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Educação Unisinos

15(1):13-21, janeiro/abril 2011


© 2011 by Unisinos - doi: 10.4013/edu.2011.151.02

Escola unitária e hegemonia: a indissociabilidade entre


educação e política no pensamento de Antonio Gramsci

Unitary school and hegemony: The inseparability between


education and politics in the thought of Antonio Gramsci

Bráulio Loureiro
br.loureiro11@yahoo.com.br

Resumo: Este artigo tem o objetivo de analisar as dimensões político-educacionais da proposta


de escola unitária de Antonio Gramsci, ou seja, compreendê-la a partir da totalidade política
na qual se insere: a luta de classes e a construção da hegemonia do proletariado. Polemizando
com as análises que, de algum modo, despolitizam a proposta educacional de Gramsci,
desvinculando-a do propósito revolucionário a que responde, acreditamos que Gramsci observa
na edificação de uma escola única, de cultural geral e organicamente vinculada ao trabalho,
importante instrumento para a tarefa de romper com a divisão do conhecimento imposta
pela sociedade de classes. Com isso, a partir de revisão bibliográfica e análise do caderno 12,
denominado “Apontamentos e notas dispersas para um grupo de ensaios sobre a história dos
intelectuais”, o presente artigo identifica na escola de Gramsci elementos que indicam que a
adoção do princípio unitário liga-se necessariamente à supressão da dicotomia entre trabalho
manual e trabalho intelectual e da cisão entre dirigidos e dirigentes.

Palavras-chave: educação, escola unitária, política, hegemonia, Gramsci.

Abstract: This article analyzes the political and educational dimensions of Antonio Gramsci’s
proposal of a unitary school, understanding it from the totality in which it occurs: the class
struggle and the construction of the hegemony of the proletariat. It challenges the analyses
that somehow depoliticize Gramsci’s educational proposal by divesting it of its revolutionary
purpose. The author believes that Gramsci saw in the construction of a unitary school linked
to work an important tool for the task of breaking with the division of knowledge imposed by
class society. Thus, based on a review and analysis of notebook # 12, “Notes and Loose Jottings
for a Group of Essays on the History of Intellectuals”, this article identifies in the unitary school
evidence that the adoption of the unitary principle is necessarily connected to the abolition of
the dichotomy between manual and intellectual work and the division between leaders and led.

Key words: education, unitary school, politics, hegemony, Gramsci.

