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“Atrás de toda a mulher próspera...


existe uma quantidade significativa
de café.”
Stephanie Piro

Nº 18, Maio 2013

Índice
Página 2 EM DESTAQUE

A Odisseia de África
O Café e a Sua História
Página 4 INOVAÇÃO
Após na edição anterior termos traçado a Linha do Tempo do Café, com
Bean Machine
os principais marcos do seu percurso até ao dias de hoje, baseamo-nos na
obra de Mary Banks, Christine McFadden e Catherine Atkinson para lhe
Página 5 O CAFÉ NA COZINHA
descrevermos a misteriosa e turbulenta viagem do grão de café, desde o
Maminha ao Molho de seu berço etíope, através da Arábia e do Médio Oriente, até à Europa e ao
Café Novo Mundo. Continuaremos ainda nas próximas edições a revelar como
o café se arreigou irrevogavelmente nas culturas ocidentais, e a analisar o
Tiramisu de Beber
seu papel vital na vida política, económica e cultural em todo o mundo,
Página 6 COCKTAILS E BEBIDAS historicamente e até aos dias de hoje.

Café com Creme de Laranja Sandra Azevedo

Próximos Workshops
Workshop Café: Latte Art
Lisboa: 1 de Junho - Das 16h às 19h
Workshop Café: Um Produto Desconhecido – Módulo Avançado
Lisboa: 22 de Junho - Das 10h às 13h
Workshop Café Menu: Bebidas de Verão e de Inverno
Lisboa: 22 de Junho - Das 16h às 19h
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A Odisseia de África
A planta do café foi da Etiópia para a Arábia, algures entre 575 e
850. Como lá chegou não é claro, embora uma hipótese refira
que as sementes poderão ter sido levadas por gente das tribos
africanas, quando migraram para norte, do Quénia e da Etiópia
para a Península Arábica. Acabaram por ser repelidos pelas
lanças dos persas, mas deixaram atrás de si cafeeiros, crescendo
na região que é hoje o Iémen.

MITOS E LENDAS subsequente expansão pelo Médio DA COMIDA À BEBIDA


Outra possibilidade é que os Oriente. O autor conta-nos como o
Tal como a descoberta da planta e
mercadores de escravos árabes mufti de Adem, ao viajar pela
a sua viagem para a Arábia, o
tivessem comprado as sementes Pérsia, em meados do século XV,
processo de evolução de alimento
no regresso das suas incursões deparou com alguns compatriotas
a bebida quente também é tema
pela Etiópia ou, mais provável, a beber café. Voltando a Adem de
de especulação histórica.
que a responsabilidade tenha má saúde, lembrou-se do líquido
cabido aos Sufis – uma seita e pensou que este pudesse ajudá- Os comentários dos primeiros
mística islâmica, conhecida pelos lo a recuperar. Mandou buscar exploradores e botânicos
seus “dervixes dançarinos”. A algum e descobriu que não só lhe europeus indicam que os etíopes
evitava o sono, sem efeitos mastigavam grãos de café não
literatura clássica árabe confirma-
o, sugerindo que foi um Grão- nocivos, como “dissipava todo o torrados, obviamente por
mestre Sufi, Ali ben Omar al tipo de peso e tonturas e o apreciarem os seus efeitos
Shadili, que levou as sementes de deixava mais vivo e alegre do que estimulantes. Também pisavam
estava habituado a ser”. bagas de café maduras,
café para a Arábia. Al Shadili
viveu uns tempos na Etiópia, misturavam-nas com gordura
Desejando partilhar estes
antes de fundar um mosteiro no animal e moldavam a pasta
benefícios com os seus dervixes, o
resultante em bolinhas. Este
porto iemenita de Mocha (Al mufti deu-lhes café antes de se
Mukha). Dado que, mais tarde, se poderoso cocktail de gordura,
entregarem às suas orações
tornou conhecido como o santo de cafeína e proteína animal era uma
nocturnas e descobriu que
Mocha, Al Shadili parece ser o fonte vital de energia
também eles conseguiam
concentrada, particularmente
mesmo lendário Omar que desempenhar “todos os seus
descobriu as bagas de café valiosa em épocas de conflitos
exercícios religiosos com grande
enquanto esteve exilado no tribais, em que se exigia aos
alacridade e liberdade de
guerreiros que dessem tudo por
deserto, embora as histórias não espírito”.
encaixem muito bem. tudo. As bagas, provavelmente,
Quaisquer que tivessem sido a também eram comidas como fruto
Um relato razoavelmente fiável rota e as circunstâncias, há maduro, pois a sua polpa é doce e
foi desenterrado numa coleção de evidências sólidas de que os contém cafeína.
manuscritos originais de primeiros cafeeiros cultivados
Monsieur de Nointel, embaixador Registos antigos mostram ainda
cresciam em jardins de mosteiros
de Luís XIV nos portos árabes. que se fazia um vinho a partir do
no Iémen, concordando a maioria
Escrito por um árabe, em 1587, o sumo fermentado das bagas
das autoridades árabes que a
maduras. Esse vinho chamava-se
documento dá-nos a que, na comunidade Sufi foi, de algum
altura, se julgava ser a mais antiga qahwah, que significa “aquele que
modo, responsável.
referência ao uso do café e sua excita e faz elevar os espíritos”,

