseriu notários e registradores


no combate aos crimes de lavagem de dinheiro e financiamento do
terrorismo, traçando procedimentos e controles de cumprimento
obrigatório. A partir de 3 de fevereiro de 2020, com base nas
informações do título, as serventias deverão avaliar casos suspeitos,
decorrentes de operações incomuns que possam configurar firmes
indícios desses crimes, utilizando como critério de avaliação aspectos
subjetivos (relacionadas às partes) e objetivos relacionados à finalidade
do ato, complexidade do negócio, instrumentalização e valores
envolvidos. Havendo fortes indícios, o caso suspeito será comunicado à

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Unidade de Inteligência Financeira – UIF, através de sistema eletrônico
denominado SISCOAF (Sistema de Controle de Atividades Financeiras).
A caracterização da suspeita não impede que o ato registral ou
notarial seja praticado. A comunicação ao UIF deverá ocorrer no prazo
determinado pelo Prov. nº 88-CNJ. Semestralmente, nos dias 10 de
janeiro e 10 de julho, também deverá ser comunicada à Corregedoria
Geral de Justiça de sua unidade sobre a inexistência de operações
suspeitas ocorridas nos 5 meses anteriores. Os titulares poderão indicar
um preposto como oficial de cumprimento (caso não exista indicação,
o oficial de cumprimento será o próprio titular). O provimento também
estabelece que as serventias deverão manter cadastro dos envolvidos,
podendo se utilizar do Cadastro Único de Beneficiários Finais mantido
por suas entidades associativas. Por fim, elenca hipóteses indicativas de
suspeita específicas para cada serviço extrajudicial, bem como hipóteses
genéricas (art. 20 do Prov. 88-CNJ), como a existência de valores
incompatíveis com os de mercados, operações de expressivo ganho de
capital em período curto de tempo e operações cujo beneficiário final é
impossível de ser identificado.

Há outras comunicações a serem feitas, porém específicas para cada


especialidade, a exemplo das enviadas pelos tabeliães de notas à
CENSEC (Central Notarial de Serviços Eletrônicos Compartilhados),
quinzenalmente, sobre a lavratura de testamentos, escrituras de
divórcio, separação, inventário e partilha e procurações.

8. Responsabilidade

Responsabilidade civil do Estado: o assunto merece destaque em


razão do Tema nº 777, aprovado em 27 de fevereiro de 2019 pelo STF,
tendo inclusive o reconhecimento de repercussão geral, na qual o
“Estado responde objetivamente pelos atos dos tabeliães registradores
oficiais que, no exercício de suas funções, causem danos a terceiros,

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assentado o dever de regresso contra o responsável, nos casos de dolo
ou culpa, sob pena de improbidade administrativa” (BRASIL, 2014). Por
maioria de votos, os ministros do STF reafirmaram jurisprudência no
sentido de que a responsabilidade do Estado é direta e objetiva (não
subsidiária), cabendo ressaltar que o órgão público não poderá manter-
se inerte, ou seja, não poderá deixar de promover a ação regressiva
contra o notário ou registrador causador do dano, uma vez que sua
inércia poderá caracterizar ato de improbidade administrativa. Há, na
verdade, um dever de regresso, indisponível e obrigatório que deve
ser exercido pelo Estado. E isso ocorre porque o Estado indeniza com
dinheiro público, estando obrigado a apurar a culpa, tendo a finalidade
de recompor o erário público a fim de evitar que a sociedade suporte
os prejuízos decorrentes da conduta inadequada de seus agentes
públicos. Da responsabilidade objetiva e direta decorre que a vítima
poderá ser indenizada por aquele que tem maior poder, o Estado,
bastando comprovar o nexo causal existente entre a falta cometida pelo
notário ou registrador no exercício da atividade e o resultado danoso
sofrido, não se discutindo a culpa. A discussão desta só terá cabimento
na ação regressiva, na qual o Estado deverá comprovar que o notário
ou registrador agiu ou se omitiu voluntariamente ou culposamente,
quebrando um dever de cuidado.