Introdução turais e educacionais, encontram-se hegemonia em Gramsci representa


intimamente vinculadas ao objetivo a capacidade de direção e condução
Pode-se dizer que as formulações de construção da hegemonia do pro- de uma classe social sobre os de-
teóricas de Gramsci, principalmente letariado. Em termos gerais, segundo mais grupos sociais. Esse domínio
no que diz respeito às questões cul- Schlesener (1992) e Gruppi (1978), é constituído não apenas pela força,
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mas principalmente pelo consenti- de fragmentação educacional marca- de pressão popular e crise da esco-
mento, ou seja, pela capacidade de do pela multiplicação de escolas de la tradicional (que não conseguia
um grupo social e seus intelectuais diferentes níveis, voltadas para espe- mais responder satisfatoriamente às
tornarem gerais seus interesses. É a cíficos ramos técnico-profissionais necessidades do desenvolvimento
partir disso que Gramsci se debruça (em grande medida não manuais) capitalista), a proposta escolanovista
sobre as questões educacionais, já e com objetivos de satisfação das impulsionava e norteava, nas primei-
que consenso se relaciona intima- necessidades imediatas da produção ras décadas do século XX, reformas
mente com cultura. Os esforços para capitalista. Essa situação, além de educacionais em países da Europa e
a construção de um projeto educacio- impossibilitar o substantivo, amplo e do continente americano.
nal socialista, pautado na noção de unificado desenvolvimento cultural Para Gramsci, a proposta educa-
escola unitária, se confundem com os italiano, aprofundava a divisão do cional escolanovista representava um
objetivos de transformação estrutural conhecimento entre classe dominante momento da luta de classes. Isso por-
da ordem capitalista. e trabalhadores. A difusão dos novos que sua motivação política essencial
Gramsci atualiza o pensamento estabelecimentos de ensino profis- era a de contenção da concretização
marxista. Considerando a relação sional e a dualidade já presente na completa das demandas socialistas. A
dialética entre base material e cons- escola tradicional italiana implicavam escola nova incluiu, em sua proposta
ciência, o filósofo italiano observa na a fragmentação do conhecimento e o pedagógica, demandas populares
organização da cultura dos grupos so- reforço da organização social baseada a fim de superar a criticada escola
ciais subalternos um ponto de funda- na apropriação privada da riqueza so- tradicional. No entanto, adequou e
mental importância para a pretendida cialmente produzida (Gramsci, 2004). submeteu tais demandas à lógica da
transformação social revolucionária. A crítica de Gramsci se dirige es- conservação da ordem político-cultu-
Suas preocupações com o espaço pecificamente à reforma educacional ral vigente. Em resumo, a burguesia
escolar e suas funções hegemônicas que acontecia na Itália de 1923, uma formulou sua proposta de escola laica,
de divisão do conhecimento devem reforma conduzida pelo filósofo Gio- pública, gratuita e ligada ao trabalho
necessariamente ser compreendidas vanni Gentile, ministro da Instrução como forma de satisfazer a pressão
atreladas aos objetivos de contribuir Pública de Benito Mussolini. A cha- popular pela democratização escolar.
para o desenvolvimento da cons- mada Reforma Gentile foi marcada Segundo Soares (2000, p. 438),
ciência política dos trabalhadores, pelo reforço da dualidade escolar a
condição necessária tanto para o partir da afirmação do ensino hu- [t]rata-se de acolher o mais avançado,
processo revolucionário quanto para manista como privilégio das classes sim, mas para manter o mais atrasado.
a estruturação da futura organização dominantes e da reformulação/su- Garantir a direção burguesa significa
social socialista. perficialização da escola técnica já assegurar a divisão classista da socie-
Diante disso, o presente artigo tem existente. A concepção neoidealista dade impedindo que a “escola única”
de Gentile aplicada à educação era se concretize. Por isso, será necessá-
como objetivo geral, por meio de
rio encontrar nas ciências então em
revisão bibliográfica (pautada, prin- útil aos objetivos políticos aos quais
desenvolvimento – fisiologia, psi-
cipalmente, na análise do Caderno respondia. A reforma educacional cologia, sociologia – elementos para
12, de Antonio Gramsci, intitulado conduzida pelo Ministro cumpria a “justificar” diferenciações sociais
Apontamentos e notas dispersas função de reproduzir a ordem social ainda reproduzidas na escola. Esse é
para um grupo de ensaios sobre a desejada pelo fascismo, pautada na o sentido da “revolução copernicana”
história dos intelectuais), expor e manutenção da divisão classista da do escolanovismo, expressando a he-
analisar a proposta de escola unitária escola. Além disso, visando edi- gemonia ético-política da burguesia.
em Gramsci a partir de seus vínculos ficar um clima cultural favorável
com a organização da hegemonia do à ditadura de Mussolini, a escola É importante expor que Gramsci
proletariado. deveria difundir noções ligadas ao não desprezou os elementos pro-
nacionalismo, ao patriotismo e ao gressistas (por exemplo, a noção de
A escola unitária incondicional respeito pelas regras escola ativa) trazidos pela escola
e normas do Estado. nova, mas, ao afirmar a necessidade
A elaboração da proposta de um A proposta de escola unitária de de da instauração de um princípio
princípio unitário a ser aplicado na Gramsci também pode ser compreen- unitário na formação educacional dos
14 escola se deu a partir de um proble- dida como resposta à escola nova e à indivíduos, ele acabou polemizando
ma diagnosticado por Gramsci no escola única do trabalho (conduzida com a proposta de escola nova, pois
contexto italiano: o nocivo processo por Lênin na Rússia). Num contexto compreendia atividade de modo mais

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Escola unitária e hegemonia: a indissociabilidade entre educação e política no pensamento de Antonio Gramsci