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termo que acabou por ser usado Alpinus. Neste livro sobre os
tanto para o vinho como para o remédios e plantas do Egipto,
café. Uma vez que o vinho fora Alpinus escreve: “É um excelente
proibido por Maomé, o café foi remédio contra a cessação dos
alcunhado de “vinho das arábias”. fluxos das mulheres e elas fazem
muitas vezes uso dele, quando o
Parece também possível que o café
seu fluxo não é tão rápido quanto
tenha sido usado como alimento na
desejariam... é um remédio rápido
Arábia e só mais tarde misturado
e certeiro para aquelas mulheres,
com a água para fazer uma bebida.
que, não tendo os seus fluxos, são
A primeira versão desta bebida foi,
atormentadas por dores
provavelmente, um líquido
violentas”.
produzido macerando alguns grãos
com pergaminho em água fria. Alpinus prossegue, descrevendo
Mais tarde, esses grãos foram como se fazia o café: “Esta
torrados em fogueiras e depois decocção, fazem-na de duas BUN E BUNCHUM
fervidos em água durante cerca de maneiras: uma com a pele ou o
A palavra africana para o cafeeiro
30 minutos, até se obter um líquido exterior do referido grão e outra
era bun, que depois deu, em
amarelo-claro. com a própria substância do grão.
árabe, bunn, significando tanto a
A que é feita com a pele tem
Por volta do ano 1000, a bebida era planta como a baga. Rhazes (850-
maior poder do que a outra...
ainda uma decocção relativamente 922), médico que viveu no Iraque
grosseira, feita com grãos verdes e O grão é colocado num persa, seguidor de Galeno e de
os seus pergaminhos. instrumento de ferro, firmemente Hipócrates, compilou uma
Provavelmente, foi apenas por fechado com a tampa, por este enciclopédia médica na qual se
alturas do século XIII que se instrumento introduzem um refere ao grão como bunchum. A
começou a secar os grãos antes de espeto por meio do qual o voltam sua dissertação sobre as
os usar; eram postos ao sol e, uma no fogo, até que fique bem propriedades curativas levou
vez secos, podiam guardar-se por torrado; depois do que, tendo-o indubitavelmente a crer que o
longos períodos. Depois disso, foi pisado bem até ficar um pó muito café era conhecido como remédio
um pequeno passo até os torrarem fino, se pode fazer uso dele, havia mais de mil anos.
sobre um fogo de carvão. proporcionalmente ao número de Referências semelhantes surgem
pessoas que o vão beber: a terça nos textos de Avicena (850-1037),
PRIMEIROS USOS
parte de uma colher para cada outro distinto médico e filósofo
Inicialmente, o café era consumido pessoa, e deite-a num copo de muçulmano.
apenas no decurso de cerimónias água a ferver juntando também
religiosas ou por conselho médico. A palavra “café”, enquanto
um pouco de açúcar. E depois de
Depois que os homens da medicina bebida, é uma forma modificada
ter fervido um pouco, deve deitá-
constataram os efeitos benéficos do do termo turco kahveh que, por
lo em pires de porcelana ou de
sua vez, deriva do árabe kahwa
café, foram cada vez mais os que o qualquer outro tipo e deixar bebê-
começaram a receitar. (ou qahwah).
lo aos poucos, o mais quente que
O café era usado para tratar uma se possa suportar.”
variedade surpreendente de in Manual Enciclopédico do Café
problemas, incluindo pedras nos
rins, gota, varíola, sarampo e tosse.

Um tratado de finais do século


XVII, sobre o café e os seus usos,
cita a obra do botânico Prosper

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Bean Machine
O carro movido a café
O engenheiro britânico Martin monóxido de carbono e Assista ao vídeo em
Bacon desenvolveu um carro que hidrogénio, que servem para http://www.youtube.com/watch
se move com um subproduto do alimentar um motor a combustão ?v=5ZXKyEhW6x8.
café. O Bean Machine,, ou Coffee adaptado. Os gases são filtrados e
Car Mark 2, como é chamado o arrefecidos. Depois, o hidrogénio
automóvel, estabeleceu, em é canalizado para o motor, onde
Fevereiro deste ano, em entra em combustão, move
Manchester, um recorde de os cilindros e coloca o
velocidade reconhecido pelo carro em movimento.
Guiness Book of Records: foi
A ideia não é
considerado o veículo mais rápido
necessariamente nova.
da história a ser movido por café,
Em termos de
tendo alcançado a velocidade de
racionamento de
104 km/h.
combustível na Segunda
A Bean Machine foi construída Guerra Mundial,
sobre uma antiga pick-up Ford aproximadamente 100
F100 de 1989. mil veículos no Reino
Unido passaram a usar a
Embora não use gasolina ou
queima de gases para circular.
diesel, o sistema ainda precisa de
carvão para aquecer o café a 700º. Em 2010, Martin Bacon já tinha
Contudo, de acordo com o modificado outro
inventor, a solução é mais carro, o Mark 1,
ecológica do que o uso de tendo ido de
derivados de petróleo. No Manchester até
entanto, o custo é entre 25 e 50 Londres. A viagem
vezes mais caro do que a gasolina. entrou no livro
Outra desvantagem é o enorme Guiness Book of
peso acrescido pela caldeira. Records como
sendo a maior
O carro é equipado com um
jornada
sistema gaseificador que queima o
percorrida por
material orgânico a altas
um carro movido
temperaturas. Como resultado,
a café.
gera gases combustíveis, como

