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Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais


Centro de Referência Técnica em Psicologia
e Políticas Públicas (Crepop)

IX Seminário Nacional de Psicologia e Políticas Públicas – Etapa Sudeste

Diálogos em Rede e Desafios Ético-


políticos da Psicologia nas Políticas
Públicas: do Desmonte à Resistência
ANAIS ELETRÔNICOS

Belo Horizonte

2019
© 2019, Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais
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Formação e atuação da(o) psicóloga(o)
nas Políticas Públicas e no
CERSAM: conquistas e desafios

Renata Zicker Sales - Graduanda em Psicologia pela


Universidade FUMEC, estagiária do CERSAM Noroeste,
atualmente estagiária da Casa Verde (IPSEMG), voluntária no
projeto Criar, cura. E-mail: renatazicker@gmail.com.
Thaís Mendes Gomes - Graduanda em Psicologia pela
Universidade FUMEC e estagiária do CERSAM Oeste. E-mail:
tmendesgomes@gmail.com.
RESUMO
O estudante de hoje é o profissional de amanhã. Este
trabalho se propõe a analisar os pressupostos para a forma-
ção da(o) psicóloga(o), que a(o) capacite para atuar na rede
pública de saúde mental. Dentre as habilidades necessá-
rias, destacam-se o pensamento crítico, o olhar histórico, a
atuação transdisciplinar. Em relação aos conhecimentos, é
preciso enfatizar a estratégia de funcionamento da rede de
saúde mental, que segue os pilares da Reforma Psiquiátri-
ca e da Luta Antimanicomial e está vinculada ao Sistema
Único de Saúde (SUS). Ressalta-se, ainda, a atualização
constante acerca do cenário político do país, principalmen-
te neste momento em que as Políticas Públicas de saúde
mental e o SUS, como um todo, encontram-se ameaçados.
As reflexões desenvolvidas neste trabalho partem da expe-
riência profissional de estágio das autoras no Centro de
Referência de Saúde Mental (CERSAM) e de pesquisas
por meio de revisão bibliográfica.
Palavras-chave: Políticas Públicas. CERSAM. SUS.
Luta Antimanicomial. Formação da(o) Psicóloga(o).

INTRODUÇÃO
A formação do estudante de Psicologia deve ir além de
uma perspectiva tecnicista, ampliando-se para uma for-
mação crítica, política e reflexiva. Devem ser abordados
temas como Cidadania, Direitos Humanos e Movimentos
Sociais, levando em conta o crescente pertencimento da(o)

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psicóloga(o) ao Sistema Único de Saúde (SUS) e aprimo-
rando a leitura sobre as necessidades de saúde da popu-
lação. Segundo o Conselho Federal de Psicologia (2005),
a(o) psicóloga(o) deve atuar com responsabilidade social,
analisando crítica e historicamente a realidade política,
econômica, social e cultural, bem como contribuir com
a universalização do acesso da população às informações,
ao conhecimento da ciência psicológica, aos serviços e aos
padrões éticos da profissão. Isso implica no conhecimento
e participação ativa nas Políticas Públicas de saúde, com-
preendendo as relações e interesses em jogo.
Ainda no que tange à capacitação de psicólogas(os) para
trabalhar na área das Políticas Públicas de saúde mental, é
necessário desenvolver raciocínio clínico e vivências para
além da Psicologia, permitindo que estejam aptas(os) a tra-
balhar em equipes de saúde interdisciplinares com atuação
transdisciplinar, sendo este um grande desafio do SUS.
A relevância do SUS deve ser ressaltada principalmente
dado o momento delicado apontado pelo Conselho Federal
de Psicologia (2013), que vem se tornando um desafio ain-
da mais complexo na atualidade, quando forças contrárias
ao Sistema se unem em prol de sua privatização, juntamen-
te aos tecnocratas do próprio Sistema que cedem a essas
pressões, colocando em risco o direito à saúde enquanto
inalienável e inequívoco.
Em relação à saúde mental, especificamente, ainda é
premente que continue a luta pela construção de dispositi-
vos e redes que substituam o modelo asilar, conforme pre-

Formação e atuação da(o) psicóloga(o) nas Políticas


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conizam a Reforma Psiquiátrica e a Luta Antimanicomial.
É preciso, então, que a formação e consequente atuação
da(o) psicóloga(o) tenham como base uma posição ética-
-política pautada na igualdade de direitos e no respeito às
diversidades, e se orientem para a emancipação dos usuá-
rios portadores de sofrimento mental, ampliando suas pos-
sibilidades de produção de vida, participação e convivência
social (CFP, 2013).

OBJETIVO
Neste trabalho, serão abordados os desafios enfrentados
na formação da(o) psicóloga(o) para que ela(e) atue nas Po-
líticas Públicas de saúde mental, principalmente no Cen-
tro de Atenção Psicossocial (CAPS) ou CERSAM (Centro
de Referência em Saúde Mental, como é chamado em Mi-
nas Gerais). Pretende-se, ainda, ressaltar o CERSAM en-
quanto dispositivo estratégico em prol da desospitalização
dos portadores de transtornos mentais e sua importância
na rede de saúde pública enquanto lugar de cuidado, socia-
bilidade e convívio entre diferentes, de realização de trocas
simbólicas e culturais, indo na direção contrária de uma
arraigada cultura de exclusão, invalidação e silenciamento
dos ditos loucos (MINAS GERAIS, 2006). Será abordada,
ainda, a relevância do próprio SUS e seus pilares, partindo
dos princípios que o regulamentam (universalidade, inte-
gralidade e descentralização), previstos pela Constituição e
pela Lei 8.080/1990 (SOUSA, 2014).