amplo, como mediação entre teoria A fim de dissolver a trama tegrará a unidade do fato educativo
e prática (Soares, 2000). evidenciada no trecho acima, com o ideal de formação humana
A respeito do desenvolvimento Gramsci propôs uma organização geral, isto é, a profissionalização
industrial italiano e suas demandas, educacional em que a escola fosse e a formação humana integral se
Gramsci percebeu que, além de única, unitária e com a finalidade encontrarão no homem como uma
difundirem uma gama de escolas de desenvolver as capacidades necessidade dos tempos moder-
segmentadas, resultaram na redução intelectuais e práticas dos jovens. nos”. A escola unitária levaria os
do número de instituições escola- De acordo com Gramsci (2004, estudantes a um grau de conheci-
res com características humanistas, p. 33), a solução do problema mento e autonomia criativa que os
desinteressadas e com a tarefa de político-educacional italiano pas- deixaria aptos a se inserirem com
desenvolver nos indivíduos (ainda que sava pela edificação de uma “[...] consciência histórica e política no
das classes dirigentes) uma ampla base escola única inicial de cultura mundo do trabalho e na vida social.
de conhecimentos gerais. O pensador geral, humanista, formativa, que O objetivo seria formar um novo
italiano reconhecia que a tradicional equilibrasse de modo justo o de- tipo de homem, marcado tanto pela
escola italiana era oligárquica e tinha senvolvimento da capacidade de capacidade de realizar uma função
como finalidade política a formação e se trabalhar manualmente (tec- específica quanto pela noção a res-
reprodução dos grupos sociais domi- nicamente, industrialmente) e o peito da estrutura histórico-social
nantes. Contudo, esse fato não deveria desenvolvimento das capacidades na qual está inserido. Um indiví-
resultar necessariamente em crítica ao de trabalho intelectual”. A adoção duo que fosse, ao mesmo tempo,
seu modelo de ensino. O problema do princípio unitário na educação especialista (elemento de sua
não estava na forma de ensino da e o desenvolvimento da escola uni- inserção produtiva na sociedade)
escola tradicional, mas no fato de que tária possibilitariam um equilíbrio e dirigente (elemento que expressa
a educação e a escola destinadas aos no desenvolvimento do aluno com seu desenvolvimento intelectual,
trabalhadores diferiam das destinadas relação ao trabalho manual e inte- sua autonomia de pensamento e sua
à elite. Para Gramsci (2004, p. 49), lectual.1 Somente após ter acesso capacidade de dirigir). Nas palavras
(mediante formação humanista de Gramsci (2004, p. 53):
[a] escola tradicional era oligárquica geral) aos conhecimentos produzi-
já que destinada à nova geração dos O modo de ser do novo intelectual
dos pelo homem, bem como desen-
grupos dirigentes, destinada por sua não pode mais consistir na eloqüência,
vez a tornar-se dirigente: mas não era
volvido sólida consciência moral motor exterior e momento dos afetos
oligárquica pelo seu modo de ensino. e social, o jovem aluno poderia e das paixões, mas numa inserção
Não é a aquisição de capacidades de se especializar técnica e profis- ativa na vida prática, como construtor,
direção, não é a tendência a formar sionalmente. O princípio unitário organizador, “persuasor permanente”,
homens superiores que dá a marca compreende trabalho como ativi- já que não apenas orador puro – mas
social de um tipo de escola. A marca dade criadora. Assim, o objetivo superior ao espírito matemático
social é dada pelo fato de que cada abstrato; da técnica-trabalho, chega à
de Gramsci consistiu em construir
grupo social tem um tipo de escola técnica-ciência e à concepção huma-
“[...] uma escola que formasse a nista histórica, sem a qual permanece
próprio, destinado a perpetuar nestes
estratos uma determinada função nova geração de produtores, isto é, “especialista” e não se torna “dirigen-
tradicional, dirigente ou instrumen- uma escola que preparasse técnicos te” (especialista + político).
tal. Se se quer destruir esta trama, que não fossem apenas executores
portanto, deve-se não multiplicar e mecânicos, mas que dominassem a A escola burguesa é organizada
hierarquizar os tipos de escola pro- sua arte ao adquirir o saber sobre politicamente para conter o desen-
fissional, mas criar um tipo único de a técnica, seus limites e possibili- volvimento desse nexo especialis-
escola preparatória (primária-média) dades” (Schlesener, 2002, p. 68). ta-político no âmbito dos grupos
que conduza o jovem até os umbrais
O princípio unitário aplicado sociais subalternos. Com isso,
da escolha profissional, formando-
o, durante este meio tempo, como à escola tinha como finalidade exerce sua função hegemônica de
pessoa capaz de pensar, de estudar, articular formação profissional e formação do aluno-trabalhador
de dirigir ou de controlar quem dirige. educação humanista. Segundo Jesus para a posição subalterna que lhe
(2005, p. 58), “[a] escola única rein- caberá na sociedade. Gramsci,
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É possível pensar a proposta escolar de Gramsci tanto como um programa educacional a ser aplicado num período de transição revolucionária
quanto como um norte para a elaboração de propostas a serem colocadas em disputa ainda no contexto de dominação capitalista.