Responsabilidade civil dos tabeliães e oficiais por seus próprios


atos: o art. 236 da Constituição Federal de 1988, ao mencionar que os
serviços extrajudiciais são exercidos em caráter privado por delegação
do Poder Público, retrata que a relação entre notários e usuários do
Serviço é de natureza privada. Depreende-se do art. 22 da Lei nº 8.935,
de 1994, do art. 28 da Lei nº 6.015, de 1973, e do art. 38 da Lei nº 9.492,
de 1997, que são civilmente responsáveis por todos os prejuízos que
causarem a terceiros, por culpa ou dolo, pessoalmente. Com efeito,
a conduta voluntária praticada pelo tabelião ou oficial enseja sua
responsabilização civil. Todavia, como a lei exige dolo ou culpa, não
deixa dúvida de que se trata de responsabilidade na modalidade

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subjetiva, na qual a vítima ou o Estado (este último em ação regressiva)
deverá comprovar o nexo causal existente entre a falta cometida no
exercício da atividade e o resultado danoso, bem como a quebra,
culposa ou dolosa, de um dever de cuidado. O entendimento foi
corroborado pelo STF, no Recurso Extraordinário nº 842.846, afirmando
tratar-se de responsabilidade subjetiva (BRASIL, 2014).

Responsabilidade civil dos prepostos: prepostos são os auxiliares,


escreventes e substitutos designados pelo titular. Conforme se
depreende do art. 22, caput, da Lei nº 8.935, de 1994, os prepostos
respondem subjetivamente pelos atos dolosos ou culposos que
praticarem no exercício da função. Portanto, deverá ficar comprovado o
nexo causal existente entre a falta cometida pelo preposto no exercício
da função autorizada e o resultado danoso, bem como a quebra, culposa
ou dolosa, de um dever de cuidado.

Responsabilidade civil dos notários e registradores por atos


de seus prepostos: o gerenciamento administrativo e financeiro
da serventia é da responsabilidade exclusiva do titular. A ele cabe
estabelecer obrigações, normas e condições relativas à atribuição
das funções de seus prepostos de forma a obter a melhor qualidade
na prestação dos serviços. Sob a ótica da responsabilidade, ela ficará
restrita aos atos que o preposto realizar no âmbito das funções que lhe
forem designadas. Pois bem, o tabelião ou oficial, além de responder
por seus próprios atos, responde pelos atos danosos dos prepostos
realizados na execução da função que lhes foi autorizada. A questão
da responsabilidade por fato de outrem (seu preposto) tem como
pressuposto o dever de fiscalização que o titular deve ter quanto a seus
escreventes e auxiliares. O art. 236, §1º da CF, de 1988, determinada
que uma lei específica regulamente a responsabilidade de notários
e registradores. Assim, a Lei n 8.935, de 1994, por seu caráter de
especialidade, afasta: (1) a aplicação da regra geral do art. 932, III do
Código Civil, que trata da responsabilidade objetiva do empregador
pelos atos de seus empregados no exercício do trabalho (eis que a

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norma especial afasta a norma geral); e (2) também a regra do art. 37
§6º da CF, de 1988, (aplicável apenas às pessoas jurídicas prestadoras
de serviços públicos, e não aos notários e registradores, que respondem
enquanto pessoas naturais). O art. 22 da lei especial, estabelece
que eles respondem por “dolo ou culpa”, caracterizando assim a
responsabilidade subjetiva. O mecanismo é esse: tabeliães e oficiais
titulares respondem subjetivamente pelos atos danosos praticados
por seus prepostos. O fundamento dessa espécie de responsabilização
repousa na omissão do dever de fiscalizar os seus funcionários quanto
à regularidade do serviço, gozando de ação regressiva contra seu
preposto quando este tiver agido com dolo ou culpa, uma vez que os
prepostos agem longa manus do titular e de sua responsabilização.
Essa responsabilidade também decorre do art. 28 da Lei nº 6.015, de
1973, e do art. 38 da Lei nº 9.492, de 1997. Não se aplica, portanto, a
responsabilidade objetiva prevista no CC, uma vez que esta lei geral
cede em face da lei especial. O entendimento foi corroborado pelo
STF, no Recurso Extraordinário nº 842.846, afirmando tratar-se de
responsabilidade subjetiva (BRASIL, 2014).

