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CURSO DE TANATOLOGIA TAREFA DO MÓDULO VII

Silvialine Fontenele Ramos

Faça uma reflexão sobre como as relações e vínculos atuais - numa cultura tecnológica de
redes sociais, entretenimento, consumo e fármacos - podem afetar os processos de perda e
luto.

Na atualidade estamos sempre sedentos por informações. Mesmo que estas não
sejam tão úteis em nosso cotidiano. Com o advento e propagação da tecnologia através as
mídias sócias hoje podemos ter incontáveis ‘amigos’ virtuais. Nos divertindo, distraindo,
curtindo, compartilhando e ‘retuitando’ informações interessantes outras nem tanto.
Porém imaginamos que esses inumeráveis ‘amigos’ vão está conosco e que podemos
acreditar que esses vínculos são fortes e potentes. Alguns podem até ser, no entanto não
podemos está fisicamente com todos. E por azar ou sorte Tânatos nos abraçar o que será que
esses “amigos” farão luto? Será que esses vínculos são fortes para tanto? Ou apenas somos,
segundo Bauman, vínculos líquidos? Isso mesmo vínculos que não nasceram para durar e que
são fluídas. Citando um exemplo simples – há uma discórdia entre determinado assunto ou
posicionamento, seja lá qual for, existe possibilidade imensa que a pessoa que não
compartilha da mesma perspectiva será excluída do grupo e/ou mesmo cancelada.
Não venho aqui afirmar que não pode existir amizade virtual. Porém venho de outro
século na qual fazer amizade requeria tempo e pouco espaço geográfico. Compartilharíamos
momentos bons e ruins. E quando ocorresse discordância poderia até mesmo haver discussão
acalorada, porém poderia acabar com cara feia de ambos mas tomando café com pão na
mesma mesa.
Trago aqui minha experiência na qual achava que tinha amizade com duas pessoas
que residem em Fortaleza. Em agosto de 2016 no sábado dia 6 meu genitor teve um AVC
hemorrágico. Eu estava no hospital para recebe-lo já ele que está em outra cidade. Ao me
deparar com a chegada dele percebi naquele momento que a chances de vida seriam mínimas.
Fiz luto antecipatório, fiquei desesperada. Parecia que o mundo tinha parado e que meu
coração estava se quebrando. Aquele sábado percebi o quanto somos impotentes diante do
processo de morrer. Nesse momento na qual as emoções estávamos governando meu ser ao
meu lado estava minha irmã e uma amiga nossa. Ao retornar para casa cai nos braços da
minha mãe. Estava muito afetada com que estava acontecendo. Essa amiga ficava me
vigiando, com receio de que eu também fosse para a hospital. Lembro que depois de chás e de
banho conversei com algumas pessoas através do aplicativo whatsapp. Muito deram apoio.
No domingo dia 7 às 22:04 meu pai morre sozinho na cama de UTI. Porém na madrugada do
dia 8 às 04 da manhã recebo o telefonema do meu tio que meu pai tinha morrido e que eu
escolhesse a roupa. Como estava sozinha com minha mãe dei a notícia para ela e depois fui
fazer mais chás. Telefonei para todos os parente e amigos. Sim antes do nascer do dia. Com
os primeiros raios do sol, amiga da família veio até a minha residência para nos ajudar. Foi
um dia triste. Eu e minha mãe tivemos que ser medicadas. Ela por conta da pressão que
chegou aos 23 e eu por ficar completamente descontrolada. Nesse dia falei para todos meus
colegas e amigos o que estava acontecendo. Alguns ligaram outros vieram até mim e outros
não falaram nada. Nem depois de semanas. Tiveram alguns que me excluíram afirmando que
não gostava desse ‘tipo’ de comportamento, vínculo líquido, - sim não toleravam o
comportamento do enlutar-se.
Na primeira semana só conseguia existir a base de medicamento para me entorpecer.
Na semana seguinte amigas me levaram para comer, forma de sair de casa, elas sabiam que
estava uma dopada funcional. E foi assim por 20 dias. Até que irmãs e mãe pediram para
voltar para faculdade de Psicologia. Continuei dopada funcional até que depois de 1 mês mãe
e eu decidimos não mais ficar dopadas. Os meses seguintes foram sentindo o luto, contudo
sem mais medicamento e percebendo que pode ser um processo até mesmo bonito
ressignificar tudo aquele momento.
Não se contemplou o que foi pedido, contudo, acredito que essa foi uma forma de
comunicar que vínculo é muito mais do que curtidas e que amizade e muito além do está
perto.

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