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observando que a classe operária ciplina, bem como dos princípios entre o pensar e o executar que o
italiana ainda não possuía o de- fundamentais do humanismo. Seria homem se constrói.
senvolvimento cultural necessário por meio do desenvolvimento de A relação entre escola e trabalho
para a conquista da hegemonia, tais fundamentos que a passagem na proposta de escola unitária não
dedica-se a propor os caminhos média-superior se realizaria de pode ser confundida com os prin-
pelos quais passaria o processo de modo saudável, fazendo com que cípios presentes nas experiências
construção de uma nova cultura. o estudante, após adquirir ampla e propostas politécnicas. Estas
Nesse sentido, sua proposta de formação e desenvolver potencia- aproximaram o trabalho da escola
escola unitária tem por objetivo lidades através do trabalho como conservando a separação mecânica
a formação de dirigentes, contri- princípio educativo, pudesse optar entre teoria e prática. A proposta
buindo para a construção contra- com maturidade e condições para politécnica posta em prática por
hegemônica, cuja finalidade essen- a atividade na qual pretendia se Lênin no âmbito do socialismo real
cial é, no embate cotidiano contra especializar.2 foi marcada por um positivismo
as manifestações hegemônicas político-educacional que acabou
burguesas, fazer do proletariado O estudo e o aprendizado dos mé- por enfatizar a técnica, a máqui-
classe dirigente. todos criativos na ciência e na vida
na, e não o homem e os caminhos
A escola unitária corresponderia devem começar nesta última fase
da escola, não devendo mais ser um que poderiam levá-lo a um amplo
ao que hoje são os níveis primário desenvolvimento cultural. Gramsci
monopólio da universidade ou ser
e médio. Gramsci a divide em uma deixado ao acaso da vida prática: esta buscou superar a proposta de esco-
etapa básica e uma etapa média. fase escolar já deve contribuir para la única do trabalho desenvolvida
Os três ou quatro anos iniciais desenvolver o elemento da respon- por Lênin e outros intelectuais no
deveriam tratar, além de princípios sabilidade autônoma nos indivíduos, contexto revolucionário na Rússia.
básicos de escrita, leitura e conheci- deve ser uma escola criadora [...]
Tal proposta, limitando-se a res-
mentos históricos e geográficos, das (Gramsci, 2004, p. 39).
ponder às exigências imediatas do
noções primárias do Estado e da so-
Cabe acrescentar que Gramsci, processo revolucionário, acabou
ciedade, buscando, principalmente,
pensando na organização escolar por restringir o conceito de traba-
contrapor concepções folclóricas da
ideal para o período de transição lho, vinculando-o exclusivamente
realidade (Gramsci, 2004). Seria o
socialista, observa na ideia de ao campo industrial, prejudicando
momento de se construir uma ampla
trabalho com princípio educati- as possibilidades de vínculo or-
e necessária base de conhecimentos
vo a possibilidade de suprimir a gânico entre trabalho manual e
gerais.
A organização da segunda eta- histórica distinção no processo intelectual, bem como a construção
pa da escola unitária responderia de trabalho entre concepção e de um projeto cultural mais amplo
diretamente a outro problema execução, entre ciência e técnica. ligado aos grupos sociais subalter-
diagnosticado por Gramsci: a Vale ressaltar que o trabalho como nos (Soares, 2000).
passagem da escola média para a princípio educativo não consiste A fórmula pedagógica exposta
esfera universitária. Para Gramsci na junção mecânica entre escola e por Marx, baseada na fusão orgânica
(2004), essa passagem se dava de trabalho manual. Também não se entre educação física, intelectual e
um contexto marcado pelo ensino trata do trabalho alienado capitalis- tecnológica, traz de mais importante
dogmático e pautado na memo- ta. Trata-se de trazer para o centro a noção de unidade. A escola de Gra-
rização para uma etapa marcada norteador do processo educativo msci é unitária justamente porque
pelo trabalho autônomo, baseada o trabalho como atividade criativa transcende a separação entre teoria
na autodisciplina e na capacidade que transforma a natureza e o pró- e prática e compreende um princí-
criativa do estudante. É pensando prio homem. Desse modo, a união pio que norteará o processo amplo
em tal situação que o autor propõe orgânica entre escola e trabalho de formação humana e supressão
que a última etapa da escola unitá- estaria na dimensão do método da divisão classista da escola e da
ria tenha como tarefa o desenvolvi- (Nosella, 1992), da compreensão sociedade. Para Nosella (2007, p.
mento dessa autonomia e autodis- ampla de que é a partir da unidade 148, grifo do autor),

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2
Essa segunda fase duraria aproximadamente seis anos, de modo que, aos 16 anos, a escola unitária estaria concluída pelo aluno. As atividades da
escola unitária se dariam em tempo integral e se baseariam numa metodologia coletiva de estudos.

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terminado objeto e de compreender ao objetivo maior de transformação