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O Café na Cozinha
INGREDIENTES:
1 peça de maminha, limpa, com uma pequena camada de gordura

100 ml de café

100 ml de vinho tinto seco

1 colher (chá) de glutamato monossódico

1 chávena (chá) de sal grosso


Maminha ao Molho
50 g de manteiga
de Café
A maminha é um tipo de corte 1 colher (chá) de tomilho
da carne bovina. Está Misture num recipiente: o café, o vinho tinto seco e o glutamato monossódico.
localizada na parte traseira do
Com o auxílio de uma seringa, com agulha bem grossa, injecte a mistura no
animal entre o lombo e a coxa
interior da carne e deixe tomar gosto durante uma noite no frigorífico. Retire a
e representa,
aproximadamente 8,84% da carne do frigorífico e deixe 1 hora à temperatura ambiente, num recipiente
carcaça. O corte tradicional é fechado. Esfregue o sal grosso por toda a peça, enrole-a em 4 voltas de papel
cortado transversalmente do celofane especial para churrasco e leve-a à parte alta da churrasqueira (50 cm)
membro do animal em fatias durante aproximadamente 2 horas. Retire a carne do celofane com cuidado
de cerca de 2 cm, e é assado no para não se queimar com o vapor, e barre-a com uma mistura de manteiga e
espeto duplo ou na grelha,
tomilho. Volte a colocar na churrasqueira, agora a uma distância de 20 cm das
rapidamente, em lume forte.
brasas, durante apenas 3 minutos de cada lado, até dourar. Sirva fatiada e
acompanhada de batatas a murro.

INGREDIENTES:
1 chávena (chá) de biscoitos Amaretto

8 colheres (sopa) de queijo mascarpone

2 colheres (sopa) de açúcar

2 colheres (sopa) de café solúvel

1 chávena (chá) de leite

Tiramisu de Beber ½ chávena (chá) de nata

O Tiramisu é uma sobremesa 3 colheres (sopa) de cacau em pó


tipicamente italiana,
2 colheres (sopa) de licor Amaretto
possivelmente originária de
Treviso, região do Vêneto, e 4 colheres (sopa) de chantilly
que consiste em camadas de
pão de ló (em geral Raspas de chocolate e biscoitos Amaretto triturado q.b.
substituído por biscoitos do Triture os biscoitos com a varinha e reserve. Coloque numa tigela o queijo
tipo inglês ou champanhe)
mascarpone, o açúcar e o café solúvel. Mexa vigorosamente até ficar homogéneo
embebidas em café,
e reserve. Misture no blender o leite com o cacau em pó e o licor de Amaretto.
entremeadas por um creme à
base de queijo mascarpone e Disponha os biscoitos em 2 copos de capacidade para 300 ml (apertando bem
polvilhadas com chocolate para fazer uma massa compacta), disponha a mistura de mascarpone e café.
amargo. Verta o leite batido. Cubra com chantilly e decore com raspas de chocolate e
biscoito Amaretto triturado.

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Cocktails e Bebidas
Café com Creme de Laranja
A laranja é o fruto produzido pela laranjeira. É um fruto híbrido,
criado na antiguidade a partir do cruzamento da cimboa com a
tangerina. O sabor da laranja varia do doce ao levemente ácido.
Frequentemente, esta fruta é descascada e comida ao natural, ou
espremida para obter sumo. As pevides (pequenos caroços
duros) são habitualmente removidas, embora possam ser usadas
em algumas receitas. A casca exterior pode ser usada também
em diversos pratos culinários, como ornamento, ou mesmo para
dar algum sabor. A camada branca entre a casca e as gomas, de
dimensão variável, raramente é utilizada, apesar de ter um sabor
levemente doce. É recomendada para “quebrar” o sabor ácido da
laranja na boca, após terminar de consumir o fruto.

INGREDIENTES:
2/3 chávena (chá) de natas frescas

½ colher (chá) de raspas de casca de laranja

1 colher (sopa) de açúcar

1 chávena (chá) de café quente

1 colher (chá) de raspas de chocolate semi-amargo

Bata as natas com as raspas de laranja e o açúcar até engrossar um pouco. Encha as taças com metade do creme. Bata o
restante até obter picos firmes e reserve. Acrescente o
café e o chocolate nas taças. Finalize com o restante
creme batido e decore com chocolate em pó.

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