Reponsabilidade penal: notários e registradores e seus prepostos,


para o direito penal, são equiparados a funcionários públicos (art. 327,
§1º do CP), podendo cometer crimes contra a administração pública. A
responsabilidade penal é sempre subjetiva, uma vez que a CF, art. 5º,
XLV, não admite a responsabilização penal objetiva. A responsabilidade
criminal não impede a responsabilização civil e administrativa, uma vez
serem independentes. Ademais, o art. 92, I do CP, prevê como efeito
secundário não automático da condenação criminal a perda da função
pública quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual
ou superior a 1 ano (para crimes funcionais), ou superior a 4 anos (para
qualquer outro crime), desde que reconhecida na sentença. Com efeito,
notários e registradores podem perder a delegação nos termos do
referido artigo.

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Responsabilidade administrativa (disciplinar): os delegatários estão
sujeitos ao poder censório-disciplinar da Corregedoria, podendo ser
apenados por infrações disciplinares dolosas ou culposas praticadas
no exercício da atividade. Essas infrações são a quebra dos deveres
deontológicos elencados no art. 30 e 31 da Lei nº 8.934, de 1994,
sujeitando-os as penas de multa, repreensão, suspensão por 90 dias
prorrogável por mais 30 e a perda da delegação (por decisão em
processo administrativo disciplinar). Prepostos estão sujeitos ao poder
disciplinar do titular, nos limites traçados na legislação trabalhista.
Portanto, é subjetiva essa responsabilidade.

Responsabilidade tributária dos delegatários: as serventias estão


obrigadas a fazer fiscalização rigorosa do pagamento dos impostos
decorrentes dos atos praticados. A falha na fiscalização acarreta a
responsabilidade pelo pagamento do tributo. Apesar do art. 134 do CTN
utilizar a expressão “solidária”, a doutrina prevalente ensina que se trata
de responsabilidade subsidiária (titulares arcam com o tributo acaso
seja impossível havê-lo do contribuinte), há outras responsabilidades
tributárias dos delegatários, mas na qualidade de contribuintes, como
o pagamento do ISS, bem como o repasse das verbas dentre outros, do
Estado, associações, Tribunal de Justiça, Defensorias, Ministério Público
etc., que seguem a disciplina da lei específica de cada ente estadual.

Responsabilidade trabalhista: a pessoa do delegatário é responsável


pelos contatos trabalhistas que formalizar. O TST possui entendimento
majoritário segundo o qual não existe continuidade da relação
empregatícia quando há sucessão do delegatário, havendo quebra da
relação de emprego quando o novo delegatário assume a serventia,
inexistido sucessão trabalhista. O novo titular não responde pelos
contratos trabalhistas entabulados pelo anterior, salvo se aquele der
continuidade ao contrato de trabalho assumindo as responsabilidades,
caso em que haverá a sucessão. Na prática, o novo titular recontrata a
maioria dos funcionários para a continuidade dos serviços.

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9. Conclusão

Neste tema, você aprendeu os conceitos básicos sobre autenticidade,


publicidade, eficácia e segurança, garantias que os serviços extrajudiciais
devem abonar, bem como o poder de fé pública que embasa a
sua atividade. Além disso, conheceu a forma de gerir sua atividade
a partir da colaboração de prepostos, os deveres correlatos e as
responsabilidades decorrentes do ato que praticar.

Referências Bibliográficas
BRANDELLI, Leonardo. Teoria geral do direito notarial. 2. ed. São Paulo: Saraiva,
2007.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.
Brasília, DF: Presidência da República, [1988]. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 22 jul. 2020.
BRASIL. Instrução Normativa RFB nº 1112, de 28 de dezembro de 2010. Aprova o
programa e as instruções para preenchimento da Declaração sobre Operações
Imobiliárias, versão 6.1, define regras para a sua apresentação e dá outras
providências. Diário Oficial da União, Brasília, p. 95, 30 dez. 2010.
BRASIL. Lei nº 8.935, de 18 de novembro de 1994. Regulamenta o art. 236 da
Constituição Federal dispondo sobre serviços notariais e de registro. (Lei dos
cartórios). Brasília, DF: Presidência da República, [1994]. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8935.htm. Acesso em: 22 jul. 2020.
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e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, [2002]. Disponível
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LOUREIRO, Luiz Guilherme. Manual de direito notarial da atividade e dos
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Bons estudos!

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