Marx foi mestre de método quando determinados fenômenos. social, representava nas reflexões
afirmou que o trabalho burguês é Gramsci direciona ao Estado de Gramsci a construção de uma
historicamente determinado. Ora, as responsabilidades por prover as identidade de classe entre os traba-
para educarmos o homem do futuro
condições necessárias para a ma- lhadores, pois “[a] partir de sua or-
precisamos idealmente ultrapassar
os limites burgueses do trabalho
terialização da proposta de escola ganização política, os trabalhadores
alienado e nos inspirar no conceito unitária. Essas condições passariam explicitam sua concepção de mundo
marxiano de trabalho coextensivo à pela ampliação radical do quadro de e solidificam suas lutas” (Schle-
existência humana. Para Marx, o tra- docentes, pela construção de prédios sener, 2002, p. 49, grifo nosso). O
balho é fundamentalmente interação e instalações que acolhessem estu- desenvolvimento cultural estaria
dos homens entre si e com a natureza. dantes em tempo integral, dispondo ligado ao processo de organização
Por isso, a “escola-do-trabalho” não de restaurantes, bibliotecas, dormi- da consciência dos trabalhadores,
burguesa é a escola que educa os tórios, salas de aula para diferentes
homens a dominar e humanizar a
uma consciência organizada no
situações, entre outras. âmbito da ação política diária e que
natureza, em colaboração com os
outros homens. Se, historicamente, dialeticamente resultaria em nova
A escola unitária requer que o Estado subjetividade, ancorada em novas
o trabalho, de manifestação de si,
possa assumir as despesas que hoje
tornou-se perdição de si, o proces- noções e experiências de liberdade,
estão a cargo da família no que toca
so educativo precisa inverter esse individualidade e organização.
à manutenção dos escolares, isto é,
movimento, recuperando o sentido
requer que seja completamente trans-
e o fato do trabalho como libertação Gramsci procurou mostrar aos traba-
formado o orçamento do ministério
plena do homem. lhadores que a luta política implicava
da educação nacional, ampliando-o
enormemente e tornando-o mais com- a renovação cultural como expressão
Gramsci se apega à velha escola plexo: a inteira função de educação e de uma consciência organizada. Era
italiana para exemplificar um prin- formação das novas gerações deixa necessário que os trabalhadores
cípio educativo que deveria ser am- de ser privada e torna-se pública, pois participassem do patrimônio cultural
pliado para os trabalhadores. Nessa somente assim ela pode abarcar todas produzido, retomassem-no e o redefi-
escola, o estudo das línguas latina as gerações, sem divisões de grupos ou nissem por meio de um trabalho sis-
castas (Gramsci, 2004, p. 36). temático em associações de cultura,
e grega cumpria importante função
fábricas, jornais, sindicatos, partido,
ao trazer consigo o conhecimento instituições onde se podia produzir
É importante expor que a propos-
histórico-político e construir um pro- uma nova cultura, sempre no proces-
ta de escola unitária de Gramsci se
cesso educacional pautado no ideal so de construção de uma nova ordem
insere numa esfera maior, na qual o
humanista. O desinteresse desse social (Schlesener, 2002, p. 10).
princípio unitário deveria se fazer
modelo de organização educacional
presente em todas as instituições/
constituía-se como fundamental na Portanto, é importante reforçar
organizações de cultura.
medida em que os conceitos e as que não é apenas a escola que teria
noções aprendidas não tinham uma Unificar os vários tipos de organiza- um caráter unitário, mas todos os
finalidade útil imediata, mas repre- ção cultural existentes: academias, espaços de cultura, de modo que os
sentavam a construção de um conhe- institutos de cultura, círculos filo- objetivos presentes na introdução
cimento geral a fim de absorver o le- lógicos, etc., integrando o trabalho do principio unitário (supressão
gado cultural deixado pela história e acadêmico tradicional – que se ex- da divisão entre trabalho manual e
pelo passado. “Aprendia-se para co- pressa, sobretudo, na sistematização trabalho intelectual e unidade entre
nhecer diretamente a civilização dos do saber passado ou na busca da
intelectuais e povo) permeariam toda
fixação de uma média do pensamento
dois povos, pressuposto necessário a vida social.
nacional como guia da atividade in-
da civilização moderna, isto é, para telectual – com atividades ligadas à
ser e conhecer conscientemente a si vida coletiva, ao mundo da produção Hegemonia: a unidade
mesmo [...]” (Gramsci, 2004, p. 46). e do trabalho (Gramsci, 2004, p. 41). entre educação e política
Para Gramsci, os jovens deveriam
desenvolver capacidades e hábitos Gramsci compreendia cultura Gramsci pensa a educação e a
desde as fases iniciais da escola, como criação histórica produzida escola vinculando-as ao conceito de
desde a infância e a adolescência; pelos indivíduos e grupos sociais. trabalho como categoria histórica, 17
capacidades que se relacionam com Cultura, estando vinculada à eco- como trabalho criador, para que o
o modo de estudar, de examinar de- nomia e à política e respondendo princípio educativo universal do