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ORIENTAÇÃO TEÓRICA
Este trabalho é orientado pela abordagem psicanalítica,
amplamente utilizada nos serviços de saúde mental de Mi-
nas Gerais, incluindo os CERSAM onde foram realizados
os estágios enquanto graduandas em Psicologia.
A Psicanálise foi utilizada neste trabalho para orientar a
análise das relações entre teoria e prática vividas cotidiana-
mente durante os estágios, bem como para discutir a frag-
mentação ainda existente nos serviços de saúde mental e
grades curriculares dos cursos de Psicologia. Vale ressaltar
que essa fragmentação se dá tanto na academia (que prioriza
o saber tecnicista e o modelo clínico tradicional em detri-
mento de uma visão política mais abrangente e articulada
com outras áreas do saber) quanto na atuação profissional, já
que a transdisciplinaridade ainda é um grande desafio.
Além disso, diante do cenário político atual, do risco de
desmonte das Políticas Públicas de saúde mental, a Psica-
nálise embasa as argumentações contra a institucionalização
da loucura e ao cerceamento da liberdade desses sujeitos.

MÉTODO
Será utilizada a experiência profissional de estágio nos
CERSAM Noroeste e Oeste, e as supervisões acerca deste
realizadas na FUMEC. Será realizada, ainda, uma articu-
lação dessa prática com os aprendizados provenientes da
disciplina Psicologia e Políticas Públicas, presente na gra-

Formação e atuação da(o) psicóloga(o) nas Políticas


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de do 7° período da graduação em Psicologia na FUMEC,
e com pesquisas por meio de revisão bibliográfica.
Dentre as atividades realizadas no estágio, estão incluí-
das, entre outras:
• Participação e/ou criação de oficinas terapêuticas
junto aos usuários;
• Acompanhamento de plantões, incluindo a escuta
e o atendimento das demandas internas dos usuá-
rios já presentes no CERSAM e de novos usuários;
• Participação em reuniões de passagem de plantão
entre a equipe, a cada troca de turno;
• Participação nas reuniões semanais entre dos fun-
cionários de cada CERSAM para discussão de ca-
sos e questões da instituição;
• Participação de reuniões territoriais trimestrais, re-
alizadas nos dispositivos de saúde de cada região
como CERSAM, Centros de Convivência e Cen-
tros de Saúde, nas quais são discutidos os desafios
e os casos que mobilizam a rede de saúde mental.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A defasagem na formação da(o) psicóloga(o) no âmbito
das Políticas Públicas ainda se faz presente. As grades cur-
riculares dos cursos de Psicologia dialogam pouco com as
necessidades do SUS e profissionais recém-formadas(os)
raramente têm ferramentas e conhecimentos que as(os)
capacite para lidar com a demanda dos usuários da rede de

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saúde pública, em sua maioria em situação de vulnerabili-
dade social.
Segundo Amanda Motta e Wania Carvalho (2015), é
possível verificar diversos atores sociais envolvidos na saú-
de mental, como família, escola, trabalho, entre outros; o
que reforça a necessidade de uma formação transdiscipli-
nar da(o) psicóloga(o), bem como da vivência prática por
meio de estágios, que a(o) coloque frente às reais necessi-
dades do usuário.
Cabe à(ao) profissional de saúde mental acolher e res-
gatar a subjetividade de cada usuário, criando redes rela-
cionais e de convivência social, desafio que se faz presente
hoje diante do risco de desmonte das políticas de saúde
mental. Desse modo, a presença de disciplinas que abor-
dem Políticas Públicas na formação de psicólogas(os) e fu-
turas(os) trabalhadoras(es) da rede de saúde é urgente.

REFERÊNCIAS

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA - CFP. Có-


digo de Ética dos Profissionais da Psicologia. Brasí-
lia, 2005. Disponível em:

<https://site.cfp.org.br/wpcontent/uploads/2012/07/codi-
go-de-etica-Psicologia.pdf>. Acesso em 29 abr. 2018.

_________________________________________. Re-
ferências Técnicas para Atuação de Psicólogas(os)

Formação e atuação da(o) psicóloga(o) nas Políticas


Públicas e no CERSAM: conquistas e desafios
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no CAPS - Centro de Atenção Psicossocial. Brasília:
CFP, 2013.

MINAS GERAIS. Secretaria de Estado da Saúde. Aten-


ção em saúde mental - linha guia. Belo Horizonte:
[s.n.], 2006. 238p.

MOTTA, A.; CARVALHO, W. Psicologia e Políticas Públi-


cas em saúde: a Psicologia no sus – reconhecer potenciali-
dades e aprimorar competências. In: POLEJACK, L.; VAZ,
A.; GOMES, P.; Wichrowski, V. C. (Org.). Psicologia e
Políticas Públicas na Saúde: experiências, reflexões,
interfaces e desafios. 1ª ed. Porto Alegre: Rede Unida,
2015, v. 1, p. 79-94.

POLEJACK, L.; TOTUGUI, M.; GOMES, P.; CONCEI-


ÇÃO, M. Atuação do psicólogo nas Políticas Públicas de
saúde: caminhos, desafios e possibilidades. In: POLEJA-
CK, L.; VAZ, A. M. de A.; GOMES, P. M. G.; Wichrowski,
V. C. (Org.). Psicologia e Políticas Públicas na Saú-
de: experiências, reflexões, interfaces e desafios. 1ª
ed. Porto Alegre: Rede Unida, 2015, v. 1, p. 31-50.

SOUSA, A. M. da C. Universalidade da saúde no Brasil


e as contradições da sua negação como direito de todos.
Rev. Katálysis. Florianópolis, dez. 2014, v. 17, n. 2, p.
227-234.

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