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trabalho transforme a tradicional Segundo Schlesener (2002, p. 113), na estrutura econômica e dialetica-
divisão do conhecimento. Em Ma- em Gramsci, mente estabelece relações com a sub-
nacorda (1990), para Gramsci o jetividade. É a partir da compreensão
processo educativo de formação [o] partido tem uma função cultural da natureza dialética desse movimento
do homem exige um princípio e de incentivo ao processo revolucio- (refutando aqui interpretações subje-
educativo que considere o trabalho nário, mas “não pode ser concebido tivistas e/ou culturalistas) que o autor
como a forma deste processo, forma
industrial, que se apresente a partir pensa a construção de uma base social
maleável e plasmável ao arbítrio dos
da união entre escola de cultura e dirigentes”. [...] O partido tem a fun-
que sustente o Estado operário e faça
de trabalho. De acordo com Nosella ção, enfim, de preparar as classes tra- da revolução socialista uma radical e
(1992, p. 127), balhadoras para o exercício do poder abrangente mudança político-econô-
harmonizando as forças organizadas mica e cultural. E nesse processo, a
[o] trabalho é a própria oficina-escola nos vários setores da produção, mas escola e os demais organismos de cul-
que forja o homem na prática pro- sem desrespeitar a autonomia das tura representam espaços estratégicos.
dutiva, projetando, se estendendo e instituições espontâneas das massas. A construção dessa base social,
concretizando vários outros tipos de que envolve o desenvolvimento da
escolas de cultura, de política, para A nova ordem social seria cons- consciência no universo dos grupos
melhor adaptar esse homem ao novo truída na prática cotidiana dos
tipo de prática produtiva necessária sociais subalternos, desperta em
trabalhadores, na educação e na so- Gramsci profundo interesse pelo
naquele momento histórico. Para
Gramsci, as diversas formas produti- lidariedade de classe resultantes do processo social que pode levar ao
vas e suas correlatas formas escolares trabalho coletivo e auto-organizado. nexo entre intelectuais e povo e à
são expressão da busca de liberdade Rompe-se aqui com a mecânica consequente elaboração de uma
por parte do homem. noção de que seria necessário aguar- consciência criticamente unificada
dar a tomada do poder para que se e organizada, uma nova cultura
Gramsci busca, via trabalho, iniciasse a edificação de uma nova construída sobre o senso comum.
atingir a liberdade concreta e his- sociabilidade. Entendemos que, Gruppi (1978, p. 68), em referência
tórica, pois é somente pensando para Gramsci, a tomada do poder é a Gramsci, afirma:
a relação orgânica entre homem expressão das experiências antago-
e natureza que se podem buscar a nistas ao capital e ao Estado. Sua atenção, desse modo, volta-se
emancipação dos trabalhadores e a O trabalho como princípio educa- ainda para os jornais locais, para os
abolição da sociedade de classes. A tivo e a proposta de escola unitária pequenos episódicos de cultura local,
politização da produção representa, seriam o meio de se criar um tipo para todas as manifestações do fol-
clore. É preciso estudar o modo pelo
para Gramsci, fator fundamental no de homem que fosse também diri-
qual se expressa uma consciência
processo de transformação estrutural gente; um intelectual organicamente ainda subalterna; deve ser levado em
da ordem vigente. As experiências vinculado aos estratos sociais subor- consideração o elemento de esponta-
vividas pelo pensador italiano no dinados e capaz de atuar de modo neidade relativa nela presente [...].
âmbito dos conselhos de fábrica em a contribuir para tal politização e
1919 e 1920, na cidade de Turim, controle da produção, para a organi- A educação se liga à hegemo-
contribuíram em grande medida zação do proletariado e do conjunto nia na medida em que ideologia
para a construção do seu conceito dos grupos sociais subalternos. significa visão ou concepção de
de revolução. A supressão da socie- É a partir disso que as preocupações mundo vinculada a um grupo social
dade de classes teria que resultar da de Gramsci com a escola ligam-se ao específico. Como a dominação/
auto-organização dos trabalhadores, processo de formação educacional e condução é composta por coerção
ou seja, a construção da nova ordem elevação cultural dos grupos sociais e consentimento, no momento em
responderia ao movimento criador subalternos e à construção/organiza- que a hegemonia moral e intelectual
de formas efetivamente solidárias de ção da hegemonia do proletariado. se desfaz, resta à classe dominante
organização do trabalho no campo e Essa hegemonia pode ser compreen- apenas o poder da força, sem coesão
na cidade. Com isso, para Gramsci, dida, segundo Gramsci (1987, 2007), subjetiva que sustente a hegemonia.
as associações e organizações fun- como capacidade do proletariado em Isso faz com que o processo edu-
dadas pelos próprios trabalhadores mobilizar os demais estratos sociais cacional (e no caso deste artigo, a
18 e o movimento gerado por essas subalternos numa ampla luta contra escola unitária) seja um estratégico
experiências é que deveriam guiar os o Estado burguês. Aqui, vale ressaltar componente para a formação de inte-
rumos do processo revolucionário. que se trata de uma luta que se enraíza lectuais organicamente vinculados à

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classe trabalhadora. Para Gramsci, o psicofísico ao estudo, ao trabalho possui o objetivo de desenvolver
intelectual é um criador e um difusor, intelectual (Gramsci, 2004). Pode- as faculdades de cada indivíduo,
um construtor da hegemonia. mos afirmar que esta preocupação libertando-o da ignorância susten-
revela a unidade entre educação e tada pelas dimensões destrutivas
[...] a sociedade civil exerce a he- política em Gramsci, já que o objeti- e alienantes do sistema do capital.
gemonia ao nível da cultura e da vo é “[...] criar uma nova camada de O combate à fragmentação do co-
ideologia. Esta é a função por meio intelectuais, chegando às mais altas nhecimento, bem como a elaboração
da qual uma classe obtém o apoio ou
especializações, a partir de um gru- de uma proposta unitária de escola, é
o consentimento das outras classes e
po social que tradicionalmente não parte fundamental para a libertação
conduz a sociedade. Para tanto, esta
classe deve difundir amplamente seus desenvolveu as aptidões adequadas dos trabalhadores dos mecanismos
valores e visão de mundo. Assim, a [...]” (Gramsci, 2004, p. 52). materiais e subjetivos que fazem
ideologia exerce um papel-chave e a com que o consenso e a dominação
hegemonia é necessariamente uma Considerações finais burguesa se mantenham.
relação pedagógica. No caminho para Analisar politicamente a proposta
a conquista do poder, o estágio mais Como argumentamos até aqui, é de escola unitária em Gramsci se faz
estratégico vem ser a luta ideológica dentro da construção revolucionária importante e atual na medida em que
(Gomes, 1994, p. 57). que Gramsci propõe uma organiza- são inúmeros os debates e discussões
ção político-educacional pautada no sobre a atual reforma educacional
Percebendo a impossibilidade princípio unitário. Acreditando na empreendida pelo capitalismo neo-
de se propor a socialização do sa- edificação da hegemonia do prole- liberal. No atual contexto, marcado
ber sem se voltar para a estrutura tariado também a partir do espaço pela crise estrutural do capital
econômica, que de modo dialético escolar, o pensador italiano elabora (Mészáros, 2002), a burguesia e
determina a configuração das de- sua proposta de escola unitária com seus intelectuais precisam responder
mais esferas da atividade humana, o objetivo de contribuir para que os tanto à reestruturação da produção
Gramsci elaborou sua proposta trabalhadores desenvolvam auto- quanto ao acirramento das contra-
de escola unitária a partir de um nomia de pensamento e adquiram dições sociais. O desenvolvimento
estreito vínculo com a atividade re- a consciência de seu papel históri- tecnológico exige trabalhadores
volucionária mais ampla e ligada ao co. Essa consciência, definida por educados para a dinâmica flexível
mundo do trabalho. As necessárias Mészáros (2008, p. 72) como consci- da esfera produtiva; por outro lado,
mudanças identificadas por ele no ência de classe necessária, consiste o desemprego estrutural e a acentua-
âmbito da escola não respondiam a na “[...] consciência do trabalhador ção da desigualdade socioeconômica
defeitos remediáveis de um sistema de seu ser social enquanto ser en- reivindicam indivíduos educados
educacional específico, mas sim aos quistado no antagonismo estrutural para o trabalho precário e para a
limites da própria ordem vigente. necessário da sociedade capitalista, naturalização do quadro político-
Segundo Schlesener (2002, p. 73), em oposição à contingência da social vigente.
para Gramsci, “[c]onseguir estas consciência de grupo que percebe A reforma educacional neoliberal
mudanças exigia organização e luta somente uma parte mais ou menos que se materializa no Brasil a partir
dos trabalhadores, porque não era limitada da confrontação global”. de 1990 respondeu à tendência educa-
somente uma questão de direito, mas É a partir do vínculo entre escola, cional global elaborada com a contri-
também de força”. educação, consciência e hegemonia buição de organismos internacionais.
Gramsci demonstra que parte do que Gramsci se preocupa com a O Banco Mundial, mais precisamente
antagonismo estrutural burguesia/ organização escolar. O desenvol- a partir da Conferência Mundial so-
proletariado para propor uma nova vimento intelectual e moral do bre Educação para Todos, realizada
organização e um novo princípio conjunto dos grupos sociais subal- em 1990, na Tailândia, assumiu-se
para a escola e para os organismos de ternos representaria a base capaz de como instituição responsável por
cultura. A proposta de escola unitária sustentar a revolução e a organização empreender um processo de reforma
é política, pois pretende suprimir social socialista. A partir da escola, o educacional nos países periféricos.
a divisão entre trabalho manual filosofo italiano busca a socialização Ancorado no argumento de que o de-
e intelectual, o que possibilitaria do conhecimento produzido pelo senvolvimento dos Estados dependia
aos trabalhadores e seus filhos a homem ao longo de sua história da qualificação e produtividade de 19
superação sadia daquilo que o autor sem distinções. A escola, mediante seus trabalhadores, o Banco afirmou
chama de processo de adaptação o princípio educativo do trabalho, que a reforma educacional proposta

volume 15, número 1, janeiro • abril 2011


Bráulio Loureiro

resultaria em mais desenvolvimento devem se adaptar com flexibilidade passam pela alteração estrutural
econômico e menos pobreza (Banco ao trabalho alienado capitalista. das condições político-econômicas
Mundial, 1996). Identifica-se de modo nocivo desen- vigentes.
O documento que contém os volvimento humano e aquisição de Uma análise que relacione a
Parâmetros Curriculares Nacionais competências para o trabalho flexí- proposta de escola unitária à totali-
para o Ensino Médio no Brasil vel pós-fordista. Os conhecimentos dade na qual esta se insere torna-se
(PCNEM), como expressão dessa não estariam mais na esfera dos necessária, pois busca politizar o
reforma, coloca como finalidade conteúdos científicos tradicionais, debate educacional. Nota-se que nos
do Ensino Médio “[a] preparação mas no âmbito das competências, dias atuais, tanto na mídia quanto
básica para o trabalho e a cidadania habilidades desenvolvidas a fim de nos discursos de parlamentares e
do educando, para continuar apren- preparar o estudante para as exigên- governantes, a educação consistiria
dendo, de modo a ser capaz de se cias do trabalho e da vida em tempos na solução para praticamente todos
adaptar com flexibilidade a novas de globalização. os problemas da sociedade. Isso
condições de ocupação ou aperfeiço- A supremacia das competências naturaliza as relações sociais e des-
amento posteriores” (Brasil, 1999, p. (que nada mais são do que saberes politiza a economia capitalista. Se
33, grifo nosso). No item chamado e fazeres necessários para formação as soluções para as questões educa-
O Ensino Médio no mundo: uma de um trabalhador adaptado ao cionais estiverem sempre dentro das
transformação acelerada, o docu- contexto de acumulação flexível) próprias medidas educacionais, não
mento expõe: encontra-se muito distante da pro- considerando que a economia capi-
posta gramsciana de educação pelo talista consiste numa relação política
O desafio de ampliar a cobertura do trabalho. Ela evidencia um proces- fundamental entre proprietários e
Ensino Médio ocorre no Brasil ao so de intensificação da divisão do não-proprietários, melhorias subs-
mesmo tempo em que, no mundo conhecimento, pois superficializa tantivas que rompam com a divisão
todo, a educação posterior à primária a educação fornecida às classes do conhecimento não ocorrerão. E
passa por revisões radicais nas suas
subalternas. O Estado capitalista, aqui caber afirmar novamente que
formas de organização institucional
e nos seus conteúdos curriculares. ao educar o aluno-trabalhador ma- é justamente a partir dessa noção
Etapa da escolaridade que tradicio- joritariamente através de restritas estrutural que Gramsci pensa as
nalmente acumula as funções prope- noções úteis ao mercado, amplia sua possibilidades existentes dentro do
dêuticas e de terminalidade, ela tem capacidade de hegemonia na medida espaço escolar.
sido a mais afetada pelas mudanças em que reproduz força de trabalho e
nas formas de conviver, de exercer a restringe as possibilidades de educa- Referências
cidadania e de organizar o trabalho, ção e reflexão no âmbito dos grupos
impostas pela nova geografia política BANCO MUNDIAL. 1996. Prioridades y
sociais subordinados.
do planeta, pela globalização econô- estrategias para la educación. Wash-
mica e pela revolução tecnológica.
Defender a proposta de escola
ington, 194 p. Disponível: http://www.
A facilidade de acessar, selecionar unitária significa se colocar contra fedepsp.org.br/documentos.htm; acesso
e processar informações está per- propostas e políticas educacionais em: 07/01/2011.
mitindo descobrir novas fronteiras que pretendam (apesar do discurso BRASIL. 1999. Ministério da Educação. Sec-
do conhecimento, nas quais este se muitas vezes sedutor) manter o retaria de Educação Média e Tecnológica.
revela cada vez mais integrado. Inte- quadro estrutural de subordinação Parâmetros curriculares nacionais: ensino
gradas são também as competências do trabalho ao capital. Como vi- médio. Brasília, MEC/SEMTEC, 109 p.
e habilidades requeridas por uma GOMES, A.C. 1994. A educação em perspec-
mos, Gramsci observa no trabalho
organização da produção na qual tiva sociológica. São Paulo, EPU, 164 p.
a humanização do homem. Portanto, GRAMSCI, A. 1987. A questão meridional.
criatividade, autonomia e capaci-
dade de solucionar problemas serão a luta por uma escola unitária se Rio de Janeiro, Paz e Terra, 165 p.
cada vez mais importantes, compara- confunde com a luta pela supressão GRAMSCI, A. 2004. Apontamentos e no-
das à repetição de tarefas rotineiras da dicotomia entre trabalho manual tas dispersas para um grupo de ensaios
(Brasil, 1999, p. 58, grifo nosso). e trabalho intelectual e, consequente- sobre a história dos intelectuais. In: A.
mente, pela superação da sociedade GRAMSCI, Cadernos do cárcere. Rio
de Janeiro, Civilização Brasileira, vol.
Os PCNEM vinculam estreita- de classes. Nesse sentido, evidenciar
2, p. 15-53.
mente a atividade educacional às as formulações de Gramsci sobre
20 exigências do campo produtivo. educação pode contribuir para escla-
GRAMSCI, A. 2007. Breves notas sobre a
política de Maquiavel. In: A. GRAMSCI,
O trabalho é compreendido em sua recer que os caminhos necessários Cadernos do cárcere. Rio de Janeiro,
dimensão mais restrita. Os alunos para a melhoria da escola também Civilização Brasileira, vol. 3, p. 13-115.

Educação Unisinos
Escola unitária e hegemonia: a indissociabilidade entre educação e política no pensamento de Antonio Gramsci

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238 p. 24782007000100011 Aceito em: 07/03/2011

Bráulio Loureiro
Universidade Estadual de Campinas
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas 21
Rua Cora Coralina, Cidade Universitária
13083-896, Campinas, SP, Brasil

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